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ANDRÉA MARIA DUARTE VARGAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
MEMORIAL ACADÊMICO: 
a trajetória de uma professora universitária 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
Universidade Federal de Minas Gerais 
2019 
 
 
 
 
 
 
ANDRÉA MARIA DUARTE VARGAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MEMORIAL ACADÊMICO: 
a trajetória de uma professora universitária 
 
 
Memorial apresentado à Faculdade de 
Odontologia da Universidade Federal de Minas 
Gerais, como parte dos requisitos para promoção 
à classe de Professor Titular do Departamento de 
Odontologia Social e Preventiva. 
 
 
Belo Horizonte 
Universidade Federal de Minas Gerais 
2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esse Memorial: 
 
Ao Augusto, 
meu marido, companheiro dedicado; 
 
Aos meus filhos Izabela, Marina e Guilherme; 
essenciais na minha vida; 
 
Aos meus netos Bárbara, Laura e Arthur, 
impossível amor maior 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço aos colegas do Departamento de Odontologia Social e Preventiva pela 
grande parceria. Apesar das adversidades, persistimos. Tenho orgulho de ter sido uma 
partícipe na construção desse Departamento; 
Aos alunos de graduação e pós-graduação que muito me ensinaram, pois como bem 
dizia Paulo Freire: “não há docência sem discência, pois, quem ensina aprende ao 
ensinar e quem aprende ensina ao aprender”; 
Aos demais docentes da Faculdade de Odontologia que participaram de alguma forma 
da minha trajetória acadêmica; 
À minha irmã Adriana Maria Cancela Duarte por compartilhar do meu processo de 
construção desse Memorial, com uma leitura cuidadosa do texto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ninguém caminha sem aprender a caminhar, 
sem aprender a fazer o caminho caminhando, refazendo e 
retocando o sonho pelo qual se ps a caminhar. 
 
Paulo Freire 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 6 
2 O PRINCÍPIO ................................................................................................................ 8 
2.1. Graduação em odontologia .................................................................................. 10 
3 INÍCIO DA ATIVIDADE PROFISSIONAL E FORMAÇÃO COMPLEMENTAR .......... 12 
3.1. O Curso de especialização em Saúde Pública ................................................... 14 
3.2. O curso de Mestrado em Periodontia .................................................................. 16 
3.3. Curso de doutorado em Epidemiologia ............................................................... 17 
4 A CARREIRA DOCENTE ........................................................................................... 19 
4.1. Período 1983-89 ..................................................................................................... 20 
4.2. Período 1990-99 ..................................................................................................... 24 
4.3. Período 2000-18 ..................................................................................................... 29 
5 AS ATIVIDADES DE PESQUISA:EMPENHO NA CONSTRUÇÃO DO NOVO ......... 39 
6 A PRODUÇÃO CIENTÍFICA ....................................................................................... 47 
6.1 Outras produções relevantes: ............................................................................... 48 
7 A EXTENSÃO ............................................................................................................. 53 
8 A ADMINISTRAÇÃO .................................................................................................. 59 
8.1. O Comitê de Ética em Pesquisa ........................................................................... 60 
8.2. Comissão para implantação do Programa de Telessaúde da UFMG................ 60 
8.3. Comissão para acompanhamento dos estudantes indígenas na Faculdade de 
Odontologia .................................................................................................................. 61 
8.4. Vice-Diretoria da Faculdade de Odontologia da UFMG ..................................... 62 
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 68 
Referências ................................................................................................................... 72 
 
 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
7 
 
A oportunidade de apresentar minha trajetória acadêmica em um Memorial 
permitiu-me uma reflexão sobre todas as atividades realizadas nas áreas que atuei na 
Universidade, bem como sobre os produtos resultantes delas. 
Redigido em plena maturidade, este Memorial busca identificar e refletir sobre 
uma etapa da minha vida, o percurso profissional. Para tanto, assinalo, no transcurso 
da escrita, as situações que penso como mais significativas e relevantes. É importante 
lembrar que as experiências vividas foram analisadas tendo em vista o meu momento 
presente, a partir da minha compreensão de vida atual, ou, como bem disse Magda 
Soares, em seu Memorial (2001): 
Procuro-me no passado e outrem me vejo, não encontro a que fui, 
encontro alguém que a que foi vai reconstruindo com a marca do 
presente. Na lembrança, o passado se torna presente e se transfigura, 
contaminado pelo aqui e agora. 
Procurei descrever como se deu minha escolha do curso de Odontologia, a 
graduação propriamente dita, minha inserção na carreira docente como professora 
auxiliar na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais 
(FOUFMG), minhas pós-graduações lato sensu e stricto sensu, minhas atividades de 
Ensino, Pesquisa, Extensão e Administração. 
Escolhi escrever o Memorial obedecendo à ordem cronológica da minha vida e 
da minha carreira docente por considerar que esse processo facilitaria a compreensão, 
minha própria e do leitor, dos fatos. Em seguida, destaco as atividades mais 
importantes na Pesquisa, na Produção Científica, na Extensão e na Administração. E, 
ao final, teço minhas Considerações Finais, costurando as experiências vividas às 
lembranças da carreira acadêmica.
8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 O PRINCÍPIO 
 
9 
 
 
Sou a mais velha de cinco filhas. Meu pai, Paulo, e minha mãe, Conceição, 
casaram-se em Ubá, MG, mas eu nasci foi na capital Belo Horizonte, onde moravam 
meus avós por parte de pai. Logo após o meu nascimento, viemos para a capital 
porque meu pai fora vítima de uma doença grave, tuberculose, e o tratamento à época 
incluía cirurgia e isolamento em casa de saúde, o que nos obrigou a morar com meus 
avós durante quase um ano. 
Minha mãe, professora primária, tinha um colégio em Ubá, o Externato Santa 
Terezinha, mas com a nossa mudança foi obrigada a vender a escola que gozava de 
excelente conceito na cidade. Minha mãe era conhecida como uma professora muito 
competente e rígida, bons adjetivos para os padrões da época. Os pais cujos filhos 
eram rebeldes confiavam sua educação a ela, que nunca os decepcionou. Acredito que 
minha vocação para a docência tenha vindo dela. 
Em Belo Horizonte, ela não criou outro colégio, mas um Curso de Admissão, 
necessário para os alunos que terminavam o quarto ano do Ensino Primário e queriam 
ingressar nos ótimos colégios públicos existentes à época, disputando uma vaga para o 
Curso Ginasial. Mais uma vez foi muito bem-sucedida. 
Comecei minha vida escolar no Colégio Imaculada Conceição, onde fiz o Curso 
Primário, escola religiosa tradicional de Belo Horizonte. Minha mãe havia estudado no 
Colégio Sacré-Coeur de Marie, em Ubá, e queria que minha educação seguisse na 
mesma linha. No momento da matrícula, a Madre Prefeita perguntou à minha mãe se 
eu já sabia ler porque naquela escola as crianças aprendiam aos 6 anos, na pré-escola. 
Minha mãe respondeuque sim. Eu havia cursado uma escola infantil antes, mas ela 
precisou me alfabetizar em 20 dias. Lembro que tinha aulas de manhã e à tarde com 
minha mãe e que consegui aprender a ler a tempo, embora com bastante dificuldade. 
Com a chegada de mais quatro filhas, o orçamento ficou bastante apertado. Meu 
pai era fiscal do IAPC (depois INSS), tinha um salário modesto e, mesmo com a ajuda 
da minha mãe como professora, não era fácil pagar escola privada para todas as filhas. 
10 
 
Como àquela época ela já conhecia bem o ensino das escolas públicas em Belo 
Horizonte, o qual considerava muito bom, me preparou para a seleção e fui aprovada 
no Instituto de Educação de Minas Gerais (IEMG), onde permaneci até o final do Curso 
Normal. 
Ao longo da história, o IEMG se consolidou como a principal escola de formação 
de professores do estado, com discurso e práticas pedagógicas inovadoras. Meus 
tempos de IEMG me trazem boas recordações: tive excelentes professores, era um 
curso muito denso, estudava muito. Hoje percebo como foi importante essa instituição 
na minha vida, com uma formação laica e humanista, preocupação em cultivar os 
princípios éticos, o compromisso social, o exercício do espírito criativo e crítico. Sem 
dúvida, foi nesses tempos de escolaridade, aliado à formação familiar, que se deu a 
formação de meu caráter, o meu modo de ser pessoal e profissional. 
Permaneci no IEMG para o Curso Normal, após o ginasial, porque achava 
importante ter alguma possibilidade de trabalhar assim que finalizasse o curso e 
também porque ser professora me encantava. Com o tempo, percebi que era 
necessário continuar estudando, entrar em uma universidade e decidi, então, fazer um 
curso pré-vestibular junto com o terceiro ano do Curso Normal, prestando o vestibular 
para Odontologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) logo em seguida, 
no início do ano de 1973. Fui aprovada. 
A escolha pelo curso de Odontologia veio ao acaso, sem muita convicção. 
Gostava de Ciências Biológicas, tinha admiração por um vizinho, o dentista Dr. Edgard 
Carvalho Silva, e pela minha própria dentista, Dra. Corina Godinho, e ser médica me 
amedrontava um pouco. Ainda pesou o fato de, futuramente, poder ser um profissional 
liberal cursando Odontologia. 
2.1. Graduação em odontologia 
O período da faculdade foi sem dúvida um dos momentos mais ricos da minha 
vida. Foi uma fase de descobertas, de certa liberdade vivida intensamente. Entrei em 
1973, com apenas 18 anos, no Instituto de Ciências Biológicas (ICB), que ainda 
11 
 
ocupava os dois primeiros andares da Faculdade de Medicina da UFMG. Era um 
espaço muito feio e velho, com certo odor de formol, mas a alegria de já estar na 
faculdade, com novos amigos, colegas de todos os cursos da área da saúde (as turmas 
eram por ordem alfabética), superava os muitos obstáculos além destes. Iniciando o 
Curso Básico, estudava o dia todo, o horário era integral e, à noite, ainda participava de 
um grupo de estudos com mais três colegas, uma aluna do curso de Odontologia, outra 
da Enfermagem e mais uma da Veterinária. Ainda somos muito amigas. 
Havia um grande distanciamento entre as disciplinas do Curso Básico e as 
profissionalizantes, mas mesmo assim achava fascinante. A maioria dos professores 
era muito tradicional na forma de ensinar. Mas lembro-me de que na Bioquímica, 
conteúdo muito difícil, os professores trabalhavam com um método pedagógico 
diferenciado: havia Grupos de Discussão (GD) e Objetivos Específicos Mínimos, que os 
alunos precisavam alcançar, facilitando a compreensão e o estudo da disciplina. A 
Anatomia Humana Básica também tinha uma metodologia que envolvia apresentação 
de videoaulas, realizadas pelo professor Jota D’Angelo, sempre muito interessantes. 
Finalizado o Curso Básico, fui finalmente para a Faculdade de Odontologia, na 
Cidade Jardim, que funcionava em prédio antigo, tombado pelo patrimônio histórico. 
Nesse momento, a ansiedade aumentou muito porque não tinha certeza quanto à 
minha opção pelo curso. Na verdade, somente quando comecei o atendimento clínico a 
pacientes, já no 5º período, é que tive certeza de que estava no caminho certo. 
Naquela época, a Faculdade era muito pequena, não tinha pós-graduação, 
pouquíssimos eram os projetos de extensão e o mais comum era os alunos 
permanecerem como monitores voluntários em disciplinas já cursadas, quando havia o 
desejo de aprender mais. Assim, fui voluntária na disciplina de Dentística II, coordenada 
pelo professor Marcos Lanza. Mas gostava mesmo era de Patologia: além do conteúdo 
me encantar, os professores Ênio Figueiredo, José Moreira, Carlos Roberto Martins e 
Juarez Correa da Silveira eram excelentes e, principalmente, amavam o que faziam. 
Outro professor que me ensinou muito, sobretudo como estudar, foi Gilberto Rocha 
Melo, da área de Endodontia. Ele nos motivava a buscar conhecimento novo em artigos 
científicos e não apenas em livros-texto como era o mais comum à época.
12 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 INÍCIO DA ATIVIDADE PROFISSIONAL E FORMAÇÃO 
COMPLEMENTAR 
 
13 
 
 
Formei-me em julho de 1977. Montei um consultório odontológico com ajuda dos 
meus pais e fui trabalhar também no Ambulatório do Sindicato dos Securitários de 
Minas Gerais. O início é sempre muito difícil e desafiador. Como era clínica geral, fazia 
praticamente tudo que os pacientes precisavam, tanto no consultório como no 
Sindicato. Isso foi muito bom porque me deu uma experiência clínica fundamental para 
a carreira. 
Em 1979, iniciei na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH), dentro da 
Secretaria Municipal de Saúde (SMS), como cirurgiã-dentista da Escola Municipal 
Sebastiana Novaes, localizada no Bairro Tupi. Esse novo trabalho trouxe um lado da 
profissão que eu não conhecia: o serviço público. Fui apresentada ao Sistema 
Incremental e às formas de prevenção existentes à época. Fazia uma odontologia 
curativa (somente nos dentes permanentes de crianças de 7 a 12 anos) e palestras nas 
salas de aula sobre saúde bucal que, de alguma forma, lembravam um pouco a 
profissão de professor. 
Com o tempo fui percebendo o pouco impacto do meu trabalho na saúde bucal 
das crianças. No início de cada ano, atendia primeiramente as crianças de 7 anos que 
tinham acabado de ingressar na escola e, depois, as demais, por faixa etária. No ano 
seguinte, quando chamava aquelas que haviam sido atendidas no ano anterior, a 
maioria estava novamente com cárie dentária e com a higiene bucal muito deficiente, 
ou seja, a educação em saúde que eu realizava não tinha resultado na prática. 
Comecei a questionar com a coordenação de saúde bucal sobre o não tratamento dos 
dentes decíduos e, depois de algum tempo, foi permitida a restauração da face distal 
dos segundos molares decíduos, acreditando que esse procedimento impediria a cárie 
na face mesial do primeiro molar permanente. O conhecimento de Cariologia naquela 
época era muito pequeno; a fluoretação da água de abastecimento público de Belo 
Horizonte já havia iniciado, ainda que de forma gradual; os dentifrícios ainda não eram 
fluoretados; o CPOD (índice de experiência de cárie dentária) das crianças, portanto, 
era muito elevado. 
14 
 
Em 1981, com todas essas questões me inquietando, tive conhecimento, pela 
coordenadora de saúde bucal da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, do 
Curso de Especialização em Saúde Pública no Departamento de Odontologia da 
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Fiz uma seleção e fui 
aprovada para participar deste curso que, certamente, mudou minha carreira 
profissional e foi um divisor de águas na minha vida. 
3.1. O Curso de especialização em Saúde Pública 
Esse curso lato sensu era modular, coordenado pelo Professor Eugênio Vilaça 
Mendes, e as disciplinas eram completamente diferentes de tudo que havia estudado 
até então: Teoria do Conhecimento, Economia,Sociologia, Políticas de Saúde no 
Brasil, Odontologia Preventiva, Epidemiologia, Estágio de Campo, Políticas 
Odontológicas no Brasil, Administração de Serviços Odontológicos, Estudo de 
Problemas Brasileiros, Sistemas Comparados de Saúde Bucal. Fui aluna dos 
professores Jorge Cordón (Universidade de Brasília, UnB), Maria da Conceição Brant 
(PUC-MG), Helena Heloísa Paixão e Badeia Marcos (UFMG), além do próprio Eugênio 
Vilaça. Professores que ajudaram a descobrir minha vocação para a saúde pública e, 
principalmente, a compreender o mundo de um modo diferente, bem mais realista. 
O curso ocorreu no momento em que se discutia em inúmeros países o relatório 
da Conferência Internacional de Saúde de Alma-Ata, que propunha a reorientação dos 
serviços públicos de saúde com base no princípio da integralidade e com três níveis 
complementares de atenção, sendo a Atenção Primária o eixo estruturante do Sistema 
de Saúde. Era também o momento em que, no Brasil, ocorria a VII Conferência 
Nacional de Saúde (VII CNS), cujo tema principal foi a implantação de uma rede básica 
de saúde em nível nacional com a proposta de implantação de um projeto, denominado 
“Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde (PREV-Saúde)”, que propunha a 
união do Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS) com o Ministério da 
Saúde (MS) para a universalização dos cuidados primários de saúde. No campo da 
saúde bucal, estava em curso a discussão e implantação, em diversos países da 
América Latina, inclusive no Brasil, da proposta de Odontologia Simplificada. 
15 
 
Além de experimentar novos modelos de ensino, que me propiciaram um grande 
conhecimento, durante o curso convivi com pessoas que tiveram grande importância na 
minha vida pessoal e profissional, como as futuras colegas e parceiras na Faculdade de 
Odontologia, professoras Efigênia Ferreira e Ferreira e Elza Araújo Conceição, também 
alunas na ocasião. Como trabalho final, nós três, mais o colega Murilo Froes, 
estudamos a fluoretação das águas de Belo Horizonte, realizando coleta de dados em 
escolas e verificando se o CPOD havia mudado após seis anos de Flúor nas águas de 
abastecimento. A verdade era que a Copasa, Companhia de Saneamento de Minas 
Gerais, havia iniciado bastante devagar a fluoretação e não atingira mais que 20% da 
população da cidade à época. Dessa maneira, principalmente a população que mais 
precisava desse processo continuava sem tal benefício. Esse estudo foi apresentado 
em um Seminário de Fluoretação que a própria Companhia organizou e os resultados 
causaram muita discussão. Após nossa avaliação, a Copasa acelerou o processo de 
fluoretação na cidade. Foi meu primeiro trabalho de pesquisa e essa experiência foi 
muito gratificante, o que me motivou a investir na área de pesquisa e, 
consequentemente, na docência. 
O contato com a Odontologia Simplificada, proposta que visava ao aumento do 
acesso da população aos serviços de saúde bucal, com modelos de atendimento 
diferenciados, incluindo o técnico em saúde bucal (THD), despertou em mim a vontade 
de ser um multiplicador do processo, fazendo-me acreditar que seria uma boa 
alternativa para o atendimento odontológico escolar. Nesse momento, 
coincidentemente, o secretário municipal de Saúde de Belo Horizonte, Dr. Hilton Brant, 
criou um grupo para realizar um projeto-piloto em escolas municipais levando em conta 
os novos princípios da Odontologia Simplificada. Fui convidada pelo coordenador, 
professor Júlio Noronha, para fazer parte da equipe. O ano era 1981. O consultório 
odontológico de uma escola no Bairro Tirol foi totalmente remodelado, em formato de 
roseta, e uma THD foi contratada e treinada, uma auxiliar de consultório dentário (ACS) 
que já havia no quadro da SMS também fazia parte da equipe. A ideia era que o 
cirurgião-dentista trabalhasse em equipe, realizando o diagnóstico, o plano de 
tratamento e a aplicação da anestesia no paciente, fazendo o preparo cavitário, e que a 
THD inserisse o material restaurador e fizesse a escultura. Esse modelo, muito 
16 
 
controverso à época, fez, no mínimo, a produção aumentar muito. No entanto, com o 
tempo, mais uma vez o processo acabou privilegiando a odontologia curativa, 
desconsiderando a preventiva que, por princípio, deveria ser inserida paralelamente. De 
qualquer modo, alguma mudança foi realizada: finalmente os dentes decíduos também 
passaram a ser tratados. 
No ano seguinte, 1982, o Departamento de Odontologia Social e Preventiva 
(OSP) da Faculdade de Odontologia da UFMG abriu um concurso para uma vaga de 
professor auxiliar. Estimulada pela minha colega e amiga, professora Elza Maria Araújo 
Conceição, fiz o concurso e fui aprovada, classificada em segundo lugar. Em 1983, o 
Departamento conquistou mais uma vaga e, então, fui chamada para ocupá-la. 
Ingressei na carreira docente e deixei meu trabalho como cirurgiã-dentista da PBH, pois 
meu regime de trabalho era de 40 horas semanais com dedicação exclusiva (DE). 
Foi providencial ter iniciado a carreira docente no Ensino Superior em 1983, pois 
havia me casado em 1981 e minha primeira filha nascido em 1982, o que propiciou um 
tempo fundamental para minha primeira experiência com a maternidade. 
3.2. O curso de Mestrado em Periodontia 
Em 1989, iniciei minha qualificação no Mestrado em Periodontia, orientada pelo 
professor Badéia Marcos, contando também com valiosa colaboração da professora 
Helena Paixão. A decisão por essa área veio após uma discussão no Departamento de 
Odontologia Social e Preventiva, onde eu trabalhava nessa época, sobre a necessidade 
de seus professores buscarem áreas clínicas para qualificação, uma vez que estavam 
todos trabalhando na Clínica de Atenção Primária da Barragem Santa Lúcia. 
O curso de Mestrado em Periodontia tinha conteúdo prático, que incluía 
atendimento aos pacientes, muito importante para mim, então uma novata nessa área. 
Como trabalho final, estudei o ensino de Periodontia na Faculdade, com uma proposta 
de avaliação bastante singular: com base em uma premissa central sobre o perfil 
desejado do ensino odontológico e da prática profissional, foram adotadas questões 
norteadoras, que orientaram o trabalho, e aplicados indicadores para cada questão, 
17 
 
visando à identificação dos processos, da metodologia e dos recursos existentes. O 
curso e o ensino de Periodontia na Faculdade foram, em seguida, classificados de 
acordo com os parâmetros conceituais da educação odontológica na América Latina. 
Constatou-se, ao final, que o ensino de Periodontia apresentava uma tendência 
principal voltada para a Escola Tradicional e uma segunda tendência para a Escola 
Transicional. 
Esse trabalho de dissertação foi desafiador por várias razões. Era o meu primeiro 
trabalho de pesquisa de peso e as muitas dificuldades na sua realização, me fizeram 
estudar muito sobre ensino na área de Saúde, de Odontologia e as novas propostas 
que estavam sendo discutidas no Ministério da Educação e da Saúde. 
3.3. Curso de doutorado em Epidemiologia 
Iniciei meu doutoramento em 1999, concluindo-o em 2002. Foi um período de 
muito aprendizado e crescimento acadêmico porque escolhi uma área difícil, 
Epidemiologia, na Escola de Veterinária da UFMG. A opção por esse curso veio da 
necessidade de melhorar a minha produção científica e conhecer melhor sobre as 
metodologias de trabalho científico possíveis na área de saúde coletiva. Tinha muito 
pouco conhecimento e precisei me dedicar bastante. Isso só foi possível graças ao 
Departamento de Odontologia Social e Preventiva, que me proporcionou um encargo 
didático menor, e à compreensão da minha família, uma vez que meus três filhos já 
estavam crescidos, na adolescência, e foram capazes de entender a importância da 
minha ausência naquele momento para a minha carreira acadêmica. 
Minha tese, intitulada Políticas públicas e qualidade de vida: um estudo 
epidemiológico sobrea perda dentária, teve como objetivo estudar os problemas 
causados pela perda dentária e a falta de acesso à prótese na vida diária da população 
adulta, usuária dos serviços municipais de saúde de Belo Horizonte. Fui orientada pelas 
professoras Helena Heloísa Paixão e Celina Módena (Escola de Veterinária) e utilizei a 
metodologia qualitativa, por meio de entrevistas com usuários do serviço de saúde 
bucal público. O trabalho foi desafiador porque eu não tinha experiência com esse tipo 
de estudo e, mais uma vez, a professora Helena teve um papel fundamental. Em 2005, 
18 
 
publicamos um artigo na Revista Ciência & Saúde Coletiva, o qual já teve até o 
momento 113 citações, segundo o Google Scholar (GS). Esse estudo, sobre o qual 
falarei mais adiante, foi considerado muito importante para a compreensão dos 
problemas vividos pelos adultos brasileiros submetidos à exodontia dentária como 
último recurso quando sofriam dores de dente, uma vez que não tinham acesso ao 
tratamento endodôntico. Como consequência, o edentulismo causava outra 
necessidade, a prótese dentária, que também não era ofertada pela rede pública. Hoje, 
mesmo com a Política Nacional de Saúde Bucal prevendo a oferta de prótese, ainda 
permanece na maior parte dos municípios do país a mesma condição de difícil acesso. 
Poucas prefeituras conseguiram implantar os Laboratórios Regionais de Prótese, 
criados pelo Brasil Sorridente em 2004, ou estabelecer convênios para realizá-las. 
Talvez por essa razão nosso estudo ainda seja bastante atual e muito consultado. 
Ao concluir este capítulo, percebo que minha formação em pós-graduação foi 
importantíssima para o meu desempenho na carreira acadêmica. Fui muito feliz na 
escolha dos cursos, que me propiciaram conhecimento consolidado para conseguir 
acompanhar a evolução da ciência, da saúde pública e da pesquisa na área da saúde 
pública.
19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 A CARREIRA DOCENTE 
 
20 
 
 
4.1. Período 1983-89 
A receptividade no OSP foi muito importante para minha adaptação na nova 
função. Meus colegas – professoras Marisa Drumond, Maria Cristina Ribeiro Viana, 
Helena Heloísa Paixão, Elza Maria Araújo Conceição, professores Renato Quintino dos 
Santos, Marcos Azeredo Furquim Werneck, Benedito Marques Campos e João 
Mascarenhas - professor da Psicologia que ministrava uma disciplina na Faculdade – 
foram pessoas essenciais na minha vida acadêmica que se iniciava. 
Logo que entrei, o Departamento me encarregou das disciplinas de Odontologia 
Preventiva, 4º período de graduação, e Administração de Clínicas, 7º período, que se 
desenvolvia na Clínica Odontológica da Barragem Santa Lúcia. A disciplina de 
Odontologia Preventiva tinha seu conteúdo ministrado em aulas teóricas e um conteúdo 
prático se desenvolvia em escolas primárias da rede pública. Os alunos realizavam 
ações de educação em saúde para toda a escola, com escovação supervisionada e 
bochechos com flúor. As ações de educação eram ainda muito centradas em palestras 
e cartazes, uma vez que ainda era incipiente nosso conhecimento sobre mudança de 
comportamentos em saúde. As reflexões só viriam mais tarde na minha carreira. 
Já a disciplina desenvolvida na Clínica da Barragem Santa Lúcia era bem 
diferente. Ela havia sido criada antes da minha entrada na Faculdade, numa tentativa 
dos professores do Departamento de superar a crítica hegemônica entre alunos e 
demais professores, na época, de que os conteúdos e os docentes do OSP eram muito 
teóricos, distantes da prática da Odontologia, e as disciplinas, pouco atrativas. Os 
professores tiveram, então, a ideia de implementar um modelo de atendimento 
comunitário, em que fosse possível discutir a prática clínica dos alunos à luz dos 
conteúdos sociais. Essa prática permitiria uma aproximação da realidade e o 
desenvolvimento do espírito crítico dos alunos, além da consciência social. 
Tal proposta foi possível de ser implementada quando o Departamento 
apresentou um projeto de apoio à inovação do ensino odontológico em edital da 
21 
 
Capes/Abeno/Kellogg, em 1980, e foi contemplado. A viabilização desse projeto se deu 
de forma compartilhada nas decisões e responsabilidades, desde o seu início, com a 
Associação de Moradores da Barragem Santa Lúcia, onde ficava a Clínica, a 
Associação Municipal de Ação Social (AMAS), o Programa de Desenvolvimento de 
Comunidades (PRODECOM), a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte e a 
Secretaria do Estado de Saúde de Minas Gerais (SANTOS, 1985). 
A construção da Clínica se deu com a participação da comunidade em um antigo 
posto policial, na rua principal da localidade, em regime de mutirão. Esse processo foi 
importante porque os moradores estabeleceram um forte laço com a Clínica, criando 
um sentimento de pertencimento. Viabilizar a Clínica foi um trabalho muito difícil e os 
problemas foram sendo enfrentados e superados. Criou-se um curso de formação de 
auxiliar de consultório dentário, sendo as alunas moradoras locais. Após o curso, três 
alunas foram contratadas. Uma delas fez, em seguida, um curso de técnico de 
manutenção de equipamentos odontológicos, pois os equipamentos adquiridos eram 
simplificados e, com o tempo, passaram a apresentar muitos defeitos. 
Os alunos que atendiam na Clínica eram do 7º período da Faculdade de 
Odontologia da UFMG, mas os alunos do 5º período trabalhavam como auxiliares, 
viabilizando o trabalho em equipe. Para a organização do trabalho clínico foram criados 
protocolos, instrumentos de registro de atividades, agendamentos para retornos e 
acompanhamentos, o que fez essa Clínica se diferenciar muito das demais clínicas da 
Faculdade. Os alunos eram estimulados a elaborarem um planejamento integral do 
tratamento dos pacientes e refletir sobre as inúmeras necessidades que eles 
apresentavam além das de saúde bucal. 
Várias pesquisas foram realizadas com os moradores durante o momento da 
construção da Clínica, o que possibilitou o entendimento da rotina deles, suas 
necessidades de saúde e dificuldades de acesso aos serviços. Essas questões eram 
discutidas com os alunos, que deveriam observá-las quando da realização do 
planejamento do tratamento. 
A minha inserção na Clínica foi de extrema importância para uma professora que 
22 
 
iniciava suas atividades. Sem dúvida, foi um dos aprendizados mais importantes em 
minha formação como docente e como cidadã. Vislumbrar um caminho possível para a 
implantação de atividades e ações mais adequadas e justas para a crueza daquela 
realidade tornava aquela experiência densa, complexa, porém muito prazerosa e 
motivadora. A convivência naquela comunidade me fez crescer como educadora e 
socialmente, uma vez que situações muito diversas da minha rotina me faziam refletir o 
tempo todo sobre os verdadeiros valores da vida e o significado de ser docente naquele 
contexto. 
O projeto da Clínica da Barragem Santa Lúcia, contudo, nunca foi uma 
unanimidade na Faculdade, havia um receio permanente quanto à segurança dos 
alunos em uma região de maior vulnerabilidade e outras resistências quanto às 
propostas pedagógicas. Por outro lado, em relação à infraestrutura, ao espaço físico, ao 
trabalho em equipe e à ergonomia, ele influenciou na reforma da clínica de 
Odontopediatria, na própria Faculdade, e de uma clínica extramuros, no Hospital da 
Baleia, que foram remodeladas em formato de roseta, ou seja, com equipamentos 
montados em forma circular. Esse projeto influenciou também a elaboração do Plano 
Quadrienal de Desenvolvimento da Faculdade de Odontologia da UFMG, no qual houve 
uma proposta de uma nova organização curricular com base na Atenção Primária e que 
culminou com a reorientação do currículo nos anos seguintes. Pode-se afirmar ainda 
que exerceu influência no desenho arquitetônico das clínicas da nova Faculdade no 
campus Pampulha. 
Para o Departamento, a Clínica da Barragem Santa Lúciarepresentou uma 
grande mudança no cenário da Faculdade e da própria UFMG, superando o descrédito 
pela ausência de experiência clínica dos professores já em atividade e promovendo 
uma significativa expansão do seu quadro docente, visto que em menos de quatro anos 
conseguiu a contratação de mais seis professores. Eu fui a segunda dessa lista, 
seguida pelas professoras Efigênia Ferreira e Ferreira e Mara Vasconcelos, e pelos 
professores João Henrique do Amaral e Marcelo Faria. 
É importante lembrar ainda que essa Clínica suscitou nos professores do OSP a 
necessidade da qualificação docente, principalmente na área clínica. Nesse sentido, o 
23 
 
OSP realizou um Plano de Capacitação Docente, determinando a ordem e o tempo 
para cada um dos professores fazer o mestrado. Assim, as professoras Cristina Viana e 
Marisa Drumond cursaram o mestrado nas áreas de Odontopediatria e Endodontia, 
respectivamente; eu e a professora Elza Araújo, na área de Periodontia, tendo eu 
iniciado em 1989, como já relatei no capítulo anterior. Em seguida, a professora 
Efigênia Ferreira e Ferreira fez o mestrado na área de Clínica Integrada. 
Em 1999, dezoito anos após a sua inauguração, com mudança substancial 
naquela comunidade em relação à violência, uma aluna foi atingida por uma bala 
perdida quando saía da Clínica, o que acarretou uma pressão por parte dos corpos 
docente e discente da Faculdade pelo seu fechamento, tornando insustentável sua 
continuidade. 
Um fato extremamente relevante e inesquecível, ocorrido ainda no final de 1983, 
logo após minha entrada no Departamento, foi a visita ilustre do professor Paulo Freire, 
trazido pelo colega Renato Quintino dos Santos, pró-reitor de Extensão da UFMG à 
época. Esse encontro contribuiu muito para o fortalecimento do trabalho que nós 
professores fazíamos na Barragem Santa Lúcia. Houve um momento de discussão 
sobre a nossa prática, sobre educação popular, processos de educação para a 
formação na área da saúde, ética e violência. Foi um encontro curto que não só nos 
encantou pela palavra, pelo conhecimento e pela experiência do educador 
pernambucano, mas principalmente nos instigou a continuar lutando pelo que 
acreditávamos no ensino e na prática na área da saúde. 
Ainda nesse período (1984-1987), fui convidada pelo professor Marcos Werneck 
para ser subchefe do OSP junto com ele. Não tinha experiência suficiente para esse 
cargo, mas fui incentivada pelos demais professores a aceitá-lo. Foi muito importante 
começar ainda cedo a experiência na administração acadêmica e ir compreendendo 
devagar o funcionamento da universidade. Comecei a frequentar eventualmente as 
reuniões de Congregação e a me interessar pelas questões que permeavam todas as 
áreas na Faculdade. Ao término desse mandato, me candidatei e fui eleita 
representante (1989-1991) dos professores auxiliares na Congregação, com o intuito de 
continuar participando das decisões maiores da Faculdade. 
24 
 
 
4.2. Período 1990-99 
Em 1990, o professor Badéia Marcos apresentou à diretoria da Faculdade uma 
proposta de avaliação do curso de Odontologia por meio de uma análise prospectiva, 
que utilizava os critérios da Resolução do Conselho Federal de Educação, as propostas 
de integração ensino-serviço e as novas diretrizes do SUS como parâmetros, projeto 
criado pelo Ministério da Saúde (MARCOS, 1989). Após a aprovação, foi formado um 
grupo com representação de docentes de todos os departamentos, alunos da 
graduação e pós-graduação (mestrado) e funcionários. Nesse momento, eu estava 
cursando o Mestrado em Periodontia e fui indicada como representante dos alunos, 
uma vez que já estava estudando o tema como trabalho final. A avaliação apontou 
também os problemas encontrados no currículo da graduação e na sua prática, 
semelhantes aos que eu tinha encontrado em meu estudo. A partir daí, o Colegiado de 
Curso de Graduação passou a discutir um novo modelo curricular, que também foi 
exaustivamente avaliado pelos departamentos, cujo novo currículo foi aprovado e 
passou a ser implantado em 1992. 
O projeto pedagógico do novo currículo pressupunha, também, o Convênio com 
o Sistema Único de Saúde (SUS) na Atenção Primária e em algumas especialidades 
como endodontia e periodontia. Todos os pacientes das disciplinas de Clínica Integrada 
de Atenção Primária passaram, então, a ser encaminhados pela Secretaria Municipal 
de Saúde de Belo Horizonte. 
Com o novo currículo, novas disciplinas foram criadas, o que foi outro grande 
desafio para o OSP. A principal proposta de mudança se concentrou num eixo de 
complexidade crescente que criava, do 4º ao 8º período, as Clínicas Integradas de 
Atenção Primária I, II, III e V (intramuros) e a IV (extramuros, na Barragem Santa Lúcia). 
No 8º período criou-se também o Estágio Supervisionado em Odontologia, com prática 
em Unidades Básicas de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, 
trabalho clínico compartilhado com as equipes de saúde bucal. Todas essas disciplinas 
tinham caráter interdepartamental com professores do quadro já existente na FOUFMG. 
25 
 
A proposta nova fazia uma hierarquização das disciplinas tal como no modelo proposto 
pelo SUS – Atenção Primária, Secundária e Terciária. Nesse sentido, um dos 
elementos estruturais importantes foi a articulação do ensino de graduação com um 
sistema de atenção à saúde organizado por níveis de referência, ou seja, clínicas que 
acolhem o paciente e orientam o cuidado à saúde de acordo com suas necessidades, 
sendo eliminada a triagem do paciente segundo as necessidades das disciplinas, como 
acontecia no currículo anterior. O aluno tem, então, condição de considerar o paciente 
na sua totalidade e, assim, compreender melhor os determinantes sociais da saúde. A 
abordagem passa a ser desde o diagnóstico e tratamento até a manutenção preventiva. 
Nesse novo currículo, o Departamento passou a coordenar duas disciplinas 
clínicas: Clínica Integrada de Atenção Primária I (CIAP I), uma clínica intramuros com 
atendimento de adolescentes; e CIAP IV, na Clínica da Barragem Santa Lúcia. Com 
essa nova proposta fui indicada pelo OSP para encarar o desafio de criar, organizar, 
implantar e coordenar a CIAP I, além de participar da criação da CIAP V, algum tempo 
depois. 
A implantação da Clínica Integrada de Atenção Primária, em 1992, originou-se a 
partir da evolução do significado da integração de áreas do conhecimento, visando ao 
aprimoramento técnico-científico e humanista do aluno. A ideia era que a CIAP 
possibilitasse a formação de um futuro profissional com visão integral das necessidades 
e expectativas do paciente. 
Implantar a CIAP I foi muito difícil. Para cumprir a carga horária teórica e prática 
foi necessário que a Congregação da Faculdade estabelecesse um mínimo de 15 horas 
de aula frente aluno para todos os professores com regime de 40 horas. Outra decisão 
foi que todos os docentes de todos os departamentos, para completarem as 15 horas, 
seriam incluídos nas CIAP, pois se tratava de novas disciplinas e não seria possível, 
naquele momento, abrir vagas para novos professores. 
Isso solucionou em parte o problema, mas terminou por criar novos. Vários 
professores do Departamento de Clínica, Patologia e Cirurgia Odontológica (CPC) 
foram lotados nas CIAP, onde seriam executados procedimentos diversos, como 
26 
 
restaurações plásticas diretas, que os docentes não se sentiam preparados para 
ensinar. Foi necessária, então, a discussão de protocolos e viabilização de cursos de 
reciclagem. Com o passar dos anos, a equipe foi ficando mais coesa, professores 
novos foram contratados e os que continuavam desconfortáveis deixaram a disciplina. 
Além dessa questão dos docentes nas aulas práticas, os alunos da CIAP I se 
encontravam no 4º período, portanto, não haviam tido nenhuma experiência clínica, 
somente conteúdos de restaurações plásticas realizados em manequim. Issoacarretou 
um conteúdo teórico denso (90 horas) impossível de ser totalmente contemplado antes 
de o aluno ir para as aulas práticas. Logo, a primeira providência foi estabelecer que o 
público-alvo dessa Clínica seria o adolescente, que, pelo menos teoricamente, tinha 
necessidades menos acumuladas e menos complexas do que um adulto. 
Nesse sentido, definimos que os alunos precisariam ser estimulados a estudar 
antes das aulas e, para tal, instituímos duas medidas: a primeira consistia no 
planejamento integral do paciente após a compreensão do processo saúde-doença, isto 
é, após responder à questão “por que o adolescente se encontrava com a saúde bucal 
comprometida?”; a segunda consistia em o aluno fazer o plano de aula, incluindo tudo 
que realizaria na aula, com busca bibliográfica sugerida pela disciplina, em um caderno 
só para essa atividade (Caderninho de CIAP I). O professor, no início da aula prática, 
fazia uma leitura do plano de aula de um dos alunos, discutindo todos os passos com 
ele e com a turma: procedimento, instrumental necessário, material restaurador, técnica 
de preparo cavitário, técnica de isolamento absoluto, resultados esperados, entre 
outros. Isso demonstrou ao longo do tempo ser pedagogicamente muito importante e 
exitoso. Os alunos passaram a ser ativos na busca de conhecimento e conseguiam 
realizar o trabalho proposto pela disciplina. 
O processo de ensino dessa disciplina incluía também o trabalho em equipe, o 
aluno era auxiliado por um colega e uma funcionária distribuía o material. Não tínhamos 
as clínicas em formato de rosetas ainda, o que tornava o processo de trabalho nesse 
momento incompleto. Outra questão complicada era organizar as aulas teóricas com 
professores de todos os departamentos, visto que tinham outras disciplinas com aulas 
teóricas nos mesmos horários. Como alguns docentes não estavam disponíveis, às 
27 
 
vezes era impossível ter um cronograma coerente, com conteúdos sequenciais. Essa 
etapa era sempre muito estressante e demandava muita calma e paciência para ser 
resolvida. 
Outra iniciativa importante da CIAP I foi propiciar aos alunos visitas às Unidades 
Básicas de Saúde que encaminhavam os pacientes adolescentes para tratamento na 
Faculdade, dentro do convênio com o SUS-BH. Essa visita tinha como objetivo fazer os 
alunos compreender o contexto de vida dos seus pacientes, para melhor entender o 
processo saúde-doença, e assim estabelecer um planejamento coerente para cada um 
deles. 
A CIAP IV, clínica extramuros, continuou com o trabalho que já realizava, porém, 
a disciplina de CIAP V precisou ser criada e implantada. Auxiliei a professora Maria 
Elisa de Souza e Silva (Departamento de Odontologia Restauradora, ODR) nessa 
empreitada. Nessa disciplina, os alunos prestavam atendimento clínico a pacientes 
adultos com maiores necessidades e faziam a “manutenção preventiva” de todos os 
pacientes da Atenção Primária da Faculdade. 
Eu e as professoras Maria Elisa, Maria Antonieta Moraes, Efigênia Ferreira e 
Ferreira, Lúcia Azevedo dos Santos e Laura Helena Martins havíamos sido indicadas, 
nessa ocasião, pela diretoria da Faculdade, para discutir a “manutenção preventiva” dos 
pacientes. Na CIAP IV, na Barragem Santa Lúcia, havia algum tempo que essa 
atividade ocorria por meio de um Projeto de Extensão coordenado por mim e tal 
experiência foi importante na sua implantação em toda a Faculdade. Pensamos, a 
princípio, que os alunos da CIAP V poderiam realizar essa atividade. A tarefa exigia que 
todos os alunos atendessem a dois pacientes: um sequencial e outro que havia 
recebido alta na Atenção Primária nas disciplinas CIAP I, II, III e V (intramuros). Com o 
passar do tempo, essa atividade de manutenção preventiva cresceu muito e precisou 
ser realizada por todas as disciplinas. 
O grande ganho para o currículo da Faculdade foi sem dúvida a presença de 
professores de todos os departamentos nas CIAP. Havia reunião conjunta durante o 
semestre de todas as disciplinas de CIAP, em que se discutia os problemas comuns em 
28 
 
busca de um caminho semelhante para todas. Nesse sentido, foram criados diversos 
protocolos: diagnóstico e decisão de tratamento da cárie dentária, diagnóstico e 
tratamento da doença periodontal na Atenção Primária, planejamento do tratamento 
dos pacientes, entre muitos outros. Foi um momento muito rico de integração dos 
diversos conteúdos e dos professores. Acredito ter sido a fase de mais integração dos 
departamentos que já vivemos na Faculdade. 
No currículo novo, uma nova disciplina também foi criada: Metodologia do 
Trabalho Científico, para o 4º período. A coordenação era revezada pelos 
departamentos de Odontopediatria e Ortodontia e Odontologia Social e Preventiva. Os 
professores responsáveis eram, além de mim, Isabela Almeida Pordeus, Helena 
Heloísa Paixão, Efigênia Ferreira e Ferreira. A inclusão desse conteúdo no curso de 
Odontologia foi muito importante no sentido de que os alunos, desde o início do curso, 
tinham contato com os métodos de pesquisa e precisavam fazer um estudo ao final com 
coleta de dados. Os trabalhos eram apresentados em forma de pôster científico e os 
melhores recebiam uma menção honrosa. Essa disciplina incentivou diversos alunos a 
procurar pela Iniciação Científica, tornando-a mais frequente na Faculdade com bolsas 
disponíveis do CNPq e da Fapemig (PIBIC e PROBIC), além do Programa de 
Aprimoramento Discente da Pró-Reitoria de Graduação (PAD). Foi assim que dei início 
a uma das atividades que ainda tenho muito orgulho e prazer de realizar: a orientação 
de alunos de Iniciação Científica. Prática que iniciei em 1993 e, até hoje, já orientei 19 
alunos bolsistas dos diversos programas. 
Por iniciativa de duas professoras dessa disciplina, Isabela Pordeus e Helena 
Paixão, após terem sido contempladas em um edital da Pró-Reitoria de Graduação para 
o Programa de Bolsas de Aprimoramento Discente (PAD), foi criado um grupo de 
estudos que se reunia quinzenalmente. Nesses encontros, além de seminários, os 
alunos apresentavam seus projetos e o andamento deles. O grupo foi muito importante 
para os alunos bolsistas, que podiam desenvolver ainda mais suas potencialidades de 
pesquisadores, seu senso crítico, além de aprofundar conhecimentos por meio da 
interlocução. Alguns deles continuaram seus estudos em cursos stricto sensu, mestrado 
e doutorado, e hoje são docentes em diversas faculdades, inclusive na própria 
29 
 
FOUFMG. Podemos citar, por exemplo, professor Ênio Vilaça (UFMG), professor Mauro 
Henrique Abreu (UFMG), professor Luís Cota (UFMG), professora Tarcília Aparecida da 
Silva (UFMG) e professora Santuza Mendonça (Centro Universitário Newton Paiva). Os 
alunos eram estimulados também a publicarem artigos de seus trabalhos, o que de fato 
ocorreu em muitos casos. Posso citar, por exemplo, o meu bolsista PIBIC Gustavo 
Assis de Paula, que publicou o artigo intitulado “Avaliação de metodologia de higiene 
bucal”. Outra aluna, Ana Carmelina Freitas Goulart, bolsista PAD, ganhou o Prêmio 
Kolynos, concurso que premiava o melhor trabalho de Iniciação Científica do ano na 
Faculdade com um consultório odontológico, com o trabalho intitulado “Percepção dos 
deficientes visuais sobre saúde Bucal”. Mariana Ruas, monitora de graduação orientada 
por mim, também recebeu esse prêmio. Alguns alunos monitores de disciplinas também 
foram convidados a participar desse grupo e muitos desenvolveram excelentes 
trabalhos. 
Não posso deixar de realçar aqui o muito que aprendi com as professoras 
Helena Paixão e Isabela Pordeus a partir da formação desse grupo de pesquisa. Foi ele 
que me estimulou a fazer o doutorado na área de Epidemiologia na Escola de 
Veterinária da UFMG, conforme mencionei no capítulo anterior sobre minha formação 
acadêmica. 
E posso afirmar, com toda certeza, que minha vida acadêmica mudou 
completamente após o doutoramento, pois passeia me envolver como docente na pós-
graduação stricto sensu da Faculdade, primeiramente no mestrado e depois no 
doutorado, na área de Saúde Coletiva. 
4.3. Período 2000-18 
O ano de 2001 foi um marcador para a Faculdade de Odontologia da UFMG, 
pois mudamos para o campus Pampulha, prédio novo, moderno e amplo. Havia um 
sentimento de orgulho e de novas perspectivas e possibilidades para todos, alunos e 
professores. Foi uma grande festa de inauguração, proporcional aos inúmeros anos que 
ficamos aguardando a conclusão das obras, quase 10 anos. De fato, a partir daí a 
Faculdade deu um grande salto, com crescimento em todas as áreas de estudo, 
30 
 
aumentando os cursos de extensão, atualização, aperfeiçoamento, bem como os de 
especialização, com vários programas e projetos de extensão. Finalmente havia espaço 
para tudo e para todos. A pós-graduação stricto sensu também cresceu muito a partir 
dessa década com a criação do curso de doutorado. 
Em 2002, a Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais organizou um curso 
de Especialização em Saúde da Família – Veredas de Minas, para profissionais 
médicos, enfermeiros e dentistas que tinham sido inseridos na Estratégia Saúde da 
Família em 2001. A UFMG foi escolhida para o desenvolvimento do curso, ficando a 
Escola de Enfermagem responsável pela sua administração. Os professores do OSP 
participaram do curso nos conteúdos para dentistas e orientaram esses profissionais na 
monografia final obrigatória. Minha participação se deu nos módulos de Processo 
Saúde-Doença e Promoção de Saúde e também na orientação de alunos. Devo 
destacar que minha experiência, até então, havia sido apenas com alunos de 
graduação e aperfeiçoamento (Curso de Aperfeiçoamento em Promoção de Saúde 
Bucal para Adolescentes) e foi bastante importante começar o trabalho em cursos de 
especialização, especialmente neste que tinha profissionais de todo o estado. 
Compartilhar os problemas e ajudar a encontrar as melhores soluções foi muito 
gratificante e enriquecedor. 
Ao voltar do meu doutorado em 2002, encontrei uma pós-graduação já em pleno 
crescimento na Faculdade. O curso de mestrado já estava bem estabelecido e o de 
doutorado sendo construído. Isso proporcionou de imediato minha atuação na pós-
graduação, já em 2003, ministrando disciplinas obrigatórias e optativas. As disciplinas 
obrigatórias do Mestrado em Saúde Coletiva que ministrava eram Estudos Avançados 
em Saúde Coletiva I e III; a primeira com conteúdos conceituais da área e a outra, com 
conteúdos de Epidemiologia. Desta última ainda participo como docente, além de 
coordená-la. As disciplinas optativas que ministrei foram: Métodos de Investigação em 
Saúde Coletiva e Ciências Sociais Articuladas (nesta, ainda sou professora). Nosso 
programa acadêmico tem disciplinas comuns às diversas áreas, o que torna possível 
uma certa integração entre alunos e docentes. 
O curso de Doutorado em Odontologia da Faculdade foi aprovado logo em 
31 
 
seguida e, desde seu início, participo das disciplinas obrigatórias Pesquisa em Saúde 
Coletiva I e II. A primeira, que também coordeno, apresenta conteúdo sobre 
metodologia qualitativa e a segunda, sobre estudos epidemiológicos. Em ambas as 
disciplinas, conto com a parceria da professora Efigênia Ferreira e Ferreira. 
Outra atividade muito importante foi começar a orientar e coorientar alunos, 
primeiro de mestrado e, depois, de doutorado, na área de Saúde Coletiva, assim como 
prestar coorientação na área de Periodontia. Até os dias de hoje, já orientei 12 alunos 
de mestrado acadêmico e coorientei outros cinco; quanto aos doutorandos, orientei oito 
e coorientei outros nove. Nossa pós-graduação cresceu muito e, em 2017, obtivemos a 
nota 7 da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). 
Cabe aqui reconhecer os esforços de todos os docentes do Programa, principalmente 
da professora Isabela Almeida Pordeus, atual coordenadora do Colegiado de Pós-
Graduação. 
A nossa área de Saúde Coletiva na pós-graduação foi coordenada pelo 
professor Marcos Werneck e pela professora. Helena Paixão no seu início, seguida pela 
professora Efigênia Ferreira e Ferreira. Estive também nessa coordenação entre 2013-
2015. 
Em 2003, a professora Efigênia me convidou para coordenar com ela o Curso 
de Especialização em Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia da UFMG. Após a 
experiência com o Programa Veredas de Minas, sentíamos que já podíamos oferecer 
um curso do OSP. Foi uma grande iniciativa para o Departamento, que obteve 
expertise em cursos lato sensu e também oportunidade para que todos os professores 
participassem, uma vez que na pós-graduação stricto sensu nem todos estavam aptos 
devido à produção necessária para o credenciamento. Ministrei as disciplinas de Prática 
Odontológica I e II, com atendimento clínico na Atenção Básica. Os trabalhos finais 
eram realizados em duplas de alunos. Como esse curso era pago, os recursos obtidos 
eram destinados às despesas do Departamento e custeou também várias 
apresentações de trabalhos de professores em congressos importantes. 
Em 2005, fui novamente eleita subchefe do Departamento de Odontologia Social 
32 
 
e Preventiva pela segunda vez, sendo a chefe, nessa ocasião, a professora Elza Maria 
Araújo Conceição. Permaneci um mandato, até 2007. Professora Elza sempre foi 
proativa na solução de problemas e conseguiu implementar no OSP um ambiente 
acolhedor e organizado. Foi muito bom participar dessa gestão, que me preparou para 
o desafio que viria logo em seguida na minha vida acadêmica: assumir a vice-diretoria 
da Faculdade. 
Em 2007, o professor Evandro Neves Abdo me convidou a compor uma chapa 
para disputar a diretoria da Faculdade. Depois de muito pensar, pesar minha pouca 
experiência em cargos administrativos (somente subchefia do OSP), o desafio de 
aprender e a possibilidade de fazer uma gestão participativa, em que o OSP pudesse 
participar mais ativamente, me fizeram aceitar o convite. Fomos eleitos em outubro para 
o mandato de 2008 a 2011. O professor Evandro Abdo tinha um grande conhecimento 
da Universidade, fora chefe do Departamento de Clínica, Patologia e Cirurgia 
Odontológica por diversas vezes, o que me deu bastante segurança em assumir mais 
esse desafio. E que desafio!!! Essa grande e difícil experiência será apresentada no 
Capítulo 8 (A administração) deste Memorial. 
Meu mandato na diretoria terminou em 2011. Antes disso, o professor Evandro 
Abdo convidou-me para continuar em mais uma gestão, porém, eu tinha me 
empenhado bastante, havia trabalhado muito, encontrava-me desgastada, cansada e 
precisava retomar minha produção acadêmica na pós-graduação. Assim, não aceitei 
desta segunda vez. 
Ainda em 2011, o OSP ofereceu um curso de especialização em Saúde Coletiva 
para os cirurgiões-dentistas da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, a pedido da 
própria Coordenação de Saúde Bucal da Secretaria Municipal de Saúde. O curso foi 
totalmente discutido com o serviço, visando qualificar os profissionais para melhorar o 
trabalho da saúde bucal. Fui professora e orientadora desse curso. Havia muito tempo 
que alguns profissionais estavam formados e sem frequentar cursos de educação 
continuada, o que tornou muito difícil e desafiador o trabalho dos professores e também 
para eles, alunos, no sentido de alcançar os objetivos do curso e realizar o Trabalho de 
Conclusão de Curso (TCC). 
33 
 
Em 2012, o novo currículo da Faculdade foi aprovado definitivamente por todas 
as instâncias necessárias e começou a ser implantado. Após a mudança para o 
campus Pampulha, o currículo precisou ser reformulado e carecia de uma nova 
proposta, principalmente depois que as novas diretrizes para os cursos da área da 
saúde foram divulgadas pelo Ministério da Educação (2002). As discussões se iniciaram 
logo que nos instalamos, dirigidas pelo Colegiado de Graduação, coordenado pelo 
professorJoão Henrique Lara do Amaral (OSP), juntamente com uma comissão criada 
pela Congregação. Como o caminho escolhido pelo Colegiado, por meio do consenso, 
foi bastante longo, a Congregação achou necessário dar um prazo para a conclusão do 
currículo após muitos anos de discussão. O novo currículo apresentou avanços 
importantes, tais como: articulação entre os conteúdos da área básica do curso (ICB) e 
os da área profissional; atividade clínica bem no início da formação; ampliação do 
tempo dos estágios nos serviços de saúde; elaboração do Trabalho de Conclusão de 
Curso; e gestão do currículo em módulos que agregam disciplinas afins. 
De volta aos afazeres normais de um professor após o mandato na diretoria, 
continuei nas disciplinas que já ministrava na graduação e na pós-graduação (não havia 
interrompido na diretoria) e pude dedicar mais tempo às minhas orientações e 
produções acadêmicas. Com a implantação do novo currículo de graduação, a 
princípio, passei a trabalhar com seis disciplinas novas: Introdução à Bioestatística e 
Epidemiologia; Integralidade do Cuidado; Ações Coletivas III; e Trabalho de Conclusão 
I, II e III. 
A primeira, Introdução à Bioestatística e Epidemiologia, dada no segundo 
período do curso, tem conteúdos teóricos aplicados aos serviços de saúde. Os alunos 
têm aulas teóricas e visitam as Unidades Básicas de Saúde de Belo Horizonte, onde 
buscam os dados epidemiológicos e entendem a importância deles para o 
planejamento das ações de saúde. Essa forma de trabalhar os conteúdos, deixando 
mais claro para os alunos a utilidade e importância deles, favorece a compreensão e a 
aprendizagem. Participei dessa disciplina durante dois anos, mas precisei me afastar 
em decorrência de muitas atividades didáticas no Departamento e na pós-graduação. 
A disciplina Integralidade do Cuidado é do 5º período, seu conteúdo trata do 
34 
 
conceito de integralidade e seus atributos. Inclui, também, questões éticas, profissionais 
e direitos do consumidor. A metodologia é ativa, fazendo os alunos refletirem sobre a 
sua prática de maneira lúdica. Para todas as aulas, os alunos leem texto sobre o tema 
e, após discussão e reflexão, são motivados a realizar uma dramatização de um 
exemplo prático do conteúdo abordado, dar uma notícia em jornal falado sobre um caso 
ou fazer uma poesia ou música. Ao final, é realizado um júri simulado sobre um caso 
apresentado pelos docentes e a turma é divida em três grupos: defesa, acusação e júri. 
Essa metodologia visa deixar o conteúdo mais fácil de ser compreendido e apreendido, 
tornando-o mais motivador para os alunos. Os resultados são muito bons, com 
excelentes avaliações dos próprios estudantes. A prova final, ainda aplicada da forma 
tradicional, tem apontado para um bom aprendizado dos alunos. 
A disciplina de Ações Coletivas III, que também coordeno, tem como conteúdo a 
promoção de saúde em idosos institucionalizados. Sua parte teórica é realizada pela 
Plataforma Moodle, que apresenta textos para leitura, estudos dirigidos, fóruns de 
discussão, local para postagens de políticas e programas para a terceira idade. A parte 
prática é realizada em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), entidades 
filantrópicas que mantêm convênio com a Prefeitura de Belo Horizonte. Os alunos têm 
um primeiro momento de reconhecimento do campo de trabalho e diagnóstico, realizam 
um planejamento das atividades, discutem com a coordenação da ILPI sobre a 
proposta e, por fim, realizam pelo menos três atividades coletivas com os idosos. Tais 
atividades não necessariamente são em relação à saúde bucal, embora esta também 
possa ser abordada. Essa disciplina é do 10º período do curso e, em minha opinião, 
mal situada, pois alunos estão quase se formando e, portanto, mais preocupados com 
questões relacionadas à formatura, disciplina de Internato Rural e Emergência, clínicas. 
No entanto, como se trata de um público que eles ainda não tiveram contato durante o 
curso, ao final, todos têm uma ótima avaliação da disciplina, com relatos muito 
interessantes das atividades em um seminário final. 
As disciplinas de Trabalho de Conclusão I, II e III têm como objetivo dar subsídio 
aos alunos para a elaboração do TCC final. A TCC I, no 2º período, oferece o conteúdo 
de metodologia de pesquisa necessário para que o aluno possa compreender todo o 
35 
 
processo. É uma disciplina teórica em que os alunos do Doutorado em Saúde Coletiva 
e Odontopediatria fazem seu Estágio Docente. Essa integração tem sido bastante 
interessante porque os doutorandos têm o papel de criar novas metodologias para 
ministrar esses conteúdos. São realizados vários exercícios em sala de aula com o 
objetivo de treinar com os alunos as normas de ABNT, citações, referências etc. 
Permaneci na equipe dessa disciplina até 2016. 
A disciplina de TCC II, 6º período, funciona quase que totalmente a distância, via 
plataforma Moodle. O objetivo é que o aluno construa o projeto de pesquisa do seu 
TCC. A supervisão do orientador é importante, fundamental, mas quem acompanha 
todo o processo são os professores tutores. A disciplina conta com pelo menos dois 
momentos presenciais e, ao final, os alunos precisam apresentar seus projetos para 
uma banca de professores. Fiquei nessa disciplina também até 2016. 
A disciplina de TCC III é dada no último período e é nesse momento que os 
alunos apresentam seus trabalhos finais para uma banca. O papel do professor da 
disciplina é de organizar os momentos das defesas. Nessa disciplina estão os 
professores que fazem parte da Comissão de TCC da Faculdade de Odontologia. O 
objetivo dessa Comissão foi organizar as disciplinas de TCC, definir as normas a ser 
adotadas, dar solução para problemas eventuais. Fiquei nessa comissão e nessa 
disciplina até julho de 2017. 
Em 2013, o OSP conseguiu aprovar um curso novo na Capes: Mestrado 
Profissional em Saúde Pública, que iniciou em 2014. A construção do projeto desse 
novo curso foi realizada por todos os professores do OSP, coordenados pelas 
professoras Mara Vasconcelos e Simone Dutra Lucas (chefe e subchefe do OSP, 
respectivamente). Como o OSP já tinha experiência com especialização, mestrado e 
doutorado acadêmicos, percebeu-se que os profissionais do serviço, naquele momento, 
precisavam de um mestrado na modalidade profissional, uma vez que suas 
necessidades eram distintas daqueles que entravam para o curso acadêmico, 
geralmente com objetivo da docência e pesquisa. 
A implementação do mestrado profissional foi desafiadora para o OSP, para a 
36 
 
primeira coordenação (professoras Mara e Simone) e também para os demais 
professores e professoras que estavam participando como docentes permanentes de 
um curso stricto sensu pela primeira vez. Em um primeiro momento, professores de 
outras unidades – Farmácia, Enfermagem e Veterinária – foram incluídos no corpo 
docente do programa. Mas, com o tempo, eles acharam difícil continuar, tendo em vista 
as muitas atividades dos programas dos quais participavam em suas próprias unidades. 
Uma questão importante é que o curso é modular, com momento presencial apenas em 
uma semana por mês, o que facilita a presença dos profissionais do serviço. Outro 
componente importante para esse tipo de curso é que, além da dissertação ter que 
versar sobre um problema local detectado pelo profissional, ele também deve 
apresentar um produto técnico ao final, baseado na sua dissertação. 
Após dois anos, quando da alternância da coordenação do curso, Mara 
Vasconcelos e Simone Lucas não quiseram continuar assumindo essa função. Os 
professores consideraram, então, que a melhor alternativa seria eu assumir a 
coordenação, juntamente com a professora Lívia Guimarães Zina, que já dava suporte 
à professora Mara durante o processo de coleta de dados para a Plataforma Sucupira 
da Capes. A minha escolha certamente estava ligada à minha experiência anterior compós-graduação lato sensu e stricto sensu. 
Assumi, portanto, em 2016, a Coordenação do Mestrado Profissional em Saúde 
Pública. A consolidação do curso era necessária e vários aspectos precisavam ser 
pensados, como, por exemplo, parcerias municipais e estaduais; divulgação do curso 
entre os profissionais do serviço público; aumentar e melhorar a qualificação das 
publicações das dissertações; implementar a integração com a graduação, com a 
educação básica e outros programas; incentivar o uso de novas tecnologias 
pedagógicas pelos professores; acompanhar os egressos; possibilitar a mobilidade de 
professor e alunos; e buscar apoio financeiro para o curso. 
Um dos principais problemas era que a maioria do corpo docente não tinha tido 
experiência anterior com a pós-graduação stricto sensu, sobretudo em relação às suas 
normas e exigências, como a necessidade de publicação em periódicos indexados. 
Nesse sentido, fizemos a proposta de designar comissões para a solução de alguns 
37 
 
desses problemas. Assim, cada dois ou três professores ficaram responsáveis por um 
dos itens. 
Ainda em 2016, a Pró-Reitoria de Pós-Graduação disponibilizou um recurso de 
R$ 20.000,00 (vinte mil reais) para os cursos de mestrado profissional. Esse valor foi 
muito importante porque pudemos convidar diversos professores para consultoria e 
cursos para os alunos, entre eles os professores Samuel Moysés (PUC-PR) e Paulo 
Góes (UFPE). 
Em 2017, a professora Lívia Zina foi convidada pela coordenação da área de 
Odontologia da Capes para compor a Comissão de Avaliação dos Cursos Profissionais 
de Odontologia. Essa indicação foi muito importante para o nosso curso, pois, além de 
dar visibilidade, a professora conseguiu entender melhor como esses cursos são 
avaliados, o que nos ajudou muito na condução. Nessa oportunidade, conseguimos 
manter a mesma nota 4 do início do curso. O desafio agora é alcançar a nota 5 na 
próxima avaliação em 2020. 
Na avaliação realizada em 2017, obtivemos o conceito Muito Bom na maioria dos 
itens avaliados, apenas no item produção discente recebemos o conceito Bom. Mas já 
vínhamos trabalhando com professores e alunos nesse sentido e acreditamos que já 
mudamos um pouco esse cenário. 
Em 2018, fomos novamente eleitas para uma nova gestão na coordenação, o 
que nos deixou felizes porque isso indicava que o nosso trabalho estava satisfazendo a 
maioria dos professores. Ficou claro também nos dois primeiros anos que a busca por 
recursos é muito importante e, com essa preocupação, fizemos contato com a Pró-
Reitoria de Pós-Graduação da UFMG já no início da nova gestão. Como nossos 
parceiros são os municípios e estados, não temos tido sucesso quando a questão é o 
financiamento do curso, porque é de conhecimento público a falta de recursos 
financeiros dos mesmos. Foi com entusiasmo que recebemos a Chamada 01/2018 da 
Pró-Reitoria de Pós-Graduação para Apoio aos Mestrados Profissionais, por meio de 
recursos para trazer professores visitantes para o programa. Os professores sugeriram 
seis nomes e conseguimos trazer dois deles ainda nesse ano: professora Cláudia 
38 
 
Flemming Colussi (UFSC) e professor Antônio Carlos Pereira (FOP-UNICAMP). A 
contribuição de ambos foi bastante valiosa, professora Cláudia com experiência na área 
de avaliação da Atenção Primária e o professor Pereira discutindo sobre o custo-
benefício de programas, procedimentos e evidência científica, uma linha de pesquisa 
importante do curso: Políticas Públicas, Gestão e Avaliação de Serviços de Saúde. 
Com a recente mudança na coordenação da área de Odontologia da Capes, 
parece que a avaliação quadrienal para os cursos profissionais vai mudar, com 
destaque para a qualidade da produção técnica. Como coordenadoras, estamos 
atentas a isso já pensando em estratégias para melhorar os produtos técnicos do curso. 
Em julho de 2018 fui convidada para fazer parte da Comissão da Área de 
Odontologia para Avaliação dos Novos Cursos (APCN) submetidos à Capes. O contato 
com professores de programas de pós-graduação de diversas universidades brasileiras 
foi uma experiência muito importante. Quero ressaltar que da área profissional eu fui a 
única professora convidada. Percebi que existem muitas dúvidas sobre as diferenças 
entre o mestrado acadêmico e o profissional, e nas novas propostas isso ficava 
evidente. A minha contribuição nessa comissão, penso, foi muito boa porque pude 
levantar questões importantes na definição sobre o que esperar de um curso 
profissional. 
Concluindo este capítulo sobre a docência, analisando meu papel de professora, 
sempre procurei colocar em prática aquilo que acredito ser fundamental para um 
professor: conhecer bem o conteúdo que ministra; ser capaz de selecionar e preparar 
os conteúdos que julga ser mais pertinentes aos objetivos das disciplinas; ser 
entusiasmado com o que ensina e saber transmitir este entusiasmo; e, acima de tudo, 
despertar a curiosidade e motivação para que o aluno adquira autonomia e 
responsabilidade pela sua aprendizagem. Recebe-se uma educação, mas a mais 
importante é aquela que o indivíduo se concede. Sempre tive grande prazer em dar 
aula e creio que obtive êxito nessa empreitada, sobretudo quando consegui transformar 
entusiasmos em realizações, permeados pelo diálogo e por interações respeitosas. 
 
39 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 AS ATIVIDADES DE PESQUISA:EMPENHO NA CONSTRUÇÃO DO 
NOVO
40 
 
 
Minhas atividades como pesquisadora sempre estiveram ligadas a duas 
principais linhas de pesquisa: a primeira “Epidemiologia das Doenças Bucais” cujos 
projetos de pesquisa estão ligados principalmente aos temas Qualidade de Vida e 
Saúde, Promoção da Saúde, Capital Social e Saúde, e a segunda “Políticas Públicas, 
Planejamento, Gestão e Avaliação em Saúde”. 
A primeira linha tem a ver com a área do meu doutorado, Epidemiologia, e inclui 
o estudo sobre as doenças bucais e distribuição nas populações e seus determinantes 
sociais. Meu estudo de doutorado, Políticas Públicas e qualidade de vida: um estudo 
epidemiológico sobre a perda dentária, utilizou-se de metodologia qualitativa sobre a 
percepção da perda dentária, tema muito relevante que possibilitou uma publicação na 
Revista Ciência & Saúde Coletiva que, como já destaquei, teve 113 citações desde 
2005, segundo o Google Scholar (GS). 
Este estudo foi realizado numa época não muito distante, em que o serviço 
público oferecido para a saúde bucal nos municípios se restringia à Atenção Primária, 
para a faixa etária até 14 anos e gestantes. Os demais, quando tinham necessidades 
que incluíam tratamento endodôntico ou periodontal, precisavam procurar o serviço 
privado, não acessível para a grande maioria. Isso acarretava quase sempre a 
exodontia de elementos que poderiam ser conservados, causando um edentulismo 
precoce. Como ainda não havia o programa Brasil Sorridente (2004), que trouxe a 
possibilidade da oferta à prótese nos serviços, os pacientes precisavam procurar 
também pelo serviço privado para a reabilitação. Muitos permaneciam desdentados e, 
consequentemente, com problemas na convivência social, na busca de trabalho e 
também funcionais (mastigação). 
Ainda nessa linha de pesquisa, destaco minha pesquisa sobre fluorose 
endêmica, realizado no norte de Minas Gerais, em parceria com as professoras Leila 
Menegasse e Lúcia Fantinel da Geociências da UFMG. Esse projeto foi financiado pela 
Fapemig e tinha como objetivo o estudo da causalidade e das consequências da 
fluorose endêmica na região. Também estiveram envolvidas as alunas Sandra Lúcia 
Gonçalves, mestranda que eu orientava e cujo estudo era sobre a Representação da 
41 
 
fluorose dentária elaborada por mães e jovens acometidos, e Thalita Tyrsa de Almeida 
Santa Rosa, doutoranda que coorientei na pesquisa Tratamento restaurador estético e 
qualidade de vida de pacientes com fluorose grave na Região Nortede Minas Gerais: 
um estudo longitudinal. O projeto foi muito importante porque levantou que em 22 
cidades do norte de Minas Gerais, onde há seca constante, muitas cisternas foram 
abertas, inclusive pelo poder público, e a água não foi examinada para o teor de flúor. 
Isso resultou em fluorose endêmica grave na região, com deformidades dentárias 
extensas. Não houve, também, tentativa de restauração dos elementos dentais pelo 
serviço público, causando graves problemas para aquela população. O grupo da 
Geologia iniciava o trabalho colhendo material das águas profundas, enquanto o da 
Odontologia examinava as crianças dessas áreas. Ao final, uma proposta de 
restauração de dentes anteriores foi realizada e a avaliação mostrou que o êxito foi 
total. Esse trabalho está sendo monitorado até os dias de hoje. 
“Região Metropolitana de Belo Horizonte: Aspectos Objetivos e Subjetivos de 
Saúde Bucal do Adulto” foi outro projeto importante que tinha como objetivo o estudo 
epidemiológico de saúde bucal dos adultos da região metropolitana de Belo Horizonte e 
recebeu recursos da Fapemig. Envolveu vários professores do OSP e alunos de pós-
graduação, tendo eu orientado duas alunas de doutorado (Aline Mendes Silva, Fatores 
determinantes da dor de dente e o impacto na vida diária de indivíduos residentes em 
Betim-MG 2012; Maria de Lourdes Carvalho Bonfim – Doença periodontal em adultos 
da região metropolitana de Belo Horizonte [zona urbana]: aspectos objetivos e 
subjetivos) e uma aluna de mestrado (Loliza Chalub Figueiredo Houri – Desempenho 
do índice Periodontal Comunitário na determinação da condição periodontal: enfoque 
no exame parcial). A saúde bucal do adulto brasileiro, segundo o SB 2003, era muito 
preocupante, com CPOD maior que 20, sendo o componente P (dentes perdidos) o 
responsável pelo maior percentual do índice. Belo Horizonte fizera parte do 
levantamento nacional, mas sua região metropolitana, composta de 33 municípios, não 
participou. Como esses municípios não ofereciam ainda serviços de saúde bucal para 
os adultos, a não ser a exodontia, a hipótese era de que a situação de saúde bucal 
deveria ser muito pior, o que foi confirmado. Os registros de dor de dente no ano da 
coleta de dados foram muito maiores que os observados no levantamento brasileiro, 
42 
 
assim como os problemas periodontais. 
O projeto de pesquisa “Promoção da Saúde Contextualizada em Comunidades 
Escolares e seu Entorno” também merece destaque pelas parcerias que realizou. 
Tratou-se de cooperação internacional com o Mercosul, visando o crescimento na área 
de pesquisa e produção de conhecimento tanto no Brasil como na Argentina (Córdoba) 
e no Chile (Concepción). Como o grupo da Faculdade de Odontologia de Córdoba já 
realizava trabalhos na área de Promoção de Saúde, o intercâmbio foi extremamente 
rico, tratando temas como alimentação com uma metodologia já consolidada na 
detecção de alimentação indevida na merenda escolar, avaliando o lixo após o horário 
de recreio. A convivência com as pesquisadoras Marcella Bela, Elena Hillas, Suzana 
Cornejo foi bastante enriquecedora para o nosso grupo, ao trazerem experiências em 
diversas novas possibilidades de análise de dados em metodologias qualitativas, além 
de muitas reflexões sobre a promoção de saúde. 
Já o estudo “Qualidade de Vida em Crianças de 7 a 10 Anos” tinha como objetivo 
entender o que escolares brasileiros dessa faixa etária consideravam ser boa qualidade 
de vida. Até então, vários instrumentos de avaliação de qualidade de vida em crianças 
já haviam sido criados, mas em todos foram os pais e os professores que ajudaram 
construir ou responder ao questionário. Como método diferente, nosso estudo foi 
realizado em uma escola pública de Contagem e as crianças foram convidadas a fazer 
desenhos sobre “um bairro feliz” e, em seguida, criar narrativas sobre os desenhos. 
Essas narrativas foram analisadas e os resultados apontaram para uma percepção 
diferente, com dimensões que os instrumentos internacionais construídos anteriormente 
para medir qualidade de vida em crianças ainda não haviam contemplado, como 
valores morais e violência. Uma aluna de mestrado, Elaine Ferreira Campos, esteve 
envolvida nesse projeto. 
Outro projeto que considero muito relevante dentro dessa primeira linha de 
pesquisa é o “Violência e saúde no idoso”, em parceria com o grupo de pesquisa 
Violência e Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG, tendo um aluno de doutorado 
meu envolvido, Paulo Henrique Maia. O objetivo desse estudo transversal realizado na 
cidade de Betim foi analisar a situação de violência do idoso e relacioná-lo com saúde e 
43 
 
seus determinantes sociais. O estudo demonstrou que os idosos eram vítimas de 
violência principalmente dentro do próprio local onde viviam e, geralmente, de seus 
parentes próximos e, sobretudo, por causa do “seu dinheiro”. 
Dentro da segunda linha de pesquisa – Políticas Públicas, Planejamento, Gestão 
e Avaliação em Saúde –, devo realçar o estudo “Uma Nova Clínica de Atenção Básica”, 
em parceria com a Coordenação de Saúde Bucal da Secretaria Municipal de Saúde de 
Belo Horizonte. Realizou-se uma avaliação da nova proposta de atendimento clínico 
que a coordenação estava propondo naquele momento, avaliando a qualidade e a 
agilidade na prática clínica, como, por exemplo, o custo/benefício do uso do ionômero 
de vidro para restaurações definitivas. A Coordenação concordou que alguns dentistas 
da rede fossem treinados e qualificados para fazer este trabalho, inserindo-os nessa 
pesquisa. O trabalho foi importante na consolidação de parceria com a prefeitura, o que 
possibilitou, em seguida, a proposição do curso de Especialização em Saúde Coletiva 
para todos os profissionais da rede. 
Outros estudos de avaliação merecem ser comentados, entre os quais, “Impacto 
da Prótese Dentária Removível na Qualidade de Vida de Usuários do SUS em Belo 
Horizonte, MG” e “Percepção de Cirurgiões-Dentistas sobre a Prótese Parcial 
Removível Acrílica da PBH”. O primeiro foi realizado por um aluno de mestrado 
acadêmico que era profissional da rede, Marco Túlio Souza, e avaliou as próteses totais 
ofertadas pela PBH na Atenção Primária, tanto pela visão dos usuários quanto pela 
qualidade delas. O resultado mostrou grande satisfação dos usuários da prótese e 
qualidade considerada, em média, regular pelos indicadores utilizados. Já o segundo foi 
realizado por uma aluna do mestrado profissional também da rede da PBH, Rita de 
Cássia Silva, e verificou se os profissionais da rede estavam fazendo as próteses 
acrílicas (consideradas provisórias), quanto tempo elas costumavam permanecer na 
boca dos usuários, qual a técnica utilizada, se os profissionais se consideravam aptos 
para confeccioná-las e o que pensavam sobre essa prótese. Foi um trabalho relevante 
também por detectar que a prótese acrílica acabava por ser definitiva, uma vez que a 
mudança para a cromo-cobalto demorava muito e muitas vezes nem acontecia. 
Ainda dentro dessa linha de pesquisa, o estudo “Absenteísmo à Consulta 
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Odontológica de Crianças de 5 Anos: o caso de Belo Horizonte” buscou entender por 
que as crianças agendadas pelo Programa Saúde na Escola para o tratamento não 
compareciam às consultas. O problema visualizado mostrou que, embora os indivíduos 
dessa faixa etária tivessem grande necessidade de tratamento, fato que ficou claro no 
último levantamento de saúde bucal, os pais, ainda assim, não se preocupavam com 
isso. Contando com o envolvimento de uma aluna de mestrado acadêmico, Taiomara 
Mania, o resultado apontou para ruídos entre pais, escola e UBS, além de problemas 
com agendamentos longínquos que, no geral, caíam em esquecimento. 
A necessidade de melhorar a busca ativa para pacientes com alterações de 
mucosa que poderiam levar à neoplasia bucal, outra questão levantada por uma aluna 
de mestrado profissional, Jussara Guimarães, resultou

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