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Aspectos Jurídicos da Abordagem Policial – Módulo 1 
SENASP/MJ - Última atualização em 10/10/2009 
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Bem-vindo ao curso 
Aspectos Jurídicos da Abordagem Policial 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Créditos 
Maj PMDF Julian Rocha Pontes 
Cap PMDF Juvenildo dos Santos Carneiro 
2º Ten PMESP Fem. Inaê Pereira Ramires 
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Apresentação 
 
O curso “Aspectos Jurídicos da Abordagem Policial” é composto por três módulos. A 
divisão dos assuntos foi elaborada para facilitar o aprendizado, os conhecimentos 
serão apresentados gradativamente, mantendo correlação lógica entre suas aulas e 
módulos. A todo o instante a proposta é buscar ligação entre os assuntos e as 
experiências vivenciadas no cotidiano policial, possibilitando o desenvolvimento dos 
objetivos gerais e específicos traçados. 
 
Para que você tenha uma ideia do caminho a ser percorrido, observe os objetivos 
estabelecidos para o curso, contudo, vale ressaltar que os mesmos foram traçados 
com a percepção voltada para a sua aprendizagem. 
 
Ao final do curso, você será capaz de: 
 
● Identificar os direitos e garantias fundamentais do cidadão no ordenamento pátrio 
e legislação internacional; 
● Apontar os requisitos legais indispensáveis à realização da abordagem pessoal e 
domiciliar; 
● Identificar os principais delitos penais correlacionados ao tema; 
● Reconhecer quais são os entendimentos jurisprudenciais dos principais tribunais 
superiores do país; 
● Aplicar corretamente os direitos e garantias fundamentais na abordagem policial; 
● Apontar os principais ilícitos penais cometidos, em tese, pelo cidadão infrator 
durante a abordagem policial; 
● Reconhecer as consequências jurídicas da realização da abordagem pessoal ou 
domiciliar alheia à legalidade, proporcionalidade e necessidade; e 
● Reconhecer o valor e a importância dos direitos e garantias fundamentais da pessoa 
humana, na atividade de Segurança Pública. 
 
 
 
 
 
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Para alcançar os objetivos, você estudará os seguintes módulos: 
 
Módulo 1 – Os principais aspectos das normas constitucionais e da legislação 
internacional relacionadas à atuação policial no contexto do Estado Democrático de 
Direito. 
 
Módulo 2 – Aspectos jurídicos relacionados à abordagem policial. 
 
Módulo 3 – Aspectos jurídicos que balizam a ação policial diante dos crimes de 
constrangimento ilegal, corrupção passiva, resistência, desobediência, desacato e 
corrupção ativa. 
 
Antes de iniciar os estudos dos módulos, reflita sobre algumas questões pertinentes à 
ação do profissional da área de Segurança Pública, lendo a contextualização. 
 
Contextualizando 
 
Antes de iniciar o estudo dos módulos, leia o texto a seguir e reflita sobre a questão que ele 
apresenta. 
 
O Estado Democrático de Direito idealizado e desejado pelo constituinte originário caminha a 
passos firmes rumo à sua solidificação no Brasil. Não há quem não defenda a Lei Fundamental 
de 1988. Nesse contexto, o Estado deixou de ser um fim em si mesmo e, gradativamente, 
focou seus esforços na satisfação dos legítimos interesses da sociedade. 
 
O cidadão passou a ter consciência de seu papel e importância no contexto social. Abandonou 
as praxes passivas e, em postura ativa, exige, a todo instante, a concretização e preservação 
de seus direitos e garantias, sejam individuais, coletivos ou difusos. Dessa situação, 
imposições arbitrárias, apoiadas exclusivamente na vontade da autoridade, não são mais 
aceitas como outrora. Toda e qualquer restrição a direitos deve encontrar fundamento na 
legalidade, proporcionalidade, necessidade e adequação, caso contrário será combatida pelos 
seus destinatários. 
 
Essa nova relação construída entre o cidadão e o Estado exige do agente público (Conceito 
adotado em seu sentido amplo) o desenvolvimento de seu labor (trabalho) com probidade, 
impessoalidade, moralidade, eficiência, dentre outros. Tamanha a importância dessas 
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qualidades que foram elevadas à condição de princípios, conforme se obtém da simples 
leitura do caput do artigo 37, da Constituição Federal, permearem todos os aspectos 
inerentes à Administração Pública. 
 
Muito ainda há que se fazer para que o cidadão tenha serviços públicos condizentes com a sua 
dignidade, porém, são explícitas as melhoras já alcançadas. Nesse contexto, importa salientar 
que a exigência de concurso público para a investidura em cargo ou emprego público, as 
diversas formas de controle da administração, o regramento da responsabilidade civil do 
Estado, por exemplo, consolidam a democratização e a transparência vivenciadas 
atualmente. 
No entanto, em todo esse desenvolvimento experimentado, o certo é que a vida em 
sociedade ainda clama pela presença do Estado. A sociedade para manter sua sobrevivência 
impõe normas de condutas a serem seguidas. Ao ser humano não é permitida a livre e 
incondicionada satisfação de seus interesses. Caso contrário, retornaríamos à barbárie, a um 
estado de natureza, situação em que só os mais fortes encontrariam voz. E mais, por vezes, a 
harmonia social é quebrada por conflitos de interesses. Diante disso, dependendo da natureza 
do bem jurídico, o Estado deixa à vontade da parte sua solução ou intervém de modo brando. 
Mas, quando os valores de maior relevo para a sociedade são violados, o Estado age de forma 
mais enérgica, impondo punições mais graves, inclusive com a privação da liberdade aos seus 
transgressores. A aplicação da sanção penal se for o caso, só atinge o cidadão infrator após 
regular processo que, além de fornecer elementos de convicção ao julgador, destina-se a 
fornecer ao denunciado a oportunidade de exercitar sua ampla defesa. Nesse âmbito estão 
inseridos os órgãos componentes da Segurança Pública relacionados, juntamente com suas 
atribuições, no artigo 144, da Constituição Federal. 
 
Apesar da preservação da ordem pública e proteção das pessoas e do patrimônio ser 
responsabilidade de todos, antes de tudo, é dever do Estado. Dentro desse aspecto, tem-se a 
perseguição penal promovida pela polícia judiciária, tão importante quanto é o trabalho 
desempenhado pela chamada polícia ostensiva na prevenção e repressão imediata do delito. 
Para o desempenho de suas atividades, as polícias fazem uso do dever-poder de polícia, que 
em resumida análise, é a limitação do exercício de direitos individuais em benefício do 
interesse público. 
Extrai-se como importante instrumento do dever-poder de polícia, a busca pessoal, ou seja, a 
abordagem como prática comum no cotidiano policial. Em outras palavras, o policial ao 
cumprir sua atribuição no sentido de prevenir ou reprimir delitos, exerce atividades que 
interferem na rotina e nos direitos básicos das pessoas, seja para identificá-las, seja para 
encontrar e apreender armas de fogo ou substâncias entorpecentes, dentre outras. Mas, vale 
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ressaltar que existe uma limitação, mesmo que temporária, no gozo de alguns direitosindividuais. Essas ações encontram amparo no ordenamento jurídico pátrio, pois visam 
proteção do interesse público, representado pela manutenção da ordem e da paz, e dos 
próprios indivíduos. 
 
IMPORTANTE! 
A atividade policial, com nítida natureza de ato administrativo, encontra limites que buscam 
tutelar (proteger) a dignidade humana, bem como a legitimidade da atuação estatal. 
 
O profissional de Segurança Pública deverá agir dentro das balizas definidas em lei, alinhado 
com o propósito firme de ser um agente defensor da dignidade da pessoa humana. O bom 
policial é justamente aquele que defende a sociedade por meio da proteção de seus 
indivíduos, e isso implica, obrigatoriamente, em enxergar o cidadão, mesmo que infrator, 
como detentor de direitos e garantias fundamentais, inerentes à sua condição de pessoa 
humana. 
 
Você é um profissional da área de Segurança Pública, portanto, seu promotor. 
Em sua corporação, seja militar ou civil, as pessoas, independentemente de suas 
características, são tratadas e vistas como cidadãos? O infrator da lei, apesar da natureza do 
delito perpetrado, é respeitado em sua dignidade? 
 
Saiba que não é objetivo desse curso fornecer respostas exatas às indagações e, sim, em 
conjunto com você, criar condições para que você possa construir conhecimentos condignos 
com o Estado Democrático de Direito experimentado em nosso país. 
 
 
Bom curso! 
 
 
 
 
 
 
 
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Módulo 1 - As normas constitucionais, a legislação internacional 
e atuação policial 
 
Neste módulo, você estudará o enfoque do ordenamento constitucional e da 
legislação internacional ligada aos direitos humanos. Por certo, é na Constituição de 
1988 que se encontram os fundamentos da República Federativa do Brasil, com 
ênfase para a dignidade da pessoa humana, bem como os direitos e garantias 
fundamentais. Além disso, você também discutirá os princípios da proporcionalidade 
e razoabilidade, importantes balizas para o desenvolvimento das atividades da 
Administração Pública, que de acordo com o § 6º, do artigo 37, da Constituição 
Federal, responderá pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a 
terceiros. Em consequência, a responsabilidade civil do Estado será tocada. Por fim, 
analisará as atribuições dos diversos órgãos componentes do sistema de Segurança 
Pública do país. 
Ao final do módulo, você será capaz de: 
 
● Identificar as normas constitucionais, além dos princípios e regras internacionais 
relacionados aos direitos e garantias fundamentais; 
● Descrever a importância dos direitos humanos e da cidadania dentro do contexto 
atual, com ênfase nos movimentos sociais; 
● Defender a necessidade da atuação estatal na efetivação do bem comum; 
● Apontar as justificativas e as características dos direitos fundamentais e da 
dignidade da pessoa humana; 
● Delinear os elementos e características que configuram a dignidade da pessoa 
humana na solução de problemas; 
● Nomear as restrições e supressões legais aos direitos humanos fundamentais; 
● Aplicar, no caso concreto, as habilidades e conhecimentos técnicos sem descuidar 
das limitações jurídicas; 
● Reconhecer o princípio da proporcionalidade como balizador da atividade policial; 
e 
● Reconhecer as limitações constitucionais da atuação policial e as consequências 
dos desvios desses limites na extensão da responsabilidade. 
 
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O conteúdo deste módulo está dividido em 4 aulas: 
 
Aula 1 – Principais conceitos 
Aula 2 – Direitos e garantias fundamentais 
Aula 3 – Limitações constitucionais em face à atuação policial 
Aula 4 – Os órgãos de Segurança Pública: limites e atribuições 
 
Aula 1 – Principais conceitos 
 
O processo de conscientização de direitos e deveres fez com que os membros da 
sociedade, considerando a evolução social, econômica e cultural, vivenciada no 
mundo e, em especial no Brasil, exigissem a mudança de paradigmas (modelos) na 
atuação do Estado, de seus poderes e de seus órgãos. Assim, os agentes públicos 
devem estar aptos a absorverem essa realidade. 
 
Esse contexto é nitidamente sentido na área de Segurança Pública, que inspira a 
proposta do curso, de conduzir você, policial, a essa realidade, para que sua 
atuação seja apta a produzir os efeitos esperados pelo cidadão, uma prestação de 
serviço público adequada, eficiente e em consonância com direitos e garantias 
fundamentais, propulsores da dignidade da pessoa humana, dos direitos humanos. 
 
Nessa aula, você estudará: 
 
● A concepção básica do que vem a ser uma Constituição, sua importância para a 
estrutura, organização e competências do Estado; e 
 
● Os princípios e regras internacionais que norteiam a atuação policial no exercício 
da preservação da ordem pública e da incolumidade (proteção) das pessoas e do 
patrimônio, como vetores da defesa do Estado e das instituições democráticas. 
 
Reflita sobre estas questões antes de começar. 
 
Como agente policial, você tem noção das finalidades, objetivos e fundamentos 
do Estado brasileiro? 
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Você sabe quem cria e como é criado o Estado? 
 
E quais seriam as influências que ele pode sofrer nas relações internacionais 
envolvendo as questões de direitos humanos? 
 
Constituição Federal como norma de organização e estruturação do Estado e 
disciplinadora de suas finalidades. 
 
A Constituição Federal de 1988 constitui a Lei Fundamental que traça a estrutura 
organizacional básica dos poderes e o funcionamento do Estado brasileiro, com o 
objetivo único de atender as necessidades da coletividade, do povo. Também nela 
se definem os direitos e garantias fundamentais, individuais e coletivos, como forma 
de limitar o exercício dos poderes pelo Estado, com o intuito de evitar abusos e 
arbitrariedades. 
 
A Lei Fundamental é fruto do anseio de um povo organizado, que, em dado 
momento, se reúne em um grupo de pessoas, com vínculo de origem étnica ou 
cultural comum, para firmar a vontade das forças determinantes da sociedade, 
estabelecendo os fundamentos de sua convivência e de seu destino. 
 
Nessa órbita, o povo é o titular do poder constituinte originário, que diretamente 
ou por meio de seus representantes (deputados e senadores), de forma soberana, 
inicial, ilimitada e incondicionada, elabora a Constituição. 
 
 
 
 
 
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Poder constituinte 
 
O poder constituinte originário (PCO) é aquele capaz de criar uma nova ordem constitucional, 
sendo inicial, ilimitado e incondicionado. 
O titular do PCO é o povo (art. 1º, parágrafo único, CF/88). 
O exercício do PCO é efetivado pelos representantes do povo, chamados de constituintes 
(deputados e senadores). 
É inicial porque inaugura uma nova ordem jurídica, rompendo por completo com a ordem 
antecedente. 
É ilimitado porque não está sujeito a regras anteriores (Obs.: Os jusnaturalistas que 
defendem a existência de um “direito natural” acima daquele estabelecido pelo homem 
sustentam que o poder constituinte originário deve observância ao direito natural. Essa tese 
não é adotadano Brasil). 
 
É incondicionado porque não está submetido a regras procedimentais para elaboração da 
nova ordem jurídica. 
 
Enfim, o objetivo fundamental do poder constituinte originário é criar um novo Estado, uma 
nova ordem jurídica, não importando que a nova Constituição ocorra de movimento 
revolucionário ou de assembleia popular. 
 
É importante dizer para você que a Constituição cria e estrutura o Estado como uma 
instituição organizada política, social e juridicamente, com a responsabilidade de 
constituir e estabelecer as bases do controle social e o desenvolvimento de um país, 
de uma nação. 
 
Isso tudo se resume, como já dito, no objetivo único de promover o bem comum, 
proporcionando a toda a sociedade: saúde, emprego, moradia, educação, 
previdência, segurança, etc. 
 
Para compreender melhor essa questão é necessário entender a lição de Jean-
Jacques Rousseau (1762), cuida-se de um verdadeiro contrato social celebrado entre 
a sociedade e o Estado, onde cada indivíduo cede uma parcela de sua liberdade em 
benefício do todo, conferindo ao ente público os poderes necessários para que ele 
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regule as relações sociais, defendendo e protegendo cada pessoa, e seu respectivo 
patrimônio, de eventuais agressões e ameaças. 
 
Por isso que se paga tributos ao Estado (impostos, taxas, contribuições, etc), e se 
permite, por meio das leis, que seus agentes interfiram nos direitos e liberdades de 
cada cidadão. 
 
Avançando na ideia inicial, através da CF/88, o Brasil adotou como forma de governo 
a República – organização política que visa a coisa pública, o interesse comum –, 
como forma de Estado o federalismo – organização descentralizada, tanto 
administrativa quanto politicamente, proporcionando a repartição de competências 
entre o governo central e os estados-membros, que deliberam sobre os rumos da 
nação – e constitui-se em um Estado democrático de direito, que é destinado, 
através da proteção jurídica e material, a garantir o respeito das liberdades civis, 
dos direitos humanos e garantias fundamentais. Para tanto sua estrutura tem por 
fundamento a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores 
sociais do trabalho, a livre-iniciativa e o pluralismo político. 
 
Em decorrência, percebe-se que os mandatários políticos (presidente, 
parlamentares, prefeitos, etc), os integrantes dos poderes (Executivo – Que 
administra e aplica as leis; Legislativo – Que edita as leis; e, Judiciário – Que julga os 
conflitos e a inobservância das leis e da Constituição) e dos órgãos do Estado (ex.: 
Segurança Pública) estão sujeitos às regras de direito, às leis, cumprindo-lhes, então, 
proteger e respeitar as liberdades civis, o respeito pelos direitos humanos e 
liberdades fundamentais. 
 
Também não se deve esquecer os objetivos traçados para o Estado, quais sejam: 
● De construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
● Garantir o desenvolvimento nacional; 
● Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e 
regionais; e 
● Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e 
quaisquer outras formas de discriminação. 
 
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Tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos 
 
Dentro da concepção apresentada até aqui, cabe dizer que o Estado brasileiro é 
regido nas suas relações internacionais pelos princípios da prevalência dos direitos 
humanos, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio ao terrorismo e ao 
racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade, dentre outros. 
 
Assim, os direitos e garantias expressos na Constituição não excluem outros 
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou contidos em tratados 
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte (§2º, art. 5º, da 
CF/88). Sendo possível, ainda, os tratados e convenções internacionais sobre direitos 
humanos, aprovados no Congresso Nacional, assumirem o status de emendas 
constitucionais, i.e., acima das demais leis (§3º, art. 5º, da CF/88). 
 
A questão dos direitos humanos, como se vê, assume relevância em nossa ordem 
constitucional, pois que diz respeito a certas posições essenciais ao homem ao longo 
de sua evolução histórica. Por assim dizer, suas bases assumem uma vocação 
universalista, supranacional, razão pela qual são objeto de tratados ou convenções e 
em outros documentos de direito internacional. 
 
Nessa medida, sem ingressar nas discussões que são travadas entre autores, bem 
como em nossos tribunais, no contexto atual, por conta das disposições 
constitucionais já citadas, quando o Brasil celebra algum tratado internacional que 
verse sobre direitos humanos, estes podem ingressar em nosso ordenamento jurídico 
com status de normas constitucionais, merecendo especial tratamento pelo Poder 
Público. 
 
Você deve estar se perguntando: e se um tratado não alcançar o êxito de ser 
aprovado como norma constitucional, à luz do art. 5º, §3º, qual será o seu status? 
 
Cabe ressaltar que não será trabalhada a discussão travada na doutrina, mas sim na 
tese firmada no Supremo Tribunal Federal – STF, no sentido de que os tratados sobre 
direitos humanos que não forem aprovados de acordo com o §3º, do art. 5º, possuem 
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status de norma infraconstitucional (abaixo da Constituição), porém, supralegal, ou 
seja, acima da legislação interna. 
 
Para compreender melhor essa questão, leia o HC 90172 / SP 
http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=90172&c
lasse=HC&origem=AP&recurso=0&tipoJulgamento=M) Relator Ministro Gilmar Mendes 
e o RE 466.343-1/SP 
(http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=466343
&classe=RE&origem=AP&recurso=0&tipoJulgamento=M), Relator Ministro Cezar 
Peluso, datado de 03/12/2008. 
 
Nesse sentido, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu 
Protocolo Facultativo (assinados em Nova York, no dia 30/03/2007), foram os 
primeiros a serem aprovados pelo Congresso Nacional em observância ao §3º do art. 
5º da CF/88, consoante o Decreto Legislativo nº 186, de 09/07/08. Mas, somente em 
25/08/2009, por meio do Decreto Federal nº 6.949, passaram a compor a ordem 
jurídica pátria com status de norma constitucional (disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6949.htm>). 
 
De outro lado, existem alguns pactos que integram a ordem jurídica do Brasil, cujo 
conteúdo versa sobre direitos humanos, constituindo verdadeiros limites da atuação 
estatal, em especial para os órgãos policiais e jurisdicionais. 
 
Com efeito, é possível citar dois pactos que estabelecem direitos individuais para 
aqueles que se submetem à ação estatal, em face da sua atribuição de preservação 
da ordem pública. 
 
- O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966), adotado pela 
Resolução nº 2.200-A, da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 16/12/1966, foi 
aprovado pelo Decreto Legislativo nº 226, de 12/12/1991, ratificado pelo Brasil em 
24/01/1992. Entrou em vigor no Brasil em 24/04/1992 através do Decreto nº 592, de 
06/07/1992. 
 
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- Por sua vez, o Decreto nº 678/1992 promulgou a Convenção Americana sobre 
Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), em 22/11/1969. 
Em suma, tais pactos estabelecem regras e princípios em favor da pessoa que é 
submetida “à apuração de qualquer acusação de caráter penal formulada contra 
ela ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil”, tais como: 
 
● Presunção de inocência; 
● Direito a um julgamento justo por autoridade competente e imparcial; 
● Direito à privacidade; 
● Direito a não ser submetido à tortura, nem a penas ou tratamentos cruéis, 
desumanos ou degradantes; 
● Direito a não produzir prova contra si mesmo e o de permanecer calado; 
● Direito à comunicação prévia e pormenorizada da acusação formulada contra si; 
● Direito de defender-se e de constituir defensor; e 
● Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá ser 
conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei 
a exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de 
ser posta em liberdade, dentre outras. 
 
 
Aula 2 – Direitos e garantias fundamentais 
 
Nesta aula, você estudará os direitos e garantais fundamentais da dignidade da 
pessoa humana, como verdadeiros parâmetros de limitação dos agentes do Estado 
na consecução de suas atribuições. É imprescindível que você leia o artigo 5º, da 
Constituição Federal. 
 
Reflita sobre as questões abaixo antes de começar esta aula. 
 
Os excessos na atuação policial, frequentemente, são objetos de severas críticas 
que, invariavelmente, vinculam-nos à falta de preparação. De outro lado, 
empregando o provérbio “a polícia é uma presença que incomoda, mas, 
principalmente, uma ausência sentida”, sabe-se que o uso da força, a abordagem, a 
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efetivação de uma prisão, constituem procedimentos necessários para se alcançar os 
objetivos dos órgãos da Segurança Pública. 
 
Pensando na sua realidade e experiência profissional, qual sua ideia a respeito? 
Você acredita que seja possível minimizar e até eliminar as críticas sobre a 
legitimidade de uma intervenção policial? 
Direitos e garantias fundamentais 
 
Você estudou na aula passada que a Constituição Federal estabelece as normas de 
organização e estruturação do Estado, de seus poderes (Executivo, Legislativo e 
Judiciário) e de seus órgãos, para que possa atingir a finalidade pública e atender os 
interesses da coletividade. Também foi dito que a Carta Magna traça os direitos e 
garantias fundamentais com o intuito de limitar a atuação estatal, evitando as 
arbitrariedades, próprias de quem ocupa o poder. 
 
A partir de agora serão delineadas as bases do tema – direitos e garantias 
fundamentais –, para que se possa entender a razão pela qual tanto se fala em 
limitação de poderes e o porquê de sua existência. 
 
O Estado, através dos representantes do povo, quando age no sentido de decidir os 
rumos da nação, recebe poderes como verdadeiros instrumentos para atingir suas 
finalidades. Como ensina Alexandre de Moraes (2007), tais poderes delegados pelo 
povo não são absolutos, encontrando limitações nos direitos e garantias 
fundamentais. 
 
A concepção sobre o tema está vinculada à ideia básica de que o detentor do poder, 
invariavelmente, pode exorbitar suas finalidades, agindo com arbitrariedade.Vale 
lembrar que os poderes são os de editar leis (Legislativo), aplicá-las em favor e 
sobre os cidadãos, disciplinando as relações em sociedade (Executivo) e resolver 
as controvérsias decorrentes de conflitos nas relações sociais e a inobservância do 
direito (Judiciário). É bom dizer, empregando os ensinamentos do professor Paulo 
Gonet Branco (2008), que os direitos fundamentais constituem um núcleo, um 
conjunto de regras e princípios que visam proteger a dignidade da pessoa 
humana. 
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Essa concepção é fruto de uma evolução histórica desde a origem do homem, ser 
eminentemente gregário que se reúne em grupos a fim de aumentar sua força e 
possibilidades para perpetuar sua existência, para que possa assegurar sua 
sobrevivência. 
 
Esse conjunto de regras e princípios que tutelam a dignidade da pessoa humana 
possui algumas características que devem ser observadas. Segundo Paulo Gonet 
(2008), por maior que seja a dificuldade de se fixar as características desse instituto, 
é possível elencar as principais. Veja estas características a seguir. 
 
Características do conjunto de regras e princípios que tutelam a dignidade da 
pessoa humana 
 
● Universais: Atingem a todos os seres humanos, independentemente de idade, sexo, 
cor, escolaridade, posição socioeconômica. 
● Absolutos: Estão situados no patamar máximo da hierarquia jurídica, gozando de 
prioridade absoluta sobre qualquer interesse estatal ou coletivo. 
● Inalienáveis: Não podem ser submetidos à transmissão, venda ou negociação.- 
● Indisponíveis: Mesmo que o indivíduo renuncie o seu gozo, o Estado deve atuar no 
sentido de respeitá-lo e de protegê-lo. 
● Consagrados na ordem jurídica: Servem de traço distintivo em face dos direitos 
humanos, fruto de uma evolução histórica, de lutas, de valores e princípios de índole 
essenciais para o homem, ligados à sua existência, com bases jusnaturalistas, que 
antecedem às leis escritas. Os direitos fundamentais constituem-se na inserção dos 
direitos humanos na ordem jurídica concreta, que o Estado os reconhece como sendo 
essenciais e fundamentais, motivo pelo qual os vincula no sentido de dar especial 
proteção. 
● Limitativos dos poderes constituídos: Serão trabalhados mais adiante. 
● De aplicabilidade imediata: Não precisa de uma regulamentação 
infraconstitucional, ou seja, uma vez inserido na norma constitucional, o Estado 
deverá respeitá-lo. 
 
 
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Diferença entre direitos e garantias fundamentais 
 
De uma forma bem geral, os direitos representam por si bens, isto é, algo que está 
inserido no patrimônio ou tem como objeto imediato um bem específico da 
pessoa (vida, honra, liberdade, integridade física, etc.). Ao passo que as garantias 
representam um instrumento posto à disposição dos indivíduos para assegurar os 
direitos e limitar os poderes do Estado. Nessa medida, vários são os dispositivos 
contidos no art. 5º, da Constituição, que comportam esse conceito. 
 
Constituição - Art. 5º 
III - Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante; 
LVIII - O civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo 
nas hipóteses previstas em lei (vide Lei nº 10.054/2000); 
LXI - Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e 
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão 
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; 
LXII - A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados 
imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada; 
LXIII - O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer 
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado; 
LXIV - O preso tem direito à identificação dosresponsáveis por sua prisão ou por seu 
interrogatório policial; 
LXV - A prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; 
LXVI - Ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a 
liberdade provisória, com ou sem fiança; 
LXVIII - Conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar 
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por 
ilegalidade ou abuso de poder; 
LXIX - Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, 
não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela 
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no 
exercício de atribuições do Poder Público; 
LXX - O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: 
a) Partido político com representação no Congresso Nacional; 
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b) Organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e 
em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros 
ou associados; 
LXXI - Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma 
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e 
das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; 
LXXII - Conceder-se-á "habeas-data": 
a) Para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, 
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de 
caráter público; 
b) Para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, 
judicial ou administrativo; 
LXXIII - Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise anular 
ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à 
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, 
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da 
sucumbência; 
LXXIV - O Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que 
comprovarem insuficiência de recursos; 
LXXV - O Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar 
preso além do tempo fixado na sentença; 
LXXVII - São gratuitas as ações de "habeas-corpus" e "habeas-data", e, na forma da 
lei, os atos necessários ao exercício da cidadania; 
LXXVIII - A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável 
duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. 
 
O artigo 5º, da Constituição, em um primeiro momento, dá a entender que os 
destinatários da proteção jurídica e material são apenas os brasileiros e os 
estrangeiros residentes no país. Porém, é bom que fique claro que os estrangeiros em 
trânsito no território nacional também são beneficiados com a tutela estatal, 
conforme descrito nos artigos 1º, 3º e 4º da Constituição, onde fala da dignidade da 
pessoa humana, construção de uma sociedade livre justa e solidária, promoção do 
bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras 
formas de discriminação e a prevalência dos direitos humanos. 
Aspectos Jurídicos da Abordagem Policial – Módulo 1 
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Vinculação dos poderes públicos 
 
A inserção de regras e princípios na Constituição tem sua razão de ser centrada na 
magnitude (dimensão) dos valores mais caros da existência humana, que, por isso, 
devem estar resguardados em um documento jurídico supremo e com força 
vinculante máxima, tornando-se imune aos temperamentos ocasionais de quem ocupa 
o centro de poder, bem como das instabilidades políticas, religiosas, econômicas e 
sociais. 
 
Com efeito, a previsão dos direitos fundamentais na Constituição vincula a atuação 
do Estado, de seus poderes, de seus órgãos. Circunstância que impede a 
interpretação de que constituem simples autolimitações dos poderes, passíveis de 
serem alterados ou suprimidos ao talante desses, sob o mero argumento de vigorar o 
interesse do Poder Público na consecução de seus fins. 
 
Em razão disso é que esses valores recebem proteção especial do Estado, conhecida 
também como “cláusulas pétreas”, isto é, não podem ser objeto de deliberação 
sobre proposta de emenda à Constituição no sentido de lhes abolir (CF/88, art. 
60, §4º). 
 
Portanto, deve ficar claro que a informação contida avisa aos poderes constituídos, 
bem como a seus órgãos, que seus atos devem conformidade aos direitos e garantias 
fundamentais e se sujeitam à invalidação se os desprezarem, bem como à 
responsabilização de seus agentes nas esferas administrativa, civil e criminal. 
 
Constituição Federal 1988. Art. 60 
§4º- Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: 
I - A forma federativa de Estado; 
II - O voto direto, secreto, universal e periódico; 
III - A separação dos poderes; e 
IV - Os direitos e garantias individuais. 
 
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Pode-se concluir que os órgãos públicos que constituem a Administração (dentre eles, 
os da Segurança Pública) estão vinculados às normas de direitos e garantias 
fundamentais, pelo que seus agentes devem agir, interpretar e aplicar as leis 
segundo ao que se dita. Em outras palavras, a atividade da Administração Pública 
não pode deixar de respeitar os limites que lhe acenam os direitos fundamentais. 
Em especial, destacam-se as atividades discricionárias da administração, cuja 
margem de liberdade abre um leque de possibilidades para atuação do agente 
público, de acordo com a oportunidade e conveniência, como ocorre na abordagem 
policial, pautada essencialmente na fundada suspeita. 
 
Relatividade dos direitos e garantias fundamentais 
 
Com a contextualização mencionada, uma pergunta não escapa. 
 
Os direitos e garantias fundamentais assumem feição absoluta? São intangíveis ou 
intocáveis a todo o momento? 
A resposta evidente é que não. Isso porque, pelo Brasil ser um Estado de Direito, 
todos os membros da sociedade se submetem à lei, não podendo, dessa feita, se 
valer de direitos e garantias fundamentais para a prática de ilícitos, bem como se 
esquivar de uma eventual responsabilidade pecuniária, civil ou penal. Do 
contrário, os princípios estatuídos nas normas constitucionais estariam relevados à 
extinção material, uma verdadeira ruína, de anos de evolução da história humana. 
Pense na hipótese em que todas as pessoas viessem a praticar condutas sem limites, 
como conduzir veículo aonde bem quisesse ou invadir a residência de qualquer 
cidadão sem sua autorização. Uma reação em cadeia, sem precedentes, geraria a 
extinção do próprio ser humano. 
 
Entretanto, sabe-se que não é assim que funciona e, até hoje, o ser humano existe 
porque o direito impõe limites na pratica de condutas, nas relações sociais, enfim, 
no exercício de direitos. A isso Alexandre de Moraes (2007) chama de princípio da 
relatividade ou convivência das liberdades públicas, traduzindo, em suma, a ideia 
de que os direitos e garantias fundamentais consagrados na Constituição de 1988 não 
são ilimitados, encontrando restrições nos demais direitos estatuídos nessa Lei Maior. 
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 Página 20Faça uma leitura do artigo 78, do Código Tributário Nacional – CTN, que, por mais 
que seja subordinado aos tributos (impostos, taxas, contribuições, etc.) definindo 
poder de polícia, traduz com clareza a possibilidade de se limitar direitos em 
benefício da coletividade e, com isso, assegurar a estabilidade das relações em 
sociedade. Veja: 
 
Art. 78 Considera-se poder de polícia atividade da Administração Pública que, 
limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou 
abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à 
higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício 
de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder 
Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos 
individuais ou coletivos. (Redação dada pelo Ato Complementar nº 31, de 
28.12.1966 http://www.fiscosoft.com.br/indexsearch.php?PID=129072). 
 
Essa noção é extraída da concepção comum de que o Estado deve cumprir suas 
atribuições e de que o direito de cada pessoa acaba quando começa o de outra. 
Assim, o Estado, por seus órgãos, pode intervir na liberdade das pessoas, desde 
que seja para beneficiar a coletividade, para cumprir a sua finalidade. 
Dignidade da pessoa humana 
 
Não é preocupação aqui traçar a definição exata dessa expressão, no âmbito 
científico, já que tal tarefa é controvertida inclusive na doutrina, onde muitos 
autores travam discussões sobre o tema, expressando posicionamentos distintos uns 
dos outros. Fica à sua vontade a leitura de textos de autores que se dedicaram a essa 
aspiração. Mas, não se pode fugir da necessidade de ter uma noção geral e comum. 
Ela cuida de um princípio base do sistema jurídico pátrio, contido na Constituição de 
1988, onde todos os ramos do direito, o Estado e seus órgãos devem respeitar. 
 
Em suma, sua ideia central consiste na possibilidade de se assegurar um mínimo 
existencial à pessoa humana, sob o aspecto moral e material. 
 
Então, quando se considera que o princípio da dignidade da pessoa humana foi 
atendido? 
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Quando os valores morais e éticos, a liberdade, a intimidade forem respeitados, 
bem como quando for garantida a assistência material mínima (moradia, 
alimentação, educação, saúde, segurança, lazer) necessária à satisfação das 
necessidades humanas. Essa é a ideia por trás dos dispositivos contidos no artigo 
5º, da CF/88. 
 
 
 
Aula 3 – Limitações constitucionais em face à atuação policial 
 
Limitações constitucionais na atuação policial 
 
Até o presente momento, você estudou a razão de existir do Estado, qual seja, a de 
atingir o bem comum, constituído, estruturado e organizado pela Constituição 
Federal, a qual ainda estabelece os direitos e as garantias fundamentais. 
 
Também estudou que o Estado, para alcançar o interesse de todos é composto por 
poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) e estruturado em órgãos, destacando-se 
os da Segurança Pública. 
 
É lícito dizer, na concepção específica do curso, que os direitos e garantias 
fundamentais funcionam como verdadeiros limitadores da atuação policial, ou seja, é 
com base nesse contexto jurídico que o membro de um órgão policial deve executar 
as medidas cabíveis para a manutenção e restabelecimento da ordem pública, por 
meio de técnicas e tecnologias policiais alinhadas com os direitos e garantias 
fundamentais, cujo núcleo é vertido para a proteção da dignidade da pessoa humana. 
 
Ainda que o cidadão seja o sujeito ativo de um crime hediondo, mesmo que o 
aparato de segurança deva alcançar seus níveis máximos face às necessidades 
concretas ao restabelecimento do status quo ante, a Constituição, através das 
limitações impostas pelos direitos e garantias individuais, com suas características 
indisponíveis, universais, absolutos, inalienáveis, assegura àquele, que é destinatário 
dessa atuação estatal, um tratamento tal que o mínimo existencial deva ser 
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respeitado, protegendo a vida, a integridade física, moral, psicológica, etc. (vide os 
dispositivos do artigo 5º ligados ao tema). 
 
Direito de ir, vir e permanecer 
 
Um dos direitos fundamentais mais afetados com a intervenção estatal, em especial 
através da atuação dos órgãos de Segurança Pública durante uma busca pessoal, no 
exercício do poder de polícia, é o direito de ir, vir e permanecer. Isso porque a 
CF/88 em seu artigo 5º foi clara ao dizer que é garantindo aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no país, a inviolabilidade do direito à liberdade, ou seja, 
esse direito fundamental decorre naturalmente do direito à liberdade da pessoa 
humana no sentido de se locomover livremente por toda parte do território 
nacional. 
 
Você tem ideia da magnitude, da importância e do relevo que contorna esse 
direito fundamental? 
 
A resposta parece simples, mas na prática não o é. Perceba que com a liberdade a 
pessoa pode desenvolver-se em várias dimensões (física, espiritual, educacional, 
religiosa, política, etc.). E um dos aspectos dessa liberdade é o direito de locomoção 
(direito de ir, vir e permanecer), que permite ao cidadão a possibilidade de 
movimentar-se por todos os espaços públicos e privados na busca de integrar-se com 
sua sociedade, com sua família, com o Poder Público, seja para emprego, educação, 
saúde ou lazer. Vale lembrar que isso tudo faz parte da dignidade da pessoa, ponto 
de partida de estudo, que contida na Constituição, ao Estado compete proteger e 
estimular o seu pleno exercício, porque para isso foi concebido. 
 
Princípio da proporcionalidade: ponderação de valores 
 
A limitação do direito à liberdade para satisfazer uma necessidade pública, é, na 
verdade, de forma ampla, uma projeção da proteção conferida ao cidadão no seu 
relacionamento no meio social, com o fim legítimo de resguardar o bem comum, 
através da fiel observância do que dita a lei, que representa a vontade popular, 
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titular do poder constituinte originário. Com isso, percebe-se que é enorme a 
responsabilidade dos agentes públicos na consecução de suas atribuições. 
 
Então, como fazer para adequar a atuação policial sem se descuidar dos direitos e 
garantias fundamentais? 
Qual é o momento ideal para limitar a liberdade do indivíduo e observar a sua 
dignidade? 
 
A resposta não é tranquila. O policial tem que estar bem preparado tecnicamente 
para aplicar seus conhecimentos em uma busca pessoal (abordagem), que abrange 
níveis que vão desde a emissão de comandos verbais até a efetivação da busca, 
com o contato físico e imobilização, se for o caso. 
 
Essa dinâmica não pode ser levada a efeito de qualquer forma, sobre qualquer 
pessoa, em qualquer momento, a qualquer pretexto. O ordenamento jurídico traça 
os parâmetros, que, ao lado das técnicas de busca pessoal, de abordagem, devem 
fazer parte da conduta do agente. 
 
A leitura e compreensão do texto constitucional, das leis e legislação que conduzem 
os direitos e garantias fundamentais, são essenciais, assim como a verificação do 
posicionamento dos juristas e do poder judiciário sobre os atos estatais e as 
restrições impostas aos direitos individuais.Aliando a técnica policial com os 
parâmetros jurídicos, o resultado será uma atuação legítima, adequada, necessária e 
razoável. 
 
Observe que está sendo discutida a ponderação de valores que, através do princípio 
da proporcionalidade, constitui instrumento capaz de solucionar os problemas mais 
cruciais ou triviais do dia-a-dia enfrentados pelos agentes estatais. 
 
Lembra o professor Thiago André Pierobom de Ávila (2007) que essa concepção é 
própria da estrutura das normas de direitos fundamentais, esculpida no Estado 
constitucional contemporâneo. Com essas palavras ele apresenta os ensinamentos de 
Robert Alexy, para quem o direito, que existe para disciplinar as relações sociais, se 
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expressa por meio de normas e essas, por sua vez, abrangem as regras e os 
princípios. 
 
As regras proíbem ou permitem algo em termos categóricos, são cumpridas na 
lógica do tudo ou nada. 
 
Os princípios constituem espécies normativas que traduzem valores da sociedade 
inseridos na ordem jurídica (vida, honra, intimidade, liberdade, dignidade, moral, 
etc.), que devem ser aplicados na medida do possível, de acordo com as 
possibilidades fáticas e jurídicas. Em consequência, são considerados como 
mandados de otimização. Lembrem que são esses valores que o Estado deve proteger 
e respeitar. Mas, na consecução de suas atribuições esses valores podem ser 
relativizados, como já foi dito anteriormente. 
 
É nesse momento que entra a questão da ponderação. A questão é crucial. Tanto que 
o professor Paulo Gonet (2008) indaga: O que acontece quando duas posições 
protegidas como direitos fundamentais diferentes brigam por prevalecer numa 
mesma situação? Pode uma prostituta invocar o direito de ir e vir para justificar 
pedido de salvo conduto que lhe assegure fazer o trottoir? 
 
Tendo por base a questão anterior, o agente do Estado, diante de eventual conflito 
de direitos fundamentais, deve promover um juízo de valor, principalmente frente a 
uma fundada suspeita, uma ponderação de valores que se assenta sobre o princípio 
da proporcionalidade, que abrange três critérios: o da adequação, necessidade e 
proporcionalidade em sentido estrito. 
 
A adequação exige que as medidas interventivas, adotadas pelo agente do Estado, 
sejam aptas a atingir os objetivos pretendidos. A necessidade, também conhecida 
por exigibilidade, diz respeito à escolha, dentre os vários meios existentes, do menos 
gravoso para o indivíduo sujeito à atuação estatal. A proporcionalidade em sentido 
estrito (também mencionada por alguns como razoabilidade) constitui um juízo 
definitivo da medida sobre o resultado a ser alcançado, ponderando-se a intervenção 
e os objetivos perseguidos, sobre o fundamento do equilíbrio entre um e outro. 
 
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Imagine... 
 
É irradiado pela central de operações a existência de um veículo automotor, com três 
indivíduos em seu interior, portando entorpecentes e arma de fogo. Em dado 
momento, uma viatura se depara com um veículo com as exatas características 
transmitidas pela central. Diante disso, os agentes devem começar a promover juízos 
de valor, ponderações para que possam atuar. 
 
É necessário abordar? 
Qual a técnica a ser utilizada na abordagem? 
O número de policiais garante a segurança da guarnição, da população e dos 
próprios indivíduos a serem submetidos à atuação estatal? 
Dentre os meios disponíveis para a busca, qual é o menos gravoso? 
A atuação técnica mostra-se suficiente e equilibrada para neutralizar qualquer 
tipo de reação e atingir os objetivos? 
 
As respostas a essas indagações, em observância aos requisitos da necessidade, 
adequação e razoabilidade, representam a legítima atuação dos agentes policiais, 
assegurando a todos os cidadãos um agir estatal eficiente no âmbito da Segurança 
Pública, mostrando-se adequado com a dignidade da pessoa humana, com o devido 
respeito aos direitos e garantias fundamentais. 
 
 
 
 
Aula 4 – Os órgãos de Segurança Pública: limites e atribuições 
 
Nesta aula, você vai encontrar uma abordagem que traz as consequências pelas quais 
o Estado e seus agentes se submetem a uma responsabilização quando os limites de 
seus atos são extrapolados. Ao final, fechando este módulo, você terá a oportunidade 
de conhecer as principais atribuições dos órgãos de Segurança Pública. 
 
Antes de começar, reflita sobre as questões abaixo. 
 
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Pela terceira teoria de Isaac Newton “para cada ação há sempre uma reação, oposta 
e de mesma intensidade”. Diante dessa teoria, você teria condições de estabelecer 
uma relação entre ela e a extrapolação de limites pelo Estado, quando atua através 
de seus agentes públicos?Em outro contexto, considerando sua experiência 
profissional, você consegue enxergar os contornos da atividade exercida em sua 
instituição? 
 
Responsabilidade civil do Estado decorrente da atuação policial 
 
Na atuação estatal eventualmente o agente público se desvia de suas atribuições, 
podendo gerar danos aos indivíduos, à população e à sociedade. 
 
Quando não são observados os direitos e as garantias fundamentais, quando o juízo 
de ponderação de valores (adequação, necessidade e razoabilidade) não se cumpre, 
gerando danos morais e/ou materiais às pessoas, o Estado, por seu agente, pratica 
ato ilícito. 
 
No sistema jurídico, a prática de atos ilícitos enseja o dever de indenizar. Nesse 
sentido, veja o que estabelece o Código Civil. 
 
 
 
 
 
 
Código Civil 
Art. 186 Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar 
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
Art. 187 Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos 
bons costumes. 
Art. 927 Aquele que, por ato ilícito (artigos 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a 
repará-lo. 
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Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos 
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano 
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 
Vale dizer que, em face do Estado, existem regras peculiares. Em outras palavras, o que se 
pretende dizer é que a responsabilidade civil do Estado é objetiva. De acordo com o 
estabelecido na Constituição Federal: 
Art. 37 A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos 
estados, do Distrito Federal e dos municípios obedecerá aos princípios de legalidade, 
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada 
pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art3 
§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços 
públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, 
assegurado o direito de regresso contra oresponsável nos casos de dolo ou culpa. 
No mesmo sentido, é o que define o Código Civil: 
Art. 43 As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos 
dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo 
contra os causadores do dano, se houver, por parte desses, culpa ou dolo. 
 
 
E o que significa responsabilidade objetiva? 
 
É aquela na qual não se observa a existência de dolo (vontade) ou culpa 
(inobservância do dever de cuidado objetivo, nas modalidades imperícia, 
imprudência e negligência). O critério para sua observância decorre da análise da 
existência de conduta, do dano e da lógica de causalidade entre esse e aquela. 
 
 
A lógica dessa consequência é a de que se o dano foi causado pelo Estado, o qual foi 
concebido para atuar em benefício e em nome da sociedade, com efeito, a 
responsabilidade recairá sobre essa. Portanto, é a sociedade que suportará os custos 
pelos prejuízos, os quais serão distribuídos de forma equitativa, igualitária e indireta 
a cada membro. 
 
Responsabilidade do agente público na prática de atos ilícitos 
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Das ideias discorridas na página anterior, uma indagação surge: Não seria injusto 
para a sociedade suportar os prejuízos decorrentes de uma responsabilidade civil, 
quando foi o agente público quem deu causa de forma intencional ou sem a 
observância dos cuidados mínimos exigidos? 
 
Sim, seria. Por isso que o artigo 37, §6º, da CF/88, garante o direito de regresso 
sobre o servidor público, ou seja, se ele praticou ato ilícito de forma dolosa ou 
culposa, resultando na responsabilidade civil do Poder Público, e esse venha a arcar 
com os prejuízos, o Estado poderá buscar as medidas cabíveis para repassar esse 
encargo àquele que deu causa, assegurando, assim, a justiça. 
Cabe salientar que o direito de regresso não comporta prazo prescricional (perda da 
possibilidade de se cobrar o prejuízo em face do decurso do tempo), conforme 
entendimento do Superior Tribunal de Justiça – STJ esposado no RESp. nº 328.391-DF, 
julgado em 08.10.2002 e publicado no DJ de 02/12/2002. 
 
É possível, ainda, que a responsabilidade civil estatal seja excluída quando os danos 
originados decorrerem de caso fortuito, força maior e culpa exclusiva da vítima. 
Por fim, é possível ainda que o servidor público, além de responder diante de uma 
ação regressiva, de natureza cível, venha a ser submetido a um processo 
administrativo ou criminal, por ter excedido em suas atribuições, sem que isso 
configure o bis in idem. 
 
 
 
 
 
Atribuições dos organismos de Segurança Pública 
 
Dentro da execução do contrato social, citado no início de nossos estudos, onde cada 
indivíduo cede uma parcela de sua liberdade para que o Poder Público defenda e 
proteja de toda a força comum a pessoa e os seus bens, há a Segurança Pública. 
 
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Nas palavras do professor Álvaro Lazzarini (2003), a Segurança Pública constitui-se 
como um aspecto da ordem pública, ao lado da tranquilidade e salubridade públicas. 
Ela é causa da ordem pública, que se traduz em um estado antidelitual, livre, 
portanto, da violação de bens jurídicos protegidos pela ordem jurídica (vida, saúde, 
integridade física, honra, patrimônio), ou seja, há ordem pública, e, 
consequentemente, Segurança Pública, quando, por exemplo, no dia-a-dia o cidadão 
tem a possibilidade de transitar nas vias públicas, a qualquer hora, e não ser 
molestado por atos de roubo ou furto, ou mesmo, quando em viagem de férias, sua 
residência não é alvo de vagabundos. 
 
Enfim, na lição de Diogo Figueiredo Moreira Neto, lembrado por Álvaro Lazzarini 
(2003), a Segurança Pública se perfaz em um conjunto de processos políticos e 
jurídicos, destinados a garantir a ordem pública, sendo essa objeto daquela. 
 
O tema guarda tanta relevância que tem reservado um capítulo (III) no título V, da 
CF/88, que cuida “Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas”. Nessa 
medida, traz o artigo 144 a previsão de que o Poder Público, dentro de suas 
atribuições, tem a incumbência de assegurar a preservação da ordem pública, a 
incolumidade das pessoas e do patrimônio. Essa atividade une na Segurança Pública, 
que é implementada através de órgãos: 
 
Art. 144 A Segurança Pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, 
é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do 
patrimônio, através dos seguintes órgãos: 
I - Polícia federal; 
II - Polícia rodoviária federal; 
III - Polícia ferroviária federal; 
IV - Polícias civis; e 
V - Polícias militares e corpos de bombeiros militares. 
 
As atividades desenvolvidas por esses órgãos possuem atributos peculiares, ligados a 
instrumentos aptos a preservar a ordem pública, tais como os poderes-deveres 
discricionários, de polícia, autoexecutoriedade, dentre outros. Portanto, conclui-se 
que essas atividades exteriorizam-se como uma típica manifestação administrativa da 
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Administração Pública. Na concretização das atividades em apreço, impõe salientar 
que cada órgão possui sua atribuição bem definida. 
 
A atividade de polícia judiciária é exercida pelas polícias federal e civil e se 
conclui no sentido de apurar as infrações penais (crimes/delitos e contravenções) e 
de cumprir as determinações das autoridades judiciárias (juiz de 1º grau, 
desembargador de Tribunal de Justiça, ministros do STJ e STF), como por exemplo, 
no mandado de prisão, na busca e apreensão de bens, na realização de perícias etc. 
Seus atos, em regra, são documentados em inquéritos policiais que, encaminhados 
para a Justiça, tem por finalidade subsidiar o exercício de ação penal por seus 
titulares (Na ação penal pública, o Ministério Público, através da denúncia; na ação 
penal privada, o ofendido/vítima ou representante legal, através da queixa-crime), 
ao apontar indícios de autoria e materialidade. Portanto, a polícia judiciária exerce 
suas atribuições após a ocorrência do fato-crime. 
 
De outro lado, existe a denominada polícia administrativa que tem por objeto a 
prevenção do ilícito penal e não penal (ex.; polícia de trânsito de veículos 
terrestres, polícia das construções, polícia aduaneira, polícia fiscal, polícia do meio 
ambiente, polícia sanitária, etc.). As atividades desenvolvidas aqui são atribuídas às 
polícias federal, rodoviária federal, ferroviária federal e polícias militares. 
 
A linha demarcatória da polícia administrativa e da polícia judiciária é a 
ocorrência ou não do ilícito penal. 
 
 
Aspectos Jurídicos da Abordagem Policial – Módulo 1 
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Dentro desse âmbito, segundo Álvaro Lazzarini (2003) e Maria Silvya Zanela Di Pietro 
(2007), destaca-se a polícia de Segurança Pública, que, na lição de José Cretella 
Júnior (Apud, Álvaro Lazzarini, 2003), tem a atribuição de prevenir a criminalidade 
em relação à vida, à incolumidade pessoal, à propriedade e à tranquilidade pública e 
social, ou seja, é orientada para a proteção dos bens supremos da ordem pública, 
da paz e da tranquilidade social. Essa atividade é exclusivadas policiais militares, 
que também exercem a polícia judiciária militar, na esfera dos crimes militares 
(artigo 144, §§1º e 2º, CF/88). 
 
Conclusão 
Neste primeiro módulo, você estudou os principais aspectos das normas 
constitucionais e da legislação internacional ligados aos direitos humanos, voltados 
para a atuação policial. 
 
 
 
Neste módulo são apresentados exercícios de fixação para auxiliar a compreensão 
do conteúdo. 
O objetivo destes exercícios é complementar as informações apresentadas nas 
páginas anteriores. 
 
 
 
 
 
1. Cite 4 (quatro) dos principais direitos e garantias fundamentais inseridos no 
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966) e na Convenção 
Americana de Direitos Humanos. 
 
2. De que modo os direitos e garantias fundamentais exercem influência em uma 
atuação policial? 
 
3. Na atuação policial, como a dignidade da pessoa humana deve ser respeitada? 
Aspectos Jurídicos da Abordagem Policial – Módulo 1 
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4. No que consiste as limitações constitucionais da atuação policial? 
 
5. Qual é a distinção existente entre responsabilidade objetiva e subjetiva? Em 
qual delas o agente policial poderá estar sujeito? 
 
6. Você, como agente policial, se depara com um evento em que exige sua 
atuação. Caso seja necessário promover uma busca pessoal, descreva, de acordo 
com os ensinamentos discorridos aqui, os critérios para a formulação de um juízo 
de ponderação, para que sua ação seja legítima e atinja sua finalidade. 
 
7. Imagine que determinado indivíduo, proveniente de outro país, esteja no Brasil 
com a finalidade de praticar ecoturismo. Um agente policial, ao ser acionado para 
atender a ocorrência envolvendo essa pessoa, na qualidade de suposto autor de 
infração penal, entende que os direitos e garantias fundamentais inseridos no 
artigo 5º, da Constituição, apenas se destinam aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no país. Diante disso, avalie se o pensamento do referido policial está 
de acordo com os dispositivos contidos na CF/88. 
 
 
Este é o final do módulo 1 - As normas constitucionais, a legislação internacional e 
atuação policial 
 
Aspectos Jurídicos da Abordagem Policial – Módulo 2 
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Módulo 2 – Aspectos Jurídicos relacionados à abordagem policial 
 
Neste módulo, você estudará a abordagem policial propriamente dita. A ação de 
abordar representa um típico ato administrativo, sendo de suma importância o 
estudo de seus requisitos. Além do mais, a abordagem é uma manifestação do 
dever-poder de polícia, ocasião em que o policial promoverá restrição de 
determinados direitos individuais em atenção ao interesse público de manutenção da 
ordem. 
 
Como você estudará, a citada limitação, de ordem discricionária, para ser conforme 
o ordenamento jurídico, deve ser justificada, não bastando a simples opção do 
agente. O dever-poder de polícia, o dever-poder discricionário e a fundada suspeita 
terão seu espaço garantido no estudo do módulo. Ao final, para fechar o módulo, 
você estudará as buscas pessoal e domiciliar. 
 
O conteúdo deste módulo está dividido em 4 aulas: 
 
Aula 1 – Ato administrativo: atributos e elementos 
Aula 2 – Poder-dever de polícia e poder-dever discricionário 
Aula 3 – Fundada suspeita: conceituação, fundamento legal e necessidade de 
elementos objetivos 
Aula 4 – Busca pessoal e busca domiciliar 
 
 
Aula 1 – Ato administrativo 
 
Tendo em vista que todo profissional da área de Segurança Pública corresponde a um 
agente público, logo, pratica atos administrativos e é responsável pelas suas 
consequências, nada mais adequado do que estudá-los e entender a sua importância 
e significado, pois, dessa forma, você poderá pautar suas condutas de acordo com o 
que foi preceituado no ordenamento jurídico. 
 
O que você entende por ato administrativo? 
Aspectos Jurídicos da Abordagem Policial – Módulo 2 
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É possível definir ato administrativo como o ato praticado como manifestação da 
vontade do Estado, que cumpre os preceitos legais, sejam de ordem 
constitucional como infraconstitucional, visando produzir efeitos jurídicos 
concretos para atingir o interesse público. 
Antes de prosseguir, leia os conceitos sobre ato administrativo mais utilizados no 
mundo jurídico. 
 
Diversos conceitos de ato administrativo 
O doutor Celso Antônio Bandeira de Mello (2007, p. 368) conceitua da seguinte forma: 
“Declaração do Estado (ou de quem lhe faça às vezes – como, por exemplo, um concessionário 
de serviço público), no exercício de prerrogativas públicas, manifestada mediante 
providências jurídicas complementares da lei a título de lhe dar cumprimento, e sujeitas a 
controle de legitimidade por órgão jurisdicional”. 
 
Já para o renomado Helly Lopes Meirelles (2001, p. 141), “ato administrativo é toda 
manifestação unilateral de vontade da Administração Pública que, agindo nessa qualidade, 
tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar 
direitos ou impor obrigações aos administrados ou a si própria”. 
Por fim, Carvalho Filho (2007, p. 92) considera ato administrativo como a “exteriorização da 
vontade da Administração Pública ou de seus delegatários que, sob regime de direito público, 
tenha por fim adquirir, resguardar, modificar, transferir, extinguir e declarar situações 
jurídicas, com o fim de atender ao interesse público.” 
 
O que deve ficar claro para você é que o profissional da área de Segurança Pública 
é um agente público, representante do Estado, e como tal deve pautar suas ações 
no interesse público, tendo o dever de praticar todos os seus atos dentro da 
legalidade. Daí a necessidade de estudar diversas matérias, dentre elas, o ato 
administrativo. 
 
Agora que você já sabe o que significa o ato administrativo e a correspondente 
importância para a sua atividade profissional, estude um pouco mais, lendo os seus 
atributos e elementos. 
 
 
Aspectos Jurídicos da Abordagem Policial – Módulo 2 
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Atributos do ato administrativo 
 
Você deve estar se perguntando: 
Por qual motivo devo conhecer os atributos do ato administrativo? 
 
O atributo nada mais é do que uma qualidade do ato, ou seja, algo que o 
particulariza, que o distingue. Ao conhecer essas características você será capaz de 
fazer a distinção entre um ato de particulares e um ato do Poder Público. 
 
Os atributos prestigiam a ação do Poder Público sobre o particular. 
 
Ex: Se um particular lhe der uma ordem, você a cumprirá se quiser; por outro lado, 
uma ordem originária do Poder Público deve ser observada, sob pena de gerar 
responsabilidade, nos termos do ordenamento jurídico. Veja que uma das formas 
dessa ordem ser emanada é por você, agente da Administração Pública! 
 
Os atributos do ato administrativo correspondem às suas características, 
circunstância que o destaca como sendo proveniente do Poder Público. São elas: 
Presunção de legitimidade; 
Imperatividade; e 
Autoexecutoriedade. 
 
Para uma melhor compreensão, estude, separadamente, cada uma das 
características. 
 
Presunção de legitimidade 
 
Por esse atributo presume-se que, em princípio, a ação do Poder Público está em 
conformidade coma lei, ou seja, que o ato administrativo foi praticado e/ou 
elaborado de acordo com a legislação em vigor. 
 
Princípio 
Dizem em princípio, pois pode haver prova em contrário, já que aquele que se sentir 
prejudicado poderá, posteriormente, se insurgir contra o ato praticado. 
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Nesse caso, a administração pública não precisará provar que seu ato é legal, caberá 
àquele que se sentir prejudicado demonstrar sua ilegalidade. Ocorre dessa forma 
justamente porque se aceita que ao ser editado ou praticado está em conformidade 
com o ordenamento jurídico. 
 
A consequência desse atributo é a pronta execução do ato administrativo, que será 
imediatamente aplicado, pois é considerado válido (legal) desde o seu nascimento. 
Sendo assim, a administração pública faz com que o particular, de pronto, aceite sua 
ação. 
 
Antes de continuar, reflita se todos os atos administrativos gozam de presunção de 
legitimidade, tendo aplicação imediata aos administrados. Em caso positivo, o que 
pode fazer um administrado, caso se sinta prejudicado? 
 
Imperatividade 
 
Imperativo refere-se a algo imposto. O ato administrativo já nasce imperativo. Essa 
característica está diretamente relacionada com o seu cumprimento ou execução. 
 
Esse atributo permite que a administração pública imponha diretamente seus atos, 
independentemente da anuência ou concordância dos administrados atingidos. 
 
Em decorrência desse atributo, o ato administrativo é coercitivo e gera obrigações ao 
seu destinatário, a esse cabe apenas cumprir o que lhe for determinado, não há 
possibilidade de negociação, já que aqui se prestigia o interesse público em 
detrimento do interesse do particular. 
 
A administração pública ao editar um ato não precisa ter o consentimento de seus 
destinatários, ocorrendo apenas, a imposição de seu cumprimento. 
 
É importante que você saiba que essa característica não está presente em todos os 
atos administrativos, mas tão-somente nos que impõem obrigações, pois existem atos 
que são solicitados pelo próprio administrado, tais como as certidões e os atestados, 
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nos quais não há que se falar em imperatividade, porque não impositivos. É por isso 
que não cabe ao cidadão escolher se pode ser abordado ou não. 
 
Autoexecutoriedade 
 
Você já aprendeu que os atos administrativos presumem-se legais, até prova em 
sentido contrário, e que são aplicados imediatamente, sem necessidade de aprovação 
do destinatário. 
 
Agora, você aprenderá que o ato administrativo possui também o atributo da 
autoexecutoriedade, o qual possibilita que o Poder Público faça cumprir as suas 
decisões sem a necessidade de autorização prévia do Poder Judiciário. Significa que 
o ato basta por si só, não há necessidade de qualquer manifestação do Poder 
Judiciário para impor o seu cumprimento. 
 
É importante que você reflita que muito embora não precise de autorização do Poder 
Judiciário, a parte que se sentir prejudicada poderá buscar amparo nele, frente ao 
disposto no inciso XXV, artigo 5º, da Constituição Federal, como já estudado no 
atributo da presunção de legitimidade. 
 
A autoexecutoriedade é de suma importância para a sua atividade de profissional da 
área de Segurança Pública, uma vez que é dele que vem a possibilidade do uso da 
força, pois a administração pública pode fazer cumprir as suas determinações, sem 
precisar recorrer ao Judiciário e, caso necessite, o fará de forma coercitiva. 
 
Elementos do ato administrativo 
 
Você já estudou que os atributos são as qualidades do ato, agora estudará que o ato 
administrativo possui elementos indispensáveis, também chamados requisitos, para 
a sua existência. 
 
 
 
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Os elementos ou requisitos são as partes que integram a estrutura do ato. São 
eles: 
 
Sujeito; 
Objeto; 
Forma; 
Finalidade; e 
Motivo. 
 
Como foi feito com os atributos, estude cada um dos elementos separadamente. 
 
Sujeito 
 
É quem produz o ato administrativo, trata-se daquele a quem a lei atribui 
competência para praticá-lo. Esse elemento também é conhecido como 
competência, referindo-se ao conjunto de atribuições outorgadas por lei. 
 
A lei é que dá ao agente da Administração Pública a capacidade de praticar o ato 
administrativo. 
 
Tal requisito deve ser analisado sob dois aspectos: 
Primeiro é necessário verificar se a pessoa jurídica de direito público e seus 
respectivos órgãos têm atribuição para a prática do ato. No caso do profissional da 
área de Segurança Pública, tal atribuição está elencada nos parágrafos do artigo 144 
da Constituição da República. Nele, você encontrará as atribuições específicas da sua 
instituição. 
 
Num segundo momento, deverá observar se tal competência é distribuída entre os 
seus servidores. 
 
A Constituição de 1988 estabeleceu a competência do seu órgão, tornando-o 
responsável por determinada parcela da Segurança Pública. Dentro dessa 
responsabilidade, a lei criou os cargos da sua instituição atribuindo-lhes competência 
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para realizar diversos atos administrativos, dentre eles a abordagem, que é o objeto 
do nosso estudo. 
 
É imprescindível que o agente público que realiza a abordagem policial esteja no 
exercício do cargo ou função, já que a lei destinou competência a esses e não às 
pessoas. Outro aspecto importantíssimo da competência é que ela é vinculada à lei, 
possuindo limites estabelecidos no ordenamento jurídico. Ao realizar a abordagem, 
você deverá sempre respeitar esses limites, sob pena de incorrer em abuso de poder, 
conduta que poderá caracterizar um dos crimes previsto na Lei de Abuso de 
Autoridade, que será estudada no módulo 3. 
 
Objeto 
 
Também conhecido como conteúdo, o objeto é o resultado prático do ato. Por 
exemplo, no ato administrativo em que o agente de trânsito (sujeito) aplica uma 
multa, o objeto do ato consiste na imposição de penalidade administrativa pelo 
descumprimento de um mandamento legal. 
 
O objeto do ato administrativo deve ser: 
 
● Lícito 
O objeto está previsto e é autorizado em lei. A abordagem policial está prevista no 
Código de Processo Penal Brasileiro, que será visto na aula 4. 
 
● Determinado 
Deve ser certo quanto ao destinatário, aos efeitos, ao tempo e ao lugar. A partir 
desse entendimento, você, como aplicador da lei, não poderá realizar uma 
abordagem indistintamente. Ao limitar o direito individual, deverá precisar a(s) 
pessoa(s), o momento e o lugar em que a ação será levada a efeito, bem como o 
tempo necessário para realizá-la com segurança. 
 
 
 
 
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Forma 
 
A lei determinará de que forma o ato administrativo poderá ser exteriorizado. É o 
modo pelo qual a administração pública expressa a sua vontade, podendo ser: 
 
● Escrito 
Por meio de regulamentos, decretos, leis, dentre outros. Por exemplo, o mandado de 
busca e apreensão,

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