quem desempenha a atividade econômica rural para o regime empresarial. Sendo o registro facultativo, a regularidade no exercício da atividade rural existe independentemente do registro. Para o empresário rural “é o registro que faz o empresário”. Caso opte por não se registrar, não será considerado empresário irregular, apenas não será tratado como empresário. Isso vale tanto para o empresário rural quanto para a sociedade rural (arts. 971 e 984 do CC). Recentemente, o STJ firmou o entendimento de que para cumprir os 2 anos exigidos por lei (art. 48 da Lei nº 11.101/2005) para que um devedor possa requerer a recuperação judicial, o produtor rural pode aproveitar o período anterior ao registro, pois se considera atividade regular tal período (STJ. 4ª Turma. REsp 1.800.032-MT, julgado em 05/11/2019). Esse entendimento chancela o disposto no Enunciado 97 da III Jornada de Direito Comercial do CJF. Em tal precedente, a 4ª Turma considerou que o registro do produtor rural na Junta Comercial, em que pese tenha natureza constitutiva, autoriza a contagem anterior da atividade rural para se atingirem os dois anos de regular exercício para fins de recuperação judicial. Cuidado: Já em 2020, foi noticiado em informativo do STJ julgado da 3ª Turma (REsp 1.811.953/MT) que, embora chegasse à mesma conclusão do precedente da 4ª Turma acima referido, discordou sobre a natureza do registro do produtor rural na Junta Comercial. Constou expressamente da ementa do acórdão, bem como do teor do Informativo, que tal registro Daniel Carvalho 27 possui natureza declaratória, operando efeitos ex tunc. Por outro lado, não foram analisadas as demais consequências desse entendimento, inclusive desfavoráveis aos produtores rurais. Esse contexto, para fins de prova, exige especial cautela, por não ser possível antever o entendimento que será cobrado pela banca examinadora no que diz respeito à natureza do registro do produtor rural na Junta Comercial (se constitutiva, conforme entendimento doutrinário anteriormente citado, que conta com respaldo de enunciado do CJF, de precedente da 4ª Turma do STJ e da interpretação literal dos arts. 971 e 984 do CC, ou declaratória, conforme informativo mais recente de jurisprudência do STJ). c) EIRELI (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada) É um ente jurídico criado pela Lei nº 12.441/11, que tem um único titular. Será estudada em tópico próprio. d) Sociedade Empresária É a pessoa jurídica constituída sob a forma de sociedade que tem por objeto social o exercício de empresa. De acordo com o art. 981 do CC, “celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”. Obs: Atenção para a atual possibilidade de Sociedade Limitada com sócio único (art. 1052, § 1º, do CC, com a redação dada pela Lei da Liberdade Econômica). 1.1.5. Impedimentos legais a) Considerações gerais De acordo com o art. 972 do CC, podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos. Tais impedimentos encontram-se espalhados pela legislação. O CC, no artigo 1.011, § 1º, traz alguns impedimentos à atuação como administrador de sociedades, que, de acordo com a doutrina, se aplicariam também ao exercício de empresa na condição de empresário individual (CRUZ, 2014). De qualquer modo, em prol do princípio da aparência, as obrigações contraídas por um “empresário” impedido não são nulas perante terceiros de boa-fé que com ele contratarem. Pelo contrário, “a pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações contraídas” (art. 973 d o CC). É preciso se atentar para o fato de que a proibição é para o exercício de empresa, não sendo vedado, pois, que alguns impedidos sejam sócios de sociedades empresárias, uma vez que, nesse caso, quem exerce a atividade empresarial é a própria pessoa jurídica, e não seus sócios. Em suma: os impedimentos se dirigem aos empresários individuais, e não aos sócios de sociedades empresárias. (CRUZ, 2014) No entanto, a possibilidade de os impedidos participarem de sociedades empresárias não é absoluta, somente podendo ocorrer se forem sócios de responsabilidade limitada e, ainda assim, desde que não exerçam funções de gerência ou administração. Daniel Carvalho 28 b) Falido não reabilitado São vários aqueles que estão proibidos de exercer empresa. Porém, o principal caso é o do falido não reabilitado. Quando a falência não é fraudulenta, ou seja, não houve crime falimentar, haverá, oportunamente (veremos em tópico próprio), a declaração de extinção das obrigações, nesse caso, a pessoa já seria considerada reabilitada, podendo exercer atividade empresária. Contudo, se houve crime falimentar, e, portanto, a sua falência foi fraudulenta, nesse caso, vigorará o disposto no art. 181, § 1º, da Lei nº 11.101/05: Art. 181. São efeitos da condenação por crime previsto nesta Lei: I – a inabilitação para o exercício de atividade empresarial; II – o impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho de administração, diretoria ou gerência das sociedades sujeitas a esta Lei; III – a impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão de negócio. § 1º Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença, e perdurarão até 5 (cinco) anos após a extinção da punibilidade, podendo, contudo, cessar antes pela reabilitação penal. § 2º Transitada em julgado a sentença penal condenatória, será notificado o Registro Público de Empresas para que tome as medidas necessárias para impedir novo registro em nome dos inabilitados. A reabilitação penal a que se refere o § 1º acima transcrito é a disciplinada nos arts. 93 a 95 do Código Penal. c) Leiloeiro Quando a lei diz que o incapaz não pode ser empresário, a lei quer proteger o incapaz. Todavia, quando a lei diz que o falido ou o leiloeiro não podem ser empresários, está protegendo a sociedade, o Estado, bem como as pessoas que tratam com o leiloeiro. d) Incapaz O incapaz não pode ser empresário individual, salvo no caso do art. 974 do CC, quando a incapacidade for superveniente ou quando ele herdar o exercício de uma atividade empresarial. Sobre o tema, também muito explorado em provas, é importante atentar para o verbo “continuar”. O incapaz apenas pode ser autorizado a continuar o exercício de empresa que já era exercido por si mesmo ou por alguém (seus pais ou autor da herança). Nesse caso, atuará por meio de representante ou assistente, conforme a natureza da incapacidade. Nesse sentido, vide o Enunciado 203 da III Jornada de Direito Civil do CJF: “o exercício de empresa por empresário incapaz, representado ou assistido, somente é possível nos casos de incapacidade superveniente ou incapacidade do sucessor na sucessão por morte”. Em primeiro lugar, destaque-se que o art. 974 do Código Civil se refere ao exercício individual de empresa. Trata-se, pois, de casos em que o incapaz será autorizado a explorar atividade empresarial individualmente, ou seja, na qualidade de empresário individual (pessoa física). A possibilidade de o incapaz ser sócio de uma sociedade empresária configura situação totalmente distinta, já que o sócio de uma sociedade não é empresário. É direito do incapaz continuar a atividade? Não. Deve haver autorização judicial, consoante § 1º do artigo 974, CC: Art. 974 (...) § 1º Nos casos deste artigo, precederá autorização judicial, após exame das circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da conveniência em continuá-la, podendo a autorização ser revogada pelo juiz, ouvidos os pais, tutores Daniel Carvalho 29 ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros. Referido pedido de autorização correrá, via de regra,