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Vict�ria K. L. Card�so Hanseníase Introdução Geral: ● Não cresce em cultura. ● Doença espectral e instável (com reações). ● Menos de 10% da população é suscetível. ○ A maioria das pessoas se curam sem desenvolverem a doença. ○ Há predisposição genética. ● Não existe vacina. ● Agente etiológico: Mycobacterium leprae - não é um agente cultivável. ○ Acomete pele e/ou nervos periféricos. ○ Possui baixa patogenicidade. ○ Ciclo evolutivo lento → 11 a 14 dias. ○ Viabilidade fora do organismo → 9 dias. ● Afetados órgãos e sistemas em que haja atuação de macrófagos, exceto em SNC. ● Epidemio: afeta mais países subdesenvolvidos, apesar de poder ocorrer em países em desenvolvimento. ○ Não há predileção por sexo. ○ Acomete principalmente pessoas entre 30-59 anos. Obs: virulência → capacidade de um agente infeccioso causar uma doença num hospedeiro; patogenicidade → capacidade de um agente biológico causar doença em um hospedeiro suscetível. A patogenicidade pode estar ligada a virulência. Transmissão: ● A principal fonte ocorre a partir de pessoas contaminadas e bacilíferas, por contágio direto. ○ Transmissão interpessoal, principalmente pelas vias aéreas. ● Possui alta infectividade e baixa patogenicidade. ● Infecção: gotículas das vias respiratórias. ○ Também há contaminação por lesões ulceradas, leite materno, urina e fezes. ○ Para a infecção, o bacilo penetra nas vias respiratórias, por uma falha do sistema imune, o que causa a invasão dos agentes nos gânglios linfáticos, pele e/ou nervos periféricos, resultando nos primeiros sintomas. Vict�ria K. L. Card�so ● Obs: pode haver inoculação do agente na pele, em solução de continuidade. ● Após a infecção, se o doente apresentar imunidade celular específica ao M. leprae, poderá desenvolver hanseníase tuberculóide (MHT). ○ Se apresentar imunidade deficitária, pode progredir para a forma virchowiana. ○ Se houver imunidade parcial, pode evoluir para hanseníase dismórfica. Etiopatogenia: ● O homem é o único reservatório natural do bacilo. ● Longo período de incubação → 2-20 anos. ● A classificação se dá em polos. Classificação de Madrid: ● HI → Hanseníase Indeterminada: forma indeterminada da doença. ● Polo benigno: HT → Hanseníase Tuberculóide. ○ Está relacionado com o antígeno leucocitário humano (HLA) DR2 e DR3. ● Polo maligno: HV → Hanseníase Virchowiana. ○ Pacientes multibacilares tendem a evoluir para HV. ○ Nesse caso, os macrófagosnão são capazes de causar a lise do M. leprae (célula de Virchowiana). ○ Está relacionado com o HL1-DQ1. ● HD → Hanseníase Dimorfa: ou borderline, possui características da HT e da HV. Reação de Mitsuda: é para classificação e não para diagnóstico. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ● Como realizar o teste: pela inoculação intradérmica que testa a resposta imunológica do hospedeiro, após 28 dias. ● Reflete uma histologia positiva de resistência ao M. leprae, a partir da capacidade dos macrófagos de lisarem o agente em caso de contágio, evoluindo com o desenvolvimento da forma tuberculóide (HT). ○ Ou seja, é positivo para HT e negativo para HV. Quadro clínico Manifestação clínica geral: (primeiro sintoma) ausência de sensibilidade térmica na área da mácula. Manifestação HI - Hanseníase Indeterminada: ● Fase inicial da doença. ● Presença de máculas hipocrômicas ou eritemato-hipocrômicas, com hipoestesia. ○ Bordas com boa ou má definição. ● São poucas lesões, sem local preferencial, apesar de em crianças geralmente ser em face e em MMII. ● Manifestações associadas: ○ Anidrose (ausência anormal de suor que deveria ocorrer em resposta ao aumento da temperatura do corpo). ○ Alopécia. ● Evolui para cura espontânea ou para outra forma clínica, dependendo da resposta imunológica. Manifestação HT - Hanseníase Tuberculóide: ● Lesão de maior resistência à infecção. ● Os pacientes costumam ser paucibacilares - até 5 bacilos. ○ Presença de resposta THI eficiente- imunidade celular → reação de Mitsuda. ● Lesões com pápulas ou com aspecto tuberoso , agrupando- se em placas. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ● Possuem tamanhos variados e bem delimitados. ● Pode haver hipo ou anestesia precoce e raramente apresenta necrose do nervo acometido (neurite coliquativa). ● Há o sinal da raquete - nervo espessado → formação de um “trajeto” a partir da lesão. Manifestação HV - Hanseníase Virchowiana: ● Baixa resistência ao bacilo → Mitsuda negativo. ○ Há resposta humoral. ● Evolução insidiosa. ● Infiltração progressiva e difusa. ○ Acomete pele, mucosas, vias aéreas,olhos, testículos, nervos, linfonodos, fígado e baço. ■ Presença de hepatoesplenomegalia. ● Lesões na pele: máculas, pápulas, tubérculos e nódulos eritemato-violáceos. ○ Infiltração mais acentuada em face e em membros → fácies leonina. ○ Hansenomas → lesões com numerosos bacilos. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ● Nervos periféricos espessados à palpação em região auricular, radial, ulnar, mediano, fibular comum e tibial posterior. ● Há também hipo ou anestesia. Manifestação HD - Hanseníase Dimorfa: ● Ocorre a partir de falha no sistema imune → Mitsuda negativa. ○ É o tipo mais comum. ○ Multibacilar. ● Apresenta lesões infiltradas com coloração eritematosa ou tipo ferrugínea e comprometimento assimétrico dos nervos. ○ Borda interna nítida e externa apagada. ○ Obs: a infiltração de um único lóbulo auricular dá o diagnóstico. ○ É comum haver episódios reacionais frequentes, por conta de instabilidade imunológica. ● Dimorfismo Tuberculóide: ○ Lesões assimétricas em maior número. ○ São mal delimitadas e com superfícies lisas e brilhantes. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ● Dimorfismo Virchowiano: ○ Múltiplas lesões elevadas, eritematosas, simétricas, menos lisas e brilhantes. ● Dimorfismo dimorfa: ○ Lesões foveolares (eritemato-pigmentares, de tonalidade ferruginosa ou pardacenta). ○ Representa um quadro de piora da DT e de melhorada DV. Estado reacional - surtos reacionais: ● Episódios inflamatórios agudos que se intercalam durante ou após o tratamento. ● Há desencadeamento por infecções, stress, trauma físico ou psicológico, uso de ACO e vacinas. ● Reação reversa tipo 1� ○ Reflete o aumento da imunidade celular → as lesões se tornam eritematosas e com comprometimento neural (neurite). ■ Hipersensibilidade tardia aos antígenos aos M. leprae. ○ Ocorre na hanseníase dimorfa. ○ É paucibacilar. ○ Apresenta edema, eritema, intumescimento e maior infiltração de lesões pré-existentes. ○ Nesse quadro há surgimento de novas lesões. ○ Manifestações em face: acometimento de áreas perioculares pode resultar em lagoftalmo. ■ Tratamento: prednisona: 1-1,5mg/kg/dia. ■ Realizar tto preventivo para strongyloides stercoralis e para osteoporose. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ○ Outros quadros associados: ■ Apenas perda progressiva da função neural, com neurite silenciosa. ■ Necrose focal ou confluente, com ulceração. ○ Em HT ou HD: ■ Instalação aguda com piora das lesões ou com o surgimento de novas. ■ Ab initio → pacientes sem lesões que iniciam um quadro de hanseníase com lesão única, geralmente na face ou com numerosas lesões em tronco e membros. ○ Obs: quadros conhecidos como tuberculóide reacional são acompanhados de neurite. ○ Obs: pacientes com HIV, em uso de TARV tem mais reações tipo 1, sendo considerada manifestação de SIRI. ● Reação reversa tipo 2 ou eritema nodoso hansênico: ○ Hipersensibilidade humoral, mediada por imunocomplexos (anticorpos, antígenos e complemento) → ocorre nas formas MHD e MHV. ■ É multibacilar. ○ Apresenta placas ou nódulos eritematosos que podem ulcerar. ○ Sintomas associados: febre, astenia, artralgia, neurite, irite, glomerulonefrite e icterícia. ○ Tratamento: talidomida 100-400 mg/dia, de acordo com o quadro clínico. ■ Mulheres férteis → prednisona. Manifestações sistêmicas: ● Hepatoesplenomegalia. ● Linfonodomegalia, dolorosa e acompanhada de febre. ● Falência renal → glomerulonefrite, abscessos piogênicos, necrose tubularaguda e pielonefrite. ● Anemia (invasão medular). ● Insuficiência suprarrenal. ● Osteomielite (mãos e pés) ou periostite. ● Em homens → atrofia bilateral dos testículos, ginecomastia e impotência. ● Alterações sensitivas ou motoras. ● Ceratite úlcera de córnea. ● Lagoftalmo. ● Disfonia. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Exame físico ● Hanseníase indeterminada (MHI): mácula eritematosa ou hipopgmentada, única ou múltipla, com alterações de sensibilidade. ● H. tuberculoide (MHT): poucas lesões assimétricas e bem delimitadas, anulares, eritematosas, com bordas infiltradas ou hipocrômicas, com alterações de sensibilidade. ● H. virchowiana (MHV): várias máculas eritemato - pigmentadas, com pápulas, nódulos e infiltrações difusas e simétricas. ○ Fácies leonina. ● H. dismórfica (MHD): lesões foveolares ou em queijo suíço. Obs: a hanseníase não apresenta diferença no quadro e nos surtos reacionais ou na resposta terapêutica nos indivíduos HIV+. Obs: a presença de incapacidades geradas pela hanseníase em um paciente curado, indica diagnóstico tardio ou tratamento inadequado. Exames complementares e diagnóstico Exames diagnósticos: ● Clínico: com o padrão das lesões e com a sintomatologia. ○ Lembrar do acometimento neurológico. ● Diagnóstico neurológico: ○ Palpação de nervos em busca de espessamentos e avaliação de sensibilidade térmica, dolorosa e tátil. ● Provas de sensibilidade térmica, dolorosa e tátil: ○ Térmica: uso de tubos de ensaio quentes e frios. ○ Dolorosa: teste com agulha. ○ Tátil: uso de um algodão seco. ● Prova da histamina: identifica a lesão de ramos nervosos periféricos. ○ O paciente hansênico não forma o eritema secundário da tríplice reação de Lewis, por conta do comprometimento dos nervos. ● Prova da pilocarpina: injeção intradérmica que em áreas normais provoca o surgimento de gotículas de suor. ● Baciloscopia: pesquisa de BAAR coletado em área suspeita; positiva em MHV e MHD. ● Intradermorreação de Mitsuda: já relatado anteriormente no resumo. ○ Positivo em MHT e MHD, próximo ao polo tuberculóide. ● Anatomopatológico. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ● Sorologia: anticorpo glicolipídeo fenólico 1 (PGL-1). Diagnósticos diferenciais: ● Pitiríase alba. ● Pitiríase versicolor (pano branco). ● Granuloma anular. ● Dermatofitose. ● Lesões sarcoídicas. ● Micose fungóide. Tratamento O diagnóstico precoce aumenta as chances de eficácia do tratamento. Paucibacilares - primeira linha: em baciloscopia negativa e até 5 lesões de pele (MHI e MHT). ● Rifampicina, 600 mg/mês - supervisionada. + ● Dapsona, 100 mg/dia, autoadministrada, por 6 meses. Multibacilares - primeira linha: baciloscopia positiva e mais de 5 lesões de pele (MHV e MHD). ● Rifampicina, 600 mg e clofazimina, 300 mg - supervisionada 1x ao mês → é uma droga bactericida. + ● Clofazimina, 50 mg/dia + dapsona, 100 mg/dia - autoadministrada, 12 a 24 meses → é uma droga bacteriostática. + ● Exames laboratoriais no início do tratamento - hemograma, urina tipo 1, parasitológico de fezes, glicemia, avaliação renal e hepática. Obs: usam-se 6 doses dos medicamentos em até 9 meses. Obs: para evitar o risco elevado de resistência medicamentosa, nenhum medicamento deve ser administrado isoladamente. Obs: se houver a interrupção dos medicamentos, pode-se retomar em até 3 meses. Segunda linha: ● Tto reação tipo I: prednisona 0,5 - 1 mg/kg/dia. ● Tto reação tipo II: analgésicos e antiinflamatórios não hormonais. ● Tto reações moderadas e intensas: talidomida 1 - 3 mg/kg/dia → 100 a 400 mg/dia. Obs: cuidado com strongyloide estecorales com uso de corticóide a longo prazo. Obs: para evitar o risco elevado de resistência medicamentosa, nenhum medicamento deve ser administrado isoladamente. Obs: não há contraindicação ao tratamento. Esquemas alternativos: ● ROM → Rifampicina, Ofloxacina e Minociclina. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ○ Exclusivamente para pacientes PB com lesão única, sem envolvimento de tronco nervoso. ○ Usa-se apenas em centros de referência. Prevenção de contactantes: ● 2 doses com intervalo de 6 meses, caso o paciente não tenha feito a vacina BCG. ● 1 dose se tiver feito a BCG. Efeitos colaterais: ● Dapsona: gastrite, cefaléia, fotodermatite, anemia hemolítica, agranulocitose, hepatite, neuropatia periférica e síndrome nefrótica. ● Clofazimina: rash-cutâneo (em administração contínua), prisão de ventre ou diarréia, pirose, indigestão, perda do apetite, náusea, vômito, dor ou desconforto precordial e pseudo-síndrome-gripal (administração intermitente). ● Talidomida: teratogenicidade, sonolência, edema unilateral de MMII, constipação intestinal, mucosas secas e raramente há neuropatia periférica. Profilaxia: ● Interrupção da transmissão - tratamento precoce. ● Evitar a progressão da doença. @p�sitivamed
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