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Prof. Gabriel Gomes Canêdo V. de Magalhães Roteiro de Aula Direito Processual Civil III Prof. Gabriel Gomes Canêdo Vieira de Magalhães “O nosso potencial é a melhor arma para o auto estímulo” Jean Pedro MÓDULO I – REVISÃO PROVAS Considerações Preliminares - Resgate de alguns conceitos concernentes à teoria geral das provas. - Porque estuar a Teoria das Provas? - Reflexão: quem vence um processo? - Ter o domínio do direito probatório é fundamental a qualquer empreitada processual. O sucesso da sua demanda depende do manuseio das provas. Conceito - “Provas são os meios utilizados para formar o convencimento do juiz a respeito dos fatos controvertidos que tenham relevância para o processo.” As provas são “formas de convencimento do juiz, a respeito dos fatos controvertidos.” - Os fatos incontroversos não dependem de prova. (art. 334, III) Fato controvertido = fato afirmado pelo autor + contestado pelo réu. Esse fato necessita ser provado, afinal, quem tem razão? - O direito à produção de provas decorre diretamente da garantia do contraditório. - Exercício do direito ou garantia do contraditório: ter ciência dos atos processuais + direito de participar do processo. Objeto da prova - O objeto da prova, por sua vez, são os fatos controvertidos relevantes para a solução da lide. - O direito necessita ser provado? O direito não necessita ser provado. - No entanto, se as partes invocarem direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário faz-se necessário provar a sua vigência por meio de certidões ou pareceres de juristas. A propósito, o que é vigência? Prof. Gabriel Gomes Canêdo V. de Magalhães Art. 337, CPC. A parte, que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o determinar o juiz. Fatos que não precisam ser comprovados - Fatos irrelevantes, os quais não irão contribuir em nada para o deslinde do processo. O juiz deve inclusive, à luz do art. 130 do CPC, indeferir os meios de prova meramente protelatórios. Art. 130. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias. - Alguns fatos irrelevantes: Art. 334. Não dependem de prova os fatos: I- notórios; II- afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária; III- admitidos, no processo, como incontroversos; IV- em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade. Fatos notórios: fatos de conhecimento geral (comezinho) em determinada região. Ex.: no inverno costuma nevar no Rio Grande do Sul; um grande fluxo de turistas estrangeiros se desloca para o Rio de Janeiro nas vésperas do carnaval. Os afirmados por uma das partes e confessados pela outra (confissão real ou ficta – ex.: não observância da impugnação específica): esses fatos não são controvertidos. Os admitidos no processo como incontroversos: essa hipótese se superpõe à anterior, pois prevê a hipótese de consenso entre as partes a respeito de determinado fato. Qual é a função da jurisdição? As partes movimentam a máquina estatal com o único o propósito de o Estado realizar aquilo que elas não têm condições de fazer, isto é, não dispõem de meios para solucionar os conflitos de interesse. Em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade: efeito da revelia (presunção de veracidade relativa). Prof. Gabriel Gomes Canêdo V. de Magalhães Prova de Fato Negativo - Regra: apenas os fatos positivos – afirmativos – é que podem ser provados. Ex.: Usucapião especial (inexistência de outro imóvel rural ou urbano). - Possibilidade de prova do fato negativo: Na defesa, a outra parte pode carrear para o processo a informação de que o autor da ação de usucapião possui outro imóvel localizado em determinado estado. Fato negativo preciso O Juiz e a Produção da Prova - As partes produzem provas para comprovar os fatos deduzidos na petição inicial, na contestação, na fase ordinatória e na fase instrutória e com isso influenciar a formação da livre convicção do magistrado ao proferir a sentença. - Qual postura o magistrado deve primar na fase probatória? Ele deve manter uma postura passiva, como expectador, apenas assistindo a atuação das partes? - No âmbito do direito processual civil moderno o juiz deve adotar um comportamento proativo quanto à produção probatória. Nesse viés, o juiz pode determinar a realização de alguma prova que não tenha sido requerida, ou, até mesmo, indeferir prova que tiver sido requerida pelas partes, mas que sejam desnecessárias à elucidação dos fatos. - Essa atuação mais ativa do magistrado se justifica pelo fato de que é seu dever “proferir a melhor sentença possível, e, para isso, é indispensável que os fatos sejam aclarados.” - Mesmo se o processo versar sobre direitos disponíveis é possível o magistrado interferir na produção probatória? “A disponibilidade do direito não afasta a exigência, válida para todos os processos e de interesse público, de que o juiz realize sempre o melhor julgamento possível.” - O juiz no processo civil deve pautar sua conduta pela busca incansável da verdade real (da melhor verdade, aquela que mais se aproxima dos fatos tal como eles realmente ocorreram) e mitigação do princípio dispositivo. As provas devem ser produzidas tantas quantas forem necessárias à elucidação dos fatos, caso em que o juiz estará apto a proferir o seu provimento jurisdicional. Prof. Gabriel Gomes Canêdo V. de Magalhães - Insuficiência de provas para esclarecer os fatos satisfatoriamente aplicação das regras do ônus da prova. Art. 130. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias. - Destinatário da prova: juiz. Uma vez produzida a prova, ela será carreada para o processo e, ambas as partes poderão usufruir da prova. Mídia PROVA DESNECESSÁRIA Seguradora não pode exigir segunda perícia Por Jomar Martins Se o INSS, com seus rigorosos critérios técnicos, reconhece a incapacidade do segurado, não será necessária outra perícia médica para comprovar a mesma situação diante da seguradora. A partir deste entendimento, a 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul aceitou Agravo de Instrumento interposto por um segurado contra a exigência imposta pela Mapfre Vera Cruz Vida e Previdência. A decisão monocrática foi tomada em 24 de março, pela relatora do recurso, desembargadora Isabel Dias de Almeida. O processo é originário da Comarca de Bento Gonçalves, na Serra gaúcha. Na ação de cobrança movida contra a Mapfre, foi deferida a produção de prova pericial. O segurado se insurgiu e entrou com Agravo de Instrumento no TJ-RS. Em suas razões recursais, o agravante sustentou a que era desnecessária a perícia, dado o reconhecimento de sua invalidez pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A relatora do caso, desembargadora Isabel Dias de Almeida, lembrou inicialmente que, entre os poderes do julgador, está a possibilidade de indeferir provas desnecessárias para o deslinde da controvérsia, como disciplina o artigo 130 do Código de Processo Civil (CPC). ‘‘No caso presente, mostra-se prescindível a realização de perícia médica, uma vez que a incapacidade do autor foi reconhecida pelo INSS, órgão que possui rigorosos critérios para a concessão de aposentadoria por invalidez’’, concluiu, citando três precedentes do TJ gaúcho. Jurisprudência TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DEJANEIRO DÉCIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL nº. 2009.001.32805 APTE: CLAUDIO LUIZ ALMEIDA DE GUSMÃO APDO: WALPRINT GRÁFICA E EDITORA LTDA. RELATOR: DES. ISMENIO PEREIRA DE CASTRO APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSUAL CIVIL. JUNTADA POSTERIOR DE DOCUMENTOS. IMPOSSIBILIDADE. Trata-se de ação monitória julgada procedente em vista da não comprovação das alegações despendidas nos embargos monitórios. Apelante que sustenta a impossibilidade de preclusão em matéria de prova, a teor do art. 130 do CPC, pelo que o magistrado a quo deveria ter acolhido o pleito de produção de prova documental suplementar. Ainda que se reconheça que no processo civil contemporâneo o magistrado não deve se limitar a ser um mero espectador do desenrolar da lide, mas sim que atue cada vez mais ativamente na instrução do feito, ante a crescente aceitabilidade da aplicação do princípio da busca da verdade real no processo civil escudando-se no princípio do impulso oficial, insculpido no art. 262 do CPC; não se pode pretender que o magistrado se substitua na vontade das partes ao ponto de imputar-lhe a responsabilidade de produzir todas as provas não produzidas por elas. O magistrado tem a faculdade de determinar a produção de provas até mesmo de ofício, nos termos do art. 130 do CPC, mas, como afirmado, trata-se de uma faculdade do juiz, da qual lançará mão nos casos que entender necessário para a correta solução da lide e para melhor formar seu convencimento. Impulso oficial que não mitiga o dever de a parte produzir as provas pertinentes às suas alegações no momento oportuno (art. 396 do CPC). Impossibilidade de se mitigar o due processo of Law todas as vezes que a parte descumprir a regra de distribuição do ônus da prova trazida à baila no art. 333 da Lei de Ritos. Alegação de que o contrato firmado entre as partes não foi apresentado no momento oportuno pelo fato de que o apelante não participou diretamente da sua elaboração que se constitui em inovação recursal, que se sabe descabida, sob pena de supressão de instância. Pleito de produção de prova documental suplementar que se encontra divorciado de qualquer motivação. Recurso que se evidencia manifestamente improcedente. Sentença que se mantém. Prof. Gabriel Gomes Canêdo V. de Magalhães Ônus da Prova - A utilização das regras do ônus da prova está condicionada ao esgotamento dos meios de prova para elucidação dos fatos controvertidos. - A prova como um ônus: ônus ≠ obrigação - Aspecto objetivo e subjetivo: Aspecto objetivo: as regras do ônus da prova servirão como orientação para o magistrado na atividade de sentenciar, nos casos em que os meios de prova sejam reputados insuficientes para a comprovação dos fatos controvertidos. Aspecto subjetivo: por outro lado, é bem verdade que as partes, precavidas quanto a existência das regras do ônus da prova, direcionarão suas condutas para provar aquilo que a lei impõe. - Qual é a relevância das regras do ônus da prova? Não estando o juiz apto a decidir com base nas provas que foram produzidas pelas partes, ele se valerá do ônus da prova, atribuindo consequências negativas à parte que houver descumprido essas regras que distribuem o ônus de provar a cada uma das partes. - Distribuição do ônus da prova: Art. 333. O ônus da prova incumbe: I- ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; II- ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Em suma, o conteúdo desse dispositivo legal pode ser resumido na seguinte regra: o ônus da prova cumpre a quem alega o fato probando. Ex.: Ação de Alimentos - Inversão do ônus da prova: Inversão convencional: Consiste na modificação da regra natural de que o ônus da prova de determinado fato compete a quem o alegar. Vedação: o processo não pode versar sobre direito indisponível (aquele segundo o qual as partes não podem transigir); a inversão também não é admitida quando tornar excessivamente difícil o exercício do direito de provar. De nada resolve a inversão se a parte que assumiu o ônus não terá condições de exercê-lo; no âmbito do direito consumerista é vedada a inversão em detrimento do consumidor (art. 51, VI, CDC). Prof. Gabriel Gomes Canêdo V. de Magalhães Inversão legal: art. 37, §6º, CF. Ex.: lesão a direito. Inversão judicial: verossimilhança das alegações (probabilidade de serem verdadeiras) ou hipossuficiência econômica ou técnica (art. 6º, CDC). Sistema do livre convencimento motivado - Trata-se de um dos princípios fundamentais do processo civil concernente às provas, segundo o qual o juiz aprecia livremente a prova, devendo apresentar os motivos que o levaram à decisão. - Não há hierarquia ou subordinação entre os meios de prova. - O sistema do livre convencimento motivado situa-se entre o sistema da prova legal e o da íntima convicção do magistrado. - “O sistema da persuasão racional exige que o juiz indique as razões pelas quais formou o seu convencimento, expondo fundamentos e provas que o sustentam.” - O juiz deve deixar claro o caminho que percorreu para proferir o seu provimento jurisdicional. Art. 131. O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento. Prova ilícita - Vedação constitucional (art. 5º, LVI, CF). - Vedação legal (art. 332, CPC). - Em suma: são vedadas as provas ilegais ou moralmente ilegítimas. - Ilicitude: meios indevidos (violência, grave ameaça, coação, etc.); meio empregado para a demonstração do fato (interceptações telefônicas, violação de sigilo bancário, ambos sem autorização judicial, violação de sigilo de correspondência). - Teoria dos frutos da árvore envenenada. - Princípio da proporcionalidade: hipótese em que a prova do fato protegerá bem jurídico mais relevante se comparado com a ilicitude da prova. Prof. Gabriel Gomes Canêdo V. de Magalhães “O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram.” Jean Piaget MÓDULO II – SENTENÇA 1 CONCEITO Digressão - O CPC de 1973, na sua redação originária, definia a sentença como sendo o ato processual que ensejava o fim do processo. O único critério observado para se definir sentença consistia na capacidade do ato processual em encerrar o processo, isto é, se o ato processual decisório tivesse aptidão de colocar fim ao processo em primeiro grau de jurisdição, estar-se-ia diante de uma sentença. - Nesta época se concebia ainda a ideia de que os processos de conhecimento (em que se busca o acertamento do direito material) e o processo de execução (onde se pretende a efetivação do direito reconhecido ao autor) seriam autônomos. Para cada sentença condenatória, seria necessária a instauração de um processo de execução autônomo. - Com o advento da Lei 11.232/05 passou-se a entender que o processo é um só, desde a petição inicial até a efetivação do direito do credor, daí porque não faria sentido a existência de um processo de conhecimento e de um processo de execução autônomos. O que antes configurava dois processos distintos passou a ser meras fases de um mesmo processo: fase de conhecimento + fase de cumprimento de sentença condenatória = processo sincrético. - Percebam, pois, que a sentença nem sempre tem o condão de acarretar o término do processo. - Em se tratando de sentença condenatória, por exemplo, o provimento jurisdicional apenas põe fim à fase de conhecimento, que será sucedidapela fase de cumprimento de sentença. - Do mesmo modo, na hipótese em que as partes recorrerem da sentença, o ato decisório do juiz somente ensejará o fim do procedimento em primeiro grau de Roteiro de Aula Direito Processual Civil III Prof. Gabriel Gomes Canêdo Vieira de Magalhães Prof. Gabriel Gomes Canêdo V. de Magalhães jurisdição, porquanto, uma vez interposto o recurso, a relação processual será estendida. - Pergunta-se: o conceito de sentença ainda permanece o mesmo nos dias de hoje? - Em função dessa modificação legislativa, certo é que o conceito de sentença necessitaria ser revisto, não mais podendo ser aquele segundo o qual sentença é ato que põe fim ao processo. - Desse modo o art. 162, §1º, do CPC consigna que “Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta lei.” - A sentença passou a ser definida a partir do seu conteúdo (situações do art. 267 ou art. 269 do CPC), bem assim tomando-se em consideração a sua aptidão para encerrar o procedimento em primeiro grau de jurisdição. - É relevante notar que, se a sentença fosse definida como tal apenas tendo em conta o seu conteúdo, existiriam diversas sentenças ao longo do processo. Ex.: decisão liminar do juiz que reconhece a procedência de um dos pedidos formulados pelo autor. - Ditar: a sentença, antes concebida unicamente como sendo o ato que colocava fim ao processo, hoje é compreendida a partir da noção de processo sincrético, infundida pela Lei 11.232/05, de sorte que sentença é o ato decisório que implica alguma das situações elencadas nos arts. 267 e 269 do CPC e que tenha capacidade de encerrar o procedimento em primeiro grau de jurisdição. 2 ESPÉCIES DE SENTENÇA Terminativas (art. 267, CPC) - São aquelas que extinguem o processo sem resolução do mérito (o processo finda- se sem que a pretensão deduzida pelo autor seja apreciada). Definitivas (art. 269, CPC) - São aquelas cujo mérito é analisado pela autoridade julgadora e sobre o qual é proferida uma sentença acolhendo ou não o pedido do autor. - Existem algumas razões para essa diferenciação: Somente sobre as sentenças que resolvem o mérito incide a coisa julgada material, ou seja, aquilo que foi decidido pelo juiz se torna imutável, não sendo possível que a mesma demanda seja proposta novamente. As sentenças terminativas podem ser concisas (resumida, sintética, constituída em poucas palavras) – art. 459, CPC. A sentença terminativa deve Prof. Gabriel Gomes Canêdo V. de Magalhães conter todos os elementos da decisão judicial, podendo ser, no entanto, abreviada. Art. 459. O juiz proferirá a sentença, acolhendo ou rejeitando, no todo ou em parte, o pedido formulado pelo autor. Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito, o juiz decidirá em forma concisa. Contra ambas as modalidades de sentença é cabível a interposição de apelação (art. 513, CPC) O art. 269 do CPC arrola as hipóteses em que o processo será extinto com resolução do mérito. Insta perceber, que apenas na situação aventada no inciso I o mérito será, com efeito, analisado. Nas demais hipóteses ventiladas no art. 269, embora o legislador ordinário as tenha classificado como sendo sentenças de mérito, este não é apreciado e decidido pelo juiz. Art. 269. Haverá resolução de mérito: I - quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do autor; II - quando o réu reconhecer a procedência do pedido; III - quando as partes transigirem; IV - quando o juiz pronunciar a decadência ou a prescrição; V - quando o autor renunciar ao direito sobre que se funda a ação. Verifica-se que nos demais casos o pedido não é analisado, sendo que a situação controvertida nos autos é solucionada por ato das próprias partes, ficando o juiz adstrito àquilo que tiver sido decidido pelas partes (evidentemente, em se tratando de direitos disponíveis). Obs.: comentários sobre o reconhecimento de ofício da prescrição (art. 219, §5º, CPC) 3 REQUISITOS (ELEMENTOS) ESSENCIAIS DA SENTENÇA Art. 458. São requisitos essenciais da sentença: I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a suma do pedido e da resposta do réu, bem como o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo; II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito; III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões, que as partes Ihe submeterem. Relatório - Trata-se de um resumo de todos os acontecimentos do processo. Em última análise o relatório consiste em uma garantia de que o julgador analisou tudo o que tiver sido aventado pelas partes no processo, para só então decidir. Prof. Gabriel Gomes Canêdo V. de Magalhães - Representa uma garantia de que o juiz conhece todos os fatos e atos praticados no processo. Fundamentação (motivação) - Por força da norma contida no art. 93, IX da CF, todas as decisões judiciais devem ser fundamentadas. O juiz deve deixar claro na sentença as razões que o levaram a tomar sua decisão. Art. 93, IX, CF. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; - A sentença não fundamentada é nula. - Ex.: presentes os pressupostos elencados no art. XXXXX, defiro o pedido deduzido pelo autor. - A exigência de que as decisões judiciais sejam fundamentadas impõe que todas as questões essenciais do processo sejam analisadas. - No entanto, nem sempre o juiz terá que se pronunciar sobre todas as causas de pedir ou sobre todos os fundamentos da defesa. Há casos em que o exame e pronunciamento de apenas uma das causas de pedir já é suficiente para ensejar o deferimento do pedido do autor. Exemplo Pedido: anulação de contrato; causa de pedir: incapacidade do celebrante que agiu sem assistência e coação na assinatura. - O juiz deve apreciar todas as questões preliminares (art. 301, CPC), bem como todas as questões prejudiciais que porventura ainda não tenham sido avaliadas. Isso porque a presença de qualquer uma delas prejudica a análise do mérito (da pretensão do autor). Art. 301. Compete-lhe, porém, antes de discutir o mérito, alegar: I - inexistência ou nulidade da citação; II - incompetência absoluta; III - inépcia da petição inicial; IV - perempção; V - litispendência; Vl - coisa julgada; VII - conexão; Vlll - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização; IX - convenção de arbitragem; X - carência de ação; Prof. Gabriel Gomes Canêdo V. de Magalhães Xl - falta de caução ou de outra prestação, que a lei exige como preliminar. Questões prejudiciais: são questões que influem diretamente no acolhimento ou rejeição do pedido formulado pelo autor. Ex.: paternidade na ação de alimentos. - Pressupostos processuais de existência: jurisdição, ação, capacidade postulatória e citação. - Pressupostos processuais de validade: juízo competente e imparcial, petição apta e capacidade para ser parte. - Coisa julgada: sobre a fundamentação não recai a coisa julgada material, isto é, o que foi discutido na fundamentação da sentença pode ser revisto em outro processo. Isto significa que se novo processo semelhante for instaurado o juiz pode decidir de forma diversa, invocando novos fundamentos. Dispositivo - “É a parte final da sentença, em que o juiz decide se acolhe,se rejeita o pedido, ou se extingue o processo, sem examiná-lo.” - Ex.: “Isto posto, afasto as preliminares suscitadas e, no mérito, julgo procedentes em partes os pedidos, a fim de reconhecer que a parte autora é atualmente legítima representante da categoria dos vigilantes e conexos no Estado do Rio de Janeiro e, por consequência, condeno a ré Federação dos Vigilantes e Empregados em Empresas de segurança a abster-se de praticar atos como representante sindical da categoria. (...)” - O dispositivo, por ser o último elemento da sentença, deve estar alinhado com a fundamentação e com o relatório. A sentença possui uma estrutura lógica. Nesse sentido o dispositivo da sentença deve refletir o que tiver sido discutido no âmbito da fundamentação, isto é, a decisão do magistrado (acolhendo ou rejeitando o pedido do autor ou, extinguindo o Prof. Gabriel Gomes Canêdo V. de Magalhães processo sem exame do mérito) deve guardar conexão com as razões expendidas na sua motivação. O juiz deve manter a coerência do ato decisório. - O juiz deve decidir todos os pedidos formulados no processo: pelo autor (na petição inicial), pelo réu (na contestação, nos casos de ação dúplice), na reconvenção, ação declaratória incidental, oposição e denunciação da lide, etc. A sentença é una, de sorte que todas as pretensões deduzidas no processo deverão ser resolvidas na sentença. - Regra da congruência: esta regra impõe que a sentença deve observar os limites da lide, devendo o juiz proferir um provimento jurisdicional que seja um reflexo da petição inicial, isto é, concedendo exatamente aquilo que foi pedido pelo autor, qualitativamente e quantitativamente. É por isso que se diz que a sentença deve ser um retrato da petição inicial. Art. 460. É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado. - É vedado ao juiz proferir sentença ilíquida, incerta (art. 459, CPC). No entanto, é possível que o juiz não tenha certeza quanto à extensão do dano, razão pela qual autorizado está a proferir sentença certa quanto ao objeto, mas ilíquida em relação ao quantum. Nesses casos, a apuração do quantum será realizada em futura fase de liquidação da sentença. Ex.: lesão a direito decorrente de acidente automobilístico. Art. 459. Parágrafo único. Quando o autor tiver formulado pedido certo, é vedado ao juiz proferir sentença ilíquida. 4 SENTENÇAS DE IMPROCEDÊNCIA DE PLANO (art. 285-A, CPC) - Esta modalidade de sentença encontra-se consubstanciada no art. 285-A do CPC, consistindo em inovação legislativa implementada pela Lei 11.277/06. Art. 285-A. Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo já houver sido proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser dispensada a citação e proferida sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada. § 1o Se o autor apelar, é facultado ao juiz decidir, no prazo de 5 (cinco) dias, não manter a sentença e determinar o prosseguimento da ação. § 2o Caso seja mantida a sentença, será ordenada a citação do réu para responder ao recurso. Prof. Gabriel Gomes Canêdo V. de Magalhães - Ex.: ação em que o autor pretende questionar a legalidade de determinado tributo sob o mesmo fundamento de outras demandas já julgadas improcedentes no mesmo juízo. 5 OPORTUNIDADES EM QUE A SENTENÇA PODERÁ SER PROFERIDA - Nesse momento, é necessário distinguir as sentenças terminativas das definitivas. - As sentenças terminativas (aquelas que acarretam a extinção do processo sem resolução do mérito) podem ser proferidas a qualquer tempo, bastando que o juiz verifique que o mérito não poderá ser apreciado. Verificando o juiz a existência de um vício que impeça o prosseguimento do processo, ele procederá à sua extinção. - Quanto às sentenças definitivas, é preciso distinguir aquela que examina o mérito, acolhendo ou rejeitando o pedido do autor, das demais (art. 269, II a V, CPC). Estas últimas, consequências da autocomposição das partes (reconhecimento jurídico do pedido, renúncia ao direito em que se funda a ação, transação e prescrição e decadência) podem ser proferidas a qualquer tempo. Por seu turno, as sentenças que acolhem ou rejeitam o pedido deduzido pelo autor podem ser proferidas em quatro oportunidades: 1) Antes mesmo da citação do réu na hipótese aventada no art. 285-A, CPC; 2) Julgamento antecipado da lide – havendo revelia e, operando-se o efeito da presunção de veracidade dos fatos alegados na inicial; 3) Após a contestação ou a réplica do autor – quando a questão controvertida for unicamente de direito, ou, sendo de direito e de fato, não houver necessidade de produzir prova em audiência. Art. 330. O juiz conhecerá diretamente do pedido, proferindo sentença: I - quando a questão de mérito for unicamente de direito, ou, sendo de direito e de fato, não houver necessidade de produzir prova em audiência; II - quando ocorrer a revelia (art. 319). 4) Após a conclusão da fase de instrução, depois que as partes apresentarem suas alegações finais. 6 DEFEITOS DA SENTENÇA - A sentença, como todo e qualquer ato processual, pode padecer de algum vício, o qual poderá acarretar a sua nulidade ou inexistência, conforme a sua gravidade. Prof. Gabriel Gomes Canêdo V. de Magalhães - Ex.: defeito ou ausência de um dos elementos constitutivos da sentença, quais sejam, relatório, fundamentação e dispositivo nulidade (a maioria da doutrina tem entendido se tratar de hipótese de inexistência). - Ex.: juiz deixa de apreciar uma das pretensões do autor inexistência parcial. - Recurso: esses defeitos devem ser ventilados em recurso próprio (apelação ou embargos de declaração, conforme o caso). - Trânsito em julgado da sentença que deixou de apreciar um dos pedidos do autor. Nessa situação, o autor deverá manejar nova ação, formulando o pedido não analisado. Não é caso que enseja a interposição de ação rescisória, pois esta visa desconstituir a sentença e, consequentemente, o que tiver sido decidido no seu bojo. - Pela regra da congruência e da inércia, o juiz deverá proferir um provimento jurisdicional em consonância com que tiver sito postulado pelo autor. Desse modo, não havendo estreita correlação entre as pretensões das partes e o que tiver sido decidido pelo juiz, a sentença poderá estar eivada de vício, caso em que será classificada como extra petita, ultra petita ou citra petita. Ex.: condenação em objeto diverso do que foi pedido pelo autor; condenação em quantidade superior à pretendida pelo autor; deixar de apreciar um dos pedidos articulados na inicial. Extra petita - É aquela em que o juiz profere provimento jurisdicional totalmente desconexo com o que foi demandado pelo autor. Ex.: o autor pleiteia na petição inicial que seja declarada a existência de uma determinada relação jurídica e o juiz condena o réu a pagar determinada quantia. Ex.: ação em que se busca atestar a autenticidade de um documento (de um contrato, p. ex.) e o juiz determina a extinção da relação jurídica, desconstituindo-a. - Essa sentença é nula ou inexistente? Há divergência doutrinária: uns entendem que o ato é nulo, podendo ser sanada a nulidade por meio de ação rescisória, caso tenha ocorrido o trânsito em julgado; outros entendem que se está diante de um vício insanável, motivo pelo qual a sentença seria inexistente. - Exceções: situações em que a lei autoriza o juiz a conceder algo diverso do que tenha sido pleiteado pelo autor. Prof. Gabriel Gomes Canêdo V. de Magalhães Açõespossessórias (art. 920, CPC): em razão da natureza fungível, própria dessas ações, é possível que o juiz conceda remédio possessório diverso do que tenha sito postulado. Não sendo possível o cumprimento específico das obrigações de fazer ou não fazer, é facultado ao juiz conceder providência que assegure o resultado prático equivalente (art. 461, CPC). Ultra petita - É aquela em que o juiz concede o que foi pedido pelo autor, entretanto condena o réu em quantidade superior à pedida. - Esse vício é menos grave que o anterior, motivo pelo qual, havendo recurso, competirá ao tribunal reduzir a condenação aos limites do que foi proposto. Caso tenha ocorrido o trânsito em julgado, é possível sanar o vício por intermédio de ação rescisória, desconstituindo a sentença naquilo que tiver excedido o julgamento. - Ex.: juiz condenou o réu ao pagamento da quantia de R$ 100.000,00, tendo o autor pedido apenas R$ 60.000,00. Citra ou infra petita - Sentença em que o juiz deixa de apreciar uma das pretensões levadas a juízo; tendo o autor formulado mais de um pedido, o juiz deixar de avaliar um deles. - O juiz deve analisar todos os pedidos deduzidos pelas partes. Caso o deixe de fazer na sentença, esta será infra petita. - Para solucionar este impasse o autor poderá se valer dos Embargos de Declaração, solicitando que a omissão seja sanada, ou, então, poderá interpor um recurso de apelação, caso em que o Tribunal anulará a sentença determinando que outra seja proferida sem o vício ou, o próprio Tribunal julgará o pedido preterido em primeira instância. - Tendo subsistido o trânsito em julgado, o autor deverá propor nova demanda postulando o pedido que não foi atendido. Isso não viola a coisa julgada, porquanto o pedido sequer foi analisado pelo magistrado. Prof. Gabriel Gomes Canêdo V. de Magalhães Art. 460. É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.
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