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Anne Karen Reis NEUROLOGIA Demências INTRODUÇÃO A demência é o comprometimento da memória e um ou mais áreas da cognição (afasia, agnosia, apraxia e disfunção executiva). Causa comprometimento social ou ocupacional e representa um declínio na funcionalidade. • Afasia → disfunção da linguagem; • Agnosia → incapacidade de identificar um objeto com o uso de um ou mais sentidos; • Apraxia → dificuldade de realizar determinadas tarefas. Cognição → estar consciente, saber, pensar, aprender e julgar. Relaciona-se com a memória (armazenar e resgatar informações), gnosias (reconhecer objetos familiares), praxias (como fazer determinada tarefa) e a linguagem (capacidade de comunicação). CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA Demências primárias (degenerativas) • Doença de Alzheimer (DA); • Demência frontotemporal (DFT); • Demência com corpúsculo de Lewy (DCL). Demências secundárias (não degenerativas) • Demência vascular (DV); • Neoplasias intracranianas; • Doenças carenciais; • Doenças infecciosas; CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA Demências corticais → amnésia, afasia, agnosia, apraxia. Ex: Doença de Alzheimer. Demências subcorticais → bradifrenia, distúrbios da atenção e motivação. Ex: Paralisia supra nuclear progressiva (PSP), Doença de Parkinson, AIDS, doença de Huntington. EVOLUÇÃO DA DEMÊNCIA Envelhecimento normal ↓ Transtorno cognitivo leve ou comprometimento cognitivo leve ↓ Demência CAUSAS DA DEMÊNCIA • Doença de Alzheimer (60-80%); • Demência vascular (20-40%); • Doença por Corpúsculos de Lewy (5-20%); • Demência frontotemporal (5-20%). DOENÇA DE ALZHEIMER É a causa mais comum de demência. Acomete adultos a partir dos 60 anos de idade, entretanto existe doença de Alzheimer precoce (a maior parte desses casos são genéticos). Compromete: 1. Intelecto; 2. Memória; 3. Raciocínio; 4. Aprendizado; 5. Comunicação; 6. Execução de tarefas. Área do cérebro comprometida nas demências → córtex cerebral. Principal neurotransmissor envolvido no Alzheimer → acetilcolina. Anne Karen Reis NEUROLOGIA Há perda de neurônio: • Hipocampo (memória); • Lobos frontal, parietal e temporal; • Sistema límbico → influencia os instintos, impulsos e emoções; • Núcleo basal de Meynert (rico em neurotransmissor - acetilcolina). PERDA DE NEUROTRANSMISSORES ASSOCIADA AO MAL DE ALZHEIMER • Acetilcolina → atenção, aprendizado e memória; • Serotonina → humor e ansiedade; • Glutamato → aprendizado e memória de longo prazo; • Dopamina → movimentos físicos. EPIDEMIOLOGIA • Após os 65 anos, a prevalência dobra a cada 5 anos de idade; • A DA acomete de 8 a 15% da população acima de 65 anos. MARCADORES HISTOPATOLÓGICOS DA DA 1. Placas senis (lesões extracelulares) → relacionada a anormalidades da proteína beta amilóide; 2. Novelos ou emaranhados neurofibrilares (lesões intraneuronais) → relacionam-se a anormalidade da proteína Tau. GENÉTICA • 10% dos pacientes com DA têm o início da doença pré-senil (< 60 anos). Destes, 40% apresentam um padrão de herança familiar do tipo autossômico dominante (5% dos casos seriam familiares); • Na DA pré-senil foram identificadas mutações localizadas nos cromossomos 21, 14 e 1. Essas mutações são conhecidas como fatores de risco genético para DA; • A DA senil (> 65 anos) é quase sempre esporádica; APO-E Um gene defeituoso no cromossomo 19, chamado Apo-E, cuja função é secretar a apoliproteína-E, molécula que faz o transporte de colesterol no sangue. Existem três versões desse gene, denominadas Apo-E2, Apo-E e Apo-E4. • E2 → protege contra a doença de Alzzheimer; • E3 → fica num estágio intermediário. Os pacientes às vezes ficam protegidos e às vezes prejudicados; • E4 → aumenta o risco da doença e faz os sintomas aparecerem bem antes da idade em que normalmente se manifestam (demência pré-senil). Apo-E4 constitui um fator de risco genético para DA, seja familiar ou esporádica, senil ou pré-senil. ESTUDO GENÉTICO Mutações autossômicas dominantes de início precoce da DA (< 65 anos), com penetrância completa, foram associadas a 3 genes: • Proteína precursora do amilóide (APP) → cromossomo 21; • Presenilina 1 (PSEN 1) → cromossomo 14; • Presenilina 2 (PSEN 2) → cromossomo 1. As placas e emaranhados foram observados em pessoas sem DA. Na DA, eles são observados em quantidades maiores. Os marcadores são dosados apenas post-mortem. . Anne Karen Reis NEUROLOGIA FATORES DE RISCO • Idade acima de 60 anos → quanto mais velho, maior a chance; • Sexo feminino → não é bem um fator de risco, mas a explicação é que as mulheres são mais longevas; • Genético → portadores do alelo E4 apresentam maior risco, principalmente numa forma pré-senil; • Doença vascular; • Traumatismos cranianos; • Síndrome de Down; • História familiar de DA; • HAS; • Hipercolesterolemia; • Diabetes; • Depressão. QUADRO CLÍNICO 4 As → amnésia, afasia, apraxia, agnosia. • Inicial → 2 a 3 anos; • Intermediária → 2 a 8 anos; • Avançada → 8 a 12 anos. ALTERAÇÕES COGNITIVAS • Alteração da memória, principalmente a recente seja ela visual ou verbal (87%); • Déficits de linguagem (72%) → anomia, disnomia, afasia, disfasia; • Déficits visoespaciais (44%); • Déficits de atenção (49%); • Disfunção executiva. O acometimento de múltiplas funções cognitivas na DA ocorre em virtude da multifocalidade das lesões neuroanatômicas observadas nesta demência. ALTERAÇÕES DO COMPORTAMENTO (90%) Síndromes comportamentais • Síndrome de Klüver-Bucy → hiperoalidade (hiperfagia e tendência compulsiva de levar objetos a boca). Hipermetamorfose (compulsão para examinar os objetos de ambiente nova), hipersexualidade. • Síndrome de Othelo → ciúme patológico; • Síndrome de Godot → ansiedade antecipatória patológica diante de eventos/ compromissos futuros; • Síndrome do espelho → não reconhece sua própria imagem refletida no espelho; • Delírio de pobreza; • Crença de que a casa onde vive não é a sua verdadeira residência; • Hospedes fantasmas; • Delírio de roubo; • Delírio de abandono. INVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA • História clínica detalhada; • Exame físico geral e neurológico; • Avaliação do estado mental (MEEM); • Avaliação neuropsicológica; • Exames complementares (TC, RNM, EEG, SPECT, função tireoidiana, renal e hepática, glicemia, hemograma, dosagem de vitamina B12, ácido fólico, HIV, VDRL, lipidograma). DIAGNÓSTICO O diagnóstico é clínico. Fixam-se 3 graus: DA possível → déficit cognitivo de evolução lenta e progressiva sem distúrbios da consciência e com ausência de transtornos vasculares, metabólicos ou tóxicos do SNC. DA provável → sintomas de DA possível com piora da memória, antecedentes familiares da DA e idade de início entre 40-90 anos (mais frequentemente ao redor dos 65 anos). DA definitiva → sintomas de DA provável e, quando morre, na autópsia se encontram elementos característicos dela. Portanto, o diagnóstico de DA é histopatológico (post-mortem). A maioria dos casos de DA é esporádica. Cerca de 3-5% tem herança genética autossômica dominante. A instalação na fase pré-senil (< 65 anos) → Presença de alterações de linguagem mais proeminentes e precoces. NÃO EXISTE FORMA DE PREVENIR A DA Anne Karen Reis NEUROLOGIA AVALIAÇÃO DE LCR NAS DEMÊNCIAS Avaliar em casos de: • Neurossífilis; • Neurocisticercose; • Neuro-AIDS (complexo demência-Aids); • Meningoencefalite herpética; • Meningites crônicas;• Doença de Creutzfeldt-Jakob; • Paraneoplásicas e linfoproliferativas; • Demências de doenças inflamatória e autoimunes; • Hidrocefalia de pressão normal (HPN) → doença idiopática na qual o paciente apresenta déficit cognitivo, incontinência urinária e ataxia de marcha. O diagnóstico precoce permite evitar a evolução do quadro. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Rivastigmine Exelon → cápsulas de 1,5 mg – 3mg – 4,5 mg – 6 mg e solução oral Exelon patch → adesivo 5 (4,6mg/24h), 10 (9,5 mg/24h) e 15 (13,3mg/24h) OU Galantamina Reminyl ER → 8mg, 16 mg, 24 mg OU Donepezila Eranz, Epéz, Lábrea, Donila → 5mg, 10mg Memantina Ebix, Alois, Heimer, Zider → 10mg Pode ser associada com rivastigmine ou galantamina ou donepezila. O tratamento farmacológico da DA apenas atua na redução da velocidade de progressão da doença. Não dispomos de terapêutica de cura. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO • Terapia de orientação; • Fisioterapia; • Terapia ocupacional; • Fonoaudiologia; • Reabilitação cognitiva; • Visitas; • Lugares públicos; • Multiprofissional; • Paciência, amor, carinho. DEMÊNCIA VASCULAR (DV) • 2ª causa mais comum de demência; • Início mais precoce que a DA; • Prevalência maior em homem; • Pode coexistir com a DA → demência mista; • Lesão vascular contribui para a gravidade da DA; • Diferença entre DA e DV → clinicamente difícil. Demência secundária a diferentes agravos ao cérebro: 1. Infarto único; 2. Infartos lacunares; 3. Múltiplos infartos; 4. Infartos fronteiriços ou divisor de águas (Watershed infarction); 5. Encefalopatia arteriosclerótica subcortical (Doença de Binswanger). Infartos mínimos (locais estratégicos) → demência Ex: giro angular esquerdo, tálamo, núcleo caudado. FUNÇÃO DOS MEDICAMENTOS ACIMA Bloquear a ação da enzima acetilcolinesterase, que decompõe a acetilcolina. A falta de acetilcolina está relacionada com os sintomas da doença de Alzheimer. FUNÇÃO DA MEMANTINA Diminuir o nível de glutamato. Anne Karen Reis NEUROLOGIA FATORES DE RISCO • Idade; • Aterosclerose/ hipercolesterolemia; • Hipertensão arterial; • Tabagismo; • Diabetes Mellitus; • Patologias cardíacas; • Etilismo; • Obesidade. TRATAMENTO Controle dos fatores de risco. • Anti-hipertensivos; • Hipoglicemiantes; • Sinvastatinas; • Anti-agregantes plaquetários; • Inibidores da colinesterase (ex: galantamina). DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL (DFT) A DFT é essencialmente uma demência pré-senil, ocorrendo principalmente entre os 45-60 anos e duração de anos. Disfunção: lobos frontal e temporal. Preservação das regiões posteriores do cérebro. • Distúrbio comportamental e de personalidade importantes; • Atrofia frontal e/ou temporal unilateral ou bilateral; • 50% tem história familiar com herança AD. A DFT inclui 4 subtipos: 1. Doença de Pick; 2. Degeneração dos lobos temporais; 3. Demência semântica (variante temporal das DFTs); 4. DFT associada ao comprometimento do neurônio motor (ELA). Início precoce → 45-65 anos (evolução média de 8 anos). Incidência homens = mulheres. DOENÇA DE PICK • Doença degenerativa; • Afeta os lobos frontal e temporal; • Alterações da personalidade; • Deterioração das habilidades sociais; • Embotamento emocional; • Desinibição comportamental; • Anormalidades da linguagem; • Início insidioso e progressivo • Isolamento social, apatia, impulsividade, hiperoralidade, descuido higiene, sintomas depressivos, exploração de objetos no ambiente; • Presença de paralisia bulbar; • Acinesia, fraqueza muscular, fasciculações; • Tratamento sintomático; • Diferença de memória, apraxia e outros aspectos da demência em geral ocorrem mais tarde no curso da doença. DEMÊNCIA COM CORPOS DE LEWY • 3ª causa de demência; • Mais comum em idosos; • Prevalência: sexo masculino; • Evolução mais rápida do que DA; • Parkinsonismo, alucinações, flutuante dos déficits cognitivos • Corpúsculos de Lewy → inclusões intracitoplasmáticas eosinofílicas hialinas, no córtex cerebral, tronco encefálico; • Flutuação na cognição em minutos ou horas (atenção e vigília). Obs: delirium e demência vascular, que podem cursar com flutuações, devem ser excluídas; • Alucinações visuais (claras e detalhadas); • Parkinsonismo rígido-acinético simétrica, quase sem tremor; • Pobre resposta a levodopa; • Quedas repetidas e síncope; • Sensibilidade a neurolépticos → agrava Parkinsonismo sem melhora dos sintomas psicóticos; • Progressão mais rápida. • Déficit de memória pode não existir nas fases iniciais. Déficit de atenção, desorientação visuoespacial. • Tratamento com inibidores da acetilcolinesterase. Anne Karen Reis NEUROLOGIA DOENÇA DE PARKINSON Doença neurodegenerativa com redução de neurônios dopaminérgicos. • Tremor de repouso assimétrico; • Rigidez; • Bradicinesia; • Instabilidade postural. Incidência → 50 a 60 anos/ > homens Demência instala-se em fases mais tardias da doença, em 25-30% dos casos. Tratamento: Inibidores da colinesterase (Ex: Rivastigmine). DOENÇAS RELACIONADAS COM O ÁLCOOL A bebida em excesso e prolongada pode conduzir a uma forma de demência. O consumo excessivo de bebidas alcóolicas também pode causar a síndrome de Korsakoff, que não é uma forma de demência.
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