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TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO NA EMERGÊNCIA PEDIÁTRICA Vale salientar... - O trauma é a principal causa de morte e invalidez na população pediátrica a partir do primeiro ano de vida. - Mais de 45% das mortes em crianças de 1 a 14 anos são consequência do politrauma. - TCE é a principal causa de óbito nas crianças politraumatizadas. TCE designa os diversos acometimentos desencadeados por uma força externa ao crânio e/ou ao cérebro subjacente. DEFINIÇÃO Cérebro: estrutura semissólida vascularizada pelas carótidas internas e pelas vertebrais; e drenada pelas veias jugulares internas. BRASIL TCE é a principal causa de morte de crianças acima de 1 ano Presente na maioria das crianças vítimas de trauma Responsável por 75% das mortes na infância EUA Incidência de TCE em crianças: > 150 mil/ano com cerca de 7 mil óbitos DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO PRECOCE SÃO IMPORTANTES PARA EVITAR GRAVES SEQUELAS! EPIDEMIOLOGIA CONCEITOS GERAIS Dois picos de incidência por faixa etária: Crianças entre 0 e 2 anos Adolescentes entre 15 e 18 anos Estruturas do crânio ainda são flexíveis e imaturas, a musculatura cervical é mais fraca e o tamanho da cabeça é grande em relação ao corpo. Choque do encéfalo com protuberâncias ósseas Cisalhamento de estruturas vasculares e neuronais Impacto: Aceleração X Desaceleração: FISIOPATOLOGIA Lesão primária FISIOPATOLOGIA Por impacto contusões, lacerações, hematomas Lesões no couro cabeludo: Lineares: grandes vasos Afundamento: dura-máter com perda liquor, déficit neurológico Base do crânio: traumas com grande impacto. Clássico: equimose retroauricular ou de mastoide, sangue atrás da membrana timpânica, equimose periorbital Fraturas da calota craniana: 1. 2. 3. Perda da consciência transitória pós-trauma (interrupção estímulo) Concussão: Lesões necrohemorrágicas secundárias à pressão do encéfalo contra estruturas ósseas Contusão: FISIOPATOLOGIA Por aceleração e desaceleração Sangue entre a calota e a dura-máter Herniação cerebral Hematoma extradural: Evolução lenta "Síndrome do bebê sacudido" Secundário à ruptura das veias que saem do córtex para os seios durais Hematoma subdural: Leva a irritação meníngea Hematoma subaracnóidea: Vias axonais Coma profundo TC de crânio: hemorragias puntiformes com edema cerebral subjacente. Lesão axonal difusa (LAD): Obstrução da drenagem liquórica e hidrocefalia Hemorragia intraventricular: FISIOPATOLOGIA Lesão secundária Cascata de eventos bioquímicos e celulares que ocorrem minutos após o trauma e podem se perpetuar por meses, levando à lesão e à morte de células neuronais, para a qual ainda não há tratamento. Hipoxemia; Hipercapnia; Hipocapnia; Hipotensão arterial (HAS); Hipertensão intracraniana (HIC); Crises convulsivas; Hipertermia e distúrbios hidroeletrolíticos (mais com o sódio); Distúrbios metabólicos (principalmente com a glicose). CONCEITOS SOBRE ANATOMIA E FISIOLOGIA DO TCE NA INFÂNCIA Pressão intracraniana (PIC) Tecido cerebral (80%), liquor (10%) e sangue (10%) Descompensação em TCE grave Quando se esgotam os mecanismos de compensação, há aumento da PIC, diminuindo a perfusão tecidual e agravando a isquemia Lactentes: 8 a 10 mmHg; Crianças maiores e adultos: Valores normais para PIC: < 15 mmHg CONCEITOS SOBRE ANATOMIA E FISIOLOGIA DO TCE NA INFÂNCIA Fluxo sanguíneo cerebral (FCS) Dentro da faixa de pressão arterial média (PAM) de 60 a 150 mmHg, há mecanismos de autorregulação do fluxo sanguíneo cerebral. Metabólicos: FSC regulado para manter constante o fornecimento de oxigênio Regulação segue a demanda metabólica Gases sanguíneos: aumento PaCO2 aumenta FSC Miogênicos: elevação da PA no vaso -> estiramento da musculatura lisa e vasoconstrição reflexa Neurogênicos: ação dos nervos perivasculares CONCEITOS SOBRE ANATOMIA E FISIOLOGIA DO TCE NA INFÂNCIA Existem mecanismos de autorregulação para manter a PPC independente da PAM PPC = PAM - PIC = 50 a 60 mmHg Pressão de perfusão cerebral (PPC) Nas primeiras 12 a 24 horas após o trauma, o fluxo sanguíneo cerebral diminui e complicações como hipotensão e hipóxia podem contribuir ainda mais para a lesão neuronal EXAMES NEUROLÓGICO E FÍSICO DA CRIANÇA Determinação dos sinais vitais Sinais de fraturas cranianas: equimose periorbitais (olho em guaxinim) e/ou equimose periauricular (sinal de Battle) Hemotímpano Otorreia ou rinorreia Fratura complexa (afundamento) Escala de coma de Glasgow Reflexos pupilares à luz Exame dos nervos cranianos Movimentação das extremidades Reflexo de Babinski Sinal do duplo halo Queda de dois ou mais pontos na escala de coma de Glasgow, alterações do ritmo respiratório, alterações das reações pupilares à luz, hipóxia ou convulsões ATENÇÃO! Tríade de Cushing HIC aumento da PIC Todo paciente vítima de TCE deve ser avaliado em até 15 minutos da entrada na emergência. EXAMES DE IMAGEM Raio X de crânio TC de crânio sem contraste Ressonância magnética cerebral Crianças menores de 2 anos de idade, e principalmente abaixo de 12 meses, podem apresentar um exame clínico-neurológico normal, mesmo com alterações tomográficas que requeiram tratamento cirúrgico. Custo X Benefício O uso indiscriminado da realização de tomografias de crânio para pacientes, mesmo com traumas mínimos, tem sido motivo de preocupação dos órgãos de saúde pela possibilidade de ocorrência de câncer e pela exposição do sistema nervoso em desenvolvimento à radiação. 1) Pela gravidade: baseada na escala de coma de Glasgow 2) Pelo mecanismo do trauma: fechada/contusa ou penetrante 3) Pela morfologia: a) Extracranianas: lacerações do couro cabeludo que podem ser fonte importante de sangramento e hematomas subgaleais b) Intracranianas: focais (hematomas extradural, subdural, intraparenquimatosa) ou difusas (concussão, LAD, edema e ingurgitamento cerebral) c) Fraturas de crânio: lineares, comunicativas, com afundamento - maior chance de lesão intracraniana Tipos de Classificação da Lesão 13 - 15 lesões leves 9 - 12 moderadas 3 - 8 graves CLASSIFICAÇÃO (gravidade) Glasgow TCE ECG menor ou igual a 14 OU sinais de alteração do estado mental OU fratura de crânio palpável Hematoma subgaleal ccipital, parietal ou temporal OU perda de consciência > 5s OU mecanismo de trauma grave OU comportamento anormal segundo os pais TCE LEVE Não pede TC para todos os casos. A população pediátrica é bem sensível a radiação da TC, por isso existem fluxogramas para determinar se faz ou não TC em TCE leve. < 2 anos TC recomendada Sim Sim TC X observação -experiência clínica -achados múltiplos -piora clínica -<3 meses Não Não TC não recomendada TCE LEVE > 2 anos ECG menor ou igual a 14 OU sinais de alteração do estado mental OU sinais de fratura de base de crânio Sim TC recomendada Historia de perda de consciência OU historia de vômitos OU mecanismo de trauma grave OU cefaleia intensa Sim TC X observação -experiência clínica -achados múltiplos -piora clínica -Preferência dos pais Não Não TC não recomendada TCE LEVE Tratado de Pediatria Baixo risco não possui fatores de risco não pede TC observa por um período de quatro a seis horas e libera para casa com orientação de retorno para avaliação Risco moderado o profissional pode decidir sobre realizar a TC ou apenas manter observação clínica - quatro a seis horas. Alto risco deve realizar a TC de crânio cefaleia persistente ou progressiva vômitos persistentes 8 horas após o trauma sonolência, fraqueza ou gestos inábeis equilíbrio precário ao deambular alteração de comportamento convulsão corrimento aquoso ou sanguinolento por nariz ou por ouvido Na alta, deve haver boa orientação da família para retorno imediato à assistência médica, caso ocorra algum destes sintomas: Raio X?? TCE MODERADO Todos farão TC A observação nas primeiras 48 horas deve ser rigorosa, preferencialmente em UTITCE GRAVE Há necessidade de monitorização da PIC, suporte intensivo e acompanhamento multidisciplinar. COMPLICAÇÕES Hipertensão intracraniana (HIC) Herniação cerebral A hipertensão intracraniana refratária ocorre em cerca de 42% dos casos de TCE grave em crianças e está associada à mortalidade de 29 a 100% Reavaliar continuamente: Nível de consciência Pupilas Fraqueza muscular Tríade de Cushing (bradicardia, bradipneia/ritmo respiratório e hipertensão arterial) CONDUTA A avaliação inicial com diagnóstico das lesões associadas ao trauma deve ser rápida e sequencial, seguindo os princípios do PALS TRATAMENTO MEDIDAS GERAIS CABEÇA em posição neutra, ELEVADA A 30° pra otimizar o retorno venoso (movimentos de rotação para a direita podem aumentar a PIC mais que para a esquerda) Temperatura corporal: NORMOTERMIA (hipotermia controlada pode ser utilizada para o tratamento da HIC refratária; hipertermia causa maior consumo cerebral de O2) MONITORAÇÃO HEMODINÂMICA: catéter para PAM e PVC (pressão venosa central) -> tratar agressivamente a hipotensão (principal fator que agrava o prognóstico) - Se não houver resposta à expansão com volume: DOPAMINA (5- 15 mcg/kg/min); noradrenalina (0,05-1mcg/kg/min) - Se houver disfunção ventricular: associar DOBUTAMINA (5- 15mcg/kg/min) - o HAS pode ser resposta ao aumento da PIC: não corrigir a HAS sem saber a causa e não usar nitroprussiato de sódio MANEJO RESPIRATÓRIO: Manter Hb>10g/dL e/ou Ht>30% Lidocaína a 1% (1mg/kg) antes da aspiração da cânula traqueal - Se HIC, Glasgow <ou= 8, sofrimento respiratório, hipercapnia, hipoxemia refratária: IOT - Manter saturação 02>95% e a PaCO2 aproximadamente 30- 40mmHg (evitar hiperventilação empírica) Hidratação: 2/3 das necessidades diárias Glicemia, eletrólitos e osmolaridade sérica: de 6 em 6 horas Evitar hipo/hiperglicemia Sódio sérico: 140-150 mEq/L Suporte nutricional com alimentação do paciente o mais precoce possível (administrar 30-60% do gasto metabólico basal) SEDAÇÃO, ANALGESIA E BLOQUEIO Benzodiazepínicos: MIDAZOLAM (0,1 – 0,3 mg/kg/h) Analgésico efetivo: fentanil* (1 – 3 mcg/kg/h) * reduz QI Bloqueadores neuromusculares: - indicados se HIC grave - VECURÔNIO (ataque: 0,06 – 0,08 mg/kg; manutenção: 0,02 a 0,03 mg/kg/h) - ATRACÚRIO (ataque: 0,3 – 0,5 mg/kg; manutenção: 0,2 – 1 mg/kg/h) CRISES CONVULSIVAS Ocorre em 10% das crianças com TCE grave Uso profilático de DIFENIL-HIDANTOÍNA por 7 dias Na vigência de crise convulsiva: BZD de ação rápida (DIAZEPAM 0,2 – 0,3 mg/kg/dose) Manutenção com difenil-hidantoína Pacientes em uso de bloqueadores musculares devem realizar eletroencefalograma HIC Manter a PPC em torno de 40-45mmHg nos lactentes e nas crianças menores, e em 50-55mmHg nas crianças maiores e nos adolescentes Limites da PIC para iniciar o tratamento da HIC: Crianças < 1 ano: maior que 15 mmHg Crianças de 1 a 8 anos: maior que 18 mmHg Crianças > 8 anos: maior que 20 mmHg Recomendações para monitorar PIC: TCE grave (Glasgow <8) e com TC de crânio alterada Reduzir PIC -> HIC DRENAGEM LIQUÓRICA (paciente com catéter intraventricular) HIPERVENTILAÇÃO: (se deterioração neurológica aguda) – manter PaCO2 entre 30 e 35 mmHg (jamais abaixo de 25) MANITOL: controla elevação da PIC (0,25 – 1 g/kg em bolus por 10min) FUROSEMIDA: diminui produção de líquor (1mg/kg a cada 6h) BARBITÚRICOS: controlar HIC refratária em paciente hemodinamicamente estável (TIOPENTAL 5mg/kg em 10min e em manutenção de 10-100 mcg/kg/min) CRANIOTOMIA DESCOMPRESSIVA: usada em HIC intratável para evitar morte com herniação cerebral DEXANABINOL: remove radicais hidroxila e peróxidos (tóxicos), além de inibir a produção de fator de necrose tumoral; efeito anti- hipotensor; indicado nas primeiras 6h do TCE LESÕES SECUNDÁRIAS: PREVENÇÃO Prevenir e tratar rapidamente a hiponatremia Reposição volêmica com soluções isosmolares (o que piora a PIC é a hiposmolaridade e a hiponatremia) Evitar hipertermia Não retardar a IOT Prevenir convulsões com uso de anticonvulsivantes em pacientes de alto risco, contusão cortical, fratura craniana deprimida, hematomas intracranianos, ferimentos penetrantes de crânio, Glasgow <9, crianças <1 ano de idade Ajustar o aporte de glicose - A abordagem da criança politraumatizada requer conhecimento das características anatômicas, fisiológicas e psicológicas peculiares das crianças que as diferenciam do adulto (maior relação cabeça-corpo, ossos do crânio mais finos e SNC menos mielinizado). - Necessidade de uma equipe treinada e com conhecimento das peculiaridades encontradas nas crianças, além da disponibilidade imediata de equipamentos de tamanho apropriado para a faixa pediátrica. - Pensar sempre em uma criança vitimizada perante um quadro de lesões incompatíveis com o mecanismo de trauma. PREVENÇÃO Primária Secundária Terciária Síndrome do bebê sacudido Traumatismo craniano violento (TCV) Geralmente ocorre de forma proposital ou quando o cuidador, na tentativa de acalentar a criança, sacode repetidamente, provocando o efeito chicote cervical Lactentes são mais vulneráveis - até cinco anos de idade Hemorragia retiniana REFERÊNCIAS PIVA, Jefferson Pedro; GARCIA, Pedro Celiny Ramos. Medicina Intensiva em Pediatria 2ª ed. Editora Revinter, 2015. 9788537206010. REIS, Marcelo Conrado dos. Recomendações – Atualização de Condutas em Pediatria nº 70. Sociedade de Pediatria de São Paulo, 2014. Disponível em: https://www.spsp.org.br/site/asp/recomendacoes/Rec_70_Emergencias.pdf SCHVARTSMAN, Benita G S.; MALUF JUNIOR, Paulo Taufi; CARNEIRO-SAMPAIO, Magda. Pronto- socorro 3ª ed. (Coleção Pediatria). Barueri-SP: Manole, 2018. 9788520462980. TORRE, Fabíola Peixoto Ferreira La; e col. Emergências em Pediatria: Protocolos da Santa Casa - 2ª ed. Barueri-SP: Manole, 2013. ZEITEL, Raquel de Seixas; FLINTZ, Rosana Andrade; NOGUERAS, Carolina Castro. Traumatismo craniano em pediatria. Revista de Pediatria SOPERJ, n. 17 (supl 1)(1), pp. 63-71, 2017. Disponível em: http://revistadepediatriasoperj.org.br/detalhe_artigo.asp? id=1037#:~:text=J%C3%A1%20nesses%20casos%2C%20a%20recomenda%C3%A7%C3%A3o,que das%20menores%20de%20um%20metro https://www.spsp.org.br/site/asp/recomendacoes/Rec_70_Emergencias.pdf http://revistadepediatriasoperj.org.br/detalhe_artigo.asp?id=1037#:~:text=J%C3%A1%20nesses%20casos%2C%20a%20recomenda%C3%A7%C3%A3o,quedas%20menores%20de%20um%20metro
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