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Vict�ria K. L. Card�so Bibli�grafia: Ort�pedia e Traumat�l�gia - Sizínio Displasia do desenv�lvimento do quadril Introdução Conceito: ● Trata-se de um espectro de anormalidades anatômicas do quadril, que podem ser congênitas ou após o nascimento, em que o fêmur proximal, o acetábulo e a cápsula são defeituosos. ● Condições do quadril: instável, displásico, subluxado ou luxado. ● Os achados clínicos e radiológicos dependem do deslocamento. Tempo de evolução de desenvolvimento e maturidade do quadril: próximo aos 16 anos. ● O quadril é o centro dos primeiros pontos de ossificação → diáfise femoral, ílio, ísquio e púbis. ● Ao redor da articulação do quadril encontram-se as cartilagens de crescimento. Componente femoral: ● Centros de ossificação: cabeça femoral, trocânter maior e trocânter menor → desenvolvimento do trocânter menor ao maior. Categorias da luxação do quadril: ● Teratológica: ocorre antes do nascimento e envolve deformidades do acetábulo, da cápsula e do fêmur proximal, com outras malformações como mielomeningocele, artrogripose múltipla congênita, agenesia lombossacral e anomalias cromossômicas. ● Neurológica: ocorre por desequilíbrios musculares pós-natal, como na paralisia cerebral. ● Típica: que ocorre em crianças normais. Fatores mecânicos importantes indispensáveis pela morfologia normal ao final do crescimento: ● Deflexão. ● Carga. ● Esforços musculares. ● Movimentos. Elementos que interferem na morfologia: ● Cartilagem subcapital: une o núcleo à metáfise, assegura o comprimento do colo do fêmur e o crescimento de toda a sua extremidade superior. ○ Representa 20% do crescimento definitivo do membro inferior. Vict�ria K. L. Card�so ● Cartilagem do trocânter maior: depende do maciço externo metafisário e da determinação do ângulo de varização. ○ Ocorre pelas forças de tração, que dependem do glúteo médio. ○ Enfraquecimento ou paralisia desse músculo = valgismo do colo femoral. ● Cartilagem em Y: é responsável pelo crescimento, pela morfologia do acetábulo e por 50% do desenvolvimento da pelve. Obs: ao nascer, o acetábulo é imaturo, plano e insuficiente, circundado por estruturas fibrocartilaginosas do limbo e da cápsula articular. Etiologias Principais etiologias: ● Hiperlassidão ligamentar. ● Excessiva anteversão femoral. ● Anteversão e ou deficiência acetabular. ● Má posição intrauterina Em recém-nascidos, há alta suspeita de DDQ em: ● História familiar. ● Oligoidrâmnios. ● Primeiro filho e do sexo feminino. ● Torcicolo. ● Plagiocefalia. ● Pé metatarso varo ou calcâneo-valgo. ● Contratura em extensão dos joelhos. ● Apresentação pélvica. Obs: a flexão do quadril em posição pélvica ou cefálica, nos últimos meses de gestação, associada à frouxidão ligamentar, pode causar displasia residual ou subluxação → posição importante como causa de displasia do desenvolvimento do quadril. Obs: nessa posição pélvica, o fêmur do feto (em flexão e rotação externa) pode ser forçado para fora do acetábulo, predispondo o quadril instável, subluxado ou luxado. No recém-nascido, a displasia sem instabilidade ou luxação é assintomática e o exame físico é normal. ● O diagnóstico é fortuito e possível apenas por USG. ● Manobras: barlow e ortolani. Diagnóstico tardio: ● Ocorre quando a evolução alcança subluxação e luxação, com sinais de limitação da abdução. ○ Sinais presentes: sinal de Galeazzi e sinal de Trendelenburg na idade da marcha. Subluxação: perda parcial do contato articular. ● Achados radiográficos: indicação de hipoplasia do acetábulo e deslocamento Vict�ria K. L. Card�so parcial da cabeça do fêmur, em relação ao seu encaixe no acetábulo. Displasia acetabular residual: ● Conceito: displasia que envolve o fêmur ou o acetábulo, ou ambos. ○ Caso a displasia seja no acetábulo, a deformidade é mais acentuada. ● Displasia grave: acompanha a subluxação, podendo causar osteoartrose, que pode iniciar por volta dos 10 anos. ● Displasia isolada: apresenta sintomas mais tarde, na vida adulta. ● Objetivo do tratamento: correção da displasia durante crescimento, para prevenir osteoartrose. ● Correção da displasia: deve ocorrer o mais breve possível, assim que for diagnosticada, durante o tratamento ou o acompanhamento, que deve ser mantido até o fim do crescimento. ○ Melhor idade: antes dos 6 meses. ● Complicação: subluxação ou fracasso no remodelamento articular. ● Controles clínicos e radiográficos devem ser mantidos até o final do crescimento, e novas cirurgias podem ser necessárias. Barlow Quando o quadril não está luxado, mas é facilmente luxável. Técnica: 1. Com a criança em posição supina (decúbito dorsal) e com o quadril aduzido, empalmar a coxa entre o polegar e o indicador. 2. Em seguida, aplica-se uma pressão sobre o eixo longitudinal do fêmur (no joelho), tentando luxar a cabeça do fêmur para fora do acetábulo. 3. Ao mesmo tempo, com o polegar empurra-se suavemente a coxa em direção “medial-lateral”, de tal forma que o quadril luxa-se: quando isso ocorre chama-se quadril luxável. 4. O examinador busca um movimento de pistão, que pode ou não ser acompanhado por um “clic” de saída, constatado na palpação. Ortolani Manobra de redução: teste de redução do quadril - quando um recém-nascido tem luxação da articulação coxofemoral, a cabeça femoral é reduzida no acetábulo com a manobra. ● A criança deve estar em posição supina (decúbito dorsal). Vict�ria K. L. Card�so ● Avalia-se o quadril com uma perna por vez. Técnica: 1. Apoia-se uma mão na pelve e com a outra mão coloca-se o 2° e 3° dedo no trocânter maior. 2. Faz-se o movimento em flexão 90°, abdução e rotação externa. 3. Em seguida, se faz uma tração no sentido longitudinal do fêmur - pressão no sentido “lateral” para “medial”. 4. Sente-se um som de “clunck”. Sinal de Peter-Bader Assimetria das pregas cutâneas inguinais e glúteas que ocorre nos pacientes com displasia de quadril, principalmente em luxações unilaterais. ● Sinal clínico tardio que indica a desigualdade de comprimento do membro inferior. Sinal de Hart Limitação da abdução do membro inferior afetado, devido ao encurtamento dos adutores. ● Criança em decúbito dorsal, com as coxas fletidas a 90° sobre o tronco e as articulações dos joelhos em flexão toal. Motivos de preocupação de displasias Sintomas: dores e fadiga. Deformidades: ósseas. Vict�ria K. L. Card�so Claudicação: alterações na marcha. Sinais clínicos: calosidades, feridas, edemas, hematomas, equimoses… Torção - “posição do pé”: em relação a linha de progressão da marcha. ● Produzida por um conjunto de fatores que incluem: ○ Versão dos ossos (torção). ○ Frouxidão ou retesamento ligamentar e capsular. ○ Controle muscular - desequilíbrio muscular. Discrepância real dos membros: medição com fita métrica das espinhas ilíacas anteriores e inferiores até o maléolo interno. ● Para saber se a diferença é do fêmur ou da tíbia, coloca-se o bebê em decúbito dorsal, com joelhos fletidos a 90° e os pés aplainados na mesa. ● Se o joelho está mais alto, significa discrepância na tíbia. ● Se o joelho está mais para frente, a discrepância é no fêmur. Obliquidade pélvica Bacia com desequilíbrio ou inclinação. Pessoas com uma das pernas mais curtas ou articulações (joelho, quadril) que não se estendem completamente (flexo articular), podem gerar obliquidade pélvica através do “rebaixamento” de um dos lados da bacia. Avaliação: ● Rotação interna ou externa do pé: utilizada para avaliar o grau de rotação do quadril. ● Anteversão femoral: realiza a maior capacidade de fazer rotação interna do quadril. Obs: normalmente a rotação interna é maior em meninas. Vict�ria K. L. Card�so Valores de RI normais em quadris em extensão: ● Rotação interna ♀ : 15° a 60°. ● Rotação interna ♂ : 25° a 65°. Valor de RE normal em quadril em extensão: ● Rotação externa: 25° a 65°. Valores alterados de RI e de RE: ● LEVE: ○ RI 70°-80°. ○ RE 10°-20°. ● MODERADA: ○ RI 80°-90°. ○ RE 0°-10°. ● GRAVE: ○ RI > 90°. ○ RE = 0°. Exemplificações:● Rotação interna do quadril: 70° ● Rotação externa do quadril: 10° Ângulo coxa-pé: avalia o grau de torção tibial ou a deformidade dos pés.. Observa-se o alinhamento da planta do pé com relação à coxa. ● -5° (-30° / 20°): bebês. ● 10° (-5° / 30°): 8 anos. ● Depois dos 8 anos: a variação do ângulo coxa-pé é muito pequena. Diagnóstico Do nascimento aos 6 meses: ● Recém-nascido: diagnóstico clínico de pelo teste de Ortolani, e o diagnóstico de instabilidade, pelo teste de Barlow. Vict�ria K. L. Card�so Outros aspectos sugestivos de DDQ: ● Assimetria de pregas nas coxas e poplíteas. ● Encurtamento aparente do fêmur → sinal de Galeazzi positivo. ● Assimetria das pregas inguinais. ● Teste de Ortolani → Obs: o teste de ortolani pode ser negativo nas luxações pré-natais ou teratológicas. Dos 6 meses ao 12 anos: ● Há progressivo deslocamento posterolateral e cranial da cabeça femoral. ● Verifica-se: ○ Contratura em adução do quadril → a abdução do quadril luxado é progressivamente limitada. ○ Galeazzi positivo → encurtamento aparente da coxa. ○ Postura em rotação externa do MMII → com o quadril e o joelho em extensão; o membro inferior fica em rotação externa. ○ Assimetria das pregas glúteas → as pregas ficam assimétricas e são mais acentuadas na luxação unilateral. Sinais associados até os 2 meses: ● Metatarso varo. ● Pé calcaneovalgo. ● Torcicolo. ● Plagiocefalia. ● Contratura de extensão do joelho. Sinais sugestivos: ● Pregas poplíteas e dobras da coxa assimétricas. ● Encurtamento aparente do fêmur (Galeazzi positivo). ● Assimetria das dobras inguinais. ● "Frouxidão" na extensão do quadril e do joelho (perda da deformidade de flexão normal do quadril e do joelho). ● Projeção da linha de Klisic, passando abaixo do umbigo. ● Ponta do trocânter maior acima da linha de Nélaton. Testes para diagnóstico: ● Teste de Barlow positivo → quadril deslocável. ● Teste de Ortolani positivo → deslocamento do quadril. Obs: os testes de Barlow e de Ortolani podem ser negativos em caso de deslocamentos rígidos pré-natais e após os 3 meses de vida. De 3 a 12 meses: ● Limitação da abdução do quadril a 90° de flexão (contratura progressiva de adução do quadril). Vict�ria K. L. Card�so ● Sinal de Galeazzi positivo. ● Postura de rotação lateral do MMII, com aparente encurtamento. ● Assimetria marcada das dobras inguinais, das coxas e das pregas poplíteas. ● Mobilidade de pistão ou sinal de telescopagem. ● Proeminência lateral do trocânter maior. ● Teste de Ortolani - negativo ou positivo. Após a idade da marcha: ● Postura com lordose lombar excessiva, abdome protuberante e trocânter maior proeminente. ● Trendelenburg positivo. ● Claudicação (andar na ponta do pé). ● Aumento da contratura de adução do quadril, com joelho valgo compensatório. Diagnóstico por imagem: ● USG: principal exame de imagem para o diagnóstico até os 6 meses de vida → geralmente em posição antero-posterior. ○ A USG identifica as estruturas cartilaginosas do acetábulo, da cabeça e do colo do fêmur. ○ Método estático de Graf: analisa o fêmur proximal e o contorno da pelve → principal. ■ Mede a displasia cartilaginosa. ○ Método dinâmico de Harke: emprega a USG em tempo real, permitindo a dinamicidade do exame, com o quadril em movimento, fundamentando-se nas manobras de Barlow e Ortolani. ■ Mede a estabilidade do quadril. ● Artrografia: evidencia o posicionamento das partes moles dentro da articulação do quadril → pode ser substituída pela TC e pela RNM. ○ Subluxação: ■ Limbus: forçado para cima e para fora em direção à fossa ilíaca. ■ Cápsula articular: não está interposta entre a cabeça femoral e o acetábulo. ■ Ligamento redondo: costuma estar ausente. ■ Colo femoral: costuma estar em vago e antevertido. ○ Luxação: ■ Limbus: forçado para baixo e para dentro do acetábulo. ■ Cápsula articular: geralmente interposta. ■ Ligamento redondo: costuma estar presente. Vict�ria K. L. Card�so ■ Acetábulo: pode parecer normal, está com a entrada obstruída pelo limbus nos aspectos superior e inferior. ■ Cabeça femoral: parece normal, apesar da deformidade em valgo do colo. ■ Há anteversão após persistência do deslocamento. Outras formas de avaliação por imagem: ● Tomografia computadorizada. ● Ressonância nuclear magnética. ● Artroscopia. Tipos de quadril conforme a classificação de Graf: ● Tipo I: quadril normal. ○ Ângulo alfa: > 60. ○ Ângulo beta: < 77. ● Tipo II: ○ Posição concêntrica de imaturidade fisiológica até < 3 meses: ■ Ângulo alfa: 50-60. ■ Ângulo beta: < 77. ○ Ossificação tardia, idade > 3 meses: ■ Ângulo alfa: 50-60. ■ Ângulo beta: < 77. ○ Posição concêntrica com acetábulo muito deficiente: ■ Ângulo alfa: 43-49. ■ Ângulo beta: < 77. ○ Subluxação: ■ Ângulo alfa: 43-49. ■ Ângulo beta: > 77. ● Tipo III: pequeno grau de deslocamento. ○ Ângulo alfa: < 43. ○ Ângulo beta: > 77. ● Tipo IV: grande grau de deslocamento. ○ Ângulo alfa: imensurável. ○ Ângulo beta: > 77. Tratamento De 0 a 6 meses: suspensório de Pavlik → só pode ser usado até os 6 meses de idade. ● É utilizado para instabilidade com displasia e para luxação do quadril do RN. ● Tiras anteriores: para manter os quadril em flexão de 100*. ● Tiras posteriores: para manter o quadril em abdução, que não deve ser forçado. ● Problemas e complicações com uso de suspensório de Pavlik: Vict�ria K. L. Card�so ○ Falha na redução → flexão insuficiente, interposição de partes moles e mau uso. ○ Necrose avascular → abdução exagerada. ○ Desenvolvimento acetabular retardado → adutores tensos,interposição de partes moles e hipotonia. ○ Lesão do nervo femoral → flexão exagerada e ou uso excessivo. ○ Doença de Pavlik (é uma iatrogenia). Obs: a abdução nunca deve ser forçada pelo estiramento da tira posterior, pois pode causar necrose avascular da cabeça do fêmur. De 6 a 12 meses: realização da manobra de redução incruenta, seguida do uso de aparelho gessado e depois com aparelho de abdução de Milgram. Obs: cuidado com a perda da redução no momento da colocação do gesso. Após a marcha: faz-se redução do quadril sob artrografia dinâmica, uso de aparelho gessado e de Milgram. Obs: a osteotomia de Salter não está indicada para crianças < 18 meses. Após os 3 anos: usa-se a técnica de redução aberta e encurtamento femoral (com ressecamento) e seguido de uma placa com parafusos para estabilização. ● Após a cirurgia também sse usa aparelho gessado e o aparelho de Milgram. Principais complicações gerais: ● Reluxação. ● Necrose avascular → iatrogenia. ○ Essa complicação altera o crescimento da extremidade proximal do fêmur, causando encurtamento do colo do fêmur e deformidade da região, com consequente artrose prematura.
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