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prática de texto leitura e redação

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Prática de Texto: 
 
leitura e redação 
 
3ª edição – revista e ampliada 
 
Luiz Roberto Dias de Melo e Celso Leopoldo Pagnan 
 
 
 
Melo & Pagnan 
 2
LLLLuuuuiiiizzzz RRRRoooobbbbeeeerrrrttttoooo
Mestre em Literatura Brasilei
Professor da Escola Superior de
CCCCeeeellllssssoooo LLLLeeeeoooopppp
Mestre em Literatura Brasilei
Doutor em Literaturas de Língua Portu
Professor da Unopar – U
A! Ed
(11) 3
oooo DDDDiiiiaaaassss ddddeeee MMMMeeeelllloooo 
ra pela Universidade de São Paulo 
e Propaganda e Marketing - São Paulo 
 
 
 
 
ppppoooollllddddoooo PPPPaaaaggggnnnnaaaannnn 
ra pela Universidade de São Paulo 
uguesa pela Universidade Estadual Paulista 
Universidade Norte do Paraná 
 
 
 
 
 
 
 
 
ditora 
(11) 3565-0142 
2 
Prática de texto: leitura e redação 
 
3 
 
 
 
 
Melo & Pagnan 
 4
4 
Capítulo 1 
Caracterização de texto 
 
 
O objeto de trabalho deste livro é o texto (do latim textum: tecido), 
considerado uma unidade básica de organização e transmissão de idéias, 
conceitos e informações de modo geral. Em sentido amplo, uma escultura, um 
quadro, um símbolo, um sinal de trânsito, uma foto, um filme, uma novela de 
televisão também são formas textuais. Tal como o texto escrito, todos esses 
objetos geram um todo de sentido, propriedade a partir da qual iniciaremos nossa 
reflexão sobre nosso objeto de estudo. 
Para tanto, será necessário definir algumas características do objeto – o 
texto –, salientando as implicações de cada uma delas, a fim de se aprofundar a 
análise e delimitar o ponto de partida que orientará nossa abordagem nos 
próximos capítulos. 
 
 
 
 
Observe ao lado 
exemplo de texto verbal 
e não-verbal, do 
cartunista Angeli, pois 
mescla palavra e 
imagem. 
 
 
 
 
 
 
a) A primeira 
dessas características é, 
como referimos, a do texto como um todo gerador de sentido, uma totalidade. 
Um fragmento, uma parte (frase, palavra) não possuem autonomia, não podem 
ser tomados isoladamente, na medida em que cada parte liga-se ao todo. Fora do 
contexto (o texto como um todo), uma determinada parte poderá ter seu sentido 
original alterado, impedindo a depreensão do que de fato se desejou transmitir – 
o real significado do texto como expressão do autor. Há ainda uma propriedade 
Prática de texto: leitura e redação 
 
5 
básica na organização dos textos, que é a coesão; além dessa, há outra, 
identificada com os mecanismos de constituição de sentidos, que é a coerência, 
ambas estudadas no capítulo 14; 
 
 b) Por mais neutro que pretenda ser – como as instruções para uso de 
determinado equipamento ou uma notícia de jornal –, um texto sempre revela a 
perspectiva1 (a visão de mundo) que o autor constrói da realidade. Vale dizer 
que os textos são dotados de certo grau de intencionalidade, fenômeno mais 
notável em textos argumentativos, (conforme estudaremos no capítulo 9). Um 
exemplo típico disso pode ser verificado na edição de 15 de maio de 2000, do 
Jornal de Londrina, em que se lê na primeira página a seguinte chamada: "Os 
poucos torcedores que foram ontem à tarde ao Estádio do Café deveriam receber 
um prêmio. Além de assistirem a um péssimo jogo e verem o Tubarão perder 
para o Paraná por 1 a 0, /../ ainda tiveram de aturar a arbitragem insuportável do 
juiz e seus asseclas". Observe o efeito de trechos como: deveriam receber um 
prêmio ou assistirem a um péssimo jogo e, por fim, de forma mais contundente a 
arbitragem insuportável do juiz e seus asseclas. As palavras aí não são neutras, 
revestem-se de um caráter judicatório, avaliativo, expressando um ponto de 
vista, talvez o do torcedor ou do comentarista de futebol; 
 
 c) A visão de mundo que está na base do discurso de um autor pode ser 
chamada de ideologia2, o processo de produção de significados, signos e valores 
da vida social. O texto traz consigo, de modo mais ou menos evidente, valores 
identificados com certa cultura e formação histórica e social na medida em que o 
autor é um ator social que comunga com esses valores; 
 d) Pelo fato de ser um produto de uma época e de um lugar específicos, 
há no texto as marcas desse tempo e espaço. Por isso, nenhum texto é um objeto 
inteiramente autônomo, há sempre um diálogo estabelecido com outros textos e 
com o contexto. O texto, ainda que implicitamente, incorpora diferentes 
perspectivas a respeito de uma mesma questão3. O que se tem é uma inter-
 
1
 Em que medida essa afirmação vale para um texto literário, um filme, uma escultura, um 
quadro, um projeto arquitetônico? De modo simplificado, poderíamos responder que essas 
formas textuais estão contagiadas de historicidade, possuem um caráter histórico, não como um 
simples reflexo da realidade, mas como objetos construídos na História e, portanto, como 
produtos pensados pelo homem em determinado tempo, de acordo com certas necessidades, de 
natureza econômica, psicológica, existencial, religiosa, entre outras. 
2
 O conceito clássico de ideologia, como má consciência, será desenvolvido no capítulo 4. 
3
 Algumas teorias do discurso, apoiadas nos estudos de J. Derrida e M. Foucault, abordam 
inclusive como a perspectiva do próprio leitor é capaz de dar novo sentido ao texto. A esse 
respeito ver: Maria José R. Faria Coracini (org.). O jogo discursivo na aula de leitura. Campinas 
: Pontes, 1995, especialmente pp. 13-20. 
Melo & Pagnan 
 6
6 
relação entre textos que tratam do mesmo assunto, ou de assuntos semelhantes, 
com, eventualmente, abordagens diferentes. A esse respeito, Eni Orlandi afirma 
o seguinte: "o sentido está sempre no viés. Ou seja, para se compreender um 
discurso é importante se perguntar: o que ele não está querendo dizer ao dizer 
isto? Ou: o que ele não está falando, quando está falando disso?"4 Por exemplo, 
quando se defende a prática do aborto, não se reconhece a existência da vida, em 
sentido mais pleno, no útero, bem como o poder do Estado em regular o direito 
ao corpo. 
 
Vejamos essas características no poema abaixo: 
 
 
 Provérbio revisto 
 Newton de Lucca 
 
 A voz do povo 
 é a voz de Deus... 
 Que povo? 
 Que Deus? 
 
 O que beijou Stálin? 
 O que delirou com Hitler? 
 Ou o que soltou Barrabás? 
 
 (Será que Deus já não teria se 
 enforcado em suas próprias cordas vocais?) 
 
� Totalidade 
 
Se lêssemos apenas os dois primeiros versos do poema, travaríamos 
contato tão-somente com o provérbio, portanto a revisão proposta pelo título não 
se completaria. Somente por esse motivo já devemos considerar o texto em sua 
totalidade. O mesmo aconteceria se isolássemos os dois últimos versos do 
restante do poema. Qual a interpretação que poderia ser-lhes dada? Poderíamos, 
por exemplo, entender que o autor estivesse decretando a morte de Deus e, 
consequentemente, propondo uma visão ateísta do mundo, o que não é o caso. O 
 
4
 A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. 2ª ed., Campinas : Pontes, 1987, p. 
275. 
Prática de texto: leitura e redação 
 
7 
ponto, portanto,é determinar a organização do poema, para daí depreender o 
sentido produzido. 
 
 
� Diálogo com outros textos e com o contexto 
 
Ao provérbio, sucedem-se seis questões. Para que essas indagações sejam 
resolvidas, é preciso determinar com quais textos este poema dialoga. 
Inicialmente, há o desejo, expresso no título, de revisão do provérbio 
apresentado nos dois primeiros versos. Esse provérbio afirma a supremacia dos 
desígnios do povo, visto que há uma identi- dade entre este e Deus. No entanto, 
a esse falso axioma (que se revela 
dogmático), o eu-lírico5 opõe uma 
série de situações factuais, verificá- 
veis na História, as quais, em 
princípio, contestariam a pretensa 
confirmação divina. Melhor 
explicando, além de estabelecer uma 
reflexão sobre o provérbio, o poema 
traz para seu interior um fato bíblico 
(o povo teria pedido a libertação de 
Barrabás no lugar de Jesus Cristo, o 
que, pela lógica do provérbio, teria 
tido o aval de Deus), além de dois 
fatos da História contemporânea (a 
glorificação de Hitler e de Stálin, 
líderes alemão e soviético, 
respectivamente, que tiveram apoio popular e que foram responsáveis pela morte 
de milhões de pessoas, os quais, mais uma vez, portanto, pela lógica do 
provérbio, teriam tido o aval divino). 
É nesse sentido que se estabelece um diálogo com outros textos (Bíblia e 
provérbio) e com contextos específicos (a Europa nas décadas de 30 e 40). 
Porém, se o leitor desconhece quem foram Hitler, Stálin ou Barrabás, a leitura 
do poema como um objeto de revisão de determinado conteúdo histórico não se 
complementa. É necessário, pois, conhecer o referente (o contexto) que 
fundamenta o enunciado. 
 
 
5
 O eu-lírico é a voz de um poema, como o narrador o é em um romance ou conto, com a 
diferença que, no poema, não se narra, necessariamente, uma história. 
 Axioma: verdade consensual, 
baseada em uma lógica comprovável. 
Ex.: “a educação deve ser a base de 
uma sociedade forte”, ou “dois corpos 
não podem ocupar o mesmo espaço no 
mesmo momento”. 
 Dogma: verdade que se 
pretende absoluta, não-relativa, 
incontestável, pois. Muito comum na 
argumentação religiosa: “Deus é o 
criador de todo o Universo e dos seres 
que nele vivem”. É possível também 
encontrar dogmas na política, na 
economia e mesmo na ciência. 
Melo & Pagnan 
 8
8 
 
� Perspectiva e ideologia 
 
Da leitura atenta do poema, pode-se chegar ainda à perspectiva do autor 
e qual o sistema de idéias que norteia a construção de seu texto. Ora, ao propor 
uma série de perguntas, o autor pretende revelar ou a incoerência de Deus ou a 
não-validade da visão de mundo que o provérbio encerra. Assim, tem-se a 
perspectiva de alguém contrário às pretensas verdades absolutas que nos são 
colocadas, seja via provérbios, seja através de outros enunciados moralistas. 
 
 
Exercícios 
 
 
1) Leia o texto abaixo e responda às questões a seguir: 
 
Uma reflexão de final de ano 
 Roberto Shinyashiki 
 
 Todo natal é a mesma coisa. Parece que uma poção mágica nos inebria e 
nos induz a um comportamento fraterno e reflexivo. Ficamos mais sensíveis às 
coisas que realmente importam. Mas o ideal mesmo seria manter essa sensibilidade 
durante todo o ano. Para a grande maioria dos mortais, o arrependimento e a 
frustração são os grandes vilões que perturbam a paz que deveria anteceder nossos 
momentos finais. 
 Pude comprovar isso quando eu era médico recém-formado. Na época, tive 
a oportunidade de trabalhar num hospital de pacientes terminais. Trata-se de um 
lugar onde é comum você acompanhar várias mortes por dia. Eu sempre dava um 
jeito de estar junto aos pacientes em seus últimos minutos. Acompanhei muitos 
deles no momento de sua passagem, e a grande maioria vivia a morte com muita 
frustração e arrependimento. 
 Alguns diziam: “Doutor, sempre me sacrifiquei e agora que ia começar a 
viver, estou morrendo. Não é justo...” 
 A maioria das pessoas morre frustrada por não haver aproveitado sua vida. 
Elas passaram o tempo todo lutando pelas coisas erradas e se esqueceram de 
cultivar a felicidade no seu dia-a-dia. Não entenderam a importância dos pequenos 
momentos. Do almoço com a esposa, dos 15 minutos de brincadeira com o filho, 
das amizades construídas ao longo da vida... jamais vi alguém arrependido por não 
ter sido mais duro, por não ter se vingado, por não ter sido egoísta. Todos se 
arrependiam por não ter amado mais, por não ter aproveitado a vida. A família, o 
Prática de texto: leitura e redação 
 
9 
amor, os sonhos e os amigos são, no fundo, o que realmente importam. Quando os 
pacientes enxergavam isso, já era tarde demais. Nessa hora, as pessoas se 
arrependiam porque descobriam que as coisas profundas, extremamente 
significativas de sua vida, eram formadas de palavras simples e não de termos como 
dólar, real, pressão, inflação, recessão... 
 O mesmo podemos dizer da felicidade. As palavras que a acompanham são 
simples. Simples como amigos, filhos, família e companheirismo. Infelicidade, 
portanto, nada mais é do que adiar a felicidade para depois. É não prestar atenção 
nas pequenas coisas. Grande parte das pessoas deixa a felicidade sempre para 
depois. É como dizer: “Serei feliz quando terminar a faculdade. Serei feliz quando 
me casar. Serei feliz quando me aposentar”. Isso está errado! É preciso ser feliz 
hoje. Já. Conheço uma história que ilustra isso tudo muito bem. 
 “Um sujeito estava caindo em um barranco e se agarrou às raízes de uma 
árvore. Em cima do barranco havia um urso imenso querendo devorá-lo. Embaixo, 
prontas para engoli-lo, estavam seis onças tremendamente famintas. As onças 
embaixo querendo comê-lo, e o urso em cima querendo devorá-lo também. Em 
determinado momento, ele olhou para o lado esquerdo e viu um morango 
vermelho, lindo, com aquelas escamas douradas refletindo ao sol. Num esforço 
supremo, apoiou seu corpo, sustentado apenas pela mão direita, e, com a esquerda, 
pegou o morango. 
 Quando pôde olhá-lo melhor ficou inebriado com sua beleza. Então, levou 
o morango à boca e se deliciou com o sabor doce e suculento. Foi um prazer 
supremo colher aquele morango.” 
 Deu para entender? 
 Talvez você pergunte: 
 – Mas e o urso? 
 Dane-se o urso e coma o morango! 
 – E as onças? 
 Azar das onças, coma o morango! 
 Às vezes, você está em sua casa no final de semana com seus filhos e 
amigos comendo um churrasco. Percebendo seu mau humor, sua esposa lhe diz: 
 – Meu bem, relaxe e aproveite o domingo! 
 E você, chateado, responde: “Como posso curtir o domingo se amanhã vai 
ter um monte de ursos querendo me pegar na empresa?” 
 Mais do que nunca você tem que aprender a ter prazer em enfrentar os 
ursos e aprimorar-se contra as onças, porque são eles, de fato, que farão parte do 
seu dia-a-dia. Mas não deixe de comer os morangos, porque sem felicidade nossa 
passagem pelo planeta Terra não vai ter a mínima graça. 
 Revista Você S.A., dez. 1998 
 
 
Melo & Pagnan 
 10 
10 
a) Identifique e reescreva com as suas palavras a idéia-chave do texto. 
 
b) O autor para desenvolver a idéia-chave baseia-se em uma concepção que 
poderia ser classificada como lugar-comum, como um clichê. Qual é esse lugar-
comum, essa idéia desgastada pelo uso rotineiro, presente no 5º parágrafo? 
 
c) De que ponto de vista Roberto está escrevendo? Essa perspectiva possibilita-
lhe tratar do assunto com autoridade? Explique. 
 
d) Nesse sentido, o lugar-comum toma ares de validade universal, ou não? 
Explique. 
 
 
 
2) Leia o texto abaixo: 
 
A mensagem publicitária 
 
 A mensagem publicitária é o braço direito da tecnologia moderna. É a 
mensagem de renovação, progresso, abundância, lazer e juventude, que cerca as 
inovações propiciadaspelo aparato tecnológico. 
 Ao contrário do panorama caótico do mundo apresentado nos noticiários 
dos jornais, a mensagem publicitária cria e exibe um mundo perfeito e ideal, 
verdadeira ilha da deusa Calipso, que acolheu Ulisses em Odisséia – sem guerras, 
fome, deterioração ou subdesenvolvimento. Tudo são luzes, calor e encanto, numa 
beleza perfeita e não-perecível. 
Essa mensagem, contudo, não se limita ao mundo dos sonhos. Ela concilia o 
princípio do prazer com o da realidade, quando, normativa, indica o que deve ser 
usado ou comprado, destacando a linguagem da marca, o ícone do objeto. 
Embora nem todas as mensagens surtam o efeito desejado, a onipresença da 
publicidade comercial na sociedade de consumo cria um ambiente cultural próprio, 
um novo sistema de valores, co-gerador do ‘espírito do tempo’. (...) De mãos dadas 
com a taumaturgia publicitária, a sociedade da era industrial produz e desfruta dos 
objetos que fabrica, mas sobretudo sugere atmosferas, embeleza ambientes e 
artificializa a natureza – que vende de água mineral a sopinhas enlatadas. 
Possuir objetos passa a ser sinônimo de alcançar a felicidade: os artefatos e 
produtos proporcionam a salvação do homem, representam bem-estar e êxito. Sem 
a auréola que a publicidade lhes confere, seriam apenas bens de consumo, mas 
mitificados, personalizados, adquirem atributos da condição humana. 
Nelly de Carvalho. Publicidade: a linguagem da sedução. São Paulo: Ed. Ática, 1996. 
Prática de texto: leitura e redação 
 
11 
 
 
a) O que a autora quis dizer com a seguinte afirmação: "a mensagem publicitária 
é o braço direito da tecnologia moderna"? 
 
 
b) Determine em qual trecho do texto fica clara a relação deste texto com um 
outro texto ou contexto. 
 
 
c) Qual o papel da publicidade, segundo Nelly, na sociedade industrial? 
 
 
 
3) (Ita) Assinale a opção em que a manchete de jornal está mais em acordo com 
os cânones da "objetividade jornalística": 
 
a) O mestre do samba volta em grande forma (O Estado de S. Paulo, 
17/07/1999.) 
 
b) O pior do sertão na festa dos 500 anos (O Estado de S. Paulo, 17/07/1999.) 
 
c) Proteína direciona células no cérebro (Folha de S. Paulo, 24/07/1999.) 
 
d) A farra dos juros saiu mais cara que a da casa própria (Folha de S. Paulo, 
13/06/1999.) 
 
e) Dono de telas "falsas" diz existir "armação". (O Estado de S. Paulo, 
21/07/1999.) 
 
 
4) Observe a foto abaixo, de Murilo Clareto, do jornal O Estado de S. Paulo, 
feita em 8 de outubro de 1996. Nela vemos a silhueta de Celso Pitta, ex-afilhado 
político de Paulo Maluf, no segundo plano. 
 
 
a) Podemos considerar a foto como um texto? Explique. 
 
 
Melo & Pagnan 
 12 
b) Que significados podem ser atribuídos a essa foto, considerando os 
acontecimentos políticos que envolveram as duas perso
 
 
c) O "realismo ingênuo" tende a considerar uma foto jornalística como uma 
reprodução fiel do real, um retrato 
abaixo não incorporaria as "marcas" do seu autor, isto é, ela seria um texto 
neutro, não deixando transparecer uma intenção do fotógrafo. Explique.
 
 
5) Leia o texto abaixo: 
 
Cinema: revelação e engano
 Há quem tome o cinema como lugar de revelação, de acesso a uma verdade por 
outros meios inatingível. Há quem assuma tal poder r
acesso à verdade, engano que não resulta de acidente mas de uma estratégia. Discuto esta 
questão especificando determinadas condições de leitura das imagens; ao mesmo tempo, 
faço uma recapitulação histórica, pois o binômio 
referido a dois momentos da reflexão sobre cinema: o da promessa maior, aurora do 
século, e o do desencanto, anos 70/80. 
b) Que significados podem ser atribuídos a essa foto, considerando os 
acontecimentos políticos que envolveram as duas personalidades? 
c) O "realismo ingênuo" tende a considerar uma foto jornalística como uma 
reprodução fiel do real, um retrato preciso dos fatos. Se assim fosse, a foto 
abaixo não incorporaria as "marcas" do seu autor, isto é, ela seria um texto 
ixando transparecer uma intenção do fotógrafo. Explique. 
Cinema: revelação e engano 
Ismail Xavier 
 
Há quem tome o cinema como lugar de revelação, de acesso a uma verdade por 
outros meios inatingível. Há quem assuma tal poder revelatório como uma simulação de 
acesso à verdade, engano que não resulta de acidente mas de uma estratégia. Discuto esta 
questão especificando determinadas condições de leitura das imagens; ao mesmo tempo, 
faço uma recapitulação histórica, pois o binômio revelação/engano se projeta no tempo, 
referido a dois momentos da reflexão sobre cinema: o da promessa maior, aurora do 
12 
Prática de texto: leitura e redação 
 
13 
 Comento, de início, uma situação extraída do documentário Point of Order (1963), 
de Emílio de Antonio, filme que focaliza os processos e as seções de tribunal no período 
do macarthismo6 nos Estados Unidos. Trata-se de uma remontagem da documentação 
colhida ao vivo nos interrogatórios. Em determinado momento, uma testemunha da 
acusação é inquirida pelo advogado de defesa de um militar acusado de atividades 
antiamericanas. Esse advogado mostra uma foto à testemunha. Nesta foto se vê, numa 
tomada relativamente próxima, duas figuras: o réu e, a seu lado, alguém já comprometido, 
já indexado na caça às bruxas. A imagem, ao mostrar os dois conversando em tom de certa 
intimidade, é assumida pela promotoria como peça importante da acusação. O advogado 
pergunta à testemunha se considera a foto verdadeira. A resposta é “sim”. O advogado, 
então, mostra uma foto maior onde aparece, numa reunião ampla, um grupo de pessoas – 
dentre elas algumas insuspeitas – que traz num dos seus cantos a dupla anteriormente vista 
na foto menor. Entendemos sem demora que a primeira imagem é um recorte da segunda, 
ou seja, é parte de um contexto maior, com muita gente envolvida, uma situação pública 
que não denota qualquer cumplicidade maior entre o réu e seu interlocutor. O curioso no 
fato é que, ao ser reiterada a pergunta – “você continua achando esta foto [menor] 
verdadeira?” – a resposta é de novo “sim”. Chegamos aqui ao dado significativo. A 
resposta nos surpreende mas ilustra muito bem uma certa noção de verdade, noção muito 
mais presente no senso comum de uma sociedade como a nossa do que talvez gostaríamos. 
A testemunha trazia a convicção de que a verdade estava em cada pedacinho da foto, como 
também da realidade. Aquele canto da imagem, aquele fragmento extraído da situação 
maior, foi obtido sem que se adulterasse cada ponto da foto, sem maquiagem, sem 
alteração das relações que lhe são internas. Logo, ele “contém” a verdade. É uma imagem 
“captada”: as duas figuras estiveram efetivamente juntas diante da câmera (não importa aí o 
contexto). O recorte, definidor da moldura, não incomodou a testemunha para quem a 
verdade é soma, está em cada parte. 
 Em nossa cultura, o processo fotográfico tem grande poder sobre as convicções 
deste tipo de observador assim embalado pela evidência empírica trazida pela imagem. Mais 
até do que a acuidade da reprodução (eixo da semelhança), a imagem fotográfica (e 
cinematográfica) ganha autenticidade porque corresponde a um registro automático: ela se 
imprime na emulsão sensível por um processo objetivo sustentado na causalidade 
fotoquímica. Como resultado do encontro entre o olhar do sistema de lentes (a objetiva da 
câmera) e o “acontecimento”, fica depositada uma imagem deste que funciona como um 
documento. Quando se esquece a função do recorte, prevalecendo a fé na evidência da 
imagem isolada, temos um sujeito totalmente cativo ao processo de simulação por mais 
simples que ele pareça. Caso típico é o desta testemunha de McCarthy a consagrar o 
engodo de uma promotoria. 
In: NOVAES, Adauto et al., O olhar. São Paulo : 
Companhia das Letras, 1988, pp. 368-3676
 Segundo o dicionário Aurélio: “atitude política radicalmente infensa ao comunismo, e que se 
desenvolveu nos EUA com a campanha desencadeada pelo Senador Joseph Raymond 
MacCarthy [1909-1957]”. Nota dos autores. 
Melo & Pagnan 
 14 
14 
 
a) Que relações podemos estabelecer entre o “recorte” da imagem fotográfica, 
mencionado por Ismail Xavier, e as considerações, desenvolvidas neste 
capítulo, em torno do princípio de não-autonomia das partes de um texto? 
 
 
b) Segundo o texto, como se deu a “consagração” do engodo praticado pelo 
promotor? 
 
 
c) O depoimento da testemunha segue uma lógica cuja natureza identifica-se 
com certo modo de percepção e julgamento muito arraigados na nossa 
sociedade. Explique. 
 
 
 
Proposta de Redação 
 
 
"Desde seu surgimento e ao longo de sua trajetória, até os nossos dias, a 
fotografia tem sido aceita e utilizada como prova definitiva, 'testemunho da 
verdade' do fato ou dos fatos. Graças a sua natureza fisioquímica — e hoje 
eletrônica — de registrar aspectos (selecionados) do real, tal como estes de fato 
se parecem, a fotografia ganhou elevado status de credibilidade. Se, por um 
lado, ela tem valor incontestável por proporcionar continuamente a todos, em 
todo o mundo, fragmentos visuais que informam das múltiplas atividades do 
homem e de sua ação sobre os outros homens e sobre a Natureza, por outro lado, 
ela sempre se prestou e sempre se prestará aos mais diferentes e interesseiros 
usos dirigidos. 
As diferentes ideologias, onde quer que atuem, sempre tiveram na 
imagem fotográfica um poderoso instrumento para a veiculação das idéias e da 
conseqüente formação e manipulação da opinião pública, particularmente, a 
partir do momento em que os avanços tecnológicos da indústria gráfica 
possibilitaram a multiplicação massiva de imagens através dos meios de 
informação e divulgação. 
E tal manipulação tem sido possível justamente em função da 
mencionada credibilidade que as imagens têm junto à massa, para quem, seus 
conteúdos são aceitos e assimilados como a expressão da verdade. Comprova 
Prática de texto: leitura e redação 
 
15 
isso a larga utilização da fotografia para a veiculação da propaganda política, de 
preconceitos raciais e religiosos, entre outros usos dirigidos." 
Trecho de “Estética, memória e ideologia fotográfica” In: 
KOSSOY, B. Realidades e ficções na trama fotográfica. São Paulo : 
Ateliê, 1999 
 
 
Considerando-se algumas informações que você obteve a propósito da 
natureza de um texto e as reflexões de Kossoy em torno do texto fotográfico, 
faça uma redação sobre a questão da intencionalidade (de um autor) no texto 
escrito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Melo & Pagnan 
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Capítulo 2 
Repertório e escrita 
 
 
Neste capítulo, abordaremos alguns aspectos ligados à produção de texto, 
como o uso do vocabulário, sem que haja ainda uma preocupação sistemática 
com os gêneros redacionais. 
A palavra repertório tem a seguinte etimologia: é uma "matéria 
metodicamente disposta"; uma "coleção", um "conjunto"; um "inventário" ou 
"compilação". Você já ouviu essa palavra ser relacionada ao universo da música, 
quando se diz que certo cantor ou compositor possui (ou não) bom repertório. 
Ao se emitir tal opinião, adota-se um juízo de valor de acordo com 
determinado critério de qualidade. No caso de um cantor, ainda que se reconheça 
o valor intrínseco do repertório, pode-se dizer que este, por uma série de razões, 
não se ajusta bem ao intérprete: exigências técnicas de voz não correspondidas 
pelo artista; baixa capacidade dramática do cantor; inadequação à personalidade 
do profissional etc. 
Essas considerações valem em parte para a discussão que nos interessa 
em torno da noção de repertório. Há uma relação íntima entre o cantor e seu 
repertório, o seu "conjunto de canções", na medida em que este, guardadas certas 
diferenças de personalidade dos artistas, é produto de uma intensa disposição 
para o experimento, para o ensaio, para a repetição, cujo resultado concorre 
também para configurar a identidade do intérprete no mundo do espetáculo. 
A noção de inventário de experiências, que constitui uma prática de vida, 
é útil para compreendermos o sentido mais extenso da palavra. O repertório, 
nessa última acepção, é resultado do esforço de auto-conhecimento do indivíduo, 
de uma determinação em saber-se de si e saber sobre o mundo, de uma 
capacidade a um só tempo de reflexão, de projeção e conservação de uma 
matéria que se impõe como decisiva e confirmadora de uma existência. 
Nossa experiência na família e na sociedade, nossa educação escolar, 
nossas leituras, nosso trabalho, nossa memória e imaginação, a matéria 
efetivamente vivida ou ludicamente inventada. Tudo isso se articula como um 
conjunto de informações organizadas em nossa consciência que servirá de 
substância para o ato da escrita, sendo ela mesma produto e elemento 
transformador do conjunto. 
Ao contrário do cantor eventualmente mal-adaptado ao repertório 
musical, a constelação de elementos acima indicada nunca está em desarmonia 
conosco, pois que somos o próprio repertório. 
Prática de texto: leitura e redação 
 
17 
Podemos pensar o modo de convívio entre as partes integrantes do 
repertório individual como uma rede, um sistema de relações na forma de 
linguagem, capaz de assimilar e gerar conhecimento. 
No âmbito de um livro como este, destinado a um público específico e 
comprometido com um enfoque prático do fenômeno da escrita, temos que 
afastar a pretensão de introduzir o leitor no campo do método científico 
propriamente dito, inclusive porque este não pode ser limitado ao ato da escrita. 
No entanto, torna-se viável uma aproximação dos princípios do método das 
ciências humanas – o compreensivo-interpretativo – como referência para o 
trabalho crítico de leitura e de produção de textos. 
Segundo a filósofa Marilena Chaui, as "ciências humanas têm métodos 
de compreensão e de interpretação do sentido das ações, das práticas, dos 
comportamentos, das instituições sociais e políticas, dos sentimentos, dos 
desejos, das transformações históricas, pois o homem, objeto dessas ciências, é 
um ser histórico-cultural que produz as instituições e o sentido delas"7. Perceber, 
compreender e julgar, etapas fundamentadoras da prática de leitura e redação, 
são os três movimentos do trabalho intelectual para o qual você foi e será 
solicitado, em sintonia com um princípio geral do método das ciências humanas. 
Interpretar significa "traduzir, ajuizar da intenção, do sentido" do objeto 
de estudo; a palavra indica também um movimento em direção ao interior 
(interpretação) do objeto, descobrindo-lhe as especificidades, compreendendo a 
sua natureza e oferecendo uma explicação, atributo determinante do 
conhecimento. 
A percepção, a compreensão e o julgamento comparecem em escala 
diferenciada no contexto dos gêneros redacionais. Além disso são categorias 
relacionadas ao indivíduo que não dispensam a intuição, um processo de 
contemplação do objeto de estudo por meio do qual se alcança uma verdade 
diferente daquela atingida pela razão ou pelo conhecimento discursivo e 
analítico. O que seria da literatura se não fosse a intuição? Grandes escritores 
traçam os perfis psicológicos das personagens, pressentem sua fala, seu modo 
de agir, amparados pela intuição. 
"A memória é um diário que todos andamos carregando" – escreveu 
Oscar Wilde, escritor inglês do século XIX. Evocando a imagem do diário, 
Wilde vale-se de uma metáfora que nos remete a uma forma especial de registro 
da memória. A escrita de imediato determina um critério seletivo à exposição 
dos fatos ocorridos no dia; o diário retéma lembrança do que se julga 
significativo, não acolhendo toda a experiência de um dia de vida. 
 
7
 Convite à filosofia. 3ª ed., São Paulo : Ática, p. 159 
Melo & Pagnan 
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18 
A memória certamente extrapola os limites do diário porque ela é capaz, 
entre tantas outras possibilidades, de reter sensações, como os cheiros e aromas 
que não se deixam facilmente apreender pela via analítica, pela descrição de sua 
"anatomia". 
Esse nosso acervo pessoal, que é a memória, possibilita-nos a evocação 
de significados afetivos, de gestos, atitudes e situações vitais para o nosso ser, ao 
mesmo tempo que se dissolve em grande parte na ação do tempo. Tempo e 
memória são inseparáveis, pois nesta preservamos o passado e extraímos dele, 
na forma de experiência, o sentido que ordena o presente, o qual, por sua vez, 
poderá conferir novos sentidos ao passado. A memória é identidade e impulso 
que nos lança no futuro como seres únicos, donos de uma história pessoal que 
determina nossas convicções e participa das escolhas e das exigências ao nosso 
discernimento. 
Possivelmente a memória guarda ainda a virtualidade não só de nos 
transportar ao passado, por via da evocação, mas também a de nos "transformar" 
no presente, embora por poucos instantes, naquilo que fomos um dia... Marcel 
Proust, autor de Em busca do tempo perdido, romance dividido em sete volumes, 
deixa entrever essa propriedade da memória, ao longo de várias páginas, das 
quais destacamos esta passagem de À sombra das raparigas em flor, o segundo 
volume da obra: 
 
... a maior parte de nossa memória está fora de nós, numa viração de chuva, 
num cheiro de quarto fechado ou no cheiro duma primeira labareda, em toda parte 
onde encontramos de nós mesmos o que a nossa inteligência desdenhara, por não 
lhe achar utilidade, a última reserva do passado, a melhor, aquela que, quando todas 
as nossas lágrimas parecem estancadas, ainda sabe fazer-nos chorar. Fora de nós? 
Em nós, para melhor dizer, mas oculta a nossos próprios olhares, num 
esquecimento mais ou menos prolongado. 
 (Tradução de Mário Quintana) 
 A propósito da integração das partes do repertório na forma de uma rede 
geradora de sentido, leia a crônica abaixo, na qual Zuenir Ventura faz referência 
a uma série de dados da atualidade. É preciso que o leitor faça uma conexão 
eficiente entre os fatos apresentados pelo autor para assimilar o sentido integral 
do texto. 
 
Prática de texto: leitura e redação 
 
19 
Em vez das células, as cédulas 
 Nesses tempos de clonagem, recomenda-se assistir ao documentário 
Arquitetura da destruição, de Peter Cohen. A fantástica história de Dolly, a 
ovelha, parece saída do filme, que conta a ventura demente do nazismo, com 
seus sonhos de beleza e suas fantasias genéticas, seus experimentos de eugenia e 
purificação da raça. 
 Os cientistas são engraçados: bons para inventar e péssimos para prever. 
Primeiro, descobrem; depois se assustam com o risco da descoberta e aí então 
passam a gritar "cuidado, perigo". Fizeram isso com quase todos os inventos, 
inclusive com a fissão nuclear, espantando-se quando "o átomo para a paz" 
tornou-se uma mortífera arma de guerra. E estão fazendo o mesmo agora. 
 (...) Desde muito tempo se discute o quanto a ciência, ao procurar o bem, 
pode provocar involuntariamente o mal. O que a Arquitetura da destruição 
mostra é como a arte e a estética são capazes de fazer o mesmo, isto é, como a 
beleza pode servir à morte, à crueldade e à destruição. 
 Hitler julgava-se "o maior ator da Europa" e acreditava ser alguma coisa 
como um "tirano-artista" nietzschiano ou um "ditador de gênio" wagneriano. 
Para ele, "a vida era arte," e o mundo, uma grandiosa ópera da qual era diretor e 
protagonista. 
 O documentário mostra como os rituais coletivos, os grandes espetáculos de 
massa, as tochas acesas (...) tudo isso constituía um culto estético - ainda que 
redundante (...) E o pior - todo esse aparato era posto a serviço da perversa 
utopia de Hitler: a manipulação genética, a possibilidade de purificação racial e 
de eliminação das imperfeições, principalmente as físicas. Não importava que os 
mais ilustres exemplares nazistas, eles próprios, desmoralizassem o que 
pregavam em termos de eugenia. 
 O que importava é que as pessoas queriam acreditar na insensatez apesar dos 
insensatos, como ainda há quem continue acreditando. No Brasil, felizmente, 
Dolly provoca mais piada do que ameaça. Já se atribui isso ao fato de que a 
nossa arquitetura da destruição é a corrupção. Somos craques mesmo é em 
clonagem financeira. O que seriam nossos laranjas e fantasmas senão clones e 
replicantes virtuais? Aqui, em vez de células, estamos interessados é em 
manipular cédulas. 
Zuenir Ventura, Jornal do Brasil, 1997
 
Reproduzimos o texto abaixo do site da Rede Escola, mantido pelo 
Estado do Rio de Janeiro. Note como os autores enfatizam o caráter intertextual 
e a inserção histórica da crônica acima, na relação com o repertório do leitor. 
 
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20 
“Tendo como ponto de partida a alusão ao documentário Arquitetura da 
Destruição, o texto mantém sua unidade de sentido na relação que estabelece com 
outros textos, com dados da História. 
Nesta crônica, duas propriedades do texto são facilmente perceptíveis: a 
intertextualidade e a inserção histórica. 
O texto se constrói à medida que retoma fatos já conhecidos. Nesse sentido, 
quanto mais amplo for o repertório do leitor, o seu acervo de conhecimentos, 
maior será a sua competência para perceber como os textos 'dialogam uns com os 
outros' por meio de referências, alusões e citações. 
Para perceber as intenções do autor desta crônica, ou seja, a sua 
intencionalidade, é preciso que o leitor tenha conhecimento de fatos atuais, como 
as referências ao documentário recém lançado no circuito cinematográfico [fita 
disponível em vídeo], à ovelha clonada Dolly, aos 'laranjas' e 'fantasmas' – termos 
que dizem respeito aos envolvidos em transações econômicas duvidosas. É preciso 
que conheça também o que foi o nazismo, a figura de Hitler e sua obsessão pela 
raça pura, e ainda tenha conhecimento da existência do filósofo Nietzsche e do 
compositor Wagner. 
O vocabulário utilizado aponta para campos semânticos [ou lexicais] relacionados à 
clonagem, à raça pura, aos binômios arte/beleza - arte/destruição, corrupção. 
 
clonagem 
experimentos 
avanços genéticos 
ovelhas 
cientistas 
inventos 
células 
clones 
replicantes 
manipulação genética 
descoberta 
raça pura 
aventura demente do nazismo 
fantasias genéticas 
experimentos de eugenia 
utopia perversa 
manipulação genética 
imperfeições físicas 
eugenia 
arte/beleza - arte/destruição 
estética, sonhos de beleza 
crueldade 
tirano artista 
ditador de gênio 
nietzschiano 
wagneriano 
Prática de texto: leitura e redação 
 
21 
grandiosa ópera 
diretor, protagonista 
espetáculos de massa 
tochas acesas 
corrupção 
laranjas 
clonagem financeira 
cédulas 
fantasmas 
Esses campos semânticos se entrecruzam, porque englobam referências 
múltiplas dentro do texto”. 
 
 
 
Exercícios 
 
 
1. Escreva um pequeno texto sobre os seus primeiros dias de estudante. Tente 
descrever as sensações vividas naquele tempo, as primeiras impressões do prédio 
da Escola, da sua sala de aula, dos seus colegas e professor; procure trazer à 
memória os aromas que envolviam aquele ambiente e os sons que pouco a pouco 
tornaram-se familiares. 
 
 
2. Imagine que uma folha do seu caderno é uma página do seu diário. Reflita 
sobre o que você fez no dia anterior (ou anteriores) a este e registre algo que 
julgue importante para ser relido no futuro. (Não se prenda necessariamentea 
fatos; se for o caso, privilegie uma reflexão sobre um sentimento, uma amizade, 
um gesto...) 
 
 
3. Qual ou quais são os assuntos que você gostaria de discutir em sala de aula 
mas que nunca teve oportunidade de fazê-lo? Explique o motivo de sua escolha. 
 
4. João Guimarães Rosa, autor de grandes clássicos da literatura brasileira, entre 
os quais sua obra-prima – Grande sertão: veredas –, possuía uma biblioteca que 
reunia títulos sobre os mais variados assuntos; um desses títulos era o do 
pensador francês Antoine D. Sertillanges, em cujos Devoirs (Deveres) Rosa 
sublinhou o seguinte trecho: “O ser que recebemos ao nascer não é definitivo; é 
embrionário, plástico”. O leitor de Grande sertão encontra o aforisma do escritor 
francês ficcionalizado em uma das muitas reflexões de Riobaldo, protagonista do 
romance: 
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“Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não 
estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre 
mudando. Afinam e desafinam. Verdade maior”. (pp. 20-21) 
 
A transcriação operada por Guimarães Rosa em relação ao texto-matriz de 
Sertillanges é um exemplo de incorporação de uma leitura ao repertório de um 
dos nossos maiores escritores. Releia os dois textos e faça uma tradução criativa 
do mesmo conteúdo. 
 
 
5. Leia o texto abaixo e depois responda. 
 
“Com gemas para financiá-lo, nosso herói desafiou valentemente todos os 
ricos desdenhosos que tentaram dissuadi-lo de seu plano. 'Os olhos enganam' disse 
ele, 'um ovo e não uma mesa tipificam corretamente esse planeta inexplorado'. 
Então as três irmãs fortes e resolutas saíram à procura de provas, abrindo caminho, 
às vezes através de imensidões tranqüilas, mas amiúde através de picos e vales 
turbulentos. Os dias se tornaram semanas, enquanto os indecisos espalhavam 
rumores apavorantes a respeito da beira. Finalmente, sem saber de onde, criaturas 
aladas e bem vindas apareceram anunciando um sucesso prodigioso." 
In: KLEIMAN, Ângela. Texto e leitor: aspectos cognitivos 
da leitura. Campinas : Pontes, 1989. 
 
O texto é bastante difícil à primeira vista. Pensamos mesmo tratar-se de um 
texto mal escrito, sem coerência. No entanto, a partir de uma releitura atenta será 
possível depreender elementos que, juntos, configuram um campo semântico 
coerente, pleno de sentido, na medida em que todos os elementos se interligam 
entre si. Para chegar a tal conclusão, será preciso que você possua determinado 
repertório, isto é, que você seja capaz de articular os sintagmas do texto 
preenchendo-os de sentido; esta operação, por sua vez, fica na dependência de 
você possuir certas informações. É um exercício de cognição, de “cultura geral” 
e de perspicácia. 
 
 
a) Depois que você for capaz de decifrar o “enigma”, dê um título adequado ao texto, um título 
que de imediato esclareça o leitor sobre a matéria que irá ler. 
 
b) Explique o sentido de dois sintagmas (palavras, expressões, frases), conforme o contexto 
depreendido por você. 
Prática de texto: leitura e redação 
 
23 
 
 
6. O texto narrativo abaixo é alegórico, isto é, ele se constrói pelo 
entrelaçamento de metáforas que remetem o leitor a assuntos da atualidade. 
Reescreva no seu caderno os trechos que se referem metaforicamente a esses 
assuntos e em seguida interprete o sentido de cada trecho sempre considerando 
seu caráter relacionado ao cotidiano. 
 
 
 
 
 
 
Frei Beto 
Revista Bundas, jul. 1999 
 
Era uma vez um reino de bobos. Exceto um, é claro – o rei! O rei era o único 
inteligente, culto, poliglota e, além de tudo, bonito. Um dia, para alegria dos reinóis, 
ordenou Sua Majestade cunhar a moeda real. Decretou que ela seria tão forte 
quanto as moedas dos mais poderosos reinos. Os bobos acreditaram que, com tal 
moeda em mãos, teriam pela frente um futuro de prosperidade e fartura. 
A moeda era forte, mas os salários, fracos. Os nobres, em cujas mãos se 
acumulavam moedas reais, viram suas fortunas multiplicarem-se como coelhos do 
reino. Os servos, obsequiados com míseros trocados, eram tragados pela miséria 
que lhes assomava à porta. 
O rei, contudo, julgando-se bondoso, quis poupar a capacidade produtiva de 
seus súditos. Num reino com tantas praias, rios, lagos e belezas naturais, não seria 
bom alvitre importar os produtos necessários? Assim, alegou o soberano, os reinóis 
só teriam o trabalho de consumir, jamais produzir. 
Logo, o reino passou a importar caravelas e caravelas de produtos. Inclusive 
moedas mais fortes de outros reinos, para encher suas burras. Como os súditos 
eram bobos, o rei considerou medida de somenos penhorar o reino ao Fundo 
Majestático de Investimentos, uma instituição que administrava riquezas das cortes 
poderosas e jamais permitia que um reino pobre viesse a ter melhor sorte. 
Os bobos aplaudiram quando o rei decidiu entregar as fontes de riquezas do 
reino aos grandes impérios. Tudo iria funcionar melhor, prometia o rei, e a corte 
ficaria mais rica. Os bobos acreditaram, as fontes de riquezas foram repassadas aos 
estrangeiros e o tesouro real engordou. 
Porém, a aura de fortaleza da moeda real se desfez quando o poder dos magos 
do reino entrou em crise e, em poucos meses, o tesouro real perdeu tanto de sua 
fortuna que se tornou possível enxergar o seu piso. E os problemas com os serviços 
Melo & Pagnan 
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estrangeiros implantados no reino começaram a se tornar crônicos. Basta dizer que 
as comunicações entre os súditos ficaram prejudicadas pelos mensageiros que 
quebravam as pernas, cavalos que deslizavam na lama, corneteiros que encontravam 
seus instrumentos entupidos. 
O rei viu-se obrigado a devolver aos credores do reino o dinheiro pago pelas 
fontes de riquezas. De modo que os credores ficaram com o dinheiro e as fontes. 
Mas os arautos do reino explicaram à plebe que se tratava de uma borrasca 
passageira. A crise mundial, a tempestade no país vizinho respingava no reino, mas 
logo se recuperaria a riqueza perdida. Os bobos acreditaram. 
A rainha, do alto da sacada do palácio, jurou que os pobres não seriam 
atingidos pela crise. Claro, os pobres do reino não possuíam saúde e instrução, 
moradia e terra, e vagavam maltrapilhos por estradas e encruzilhadas. A rainha 
tinha razão. Os pobres nada tinham a perder, exceto o fio de vida que lhes restava. 
Mas isso, na opinião dos conselheiros do rei, não seria uma perda, seria um 
consolo. 
O segredo do rei era governar para a corte e com o corte. Para beneficiar a 
corte, ele cortava o pouco que quedava a seus súditos: cortaram-se anos dos velhos, 
obrigados a morrer aos 65 anos; estipêndios dos mestres, forçando-os a ensinar o 
que não podiam aprender; infância das crianças, condenando-as ao trabalho 
precoce; fomentos de agricultores, para que suas lavouras não viessem ameaçar os 
belos campos reservados à caça e aos jogos da nobreza. 
Certo dia, os bobos surpreenderam ministros do rei fazendo uso da carruagem 
real para levar suas famílias a passeios. Por um momento, os bobos acreditaram que 
estavam começando a deixar de ser bobos. Mas os arautos do rei esclareceram que 
os cocheiros deveriam cumprir umas tantas horas anuais de viagens pelas estradas 
do reino. 
Os bobos contentaram-se com a explicação, assim como já se haviam 
conformado quando lhes foi dito que as riquezas sonegadas do tesouro real para 
beneficiar certos nobres eram perfeitamente legais. Como eram bobos, não 
questionaram. Assim como engoliram a seco quando o rei nomeou um carrasco 
para comandar a guarda do reino. 
E assim, o rei e a rainha viveram felizes para sempre, cercados de homenagens 
da nobreza rica, bela e sadia. Quanto aos súditos... Bem, isso é outra história. 
 
 
7. O texto a seguir é um representante da poesia de caráterparticipativo (de crítica social). 
 
 CartIlha 
 
 a MATIlha 
 contra a Ilha 
Prática de texto: leitura e redação 
 
25 
 
 Ilha recUSA? 
 Ilha reclUSA 
 
 USA e abUSA 
 
 América LATina 
 AméRICA ladina 
 
 LATe a MATilha 
 
 Ilha trIlha 
 CartIlha 
 
José Paulo Paes. Invenções. 1967. In: Um por todos: 
 poesia reunida. São Paulo : Brasiliense, 1986, p. 96 
 
 
a) O poema registra momentos de transformação social e histórica. Indique-os. 
 
b) No texto há uma série de jogos formais explorando as possibilidades fônicas e 
visuais dos vocábulos. No primeiro verso (linha), o grafema (símbolo gráfico) 
"MAT" realça qual sentido em relação à "Ilha"? 
 
 
c) Explique o jogo formal do quinto verso do texto. 
 
 
d) Explique o significado dos dois últimos versos. 
 
 
e) O vocábulo cartiIlha assume um sentido positivo ou negativo no interior do 
processo histórico? Explique. 
 
 
 
Proposta de redação 
 
 
Tudo o que eu preciso saber aprendi no jardim da infância 
 
Melo & Pagnan 
 26 
26 
 A maior parte do que realmente preciso para saber como viver, o que fazer, 
como ser, eu aprendi no Jardim da Infância. 
 A sabedoria não estava no topo da montanha do conhecimento, que é a 
faculdade, mas sim, no alto do monte de areia do Jardim da Infância. 
 Essas são algumas das coisas que eu aprendi: dividir tudo; brincar dentro 
das regras; não machucar ninguém; colocar as coisas de volta no lugar de onde 
foram tiradas; arrumar a própria bagunça; nunca pegar o que não é meu; pedir 
desculpas sempre que machucar alguém; lavar as mãos antes das refeições; dar 
descarga; leite com bolachas fazem bem para nossa saúde. 
 Tirar uma soneca todos os dias. 
 Quando sair na rua olhar os carros, dar as mãos e ficar junto. Estar atento 
às maravilhas. Lembra daquela sementinha de feijão no potinho de Danone? As 
raízes crescem para baixo e as folhas para cima e ninguém sabe com certeza como 
ou por que, mas todos nós somos exatamente como ela. 
 Peixinhos dourados, hamsters e ratinhos brancos, e até a pequena semente 
de feijão no potinho de Danone – todos morrem – assim como nós. 
 E lembre do primeiro livro de leitura que você leu e das primeiras palavras 
que você aprendeu. As maiores de todas: mamãe e papai. 
 Tudo o que você precisa saber está lá em algum lugar. Regras sobre a vida, o 
amor, saneamento básico, ecologia, política, igualdade e fraternidade. Pegue 
qualquer um desses temas e extrapole para sofisticadas palavras de linguagem adulta 
e então aplique em sua vida familiar, no trabalho, no governo ou no mundo e tudo 
continua firme e verdadeiro. 
 Pense como o mundo seria melhor se nós – o mundo inteiro – tomássemos 
leite com bolachas às três da tarde, todas as tardes, e, depois, deitássemos com 
nossos travesseiros no sofá da sala para uma soneca. 
 Ou então, se todos os governos tivessem como política básica sempre colocar as coisas de 
volta no lugar de onde foram tiradas e também arrumassem suas próprias bagunças. 
 E continua verdade, não importa sua idade: quando sair para o mundo, dê 
as mãos, fique junto. 
 
Traduzido e adaptado do texto original do Pastor Robert Fulghum 
Unitarian Church/Edmonds, Washington 
 
 
a) Certamente você já ouviu que determinados textos possuem uma natureza 
“poética”, como geralmente o são todos aqueles compostos em versos, a que 
damos o nome de “poema”. Você diria que o texto de Robert Fulghum é 
poético? Justifique. 
 
 
Prática de texto: leitura e redação 
 
27 
b) Inspirado no texto acima, escreva outro sobre o processo de amadurecimento 
do indivíduo. Destaque os saberes aprendidos na infância que você julga 
decisivos para a formação da sensibilidade, para o fortalecimento da 
capacidade ou do desejo de aprender. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 3 
Desenvolvimento do Vocabulário 
 
 
Pensamento e linguagem são indissociáveis. Dizer, como no passado, que 
a linguagem é um revestimento do pensamento, seria reduzi-la a meio ou a 
utensílio por meio do qual se exprimem as idéias, o "conteúdo" do pensamento. 
Essa posição já foi há muito superada pela Lingüística – a ciência que 
estuda a linguagem –, quando defendeu a noção, hoje dominante, do caráter 
material desse fenômeno. Segundo esse conceito, a linguagem é um sistema de 
sons articulados, ao mesmo tempo que uma rede de marcas escritas (uma escrita) 
ou ainda um sistema de gestos, os quais produzem e expressam o pensamento. 
Não há, portanto, pensamento sem linguagem e linguagem sem pensamento. 
Diante dessa realidade, qual a importância da aquisição de vocabulário? Há relações diretas 
entre extensão do vocabulário e conhecimento da língua? 
Sem muito exagero, pode-se dizer que o vocabulário coloca-se ao lado dos elementos 
identificadores do indivíduo (impressão digital, DNA, arcada dentária), com a diferença, 
óbvia, de que ele é produto de circunstâncias externas, de variada natureza, e dependente, em 
Melo & Pagnan 
 28 
28 
grande parte, do livre arbítrio para ser assimilado. Transformações de natureza sócio-
econômica contribuem de forma decisiva para o crescimento do acervo lexical da língua, 
envolvendo necessariamente um número expressivo de "usuários” das novas palavras. 
Surgimento de novas profissões e campos do conhecimento, ao lado de novas acepções, 
incorporadas por determinados vocábulos, estão na base dessas mudanças. 
O vocabulário individual é uma marca registrada, um traço de diferença 
no interior de um sistema lingüístico gerado por uma espécie de contrato entre os 
componentes de certo grupo social. 
Engana-se, contudo, quem levantar a hipótese de que um vocabulário 
rico implica necessariamente maior conhecimento do mecanismo da língua, pois 
o domínio das relações lógicas e das estruturas textuais depende de uma série de 
operações que superam em muito a capacidade de reter o significado das 
palavras. 
De igual modo continuaria equivocado quem defendesse a idéia de que 
falar e escrever bem relacionam-se tão somente ao conhecimento de normas 
gramaticais, as quais, uma vez assimiladas, dotariam o indivíduo de "soluções" 
lingüísticas previsíveis em maior ou menor grau. Tal raciocínio colocaria no 
nível do conhecimento gramatical o que não é legado dele, exclusivamente, já 
que a escrita se relaciona a uma atitude mental irredutível ao normativismo, por 
estar alicerçada pela capacidade criadora e transformadora. 
Do ponto de vista estrito da aquisição de vocabulário, a melhor lição será aquela que 
enfatizar o papel da experiência e realçar a função das circunstâncias geradas pelo cotidiano, nas 
quais haja necessidade do uso de um vocabulário mais rico ou especializado. O chamado 
vocabulário ativo – aquele incorporado e posteriormente empregado – encontra maiores 
possibilidades de se efetivar na prática do dia-a-dia, seja na conversa com as pessoas, seja no 
exercício do trabalho, situações estas com um contexto bem definido. 
No entanto, como recurso à ampliação do vocabulário, propomos a seguir exercícios que 
correspondem, pelo menos em parte, às condições favorecedoras para tal fim. Trata-se, é bom 
frisar, de manobras com certo grau de artifício, que poderão, além disso, ter esse caráter 
acentuado, caso você se dê por satisfeito e não siga em frente com muita dedicação; os 
exercícios deste capítulo tentam apenas reforçar a necessidade do aprimoramento do 
vocabulário. O resto é com você. 
Prática de texto: leitura e redação 
 
29 
 
 
Exercícios 
 
 
1) Leia o texto abaixo: 
 
A estranha (e eficiente) linguagem dos namorados 
Carlos Drummond de Andrade 
 
— Oi, meu berilo! 
— Oi, meu anjo barroco! 
— Minha tanajura! Minha orquestra de câmara! 
— Que bom você me chamarassim, meu pessegueiro-da-flórida! 
— Você gosta, minha calhandra? 
— Adoro, meu teleférico iluminado! 
— Eu também gosto muito de ser tudo isso que você me chama! 
— De verdade, meu jaguaretê de paina? 
— Juro, meu cavalinho de asas! 
— Então diz mais, diz mais! 
— Meu oitavo, décimo, décimo quinto pecado capital, minha janela sobre a 
Acrópole, meu verso de Rilke, minha malvasiara, meu minueto de 
Versailles... 
— Mais, agapanto meu, tempestade minha! 
— Minha follia com variazoni, de Corelli, meu isto-e-aquilo enguirlandado, 
meu eu anterior a mim, meus diálogos com Platão e Plotino ao 
entardecer, minha úlcera maravilhosa! 
— Ai que lindo, liiiiindo, meu colar de cavalheiro inglês num retrato de 
Ticiano! Meu fundo-do-mar, você me põe louca, louca de amar as 
pedras, de patinar nas nuvens! 
— E eu então, minha górgone, minha gárgula de Notre-Dame, e eu, minha 
sintaxe de Deus? 
— Você fala como falam os balões de junho de Portinari, as jóias da coroa 
do reino de Samarcanda, você, meu imperativo categórico, você, minha 
espada maçônica, você me mata! 
— E você também me trucida, me degola, me devolve ao estado de música, 
meu tambor de mina! 
— Todos os incentivos oficiais reunidos e multiplicados não valem a tua 
alquimia, meu ministro do fogo! 
Melo & Pagnan 
 30 
30 
— Tuas paisagens, teu subsolo infernal, teus labirintos são superiores em 
felicidade a qualquer declaração dos direitos do homem! 
— A primeira vez que eu vi você naquele bar do crepúsculo eu senti que as 
pirâmides e as cataratas não valiam a tua unha do dedo mindinho! 
— Porque você é o Banco das Estrelas, e pode comprar todas as coisas do 
mundo, inclusive as águas e os animais, para restituí-los à vida em 
liberdade! 
— Como posso ouvir outras palavras senão as tuas, meu almanaque do 
céu? Minha ciência do insabível? Meu terremoto, meu objeto voador 
identificado? 
— Não nascemos um para o outro, nascemos um no outro, e estamos 
nessa desde antes do começo dos séculos, meu nenúfar! 
— E estaremos mesmo depois que os séculos se evaporarem, ó meu 
desenho rupestre, meu formigão atômico! 
— Mandala, raio laser, sextina! Tudo meu, é claro! 
— Pomba-gira! 
— Clepsidra! 
— Sequóia minha minha minha! 
 
Diálogo aparentemente louco, mas que dois namorados de imaginação 
mantêm todos os dias, com estas ou outras palavras igualmente mágicas. Não 
inventei nada. Apenas colecionei expansões ouvidas aqui e ali, e que me 
pareceram espontâneas, isto é, ninguém deve ter preparado antes o que iria dizer, 
de tal modo as palavras saíam entrecortadas de risos, interrompidas por afagos, 
brotando da situação. O amor é incentivo e anula os postulados da lógica. Ele 
tem sua lógica própria, tão válida quanto a outra. E os amantes se entendem sob 
os signos do absurdo – não tão absurdo assim, como parece aos não-amorosos. 
Já ouvi no interior de Minas alguém chamar seu amor de “meu bicho-do-pé” e 
receber em troca o mais cálido beijo de agradecimento. 
Esta coletânea de frases de amor está aqui como introdução ao projeto não-
comercial de comemorações do Dia dos Namorados. Não para que elas sejam 
repetidas mecanicamente. Todo namorado que se preze deve inventar as 
besteiras líricas e deliciosas que a gente não diz para qualquer pessoa, só para 
uma, e só em momentos de pura delícia. Funcionam? E como! 
Prática de texto: leitura e redação 
 
31 
Boca de luar. São Paulo : Círculo do Livro, 1984, pp. 24-26 
 
a) Escreva uma carta para a pessoa amada usando qualificativos inesperados, 
como no texto de Drummond. Para que a carta possa se prolongar, descreva um 
passeio que vocês dois farão no próximo fim de semana. Não se prenda à 
experiência cotidiana – evoque lugares exóticos, com paisagens deslumbrantes, 
que lhe ofereçam a oportunidade de utilizar adjetivos nunca ou pouco ouvidos 
no seu dia-a-dia. 
 
 
2) "Última clareza – No necrológio de um homem de negócios lia-se: 'A 
largueza de sua consciência rivaliza com a bondade de seu coração'. O 
deslize cometido pelos enlutados parentes e amigos na linguagem solene que se 
reserva para tais ocasiões, a involuntária admissão de que o bondoso falecido era 
inescrupuloso, remete o cortejo fúnebre pelo caminho mais curto ao país da 
verdade". 
Theodor W. Adorno. Minima moralia: reflexões a partir da vida danificada. 2ª ed. 
São Paulo : Ática, 1993, p. 18 
 
a) Explique o “deslize” (a falha no uso da língua) cometido no texto acima. 
 
b) Reescreva a frase de modo a corrigir a incongruência a que se refere Adorno. 
 
 
 
3) No exercício abaixo você deve se utilizar de palavras das várias classes 
gramaticais (verbos, adjetivos etc.) para preencher os espaços em branco. 
 
Brinquedos incendiados 
 
 Uma noite houve um incêndio num bazar. E no fogo _______ desapareceram 
___________ os seus brinquedos. Nós, crianças, conhecíamos aqueles brinquedos 
consumidos, de tanto mirá-los nos _____________ — uns, pendentes de longos 
barbantes; outros, apenas __________ em suas _________. Ah! maravilhosas bonecas 
_________, de chapéus de ________! pianos ________ sons cheiravam a _________ e 
___________ ! __________ lanudos, de _________ no pescoço! piões ___________ ! — 
e uns bondes com algumas letras escritas ao _________, coisa que muito nos 
____________ — filhotes que éramos, então, de Mr. Jordain, fazendo a nossa 
__________ concreta antes do tempo. 
Melo & Pagnan 
 32 
32 
Às vezes, num aniversário, ou pelo Natal, conseguíamos receber __________ 
presente algum bonequinho de ____________, modestos cavalinhos de lata, 
_____________ de gude, barquinhos sem _____________ de navegação... — pois 
aquelas ____________ bonecas de seda e ____________, aqueles batalhões completos de 
______________ de chumbo, aquelas casas de __________ com ____________ e 
___________, isso não chegávamos a ___________, sequer, para onde iria. -
______________ os brinquedos sem esperança ___________ inveja, sabendo que jamais 
_______________ às nossas mãos, possuindo-os ______________ em sonho, como se 
_____________ isso, apenas, tivessem sido feitos. 
 Assim, o bando que ___________, de casa para a __________ e da escola para 
____________, parava longo tempo a _______________ aqueles brinquedos e lia 
____________ nítidos preços, com seus _____________ e zeros, sem muita 
____________ de valor porque nós, ___________, de bolsos vazios, como namorados 
____________, éramos só ______________ e amor. Bastava-nos levar _____________ 
memória aquelas imagens, e ___________ cravados nelas, como ___________ nossos 
olhos. 
 Ora, uma ____________, correu a notícia de __________ o bazar se incendiara. 
____________ foi uma espécie de ___________ fantástica. O fogo ia _____________ 
alto, o céu ficava ______________ rubro, voavam chispas e ______________ pelo bairro 
todo. As _____________ queriam ver o incêndio ___________ perto, não se 
contentavam ___________ portas e janelas, fugiam ______________ a rua, onde 
brilhavam ____________ entre jorros d’água. A ___________ não interessavam nada 
peças de pano, cetins, __________, cobertores, _____________ os adultos lamentavam. 
Sofriam ___________ cavalinhos e bonecas, os _____________ e os palhaços, fechados, 
_____________ em suas grandes caixas. ____________ que jamais teriam possuído, 
______________ apenas da infância, amor ____________. 
 O incêndio, porém, levou ___________. O bazar ficou sendo um 
______________ galpão de cinzas. 
 Felizmente, ______________ tinha morrido — diziam em ______________ . 
Como não tinha morrido _______________ ? — pensavam as crianças. Tinha 
______________ um mundo, e , dentro ________________, os olhos amorosos da 
crianças, ali deixados. 
 E começamos _____________ pressentir que viriam outros _______________ . 
Em outras idades. De outros ____________. Até que um dia também_________________ sem socorro, nós brinquedos que somos, talvez de anjos 
________________ . 
 Cecília Meireles. Escolha o seu sonho. 8ª ed., Rio de Janeiro : Record, s.d. 
 
 
Clichês 
Prática de texto: leitura e redação 
 
33 
 
 
Você com certeza já deve ter ouvido algum artista na televisão, diante de uma platéia, 
agradecer o aplauso "desse auditório maravilhoso" ou algum folião considerar o carnaval 
uma "festa maravilhosa" ou ainda ter escutado de um visitante, ao se despedir, um sorridente 
"desculpe por alguma coisa". Seqüências vocabulares como essas são repetidas 
automaticamente e, ao que parece, muitas vezes com a cerimônia de quem imagina ter 
acabado de contribuir para o enriquecimento do vernáculo. 
São idéias prontas que estão sempre à mão na falta de outra melhor e 
mais expressiva. Os clichês (ou chavões) acabam qualificando ou especificando 
muito mal aquilo a que se referem, pois, ao retomarem pela enésima vez a 
mesma idéia, a sua carga informacional não desperta no ouvinte ou no leitor 
qualquer surpresa, antes pelo contrário, pode chocar pela sua trivialidade. 
Os clichês são idéias cristalizadas, não necessariamente ideológicas, lugares-comuns 
que denunciam a estreiteza do repertório de quem os usa. A banalidade, do ponto de vista 
lingüístico, dos dois primeiros exemplos acima, acaba revelando um pouco do senso estético do 
falante, que não se deu conta do enorme número de vezes em que aquelas expressões são 
repetidas. 
O terceiro exemplo acusa uma atitude ingênua, algo como um sentimento de culpa sem 
origem determinada, redundando num formalismo ridículo e absolutamente dispensável. 
Existem clichês para todas as situações, mas sem dúvida os que merecem 
maior censura são aqueles incorporados pela escrita. Clichês relacionados ao 
universo familiar, ao amor, à paisagem, são algumas das categorias de 
ocorrência do fenômeno, conforme os exemplos abaixo, coletados pela 
professora Maria Thereza Fraga Rocco, no exame da FUVEST de 1978: 
 
 
� Familiar 
 
"Estava triste pois minha querida mãezinha ainda nem havia me parabenizado. 
Acalmei-me quando ela disse: 
– Filhinha, você é meu tesouro; quero tudo, tudo de bom a você". 
 
 
Melo & Pagnan 
 34 
34 
� Amoroso 
 
"Você meu amor só podia ter nascido no dia da Primavera. Você é uma flor". 
 
 
� Paisagístico 
 
"É mais um dia que começa. Os passarinhos voam e cantam para homenagear os primeiros 
raios de sol". 
 
 
 
� Existencial 
 
"A incerteza do amanhã me invade e penetra no mais recôndito do meu ser". 
 
 
É necessário, porém, contrabalançar o peso das restrições dirigidas aos clichês, lembrando 
que o processo de aprendizagem e refinamento da escrita se dá, em parte, pela adoção de 
séries vocabulares que se instalaram na cultura como modelos dignos de serem repetidos. A 
uma pessoa que não tenha o hábito da leitura, pode parecer que uma série vocabular como 
"imenso mar azul" ou "a lua cor de prata navegava no céu" represente uma contribuição 
original ao acervo literário da língua portuguesa. 
Um juízo desses, em tais circunstâncias, é natural. E isto porque em 
algum lugar do passado essas imagens foram de fato originais, provocaram, 
talvez, nos seus primeiros leitores, uma emoção estética invulgar e até se fizeram 
motivo de um riso satisfeito, graças ao feitio de voluntária redundância das 
frases: ora, todo mar é imenso e freqüentemente azul e a lua só poderia, claro, 
estar no céu. São imagens que guardam alguma semelhança com outra muito 
conhecida do nosso cancioneiro; n’ “Aquarela do Brasil”, de Ari Barroso, ouve-
se num dos versos: “esse coqueiro que dá coco..." Como se vê, as imagens 
anteriores são apenas um pouco mais discretas na tautologia... 
O poder de sedução conservado por alguns clichês ao longo dos tempos não encontra uma 
explicação plenamente satisfatória. A renúncia total ao estereótipo é impossível, já que esta 
se confunde com a ilusão da originalidade absoluta, o que implicaria, por sua vez, a criação 
Prática de texto: leitura e redação 
 
35 
de uma nova língua. Diante disso, será preciso saber conviver com o lugar-comum até o 
ponto em que ele não ocupe espaço demais no nosso pensamento, nos nossos textos e na 
nossa vida. 
 
 
Exercícios 
 
 
1) As séries vocabulares a seguir são lugares-comuns do discurso pretensamente literário ou 
jornalístico. Reescreva os textos fazendo cortes e substituições que os valorizem estilisticamente. 
 
a) Tinha nos olhos o brilho irradiante das estrelas. 
b) Conservava na lembrança a mais grata recordação dos inesquecíveis 
momentos de felicidade, passados naquela boa e acolhedora terra, entre 
velhos amigos da infância. 
c) Ficaram-lhe na lembrança as marcas indeléveis daquele passado risonho e 
feliz da mocidade, que não voltam mais. 
d) Montou o fogoso ginete e saiu galopando a toda brida pela estrada afora, 
deixando atrás de si uma densa nuvem de pó. 
e) A brisa matutina acariciava-lhe os cabelos e beijava-lhe a face delicada. 
f) Ouvia-se, dali, o bramido ensurdecedor das ondas revoltosas, batendo 
furiosamente contra os impassíveis rochedos. 
g) Permaneceu ali, por muito tempo, engolfado em profundos pensamentos. 
h) Um silvo longo e agudo ecoou na amplidão. O trem vencia a distância, 
devorando sofregamente os quilômetros. A locomotiva, qual fabuloso 
dragão, resfolegava, vomitando fagulhas e rolos de fumaça pelas enormes 
ventas abertas. 
i) Declinando mansamente, o sol foi estendendo o seu manto de púrpura sobre 
os montes. 
j) O flagelo da seca está dizimando toda aquela região do nordeste brasileiro. 
k) Essa inversão de valores é o sinal dos tempos; nota-se em todos os setores da 
atividade humana. 
l) Aproveitando os domingos e feriados, o paulistano procura fugir do bulício 
trepidante desta cidade, que se transformou numa desumana megalópole, em 
face do seu progresso vertiginoso. 
m) Nessa reunião de cúpula, foram ventilados magnos problemas que o País tem 
que enfrentar na atual conjuntura. 
Melo & Pagnan 
 36 
36 
n) O Prefeito vai envidar todos os esforços no sentido de solucionar os 
angustiantes problemas básicos de infra-estrutura dos bairros periféricos da 
Capital. 
o) Com a voz embargada pela emoção, o ilustre homenageado agradeceu, 
comovido, a expressiva homenagem que lhe fora tributada. 
 
 
2) O Manual de Redação e Estilo do jornal “O Estado de S. Paulo” relaciona 
uma série de lugares-comuns que devem ser evitados “a todo custo” no 
noticiário. Procure substituir alguns dos clichês abaixo por expressões menos 
desgastadas. 
 
Abrir com chave de ouro; acertar os ponteiros; a duras penas; dar a volta 
por cima; agradar a gregos e troianos; alto e bom som; ao apagar das luzes; 
aparar as arestas; a sete chaves; atingir em cheio; a toque de caixa; banco dos 
réus; bater em retirada; cair como uma bomba; chegar a um denominador 
comum; chover no molhado; colocar um ponto final; coroado de êxito; deitar 
raízes; deixar a desejar; depois de um longo e tenebroso inverno; desbaratada a 
quadrilha; dirimir dúvidas; divisor de águas; do Oiapoque ao Chuí; faca de dois 
gumes; inserido no contexto; lugar ao sol; pôr as cartas na mesa; reta final; 
trocar farpas. 
 
 
3) Escreva uma frase com cada uma das expressões que você utilizou para 
substituir os clichês. 
 
4) O poema abaixo, de José Paulo Paes, é uma crítica à automatização, entendida como um 
processo de condicionamento de nossa percepção, de estereotipação contínua em relação ao 
mundo que nos cerca. Explique como ocorre essa crítica. Segundo o poeta, há algum setor da 
vida social, capaz de resistir ao condicionamento? 
 
 
 PAVLOVIANA 
 
 a sineta a revoltaa saliva a doutrina 
 a comida o partido 
 
a sineta a doutrina 
 a saliva o partido 
Prática de texto: leitura e redação 
 
37 
 a saliva o partido 
 
a saliva o partido 
 a saliva o partido 
 a saliva o partido 
 
o mistério a emoção 
 o rito a idéia 
 a igreja a palavra 
 
 o rito a idéia 
 a igreja a palavra 
 a igreja a palavra 
 
a igreja a palavra 
 a igreja a palavra 
 a igreja A PALAVRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 4 
Conceito de Ideologia 
 
 
 A linguagem é um sistema de signos ou sinais, um conjunto de elementos 
verbais e não-verbais que serve como meio de comunicação entre as pessoas na 
forma de idéias, sentimentos e valores. Por ter importância decisiva na relação 
entre os indivíduos, a linguagem apresenta-se como campo permanente de 
incursão da ideologia, conceito que passaremos a estudar desde seu 
estabelecimento como teoria no decorrer do século XIX. 
 Antes, porém, relacionamos a seguir alguns dos significados mais 
comuns associados à ideologia, conforme Terry Eagleton8, um teórico inglês: 
 
 
8
 Ideologia: uma introdução. Rio de Janeiro : Unesp/Boitempo, 1997, p. 15. 
Melo & Pagnan 
 38 
38 
a) o processo de produção de significados, signos e valores da vida 
social; 
b) um corpo de idéias característico de um determinado grupo ou classe 
social; 
c) idéias que ajudam a legitimar um poder político dominante; 
d) idéias falsas que ajudam a legitimar um poder político dominante; 
e) comunicação sistematicamente distorcida; 
f) formas de pensamento motivadas por interesses sociais; 
g) ilusão socialmente necessária; 
h) a conjuntura de discurso e poder. 
 
 A palavra ideologia é usada pela primeira vez por Destutt de Tracy 
(1754-1836) num livro publicado em 1801 – Elements d’Ideologie (Elementos 
de Ideologia). Compreendida como ciência das idéias, a ideologia seria uma 
disciplina filosófica criada para servir de substrato para todas as outras ciências, 
o verdadeiro método para o conhecimento do homem. 
 Como a ideologia pretendia ser uma espécie de radiografia do 
conhecimento, ao tempo da Revolução Francesa (1789-1799), nada mais natural 
que seus teóricos se colocassem em posições supostamente avançadas, ora 
apoiando Napoleão Bonaparte no golpe de 18 Brumário (9 de novembro de 
1799)9, quando então acreditavam que ele daria prosseguimento aos ideais da 
revolução burguesa, ora fazendo oposição ao líder por constatarem depois que 
Napoleão tornara-se um restaurador do Antigo Regime. À crítica ao 
autoritarismo bonapartista, segue-se a reação de Napoleão que tachava os 
ideólogos de “falastrões”, acusando-os de destruírem todas as ilusões, sendo que 
era justamente a era das ilusões, segundo ele, para os indivíduos como para os 
povos, a era da felicidade. Em 1812, após ser derrotado pelo exército russo, 
Napoleão ataca os ideólogos em um de seus mais célebres discursos: 
 
É à doutrina dos ideólogos – a essa metafísica difusa que artificialmente 
busca encontrar as causas primárias e sobre esse alicerce erigir a legislação dos 
povos, em vez de adaptar as leis do conhecimento do coração humano e das 
lições da história – que se deve atribuir todos os infortúnios que se abateram 
sobre nossa amada França. 
 
 A ideologia, como lembra Eagleton, tem “raízes profundas no sonho 
iluminista de um mundo totalmente transparente à razão, livre do preconceito, da 
 
9
 À época da Revolução Francesa (1789-1799), houve mudanças na maneira de marcar as datas, 
de nomear os meses, por isto 18 Brumário equivale a 9 de novembro. 
Prática de texto: leitura e redação 
 
39 
superstição e do obscurantismo do Ancien Régime10”. Ser um “ideólogo” 
significava ser um "crítico da 'ideologia', no sentido aqui dos sistemas de crença 
dogmáticos e irracionais da sociedade tradicional". (p. 66) 
Tal projeto era visivelmente ambicioso e não imune a contradições, pois se de um lado, como 
porta-vozes da burguesia revolucionária da Europa do século XVIII, os ideólogos 
acreditavam poder reconstruir a sociedade de alto a baixo sob bases racionais, sonhando 
“com um futuro no qual se teria em apreço a dignidade de homens e mulheres, como 
criaturas capazes de sobreviver sem ópio nem ilusão” (quer dizer, sem crenças), de outro lado 
não eram capazes de perceber que tal causa encerrava em si mesma uma debilidade que se 
tornou depois flagrante. É que ao julgarem que a consciência humana poderia ser 
transformada, na direção da felicidade humana, por um projeto pedagógico sistemático, não 
se perguntaram quais seriam os determinantes desse projeto. Como destaca Eagleton: 
Se toda consciência é materialmente condicionada [é histórica e, 
portanto, relacionada ao modo como o homem age sobre a natureza criando o 
trabalho], isso não deveria aplicar-se também às noções aparentemente livres e 
desinteressadas que iluminariam as massas em seu caminho para fora da 
autocracia, rumo à liberdade? Se tudo deve ser submetido à luz translúcida da 
razão não se deveria incluir aí a própria razão? (p. 66). 
 
Em outros termos, como o fez o filósofo alemão Karl Marx, quem 
educaria os educadores? Karl Marx e outro alemão, Friedrich Engels, estudaram 
a ideologia no livro A ideologia alemã (publicado entre 1845-1846, mas cuja 
versão integral só pôde vir à luz em 1932), obra que não se restringe ao estudo 
do fenômeno naquele país, transformando-se num dos mais sólidos referenciais 
sobre o assunto e inaugurando uma tradição de pensamento crítico que se 
mantém viva e atuante ainda hoje. No livro, os teóricos alemães revisam a obra 
de Destutt de Tracy, apontando para uma ordem de problemas não considerada 
pelo autor de Elementos de Ideologia. 
 
10
 O Ancien Régime (Antigo Regime) é o termo pelo qual ficou conhecido o sistema de governo 
baseado em um rei, em um monarca. A Revolução Francesa pretendeu derrubar esse tipo de 
regime governamental para implantar outro baseado na razão do indivíduo. 
Melo & Pagnan 
 40 
40 
 Para Marx, a ideologia resulta da divisão social do trabalho em dois 
grandes campos: trabalho manual e trabalho intelectual ou, dito de outra forma, 
entre trabalhadores e pensadores. 
 No processo histórico, o trabalho intelectual é identificado à classe 
dominante de uma época; no contexto da Revolução Francesa, a classe em 
ascensão – a burguesia – exerce o domínio sobre as demais classes (pequenos 
comerciantes, pequenos artesãos, servos e aprendizes) que continuam 
compartilhando com ela os ideais revolucionários de liberdade e igualdade. 
 Mas como essas idéias podem continuar vigorando se na prática não 
existe igualdade entre os homens e a liberdade é reduzida a uma abstração, a um 
sentimento flutuante, sem história e incapaz de transformar a sociedade? 
 A resposta deve evocar de novo a separação dos trabalhos que impõe 
uma aparente autonomia do trabalho intelectual diante do trabalho manual. Vista 
dessa forma, a autonomia, aparente, produz como resultado a autonomia dos 
intelectuais – dos que produzem as idéias – e por

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