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Psicossomática e visão biopsicossocial • Somatização: manifestação causada por impactos na dinâmica biopsicossocial e acompanhada de sintomas não-específicos. → São aprendidas durante o processo de socialização e são construídas ao longo da vida. → Elas mobilizam processos interdependentes e simultâneos em busca de adaptação e equilíbrio interno e externo. → Correspondem a indisposições, dores generalizadas, disfunções orgânicas e lesões de órgão ou sistemas, acompanhadas da presença de conteúdos emocionais relativos a prazer e desprazer e situações de vida estressantes. → São reações a estímulos externos ou necessidades intrínsecas, manifestadas em sintomas ou relatos, e são causadas pela interação biopsicossocial. • No início, o conceito de somatização teve um sentido de determinação do psiquismo sobre alguns tipos de sintomas. A evolução dessa compreensão integrou duas dimensões interativas: 1) Do indivíduo com o seu meio 2) Quanto às características de funcionamento do cérebro-mente. → Essas 2 dimensões permitiram localizar melhor os momentos e os tipos de processos que ocorrem dentro e ao redor do indivíduo (simbolização, alterações fisiológicas etc.) • Não estar doente é diferente de ter saúde. Essa diferença é determinada pelo nível de qualidade de vida, sob o aspecto biopsicossocial. → Em 1954, chegou-se à compreensão de que o estresse é um cofator causal de doenças humanas. • Comportamento: ocorre simultaneamente nas dimensões bio, psico e social, com ênfase em uma, mas com impactos simultâneos nas 3 dimensões. • Psicossomática: começou a ser utilizada nas primeiras décadas do século XX (estudos na psiquiatria e na psicologia) e afirmava que as doenças físicas podem ter causas psicológicas. Ex: perturbações mentais podem causar uma paralisia Psicanálise • Demonstrou a importância das raízes emocionais nas doenças orgânicas e a linguagem dos órgãos. • Sobre as somatizações, devemos considerar: → O uso do sintoma físico para desviar a atenção de um problema “verdadeiro”. → A conveniência das somatizações, cujas razões são desconhecidas, tornando-se uma forma de polarizar a atenção, restringindo as coisas apenas àquilo que interessa ao indivíduo. • Do ponto de vista psicanalítico, “o mundo interno”, muitas vezes, é abafado pelo uso da somatização. → Toda enfermidade somática tem sentido e pode ser analisada como uma manifestação do inconsciente. • A somatização é uma forma particular de resistência e uma intervenção terapêutica com essa abordagem buscará transformar a dor em linguagem. A visão da psicohigiene • Análise institucional: a ação individual das organizações depende da estabilidade e da necessidade contínua de crítica e melhoramento. • A instituição é entendida como um meio pelo qual o indivíduo pode enriquecer ou empobrecer ou, ainda, se esvaziar como ser, o que comumente se chama de adaptação, submissa à alienação e à estereotipia institucional. • O melhor “grau de dinâmica” não é dado pela ausência de conflitos, mas pela possibilidade de explicitá-los, manejá-los e resolvê- los dentro do limite institucional. • Conflito: normal e necessário no desenvolvimento e na manifestação humana; a patologia do conflito se relaciona com a ausência dos recursos necessários para revê̂-lo ou dinamizá-lo. → A estereotipia é uma das defesas institucionais diante do conflito, mas se transforma em um problema atrás do qual é necessário encontrar os conflitos que se aludem ou evitam. → Será que as respostas psicossomáticas, no plano das estereotipias institucionais, querem isolar/negar valores ou questões contraditórias não esclarecidas? • O uso de certos códigos linguísticos, palavras e convenções que redescrevem a realidade de certos fenômenos produz outra realidade. → Ex: Empregado > Funcionário > Colaborador → A redescrição ocorre porque a imagem/ estereótipo construído socialmente sobre os outros termos tornam essa palavra uma “promessa de mudança” da realidade. → Os estereótipos seriam filtros culturais que condicionam nossa percepção e conhecimento. Esses filtros são garantidos e reforçados pela linguagem, assim, o processo de conhecimento da realidade é regulado por uma continua interação de práticas culturais, percepção e linguagem. Gestalt “O organismo e o meio se encontram em uma relação de mutualidade”. • Uma qualidade de contato caracterizada por vivacidade e espontaneidade é marca de saúde. • A estereotipia, confusão, desconexão e outros distúrbios, mais ou menos acentuados e crônicos, pertencem à esfera da patologia, em que se destaca a seguinte interpretação do conflito: a relação de mutualidade não exclui o conflito. • Nessa situação conflitiva, o indivíduo acaba sendo visto como vítima do meio social defeituoso, que interfere nos processos espontâneos de desenvolvimento individual. • Perls (Gestalt) deixa uma profunda crítica às instituições sociais vigentes e ressalta o estabelecimento da qualidade do contato como critério de saúde e normalidade. • Enfatiza a capacitação do indivíduo quanto a autonomia para a crítica sobre a relação com o meio social: ideia de ajustamento criativo (autorregulação, abertura do novo, contato vivo e vitalizante) em contraposição a controle externo, dependência e comportamento estereotipado. → Ajustamento criativo: a dialética de continuidade e mudança, para formar uma nova configuração. • A mobilidade estrutural do todo é a base da criatividade, enquanto a cristalização estrutural é a fixidez do passado no presente → Indivíduo como ser humano e não como um recurso. • A compreensão das manifestações psicossomáticas requer conceitos fisiológicos e mecânicos de interação cérebro-mente, indução mental, processos de adaptação e caracterização de patologias decorrentes de esforços continuados. • A mente é um nível do organismo humano com princípios próprios para elaboração de dados, que utiliza o cérebro para sus operações. • Dentro da interação cérebro-mente desencadeiam-se processos adaptativos. → Dependendo da tensão gerada para adaptação surge, o estresse que é uma resposta não específica do organismo diante de uma demanda interna ou externa ao indivíduo. Manifestações mais comuns das respostas psicossomáticas: → Sensações: mal-estar e desconforto. → Pequenos males: dores indeterminadas e fadiga. → Distúrbios funcionais: dores em órgão específicos ou mau funcionamento de órgãos. → Lesões de órgãos ou sistemas: deficiência de funcionamento de algumas partes do corpo. • Algumas vezes, o mesmo fato vivenciado pela mesma pessoa provoca manifestações diversas. • No contexto das empresas, as somatizações podem representar interações especificas desse meio. → Que desdobramentos psicossociais ocorrem, individualmente e em grupo, a partir e por causa de um adoecimento durante o expediente? → Essas indagações devem levar as pessoas e os grupos na empresa a pensar e atuar sobre essa o “é só psicológico”. • É por meio das somatizações, da linguagem dos sintomas, das expectativas no trabalho e do ambiente da empresa, que podemos obter informações valiosas para a gestão de pessoas, pois refletem a cultura organizacional. → Caso contrário, teremos a omissão da dor, o isolamento social, o agravamento dos prognósticos e a subestimação das respostas psicossomáticas. • A partir desse conceito biopsicossocial e organizacional, torna-se possível atuar na GP nas empresas. • Com a visão psicossomática, pode-se especializar e humanizar políticas, práticas, cargos e atribuições empresariais na saúde, além de treinamento e desenvolvimento, da integração social, ética e da produtividade. • A interação psicossocial naempresa aproxima os diversos objetivos de natureza: econômica, produtiva, desempenho. • A ideia é construir indicadores biopsicossociais em composição com as diversas áreas da organização Alguns desafios e algumas novas ações com a visão biopsicossocial 1) A pessoa revela necessidades biopsicossociais - Como efetivar ações da empresa voltadas para essas necessidades? 2) As pessoas constroem a empresa e legitimam sua cultura organizacional - Por que, frequentemente, elas dissociam suas próprias necessidades biopsicossociais como trabalhadores, empresários e líderes? 3) Quando os resultados institucionais são dependentes da saúde, informação e educação das pessoas que têm contratos diretos ou indiretos com a empresa? Esses são alguns dos muitos dilemas que instigam a discussão e o gerenciamento das condições de vida no trabalho, sendo referência aqui, a possibilidade de inovação na gestão de pessoas, por meio da visão biopsicossocial. Visão biopsicossocial • Camada biológica: características físicas, herdadas ou adquiridas; Ex: metabolismo, resistências e vulnerabilidades dos órgãos ou sistemas. • Camada psicológica: processos afetivos, emocionais e raciocínio, consciente ou inconsciente, que formam a nossa personalidade nosso modo de perceber e se posicionar; Ex: identidade, representações sociais, papéis sociais, gênero. • Camada social: valores, crenças, papel social; o meio ambiente e a localização geográfica também formam a dimensão social. • No ambiente de trabalho, essa abordagem dá suporte a uma atitude ética que deve ocorrer desde a identificação, eliminação, neutralização ou controle dos riscos ocupacionais. → Essa visão norteia os padrões de relações de trabalho, carga física e mental requeridos para cada atividade. Teoria de dissonância cognitiva, de Festinger: relação dissonante x consoante • O trabalhador pode adoecer, chegar adoecido ou agravar sua doença na nova organização. → Existem setores que são mais estressantes e facilitam o adoecimento do colaborador e por isso exigem uma atenção maior. . • No modo de trabalho capitalista o nosso trabalho é instrumentalizado, desumanizado, e está à serviço de empresas, interesses, lucro. • Porém, pelo lado subjetivo, o nosso trabalho proporciona satisfação, gratificação, poder, dinheiro, reconhecimento, realizações. • A forma como nos relacionamos com o trabalho é determinada pelas crenças (representações sociais) e pelo significado que atribuímos a ele. • Cabe ao psicólogo organizacional prevenir psicopatologias e promover saúde mental no ambiente de trabalho. Mas também atender aos interesses da organização (lucro, produtividade). → Ele precisa equilibrar os interesses da empresa x os interesses dos colaboradores, além de mediar as relações de poder existentes. → Essas relações podem ser construídas em bases autoritárias, onde há alguém exercendo poder/domínio/exploração sob um outro que obedece/é dominado/é explorado. • É preciso entender que estamos biológica, psicológica e socialmente implicados no trabalho. • Todos nós nos manifestamos de maneira psicossomática: temos potencialidades e reações biológicas, psicológicas e sociais que respondem as condições de vida, e essas respostas apresentam variadas combinações e intensidades, podem ser mais ou menos visíveis. → As somatizações são um sinal de alerta para as mais diversas intercorrências relativas à vida no trabalho. • As questões que emergem da visão biopsicossocial relacionam-se a: → atitudes do grupo; → avaliações do grupo sobre necessidades específicas; → modelos de gestão e estrutura organizacional; → reorganizações de tarefas; → desdobramentos burocráticos; → política da empresa; → eficácia da produtividade; → autopercepção da pessoa; → padrões da cultura organizacional. • Os processos psíquicos influenciam a dinâmica do corpo e precisam ser avaliados em conjunto com a influência dos fatores socioculturais nos processos de dor, mal-estar e doenças. • A cultura empresarial tem padrões de percepções articulados com a disponibilidade para produzir e devido o desconhecimento de sintomas e agentes patológicos ocorre uma individualização dos sintomas. • Desvio: provoca o mascaramento da percepção de fatos da realidade em função de crenças sociais (individualização). A percepção de desvio decorre da fragmentação de fatos, que são percebidos apenas individualmente, mesmo que eles tenham presença coletivamente. → Manifestações psicossomáticas tornam o indivíduo responsável pelo problema dentro da relação empresa-saúde-trabalho. → Muitas vezes, os estigmatizados se acomodam e usam os ganhos secundários derivados da situação de restrições sociais. → A individualização atua como mecanismo de controle do comportamento desviante em defesa dos valores da organização e das crenças sobre a obrigação de controle sobre as manifestações nas quais o sintoma não é visível. • As somatizações são processos que ocorrem em reação a situações de crise, ameaça, fuga, prazer ou desprazer. → Nos são inerentes, mas suscetíveis a condicionamentos socioculturais e, por isso, essas respostas ocorrerem em momentos diversos entre as pessoas, e podem ser frequentes para uns, mas para outros não, fazendo com que quem está mais suscetível seja estigmatizado e individualizado.
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