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Giovanna Vilas Boas - TXIII Módulo 2 – dor abdominal PROCESSO FISIOLÓGICO DO VÔMITO DEFINIÇÕES Náusea: sensação desagradável de um desejo iminente de vomitar Vômito: expulsão violenta do conteúdo gástrico pela boca • É o meio que o tubo gastrointestinal se livra de todo o conteúdo, quando ele sofre distensão, irritação ou excitação excessiva • Excesso de distensão ou de irritação do duodeno constitui um dos mais fortes estímulos para o vomito Regurgitação: volta de alimentos ou secreções do esôfago, estomago ou duodeno para a cavidade oral. VÔMITO • Mecanismo protetor fisiológico básico • Limita a possibilidade de que substâncias nocivas ingeridas causem danos por esvaziamento do conteúdo do estomago e de algumas partes do intestino delgado Fases do vômito 1- Pré-ejeção: Relaxamento gástrico e retroperistalse 2- Ânsia: ação rítmica dos músculos respiratórios 3- Ejeção: contração dos músculos abdominais e relaxamento do esfíncter esofágico superior As fases são acompanhadas de fenômenos autônomos e coordenado pela ação integrada de receptores periféricos, ZQD e centro do vômito. PRÉ-EJEÇÃO • Ocorre minutos antes de aparecerem os vômitos • Um movimento peristáltico para cima no trato digestório • Começa no íleo e vai em direção oral • Empurra grande parte do conteúdo do intestino delgado inferior de volta ao duodeno e ao estomago ÂNSIA • Fortes contrações impulsionam o conteúdo gástrico para o esôfago esfíncter esofágico inferior relaxado • Profunda respiração, diminuição da pressão intratorácica • Contrações da musculatura abdominal • Gradiente de pressão entre abdome e tórax • Propulsão do conteúdo gastrointestinal para o esôfago • Precede ou alterna-se com períodos de vômitos EJEÇÃO • Respiração profunda • Elevação do osso hioide e da laringe • Fechamento da glote • Elevação do palato mole • Contração forte e violenta do diafragma dos músculos abdominais • Relaxamento do esfíncter esofágico Giovanna Vilas Boas - TXIII Módulo 2 – dor abdominal Fisiologia do vômito Falando de fisiologia do vômito, é preciso associar o sistema nervoso autônomo (simpático e parassimpático). Nervos envolvidos no processo parassimpático: nervo vago (10°); nervo oculomotor (3°); nervo facial (aumenta a ativ. Da glândula submandibular e sublingual); nervo glossofaríngeo (aumenta secreção da glândula parótida) • Quando irá ocorrer a ação do vômito, aumenta muito a salivação, e por isso o envolvimento do 7° e 9° par de nervo craniano. SNA simpático: é excitado atuando em outros sistemas do corpo. • Desenvolve midríase, broncodilatação, aumento da fc, palidez (por conta de vasoconstrição) e sudorese. COMO OCORRE? Inicialmente quando ocorre a fase de pré- ejeção no vômito, terá uma forte estimulação do parassimpático, principalmente da atividade do nervo vago (10° par). Consequentemente terá um aumento da liberação de ácido clorídrico pelo estômago, e uma alta atividade da gastrina por exemplo. No entanto, na fase de ânsia de vômito essa estimulação é deprimida, para que se inicie o processo de retroperistalse e diminua, os movimentos peristálticos. Ou seja, primeiro terá uma forte atividade parassimpática, que será deprimida logo após pela ação dos nervos. Logo após, terá atuação das características do vômito, para desenvolvê-lo e ter a estimulação do centro do vômito. O vômito envolve dois centros bulbares diferentes: 1- Centro do vômito 2- Zona de gatilho quimiorreceptor A ação de vomitar parece ser um reflexo integrado no centro do vômito, que está na região dorsal da formação reticular do bulbo, perto dos núcleos sensoriais do nervo vago. A zona do gatilho quimiorreceptor está em uma área pequena do assoalho do quarto ventrículo, onde fica exposta ao sangue e ao líquido cefalorraquidiano. • Essa área parece mediar os efeitos eméticos dos fármacos e das toxinas transportados no sangue. A ação de vomitar consiste em uma respiração profunda, fechamento das vias respiratórias e desencadeamento de uma contração forte e violenta do diafragma e dos músculos abdominais, Giovanna Vilas Boas - TXIII Módulo 2 – dor abdominal acompanhada de relaxamento do esfíncter gastresofágico. A respiração é interrompida durante o ato, que pode estar acompanhado de tontura, vertigem, queda da pressão arterial e bradicardia. Centro do vômito recebe estímulos originados do sistema digestório e de outros órgãos; do córtex cerebral; do aparelho vestibular, que é responsável pela cinetose (tontura causada por movimento) e da zona do gatilho quimiorreceptor. A hipoxia tem efeito direto no centro do vômito, causando náuseas e vômitos. Esse efeito direto provavelmente é responsável pelo vômito que ocorre durante os períodos de redução do débito cardíaco, choque, hipoxia ambiental e isquemia cerebral causada por elevação da pressão intracraniana. A inflamação de qualquer órgão intraabdominal (inclusive fígado, vesícula biliar) ou das vias urinárias pode causar vômitos em razão da estimulação das vias aferentes viscerais, que se comunicam com o centro do vômito. A distensão ou a irritação do sistema digestório também causa vômitos por estimulação dos neurônios aferentes viscerais. Há vários neurotransmissores e subtipos de receptores que atuam como neuromediadores das náuseas e dos vômitos. Receptores de dopamina, serotonina e opioides estão no sistema digestório, no centro do vômito e na zona do gatilho quimiorreceptor. • Antagonistas da dopamina (ex: proclorperazina) suprimem o vômito causado pela estimulação da zona do gatilho quimiorreceptor. • Serotonina envolvida nos casos de náuseas e vômitos associados a quimioterapia e radioterapia usadas para tratar câncer. • Antagonistas da serotonina (ex: granisetrona, ondansetrona) eficazes no tratamento das náuseas e dos vômitos associados a essas condições. A cinetose (enjoo associado aos movimentos) parece ser uma reação do sistema nervoso central (SNC) aos estímulos vestibulares. No centro vestibular, existem receptores de: • Receptores de acetilcolina parecem mediar os estímulos responsáveis por excitar o centro do vômito. • Receptores de norepinefrina podem ter efeito estabilizador, que protege contra cinetose. Alguns fármacos usados para tratar cinetose (ex: dimenidrato) têm ação anticolinérgica potente no SNC e atuam nos receptores do centro do vômito e nas áreas relacionadas com o sistema vestibular. Causas do vômito QUIMIOTERAPIA Ocorre por dois motivos: 1- Pela presença do tumor em algum lugar que está estimulando um determinado receptor. 2- Pela própria quimioterapia, ocorre com maior frequência. o A quimioterapia é considera como sendo algo toxico, e as toxinas que ela contém danificam nossas células e desencadeiam o vômito. E pode ocorrer de duas maneiras: Vômito agudo: • Ocorre em até 24 horas após o tratamento Giovanna Vilas Boas - TXIII Módulo 2 – dor abdominal • Relacionado a liberação de serotonina. • As células enterocromafins / enteroendócrinas do trato gastrointestinal são responsáveis pela produção de 90% da serotonina do nosso corpo. • Quando se está utilizando um quimioterápico, que é um medicamento tóxico, ocorre a degradação dessas células e consequentemente ocorre a liberação dessa serotonina que vai atuar no estomago e no intestino delgado que possuem grande quantidade de receptores 5-HT3. • A ativação desses receptores desencadeia a despolarização de vias aferentes através de nervo vago, que vai tanto estimular o núcleo do trato solitário, como a zona de gatilho quimiorreceptora, onde tem uma grande quantidade de receptores de serotonina, estimulando o centro do vomito. Vômitotardio • Demora de 2 a 5 dias para aparecer. • Relacionado à substância P • Essa substância P ativa receptores de neurocinina I, e terá o estímulo do núcleo do trato solitário e de zona de gatilho quimiorreceptora, consequentemente, o centro do vômito. Quando se fala de vômito induzido por quimioterapia, algumas literaturas trazem como sendo um vômito de origem reflexa, porque induz a ativação de receptores no estômago e no intestino. E algumas literaturas trazem como sendo um vômito de origem central porque consegue medir a atividade tóxica na zona de gatilho quimiorreceptora. CINETOSE Enjoo do movimento (andar de carro, por exemplo), levando a uma perturbação do sistema vestibular, que é responsável pelo equilíbrio. Quando a pessoa tem essa cinetose acontecendo, o movimento do meio de transporte fechado, em que a pessoa não consegue visualizar de forma correta a passagem do ambiente, ocorre um estímulo de receptores de histamina e receptores muscarínicos na orelha interna. Então, desenvolvem-se impulsos nos nervos vestibulares e a informação é mandada para o cerebelo e, posteriormente, para o centro emético. Diferente do vômito induzido por quimioterapia, o vômito induzido por cinetose está muito relacionado à ativação de receptores de histamina e muscarínicos, esse último decorrente da liberação de acetilcolina. Logo, por serem por vias diferentes, o tratamento também será diferente. PÓS-OPERATÓRIO Associado a três processos: 1- Associado diretamente ao paciente e isso ocorre quando o paciente já apresenta cinetose, ou seja, toda vez que se movimenta dentro de um meio de transporte pode desenvolver o vômito, apresentando uma característica de estímulo fácil do centro emético já associada ao paciente, desse modo, o médico já sabe que vai acontecer. 2- Associado ao procedimento cirúrgico. o Sabe-se que quanto mais tempo a cirurgia demora, mais aumenta a causa do vômito. Cirurgias mais rápidas levam a uma possibilidade menor de vômito, Giovanna Vilas Boas - TXIII Módulo 2 – dor abdominal no entanto, cirurgias mais longas podem aumentar em até 60% a possibilidade de desenvolver vômito. 3- Utilização de opioides. Estudos científicos mostram que o uso de opioides durante a operação e no período pós-operatório pode aumentar o risco do vômito. o Isso ocorre porque na zona de gatilho de quimiorreceptores há a presença de receptores para opioides, estimulando a ativação do centro do vômito ao utilizá- los. GRAVIDEZ O vômito na gravidez pode estar relacionado com o aumento da gonadotrofina coriônica humana, em que há um pico de secreção entre a 12ª e 14ª semana. Outra hipótese é o nível de estradiol circulante, pois há receptores de estrogênio no núcleo do trato solitário e na zona de gatilho quimiorreceptora. E, também, o fato da progesterona, que está elevada durante a gravidez, dificultar o esvaziamento gástrico e, de forma mecânica, causar danos nos mecanorreceptores a nível de trato gastrointestinal, provocando o estímulo do centro emético. Vômito c/ origem no tubo gastrointestinal Quando há a ativação mecânica dos mecanoreceptores é por via do nervo vago ou por vias aferentes esplênicas, sendo possível transmitir a informação para a zona de gatilho quimiorreceptora, desenvolvendo a ativação do centro emético. Pode-se ter esse vômito de origem no tubo gastrintestinal por inúmeros fatores, como gastrite, dilatação do estômago, obstrução mecânica do tubo gastrintestinal e, nesse caso, o vômito pode vir ou não precedido de bile, dependendo de onde está ocorrendo a obstrução. Vômito de origem central Pode ser causado principalmente por: meningoencefalite e hipertensão intracraniana doenças que afetam diretamente o sistema nervoso central e que podem desencadear o vômito direto nesse centro emético. • Não é precedido de náuseas, ocorre em jato e a pessoa não consegue controlar para dar tempo de chegar em um banheiro ou em um local específico, pois não tem um aviso. • Rapidamente leva-se ao ato do vômito sem que a pessoa tome consciência que isso vai ocorrer. NÁUSEA: Está associada a vômitos do trato gastrintestinal e, principalmente, do movimento. CAUSAS DO VÔMITO: origem no trato gastrintestinal, doença relacionada a sistema nervoso central, pós-operatório, gravidez, medicamento. Todos esses eventos que levam a ativação de receptores sensoriais localizados no trato gastrintestinal ou a nível de sistema nervoso central que levem a ativação de receptores localizados na zona de gatilho quimiorreceptora ou no núcleo do trato solitário, podem ativar o centro emético. Consequências do vômito Suas consequências são decorrentes da intensidade do vômito, ou seja, quanto mais o ato de vomitar, mais chances de desenvolver consequências. • Desidratação • Desequilíbrio ácido-básico • Possibilidade de alcalose metabólica Giovanna Vilas Boas - TXIII Módulo 2 – dor abdominal • Hipocalemia Durante o vômito, normalmente perde-se água por eliminação. Se há perda de água, consequentemente a pressão arterial diminui. Com isso, barorreceptores desencadeiam uma resposta simpática para aumentar a pressão arterial. Além disso, ao perder água há a estimulação de receptores de volume, que detectam a concentração baixa de líquido no corpo e a queda na pressão arterial. Consequentemente ocorre a ativação da secreção de renina pelo sistema justaglomerular, assim como a ativação do sistema renina angiotensina aldosterona com a conversão de angiotensinogênio em angiotensina, angiotensina I em angiotensina II que vai na glândula suprarrenal e aumenta a secreção de aldosterona, aumentando nos rins a absorção de sódio, para aumentar a pressão arterial que estava baixa e aumenta a secreção de potássio, para absorver sódio, podendo levar a uma hipocalemia (déficit de potássio). Também, quando há vomito, há uma liberação de íons hidrogênio, quando liberados pode haver um desequilíbrio ácido básico, com a perda de muitos hidrogênios há um excesso de bicarbonato formando uma alcalose metabólica. Além disso, com a perda da secreção estomacal há junto perda de cloreto, então não há troca de cloreto com bicarbonato, podendo também levar a uma alcalose metabólica. • Isso tudo resulta em uma urina ácida.
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