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MÓDULO VI - PROTEÇÃO CONTRATUAL - Distinguir o contrato clássico do contrato de consumo; - identificar as características dos contratos nas relações de consumo; - compreender a importância da função social dos contratos; - identificar cada hipótese legal exemplificativa das cláuculas abusivas e assim traçar a noção necessária para reconhecê-las; - visualizar as situações práticas da proteção contratual através dos exemplos e de jurisprudência atualizada. Unidade 1- O contrato de consumo e o contrato clássico Até aqui estudamos vários aspectos imprescindíveis sobre o direito do consumidor, passamos pelas responsabilidades civis nas relações de consumo, detivemo-nos na publicidade e suas implicações, e, no módulo anterior, tivemos oportunidade de concentrar nossa atenção nas práticas abusivas que mais causam danos ao consumidor. Veremos agora o contrato de consumo e o contrato clássico. Quais as formas dos chamados “contratos de consumo”, conforme entendidos pelo CDC ? Antes da chegada do Código de Defesa do Consumidor, as relações contratuais, inclusive as de consumo, tinham por alicerce a máxima de que “o contrato faz lei entre as partes”, em tradução livre ao princípio basilar dos contratos clássicos, chamado de pacta sunt servanda. A mudança trazida pelo CDC na matéria é significante. Estudamos na Unidade 3 do Módulo III que, ao vincular a oferta ao anunciante, o Código coloca a demonstração do compromisso firmado acima da cláusula contratual. 2.1 Pág. 2 É normal, ao falar de contrato, que venha à mente um maço de papéis preenchido por uma sequência de cláusulas estipulantes de direitos, deveres, características, definições etc. Esquecemo-nos, no entanto, que existem outras formas de contratar, as quais estão sendo realizadas todos os dias. Vejamos o exemplo: João acorda, prepara-se para ir ao trabalho, passa na padaria e toma um café com pão: contrato de alimentação. Pega um ônibus que o leva até o metrô onde este segue para o seu trabalho: dois contratos de transporte em sequência. Compra um jornal na banca: contrato de compra e venda. Paga cinco reais para engraxarem o seu sapato na sapataria ao lado: contrato de serviço. 2.2 Pág. 3 Todas essas atividades e muitas outras são formas de contratação não escritas. Levando em conta que João, nosso personagem, ainda vai sair para almoçar, comprar itens para o lanche da família e pegar novamente um metrô e um ônibus para chegar em casa, conclui-se que este indivíduo realizou nove contratos em um dia somente com atividades do cotidiano. Para refletir Já pensou nos contratos que você firma ao longo do dia? 2.3 Pág. 4 - Contrato de adesão E o contrato de adesão? Existem negócios no âmbito do consumo que necessitam da proteção de um contrato escrito e formalizado. Pensando nestes e com a preocupação de que o instrumento contratual fosse adequado à produção em escala e o consumo por esta gerado, o CDC inovou na normatização brasileira, instituindo o contrato de adesão. Observe a norma legal: Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. 2.4 Pág. 5 O que representa, na prática, o contrato de adesão? O contrato de adesão, assim como outros itens destinados à regulação da atividade de consumo, tem sua base histórica determinada pela Revolução Industrial e seus desdobramentos, como a massificação dos produtos, a proliferação dos serviços e a criação cada vez mais crescente de novas “necessidades” de consumo. Representa, então, uma quebra contundente do regramento aplicado ao contrato clássico. Como ocorre, então, no contrato clássico? No contrato clássico ou paritário, ambas as partes têm o poder de transacionar livremente. As cláusulas são elaboradas e fechadas de comum acordo. Com isso, o princípio da autonomia da vontade é categórico. Pode uma das partes recusar a execução de algo que não estava estipulado, da mesma forma que é forte o argumento de que a outra parte concordou com os termos fixados e, sendo estes estritamente legais, é forçada a cumpri-los tão somente por constar no contrato. 2.5 Pág. 6 - Contratos O contrato clássico ou paritário é utilizado nas relações de consumo? Naturalmente, o contrato paritário não teria como acompanhar o crescimento agressivo do capitalismo. Hoje, este tipo de contrato ainda é muito usado; porém, não se adequa às relações de consumo. Veja este exemplo: uma empresa que produz, distribui e vende refrigerantes não teria condições até mesmo de manter seu negócio caso tivesse que acertar um contrato com cada pessoa que quisesse discutir suas cláusulas. Não só não haveria tempo suficiente como tornaria seu negócio inseguro e até mesmo inviável. Que tipo de contrato é mais utilizado na sociedade de consumo? Desse modo, em meio à força da nova sociedade de consumo, surgiu o contrato de adesão, assim chamado porque tem suas cláusulas determinadas por uma das partes, qual seja, o fornecedor do produto ou do serviço. Ao consumidor (a outra parte do contrato) cabe apenas aderir ou não ao mesmo - não lhe é dada a possibilidade de negociação das cláusulas contratuais. Em contrapartida, o Código de Defesa do Consumidor incorpora em seu texto uma forte proteção ao consumidor, equilibrando a relação. Até mesmo o tamanho mínimo da fonte utilizada na redação dos contratos de adesão (tamanho 12) é prevista no CDC (art. 54, § 3º). 2.6 Síntese Quais são as “autoridades competentes” mencionadas no art. 54 do CDC? Cumpre destacar que quando o art. 54 do Código fala em “é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente”, refere-se, principalmente, ao serviço com regulação própria, que é repassado pela Administração Pública aos entes privados por concessão, autorização ou permissão. Exemplo: Os contratos de adesão de energia elétrica no Brasil têm suas cláusulas determinadas pela Aneel, por meio de anexo ao Regulamento do serviço. Síntese Esta unidade nos mostrou que os contratos podem ser celebrados tanto na forma escrita como verbal. Conhecemos os contratos clássicos ou paritários em que ambas as partes têm o poder de transacionar livremente, quando as cláusulas são elaboradas e fechadas de comum acordo, e o princípio no qual se baseiam: o pacta sunt servanda. Vimos ainda que o CDC inovou na normatização brasileira instituindo o contrato de adesão, que tem suas cláusulas determinadas por uma das partes, qual seja, o fornecedor do produto ou do serviço, e que ao consumidor cabe apenas aderir ou não a ele. 3 Unidade 2 - Função social dos contratos Na unidade anterior vimos os tipos de contratos, mas você sabia que os contratos têm função social? É o que descobriremos a seguir. A função social dos contratos encontra-se formalizada em nossa legislação pelo Código Civil de 2002. É lá que se encontra sua previsão legal, nos artigos seguintes: Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites dafunção social do contrato. Art. 2.035. (...) Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos. Importa dizer que o contrato cada vez menos é uma figura imutável, da qual as partes estão irremediavelmente atreladas e nada pode atingir o convencionado. 3.1 Pág. 2 Você se recorda da história da peça teatral “O Mercador de Veneza”, de William Shakespeare? Trata-se de mercador que contrata, com um agiota, fiança para uma viagem marítima. Pactuam, para tal, contrato com cláusula em que o mercador teria que entregar ao agiota uma libra (aproximadamente meio quilo) de sua própria carne em caso de inadimplemento. Os navios se perdem em alto mar, impossibilitando o mercador de pagar sua dívida no prazo estipulado. A peça ganhou versão em filme, sendo o agiota protagonizado por Al Pacino. Ora, qual seria a função social de tal contrato? Abstraídas as implicações relativas às diferenças de tempo e lugar, além de que se trata de obra de ficção, analisando o caso somente pela via da obrigação civil, este contrato claramente não está cumprindo qualquer função social, concorda? 3.2 Pág. 3 O Prof. Miguel Reale, em artigo publicado, define bem a função social do contrato: " O que o imperativo da 'função social do contrato' estatui é que este não pode ser transformado em um instrumento para atividades abusivas, causando dano à parte contrária ou a terceiros, uma vez que, nos termos do art. 187, também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes." Não há razão alguma para se sustentar que o contrato deva atender tão somente aos interesses das partes que o estipulam, porque ele, por sua própria finalidade, exerce uma função social inerente ao poder negocial, que é uma das fontes do direito, ao lado da legal, da jurisprudencial e da consuetudinária. 3.3 Síntese O ato de contratar corresponde ao valor da livre iniciativa, erigida pela Constituição de 1988 a um dos fundamentos do Estado Democrático do Direito, logo no inciso IV do art. 1º, de caráter manifestamente preambular. Assim sendo, é natural que se atribua ao contrato uma função social, a fim de que ele seja concluído em benefício dos contratantes sem conflito com o interesse público. Síntese A preocupação com a função social dos contratos não carrega de forma alguma a pretensão de enfraquecer a segurança e efetividade do contrato alicerçada pelo pacta sunt servanda. Busca-se, isto sim, seguir o princípio de que os contratos não interessam somente às partes que se obrigaram, mas a toda a sociedade. A cada livre iniciativa resta incólume. Fica claro, no entanto, que ela não pode ser irrestrita, pois não deve ser abusiva dentro do contexto social em que se vive. 4 Unidade 3 - Cláusulas abusivas Estamos quase chegando ao final do curso. Já podemos constatar que o CDC é um instrumento precioso para preservar os direitos do consumidor. Veremos agora como são entendidas as cláusulas abusivas nos contratos, expressas em seu artigo 51 e incisos: Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: Consulte o quadro para ver os Incisos e seus comentários! 4.1 Pág. 2 Esses são os únicos casos possíveis? Cabe advertir que esta não é uma lista taxativa. Ao dizer "entre outras, no caput do art. 51, quis o legislador deixar claro que as hipóteses de nulidade não se restringuem às veiculadas por seus incisos. Porém, ainda que exemplificativa, a quantidade de incisos denota a intenção de tornar claro o caminho, dando uma ideia geral daquilo que se entende por abusivo, no intuito de guiar o intérprete. 4.2 Síntese Síntese Cuida, então, o art. 51 do CDC das cláusulas abusivas nos contratos de consumo. E é importante ressaltar que o que é abusivo numa relação de consumo não necessariamente o será em outras do mundo civil. Ao proibir cláusulas do tipo que descreve e exemplifica, o CDC está cumprindo o seu papel de equilibrar a relação entre fornecedor e consumidor, cercando o segundo de garantias. Afinal, o consumidor é o hipossuficiente na relação. Ele não controla nenhuma etapa do tratamento que é dado ao produto até que chegue às suas mãos, além do que, sendo o contrato de adesão, sequer pode interferir nas cláusulas que lhe são impostas. Ressalte-se, igualmente, que o art. 51 é válido para todos os contratos regendo relações de consumo, independentemente de se tratar de contrato de adesão ou não. Ver jurisprudência: Cláusulas abusivas Para refletir Após ler atentamente os incisos do art. 51, você percebe que o legislador usou a própria prática auferida nas relações de consumo à época para redigi-los? Parabéns! Você chegou ao final do Módulo VI do curso Introdução ao Direito do Consumidor (parceria ILB e ANATEL). Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma releitura do mesmo e resolva os Exercícios de Fixação. O resultado não influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o seu domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz a correção imediata das suas respostas!
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