representou uma grande mudança no cenário da Faculdade e da própria UFMG, superando o descrédito pela ausência de experiência clínica dos professores já em atividade e promovendo uma significativa expansão do seu quadro docente, visto que em menos de quatro anos conseguiu a contratação de mais seis professores. Eu fui a segunda dessa lista, seguida pelas professoras Efigênia Ferreira e Ferreira e Mara Vasconcelos, e pelos professores João Henrique do Amaral e Marcelo Faria. É importante lembrar ainda que essa Clínica suscitou nos professores do OSP a necessidade da qualificação docente, principalmente na área clínica. Nesse sentido, o 23 OSP realizou um Plano de Capacitação Docente, determinando a ordem e o tempo para cada um dos professores fazer o mestrado. Assim, as professoras Cristina Viana e Marisa Drumond cursaram o mestrado nas áreas de Odontopediatria e Endodontia, respectivamente; eu e a professora Elza Araújo, na área de Periodontia, tendo eu iniciado em 1989, como já relatei no capítulo anterior. Em seguida, a professora Efigênia Ferreira e Ferreira fez o mestrado na área de Clínica Integrada. Em 1999, dezoito anos após a sua inauguração, com mudança substancial naquela comunidade em relação à violência, uma aluna foi atingida por uma bala perdida quando saía da Clínica, o que acarretou uma pressão por parte dos corpos docente e discente da Faculdade pelo seu fechamento, tornando insustentável sua continuidade. Um fato extremamente relevante e inesquecível, ocorrido ainda no final de 1983, logo após minha entrada no Departamento, foi a visita ilustre do professor Paulo Freire, trazido pelo colega Renato Quintino dos Santos, pró-reitor de Extensão da UFMG à época. Esse encontro contribuiu muito para o fortalecimento do trabalho que nós professores fazíamos na Barragem Santa Lúcia. Houve um momento de discussão sobre a nossa prática, sobre educação popular, processos de educação para a formação na área da saúde, ética e violência. Foi um encontro curto que não só nos encantou pela palavra, pelo conhecimento e pela experiência do educador pernambucano, mas principalmente nos instigou a continuar lutando pelo que acreditávamos no ensino e na prática na área da saúde. Ainda nesse período (1984-1987), fui convidada pelo professor Marcos Werneck para ser subchefe do OSP junto com ele. Não tinha experiência suficiente para esse cargo, mas fui incentivada pelos demais professores a aceitá-lo. Foi muito importante começar ainda cedo a experiência na administração acadêmica e ir compreendendo devagar o funcionamento da universidade. Comecei a frequentar eventualmente as reuniões de Congregação e a me interessar pelas questões que permeavam todas as áreas na Faculdade. Ao término desse mandato, me candidatei e fui eleita representante (1989-1991) dos professores auxiliares na Congregação, com o intuito de continuar participando das decisões maiores da Faculdade. 24 4.2. Período 1990-99 Em 1990, o professor Badéia Marcos apresentou à diretoria da Faculdade uma proposta de avaliação do curso de Odontologia por meio de uma análise prospectiva, que utilizava os critérios da Resolução do Conselho Federal de Educação, as propostas de integração ensino-serviço e as novas diretrizes do SUS como parâmetros, projeto criado pelo Ministério da Saúde (MARCOS, 1989). Após a aprovação, foi formado um grupo com representação de docentes de todos os departamentos, alunos da graduação e pós-graduação (mestrado) e funcionários. Nesse momento, eu estava cursando o Mestrado em Periodontia e fui indicada como representante dos alunos, uma vez que já estava estudando o tema como trabalho final. A avaliação apontou também os problemas encontrados no currículo da graduação e na sua prática, semelhantes aos que eu tinha encontrado em meu estudo. A partir daí, o Colegiado de Curso de Graduação passou a discutir um novo modelo curricular, que também foi exaustivamente avaliado pelos departamentos, cujo novo currículo foi aprovado e passou a ser implantado em 1992. O projeto pedagógico do novo currículo pressupunha, também, o Convênio com o Sistema Único de Saúde (SUS) na Atenção Primária e em algumas especialidades como endodontia e periodontia. Todos os pacientes das disciplinas de Clínica Integrada de Atenção Primária passaram, então, a ser encaminhados pela Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte. Com o novo currículo, novas disciplinas foram criadas, o que foi outro grande desafio para o OSP. A principal proposta de mudança se concentrou num eixo de complexidade crescente que criava, do 4º ao 8º período, as Clínicas Integradas de Atenção Primária I, II, III e V (intramuros) e a IV (extramuros, na Barragem Santa Lúcia). No 8º período criou-se também o Estágio Supervisionado em Odontologia, com prática em Unidades Básicas de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, trabalho clínico compartilhado com as equipes de saúde bucal. Todas essas disciplinas tinham caráter interdepartamental com professores do quadro já existente na FOUFMG. 25 A proposta nova fazia uma hierarquização das disciplinas tal como no modelo proposto pelo SUS – Atenção Primária, Secundária e Terciária. Nesse sentido, um dos elementos estruturais importantes foi a articulação do ensino de graduação com um sistema de atenção à saúde organizado por níveis de referência, ou seja, clínicas que acolhem o paciente e orientam o cuidado à saúde de acordo com suas necessidades, sendo eliminada a triagem do paciente segundo as necessidades das disciplinas, como acontecia no currículo anterior. O aluno tem, então, condição de considerar o paciente na sua totalidade e, assim, compreender melhor os determinantes sociais da saúde. A abordagem passa a ser desde o diagnóstico e tratamento até a manutenção preventiva. Nesse novo currículo, o Departamento passou a coordenar duas disciplinas clínicas: Clínica Integrada de Atenção Primária I (CIAP I), uma clínica intramuros com atendimento de adolescentes; e CIAP IV, na Clínica da Barragem Santa Lúcia. Com essa nova proposta fui indicada pelo OSP para encarar o desafio de criar, organizar, implantar e coordenar a CIAP I, além de participar da criação da CIAP V, algum tempo depois. A implantação da Clínica Integrada de Atenção Primária, em 1992, originou-se a partir da evolução do significado da integração de áreas do conhecimento, visando ao aprimoramento técnico-científico e humanista do aluno. A ideia era que a CIAP possibilitasse a formação de um futuro profissional com visão integral das necessidades e expectativas do paciente. Implantar a CIAP I foi muito difícil. Para cumprir a carga horária teórica e prática foi necessário que a Congregação da Faculdade estabelecesse um mínimo de 15 horas de aula frente aluno para todos os professores com regime de 40 horas. Outra decisão foi que todos os docentes de todos os departamentos, para completarem as 15 horas, seriam incluídos nas CIAP, pois se tratava de novas disciplinas e não seria possível, naquele momento, abrir vagas para novos professores. Isso solucionou em parte o problema, mas terminou por criar novos. Vários professores do Departamento de Clínica, Patologia e Cirurgia Odontológica (CPC) foram lotados nas CIAP, onde seriam executados procedimentos diversos, como 26 restaurações plásticas diretas, que os docentes não se sentiam preparados para ensinar. Foi necessária, então, a discussão de protocolos e viabilização de cursos de reciclagem. Com o passar dos anos, a equipe foi ficando mais coesa, professores novos foram contratados e os que continuavam desconfortáveis deixaram a disciplina. Além dessa questão dos docentes nas aulas práticas, os alunos da CIAP I se encontravam no 4º período, portanto, não haviam tido nenhuma experiência clínica, somente conteúdos de restaurações plásticas realizados em manequim. Isso