criminosa; c) em razão de discriminação racial ou religiosa; II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Pena - reclusão, de dois a oito anos. § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal. Classificação doutrinária: Art. 1º, I: tortura-constrangimento. Art. 1º, I, a: tortura-prova ou tortura probatória/persecutória inquisitorial ou institucional. Art. 1º, I, b: tortura-crime. Art. 1º, I, c: tortura discriminatória/preconceituosa/racismo. Art. 1º, II: tortura castigo/punitiva. 1. CONCEITO Qualquer método de submissão de uma pessoa a sofrimento atroz, físico ou mental, contínuo e ilícito, para obtenção de qualquer coisa ou para servir de castigo por qualquer razão. Alexandre Salim 53 2. COMPETÊNCIA Justiça Estadual ou Federal, a depender do local em que cometida e da incidência em uma das hipóteses do art. 109 da CF. Com a edição da Lei 13.491/17, o militar responde na Justiça Militar no caso de tortura praticada em serviço ou em razão do serviço (antes respondia na Justiça Comum). 3. CRIME COMUM Não se exige condição especial do sujeito ativo. Se este for agente público, incide a causa de aumento de 1/6 a 1/3 (art. 1º, § 4º). Art. 1º [...] § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: I - se o crime é cometido por agente público; II - se o crime cometido contra criança, gestante, deficiente e adolescente; II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; III - se o crime é cometido mediante sequestro. 4. CRIME FORMAL A tortura é crime formal, ou seja, o resultado pretendido não precisa ser necessariamente atingido. No caso de crime de tortura perpetrado contra criança em que há prevalência de relações domésticas e de coabitação, não configura bis in idem a aplicação conjunta da causa de aumento de pena prevista no art. 1º, § 4º, II da Lei 9.455/97 e da agravante genérica estatuída no art. 61, II, f, do Código Penal (ter o agente cometido o crime prevalecendo-se de relações domésticas ou de coabitação). Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: [...] II - ter o agente cometido o crime: [...] f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica A majorante tem por finalidade punir de forma mais severa aquele que se favorece da menor capacidade de resistência da vítima, ao passo que a agravante tem por desiderato a punição mais rigorosa do agente que afronta o dever de apoio mútuo existente entre parentes e Alexandre Salim 54 pessoas ligadas por liames domésticos, de coabitação ou hospitalidade, além dos casos de violência doméstica praticada contra a mulher. Portanto, em se tratando de circunstâncias e objetivos distintos, não há falar na ocorrência de bis in idem. Nesse sentido: STJ, HC 362.634. No caso do inciso II do artigo 1º, poderá configurar maus-tratos (art. 136 do CP), a depender do dolo do agente. Há expressa previsão de crime omissivo no § 2º do art. 1º: § 2º aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos. Trata-se de delito autônomo (que não depende da tipificação de outro) e privilegiado (prevê pena – detenção de 1 a 4 anos). É uma exceção à teoria monista do concurso de pessoas. Também é classificado como crime omissivo impróprio ou comissivo por omissão. Art. 1º: [...] § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada. A determinação da perda de cargo público decorrente de condenação em crime de tortura independe de fundamentação expressa, ou seja, é excepcionalmente um efeito automático da condenação. Tratamento diverso do art. 92 do CP. Art. 92. São também efeitos da condenação: I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública; b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos. O § 7º do artigo 1º prevê o regime inicial fechado. No entanto, o STJ decidiu que o dispositivo é inconstitucional. Art. 1º [...] § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado. O STJ alinhou-se ao entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre a inconstitucionalidade da norma disposta no § 1º do art. 2º da Lei 8.072/90 (STF, HC 111.840/ES, Rel. Ministro Dias Toffoli, Tribunal Pleno, julgado em 27/6/2012), passando a inadmitir a fixação do regime inicial fechado com base na mera fundamentação ope legis, aos condenados por crimes hediondos ou a ele assemelhados. Em analogia a este entendimento, de rigor a sua aplicação para que a fixação do regime inicial do crime de tortura ocorra nos moldes do art. 33, §§ 2º e 3º, do Alexandre Salim 55 Código Penal, porquanto o art. 1º, §7º, da Lei 9.455/97 expõe norma idêntica à do § 1º do art. 2º da Lei 8.072/90 (STJ, HC 396190, j. 20/06/2017). O art. 2º traz regra relativa à extraterritorialidade. O fato de o crime de tortura, praticado contra brasileiros, ter ocorrido no exterior não torna, por si só, a Justiça Federal competente para processar e julgar os agentes estrangeiros (STJ, CC 107.397). Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira. Alexandre Salim 56 CAPÍTULO 7 — LEI 12.850/13 — LEI DO CRIME ORGANIZADO Define a organização criminosa, cria o crime organizado (art. 2º) e dispõe sobre investigação criminal, os meios de obtenção de prova, infrações penais correlatas e procedimento criminal; altera o Código Penal e revoga a Lei 9.034/95. Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas. A Lei 12.850/13 surge num contexto de evolução legislativa, tendo como antecedentes históricos a Lei 9.034/95, que não conceituou a organização criminosa, tampouco tipificou condutas; a Convenção de Palermo (Decreto 5015/04), que por sua vez trouxe conceituação da organização criminosa; e a Lei 12.694/12, com um conceito semelhante ao da Convenção de Palermo. Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado. § 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de