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MARIANA MARQUES – T29 CLÍNICA MÉDICA – MÓDULO II INTRODUÇÃO ➔ Sintoma + frequente nas unidades de emergência, é sinal de alerta para risco iminente de vida. ➔ A dor torácica é um sintoma que abrange diversas patologias na medicina. Ela pode se apresentar em diferentes intensidades, formas e cursos ➔ Possui muitos diagnósticos diferenciais, por isso, é necessário: anamnese detalhada + exame físico. ➔ 20% dos casos de dor torácica são causados por síndrome coronariana aguda. COMO PROCEDER ➔ Atendimento sistematizado (seguir um roteiro). ➔ Alta acurácia diagnóstica. ➔ Reconhecer e tratar doenças graves. ➔ Escores de risco. Observação: o objetivo do atendimento é reduzir a morbidade e mortalidade e aumentar a segurança do médico. FISIOPATOLOGIAS DA DOR TORÁCICA DOENÇAS CARDÍACAS ISQUÊMICAS: ➔ Angina estável: quadro de dor no peito típica e previsível, que surge quando o paciente faz alguma atividade física ou sofre algum estresse emocional. A dor desaparece após alguns minutos em repouso ou quando o paciente utiliza um medicamento dilatador das artérias coronarianas ➔ Angina instável: consiste na dor torácica que não cessa com o repouso que ocorre quando os vasos se tornam muito estreitos, tendo como principal causa, a aterosclerose, que resulta na obstrução aguda de uma artéria coronária sem infarto do miocárdio. ➔ Infarto sem supra de ST: a coronária está parcialmente obstruída, diferindo-se da angina instável pois nesse caso há elevação enzimática devido a morte celular. ➔ Infarto com supra de ST: a coronária envolvida está completamente obstruída. IMPORTANTE: Diferença entre infarto com supra de ST e angina → se houver elevação enzimática é infarto, pois houve morte celular, que acontece somente no infarto, deixando de ser angina. DOENÇAS CARDÍACAS NÃO ISQUÊMICAS: ➔ Dissecção aguda de aorta: dor forte no peito (dita como dor de “rasgar o peito”), que pode causar comprometimento dos sinais hemodinâmicos e que necessita de intervenção. ➔ Doença cardíaca valvar: a estenose causa resistência à passagem do sangue, gerando dispneia, angina e sincope ou as valvas se tornarem insuficientes, permitindo o refluxo do sangue ejetado, com consequente sobrecarga das câmaras cardíacas. ➔ Pericardite: no ECG, apresenta um supra de ST feliz e difuso (presente em todas as derivações, o que não ocorre em infarto). ➔ Miocardite: resultado de um quadro gripal, o paciente apresenta dor torácica, com presença de supra no ECG. Observação: a primeira conduta nas síndromes coronarianas agudas deve ser a realização do ECG. DOENÇAS PLEUROPULMONARES: ➔ Tromboembolismo pulmonar: consiste na formação de um trombo que emboliza e vai até o pulmão, podendo ocorrer devido a longas viagens, após procedimentos cirúrgicos (em geral ginecológicos e ortopédicos) e pelo uso de anticoncepcional (alteração na tríade de Virchow). Pode aparecer desvio de eixo para direita e sobrecarga de ventrículo esquerdo. ➔ Hipertensão pulmonar: doença rara que faz com que a pressão arterial nos pulmões seja mais alta, pode causar, além da dor torácica, perda de energia, tontura leve hipotensão e cansaço progressivo. No ECG, pode apresentar desvio de eixo para a direita. ➔ Pneumotórax hipertensivo: jovem com dor torácica súbita e dispneia. Dor Torácica MARIANA MARQUES – T29 CLÍNICA MÉDICA – MÓDULO II DOENÇAS ESOFÁGICAS: ➔ Doença do refluxo gastroesofágico: paciente com história de dispepsia prévia. ➔ Espasmo esofágico: distúrbio das ondas rítmicas das contrações musculares do esôfago, não causa alterações no ECG. ➔ Esofagite: inflamação no esôfago, que causa dor e dificuldade para engolir e dores no peito. DOENÇAS GASTROINTESTINAIS: ➔ Doença ulcerosa péptica: erosão em um segmento de mucosa gástrica, que pode ser confundida com DAC, pois os sintomas (dor torácica) se manifestam após a alimentação. ➔ Colelitíase/colecistite: geralmente a dor é mais localizada no hipocôndrio direito, mas pode aparecer difusamente na região precordial. ➔ Colangite: sintomas principalmente à direita, causa dor mais intensa, paciente tem febre e icterícia. ➔ Pancreatite: causa dor em faixa e apresenta aumento da amilase no exame laboratorial. DOENÇAS DA PAREDE TORÁCICA: ➔ Mialgia: a dor pode aparecer em todo o corpo, o paciente refere dor ao puxar o ar, ao mudar de posição ou ao deitar-se (não acontece somente quando faz esforço). ➔ Lesões ósseas (fraturas ou metástases): lesões que afetam nervos do pescoço que inervam o tórax, podem gerar dor torácica. ➔ Doença discal cervical: causa dor cervical com irradiação para musculatura do trapézio e peito. ➔ Fibromialgia: dor muscular difusa, não somente no tórax, que ocorre no repouso (não relacionada ao esforço). ➔ Herpes-zóster: pode não apresentar lesão visível, geralmente causa dor em queimação que acompanha o dermátomo. DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS: ➔ Crise ou transtorno de pânico, transtorno de ansiedade e depressão: podem ser causas muito importantes de dor torácica. Observação: principais causas da dor torácica em ordem crescente de ocorrência são: pulmonares, psiquiátricas, cardíacas, gastrointestinais e musculoesqueléticas. CAUSAS POTENCIALMENTE FATAIS ➔ Dissecção de aorta; ➔ TEP; ➔ Pneumotórax hipertensivo; ➔ Tamponamento cardíaco; ➔ Ruptura e perfuração esofagiana. DOR • Para avaliação da dor torácica e diagnóstico é necessário uma investigação minuciosa da dor, além de sintomas associados, patologias de base e exames complementares. CARACTERÍSTICAS DA DOR: INÍCIO DA DOR: ➔ Começo abrupto está mais associado com casos de dissecção aguda de aorta, pneumotórax e tromboembolismo pulmonar (pode piorar no decorrer do tempo). ➔ No caso de síndromes coronarianas agudas, o inicio da dor é mais gradual que piora no esforço. ➔ Na angina estável, a dor/desconforto aparece apenas quando a demanda de oxigênio aumenta. QUALIDADE DA DOR: ➔ SCA: geralmente relatam um desconforto que pode ser em peso, pressão ou aperto, que irradia para membros superiores e que pioram ao exercício. ➔ Dissecção aguda de aorta: se apresenta como um “rasgo” no peito, geralmente retroesternal, mas pode irradiar para abdome, peito e dorso. ➔ TEP: pode se apresentar com diferentes tipos de dor, podendo se apresentar como dispneia sem dor. ➔ Pneumotórax: geralmente relatam dor em um lado. ➔ Pericardite: a dor é dependente da posição, piorando ao ficar em pé e aliviando ao se curvar. ➔ Doenças musculoesqueléticas: bem localizada, que dói à palpação ou movimentação. MARIANA MARQUES – T29 CLÍNICA MÉDICA – MÓDULO II Observação: deve-se investigar também os fatores desencadeantes, fatores de melhora e piora da dor, assim como o sítio da dor (difusa, localizada, precordial, caixa torácica) e temporalidade (quantidade e quando começou). ABORDAGEM INICIAL: ➔ Sinais vitais: se possui instabilidade hemodinâmica e insuficiência respiratória (extremidades frias, tempo de enchimento capilar prolongado, pulsos finos e rápidos, hipotensão arterial sistêmica) → são indicativos de gravidade. ➔ Avaliação da dor. ➔ Realização rápida do ECG. ➔ Identificação precoce das doenças com potencial risco de morte. ➔ Fatores de risco para DAC. ➔ Antecedentes: trauma, cirurgia de grande porte, períodos de imobilização, histórico familiar, uso de drogas e tabagismo. ➔ Comorbidades: hipertensão, diabetes, DAP, história de neoplasia, doença valvar e gravidez recente. ➔ Exame físico. ➔ Início do tratamento específico (protocolos). TIPOS DE DOR TIPO A: ➔ Dor típica (definitivamente anginosa); ➔ Dor em aperto ou queimação, em repouso ou desencadeada pelo esforço ou estresse, com irradiação para ombro, mandíbula ou face interna do braço, aliviada pelo repouso ou nitrato. ➔ Nãosão necessários exames complementares para a definição diagnóstica, ou seja, a dor por si só já se define como síndrome coronariana aguda. ➔ Realiza-se o eletro para diagnosticar qual a doença cardíaca envolvida. ➔ Sinal propedêutico característico: sinal de Levine (caracterizado por exibição de mão fechada em movimentos circulares sobre o tórax). TIPO B: ➔ Provavelmente anginosa. ➔ Apresenta apenas 2 características típicas. ➔ As características da dor torácica fazem da insuficiência coronária a principal hipótese, porém, são necessários exames complementares para a definição diagnóstica. TIPO C: ➔ Possivelmente anginosa. ➔ Apresenta apenas uma característica típica de dor coronariana. ➔ É a dor torácica cujas características não fazem da insuficiência coronária a principal hipótese (dor torácica atípica), porém, são necessários exames complementares para excluí-la. TIPO D: ➔ É a dor não anginosa. ➔ Não possui nenhuma característica da dor coronariana. ➔ É considerada a dor torácica atípica, cujas características não incluem a insuficiência coronária aguda no diagnóstico diferencial. DOR TÍPICA x DOR ATÍPICA TÍPICA ATÍPICA CARÁTER DA DOR Constrição Compressão Queimação Peso Dor surda Facada, agulhada Pontada Piora ao respirar Aguda LOCALIZAÇÃO Retroesternal Ombro esquerdo Pescoço, Face, Dentes Região interescapular Epigástrica Ombro direito Hemitórax direito FATORES DESENCADEANTES Exercício, excitação, estresse, frio e Refeições copiosas No repouso DOR TORÁCICA CARDÍACA MARIANA MARQUES – T29 CLÍNICA MÉDICA – MÓDULO II ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO ➔ Para a estratificação da dor torácica, utiliza-se o escore HEART. ➔ Identifica a possibilidade de eventos adversos (morte, IAM e RM urgente) 6 meses após o evento. ➔ Auxilia na triagem de pacientes com dor torácica aguda na emergência. CRITÉRIOS DO ESCORE HEART: HISTÓRIA Forte suspeita 2 Moderada suspeita 1 Leve ou nenhuma suspeita 0 ECG Desvio importante do segmento ST 2 Alterações inespecíficas de repolarização ventricular 1 Normal 0 IDADE >64 2 Entre 46-64 1 <46 0 FATORES DE RISCO Mais de 2 fatores de risco ou história de doença arterial coronariana 2 1 ou 2 fatores de risco 1 Sem fatores de risco 0 TROPONINA Maior de 2x o limite da normalidade 2 Até 2x o limite da normalidade 1 Abaixo ou no limite de normalidade 0 AVALIAÇÃO DO ESCORE: ➔ 0 a 3 pontos: 1,6% de chance de evento adverso. ➔ 4 a 6 pontos: 13% de chance de evento adverso. ➔ 7 ou + pontos: 50% de chance de evento adverso. Observação: o critério pode ser usado para realizar identificação de pacientes elegíveis para alta hospitalar sem a necessidade de testes adicionais ou procedimentos invasivos. EXAMES COMPLEMENTARES ELETROCARDIOGRAMA: ➔ O ECG é indispensável e deve ser realizado em todos os pacientes com dor torácica, sendo feito imediatamente (em até 10 min) à chegada do paciente ao departamento de emergência. ➔ Possui sensibilidade = 45 a 60%. ➔ Achados clínicos + ECG são os dados mais importantes na avaliação inicial de paciente com um quadro de dor torácica aguda. ➔ Caso inicialmente seja inespecífico, ECG seriados podem ser necessários. ALTERAÇÕES NO ECG OBSERVAÇÃO Alterações transitórias de ST > 0,5mm durante os sintomas, como paciente em repouso. Sugerem isquemia e grave doença coronariana de base ou espasmo Depressão de ST do tipo horizontal ou de concavidade para baixo Achado sugestivo de IAM sem supra. Inversão simétrica e relevante de onda T em derivações precordiais (> 2mm) Sugere isquemia aguda (estenose crítica de artéria). Alterações inespecíficas de segmento ST (<0,5mm) ou de onda T (<2mm) São menos úteis do ponto de vista diagnóstico. Ondas Q patológicas Indicam IAM prévio e maior probabilidade de doença coronariana Associada. ANGIOTOMOGRAFIA DE CORONÁRIAS: ➔ Exame rápido e não invasivo que usa a tomografia computadorizada para avaliar os vasos sanguíneos do coração (artérias coronárias). ➔ Detectam mais de 50% das estenoses coronarianas significativas. ➔ Possui rápida aquisição de imagens. Coronária direita com lesão segmentar complexa (> 90% de estenose) ECOCARDIOGRAMA: ➔ Exame que utiliza ondas sonoras para produzir imagens do seu coração. ➔ Solicitado em casos de derrame pericárdico, valvopatias, Miocardiopatia hipertrófica, dissecção da aorta, TEP, hipertensão pulmonar e SCA. RADIOGRAFIA DE TÓRAX E TOMOGRAFIA: ➔ Úteis no diagnóstico diferencial de dor torácica. - Radiografia: exclui infecções, derrame pleural, neoplasias torácicas, fraturas e metástases. - Tomografia: solicitado em hipóteses de dissecção aorta, TEP, pneumotórax e pneumonia. MARIANA MARQUES – T29 CLÍNICA MÉDICA – MÓDULO II TESTE ERGOMÉTRICO: ➔ Simples, amplamente disponível e de baixo custo. ➔ Valor preditivo negativo >95% para eventos cardíacos adversos. ➔ Dor torácica possivelmente anginosa ➔ Estratificação de risco ➔ Negativo = risco menor que 2% em 1 ano ➔ Excluir dissecção aórtica, TEP, miocardite e pericardite. ➔ Condições para execução: ausência de sintomas e de alterações no ECG nas últimas 24h e possuir 2 amostras de marcadores de necrose negativas. CINTILOGRAFIA DE PERFUSÃO MIOCÁRDICA: ➔ Utilizada em casos de suspeita de SCA com ECG não-diagnóstico ➔ Pacientes com exame normal indica baixo risco de eventos adversos nos próximos meses. ➔ Liberação imediata. CINECORONARIOGRAFIA: ➔ É o exame padrão-ouro. ➔ Também conhecido como cateterismo cardíaco. ➔ Exame invasivo que pode ser realizado de forma eletiva, para confirmar a presença de obstruções das artérias coronárias ou avaliar o funcionamento das valvas e do músculo cardíaco. ➔ Utilizado para realização de conduta terapêutica e tratamento. ➔ IAM com supra de ST ou DCRE novo até 12h. ➔ Tempo porta-balão = 90 minutos ➔ SCA sem supra de ST: indica risco intermediário ou elevado. MARCADORES DE NECROSE MIOCÁRDICA: ➔ A necrose do músculo cardíaco promove a liberação de enzimas e proteínas estruturais dos miócitos. ➔ Podem ser quantificadas no sangue dos pacientes com IAM. ➔ Os principais marcadores são a mioglobina, a CK- MB,a CK-MB massa e as troponinas I e T. ➔ Repetidos entre 6 e 12h.
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