(Grundgesetz), na Alemanha. 265 Assim, Jorge Bacelar Gouveia, Manual…, I, p. 593. 266 Cfr. Marcelo Rebelo de Sousa, Direito Constitucional…, pp. 41 e 42; Marcello Caetano, Manual de Ciência Política…, I, pp. 342 e 343; Reinhold Zippelius, Teoria…, pp. 65 e 66; Jorge Miranda, Manual…, II, pp. 10 e ss.; Jorge Bacelar Gouveia, Manual…, I, pp. 593 e 594. 267 Bem sintetizado, recorde-se, no art. 16º da DDHC, ao dizer que “Qualquer socie- dade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos, nem estabelecida a separação dos poderes, não tem Constituição”. 166 Constituição – uma dimensão institucional: a Constituição Institucional reflete um desejo mínimo de organização da entidade estadual, independentemente da caracterização que possa obter ao nível de certas opções de conteúdo, de forma ou de localização hierárquica268. V. A realidade da Constituição, conforme foi dado a entrever, mostra- -se ainda passível de várias classificações, em aplicação de outros tantos crité- rios de arrumação lógica269, de que se evidenciam os seguintes: a) Constituições estatutárias e Constituições programáticas, segundo uma contraposição crucial na passagem do Estado Liberal ao Estado Social: através desta classificação se pode diferenciar uma perspe- tiva meramente estática, de garantia de um certo status quo, no con- texto do Liberalismo político e económico do século XIX, (i) que são as Constituições estatutárias, e uma perspetiva dinâmica, com um desejo de intervenção económica e de transformação social, em que se regista a aquisição de novos conteúdos, essencialmente nos direi- tos fundamentais económico-sociais e nas normas sobre aspetos da organização económica da sociedade, (ii) que são as Constituições programáticas; b) Constituições normativas, nominais e semânticas, usando a célebre classificação do alemão Karl Loewenstein, que mede a efetivi- dade do texto constitucional na sua capacidade para limitar a rea- lidade constitucional, assumindo uma natureza ontológica: (i) as Constituições normativas são textos que verdadeiramente conseguem domar a realidade constitucional, desenvolvendo o objetivo que lhes foi assinalado com o Constitucionalismo na sua perene luta pela limitação do poder público; (ii) as Constituições nominais têm o desiderato de limitar o poder público, mas não o conseguem levar a cabo, por via de mecanismos, jurídicos ou fácticos, que o impedem; (iii) as Constituições semânticas, sucumbindo à realidade constitucio- nal, perdem a finalidade de limitar o poder público e, inversamente, 268 V. a importante exemplificação das leis fundamentais do Reino de Portugal, no período pré-constitucional, de João Maria Tello de Magalhães Collaço, Ensaio sobre a inconstitucionalidade das leis no Direito Português, Coimbra, 1915, pp. 3 e ss., e de F. P. de Almeida Langhans, Estudos de Direito, Coimbra, 1957, pp. 242 e ss. 269 Cfr. Jorge Bacelar Gouveia, Manual…, I, pp. 594 e ss. 167§ 9º A Constituição como lex fundamentalis encontram-se ao serviço de um poder político ditatorial, ao mesmo se subordinando270; c) Constituições liberais, sociais, fascistas e socialistas: são espécies de Constituição que, atendendo à forma política de governo e ao tipo constitucional de Estado, refletem cada uma dessas possíveis combinações, sob uma dada perspetiva de organização do poder político271; d) Constituições sociais, económicas, políticas e garantísticas, termos de uma classificação que atende ao setor da Constituição que é objeto de consideração, na medida em que, nas múltiplas matérias que versa, ela pode ser dividida: (i) na Constituição dos Direitos Fundamentais – a parte atinente à positivação dos direitos fundamentais; (ii) na Constituição Económica e esta, por seu turno, subdividindo-se em Constituição Financeira e Constituição Fiscal – a parte referente às regras sobre o sistema económico, o sistema financeiro e o sistema fiscal; (iii) na Constituição Política – a parte atinente à distribuição dos poderes pelos diversos órgãos, bem com o respetivo modo de designação; e (iv) na Constituição Garantística – a parte respeitante aos mecanismos de defesa da Ordem Constitucional; e) Constituições flexíveis, semirrígidas, rígidas e hiper-rígidas, na esteira da classificação idealizada pelo jurista britânico James Bryce272: (i) Constituições flexíveis quando a revisão ocorre sem sujeição a qualquer limite, não sendo o seu regime diverso do que se aplica ao procedimento legislativo ordinário; (ii) Constituições semirrígidas quando isso apenas sucede relativamente a uma parte da Constitui- ção, submetendo-se a outra parte ao regime da rigidez constitucio- nal; (iii) Constituições rígidas quando a revisão se submete a regras mais limitativas do respetivo poder em comparação com as que são aplicáveis ao procedimento legislativo geral, como a aposição de limites orgânicos, formais, procedimentais e temporais; e (iv) Cons- 270 Cfr. Karl Loewenstein, Teoría de la Constitución, 4ª ed., Barcelona, 1986, pp. 216 e ss.. Cfr. também Marcelo Rebelo de Sousa, Direito Constitucional…, pp. 53 e ss. 271 Sobre esta classificação, v. Marcelo Rebelo de Sousa, Direito Constitucional…, pp. 55 e ss. 272 A noção de rigidez constitucional, por oposição à noção de f lexibilidade constitucional, foi doutrinariamente introduzida por James Bryce, que trabalhou por referência ao modo do exercício do poder legislativo normal (James Bryce, Constituciones flexibles y Constituciones rígidas, Madrid, 1988). 168 Constituição tituições hiper-rígidas quando, em acréscimo a estes limites, se juntam limites materiais e circunstanciais. VI. É ainda de observar entendimentos possíveis de Constituição usa- dos noutros ramos jurídicos, mas que não autorizam qualquer assimilação com o sentido que obtém no Direito Constitucional. O mais comum deles é o sentido de Constituição empregue pelo Direito Internacional Público, que é muito distante do sentido dado pelo Direito Constitucional, sendo de referir a propósito de várias ideias273: – Constituição como tratado constitucional ou institutivo de uma organização internacional, sendo até essa a expressão que por vezes se utiliza na respetiva nomenclatura; – Constituição como feixe de princípios fundamentais, que sintetizam o ordenamento jurídico criado no seio de uma organização interna- cional; – Constituição como patamar superior de escalonamento da Ordem Jurídica Internacional ou de certa organização internacional274, assim se eviden- ciando uma parcela da Ordem Jurídica aplicável. Noutros ramos do Direito, é também possível falar de Constituição, se bem que num sentido impróprio e que não se confunde com o seu sentido constitucional275: – no Direito Administrativo: num sentido orgânico como composição de um órgão, ou como a sua própria criação; – no Direito Civil: como ato ou efeito de criar uma pessoa coletiva; – no Direito Canónico: como ato normativo promulgado pelo Papa, no uso dos seus poderes. 273 Cfr. a sugestão de Miguel Gorjão-Henriques, Direito Comunitário, 3ª ed., Coim- bra, 2005, pp. 19 e 20. 274 Tem sentido, a este propósito, referir-se o cada vez mais desenvolvido “Direito Internacional Constitucional”, o qual repousa, como tivemos ocasião de referir (Jorge Bacelar Gouveia, Manual…, p. 45), “…na implantação de um escalonamento hierárquico- -formal da sociedade internacional, sendo esta a classificação que mais recentemente tem vindo a dar os seus primeiros passos”, e não nos devemos surpreender “…com o facto de certas normas e princípios internacionais poderem formar, à semelhança do que se passa no Direito Estadual com o Direito Constitucional, um Direito Internacional Constitucional, que se considere superior ao restante Direito Internacional” (p. 46). 275 Cfr. Jorge Bacelar Gouveia, Manual…, I, p. 599. 169§ 9º A Constituição como lex fundamentalis 40. A Constituição como lei estadual I. Com o enquadramento do sentido geral de Constituição, nos seus diversos elementos,