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Yumara Vasconcelos Doutora em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestre em Contabilida- de pela Fundação Visconde de Cairu (FVC). Gra- duada em Ciências Contábeis pela Universidade Católica de Salvador (UCSAL). Escritora. Possui grande experiência na coordenação acadêmica de cursos a distância, dirigindo projetos nessa modalidade. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 33 Método contábil Breve histórico da Contabilidade A Pré-História representa o período que antecedeu a escrita. Foi uma fase de grande desafio para o homem, que teve que lidar com obstáculos impos- tos pela natureza. Podemos afirmar também que foi uma fase de aprendiza- do, posto que o homem foi desenvolvendo de forma gradativa soluções para os problemas que surgiam e suas necessidades. A Pré-História pode ser dividida em três momentos distintos: Paleolítico, Mesolítico e Neolítico. O Paleolítico, conhecido como Idade da Pedra Lasca- da, possuía características distintivas, a saber: o homem habitava os espaços das cavernas por um tempo determina- � do. A habitação não era fixa, predominando o comportamento nôma- de e o tempo de permanência no mesmo local dependia da disponibi- lidade e acesso a alimentos e das condições de sobrevivência. Ou seja, as reações eram instintivas; era comum a disputa por espaço, inclusive contra animais selvagens; � o homem sobrevivia da caça, coleta de frutos, raízes e pesca; � os instrumentos de trabalho eram produzidos com pedaços de ossos e � pedras, de forma muito rudimentar; a linguagem era pouco desenvolvida. As pinturas rupestres eram uma � forma de comunicação (arte a serviço da comunicação). No Período Mesolítico o homem desenvolveu mais intensamente as con- dições de sobrevivência, facilitadas pelo uso e domínio do fogo. O fogo era empregado para espantar animais, cozinhar alimentos, iluminar e amenizar o frio. As atividades da agricultura e criação de animais aprimoraram-se sig- nificativamente. Em face dos citados avanços a sedentarização tornou-se mais frequente. Foi nesse período que se deu a divisão do trabalho baseado no critério “sexo”. O homem se responsabilizava pelo sustento e proteção e a mulher, pela criação dos filhos e habitação. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 34 Método contábil A origem da Contabilidade data o período pré-histórico, especificamente o Mesolítico (entre 10000 e 5000 a.C.). Antes de o homem desenvolver a es- crita e o cálculo, o “controle contábil” já era praticado, segundo descobertas arqueológicas (SCHMIDT, 2000). Esta constatação é condizente com o grau de desenvolvimento do homem no referido período. Em pinturas líticas, em gravações em ossos de rena, foram encontrados muitos registros que identificam o elemento patrimonial (geralmente animais), constituindo-se algumas de desenhos e de traços identificadores de quantidades e outras apenas de sulcos ou traços, sem a identificação do objeto. (SÁ, 1997, p. 20) Segundo o autor, vestígios de registros contábeis foram encontrados, os quais revelavam a presença do raciocínio contábil já nesta época. Esse pe- ríodo foi caracterizado pelo aquecimento do clima da terra, colocando fim ao Período Glacial. Essa modificação climática estimulou o surgimento de comunidades maiores nas terras do Oriente, próximo às nascentes dos rios por conta da qualidade da terra. O homem começava a se fixar nas áreas de interesse. Vale lembrar que a sobrevivência do homem primitivo se dava pelo cultivo agrícola e criação de animais. “(...) o homem primitivo, ao inven- tariar o número de instrumentos de caça e pesca disponíveis, ao contar suas ânforas de bebidas, já estava praticando uma forma rudimentar de Contabi- lidade.” (IUDÍCIBUS, 2000, p. 30) Segundo Schmidt (2000, p. 15): Em sítios arqueológicos do Oriente Próximo, foram encontrados materiais utilizados por civilizações pré-históricas que caracterizam um sistema contábil utilizado entre 8000 e 3000 a.C. constituído de pequenas fichas de barro. Essas escavações revelaram fatos importantes para a Contabilidade, colocando-a como mola propulsora da criação da escrita e da contagem abstrata. Em função do maior agrupamento de pessoas surgiu a necessidade de controle sobre o produto da agricultura e da criação de animais. Apesar de extremamente simples, os registros satisfaziam as necessidades como locali- zação de itens, trocas, estoque, dívidas etc. “Essa nova fase no desenvolvimento do homem na terra, principalmente nas áreas mais férteis, como a antiga Pérsia e a Mesopotâmia, criou uma ne- cessidade até então pouco considerada: o controle do produto da agricultu- ra e da criação de animais.” (SCHMIDT, 2000, p. 15) Os registros eram feitos em placas de barro, guardadas em artefatos as- semelhados a caixas, sistema sumeriano para identificar devedores e outras pessoas. As inscrições externas comunicavam a movimentação dos itens. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Método contábil 35 As fichas contábeis antecederam a escrita e a contagem abstrata. “As mais antigas manifestações do pensamento contábil são as contas primitivas, ou seja, as que identificavam os objetos (geralmente por figuras) e a quantidade desses mesmos objetos (geralmente por riscos ou sulcos) como meios patrimoniais”. (SÁ, 1997, p. 20) No período Neolítico, o homem conquistou uma maior estabilidade em face do desenvolvimento ainda maior das técnicas agrícolas e dos instru- mentos de trabalho (lanças, machados etc.). Segundo Sá (1997), o homem, já assentado em aldeias e cidades, desenvolvia atividades distintas: constru- ção, criação e produção de objetos de cerâmica etc. Esse status de desenvol- vimento social, certamente, ensejou o progresso dos registros. Da Era Neolítica, mais recente, também muito material foi colhido e estudado, mostrando como aos poucos o ser humano levou as inscrições para o campo de uma pré- -racionalização, disciplinando os registros e até já os identificando com os proprietários dos bens. (SÁ, 1997, p. 22) Os excedentes agrícolas produzidos criavam reservas para períodos difí- ceis (secas e inundações), dando espaço, inclusive para as trocas entre comu- nidades. Era crescente a preocupação com a propriedade. (...) a preocupação com as propriedades e a riqueza é uma constante no homem da Antiguidade (como hoje também o é), e o homem teve que ir aperfeiçoando seus instrumentos de avaliação da situação patrimonial à medida que as atividades foram desenvolvendo-se em dimensão e em complexidade. A Contabilidade reflete um dos aspectos dos anseios mais arraigados no homem hedonístico, isto é, põe ordem nos lugares em que reinava o caos, toma o pulso do empreendimento e compara uma situação inicial com outra mais avançada no tempo. (IUDÍCIBUS, 2000, p. 30-31) As fichas de barro utilizadas possuíam formatos variados, as mais simples eram empregadas nas zonas rurais e as mais complexas nas cidades e ar- redores dos templos. “Esses pequenos objetos de barro, medindo de 1 a 4 centímetros, espalhados por várias partes na Terra, eram moldados à mão e endurecidos com calor.” (SCHMIDT, 2000, p. 16). As fichas continham dados sobre transferência de rebanho e dívidas. Escavações no norte da Babilônia identificaram 49 fichas de registros. As escavações revelaram que as 49 fichas perfuradas representavam a garantia de que o pastor havia recebido o rebanho e tinha uma dívida com o proprietário anterior. Cada animal do rebanho era representado por uma ficha mantida em um receptáculo. Sempre que algum animal era transferido para um pastor, ou para outra pastagem, ou mesmo para tosquia, a forma de registro desse evento era a transferência de ficha correspondenteao animal para outra caixa. (SCHMIDT, 2000, p. 16) Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 36 Método contábil As fichas de barro eram muito utilizadas no período compreendido entre 8000 e 3000 a.C., mas como não eram adequadamente armazenadas muitas não foram preservadas. 1. Animais; cordeiro cordeiro Formato da ficha de barro Pictográfico Tradução (S CH M ID T, 2 00 0, p . 2 1) Figura 1- Significado das fichas de barro. vaca cachorro 2. Alimentos; pão óleo doce – mel cerveja leite de cabra 3. Têxteis; tecido lã peça de vestuário corda tapete 4. Recipiente; celeiro 5. Mercadorias; perfume metal pulseira – anel Com o passar do tempo, inclusive, adotou-se o uso de envelopes para guarda, selos e lacres para melhor preservação do material. A Contabilidade Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Método contábil 37 atendia às necessidades de memorização e controle. Seu desenvolvimento caminhava para um nível maior de organização e sistematização. Para Sá (1997, p. 23) “Tudo indica que foram os desenvolvimentos das so- ciedades, apoiados nos dos Estados, dos Poderes religiosos e de suas rique- zas, somados aos das artes de escrever e contar, que influíram, decisivamen- te, na evolução dos registros contábeis”. Como se vê, a origem da Contabilidade é tão antiga como a origem do homo sapiens; na verdade, a noção de conta o é (IUDÍCIBUS, 2000). Na Idade Média, por conta da racionalidade conquistada na Antiguidade, tudo se en- caminhava para uma lógica comum de sistematização contábil, culminando no surgimento do método de partidas dobradas. Método de partidas dobradas A sistematização do modus de registro contábil teve origem na Idade Média. A escrituração contábil, na época, era ensinada nas escolas de Ma- temática, o que provavelmente alimentou a lógica do registro (SÁ, 1998). A lógica do registro contábil se baseia na relação de causa e efeito. Sá (1998, p. 19) explica: Matematicamente: a = b Contabilmente: débito = crédito Logicamente: efeito = causa O débito representa o efeito e o crédito, a causa. Débito e crédito estão obrigatoriamente relacionados. Por exemplo: compra de máquinas e equi- pamentos à vista. A aquisição das máquinas e equipamentos representa o efeito, portanto, um débito. O pagamento efetuado, o que viabilizou a compra é a causa, portanto, um crédito. Débito efeito Crédito causa O evento destacado no exemplo mostra que são dois os aspectos a con- siderar no registro: o efeito e a causa correspondente, o que explica a deno- minação “partidas dobradas”. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 38 Método contábil A partida dobrada se apoia, pois, no princípio da equação, não há dúvida, mas, logicamente, ela representa a explicação de origem e de efeito do fenômeno patrimonial, uma igualdade de valor em causa e efeito de um fenômeno ou acontecimento havido com a riqueza patrimonial. (SÁ, 1998, p. 22) O autor do método de partidas dobradas não é conhecido. Não se pode precisar a data de origem dessa invenção. A única certeza é a sua contribui- ção para a evolução da Contabilidade. Os registros, simples em um primeiro momento, se tornaram insuficientes em face da complexidade crescente dos eventos e relações. O método de partidas dobradas foi uma resposta fundamental à neces- sidade de registrar os eventos mais abrangentes e complexos. Sá (1998, p. 22) complementa: “Antes, registrava-se só o efeito ou só a causa; portanto, de maneira simples, ou, então, ambos os aspectos, mas, isoladamente, sem conexão compulsória.”. Essa conexão obrigatória entre causa e efeito inten- sificou o controle dos negócios. Existem diferentes hipóteses para o surgi- mento das partidas dobradas. Alguns estudiosos acreditam que o método teve origem no Oriente. Outros, afirmam que o método já era utilizado entre os romanos. Todas essas conjecturas estão no campo das probabilidades maiores ou menores de tal conhecimento, mas nenhuma prova efetiva e contundente nos dá segurança para afirmar que tenha sido este ou aquele fator, ou, quem sabe, ainda, a somatória deles, os responsáveis pelo nascimento das partidas dobradas. (SÁ, 1998, p. 23) A evolução do processo contábil se deve à quantidade e diversidade de eventos a registrar. Com o aprimoramento da técnica do registro surgiram os livros contábeis: razão e diário. O livro razão mostra a movimentação ocorri- da em cada conta e o diário, o registro completo, partida e contrapartida do mesmo. O primeiro trabalho sobre partidas dobradas foi de Luca Pacioli e data de 1494, em Veneza. O frei franciscano sistematizou o método de partidas dobradas. Sobre a vida de Luca Pacioli pouco se sabe. Acredita-se que nasceu entre 1445 e 1450, em Sansepolcro, na Itália. A Contabilidade, nessa época, era ensinada como aplicação ou extensão da Matemática. Após a publicação do trabalho de Pacioli (“Summa de Arithmetica, Geometria proportioni et pro- pornalità” – Coleção de Conhecimentos de Aritmética, Geometria, Proporção e Proporcionalidade), a Contabilidade experimentou grande desenvolvimen- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Método contábil 39 to em face da propagação, consolidação e aplicação do sistema de partidas dobradas. A disseminação do método permitiu um controle maior dos co- merciantes sobre suas atividades, pois o registro reunia, de modo compacto, elementos inter-relacionados (origem-aplicação, causa-efeito). A prestação de contas e o controle foram facilitados. O método viabilizou o conhecimen- to acerca do estado ou situação do patrimônio. Como se vê, o método de partidas dobradas foi um marco do desenvolvi- mento da Contabilidade, tendo sua origem questionada em face da presen- ça de indícios da existência de método semelhante no Oriente antes de sua sistematização. Descrição do método Segundo o método, o total de débitos sempre será equivalente ao total de créditos. De fato, método de partidas dobradas pode ser ilustrado por uma equação (identidade entre total de débitos e de créditos), o que é reflexo da influência matemática. A Contabilidade era ensinada nas escolas de Matemática. Dito de outra forma: as aplicações correspondem a uma ou mais origens correspondentes. Exemplo 1. Compra de mercadorias para revenda no valor de R$10.000,00, 100% à vista. débito estoque de mercadorias efeito aplicação R$10.000,00 crédito caixa ou bancos causa origem R$10.000,00 A aquisição das mercadorias para revenda representa a aplicação ou efeito, viabilizada pela existência dos recursos em caixa ou bancos, causa ou origem de recursos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 40 Método contábil Exemplo 2. Compra de móveis e utensílios por R$5.000,00, 50% à vista. débito móveis e utensílios efeito aplicação R$5.000,00 crédito (1) caixa ou bancos causa origem R$2.500,00 crédito (2) contas a pagar causa origem R$2.500,00 Como se vê, não há débito sem um ou mais créditos correspondentes, uma vez que toda aplicação tem uma ou mais origens correspondentes. Esse é o fundamento do método das partidas dobradas. A conta contábil pode ser apresentada na forma de “T” (razonete). Título da conta Débito Crédito Demonstração em forma de razonete do exemplo 1. Estoque Débito Crédito R$10.000 Caixa Débito Crédito R$10.000 Demonstração em forma de razonete do exemplo 2. Móveis e utensílios Débito Crédito R$5.000 Caixa Débito Crédito R$2.500 Contas a pagar DébitoCrédito R$2.500 O registro contábil deve responder a duas questões: o que foi feito e como foi feito (qual a origem dos recursos)? Essas perguntas caminham juntas no momento em que o registro é realizado. As fórmulas de escrituração consis- tem na forma de registro do fato contábil. Mostram a correlação entre débito e crédito. São quatro as fórmulas existentes, a saber: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Método contábil 41 Quadro 1 – Fórmulas de registro Fórmula Registro Exemplo 1.ª Fórmula: lançamentos ou partidas simples. Um débito contra um único crédito. 1D = 1C Aquisições a prazo ou à vista. Pagamento de dívidas. 2.ª Fórmula: lançamentos ou partidas complexas. Um débito contra créditos di- versos. 1 D = n C Aquisições com parcela à vista e as demais a prazo. 3.ª Fórmula: lançamentos ou partidas complexas. Débitos diversos contra um único crédito. nD = 1C Reposição de fundo fixo de cai- xa: crédito da conta “bancos” contra as contas representa- tivas das despesas incorridas. Quitação de despesas diversas (conta de água, energia elétri- ca, aluguel etc.) emitindo-se um único cheque. Pagamento dos tributos fe- derais (feitos por meio de guias) emitindo-se um único cheque. 4.ª Fórmula: lançamentos ou partidas complexas. Débitos diversos contra créditos diversos. Não é usada na prática por- que representa vários lança- mentos de primeira fórmula. Yu m ar a V as co nc el os A ideia é identificar no evento o efeito e a causa correspondente, ou seja, a aplicação e a origem. Se o evento é a compra de determinada máquina a prazo, o efeito é a aquisição (e inserção da máquina adquirida no patrimônio da entidade). A forma de pagamento é a causa, esforço que torna possível a aquisição (origem de recursos). Breve histórico das correntes de pensamento contábil Após a disseminação das partidas dobradas, o que se verificou foi a busca e o esforço empreendido para compreender e delimitar o objeto de estudos da Contabilidade. Essa preocupação deu origem às correntes de pensamen- to. Essas correntes refletem o pensamento da época e os raciocínios organi- zados sobre a matéria em estudo. Segundo Sá (1997, p. 55): O período científico foi aquele em que as doutrinas se agigantaram, determinadas não só em buscar a delimitação de um objeto verdadeiro de estudos para a Contabilidade, Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 42 Método contábil mas também, especialmente de buscar conhecer a substância gerida pelo ser humano no sentido da satisfação de suas necessidades materiais. Há, pois, uma inequívoca história das doutrinas, que se torna objeto de conhecimento específico na formação cultural do contador. A mentalidade científica se desenvolvia gradativamente. As observações levam a raciocínios organizados que geram conceitos, estes produzem enunciados ou teoremas e estes, ainda, as teorias. Os que criam bases doutrinárias e teorias, como mestres, passam a ter adeptos e assim se forma uma escola científica, de pensamentos semelhantes. Quando vários mestres, com suas próprias observações, partindo de uma teoria principal, formam suas teorias derivadas, em diversos locais, estabelece-se uma corrente científica de pensamentos semelhantes. (SÁ, 1997, p. 60) As correntes de pensamento científico formam um conjunto complexo composto por teorias principais e derivadas. Em geral, o nascedouro dessas correntes é a observação. O produto dessa observação é a reflexão, o que enseja o desenvolvimento do raciocínio lógico. A partir da reflexão sobre o objeto é que são desenvolvidas as teorias principais e derivadas, simultanea- mente à adesão de novos pensadores. A figura 2 ilustra a maneira como uma corrente de pensamento pode se formar. Precursores Adeptos Figura 2 – Surgimento de uma corrente de pensamento. Observações Teorias derivadas Contribuições Corpo teórico Raciocínio - Conceitos - Verificações - Novas observações As correntes de pensamento correspondem à unidade de pontos de vista frente a uma determinada matéria. Na história das correntes de pensamento destacam-se as seguintes escolas: Yu m ar a V as co nc el os Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Método contábil 43 Contista; � Administrativa ou Lombarda; � Personalista; � Controlista ou Veneziana; � Reditualista; � Aziendalista; � Patrimonialista. � Escola Contista Certamente os primeiros livros impressos impulsionaram de forma sig- nificativa o desenvolvimento do Contismo, primeira escola do pensamento contábil. Até o século XVIII, as teorias contábeis vigentes eram praticamente as mesmas apresentadas pelo livro de Pacioli. As primeiras experiências na busca de uma nova exposição sistematizada para a Contabilidade ocorreram muito tempo após a publicação das primeiras obras que trataram das partidas dobradas. (SCHMIDT, 2000, p. 29) Os primeiros autores focaram seus trabalhos na descrição e apresenta- ção de exemplos de registro das transações por meio das partidas dobradas. A ênfase era o processo de escrituração e as técnicas de contabilização. O Contismo enquanto escola do pensamento contábil estruturou-se a partir desses trabalhos e abordagens. Com a transição do feudalismo para o capitalismo, a Europa contou com uma transformação econômica expressiva, o que demandou maior controle e o emprego de sistemas sofisticados. Para esses pensadores, a escrituração contábil subordina-se ao funcionamento das contas. O propósito das contas era o de registrar os valores a receber e as dívidas. Difundia-se o crédito nas transações comerciais. Nesse primeiro momento inexistia distinção entre a Contabilidade en- quanto ramo do conhecimento e a técnica de escrituração. Contabilidade e escrituração eram vistas como um conjunto indissociável. A ênfase da Conta- bilidade era reportar os saldos das contas a pagar e a receber. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 44 Método contábil Explicando a origem histórica do “débito” e do “crédito” A mecânica do “débito” e do “crédito” é explicada por alguns contistas e considera os elementos denominados proprietários e agentes depositá- rios. Nessa fase da história contábil, a figura do proprietário ou dono do em- preendimento era distinta daqueles que gerenciavam os negócios. Os pro- prietários entregaram seus recursos a pessoas de confiança e competência para geri-los. Estas pessoas eram denominadas de agentes depositários. Ao receber, os agentes depositários assumiam a responsabilidade ou o dever de administrar o que lhes foi entregue. Ao entregar esses recursos, os pro- prietários se tornavam credores. Por essa razão os ativos são registrados a débito e as dívidas ou compromissos, a crédito. Os agentes depositários devem ser debitados pelo que lhes é entregue e são creditados por tudo que entregam. Assim, quando os proprietários en- tregavam seus recursos aos gestores, o valor correspondente era debitado. Por essa razão é que a inserção de ativos é registrada a débito. Figura 3 - Agentes e o mecanismo de débito e crédito. Débito Crédito Crédito Débito Proprietários Credores - Bens agregados - Ativos sob responsabilidade dos agentes Agentes depositários As contas evidenciam não somente direitos, mas, igualmente, obriga- ções. Esta é a origem da regra clássica “quem recebe deve; quem entrega tem a haver”. Essa regra não era abrangente o suficiente, mas atendeu em um primeiro momento às necessidades da época. Luca Pacioli e Leonardo Fibonacci foram dois dos grandes nomes dessaescola. Escola Administrativa ou Lombarda Esta escola teve origem e motivação nos trabalhos de Francesco Villa. A Escola Administrativa tem o nome de Lombarda em face do local onde as manifestações estavam concentradas, no norte da Itália. Os adeptos desta escola não consideravam a conta contábil como propósito do processo con- tábil. Eles acreditavam que a escrita contábil era o meio, não o fim. “(...) escri- ta contábil como a “parte mecânica”, apenas.” (SÁ, 1997, p. 64) Yu m ar a V as co nc el os Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Método contábil 45 A riqueza seria, segundo esses estudiosos, o objeto essencial de estudos. “Não desprezou a importância da adequação dos dados, das avaliações, das revisões, dos orçamentos, mas colocou tais coisas em seus planos apenas de apoio, de subsídio para que os entendimentos fossem alcançados.” (SÁ, 1997, p. 64) A Contabilidade não se limitava ao registro e sua demonstração. Esses pensadores analisavam a Contabilidade numa perspectiva mais ampla. Escola Personalista Os contistas limitavam a abordagem contábil no registro dos fatos – Con- tabilidade como “ciência das contas”. “O denominado ‘Contismo’, entendo, particularmente, pertence às concepções de um período pré-científico, a uma visão ainda modesta, que não tem condições de ser classificada como uma corrente deveras científica.” (SÁ, 1997, p. 69) Apesar da contribuição do Contismo, verificou-se uma certa inquietude científica, promovendo um olhar distinto daquele, apresentando um enfo- que mais jurídico. Esta escola ficou conhecida como Logismográfica, Jurídi- co-Personalista ou Toscana. Os personalistas acreditavam que as contas de- veriam ser constituídas em nome de pessoas, físicas ou jurídicas. Segundo os teóricos, o dever representava créditos e os haveres, débitos dos titulares das contas contábeis. Os personalistas, geralmente, separavam a figura do proprietário da pessoa do gestor, pois gerenciar a entidade é uma coisa e custodiar os re- cursos desta é outra bem diferente. A gestão se concretiza pela relação entre agentes e correspondentes. A figura 4 evidencia a relação entre administra- dores, proprietários e terceiros. Figura 4 – Deveres e haveres. AdministraçãoProprietários Credores Credores Terceiros De acordo com Schmidt (2000, p. 63) “A personificação das contas é jus- tificada pelo fato que qualquer operação administrativa, inerente à gestão de qualquer entidade, assume relevância jurídica em virtude de crédito e débito que provoca”. Yu m ar a V as co nc el os Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 46 Método contábil Para os estudiosos dessa escola é fundamental reconhecer a substância jurídica das transações, enfatizando os interesses das partes relacionadas. A escrituração contábil evidencia direitos e obrigações destas partes. Destaca- ram-se nesta escola: Francesco Marchi, Giuseppe Cerboni e Giovanni Rossi. O Personalismo conectou conceitos jurídicos aos administrativos. Escola Controlista ou Veneziana A Escola Controlista ficou conhecida como “Escola Veneziana”. Seu prin- cipal mentor foi Fabio Besta. A maior parte das produções concentrou-se na cidade de Veneza. “Além de Besta contribuíram para o engrandecimento dessas escolas vários outros estudiosos, como Vittorio Alfieri, Carlo Ghidiglia, Francesco de Gobbis, Vincenzo Vianello, Pietro D’Alvise e Benerro Lorusso.” (SCHMIDT, 2000, p. 73) Os controlistas tiveram ideias distintas dos contistas e personalistas. Se- gundo os controlistas, o controle da riqueza administrada constituía objeto da Contabilidade. Os pensadores desta escola colocavam o controle como finalidade do processo contábil. Escola Reditualista Esta corrente se desenvolveu principalmente na Alemanha. Para os re- ditualistas o objeto de estudo da Contabilidade é o rédito. De acordo com Iudícibus e Marion (2001, p. 172) “Rédito. Resultado positivo ou negativo da variação entre as receitas e despesas da empresa”. O estudo do lucro era a grande preocupação dos reditualistas. “Na ânsia de buscar o verdadeiro objeto de estudos da Contabilidade, os reditualistas tiveram como princípio admitir que o lucro é o que mais preocupa como objeto de estudo, sendo o fenômeno básico a ser observado, embora com a relatividade necessária.” (SÁ, 1997, p. 92). O grande expoente dessa escola foi Eugen Schmalenbach. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Método contábil 47 Escola Aziendalista Segundo os aziendalistas, a azienda representava uma célula social. A Contabilidade prestava-se ao auxílio na gestão da riqueza, preocupando- -se com os fatos associados à gestão e não ao registro. Os pensadores desta escola acreditavam que os fenômenos aziendais seriam o alvo principal dos estudos contábeis. Gino Zappa foi um dos grandes destaques desta escola. Escola Patrimonialista A Escola Patrimonialista reconhece o patrimônio como objeto de estudos da Contabilidade. A Contabilidade não pode ser reduzida a um levantamen- to patrimonial. A corrente de estudos teve como destaque o estudioso Vin- cenzo Masi. Segundo esta linha de pensamento, a Contabilidade é uma ciência social, onde os fenômenos patrimoniais são considerados fatos contábeis. (FAVERO et al, 1997) O quadro 2 apresenta a ênfase de abordagem de cada corrente de pensamento. Quadro 2 – Correntes e ênfases Escolas Ênfase na abordagem Contista Mecanismo de registro e movimento das contas Administrativa Riqueza administrada Personalista Personalização das contas. Enfoque jurídico (relações de direitos e obriga- ções) Controlista Controle da riqueza administrativa Reditualista Ênfase no resultado Aziendalista Fatos associados à gestão aziendal Patrimonialista Reconhece o patrimônio como objeto de estudos da Contabilidade Iudícibus (2000, p. 31) comenta que “O grau de desenvolvimento das te- orias contábeis e de suas práticas está diretamente associado, na maioria Yu m ar a V as co nc el os Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 48 Método contábil das vezes, ao grau de desenvolvimento comercial, social e institucional das sociedades, cidades ou nações”. Desta maneira, não é difícil compreender a razão de cidades como Veneza, Florença, Gênova e Pisa terem sido cenário do florescer da Contabilidade. Após a publicação do Tractatus de Computus et Scripturis iniciou-se um período em que a escola europeia dominou as concepções da época, pro- movendo grande avanço teórico. Na Itália, apesar desse histórico, verifica- -se a influência norte-americana, focada na prática profissional. Aliás, grande parte das elaborações teóricas originou-se em entidades relacionadas a pro- fissionais da área contábil. (SCHMIDT, 2000) Ampliando seus conhecimentos Origem da Contabilidade (VASCONCELOS, 2009) A Contabilidade teve origem na Pré-História, antes que o homem desen- volvesse a escrita e o cálculo. O homem, pressionado por suas necessidades, criou uma sistemática de registro valendo-se dos recursos e conhecimentos disponíveis na época. O zelo pelo patrimônio (na verdade, pelas “utilidades”) já suscitava preo- cupações, motivadas pela necessidade de sobrevivência. A Pré-História foi um período de descoberta, adaptação e aprendizado. O homem reconhecia e explorava seu ambiente, organizando suas impressões para responder aos desafios impostos e sobreviver – fase do empirismo primitivo. Com o aquecimento da terra, verificado no Período Mesolítico, o homem mudou gradativamente sua condição de nômade para sedentário, assentan- do-se em locais queviabilizavam sua sobrevivência, que se dava às custas da coleta de frutos, pesca e caça. Por essa razão o homem privilegiava as áreas próximas às nascentes. Na medida que reconhecia suas necessidades e o am- biente, criava soluções práticas para atendê-las. Apesar de primitiva, a civilização já contava com a indústria de instru- mentos. O homem primitivo fabricava os artefatos utilizados na caça, pesca e coleta. A crescente complexidade das relações ensejou a necessidade de controle, por meio das inscrições (memória contábil). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Método contábil 49 O excedente coletado era guardado (noção de estoque) ou trocado por outras utilidades. O homem aprimorava a comunicação e as relações sociais. Sá (1998, p. 17) ressalta que “A qualidade e a quantidade das reservas de utili- dades, quer de caça, quer de colheitas, foram elementos que o homem notou como algo distinto, como conquista de seu trabalho”. O autor ainda explica que “Essa observação empírica produziu, também, a ideia originária de coisa que se pode dispor para obter-se utilidade, como meio apto para suprir ne- cessidades, ou seja, o ‘patrimônio’.” (SÁ, 1998, p. 18) A riqueza era evidenciada por meio da arte, como evidencia as inscrições nas paredes das grutas e pedaços de ossos. Os registros eram extremamente simples: o desenho do animal ou coisa correspondia à natureza da utilidade (item do patrimônio) e os riscos representavam a quantidade. O homem pri- mitivo evidenciava nas contas qualidade e quantidade, sendo a qualidade a natureza do bem conquistado e guardado. Conta primitiva Qualidade (natureza da utilidade) Quantidade (riscos) Alguns denominam a evidenciação acima de pré-conta. Com o passar do tempo as inscrições ganharam maior complexidade, forçando o homem a refi- nar o seu modo de registro, fazendo-o migrar da arte para a técnica. Sá (1998, p. 19) conta-nos que “há mais de 6.000 anos o comércio já era intenso, o con- trole religioso sobre o estado já era grande e poderoso, daí derivando grande quantidade de fatos a registrar, ensejando, também, o desenvolvimento da escrita contábil”. O homem registrava o que tinha, gastava e produzia. Desenvolveu pro- gressivamente noção de “custo” e “orçamento” (como forma de antecipar a necessidade). Os anos passaram e o modus de registro ganhava refinamen- to, como extensão da racionalidade conquistada na Antiguidade. “O ‘meu’ e o ‘seu’ deram origem a registros especiais de ‘débito’ (o que alguém tem que me pagar) e ‘crédito’ (o que eu devo pagar a alguém)”. (SÁ, 1998, p. 19) Na Idade Média o método contábil foi sistematizado, ganhando rigor lógico. Segundo Schmidt (2000, p. 25) Pesquisas sobre a origem das técnicas de escrituração contábil transportam para o período entre os séculos XII e XIII, no norte da Itália, quando ocorreram as primeiras Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 50 Método contábil manifestações práticas do uso do sistema de partidas dobradas em empresas. Após essas primeiras práticas contábeis é que seu uso generalizou-se por toda a Europa. O autor complementa ainda que “cidades como Florença e Gênova, entre outros centros comerciais, também desenvolveram o sistema de partidas do- bradas, independente do sistema veneziano apresentado por Pacioli.” (SCH- MIDT, 2000, p. 25) O refinamento do sistema contábil de partidas dobradas teve duas gran- des motivações: o desenvolvimento econômico verificado em Gênova, Veneza e � Florença, que eram os grandes centros comerciais da época; o aprimoramento da tecnologia de impressão de livros na Alema- � nha e sua veloz disseminação nesses grandes centros. Com o advento do renascimento e do capitalismo, novas condições sociais foram criadas, abrindo espaço para que bens e riquezas fossem acumulados por mais pessoas, ratificando a importância do método contábil para fins de controle e gestão. Atividades de aplicação 1. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso): A Contabilidade teve origem na Antiguidade segundo evidências )( obtidas nas escavações. As fichas de barro foram utilizadas até o Período Aziendalista. )( Foram encontradas em pinturas líticas vestígios indicativos )( de registros contábeis: desenhos de elementos patrimoniais (animais e frutos) acompanhados de traços ou riscos, indicando quantidade. A Contabilidade nasceu antes que o homem soubesse escrever )( ou calcular. Com a publicação do trabalho de Pacioli no Período Mesolítico, )( a Contabilidade experimentou grande desenvolvimento. Luca Pacioli, seguramente o autor do método de partidas )( dobradas, publicou o primeiro trabalho na área contábil. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Método contábil 51 O método de partidas dobradas pode ser representado por )( uma equação, o que é reflexo da influência matemática. A Contabilidade era ensinada nas escolas de Matemática. 2. Explique como as correntes de conhecimento se formam. 3. Qual a origem do débito e do crédito? Gabarito 1. V, F, V, V, F, F, V 2. As correntes nascem da convergência de pontos de vista, ideias e im- pressões. O ponto de partida é a observação e a reflexão acerca de um evento ou fenômeno. Com o tempo e disseminação dessas ideias, no- vos adeptos são agregados e contribuições surgem, tornando aquele conhecimento mais amplo e sólido. As correntes se formam a partir de uma rede de conhecimentos e reflexão. Na medida em que o corpo teórico se fortalece, o conhecimento atravessa fronteiras, ganhando novas leituras. Assim, as correntes ganham notoriedade. 3. Na fase “contista” a figura do proprietário, ou dono do negócio, era distinta daqueles que gerenciavam. Os proprietários entregaram seus recursos a pessoas de confiança e competência para geri-los. Essas pessoas eram denominadas de agentes depositários. Ao receber, os agentes depositários assumiam a responsabilidade ou o dever de ad- ministrar o que lhes foi entregue. Ao entregar esses recursos, os pro- prietários se tornavam credores. Por essa razão os ativos são registra- dos a débito e as dívidas ou compromissos, a crédito. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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