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A responsabilidade civil sob a ótica do Direito Civil

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A responsabilidade civil sob a ótica do Direito Civil-Constitucional 
1. Introdução 
O instituto da responsabilidade civil é norteado pela concepção de que sempre que 
alguém causa um dano a outrem, deve ser compelido a restituir o lesado ao status quo 
ante. Nas palavras de Heloísa Helena Gomes Barboza (2004), pode ser definido pelo 
interesse em restabelecer o equilíbrio econômico-jurídico alterado pelo dano, a causa 
geradora da responsabilidade, desde que existente um dever jurídico. 
Importante destacar, ainda, que a responsabilidade civil configura, para parte da 
doutrina, dever jurídico sucessivo, construção que não se amolda adequadamente à 
responsabilidade objetiva, existindo autores que preferem utilizar a expressão “Direito 
de Danos” para o que o Código Civil trata como responsabilidade civil (TEPEDINO, 
2006). 
O Código Civil em vigor adotou a concepção do ato ilícito como fonte de obrigações, 
como se vê da redação do art. 927, com remissão aos arts. 186 e 187: 
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica 
obrigado a repará-lo. 
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, 
nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo 
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.” 
O art. 927 trata do dever de indenizar. Salienta Tepedino (2006) que a doutrina aponta 
uma falha redacional no dispositivo. Referida falha reside no fato de que ser o dano 
elemento essencial do ato ilícito. Com efeito, como já salientado, tamanha é a 
importância do dano na moldura do Direito Civil moderno que há autores que preferem 
usar a expressão “Direito de Danos”. Não haveria, portanto, necessidade de mencionar 
ato ilícito, posto que ato ilícito e dano estão interligados. 
2. Responsabilidade subjetiva e responsabilidade objetiva. 
Informa Anderson Schreiber (2005) que os elementos tradicionais da responsabilidade 
subjetiva são culpa, dano e nexo causal. Tais elementos já existiam, segundo referido 
autor, no Art. 1382 do Código de Napoleão, que por sua vez influenciou a elaboração 
do Código Civil de 1916. Os diplomas legais mencionados, seguindo essa visão 
tradicional, dispunham a respeito da responsabilidade civil com ênfase nessa tríade 
fundamental da responsabilidade subjetiva, como se vê da redação do Art. 159 do 
Código Civil de 1916: "Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou 
imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o 
dano.” Percebe-se, pela simples leitura da norma, a proeminência que a demonstração 
da culpa ocupava no cenário da responsabilidade civil. 
Mesmo durante a vigência do Código Civil de 1916, contudo, já se vislumbrava a 
possibilidade de existência de uma responsabilidade civil sem culpa. O art. 1529 trazia 
previsão expressa de responsabilização sem culpa na hipótese de queda ou lançamento 
de objetos de edifícios. 
A doutrina observou a existência de duas sólidas barreiras à indenização, quais sejam: 
a necessidade de demonstração do caráter culposo lato sensu da conduta do ofensor e 
a dificuldade na demonstração do nexo de causalidade entre a conduta do ofensor e o 
dano. A essas barreiras Anderson Schreiber (2005) denomina filtros da responsabilidade 
civil. 
Ocorre, contudo, que em sede de responsabilidade civil, a tendência é a erosão dos 
filtros tradicionais da responsabilidade civil, consubstanciada na perda relativa da 
importância da prova da culpa e do nexo causal na dinâmica contemporânea. A ênfase 
moderna é a reparação do dano. Trata-se de foco mais consentâneo com os ideais do 
Direito Civil-Constitucional, por demonstrar mais aptidão à efetiva tutela da dignidade 
humana, bem como por atender, dentre outros princípios, o da solidariedade social. 
Com relação à primeira barreira encontrada na noção tradicional de responsabilidade 
civil, vale ressaltar, a demonstração da culpa, informa Cavalieri : 
"A idéia de culpa está visceralmente ligada à responsabilidade, por isso que, de regra, 
ninguém pode merecer censura ou juízo de reprovação sem que tenha faltado com o 
dever de cautela em seu agir. Daí ser a culpa, de acordo com a teoria clássica, o 
principal pressuposto da responsabilidade civil subjetiva. (...) Por essa concepção 
clássica, todavia, a vítima só obterá a reparação do dano se provar a culpa do agente, 
o que nem sempre é possível na sociedade moderna. O desenvolvimento industrial, 
proporcionado pelo advento do maquinismo e outros inventos tecnológicos, bem como 
o crescimento populacional geraram novas situações que não podiam ser amparadas 
pelo conceito tradicional de culpa. Importantes trabalhos vieram, então, à luz na 
Itália, na Bélgica e, principalmente, na França sustentando uma responsabilidade 
objetiva, sem culpa, baseada na chamada teoria do risco, que acabou sendo também 
adotada pela lei brasileira em certos casos.” (CAVALIERI FILHO, 2006, p. 39) 
A doutrina foi pouco a pouco percebendo que a própria prova da culpa tem por 
fundamento a concepção católica romana de pecado, no sentido de falta moral. A 
propósito, Philippe le Tourneau, citado por Schreiber (2007), questiona a base religiosa 
da idéia de culpa, fazendo alusão a textos bíblicos (Salmo 7,9-13 Salmo 16,7-9 Salmo 
139 Jeremias 11,19-20 Jeremias 12,1-3 Jeremias 17,9-11): “Quel juge pourrait sonder 
les reins et les coeurs? Serait-ce vraimente justice?” Com efeito, não há justiça quando 
se espera que o Magistrado sonde o coração, a motivação íntima, para verificar se se 
a vítima terá direito à reparação do dano. 
Em determinadas situações, referida imposição constituía a chamada prova diabólica, 
impossível de ser levada a cabo pela vítima. Era o que ocorria, por exemplo, na 
hipótese de acidentes de trabalho. Em muitos casos, a reparação do dano deixava de 
ser implementada pelas dificuldades inerentes à produção de tal acervo probatório. 
O mesmo se diga com relação à prova do nexo causal. Cabe não esquecer que no século 
XIX a sociedade aprendia a lidar com todo o aparato do maquinismo industrial. 
Acidentes eram inevitáveis. A visão tradicional da doutrina civilista com relação à culpa 
e ao nexo causal trazia dificuldade em situações análogas. Análises psicológicas 
objetivando aferição de culpa demonstraram-se difíceis, importando em algumas 
injustiças e impossibilitando a necessária tutela da dignidade humana. 
Como exemplo da preocupação dos estudiosos em relação ao tema, cite-se a criação 
da teoria da perda de uma chance. A doutrina francesa percebeu que, especialmente 
em sede de responsabilidade civil médica, era muito difícil, quando não impossível a 
atividade probatória da vítima, como bem salienta Heloísa Helena Barboza: 
“As dificuldades de obtenção da prova, em determinados casos de danos corporais, e 
a necessidade de se proteger a vítima nessas circunstâncias, ensejaram a construção 
pela doutrina francesa da teoria da perte d’une chance. Quando não é possível 
assegurar que um determinado dano se deve a um ato ou omissão do médico, o prejuízo 
a ser indenizado consiste na perda de uma possibilidade (ou probabilidade) de cura, 
presumindo-se que a atuação do médico diminui essa possibilidade. A falta de prova 
do nexo de causalidade é uma das características da ‘perda de uma oportunidade’, 
mesmo sendo a oportunidade aleatória.” (BARBOZA, 2004, p. 49). 
Foi essa a teoria utilizada pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul no julgado a 
seguir: 
Outro julgado na mesma linha de entendimento, que flexibilizou a prova do nexo causal 
aplicando a teoria da perda de uma chance, apenas reduzindo em trinta por cento 
(30%) a condenação, de 408 salários mínimos, a título de dano moral, devido à 
contribuição da vítima: 
“Responsabilidade civil. Médico. Comporta-se contra a prudência médico que dá alta 
a paciente,a instâncias deste, apesar de seu estado febril não recomendar a liberação 
e comunicado, posteriormente, do agravamento do quadro, prescreve sem vê-lo 
pessoalmente. O retardamento dos cuidados, se não provocou a doença fatal, tirou do 
paciente razoável chance de sobreviver. Também contribuiu a vítima à extensão do 
dano insistindo na alta. Limites indenizativos remetidos à liquidação. Verba honorária 
alterada. Apelação provida em parte” (RJTJRGS 158/214).” 
Outra teoria citada por Heloísa Helena Barboza (2004) é a da res ipsa loquitur. Com 
efeito, em determinadas situações, como aquelas em que se observa objetos 
esquecidos dentro do paciente em procedimento cirúrgico, a coisa fala por si mesma, 
não se exigindo a prova dos filtros tradicionais da responsabilidade civil. 
Verifica-se, portanto, que a teoria da responsabilidade civil percorreu longo caminho 
até atingir o patamar atual, mais consentâneo com a proteção da dignidade humana. 
Um dos passos dessa trajetória foi a multiplicação da presunção de culpa. Pouco a 
pouco, a doutrina e a Jurisprudência foram ampliando as possibilidades de 
responsabilização mediante o afastamento da rigidez probatória da culpa. Não se está 
a falar aqui em responsabilidade objetiva, mas em um aumento nas situações 
consideradas de culpa presumida. 
O Decreto-lei 2681/1912, por exemplo, instituiu a culpa presumida na hipótese de dano 
ocorrido durante transporte ferroviário. 
A presunção relativa de culpa constituiu passo inicial. Tal presunção tornou-se cada 
vez mais absoluta. Cite-se, por exemplo, a responsabilidade do preponente pelos atos 
do preposto, presunção defendida pela doutrina e acolhida pela Jurisprudência, como 
se pode observar da Súmula 341 do STF: 
“É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou 
preposto.” 
Trata-se de responsabilidade civil tratada na sistemática do Código Civil em vigor como 
responsabilidade objetiva. À época, porém, sob a égide do Código Civil de 1916, o 
tema era encarado como responsabilidade subjetiva, cuja prova da culpa foi cada vez 
mais afastada, resultando na Súmula 341 do STF, que acolheu a “presunção de culpa”. 
Importa mencionar também o avanço da responsabilidade fundada no risco. 
Além da multiplicação da presunção de culpa, importa mencionar o avanço da 
responsabilidade fundada no risco e alteração da própria noção de culpa e do modo de 
sua aferição como fatores que conduziram a responsabilidade civil a sua concepção 
atual. 
Ainda dentro desse contexto de evolução da responsabilidade civil, interessante 
destacar a menção de Caio Mário da Silva Pereira (1999) a esse processo, ao registrar 
a adoção da chamada “teoria da guarda”: 
“Trata-se de uma espécie de solução transacional ou escala intermediária, em que se 
considera não perder a culpa a condição de suporte da responsabilidade civil, embora 
aí já se deparem indícios de sua degradação como elemento etiológico fundamental 
da reparação, e aflorem fatores de consideração da vítima como centro da estrutura 
ressarcitória, para atentar diretamente para as condições do lesado e a necessidade 
de ser indenizado.” (PEREIRA, 1999, p. 263) 
Além das hipóteses cada vez mais ampliadas de presunção de culpa, o surgimento da 
teoria do risco colocou em xeque a própria culpa como fundamento da 
responsabilização. 
“Com o intuito de não deixar desamparada a vítima, desenvolveram paulatinamente o 
novo sistema de responsabilização com base na teoria do risco, segundo a qual quem 
exerce determinadas atividades deve ser responsável também pelos seus riscos, 
independente de quais considerações em torno do seu comportamento pessoal. A esta 
nova espécie de responsabilidade fundada no risco, convencionou-se chamar 
responsabilidade objetiva, porque desvinculada da valoração da conduta do sujeito. 
São requisitos da responsabilidade objetiva: 1) o exercício de certa atividade; ii) o 
dano; iii) o nexo de causalidade entre o dano e a atividade.” (TEPEDINO, 2006, p. 805). 
Nesse sentido, os estudos de Saleilles e Josserand no final do século XIX foram 
importantes para a futura construção da teoria do risco e da noção de responsabilidade 
civil objetiva. Os estudiosos observaram que o panorama da sociedade sofreu mutações 
tão profundas após a Segunda revolução industrial que o Direito Civil não podia 
permanecer restrito aos limites da responsabilidade civil tradicional. 
“Para esta teoria, toda pessoa que exerce alguma atividade, cria um risco de dano 
para terceiros. E deve ser obrigada a repará-lo, ainda que sua conduta seja isenta de 
culpa. A responsabilidade civil desloca-se da noção de culpa para a idéia de risco, ora 
encarada como risco-proveito, que se funda no princípio segundo o qual é reparável o 
dano causado a outrem em conseqüência de uma atividade realizada em benefício do 
responsável (ubi emolumentum, ibi ônus); ora, mais genericamente como risco criado, 
a que se subordina todo aquele que, sem indagação de culpa, expuser alguém a 
suportá-lo.” (GONÇALVES, 1995, p. 18). 
A responsabilidade civil objetiva, frise-se, não substitui a responsabilidade subjetiva, 
mas adequou a teoria civilista a hipóteses em que a aplicação da responsabilidade 
subjetiva produziria verdadeiras injustiças. 
“A ampliação das hipóteses de responsabilidade objetiva, de uma forma geral, 
contribui para a formação de um sistema de responsabilização mais solidário, porque 
adequado às relações de massa e comprometido com a eqüitativa distribuição dos 
riscos da vida contemporânea. Mais do que isto: releva a incorporação pelo direito 
brasileiro da tendência universal de abandono da técnica de valoração da conduta do 
ofensor.” (SCHREIBER, 2002, p. 5). 
Pode-se afirmar que a responsabilidade civil objetiva é consentânea com os princípios 
constitucionais que devem nortear o Direito Civil, tendo em vista possibilitar a 
solidariedade social e a justiça distributiva, além de garantir a tutela da dignidade 
humana. 
“Com efeito, os princípios da solidariedade social e da justiça distributiva, capitulados 
no art. 3.º, Incisos I e III, da Constituição, segundo os quais se constituem em objetivos 
fundamentais da República a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, bem 
como a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades 
sociais e regionais, não podem deixar de moldar os novos contornos da 
responsabilidade civil. Do ponto de vista legislativo e interpretativo, retiram da esfera 
meramente individual e subjetiva o dever de repartição dos riscos da atividade 
econômica e da autonomia privada, cada vez mais exacerbados na era da tecnologia. 
Impõem, como linha de tendência, o caminho da intensificação dos critérios objetivos 
de reparação do dano e do desenvolvimento de novos mecanismos de seguro social". 
(Tepedino, 2004, p. 191-216.) 
Tal tendência veio desembocar no art. 927 do CC, que acolheu a responsabilidade 
objetiva pelo risco, delimitada pela atuação jurisdicional, retirando o caráter 
excepcional e ex lege da responsabilidade objetiva. 
Assim, hipóteses anteriormente tratadas como de responsabilidade subjetiva com 
culpa presumida foram convertidas após o Código Civil em vigor em responsabilidade 
objetiva. Consulte-se, por oportuno, o art. 933 (fato de terceiro) e art. 936 (fato de 
animais) do Código de 2002. Saliente-se, por oportuno, que não é mais possível o dono 
eximir-se de reparar o dano alegando “cuidado preciso” na guarda e vigilância do 
animal, conforme disposição expressa do art. 1527 do Código Civil de 1916. Com efeito, 
tendo-se em conta a teoria do risco, a defesa deve basear-se tão-somente na ausência 
do nexo causal. 
Sergio Cavalieri bem observou essa mudança ao escrever a respeito da culpa in 
vigilando e da culpa in eligendo: 
“essas espécies de culpa, todavia, estão em extinção, porque o novo código civil, em 
seu art.933, estabeleceu responsabilidade objetiva para os pais, patrão, comitente, 
detentor de animal, etc., e não mais responsabilidade com culpa presumida, como era 
no Código anterior.” (CAVALIERI, 2006, p. 58) 
Importante frisar, mais uma vez, que a responsabilidade subjetiva não foi 
evidentemente abandonada. Nesse sentido, Sérgio Cavalieri Filho: 
“É importante que se tenha em mente, todavia, que a responsabilidade objetiva não 
afastou a subjetiva. Esta subsiste como regra, sem prejuízo da adoção da 
responsabilidade objetiva, nos casos e limites previstos em leis especiais." (CAVALIERI, 
2006, p. 33) 
Em lugar da extinção da responsabilidade subjetiva, portanto, defende-se que dita 
forma de responsabilidade mudou. Com efeito, afastou-se uma abordagem psicológica 
e religiosa, que tornava difícil a proteção aos direitos da vítima. Da esfera da moral 
passou-se à desconformidade em relação a um modelo abstrato de conduta: 
“Importante conseqüência disto é o abandono da culpa, em sua concepção clássica. 
Isto não significa a extinção da responsabilidade subjetiva, que, não obstante o avanço 
da responsabilidade objetiva, se mantém como fonte paralela de responsabilização, 
aplicável sobretudo às relações interindividuais, em que ambas as partes, a princípio, 
contribuem igualmente (ou igualmente deixam de contribuir) para a criação dos riscos 
de dano. Mas mesmo nestas relações a culpa perde seu caráter tradicional de 
negligência, imprudência ou imperícia, de falta pessoal e subjetiva que autoriza e 
exige um castigo representado pela responsabilização, passando a ter uma feição mais 
normativa, menos relacionada ao elemento anímico do ofensor e mais afeta à violação 
objetiva de padrões de comportamento (standards) atinentes a cada situação 
específica. Assim, também a responsabilidade subjetiva vai se afastando de seu intuito 
moralizador.” (SCHREIBER, 2002, p. 7) 
3. Novas possibilidades de danos indenizáveis 
Além da flexibilização da prova da culpa e do nexo causal tratada no item anterior, 
como corolário da evolução da responsabilidade civil, surgiu a possibilidade de 
reparação de danos antes inconcebíveis. É o caso da violação ao direito de imagem, de 
privacidade, dentre outros. Em 1980 era inconcebível que uma pessoa recorresse ao 
Judiciário reclamando danos decorrentes da violação a seu direito à privacidade. 
A evolução doutrinária, entretanto, deu vida à tarefa de perceber que determinados 
fatos da vida moderna não podem ser tratados por uma lente descontextualizada. 
Nessa linha de idéias, com relação à proteção à privacidade, Danilo Doneda (2006) 
afirma que na contemporaneidade é impossível limitar a transmissão de dados 
pertinentes a informações pessoais, promovendo a não-circulação de informações, 
atitude que constituía anteriormente o foco da proteção da privacidade. Tal assertiva 
reforça a necessidade de sistemas protetivos com foco no controle de sua circulação, 
buscando limitá-la aos espaços inevitáveis. Referido autor associa essa mudança de 
foco da não-circulação de informações para o controle dessa circulação à consolidação 
da teoria dos direitos da personalidade, que proporciona meios necessários ao 
indivíduo para construção e consolidação de uma esfera privada própria. Existe, 
portanto, uma nova visão a respeito de direitos não percebidos anteriormente, que 
suscita a demanda por reparação de novas espécies de danos. 
"Ação de indenização. Danos morais. Publicação de fotografia não autorizada em 
jornal. Direito de imagem. Inaplicabilidade da Lei de Imprensa. I. - A publicação de 
fotografia não autorizada em jornal constitui ofensa ao direito de imagem, ensejando 
indenização por danos morais, não se confundindo, com o delito de imprensa, previsto 
na Lei nº 5.250/67. Precedentes. II. - Recurso especial não conhecido." (REsp 207.165/ 
SP, Rel.Documento: 821593 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 
06/10/2008 Superior Tribunal de JustiçaMinistro PÁDUA RIBEIRO ) 
Atualmente não há problemas em se admitir, por exemplo, a responsabilidade civil nas 
hipóteses de revista ou vídeo-vigilância não autorizada. Essa abertura nas 
possibilidades de reparação de danos demonstra-se consentânea com a concepção 
civil-constitucional, assentada em três princípios básicos constitucionais: 
1. Princípio de proteção da dignidade da pessoa humana, fundamento do Estado 
Democrático de Direito da República Federativa do Brasil (art. 1. III, CF). 
2. Princípio da solidariedade social, também um dos objetivos da República Federativa 
do Brasil (construção de uma “sociedade livre, justa e solidária”- artigo 3, I, da CF/88). 
3. Princípio da igualdade lato sensu ou isonomia, eis que “todos são iguais perante a 
lei, sem distinção de qualquer natureza”( artigo 5, caput, da CF/88). 
Sobre o tema, leciona Gustavo Tepedino: 
“A rigor, as previsões constitucionais e legislativas, dispersas e casuísticas, não logram 
assegurar à pessoa proteção exaustiva, capaz de tutelar as irradiações da 
personalidade em todas as suas possíveis manifestações. Com a evolução cada vez mais 
dinâmica dos fatos sociais, torna-se assaz difícil estabelecer disciplina legislativa para 
todas as possíveis situações jurídicas de que seja a pessoa humana titular”. (TEPEDINO, 
2004, p. 37) 
Com efeito, no panorama jurídico brasileiro atual acolhe-se sem dificuldades o direito 
à reparação do dano à privacidade, bem como o dano moral, o dano estético e o dano 
à integridade psíquica. 
RECURSO ESPECIAL N.º 595.338/RJ Rel.: Min. Carlos Alberto Menezes Direito/3.ª Turma 
EMENTA - Indenização. Acidente no interior do veículo. Dano moral e dano estético. 
Juros de mora. Prequestionamento. Precedentes da Corte. 1. A jurisprudência da Corte 
assentou ser possível a cumulação do dano moral com o dano estético decorrentes do 
mesmo fato e, ainda, a revisão do valor do dano moral apenas quando absurdo, 
exagerado ou mesmo irrisório. 2. Na responsabilidade contratual os juros de mora 
contam-se da citação. 3. Recurso especial conhecido e provido, em parte. (STJ/DJU 
de 21/2/05, pág. 177) 
"RESPONSABILIDADE CIVIL. ÔNIBUS. ATROPELAMENTO. VÍTIMA QUE RESTOU TOTAL E 
PERMANENTEMENTE INCAPACITADA PARA O TRABALHO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO 
JURISDICIONAL. SENTENÇA CONDICIONAL. INEXISTÊNCIA. CUMULAÇÃO DOS DANOS 
MORAIS COM OS ESTÉTICOS. ADMISSIBILIDADE. - Inexistência no caso de negativa de 
prestação jurisdicional. - A prova dos lucros cessantes deve ser realizada no processo 
de conhecimento. A apuração do montante correspondente à remuneração percebida 
pela vítima à época em que trabalhava pode ser relegada à fase de liquidação. 
Inexistência de sentença condicional, dadas às peculiaridades da espécie em exame. - 
São cumuláveis os danos morais e danos estéticos, quando atingidos valores pessoais 
distintos. Recurso especial não conhecido". (STJ, 4ª Turma, Resp 327.210 - MG, Rel.: 
Min. Barros Monteiro, data do julgamento: 04/11/2004) 
Os julgados analisados indicam a variedade de opções de responsabilidade civil no 
panorama jurídico atual, oriunda da multiplicidade de danos ressarcíveis. Deve-se 
atentar, contudo, que a concepção atual do dano ressarcível não identifica o dano com 
a antijuridicidade, como se o sistema da responsabilidade civil fosse típico, 
respondendo tão-somente à violação de um direito ou de uma norma. Adota-se 
majoritariamente a teoria do interesse, vinculando-se o dano à lesão de um interesse 
juridicamente protegido. Tal entendimento possibilita a proteção não só de direitos, 
mas também de interesses considerados dignos de tutela: 
“Modernamente, pois, desvincula-se o conceito de dano da noção de antijuridicidade, 
adotando-se critérios mais amplos, que englobam não apenas direitos (absolutos ou 
relativos) mas também interesses que, porque considerados dignos de tutela jurídica, 
quando lesionados, obrigam à sua reparação.” (Moraes, 2006)Saliente-se, por oportuno, que a responsabilidade civil, sob uma ótica moderna, tem 
seu foco exatamente no dano, não na culpa, objetivando a tutela da vítima. 
(SCHREIBER, 2007) 
Observa-se que a cada dia surgem novas possibilidades de danos ressarcíveis. Questão 
interessante e polêmica, por exemplo, diz respeito à “ausência de amor e carinho” nas 
relações familiares. A respeito, após julgado do Tribunal de Justiça de Minas Gerais 
favorável à tese do ressarcimento do dano afetivo, o STJ assentou o entendimento 
contrário no RESP 757.411 MG: 
“RECURSO ESPECIAL Nº 757.411 - MG (2005⁄0085464-3). RELATOR : MINISTRO 
FERNANDO GONÇALVES. RECORRENTE : V DE P F DE O F. ADVOGADO : JOÃO BOSCO 
KUMAIRA E OUTROS. RECORRIDO : A B F (MENOR). ASSIST POR : V B F. ADVOGADO : 
RODRIGO DA CUNHA PEREIRA E OUTROS. EMENTA 
RESPONSABILIDADE CIVIL. ABANDONO MORAL. REPARAÇÃO. DANOS MORAIS. 
IMPOSSIBILIDADE. 1. A indenização por dano moral pressupõe a prática de ato ilícito, 
não rendendo ensejo à aplicabilidade da norma do art. 159 do Código Civil de 1916 o 
abandono afetivo, incapaz de reparação pecuniária. 2. Recurso especial conhecido e 
provido. 3. ACÓRDÃO. 4. Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os 
Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos 
e das notas taquigráficas a seguir, por maioria, conhecer do recurso e lhe dar 
provimento. Votou vencido o Ministro Barros Monteiro, que dele não conhecia. Os 
Ministros Aldir Passarinho Junior, Jorge Scartezzini e Cesar Asfor Rocha votaram com 
o Ministro Relator. 5. Brasília, 29 de novembro de 2005 (data de julgamento). 6. 
MINISTRO FERNANDO GONÇALVES, Relator” 
A posição adotada, in casu, pelo STJ, parece ser a mais correta, tendo em vista que o 
Direito de Família trata adequadamente do tema, não havendo motivo para se adentrar 
à seara da responsabilidade civil. Nesse sentido, importa destacar trecho do voto do 
Relator: 
“A matéria é polêmica e alcançar-se uma solução não prescinde do enfrentamento de 
um dos problemas mais instigantes da responsabilidade civil, qual seja, determinar 
quais danos extrapatrimoniais, dentre aqueles que ocorrem ordinariamente, são 
passíveis de reparação pecuniária. Isso porque a noção do que seja dano se altera com 
a dinâmica social, sendo ampliado a cada dia o conjunto dos eventos cuja repercussão 
é tirada daquilo que se considera inerente à existência humana e transferida ao autor 
do fato. Assim situações anteriormente tidas como "fatos da vida", hoje são tratadas 
como danos que merecem a atenção do Poder Judiciário, a exemplo do dano à imagem 
e à intimidade da pessoa. 
Os que defendem a inclusão do abandono moral como dano indenizável reconhecem 
ser impossível compelir alguém a amar, mas afirmam que "a indenização conferida 
nesse contexto não tem a finalidade de compelir o pai ao cumprimento de seus 
deveres, mas atende duas relevantes funções, além da compensatória: a punitiva e a 
dissuasória. (Indenização por Abandono Afetivo, Luiz Felipe Brasil Santos, in ADV - 
Seleções Jurídicas, fevereiro de 2005). 
Nesse sentido, também as palavras da advogada Cláudia Maria da Silva: "Não se trata, 
pois, de "dar preço ao amor" – como defendem os que resistem ao tema em foco - , 
tampouco de "compensar a dor" propriamente dita. Talvez o aspecto mais relevante 
seja alcançar a função punitiva e dissuasória da reparação dos danos, conscientizando 
o pai do gravame causado ao filho e sinalizando para ele, e outros que sua conduta 
deve ser cessada e evitada, por reprovável e grave.” ( Descumprimento do Dever de 
Convivência Familiar e Indenização por Danos á Personalidade do Filho, in Revista 
Brasileira de Direito de Família, Ano VI, n° 25 – Ago-Set 2004) 
No caso de abandono ou do descumprimento injustificado do dever de sustento, guarda 
e educação dos filhos, porém, a legislação prevê como punição a perda do poder 
familiar, antigo pátrio-poder, tanto no Estatuto da Criança e do Adolescente, art. 24, 
quanto no Código Civil, art. 1638, inciso II. Assim, o ordenamento jurídico, com a 
determinação da perda do poder familiar, a mais grave pena civil a ser imputada a 
um pai, já se encarrega da função punitiva e, principalmente, dissuasória, mostrando 
eficientemente aos indivíduos que o Direito e a sociedade não se compadecem com a 
conduta do abandono, com o que cai por terra a justificativa mais pungente dos que 
defendem a indenização pelo abandono moral. 
Por outro lado, é preciso levar em conta que, muitas vezes, aquele que fica com a 
guarda isolada da criança transfere a ela os sentimentos de ódio e vingança nutridos 
contra o ex-companheiro, sem olvidar ainda a questão de que a indenização pode não 
atender exatamente o sofrimento do menor, mas também a ambição financeira 
daquele que foi preterido no relacionamento amoroso. 
No caso em análise, o magistrado de primeira instância alerta, verbis: 
"De sua vez, indica o estudo social o sentimento de indignação do autor ante o tentame 
paterno de redução do pensionamento alimentício, estando a refletir, tal quadro 
circunstancial, propósito pecuniário incompatível às motivações psíquicas noticiadas 
na Inicial (fls. 74) (…) Tais elementos fático-probatórios conduzem à ilação pela qual 
o tormento experimentado pelo autor tem por nascedouro e vertedouro o traumático 
processo de separação judicial vivenciado por seus pais, inscrevendo-se o sentimento 
de angústia dentre os consectários de tal embate emocional, donde inviável inculpar-
se exclusivamente o réu por todas as idiossincrasias pessoais supervenientes ao 
crepúsculo da paixão." (fls. 83) 
Ainda outro questionamento deve ser enfrentado. O pai, após condenado a indenizar 
o filho por não lhe ter atendido às necessidades de afeto, encontrará ambiente para 
reconstruir o relacionamento ou, ao contrário, se verá definitivamente afastado 
daquele pela barreira erguida durante o processo litigioso? 
Quem sabe admitindo a indenização por abandono moral não estaremos enterrando 
em definitivo a possibilidade de um pai, seja no presente, seja perto da velhice, 
buscar o amparo do amor dos filhos, valendo transcrever trecho do conto "Para o 
aniversário de um pai muito ausente", a título de reflexão (Colocando o "I" no pingo... 
E Outras Idéias Jurídicas e Sociais, Jayme Vita Roso, RG Editores, 2005): 
"O Corriere della Sera, famoso matutino italiano, na coluna de Paolo Mieli, que 
estampa cartas selecionadas dos leitores, de tempos em tempos alguma respondida 
por ele, no dia 15 de junho de 2002, publicou uma, escrita por uma senhora da cidade 
de Bari, com o título "Votos da filha, pelo aniversário do pai". 
Narra Glória Smaldini, como se apresentou a remetente, e escreve: "Caro Mieli, hoje 
meu pai faz 67 anos. Separou-nos a vida e, no meu coração, vivo uma relação 
conflitual, porque me considero sua filha ´não aproveitada´. Aos três anos fui levada 
a um colégio interno, onde permaneci até a maioridade. Meu pai deixara minha mãe 
para tornar a se casar com uma senhora. Não conheço seus dois outros filhos, porque, 
no dizer dele, a segunda mulher ´não quer misturar as famílias´. 
Faz 30 anos que nos relacionamos à distância, vemo-nos esporadicamente e presumo 
que isso ocorra sem que saiba a segunda mulher. Esperava que a velhice lhe trouxesse 
sabedoria e bom senso, dissipando antigos rancores. Hoje, aos 39 anos, encontro-me 
ainda a esperar. Como meu pai é leitor do Corriere, peço-lhe abrigar em suas páginas 
meus cumprimentos para meu pai que não aproveitei." 
Por certo um litígio entre as partes reduziria drasticamente a esperança do filho de 
se ver acolhido, ainda que tardiamente, pelo amor paterno. O deferimento do pedido, 
não atenderia, ainda, o objetivo de reparação financeira, porquanto o amparo nesse 
sentido já é providenciado com a pensão alimentícia, nem mesmo alcançaria efeito 
punitivo e dissuasório, porquanto já obtidoscom outros meios previstos na legislação 
civil, conforme acima esclarecido. 
Desta feita, como escapa ao arbítrio do Judiciário obrigar alguém a amar, ou a manter 
um relacionamento afetivo, nenhuma finalidade positiva seria alcançada com a 
indenização pleiteada.” 
Ademais, por relevante, salienta-se o voto do Ministro Cesar Asfor Rocha: 
“...Penso que o Direito de Família tem princípios próprios que não podem receber 
influências de outros princípios que são atinentes exclusivamente ou – no mínimo – 
mais fortemente - a outras ramificações do Direito. Esses princípios do Direito de 
Família não permitem que as relações familiares, sobretudo aquelas atinentes a pai e 
filho, mesmo aquelas referentes a patrimônio, a bens e responsabilidades materiais, a 
ressarcimento, a tudo quanto disser respeito a pecúnia, sejam disciplinadas pelos 
princípios próprios do Direito das Obrigações. Destarte, tudo quanto disser respeito às 
relações patrimoniais e aos efeitos patrimoniais das relações existentes entre parentes 
e entre os cônjuges só podem ser analisadas e apreciadas à luz do que está posto no 
próprio Direito de Família. Essa compreensão decorre da importância que tem a 
família, que é alçada à elevada proteção constitucional como nenhuma outra entidade 
vem a receber, dada a importância que tem a família na formação do próprio Estado. 
Os seus valores são e devem receber proteção muito além da que o Direito oferece a 
qualquer bem material. Por isso é que, por mais sofrida que tenha sido a dor suportada 
pelo filho, por mais reprovável que possa ser o abandono praticado pelo pai – o que, 
diga-se de passagem, o caso não configura - a repercussão que o pai possa vir a sofrer, 
na área do Direito Civil, no campo material, há de ser unicamente referente a 
alimentos; e, no campo extrapatrimonial, a destituição do pátrio poder, no máximo 
isso. Com a devida vênia, não posso, até repudio essa tentativa, querer quantificar o 
preço do amor. Ao ser permitido isso, com o devido respeito, iremos estabelecer 
gradações para cada gesto que pudesse importar em desamor: se abandono por uma 
semana, o valor da indenização seria "x"; se abandono por um mês, o valor da 
indenização seria "y", e assim por diante. Com esses fundamentos, e acostando-me ao 
que foi posto pelo eminente Ministro Fernando Gonçalves, Relator deste feito, e pelos 
Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior e Jorge Scartezzinni, peço vênia ao eminente Sr. 
Ministro Barros Monteiro para conhecer do recurso especial e dar-lhe provimento.” 
Impende salientar, por oportuno, que foi interposto Recurso Extraordinário (RE 
567164), arquivado no STF pela Ministra Ellen Gracie, que entendeu que a questão do 
“abandono afetivo” apenas indiretamente estaria relacionada à Constituição. 
Ocorre, na verdade, que a explosão das novas possibilidade de danos, com sua 
tendência ampliativa, tem provocado preocupação, tendo em vista os exageros 
verificados. Schreiber (2005) menciona diversos danos no mínimo exóticos: dano da 
moto nova, oriundo de um processo italiano; o caso affaire perrouche, em que um 
adolescente pretendia ser indenizado por danos decorrentes de seu nascimento; o 
alegado dano à identidade acadêmica de professor de direito eclesiástico por suposta 
posição científica que lhe fora erroneamente imputada; o treinador de time de 
beisebol processado por pai por “danos emocionais decorrentes do fracasso esportivo”. 
Há relato de uma condenação por danos decorrentes de greve de sexo do esposo na 
Itália. No Brasil, já ocorreu pedido de reparação de danos decorrentes de rompimento 
de noivado, bem como em decorrência de vestido parecido com outro, sem contar o 
caso de uma adolescente que pretendia reparação de danos por não poder ingressar 
em baile sem vestido adequado à ocasião. 
“O alargamento da noção de dano ressarcível, todavia, veio ocorrendo de maneira 
avassaladora. Com efeito, fala-se hoje em dano ao projeto de vida, dano por 
nascimento indesejado, dano hedonístico, dano de mobbing, dano de mass media, 
dano de férias arruinadas, dano de morte em agonia, dano de brincadeiras cruéis, dano 
de descumprimento dos deveres conjugais, dano por abandono afetivo e assim por 
diante. O aumento desordenado de novas espécies de dano fez surgir o temor, 
antecipado por Rodotà, de que “a multiplicação de novas figuras de dano venha a ter 
como únicos limites a fantasia do intérprete e a flexibilidade da jurisprudência”. 
(MORAES, 2006) 
Em resposta a tal exagero caracterizado pela tentativa de transformar simples fatos 
da vida em danos ressarcíveis, têm surgido estudos sobre o tema, importando em 
debates acerca da tarifação do dano moral, por um lado, e no surgimento de uma nova 
visão de pespecuniarização ou desmonetarização da reparação dos danos. 
4. O problema da fixação do valor da indenização 
No tocante à tarifação do dano moral, verifica-se que o grande problema é a fixação 
do quantum debeatur. 
É cediço que não há critério legal específico para arbitramento do valor dos danos 
morais. Em atenção ao art. 944 do Código Civil, bem como seu parágrafo único, a 
reparação deve ser adequada à extensão do dano, salvo na hipótese de “excessiva 
desproporção entre a gravidade da culpa e o dano”. Evidentemente, não há critério 
prático para aplicação de tal regra aos danos imateriais, tendo em vista a dificuldade 
de encontrar o valor capaz de restituir a vítima ao status quo ante. Além disso, existe 
entendimento no sentido de que os danos morais pertencem à espécie de danos in re 
ipsa, o que se reforça diante da redação da nova Súmula 388 do STJ: 
“A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.” Rel. Min. Fernando 
Gonçalves, em 26/8/2009. 
Todas essas dificuldades têm desembocado no problema prático de disparidade no 
montante das indenizações. 
Com efeito, dependendo tão somente da distribuição dos autos, podem ocorrer 
indenizações diferentes para danos equivalentes ou, em alguns casos, valores iguais 
para situações totalmente desiguais, como a morte de um familiar e a inclusão do 
nome nos cadastros de consumidores inadimplentes. 
A Lei 5250/67, antiga Lei de Imprensa, previa a tarifação das indenizações em seu art. 
51: 
“Art . 51. A responsabilidade civil do jornalista profissional que concorre para o dano 
por negligência, imperícia ou imprudência, é limitada, em cada escrito, transmissão 
ou notícia: 
I - a 2 salários-mínimos da região, no caso de publicação ou transmissão de notícia 
falsa, ou divulgação de fato verdadeiro truncado ou deturpado (art. 16, ns. II e IV). 
II - a cinco salários-mínimos da região, nos casos de publicação ou transmissão que 
ofenda a dignidade ou decôro de alguém; 
III - a 10 salários-mínimos da região, nos casos de imputação de fato ofensivo à 
reputação de alguém; 
IV - a 20 salários-mínimos da região, nos casos de falsa imputação de crime a alguém, 
ou de imputação de crime verdadeiro, nos casos em que a lei não admite a exceção da 
verdade (art. 49, § 1º).” 
Ocorre, contudo, que a Lei de Imprensa não foi recepcionada pela Constituição 
Federal, conforme decidiu o Supremo Tribunal Federal na ADPF 130. 
Antes disso, o Superior Tribunal de Justiça já tinha entendimento contrário à tarifação, 
como se vê do julgado a seguir: 
 “STJ - AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO: AgRg no Ag 605917 RJ 
2004/0060850-5. Relator(a): Ministro FERNANDO GONÇALVES. Julgamento: 
13/12/2004. Órgão Julgador: T4 - QUARTA TURMA. Publicação: DJ 01.02.2005 p. 
573. AGRAVO REGIMENTAL. DANO MORAL. PUBLICAÇÃO JORNALÍSTICA INDEVIDA. AÇÃO 
DE INDENIZAÇÃO. DECADÊNCIA. LIMITES DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. LEI DE 
IMPRENSA. INAPLICABILIDADE. PRECEDENTES. 1. Inúmeros precedentes das Turmas 
integrantes da Segunda Seção desta Corte apontam no sentido de que, com o advento 
da Constituição de 1988, não mais prevalece o prazo decadencial nem a tarifação da 
indenizaçãodevida por dano moral, decorrente da publicação considerada ofensiva à 
honra e à dignidade das pessoas. Precedentes. 2. Excepcionalmente, pela via do 
especial, o STJ pode modificar o quantum da indenização por danos morais, quando 
fixado o valor de forma abusiva ou irrisória, hipótese inocorrente, in casu. 
Precedentes.” 
O STJ há havia, inclusive, sumulado a questão, nos seguintes termos: 
“STJ Súmula nº 281 - 28/04/2004 - DJ 13.05.2004 
Indenização por Dano Moral - Tarifação da Lei de Imprensa 
A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na Lei de 
Imprensa.” 
Além da Lei de Imprensa, a tarifação da indenização foi prevista na Lei 7.565/86, 
Código Brasileiro de Aeronáutica, norma que também não teve acolhida na doutrina e 
jurisprudência, que se inclinou para a indenização integral nos moldes do Código de 
Defesa do Consumidor. 
No tocante à tarifação do dano moral, importa ressaltar o Projeto de Lei nº 150/1999, 
arquivado em 02/09/2007, que objetivava impor limites à indenização por dano moral. 
Em que pese posição majoritária da doutrina e da Jurisprudência não admitindo a 
tarifação da reparação do dano imaterial, entende-se que tem ocorrido excessos com 
relação ao tema do dano moral. Basta uma análise das estatísticas dos Juizados 
Especiais Cíveis para se verificar que há demandas relacionadas a supostos danos que 
não poderiam jamais dar suporte a um provimento condenatório. Pequenos dissabores 
do cotidiano são erigidos em grandes dramas pessoais com o fito de se auferir lucro. 
Há pessoas que se tornaram litigantes contumazes, fomentando a judicialização de 
eventos corriqueiros. Tal fato merece uma reflexão. Nesse sentido: 
“Quando a moralidade é posta debaixo do tapete, esse lixo pode ser trazido para fora 
no momento em que bem nos convier. E justamente porque a moralidade se fez algo 
descartável e de menor importância no mundo de hoje, em que o relativismo, o 
pluralismo, o cinismo, o ceticismo, a permissividade e o imediatismo têm papel 
decisivo, o ressarcimento por danos morais teria que também se objetivar para 
justificar-se numa sociedade tão eticamente frágil e indiferente, O ético deixa de ser 
algo intersubjetivamente estruturado e institucionalizado, descaracterizando-se como 
reparação de natureza moral para se traduzir em ressarcimento material, vale dizer,o 
dano moral é significativo não para reparar a ofensa à honra e a outros valores éticos, 
sim para acrescer alguns trocados ao patrimônio do felizardo que foi moralmente (?) 
enxovalhado.” (PASSOS, 2002) 
Recente publicação do STJ (2009) destaca a importância do tema, apontando 
disparidades entre os tribunais na fixação do dano moral, que resulta na chamada 
“jurisprudência lotérica”: para um mesmo fato que afeta inúmeras vítimas, uma 
Câmara do Tribunal fixa um determinado valor de indenização e outra Turma julgadora 
arbitra, em situação envolvendo partes com situações bem assemelhadas, valor 
diferente, comprometendo a credibilidade da Justiça e promovendo insegurança 
jurídica, além de fazer da indenização equivocadamente um bilhete premiado. 
O texto aludido elenca exemplos recentes de como os danos vêm sendo quantificados 
no STJ: 
“Morte dentro de escola = 500 salários 
Quando a ação por dano moral é movida contra um ente público (por exemplo, a União 
e os estados), cabe às turmas de Direito Público do STJ o julgamento do recurso. 
Seguindo o entendimento da Segunda Seção, a Segunda Turma vem fixando o valor de 
indenizações no limite de 300 salários mínimos. Foi o que ocorreu no julgamento do 
Resp 860705, relatado pela ministra Eliana Calmon. O recurso era dos pais que, entre 
outros pontos, tentavam aumentar o dano moral de R$ 15 mil para 500 salários 
mínimos em razão da morte do filho ocorrida dentro da escola, por um disparo de 
arma. A Segunda Turma fixou o dano, a ser ressarcido pelo Distrito Federal, seguindo 
o teto padronizado pelos ministros. 
O patamar, no entanto, pode variar de acordo com o dano sofrido. Em 2007, o ministro 
Castro Meira levou para análise, também na Segunda Turma, um recurso do Estado do 
Amazonas, que havia sido condenado ao pagamento de R$ 350 mil à família de uma 
menina morta por um policial militar em serviço. Em primeira instância, a indenização 
havia sido fixada em cerca de 1.600 salários mínimos, mas o tribunal local reduziu o 
valor, destinando R$ 100 mil para cada um dos pais e R$ 50 mil para cada um dos três 
irmãos. O STJ manteve o valor, já que, devido às circunstâncias do caso e à ofensa 
sofrida pela família, não considerou o valor exorbitante nem desproporcional (REsp 
932001). 
Paraplegia = 600 salários 
A subjetividade no momento da fixação do dano moral resulta em disparidades 
gritantes entre os diversos Tribunais do país. Num recurso analisado pela Segunda 
Turma do STJ em 2004, a Procuradoria do Estado do Rio Grande do Sul apresentou 
exemplos de julgados pelo país para corroborar sua tese de redução da indenização a 
que havia sido condenada. 
Feito refém durante um motim, o diretor-geral do hospital penitenciário do Presídio 
Central de Porto Alegre acabou paraplégico em razão de ferimentos. Processou o 
estado e, em primeiro grau, o dano moral foi arbitrado em R$ 700 mil. O Tribunal 
estadual gaúcho considerou suficiente a indenização equivalente a 1.300 salários 
mínimos. Ocorre que, em caso semelhante (paraplegia), o Tribunal de Justiça de Minas 
Gerais fixou em 100 salários mínimos o dano moral. Daí o recurso ao STJ. 
A Segunda Turma reduziu o dano moral devido à vítima do motim para 600 salários 
mínimos (Resp 604801), mas a relatora do recurso, ministra Eliana Calmon, destacou 
dificuldade em chegar a uma uniformização, já que há múltiplas especificidades a 
serem analisadas, de acordo com os fatos e as circunstâncias de cada caso. 
Morte de filho no parto = 250 salários 
Passado o choque pela tragédia, é natural que as vítimas pensem no ressarcimento 
pelos danos e busquem isso judicialmente. Em 2002, a Terceira Turma fixou em 250 
salários mínimos a indenização devida aos pais de um bebê de São Paulo morto por 
negligência dos responsáveis do berçário (Ag 437968). 
Caso semelhante foi analisado pela Segunda Turma neste ano. Por falta do correto 
atendimento durante e após o parto, a criança ficou com sequelas cerebrais 
permanentes. Nesta hipótese, a relatora, ministra Eliana Calmon, decidiu por uma 
indenização maior, tendo em vista o prolongamento do sofrimento. 
“A morte do filho no parto, por negligência médica, embora ocasione dor indescritível 
aos genitores, é evidentemente menor do que o sofrimento diário dos pais que terão 
de cuidar, diuturnamente, do filho inválido, portador de deficiência mental 
irreversível, que jamais será independente ou terá a vida sonhada por aqueles que lhe 
deram a existência”, afirmou a ministra em seu voto. A indenização foi fixada em 500 
salários mínimos (Resp 1024693) 
Fofoca social = 30 mil reais 
O STJ reconheceu a necessidade de reparação a uma mulher que teve sua foto ao lado 
de um noivo publicada em jornal do Rio Grande do Norte, noticiando que se casariam. 
Na verdade, não era ela a noiva, pelo contrário, ele se casaria com outra pessoa. Em 
primeiro grau, a indenização foi fixada em R$ 30 mil, mas o Tribunal de Justiça 
potiguar entendeu que não existiria dano a ser ressarcido, já que uma correção teria 
sido publicada posteriormente. No STJ, a condenação foi restabelecida (Resp 
1053534). 
Protesto indevido = 20 mil reais 
Um cidadão alagoano viu uma indenização de R$ 133 mil minguar para R$ 20 mil 
quando o caso chegou ao STJ. Sem nunca ter sido correntista do banco que emitiu o 
cheque, houve protesto do título devolvido por parte da empresa que o recebeu. Banco 
e empresa foram condenados a pagar cem vezes o valor do cheque (R$ 1.333). Houve 
recurso e a Terceira Turma reduziu a indenização.O relator, ministro Sidnei Beneti, 
levou em consideração que a fraude foi praticada por terceiros e que não houve 
demonstração de abalo ao crédito do cidadão (Resp 792051). 
Alarme antifurto = 7 mil reais 
O que pode ser interpretado como um mero equívoco ou dissabor por alguns 
consumidores, para outros é razão de processo judicial. O STJ tem jurisprudência no 
sentido de que não gera dano moral a simples interrupção indevida da prestação do 
serviço telefônico (Resp 846273). 
Já noutro caso, no ano passado, a Terceira Turma manteve uma condenação no valor 
de R$ 7 mil por danos morais devido a um consumidor do Rio de Janeiro que sofreu 
constrangimento e humilhação por ter de retornar à loja para ser revistado. O alarme 
antifurto disparou indevidamente. 
Para a relatora do recurso, ministra Nancy Andrighi, foi razoável o patamar 
estabelecido pelo Tribunal local (Resp 1042208). Ela destacou que o valor seria, 
inclusive, menor do que noutros casos semelhantes que chegaram ao STJ. Em 2002, 
houve um precedente da Quarta Turma que fixou em R$ 15 mil indenização para caso 
idêntico (Resp 327679).” 
Como solução para o problema propõe-se a despatrimonialização da própria reparação 
do dano moral. Trata-se de instrumento inteligente para evitar ações que objetivem 
apenas aspectos pecuniários, sem que com isso, a pretexto de “coibir a indústria do 
dano moral”, se negue o direito de acesso à Justiça. 
Por outro lado, evita que grandes grupos empresariais resolva incluir possíveis 
condenações a título de dano moral como custo operacional, pagando o preço para 
lesionar direitos. 
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro tem acolhido pedidos na linha de entendimento 
ora defendida, como se vê do julgado abaixo: 
“DES. MALDONADO DE CARVALHO - Julgamento: 09/06/2009 - PRIMEIRA CAMARA CIVEL. 
RELAÇÃO DE CONSUMO. AMPLA. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. INTERRUPÇÃO. 
AUSÊNCIA DE COMUNICADO DE PRÉVIA PERÍCIA. DANO MORAL. FALHA DO SERVIÇO. 
VEICULAÇÃO DE PEDIDO DE DESCULPAS. Como faz ver ANDERSON SCHREIBER, "bem 
vistas as coisas, a tão combatida inversão axiológica - por meio da qual a dignidade 
humana e os interesses existenciais passam a ser invocados visando à obtenção de 
ganhos pecuniários -, tem como causa imediata não o desenvolvimento social de 
ideologias reparatórias ou um processo coletivo de vitimização, mas a inércia da 
própria comunidade jurídica, que insiste em oferecer às vítimas destes danos, como só 
solução, o pagamento de uma soma em dinheiro, estimulando necessariamente 
sentimentos mercenários". Daí, com o objetivo de enfrentar estas dificuldades é que 
diversas culturas jurídicas vêm experimentando, ainda que de forma tímida, um 
movimento de despatrimonialização, não já do dano, mas da sua reparação. Busca-se, 
assim, atribuir-se resposta não patrimonial à lesão a um interesse não patrimonial, 
aumentando-se, com isso, a efetividade da reparação e a redução das ações 
meramente mercenárias. A retratação pública, como desestímulo à conduta praticada, 
às expensas da parte vencida ou condenada, por certo, torna mais efetiva a reparação 
civil, despatrimonializando a condenação, que, no mais das vezes, quando aplicada 
isoladamente a resposta pecuniária, não satisfaz plenamente os anseios da vítima, não 
compensando, integralmente, o desvalor moral. Daí ser cabível, ainda que não se 
encontre expressamente previsto, a veiculação de pedido de desculpa pela falha do 
serviço prestado e pela consequente interrupção do fornecimento de energia elétrica 
é também meio válido para a composição judicial da lide. Conseqüentemente, a 
simples majoração do quantum a ser arbitrado para o dano moral, não inviabiliza, ou 
justifica, o descarte da retratação pública, nos exatos termos do que foi na inicial 
pleiteado. Plausível e justo, pois, que a retratação se dê de modo a trazer a parte 
ofendida a reparação integral do dano moral, através de declaração a ser emitida pelo 
ofensor onde conste, além do reconhecimento público e formal da falha do serviço, o 
pedido de desculpas pelo dano que a consumidora autora foi injustamente 
causado.PROVIMENTO PARCIAL DO SEGUNDO RECURSO. IMPROVIMENTO DO PRIMEIRO.” 
Afinal, se o o bem jurídico violado, a moral, não é um bem pecuniário, resta indagar 
qual a dificuldade em proceder a sua reparação em uma abordagem diversa da 
patrimonial normalmente utilizada. 
Nesse sentido já apontava Bittar: 
"admitem-se, nesse campo, conforme a natureza da demanda e repercussão dos fatos, 
várias formas de reparação, algumas expressamente contempladas em lei, outras 
implícitas no ordenamento jurídico positivos, como; a realização de certo ato, como a 
de retratação que, acolhida, pode satisfazer o interesse lesado (lei 5250/67, arts. 29 
e 30); o desmentido, ou retificação de notícia injuriosa, nos mesmos termos, a 
contrapropaganda, em casos de publicidade enganosa ou abusiva (lei 8.078/90, 
art.60); a publicação gratuita de sentença condenatória (lei 8.078/90, art.68).” 
(BITTAR, 1992, 218). 
A efetividade de uma condenação desmonetarizada pode ser particularmente 
significativa com relação a sociedades empresárias que atuam na Internet. Uma 
condenação que exponha uma usual prática lesiva ao consumidor irá minar o maior 
bem que um fornecedor pode ter no cyberspace, vale dizer, a confiança do consumidor. 
5. Conclusão 
O tema da responsabilidade civil apresentou notável evolução no direito brasileiro. Em 
seus primeiros momentos, baseava-se nos chamados filtros tradicionais da 
responsabilidade civil: a demonstração da culpa e do nexo de causalidade. Tais 
requisitos demonstravam-se muitas vezes obstáculos intransponíveis à tutela do 
lesado, motivo pelo qual foram aos poucos flexibilizados, direcionando-se o foco para 
a efetiva reparação do dano causado à vítima. 
Como resultado, novas possibilidades de danos ressarcíveis têm surgido. Tal fato 
possibilita de forma ampla a efetiva tutela da dignidade humana. Por outro lado, a 
abertura experimentada tem provocado preocupação por parte dos estudiosos do tema 
em face de demandas claramente temerárias, permeadas em alguns casos de clara 
futilidade. 
Como solução para o problema, analisou-se no presente trabalho duas propostas para 
evitar a chamada “indústria dos danos morais”: a tarifação da reparação dos danos 
morais e a despatrimonialização da reparação do dano imaterial. Ambas partem do 
mesmo pressuposto: há um exagero na judicialização de fatos corriqueiros com 
finalidade meramente mercenária. Conclui-se, no entanto, pela maior efetividade da 
aplicação de uma condenação não-pecuniária, especialmente se esta atingir bens 
importantes ao causador do dano, como sua imagem corporativa. Trata-se, portanto, 
de mecanismo hábil a evitar ações propostas por pessoas com interesses meramente 
pecuniários, sem que com isso, a pretexto de “coibir a indústria do dano moral”, se 
negue o direito de acesso à Justiça, atendendo plenamente aos princípios adotados 
pelo Direito Civil-Constitucional. 
 
Referências 
 
BARBOZA, Heloísa Helena Gomes. Responsabilidade Civil Médica no Brasil. Revista Trimestral de Direito 
Civil, Rio de Janeiro, v. 19, 2004. p. 49-62. 
BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil Por Danos Morais. São Paulo: RT, 1992. p. 218. 
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 6ª Ed., São Paulo: Malheiros, 2006, p. 39. 
DONEDA, Danilo. Da privacidade à proteção de dados pessoais. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 23-24 . 
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 6. ed. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Saraiva, 1995. 
p. 18. 
MORAES, Maria Celina Bodin de. A constitucionalização do direito civil e seus efeitos sobra a 
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