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1 
 
 
 
 
 Rosana Castilho da Cunha Barbosa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A AÇÃO CIVIL EX DELICTO APÓS A LEI Nº 11.719/2008 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Juatuba - MG 
2011 
 
2 
 
Rosana Castilho da Cunha Barbosa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A AÇÃO CIVIL EX DELICTO APÓS A LEI N˚ 11.719/2008 
 
 
 
 
Monografia apresentada à Coordenação de 
Direito do Instituto João Alfredo de 
Andrade como requisito parcial para 
conclusão do Curso de Direito. 
 
 
 
 Orientadora: Renata de Castro Greco Guimarães 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Juatuba - MG 
2011 
 
3 
 
Rosana Castilho da Cunha Barbosa 
 
 
 
 
A AÇÃO CIVIL EX DELICTO APÓS A LEI N˚ 11.719/2008 
 
 
 
 
Monografia apresentada à 
Coordenação de Direito do 
Instituto João Alfredo de 
Andrade como requisito 
parcial para conclusão do 
Curso de Direito. 
 
 
 
 
 
 
 
Aprovada em ___04__/__06___/__2011__ 
 
 
 
 
 
 __________________________________________________ 
Mestre Orientadora: Renata de Castro Greco Guimarães 
 
 
 
 
 
 _________________________________________________ 
 Professor Examinador: Francisco S. Vilas Boas Neto 
 
 
 
 
 
 ___________________________________________________ 
 Professor Examinador: Alexandre Luiz Alves de Oliveira 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esse trabalho a meu esposo, João 
Lúcio, aos meus filhos, netos, irmãos, 
sobrinhos, tias, primos, amigos, professores, 
colegas, à memória de meus pais, Clara e 
Alcides, e de Waldete, por me permitirem 
sonhar e realizar meus sonhos. 
 
5 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 Agradeço a Deus pelo dom da vida, por ser meu refúgio, amparo e fonte inesgotável 
de amor, e aos meus saudosos e queridos pais, Clarinha e Alcides, reafirmo eterna gratidão 
por seu amor incondicional, pelas sábias lições de vida e conselhos, pelos exemplos de força e 
coragem para enfrentar desafios. 
 Ao meu marido João Lúcio, amado e sincero companheiro de todas as horas, agradeço 
pelo suporte material, psicológico e afetuoso, pela compreensão, carinho e ânimo, 
principalmente pelas palavras de motivação, pelo exemplo de profissionalismo e dedicação à 
carreira, que reforçaram ideais mútuos e renovaram as energias ante as dificuldades de 
aprendizado. 
 Aos meus filhos, Lúcio Flávio, Gabriela e João Henrique, agradeço o incentivo, a 
paciência de me ouvirem, e a capacidade de perdoarem as minhas ausências no quotidiano, 
agradecimentos extensivos ao “filho” Bruno. 
 Aos meus netos, Laura Helena e Cauã, dádivas do amor de Deus, minha gratidão pelas 
alegrias, sorrisos e generosidade de seus corações por aceitarem ter uma “avó estudante”. 
 Aos meus irmãos e irmãs, cunhados e cunhadas, sobrinhos e sobrinhas, primos e 
primas, e respectivos consortes, afilhados e afilhadas, amigos e amigas, aos tios Esmeralda, 
Antônia e Murilo agradeço as palavras de estímulo e compreensão para com as minhas faltas. 
 A todos os Professores, ex-Professores e Mestres que, ao longo desses cinco anos, 
semearam conhecimentos e compartilharam experiências, o agradecimento sincero pela 
dedicação, atenção, compreensão, paciência e, sobretudo, pelo respeito às nossas limitações. 
 Aos Diretores, Coordenadores, Supervisora Pedagógica e aos funcionários da 
Instituição agradeço a forma cordial e atenciosa que me dispensaram como aluna, mãe, tia, 
cunhada e amiga dos alunos. 
 Aos queridos colegas, caros e inesquecíveis companheiros de jornada, agradeço pela 
tolerância amiga e fraterna, pela solidariedade nas dificuldades, pelo carinho e compreensão 
nas minhas falhas. 
 À inestimável orientadora, mestra Renata de Castro Greco Guimarães, expresso 
admiração e respeito pela sinceridade, honestidade, lealdade e ética com que pautou sua 
conduta como docente, a quem agradeço pelos sábios ensinamentos, experiências 
compartilhadas, e por sua presença amiga em minha vida, inclusive, na passagem por esta 
etapa acadêmica. 
 
6 
 
RESUMO 
 
 
Esse trabalho tem como objetivo a pesquisa e o estudo sobre as novas regras 
introduzidas ao Código de Processo Penal, decorrentes da Lei n. 11.719/2008, pelas quais o 
juiz fixará valor mínimo para reparação dos danos na sentença penal condenatória. Inicia com 
rol de questões surgidas em razão desta inovação no diploma processual penal. Analisa a 
unicidade da jurisdição e a correlação entre a jurisdição penal e a cível. Aborda os sistemas 
processuais jurídicos que regulamentam a recomposição do dano civil causado por crime. 
Expõe entendimentos de juristas sobre a inovação legislativa e seus reflexos para a ação civil 
ex delicto, enfocando as questões seguintes: fixação de valor mínimo indenizatório na 
sentença penal condenatória, legitimidade do MP para propor a ação civil, responsabilidade 
civil de terceiros, pedido de indenização civil por dano ex delicto, provas de dano em sede de 
ação penal, foro de competência e suspensão da ação civil ex delicto. 
 
Palavras-chave: ação civil ex delicto; unicidade da jurisdição; responsabilização civil de 
terceiro; fixação de valor mínimo; pedido de indenização por dano ex delicto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
LISTAS DE SIGLAS 
 
 
Art. ─ Artigo 
Ac. ─ Acórdão 
CC ─ Código Civil Brasileiro – Lei 10.406/2002 
CF – Constituição Federal 
Cód. ─ Código 
CP ─ Código Penal – Decreto-Lei nº 2.848/1940 
CPC ─ Código de Processo Civil – Lei nº 5.869/1973 
CPP ─ Código de Processo Penal – Lei nº 3.869/1941 
DJU ─ Diário do Judiciário da União 
LCP – Lei das Contravenções Penais – Decreto-Lei nº 3.688/1941 
LEP – Lei de Execução Penal – Lei nº 7.210/1984 
LICC – Lei de Introdução ao Código Civil – Decreto-Lei nº 4657/1942 
Nº ─ Número 
OAB – Ordem dos Advogados do Brasil 
P. ─ Página 
Parág. ─ Parágrafo 
Por ex. ─ Por exemplo 
Rel. ─ Relator 
Resp. ─ Recurso Especial 
Súm. ─ Súmula 
STF – Supremo Tribunal Federal 
STJ ─ Superior Tribunal de Justiça 
T. Turma 
TFR ─ Tribunal Federal de Recursos 
TRF – Tribunal Regional Federal 
TST ─ Tribunal Superior do Trabalho 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................09 
 
2 QUESTIONAMENTOS SOBRE A NOVA REGRA PROCESSUAL PENAL ............10 
 
3 A AÇÃO CIVIL EX DELICTO E A UNICIDADE DA JURISDIÇÃO .........................12 
 
4 SISTEMAS PROCESSUAIS DE RECOMPOSIÇÃO DO DANO CIVIL EX 
DELICTO............................................................................................................................. ....17 
 
5 VALOR MÍNIMO INDENIZATÓRIO NA SENTENÇA PENAL ................................23 
5.1 Legitimidade do Ministério Público para a ação civil ex delicto ..................................27 
5.2 Responsabilidade civil de terceiro na ação civil ex delicto ...........................................315.3 Do pedido para indenização civil por dano na ação criminal ......................................36 
5.4 Das provas de dano em sede de ação penal condenatória ............................................40 
5.5 Foro competente para a ação civil ex delicto ..................................................................43 
5.6 Da suspensão da ação civil ex delicto no juízo cível ......................................................46 
 
6 CONCLUSÃO .....................................................................................................................48 
 
REFERÊNCIAS .....................................................................................................................50 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
 As novas regras introduzidas no ordenamento jurídico, com a reforma de alguns 
dispositivos do Código de Processo Penal, instigaram-nos a realizar esse estudo. 
 O enfoque principal da pesquisa está direcionado à busca dos entendimentos 
doutrinários e jurídicos referentes à nova redação do inciso IV, do art. 387, do Código de 
Processo Penal, por obra da Lei nº 11.719/08. Mencionada disposição prevê que na sentença 
penal condenatória o juiz, além da pena, fixará valor mínimo para reparação dos danos 
causados pelo crime. 
 Pelas regras anteriores, a vítima do crime, seu representante legal ou seus herdeiros 
poderiam aguardar o término da ação penal, e, posteriormente, executar a sentença penal 
condenatória transitada em julgado, ou poderiam, independentemente da ação penal, ajuizar 
ação civil ex delicto. Esta situação não foi alterada pelas novas regras, mas, em razão da 
mencionada inovação legislativa, surgem questionamentos e dúvidas, o que nos motiva a 
pesquisar em busca de esclarecimentos. 
 Com esse propósito, inicialmente, apresentaremos algumas das principais dúvidas 
surgidas quanto à aplicabilidade da nova regra do inciso IV, do art. 397, do Código de 
Processo Penal. 
 Em seguida, faremos algumas considerações sobre a ação civil ex delicto, sobre a 
unicidade da jurisdição, verificando a relação existente entre a jurisdição penal e a cível, sob a 
perspectiva de que alguns litígios penais, além da pena, geram responsabilidade civil. 
 Abordaremos os sistemas processuais de fixação da responsabilidade civil pelos danos 
decorrentes da prática de ilícitos penais, para identificar qual o adotado em nosso 
ordenamento jurídico, e verificar se existe prevalência da justiça criminal sobre a justiça cível. 
 Afastando a pretensão de esgotar o assunto, ao longo desse estudo iremos apresentar 
alguns entendimentos jurídicos sobre os reflexos em torno da ação civil ex delicto no que 
pertine à fixação do valor mínimo como indenização por danos decorrentes de crime, 
esperando poder contribuir para melhor compreensão sobre o tema. 
 
 
 
 
 
10 
 
2 QUESTIONAMENTOS SOBRE A NOVA REGRA PROCESSUAL PENAL 
 
 
 Conforme dissemos na introdução, com a nova redação do inciso IV, do art. 387, do 
Código de Processo Penal (BRASIL, 1941), por obra da Lei nº 11.719/08 (BRASIL), foi 
atribuído ao juiz criminal fixar na sentença penal condenatória, além da pena, valor mínimo 
de indenização pelo dano causado à vítima de crime. 
 O novo dispositivo processual penal deu causa ao surgimento de dúvidas e 
questionamentos em distintos sentidos e, a título de exemplo, citamos os seguintes: 
 
a. o quantum debeatur1 fixado pelo juiz criminal na sentença poderá ser questionado na 
execução da sentença penal condenatória transitada em julgado?; 
b. a ação civil ex delicto2 ajuizada no cível deverá ser suspensa até decisão final na esfera 
criminal?; 
c. o valor mínimo de indenização fixado pelo juiz criminal na sentença condenatória 
depende de requerimento ou poderá ser fixado ex offficio?
3
; 
d. carece de liquidação o valor mínimo indenizatório fixado na sentença penal 
condenatória, ou deverá ser simplesmente executado?; 
e. o juiz criminal poderá deixar de fixar o valor mínimo indenizatório pelo dano oriundo 
da prática de ilícito penal?; 
f. como será determinada a competência do foro para ajuizamento da ação penal 
condenatória transitada em julgado no juízo cível? 
 
 Tendo como fontes de consulta e pesquisa a doutrina jurídica, a legislação pertinente e 
a jurisprudência, o objetivo é encontrar esclarecimentos acerca das questões mencionadas, 
para apresentá-los nesse estudo. 
 
 
1 A expressão latina quantum debeatur significa “o quanto devido. O débito.” – conforme NEVES, Roberto de 
Souza. Dicionário de expressões latinas usuais. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996, p. 476. 
 
2 A expressão latina ação ex delicto significa “diante do delito. Ação por força do delito”. Op. cit., p. 182. 
 
3 A expressão latina ex officio significa “por dever de ofício; por imposição legal” – Op. cit., p. 185. 
 
11 
 
 Iniciaremos com a exposição de algumas considerações sobre a ação ex delicto e a 
unicidade da jurisdição, para verificarmos a relação existente entre a jurisdição penal e a 
cível, assunto tratado no tópico seguinte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 3 A AÇÃO CIVIL EX DELICTO E A UNICIDADE DA JURISDIÇÃO 
 
 
 Todos os litígios que possam surgir das situações de conflito, abrangendo lesão ou 
ameaça de lesão a direito, deverão ser analisados pelo Poder Judiciário, por força do princípio 
da inafastabilidade do controle da jurisdição. 
 As situações de conflito são inúmeras e variadas, e os litígios a que derem causa serão 
submetidos ora ao juízo penal, ora ao juízo cível, tendo em vista o bem jurídico protegido pela 
norma jurídica. Mas, em algumas demandas, verifica-se que um único fato ou ato reclama a 
incidência simultânea, tanto das normas penais, quanto das normas civis, como é o caso da 
prática de crimes que acarretam danos à vítima. 
 Nesse sentido, vejamos os seguintes ensinamentos de Tourinho Filho: 
 
Em regra, quando alguém transgride a norma penal, surgem duas pretensões: a civil, 
objetivando a satisfação do dano, e a penal, que enseja a ação penal. Nem sempre é 
assim. Havendo um ilícito penal, há quase sempre um ilícito civil, porque o crime 
não é somente violação de um bem ou interesse penalmente protegido, mas, 
também, ilícito civil, como fato injusto que produz dano. (TOURINHO FILHO, 
2010, p. 258). 
 
 No caso da prática de crime que acarrete dano ao ofendido, além da intervenção 
judicial penal, porque o bem jurídico está protegido pela norma incriminadora, haverá 
também intervenção judicial cível, porque atingido o campo da responsabilidade civil, donde 
se tem que os danos causados pela infração penal darão ensejo à ação civil ex delicto. 
 Para Pacelli (2009, p. 187): a ação civil ex delicto “outra coisa não é senão o 
procedimento judicial voltado à recomposição do dano civil causado pelo crime”. 
 Nucci (2008, p. 233) assim se expressa acerca da ação civil ex delicto: “trata-se da 
ação ajuizada pelo ofendido, na esfera cível, para obter indenização pelo dano causado pelo 
crime, quando existente”. 
 Segundo lições de Capez: 
 
A sentença penal condenatória transitada em julgado, funciona como título 
executivo judicial no juízo cível (CPP, art. 63; CPC, arts. 475-N, II, e 575, IV), 
possibilitando ao ofendido obter a reparação do prejuízo sem a necessidade de 
propor ação de conhecimento. (CAPEZ, 2008, p. 167). 
 
 Destarte, identificamos a ação civil ex delicto, tanto na sentença penal condenatória 
transitada em julgado,que torna certa a obrigação de reparar o dano advindo do crime, seja 
13 
 
ela de execução ou de liquidação de sentença, quanto na ação civil de conhecimento ajuizada 
pela vítima, ou pelos legitimados (elencados nos arts. 63 e 68, do Código de Processo Penal), 
para pleitear a reparação dos danos causados pelo crime, com as ressalvas sobre a 
legitimidade do Ministério Público (art. 68, do Código de Processo Penal) para o feito, acerca 
das quais faremos considerações em tópico separado. 
 Após essas breves noções acerca da ação civil ex delicto, passaremos a fazer algumas 
considerações sobre a unicidade da jurisdição. 
 Conforme já mencionamos nesse estudo, as situações de conflito e os litígios que 
versarem sobre lesão ou ameaça de lesão a direito, serão submetidas ao Poder Judiciário, o 
qual, no exercício de uma das funções do Estado, irá se manifestar através da jurisdição, 
“considerada instituto fundamental do Direito Processual”. (CÂMARA, 2008, p. 63). 
 Jurisdição, para Câmara (2008, p. 69): é “a função do Estado de atuar a vontade 
concreta do direito objetivo [...]. Ao falar em atuação concreta do direito objetivo, pressupõe-
se a conformidade constitucional da lei aplicada ao caso concreto”. 
 Tourinho Filho (2010) ensina que o Estado, para cumprir os fins que almeja, 
desempenha atividades específicas: legislativa, executiva e jurisdicional, as quais competem, 
respectivamente, ao Poder Legislativo, ao Poder Executivo e ao Poder Judiciário (este 
composto de Juízes e Tribunais). A palavra jurisdição, segundo o mesmo autor: 
 
Vem de jurisdictio, formada de jus, juris (direito) e de dictio, dictionis (ação de 
dizer, pronúncia, expressão), traduzindo, assim, a ideia de ação de dizer o direito. A 
jurisdição, pois, é aquela atividade desenvolvida pelos seus órgãos jurisdicionais 
visando a solucionar as lides, aplicando, para tanto, o direito objetivo a uma situação 
litigiosa concreta. Como poder, a jurisdição é uma emanação da soberania nacional. 
Como função é aquela incumbência afeta ao juiz de, por meio do processo, aplicar a 
lei aos casos concretos. Finalmente, como atividade, a jurisdição é toda aquela 
diligência do juiz dentro no processo objetivando dar a cada um o que é seu. 
(TOURINHO FILHO, 2010, p. 273). 
 
 Ao conceituar jurisdição, Nucci (2008, p. 246) diz o seguinte: “é o poder atribuído, 
constitucionalmente, ao Estado para aplicar a lei ao caso concreto, compondo litígios e 
resolvendo conflitos”. 
 Para Tourinho Filho: 
 
A jurisdição, como função soberana do Estado, é uma só, pouco importando que os 
órgãos que integram o Poder Judiciário processem e julguem lides civis, penais, 
trabalhistas, eleitorais, militares etc. [...] Daí se dizer que a Jurisdição é una ─ a 
função de todos os seus membros é a mesma: aplicar a lei ao caso concreto, embora 
os litígios sejam de natureza diversa. (TOURINHO FILHO, 2010, p. 281). 
 
14 
 
Embora seja una a jurisdição, segundo Nucci (2008), nosso sistema jurídico 
privilegiou a separação da atividade jurisdicional, em razão da atribuição de competência 
constitucional, e também em razão dos diferentes conteúdos das matérias jurídicas a serem 
analisadas pelos juízes na resolução dos conflitos. Daí decorre a necessidade de 
especialização não só dos julgadores, como das próprias leis que regulam a atividade 
jurisdicional. 
 Acerca dessa separação, vejamos as explicações de Tourinho Filho: 
 
A divisão que se estabelece entre a “jurisdição penal” e a “jurisdição civil” assenta, 
única e exclusivamente, na natureza do conflito intersubjetivo e, assim mesmo, pelas 
vantagens que a divisão do trabalho proporciona. (TOURINHO FILHO, 2010, p. 
280). 
 
 Nesse sentido, informa Theodoro Júnior que o âmbito de atuação das atividades 
jurisdicionais: 
 
É delineado por exclusão, de forma que a jurisdição civil tem a característica da 
generalidade. Aquilo que não couber na jurisdição penal e nas jurisdições especiais 
será alcançado pela jurisdição civil, pouco importando que a lide verse sobre direito 
material público (constitucional, administrativo etc.) ou privado (civil ou comercial). 
(THEODORO JÚNIOR, 2008, p. 46). 
 
 Todavia, essa 
separação não é absoluta, ao contrário, a atividade jurisdicional penal e a cível se relacionam, 
o que comprova a unicidade da jurisdição e do devido processo legal como instituição 
constitucionalizada, expressamente previsto no art. 5º, LIV, da Constituição Federal de 1988. 
(BRASIL, 1988). 
 Exemplo desse relacionamento entre a jurisdição penal e a cível se verifica com a 
sentença penal condenatória transitada em julgado, pois, esta se forma em processo criminal, 
mas se do crime praticado decorrer algum dano à vítima, esta deverá ser indenizada através de 
procedimentos (conhecimento, execução ou liquidação) a serem realizados no juízo cível. 
 Isso comprova que o mesmo fato pode provocar a incidência de mais de uma regra 
jurídica, daí serem atribuídos efeitos civis à sentença penal condenatória transitada em 
julgado, porque provada a prática do crime (ilícito penal) e que este também causou dano 
(ilícito civil) à vítima, além de ter que cumprir a pena cominada na lei penal incriminadora, o 
autor do crime será obrigado à respectiva reparação dos prejuízos causados pelo delito. 
 Com relação à prática de ilícitos civis, observamos que no Direito Civil a sanção, 
dentre outras consequências, impõe a reparação dos danos, que atinge o patrimônio do autor 
15 
 
do ato ilícito. Porém, a sanção civil poderá recair, também, sobre o patrimônio de terceiros, 
sendo essa a regra do art. 932, do Código Civil, cuja redação é a seguinte: 
 
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: 
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua 
companhia; 
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas 
condições; 
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no 
exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; 
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por 
dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e 
educandos; 
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a 
concorrente quantia. (BRASIL, 2002) 
 
 Por outro lado, no Direito Penal a sanção pela prática de crime impõe a aplicação de 
pena, que pode ser privativa de liberdade, restritiva de direitos e/ou multa, e, aos 
inimputáveis, aplicar-se-á medida de segurança, quando cabível. Contudo, seja qual for a 
sanção penal a ser aplicada atingirá apenas o autor do delito, ou seja, apenas a pessoa do réu 
irá sofrer a respectiva sanção, tendo em vista o Princípio da Pessoalidade. Mas, se do crime 
resultar dano, haverá responsabilidade civil do autor do delito e, em algumas situações, 
poderá extrapolar a esfera pessoal do réu, atingindo, além do patrimônio deste, também o de 
terceiros, conforme disposição legal supramencionada. 
 Daí a importância da análise dos efeitos civis da sentença penal condenatória 
transitada em julgado, pois, configurada a ocorrência de dano à vítima, caracterizada estará a 
responsabilidade civil do autor do delito, o que acarretará a obrigação de indenizar os 
prejuízos causados ao ofendido. 
 Nesse sentido, vejamos o pensamento Câmara: 
 
O Código de Processo Civil atribui eficácia executiva civil à sentença penal 
condenatória transitada em julgado. Isto nada mais é do que o reconhecimento, por 
nosso sistema processual civil, do disposto no art. 91, I, do Código Penal, que 
considera efeito da condenação penal “tornar certa a obrigação de indenizar o dano 
causado pelo crime”.Trata-se de efeito secundário da sentença penal condenatória, 
ou seja, efeito da sentença que se produz por força de lei, ainda que tal declaração 
não conste expressamente da sentença, e mesmo sendo certo que tal declaração não 
integra o objeto do processo penal condenatório. (CÂMARA, 2009, p. 171). 
 
 Segundo Lucon (2008, p. 1547), a sentença penal condenatória transitada em julgado 
constitui-se em título executivo judicial, conforme está previsto no art. 475-N, do Código de 
Processo Civil (BRASIL, 1973), e, como tal, na jurisdição cível: ou será instaurado novo 
procedimento para liquidação da sentença criminal, caso esta não declare o valor da 
16 
 
indenização, ou será instaurado procedimento de execução, por óbvio, quando declarado 
estiver o quantum debeatur. Mas em qualquer das duas hipóteses, conforme dispõe o 
parágrafo único, do art. 475-N, do Código de Processo Civil: “o mandado inicial (art. 475-J) 
incluirá a ordem de citação do devedor, no juízo cível, para liquidação ou execução, conforme 
o caso”. (BRASIL, 1973). 
 Destarte, a obrigação de indenizar o dano oriundo de crime é efeito secundário da 
sentença penal condenatória transitada em julgado, e mesmo que esta não declare a existência 
do dano, mas, tendo este ocorrido, deverá ser indenizado, por força do que dispõe o art. 91, I, 
do Código Penal. (BRASIL, 1940). 
 De outro lado, conforme disposto no art. 64, caput, e em seu parágrafo único, do 
Código de Processo Penal (BRASIL, 1941), se a vítima ou seus legitimados optarem por 
ajuizar ação para o ressarcimento do dano, isto será feito no juízo cível contra o autor do 
crime ou, se for o caso, contra o responsável civil. Mas, se a vítima ou seus legitimados 
optarem por ajuizar uma ação no juízo penal e outra no juízo cível, o juiz da ação civil poderá 
suspender o curso desta, até que seja julgada em definitivo a ação penal, principalmente para 
que não ocorram decisões divergentes, o que reforça o princípio da unicidade da jurisdição. 
 No caso de haver duplicidade de ações em tramitação: uma ação no juízo cível, outra 
na seara penal, mas ambas discutirem o mesmo fato, Nucci faz a seguinte observação: “se tal 
se der, naturalmente, o juízo criminal deve abster-se de fixar qualquer valor de indenização 
civil na sentença condenatória. Afinal, haveria litispendência nesse campo”. (NUCCI, 2008, 
p. 238). 
 Todavia, em que pese haver significativa independência entre a responsabilidade civil 
e a criminal, quando as questões sobre a existência ou autoria do fato estiverem decididas no 
juízo criminal, estas não mais serão discutidas no juízo cível, conforme previsto no art. 935, 
do Código Civil (BRASIL, 2002), assunto ao qual retornaremos nesse estudo. 
 Evidencia-se, desta feita, subordinação temática da jurisdição penal sobre a cível, o 
que nos remete aos sistemas processuais de fixação da responsabilidade civil pelos danos 
decorrentes da prática de ilícitos penais, assunto a ser abordado no próximo tópico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
4 SISTEMAS PROCESSUAIS DE RECOMPOSIÇÃO DO DANO CIVIL EX DELICTO 
 
 
 Segundo ensinamentos de Távora e Antoninni, os sistemas processuais de fixação da 
responsabilidade civil pelos danos decorrentes da prática de ilícitos penais são os seguintes: 
 
a) sistema da confusão: nele temos as duas pretensões, civil e penal, desenvolvidas 
em única ação no juízo criminal. O pedido engloba ao mesmo tempo a condenação e 
a reparação dos danos; 
b) sistema da solidariedade ou da união: aqui teremos as duas ações, civil e penal 
se desenvolvendo em processo único. Podem ser movidas por pessoas distintas, 
contra responsáveis diversos. Teremos duas pretensões e dois pedidos, tramitando 
no mesmo feito; 
c) sistema da livre escolha: a parte opta pelo pleito reparatório na esfera cível ou na 
penal. Dentro da discricionariedade do demandante, as ações podem tramitar em 
conjunto na Justiça criminal, ou em separado; 
d) sistema da separação ou independência: era, até então o adotado no Brasil, 
onde cada ação tramitará na competente Justiça, com o devido procedimento. (grifos 
dos autores). (TÁVORA; ANTONINNI, 2009, p. 182). 
 
 No entendimento dos mencionados autores, com a reforma do Código de Processo 
Penal, realizada pela Lei n. 11.719/08, que autoriza o juiz fixar valor mínimo na sentença 
penal condenatória, parece estar havendo “uma tentativa de adoção do sistema da confusão, 
onde, a pretensão condenatória e a indenizatória estariam vinculadas na mesma demanda”. 
(TÁVORA; ANTONINNI, 2009, p. 182) 
 Embora nosso sistema seja o da separação de instâncias, Távora e Antoninni (2009, p. 
182) apontam outras situações em que se verifica a interferência da justiça penal na cível, e 
vice-versa, citando como exemplos: a Lei n.º 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), que prevê, 
no art. 33, o acúmulo de competência cível e penal nas varas criminais, até que sejam 
estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; os Juizados 
Especiais Criminais, em que a composição civil dos danos objetiva ressarcir os prejuízos da 
vítima; a multa reparatória fixada na sentença condenatória em relação aos crimes praticados 
na direção de veículo automotor, conforme art. 297, do Código de Trânsito Brasileiro 
(BRASIL, 1997), é calculada tendo por base os prejuízos materiais oriundos do delito. 
 Na visão de Tourinho Filho, os sistemas mais difundidos são o da livre escolha e o da 
separação entre a jurisdição penal e a cível. Informa o autor que, no sistema da livre escolha o 
ofendido opta entre o foro cível ou o penal, que é o sistema adotado em países como 
Alemanha, França, Itália, Peru e Portugal. O sistema da separação é adotado pela Holanda, em 
que a ação para reparação de danos somente pode ser ajuizada no juízo cível, mas, estando em 
curso ação penal, para evitar divergência nas decisões, a ação civil deve ser sobrestada. 
18 
 
Assinala esse mesmo autor que o sistema brasileiro é o da independência, porém, registra que 
“há certa mitigação”. (TOURINHO FILHO, 2010, p. 260-261) 
 De outro lado, para Câmara (2009), no direito moderno, os sistemas de fixação da 
responsabilidade civil por dano oriundo da prática de ilícitos penais são dois, a saber: 
 
a) Sistema da separação: proíbe que no processo penal se postule reparação civil: é o 
modelo adotado no Direito anglo-saxônico e holandês. É o sistema que o Direito 
brasileiro adotou no período imediatamente anterior à reforma do CPP aqui 
examinada; 
b) Sistema da adesão: permite que no processo penal se postule reparação civil. Em 
alguns casos, a postulação é feita pela vítima ou seus sucessores, em outros, pelo 
Ministério Público, atuando como substituto processual. É o adotado, por exemplo, 
na Itália. 
 
 Segundo o mesmo autor: “o Direito brasileiro teria passado, por força da Lei nº 
11.719/2008, do regime da separação para o da adesão facultativa”. (CÂMARA, 2009). 
 Os comentários de Bernstein sobre o tema assinalam que: 
 
A reforma acabou por instituir um sistema híbrido, pelo qual, visando uma maior 
proteção para a vítima do crime, a reparação dos prejuízos sofridos será fixada desde 
logo na sentença criminal condenatória, no limite do valor (valor mínimo) que 
estiver de pronto demonstrado no caderno investigatório, possibilitando que a vítima 
execute esse valor no juízo cível, imediatamente após o trânsito em julgado. Nada 
obsta, inclusive, que a vítima proponha a execução provisória, nos termos do art. 
475-O, do Código de Processo Civil. (BERNSTEIN, 2010). 
 
 Pacelli ensina que a independência entre o juízo penal e o juízo civil possibilitaria a 
ocorrência de decisões judiciais discordantes acerca de um únicoe mesmo fato, o que 
somente se admitiria, em termos absolutos, em um sistema de separação total de jurisdições, e 
acrescenta: “no Brasil, adota-se o sistema da independência relativa ou mitigada em razão de 
uma subordinação temática de uma instância sobre a outra em determinadas questões”. 
(PACELLI, 2009, p. 205). 
 Segundo Nucci (2008), apesar de existir separação entre a jurisdição penal e a cível, 
seja ela mitigada ou não, conforme supra assinalado, no caso da ação civil ex delicto existe, 
sim, subordinação temática ou prevalência de uma instância sobre a outra, pois, algumas 
questões não poderão ser discutidas no juízo cível, se já tiverem sido decididas no juízo penal, 
por força do disposto no art. 935, do Código Civil, cujo teor é o seguinte: 
 
Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo 
questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando 
estas questões se acharem decididas no juízo criminal. (BRASIL, 2002) 
19 
 
 Diante de tal previsão legal, fica evidente que há prevalência da justiça penal sobre a 
cível nas demandas penais em que seja arguida a responsabilização civil do agente, pois, se o 
juiz criminal julgar que inexistiu o fato ou julgar que o agente não foi o autor do crime, sobre 
estas questões não mais se discutirá na seara cível. 
 Assim, na esteira do pensamento de Nucci (2008), podemos dizer que fazem coisa 
julgada na esfera cível, ou seja, não caberá a ação civil ex delicto: a) quando o juiz penal 
declarar que ficou provado que o fato não existiu, conforme art. 386, I, do Código de Processo 
Penal (BRASIL, 1941); b) quanto o juiz penal considerar que o réu não concorreu para a 
infração penal, conforme art. 386, IV, do Código de Processo Penal. (BRASIL, 1941). O 
objetivo do legislador, ao impedir a reabertura dos debates sobre essas questões na esfera 
cível, foi evitar a possibilidade de surgirem decisões contraditórias. 
 Por outro lado, não produzem coisa julgada no juízo cível, o que possibilita a ação de 
conhecimento para apurar o dano (caberá, então, a ação civil ex delicto), as seguintes 
situações: 
 
a) absolvição por não estar provada a existência do fato (art. 386, II, CPP); b) 
absolvição por não constituir infração penal o fato (art. 386, III, CPP; art. 67, III, 
CPP); c) absolvição por não existir prova de ter o réu concorrido para a infração 
penal (art. 386, V, CPP); d) absolvição por insuficiência de provas (art. 386, VII, 
CPP); e) absolvição por excludentes de culpabilidade e algumas de ilicitude (art. 
386, VI, CPP); f) decisão de arquivamento de inquérito policial ou peças de 
informação (art. 67, I, CPP); g) decisão de extinção da punibilidade (art. 67, II, 
CPP). (NUCCI, 2008, p. 242). (NUCCI, 2008, p. 242). 
 
 Nas situações supramencionadas, itens a a d, o juiz penal absolveu o autor do crime, 
mas não fechou questão sob alguns aspectos, ou seja, apenas decidiu pela absolvição, tendo 
em vista os seguintes fundamentos: não ficou provado que o fato existiu (mas isso não impede 
apuração no juízo cível); ficou provado ter existido o fato e que este não constitui infração 
penal (entretanto, o fato pode constituir ilícito civil); não ficou provado que o réu contribuiu 
para o delito (mas isso pode ser reconhecido no juízo cível); as provas foram insuficientes 
para condenar o réu, e, em caso de dúvida, incidirá o princípio in dúbio pro reo 
4
 (mas, no 
juízo cível, tal princípio não prevalece, assim, as provas poderão ser obtidas). 
 
 
4 A expressão latina in dúbio pro reo significa “na dúvida, se decide em favor do réu”. NEVES. Op. cit., p. 248. 
 
20 
 
 Quanto ao item e, acima referido, se a absolvição estiver fundamentada no art. 386, 
VI, do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941), que se refere às excludentes de 
culpabilidade e de ilicitude, segundo Tourinho Filho: 
 
A ação civil poderá ou não ser proposta, dependendo do que dispuser o Código 
Civil. Uma coisa é certa: se a excludente de ilicitude for a legítima defesa, não será 
possível o ingresso na via cível, visto que não comete crime quem age em legítima 
defesa. (TOURINHO FILHO, 2010, p. 271). 
 
 Semelhante entendimento se verifica nos ensinamentos de Capez, que assim se 
manifesta: 
 
faz coisa julgada no juízo cível, a sentença penal que reconhecer o ter sido o ato 
praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de 
dever legal ou no exercício regular de direito (cf. art. 65 do CPP) . Esses atos são 
penal e civilmente lícitos (respectivamente arts. 23 do CP e 188, I, primeira parte e 
II, do novo CC). (CAPEZ, 2008, p. 169) 
 
 Porém, o mencionado autor aponta duas exceções à regra nas hipóteses de estado de 
necessidade e na legítima defesa, o que faz nos seguintes termos: 
 
no estado de necessidade agressivo, onde o agente sacrifica bem de terceiro 
inocente, este pode acioná-lo civilmente, restando ao causador do dano a ação 
regressiva contra quem provocou a situação de perigo (cf. arts. 929 e 930, caput, do 
CC); na hipótese de legítima defesa, onde, por erro de execução, vem a ser atingido 
terceiro inocente, este terá direito à indenização contra quem o atingiu, ainda que 
este último estivesse em situação de legítima defesa, restando-lhe apenas a ação 
regressiva contra seu agressor (cf. parágrafo único do art. 930 do CC). (CAPEZ, 
2008, p. 169). 
 
 Por oportuno, transcrevemos os arts. 65 e 66, do Código de Processo Penal (BRASIL, 
1941), e o art. 188, do Código Civil (BRASIL, 2002), os quais, respectivamente, assim 
dispõem: 
 
Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato 
praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de 
dever legal ou no exercício regular de direito. 
Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá 
ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência 
material do fato. 
[...] 
Art. 188. Não constituem atos ilícitos: 
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito 
reconhecido; 
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de 
remover perigo iminente. 
21 
 
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as 
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do 
indispensável para a remoção do perigo. 
 
 Segundo Mirabete (2007, p. 359), no juízo cível não mais se poderá discutir acerca da 
“existência no fato de uma causa excludente de antijuridicidade, vedando-se, inclusive, a 
possibilidade da propositura da ação quando se tratar de pedido de indenização pelo autor da 
agressão ou causador do perigo que geraram a legítima defesa ou o estado de necessidade”. 
 Todavia, em algumas situações em que se verificar o reconhecimento das citadas 
excludentes de antijuridicidade, coadunando com o pensamento de Capez, acima referido, 
assim pontua Mirabete: 
 
o autor do fato, porém, deverá indenizar o prejudicado quando não for este o 
culpado pelo perigo, na hipótese de reconhecimento do estado de necessidade (art. 
929 do CC). Terá, entretanto, ação regressiva contra o causador do perigo (art. 930, 
caput, do CC) e contra aquele em favor do qual atuou (art. 930 e parágrafo único do 
CC). A mesma solução será adotada na hipótese de legítima defesa com erro na 
execução ou com resultado diverso do pretendido (art. 73 e 74 do Código Penal), 
impondo-se ao autor do fato a obrigação de indenizar o prejudicado, mas com ação 
regressiva contra o agressor e, se agiu em legítima defesa de terceiro, tambémcontra 
este (art. 930, parágrafo único, do CC). Nessas hipóteses não se discutirá mais a 
existência da excludente (há nessa parte coisa julgada). No caso de estado de 
necessidade, se o perigo resultou de caso fortuito ou se se ignora quem causou o 
perigo o sujeito responde pela indenização e arca com o prejuízo. Faz também coisa 
julgada no cível a sentença absolutória quando reconhecida categoricamente a 
inexistência material do fato, ex-vi do art. 65 do CPP. (MIRABETE, 2007, p. 359). 
 
 Destarte, em regra, a sentença penal absolutória não exclui a possibilidade de se 
intentar a ação civil ex delicto, porque, embora determinado fato não tenha sido julgado ilícito 
penal, o mesmo fato poderá vir a ser configurado um ilícito civil no juízo cível, até mesmo em 
pontuais situações acobertadas por alguma excludente de ilicitude. 
 O mesmo se pode dizer, ou seja, caberá a ação civil ex delito nas situações em que o 
juiz penal absolveu por reconhecer que o réu estava amparado por alguma excludente de 
culpabilidade, ou porque julgou extinta a punibilidade, ou, ainda, quando determinou o 
arquivamento do inquérito ou de peças de informação, pois, nessas hipóteses, o juiz decidiu 
conforme as regras de competência para exercer a jurisdição penal, adstrito à aplicação da lei 
penal ao caso concreto, ou seja, não provado ser o fato infração penal, ou não provado ser o 
agente o autor do crime, ocorreu o afastamento da “pretensão punitiva do Estado, mas não o 
direito à indenização da vítima”. (NUCCI, 2008, p. 242). 
 Desta feita, não obstante o sistema processual brasileiro de fixação da 
responsabilidade civil para os danos decorrentes de ilícitos penais adotar a separação da 
22 
 
atividade jurisdicional, o crime que causar dano terá como uma de suas consequências a 
responsabilização civil do autor do ilícito penal, criando para este a obrigação de indenizar os 
prejuízos causados ao ofendido. 
 Tal obrigação de reparar os danos oriundos de crime tornou-se norma expressa pela 
Lei nº 11.719/08, que alterou a redação do inciso IV, do art. 387, do Código de Processo 
Penal (BRASIL, 1941), dando ensejo, em sede doutrinária, ao surgimento de distintos 
questionamentos e debates, sobre os quais iremos tratar nos próximos tópicos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
5 VALOR MÍNIMO INDENIZATÓRIO NA SENTENÇA PENAL 
 
 
 O texto do diploma processual penal não trazia disposição expressa de que a sentença 
penal condenatória consignasse, entre seus elementos, valor indenizatório ou reparatório pelos 
danos causados à vítima de crime. 
 Com a reforma, operada pela Lei n.º 11.719/08 (BRASIL), dentre outras alterações, foi 
inserido o parágrafo único ao art. 63, e alterada a redação do inciso IV, do art. 387, ambos do 
Código de Processo Penal, os quais, respectivamente, vigem com seguinte redação: 
 
Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a 
execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu 
representante legal ou seus herdeiros. 
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá 
ser efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste 
Código sem prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido. 
[...] 
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: 
[...] 
IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, 
considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido. (BRASIL, 1941). 
 
 Diante das novas regras supramencionas, o juiz criminal, quando prolatar a sentença 
penal condenatória, fixará valor mínimo para a reparação pelos danos causados pelo crime e, 
para isso, deverá considerar os prejuízos do ofendido. 
 A execução ou a liquidação judicial da sentença penal condenatória transitada em 
julgado (situações que ensejam a ação civil ex delicto) será realizada no juízo cível, e caberá 
ao ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros instaurarem um ou outro procedimento. 
Todavia, quando o titular do direito à reparação do dano for pobre, igual tarefa caberá ao 
Ministério Público, apesar de existirem controvérsias quanto à legitimidade deste para o 
pleito, conforme veremos em tópico mais adiante. 
 A referida inovação legislativa também torna claro que, transitada em julgado e tendo 
sido fixado o valor mínimo na sentença penal condenatória, nada impede seja executada no 
juízo cível a parte líquida,
5
 e que se proceda à liquidação judicial da parte ilíquida, em que 
 
 
 
5 Contempla esta possibilidade o art. 475-I, § 1º, do Código de Processo Civil, que assim dispõe: Art. 475-I, § 1º. 
Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao credor é lícito promover simultaneamente a 
execução daquela e, em autos apartados, a liquidação desta. 
24 
 
se deverá apurar o dano efetivamente sofrido, ou, ainda, no caso de ter havido inconformismo 
da vítima com o valor da indenização fixada pelo juiz penal, para posterior execução. 
 Mas, se for o réu que não se conformar com o valor arbitrado na sentença penal 
condenatória, no entendimento de Capez (2008, p. 167), a impugnação deverá ser feita em 
“recurso de apelação”, o que não impedirá a execução da pena cominada. 
 Esclarece, ainda, o referido autor que a sentença penal condenatória transitada em 
julgado, como título executivo judicial no juízo cível, possibilita 
 
Ao ofendido obter a reparação do prejuízo sem a necessidade de propor ação civil de 
conhecimento. Se for proposta a ação de conhecimento, no lugar da execução, o juiz 
deverá julgar o feito extinto sem julgamento do mérito, diante da falta de interesse 
de agir, pois, se já existe título executivo, não há nenhuma necessidade de rediscutir 
o mérito. (CAPEZ, 2008, p. 167). 
 
 Porém, segundo Theodoro Júnior (2008, p. 78), será cabível processo de conhecimento 
no juízo cível para reparação de dano decorrente de crime “quando a vítima tiver que 
demonstrar a co-responsabilidade de terceiros”, assunto sobre o qual faremos algumas 
reflexões em outro tópico desse trabalho. 
 Quanto à fixação de valor mínimo na sentença penal condenatória para reparação de 
dano decorrente de crime, os entendimentos dos juristas não estão direcionados ao mesmo 
rumo, ou seja, as opiniões daqueles que já se manifestaram sobre o assunto se dividem em 
aplauso, crítica ou oposição à inovação legislativa processual penal, conforme simples 
amostragem a seguir apresentada. 
 Para Santos, a nova regra que permite ao juiz penal fixar valor mínimo como 
reparação dos prejuízos causados pelos danos “é benéfica, à medida que trará ao ofendido, de 
forma mais rápida e menos burocratizada, a reparação material que o ato criminoso 
ocasionou”. (SANTOS, 2008, p. 300). 
 No mesmo sentido, assim se manifesta Araújo: 
 
Trata-se de inovação extremamente, vantajosa para as vítimas de crimes e para seus 
familiares. Isso porque, fixando-se, na sentença penal, o mínimo da indenização 
cível devida em virtude da prática do ato ilícito (art. 186 do Código Civil) 
economiza-se a fase de liquidação do quantum debeatur, anterior ao processo de 
execução. [...] Hoje, em virtude da aludida reforma, toda a fase de liquidação do 
quantum debeatur - antigamente imprescindível após o trânsito em julgado da 
sentença penal condenatória - é suprimida, encurtando-se o tempo entre a fixação da 
indenização e o pagamento dessa verba. (ARAUJO, 2010). 
 
25 
 
 Câmara, por sua vez, faz algumas críticas à reforma do art. 387, IV, do Código de 
Processo Penal(BRASIL, 1941), no sentido de que a nova regra penal viola o princípio da 
correlação entre a demanda e a sentença. A violação ao mencionado princípio, segundo o 
referido autor, é vista pela doutrina como “um desrespeito ao princípio do contraditório”, e 
aduz o seguinte: 
 
A necessidade de respeito ao princípio da correlação nada mais é do que a imperiosa 
garantia que devem ter as partes de que poderão prever, com absoluta exatidão, 
todos os possíveis resultados do processo. Têm elas, pois, o direito de participar do 
processo de modo a influenciar o juízo na formação do seu resultado. (CÂMARA, 
2009). 
 
 Segundo o mencionado autor, para se admitir que o juiz penal fixe valor indenizatório 
na sentença condenatória é essencial ter sido formulado pedido expresso nesse sentido, 
afirmando que: 
 
A inclusão da determinação do valor mínimo da indenização no objeto do processo 
penal independentemente de pedido geraria uma ilegítima violação do princípio da 
correlação entre demanda e sentença e, pois, da garantia constitucional do 
contraditório. O sistema estabelecido pela Lei nº 11.719/2008, portanto, padece de 
vício de inconstitucionalidade, não podendo ser aplicado. (CÂMARA, 2009).6 
 
 Pacelli (2009) ensina que a nova regra do art. 387, IV, do Código de Processo Penal 
(BRASIL, 1941), deve ser aceita somente como efeito secundário da sentença penal 
condenatória, pois, mesmo sem pedido ou participação da vítima no processo, o art. 91, I, do 
Código Penal (BRASIL, 1940), sempre autorizou a formação de título executivo no juízo 
cível, eis que afirma a obrigação de indenização do dano por meio da sentença penal 
condenatória. Para o mencionado autor, a nova regra há de ser entendida em termos estritos, 
devendo-se impedir o: 
 
Alargamento da instrução criminal para a discussão acerca dos possíveis 
desdobramentos da responsabilidade civil. Não se há de pretender discutir, por 
exemplo, o dever de reparação do dano moral ou mesmo dos danos emergentes 
(aquilo que se deixou de ganhar em razão do crime). Não se trata de cumulação de 
instâncias (cível e penal), mas simplesmente da especificação de valor mínimo, 
devida e cabalmente demonstrado no desenvolvimento da ação penal, sobretudo da 
própria imputação. (destaques do autor) (PACELLI, 2009, p. 189). 
 
 
6 Sobre o tema, vale consultar o artigo de Alexandre Freitas Câmara, Efeitos civis e processuais da sentença 
condenatória criminal – reflexões sobre a Lei 11.719/08, onde o autor expõe suas fundamentações sobre a não 
aplicabilidade do sistema estabelecido pela Lei n˚ 11.719/08, publicado na Revista Juris Síntese: Legislação, nº 
83 mai/jun de 2010. São Paulo: Grupo IOB, 2010. 
26 
 
 Para exemplificar, o mencionado autor cita o art. 163, do Código Penal (BRASIL, 
1940), pelo qual, em uma ação penal por crime doloso: 
 
O mérito da questão penal já permitiria a mais ampla defesa sobre a coisa 
danificada, incluindo seu valor. Desse modo, não se poderia alegar violação ao 
contraditório a fixação do valor mínimo caso reconhecido e provado. [...] se o juiz 
fixar a parcela mínima sem quaisquer debates anteriores acerca da existência do 
dano e da sua extensão impor-se-á a nulidade absoluta da sentença, neste particular. 
(PACELLI, 2009, p. 189). 
 
 Assim, no entendimento desse autor, o valor possível de ser fixado na sentença penal 
condenatória será: 
 
a) aquele que tiver sido objeto de discussão ao longo do processo, prescindido, 
porém, de pedido expresso na inicial; b) aquele relativo aos prejuízos materiais 
efetivamente comprovados, ou seja, em que haja certeza e liquidez quanto à sua 
natureza. (destaques do autor) (PACELLI, 2009, p. 189). 
 
 Harmonizando em parte com o pensamento de Pacelli, assim se manifesta Hertel: 
 
Considerando-se a imperatividade do art. 387, inc. IV do CPP, ainda que o prejuízo 
não tenha sido narrado na denúncia, exsurgindo nos autos a sua prova, deverá o 
quantum ser considerado quando da prolação da sentença penal condenatória. Tem-
se, nesse caso, uma situação de aplicação do princípio da ultrapetição. Por outras 
palavras: ainda que não seja feito pedido de indenização cível na ação penal, 
surgindo nos autos prova do valor do prejuízo, deverá o magistrado considerá-lo na 
sentença. Essa interpretação coaduna-se com o espírito da reforma de otimização do 
processo judicial. (HERTEL, 2010). 
 
 Entende o mencionado autor, todavia, que não havendo prova nos autos da ação penal 
do quantum da indenização pelos danos causados pela infração, o magistrado não deverá 
aplicar o inciso IV, do art. 387, do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941), e se justifica 
nos seguintes termos: 
 
É que, na ausência de provas referentes aos prejuízos obtidos, não deterá o 
magistrado elementos suficientes para a fixação da indenização. Tal tarefa, nesse 
caso, deverá ser relegada para a fase de liquidação da sentença penal condenatória, a 
ser realizada na esfera cível, na forma dos arts. 475-A a 475-H do Código de 
Processo Civil. (HERTEL, 2010). 
 
 Nucci assim se manifesta em relação ao valor mínimo a ser fixado pelo juiz penal na 
sentença: 
 
O correto seria o estabelecimento de um valor real, debatido no processo criminal, a 
fim de não sobrecarregar a esfera cível com nova discussão a respeito do mesmo 
27 
 
tema. Ademais, se o ofendido conseguir um valor mínimo qualquer, sem atingir o 
efetivamente devido, poderá sentir-se duplamente enganado. O Judiciário fixa-lhe 
um valor pífio, que não o deixa satisfeito, embora se sinta desmotivado para, 
novamente, demandar, no cível, outros valores. (NUCCI, 2008, p. 235). 
 
 Comentando acerca das alterações feitas pela Lei nº 11.719/08 (BRASIL), continua o 
mesmo autor: 
 
A modificação ainda foi tímida. [...] Nota-se não ter sido previsto nenhum 
procedimento para a apuração dos danos, nem seu grau de abrangência (material ou 
moral). Nada se mencionou acerca da legitimidade ativa para pleitear a reparação 
dos danos: somente a vítima ou também o Ministério Público, atuando em seu 
nome? Poderia o juiz, de ofício, fixar indenização, sem que ninguém tenha 
solicitado? (NUCCI, 2008, p. 235). 
 
 As indagações do mencionado autor são relevantes e apropriadas, o que nos leva a 
subdividir esse tópico para expor alguns posicionamentos circunstanciais de juristas que já se 
manifestaram sobre as questões anteriormente suscitadas, decorrentes da inovação na 
legislação processual penal, introduzida pela Lei n. 11.719/08 (BRASIL), algumas delas 
objeto desse trabalho, abordadas a seguir. 
 
 
5. 1 Legitimidade do Ministério Público para a ação civil ex delicto 
 
 
 A leitura do art. 63, do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941) orienta que os 
legitimados para discutir em juízo a reparação dos danos oriundos da prática de crime são: o 
ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros. 
 Todavia o Código de Processo Penal, em seu texto, traz o art. 68, que tem a seguinte 
redação: 
 
Art. 68. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (artigo 32, §§ 1º e 
2º), a execução da sentença condenatória (artigo 63) ou a ação civil (artigo 64) será 
promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público. (BRASIL, 1941). 
 
 Teria, então, o Ministério Público legitimidade para requerer a indenização por dano 
ex delicto? 
 Os entendimentos sobre a legitimidade de o Ministério Público atuar em nome do 
ofendido para pleitear a indenização por dano não são uniformes na doutrina jurídica. 
28 
 
 Para Pacelli, após a previsão institucional da Defensoria Pública, conforme determina 
o art. 134, da Constituição Federal (BRASIL,1988), como órgão essencial à função 
jurisdicional do Estado e à qual foi atribuída a tarefa de orientação jurídica e defesa dos 
necessitados: “a razão de ser da legitimação do Ministério Público (pobreza do titular da ação 
civil) evidentemente deixou de existir”. (PACELLI, 2009, p. 200). 
 Sustenta o mesmo autor que na ação privativa do ofendido, sendo este carente de 
recursos para patrocinar a persecução penal, aplicar-se-á o art. 32, do Código de Processo 
Penal, o qual “determina ao juiz a nomeação de um advogado para a ação privada quando a 
vítima for pobre”. (PACELLI, 2009, p. 200). 
 Por outro lado, Capez entende que: 
 
Se o titular do direito à reparação for pobre (CPP, art. 32, §§ 1º e 2º), a ação poderá, 
a seu requerimento, ser oferecida pelo Ministério Público (CPP, art. 68). Atuará o 
representante do Ministério Público, na qualidade de substituto processual do 
ofendido [...]. (CAPEZ, 2008, p. 170). 
 
 Informa o mencionado autor que, após a Constituição de 1988, o Supremo Tribunal 
Federal passou a questionar a legitimidade do Ministério Público, conforme previsto no art. 
68 do Código de Processo Penal (BRASIL, 1.941), admitindo-a apenas naqueles locais onde 
não houver sido instituída Defensoria Pública. (CAPEZ, 2009, p. 170). 
 Távora e Antoninni (2009, p. 180) entendem que nas ações privadas não haverá 
dificuldades, pois o ofendido, como titular da ação, terá legitimidade para requerer a 
indenização. Porém, quando se tratar de ação pública, esses autores se manifestam contrários 
à legitimidade do Ministério Público, porque entendem que “tal competência exorbitaria o 
âmbito de sua atuação”. 
 Os referidos autores informam que apenas a comarca que não tiver instituído a 
Defensoria Pública, sendo a vítima pobre e a pedido desta, caberia ao Ministério Público 
 
Requerer indenização em favor do hipossuficiente, por analogia do art. 68 do CPP. 
Nos demais casos, restaria ao ofendido devidamente qualificado habilitar-se como 
assistente de acusação, para só assim apresentar pretensão indenizatória. (TÁVORA; 
ANTONINNI, 2009, p. 180). 
 
 Mas, os mesmos autores entendem que: “nas comarcas onde a Defensoria Pública 
encontra-se estruturada, o dispositivo não tem mais aplicabilidade”. (TÁVORA; 
ANTONINNI, 2009, p. 180). 
29 
 
 Nucci (2008) sustenta que o Ministério Público está legitimado tanto a ingressar com a 
execução de título executivo judicial, representado pela sentença penal condenatória 
transitada em julgado, quanto para ajuizar civil ex delicto, pela qual se busca o ressarcimento 
dos prejuízos acometidos ao ofendido pelo crime, na esteira do que dispõe o art. 68, do 
Código de Processo Penal (Brasil, 1941). Segundo este autor, considera-se pessoa pobre 
aquela que não pode arcar com as despesas do processo sem prejuízo de seu sustento e de sua 
família e esclarece: 
 
Para preservar os direitos dos hipossuficientes, o Estado busca garantir o acesso à 
Justiça, ainda que seja, nesse caso, na esfera cível, da pessoa pobre, que não pode 
custear as despesas do processo nem o patrocínio de advogado. (NUCCI, 2008, p. 
243). 
 
 Informa o mesmo autor, que o interessado poderá se utilizar do serviço de assistência 
judiciária, oferecido pelo Estado, por meio de convênios com a Ordem dos Advogados do 
Brasil, e defende a legitimidade do Ministério Público para atuar em favor do ofendido “até 
que a Defensoria Pública seja efetivamente organizada, para a defesa e orientação jurídica dos 
necessitados, em todos os graus”. (NUCCI, 2008, p. 243). 
 Nesse sentido, colacionamos as seguintes decisões: 
 
216312 – MINISTÉRIO PÚBLICO – ART. 68 DO CÓDIGO DE PROCESSO 
PENAL – PRECEDENTES DA CORTE – 1. Já decidiu o Supremo Tribunal Federal 
que enquanto não organizada a Defensoria Pública permanece em vigor o art. 68 do 
Código de Processo Penal, com o que o Ministério Público é parte legítima para 
ajuizar a ação de responsabilidade civil. 2. Recurso Especial conhecido e provido. 
(STJ – REsp 107.227/SP – 3ª T. – Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito – DJU 
10.03.2003 – p. 184). (Revista Juris Síntese, Jurisprudência por assunto. Repertório 
de Jurisprudência IOB, São Paulo, n. 83, mai/jun, 2010). 7 
 
RE 147776 / SP - MINISTÉRIO PÚBLICO, LEGITIMIDADE ATIVA, AÇÃO DE 
REPARAÇÃO DEDANO, JUÍZO CÍVEL, CRIME, RESULTADO, TITULAR, 
POBRE, HIPÓTESE, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, DEFENSORIA PÚBLICA, 
ATRIBUIÇÃO, TRANSFERÊNCIA, VIABILIZAÇÃO, CONDIÇÕES, UNIÃO, 
ESTADOS, IMPLEMENTAÇÃO, ANTERIORIDADE. Ementa: Ministério 
Público: legitimação para promoção, no juízo cível, do ressarcimento do dano 
resultante de crime, pobre o titular do direito à reparação: C. Pr. Pen., art. 68, ainda 
constitucional (cf. RE 135328): processo de inconstitucionalização das leis. 1. A 
alternativa radical da jurisdição constitucional ortodoxa entre a constitucionalidade 
plena e a declaração de inconstitucionalidade ou revogação por 
inconstitucionalidade da lei com fulminante eficácia ex tunc faz abstração da 
 
 
 
7 Mencionada jurisprudência foi coletada no art. 68, do Código de Processo Penal, Jurisprudência Vinculada, 
conforme Revista Juris Síntese DVD. IOB – Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. São Paulo, n. 83, 
Mai/Jun, 2010. 
 
30 
 
 evidência de que a implementação de uma nova ordem constitucional não é um fato 
instantâneo, mas um processo, no qual a possibilidade de realização da norma da 
Constituição - ainda quando teoricamente não se cuide de preceito de eficácia 
limitada - subordina-se muitas vezes a alterações da realidade fáctica que a 
viabilizem. 2. No contexto da Constituição de 1988, a atribuição anteriormente dada 
ao Ministério Público pelo art. 68 C. Pr. Penal - constituindo modalidade de 
assistência judiciária - deve reputar-se transferida para a Defensoria Pública: essa, 
porém, para esse fim, só se pode considerar existente, onde e quando organizada, de 
direito e de fato, nos moldes do art. 134 da própria Constituição e da lei 
complementar por ela ordenada: até que - na União ou em cada Estado considerado, 
se implemente essa condição de viabilização da cogitada transferência constitucional 
de atribuições, o art. 68 C. Pr. Pen. será considerado ainda vigente: é o caso do 
Estado de São Paulo, como decidiu o plenário no RE 135328. (STF – RE 147.776-
SP, 1.ª T., rel. Sepúlveda Pertence, 19.05.1998, Publicação em 19-06-1998). 
8
 
 
 Quanto ao entendimento restritivo dos que sustentam a ilegitimidade do Ministério 
Público para agir nas hipóteses dos arts. 66 e 67, do Código de Processo Penal (BRASIL, 
1941), Nucci esclarece que, apesar de não incluídas expressamente no art. 68, do Código de 
Processo Civil (BRASIL, 1973), é possível o ingresso: 
 
Com ação civil, em decorrência de delito, se os motivos da absolvição, na esfera 
criminal, não comprometem a obrigação de reparar o dano. [...] a legitimação do 
Ministério Público é natural, merecendo ser reconhecida, sem qualquer necessidade, 
por supérfluo que seria, que o art. 68 fizesse novamente referência aos arts. 66 e 67 – 
constitutivos de fundamento útil para sustentar o art. 64 e não para excepcioná-lo. 
(NUCCI, 2008, p. 244). 
 
 Por oportuno, cabe mencionar que o conteúdo normativo dos arts. 66 e 67 do Código 
de Processo Penal (BRASIL, 1941) já foram abordados no tópico anterior, e se referem às 
situações que não produzem coisa julgada no juízo cível (sentença absolutória no juízo 
criminal, quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato, 
despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação, decisão que julgar 
extinta a punibilidade, sentença absolutóriaque decidir que o fato imputado não constitui 
crime), nas quais caberá a ação civil de conhecimento para apurar o dano ex delicto. 
 Bernstein (2010) admite a substituição processual pelo Ministério Público somente 
quando não houver Defensoria Pública implementada, pois a situação é a mesma anterior à 
reforma, e registra: “a única modificação é que a partir das alterações a sentença penal fixará 
 
 
 
8 Jurisprudência coletada em Pesquisa de Jurisprudência no site do Supremo Tribunal Federal. Disponível em: 
<http://www stf.jus.br/portal/jurisprudência>. Acesso em: 11 março 2011. 
31 
 
um valor mínimo, ou seja, haverá uma pronta liquidação do valor do prejuízo que restar 
sobejamente demonstrado no processo criminal, o que não era possível anteriormente”. Para o 
mencionado autor: 
 
A execução desse valor fixado na sentença penal condenatória, nos termos do 
parágrafo único, do art. 63 e 68 do CPP, e art. 475, J, do CPC, é que somente poderá 
ser efetuada pelo Ministério Público, em benefício do favorecido com a indenização 
do que for pobre, se não houver Defensoria Pública implementada no foro local. 
Pois havendo esta, a competência será sua, a teor do art. 134 da Constituição 
Federal. (BERNSTEIN, 2010). 
 
 Encerrando este item, sobre a legitimidade de atuação do Ministério Público na ação 
civil ex delicto, colacionamos o pensamento de Araújo (2010), que assim se manifesta sobre 
esse tema: 
 
O Ministério Público só tem legitimidade para requerer a indenização cível quando a 
vítima for pobre, nos termos do art. 68 do Código de Processo Penal. Quando tal não 
ocorrer, não há legitimidade do referido órgão, por falta de amparo legal. [...] Nesse 
contexto, quando a vítima não for, juridicamente, pobre, caberá a ela ou intervir no 
processo criminal como assistente litisconsorcial, requerendo a citada indenização 
cível, ou ajuizar ação indenizatória perante o juízo cível (ação civil ex delito), nos 
termos do art. 64 do Código de Processo Penal. Não há supedâneo legal para o 
Ministério Público agir como substituto processual ou legitimado extraordinário na 
hipótese de a vítima não ser, juridicamente, pobre. 
 
 A questão sobre os legitimados para a ação civil ex delicto nos leva a apresentar 
alguns posicionamentos doutrinários sobre o interessante debate em torno da responsabilidade 
civil de terceiro na ação civil ex delicto, tema que abordaremos em seguida. 
 
 
5. 2 Responsabilidade civil de terceiro na ação civil ex delicto 
 
 
 Observamos até aqui que, embora nossa legislação processual adote o sistema da 
separação, ou da autonomia relativa entre a jurisdição penal e a cível, o réu condenado no 
juízo penal não se desobriga do dever de indenizar os danos, apurados os prejuízos sofridos 
pela vítima, advindos da prática do crime. 
 A sentença penal condenatória com trânsito em julgado é título executivo judicial apto 
ao procedimento de execução, ou de liquidação, que ensejam a ação civil ex delicto. Mas, 
32 
 
poderia a mesma sentença penal condenatória servir de título executivo judicial para cobrar do 
responsável civil do autor do crime os danos que a ação delituosa causou? 
 Vejamos o pensamento de Theodoro Júnior sobre essa questão: 
 
A eficácia civil da responsabilidade penal só atinge a pessoa do condenado na 
justiça criminal, sem alcançar os co-responsáveis pela reparação do ato ilícito, como 
é o caso de preponentes, patrões, pais etc. Contra estes, a vítima do delito não dispõe 
de título executivo. Terá de demonstrar a co-responsabilidade em processo civil de 
conhecimento e obter a sentença condenatória para servir de título executivo. 
(THEODORO JÚNIOR, 2008, p. 78). 
 
 No mesmo sentido, assim se manifesta Câmara: 
 
[...] tanto no caso de se demandar desde logo a execução, como no caso de se 
postular primeiro a liquidação da obrigação, a legitimidade passiva para o processo 
civil será, apenas, daquele que tenha sido condenado pela prática do crime (ou de 
seu espólio ou de seus sucessores, caso já tenha falecido o condenado no momento 
da instauração do processo civil). (CÂMARA, 2009). 
 
 Nucci informa haver entendimentos no sentido de ser possível utilizar o título 
executivo judicial, constituído pela sentença penal condenatória transitada em julgado, contra 
o autor do crime ou, se for o caso, contra o responsável civil, mas se manifesta contrário a 
essa posição, em homenagem ao devido processo legal, pois, conforme suas palavras: “não 
pode responder, como fato incontroverso e definitivo, aquele que não participou da ação 
penal”. (NUCCI, 2008, p. 238). 
 Para exemplificar, o referido autor relata a situação em que o empregado de alguém 
cometa, no exercício de sua função, algum ilícito penal. A vítima não pode se valer da 
sentença penal condenatória prolatada contra tal empregado “para, formando título executivo, 
exigir no cível, indenização do seu patrão”. (NUCCI, 2008, p. 239). 
 É que na suposta situação o empregador não participou da ação penal movida pela 
vítima contra o autor do delito, e, não tendo o empregador sido parte no litígio penal, 
evidentemente que não pôde exercer o contraditório, nem lhe foi permitido o exercício da 
ampla defesa, princípios estes inerentes ao princípio do devido processo legal. Caso a vítima 
queira, pode ingressar em juízo contra o autor do delito, mas, se quiser ou se necessitar se 
voltar contra o empregador deve ajuizar “ação de conhecimento, permitindo a este a ampla 
defesa, assegurada a qualquer pessoa”. (NUCCI, 2008, p. 239). 
 A situação referida, no entendimento de Nucci, (2008, p. 239), revela a inconveniência 
da separação da jurisdição, pois, se o juiz penal pudesse decidir sobre a responsabilidade 
penal e também sobre a responsabilidade civil, o empregador poderia ser chamado para 
33 
 
integrar a ação penal, o que tornaria possível a condenação daquele que efetivamente teria 
obrigação de indenizar o dano causado pelo crime. 
 Segundo Távora e Antoninni, o responsável civil somente poderá ser sujeito passivo 
na ação de conhecimento, não se podendo admitir que a execução da sentença penal 
condenatória seja movida contra aquele não foi parte no processo penal, não tendo, pois, 
validade o título executivo judicial “contra quem não figurou como pólo passivo da 
demanda”. (TÁVORA; ANTONINNI, 2009, p. 180). 
 Essa também é a compreensão de Capez, manifestando seu posicionamento com as 
seguintes palavras: “se o responsável civil não participou da relação jurídica processual penal, 
o título executivo não se forma contra ele, pois, nessa hipótese, haveria ofensa ao princípio do 
devido processo legal”. (CAPEZ, 2008, p. 169). 
 Eugênio Pacelli expõe seu entendimento sobre a responsabilidade do terceiro nos 
seguintes termos: “na hipótese de execução de sentença penal condenatória, o título 
executório é, obviamente, dirigido apenas contra o condenado. Daí porque não poderá ser 
oposto a qualquer outra pessoa”. (PACELLI, 2009, p. 198). 
 Por oportuno, lembramos que, em se tratando de infrações penais de menor potencial 
ofensivo, a Lei n˚ 9.099/95 - Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais - autoriza a 
intervenção do responsável civil no feito, como constatam os seguintes dispositivos: 
 
Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o 
autor do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus 
advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos e da 
aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade. 
[...] 
Art. 78. Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a termo,entregando-se cópia 
ao acusado, que com ela ficará citado e imediatamente cientificado da designação de 
dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, da qual também tomarão 
ciência o Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e seus advogados. 
[...] 
§ 2º. Não estando presentes o ofendido e o responsável civil, serão intimados nos 
termos do artigo 67 desta Lei para comparecerem à audiência de instrução e 
julgamento. (BRASIL, 1995). 
 
 Desta feita, na hipótese de infrações de menor potencial ofensivo, a ação de execução 
poderá ser proposta em relação ao responsável civil, pois, por expressa disposição legal, 
depreende-se que este está convocado a participar da relação jurídica processual penal em que 
será debatida, tanto a responsabilidade penal, quanto a responsabilidade civil do infrator. 
 A própria Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, no art. 61, traz a definição do 
que sejam as infrações de menor potencial ofensivo: “Art. 61. Consideram-se infrações penais 
34 
 
de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a 
que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa”. 
(BRASIL, 1995). 
 Em suas explicações, Távora e Antoninni advertem para o que ocorre nos Juizados 
Especiais Criminais: 
 
O responsável civil é notificado para comparecer à audiência preliminar, e se ele 
fizer parte do acordo de composição civil dos danos, a sentença homologatória será 
título executivo válido contra sua pessoa (artigos 72 e 74, da Lei nº 9.099/1995). 
(TÁVORA; ANTONINNI, 2009, p. 180). 
 
 Na seara cível comum, todavia, prevalece o entendimento de que contra o responsável 
civil, por não ter sido parte na relação jurídica processual penal, não caberá a execução da 
sentença penal condenatória transitada em julgado, pois, o título executivo judicial é 
direcionado apenas contra o condenado pelo cometimento do ilícito penal. 
 Quanto à ação de conhecimento proposta contra o autor do fato e o responsável civil, 
na hipótese de a vítima ou seus legitimados optarem pelo juízo cível, Pacelli informa que: 
 
Parte da doutrina sustenta a impossibilidade de extensão de efeitos erga omnes da 
decisão condenatória em atingir a pessoa do responsável civil, ao fundamento de 
violação ao contraditório e à amplitude de defesa deste, que estaria, assim, impedido 
de discutir a existência do fato e a sua autoria, com inegável diminuição prévia de 
suas chances de êxito na demanda civil. (PACELLI, 2009, p. 198). 
 
 Embora o referido autor manifeste respeito à argumentação supramencionada, pondera 
que o ordenamento jurídico não autoriza a intervenção de terceiros no processo penal, à 
exceção da assistência (reservada ao ofendido e aos legitimados no interesse da acusação), 
mas, tendo em vista a responsabilidade objetiva, assim se manifesta sobre a questão: 
 
Se a ação de responsabilidade civil for intentada antes da ação penal, ou seja, sem 
que haja condenação penal já passada em julgado, pensamos que o terceiro, 
responsável civil, não estaria impedido de discutir, no juízo cível, toda a matéria 
relativa ao fato e à autoria, diante de sua posição litisconsorcial e diante da ausência, 
ainda, de subordinação temática à instância penal. [...] quando se tratar de ação civil 
reparatória proposta contra o autor do fato e seu responsável civil e, inexistindo ação 
penal em curso (ou se arquivado o inquérito ou absolvido o réu por ausência de 
provas etc.), ou se em curso, ainda não sentenciada, com decisão passada em 
julgado, admite-se que o terceiro (responsável civil) possa impugnar a própria 
existência do fato e sua autoria. Isso, no âmbito, é claro, do processo civil. 
(PACELLI, 2009, p. 199-200). 
 
 Registramos que o parágrafo único do art. 927, do Código Civil, consagrou a 
responsabilidade objetiva, ao estabelecer que “haverá obrigação de reparar o dano, 
35 
 
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade 
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os 
direitos de outrem” (BRASIL, 2002). 
 A responsabilidade objetiva, por força do art. 933, do Código Civil, também se aplica 
(nos termos do art. 932 do mesmo diploma legal) ao empregador e ao comitente, por ato 
ilícito praticado: por seus empregados, serviçais e prepostos. Mas, na hipótese de existir 
sentença penal condenatória em face do agente do delito (reconhecida a existência do fato e a 
autoria, nos termos do art. 935, do Código Civil), segundo ensinamentos de Pacelli, a matéria 
de defesa que o terceiro, responsável civil, poderá invocar: 
 
Será unicamente aquela atinente à existência ou não, da relação jurídica (contratual 
ou legal) entre ele e o agente do crime. A questão relativa à existência e à autoria do 
fato estará fora de seu alcance, desde que passada em julgado a sentença 
condenatória. (PACELLI, 2009, p 199). 
 
 No mesmo sentido, são esclarecedoras as lições de Tourinho Filho, que assim se 
manifesta: 
 
Se o patrão, ante uma ação, com fulcro no art. 932, III, do CC, pudesse discutir 
sobre o fato e a autoria, sob o fundamento de não ter sido parte na relação jurídico-
processual, a balbúrdia seria inominável, uma vez que, por via oblíqua, poderia o 
juízo cível afrontar o decidido no juízo penal. Haveria, inegavelmente, uma revisão 
criminal sui generis, na 1ª instância, e, o que é pior, no juízo cível...[...] o legislador 
brasileiro entendeu que a satisfação do dano não pode ser pleiteada no juízo penal. 
Se não pode, impossível a intervenção do responsável civil. (TOURINHO FILHO, 
2010, p. 268). 
 
 Dessa forma, quando a sentença penal condenatória transitar em julgado em relação ao 
empregado, a vítima (ou seus legitimados) poderá intentar ação de execução contra aquele 
que diretamente causou o dano – o empregado. Mas se este não tiver bens que comportem a 
execução, nada impede que a vítima ajuíze ação civil ex delicto contra o patrão, nos termos do 
art. 932, III, do Código Civil (BRASIL), desde que comprove que o empregado condenado 
estava “a serviço, no exercício do trabalho, ou por ocasião dele”. (TOURINHO FILHO, 2010, 
p. 268). 
 Na hipótese supramencionada, segundo Tourinho Filho, não cabe a execução da 
sentença penal condenatória transitada em julgado: 
 
Em relação ao patrão por ato culposo cometido por seu empregado no exercício do 
trabalho ou em razão dele; cabível só a ação civil, ficando preclusa qualquer 
discussão não só sobre fato e autoria [...] Apenas ação civil. Execução não. 
(TOURINHO FILHO, 2010, p. 268). 
36 
 
 Conforme menciona Tourinho Filho, embora havendo a presunção de culpa do patrão 
por ato culposo de empregado seu, conforme previsto na Súmula 341, do Superior Tribunal 
Federal, e no art. 933 do Código Civil (que consagram a responsabilidade civil objetiva por 
ato de outrem): “se o terceiro não foi parte na relação processual penal, nem podia sê-lo, 
como se lhe estender a eficácia da coisa julgada?”. (TOURINHO FILHO, 2010, p. 267). 
 Além dos mencionados questionamentos sobre a responsabilidade civil de terceiro na 
ação ex delicto, existem discussões sobre a necessidade ou não de pedido expresso para 
fixação de valor indenizatório na sentença penal, assunto que a seguir abordaremos. 
 
 
5.3 Do pedido para indenização civil por dano na ação criminal 
 
 
 Outro questionamento que surge em decorrência da nova regra do art. 387, IV, no 
diploma processual penal, e que tem provocado entendimentos jurídicos divergentes, diz 
respeito à necessidade ou não, de pedido expresso para fixação de valor reparatório pelos 
danos ocasionados por crime.

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