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O NORMAL E O PATOLÓGICO P S I C O P A T O L O G I A I I - R E S U M O A U L A 0 1 M A R I A N A S O A R E S 1 A questão do que se configura normal ou patológico, gerou inúmeras tentativas, ao longo da história para estabelecer seus conceitos. Na Grécia Antiga influenciada pelos escritos e práticas hipocráticas, tinha-se uma concepção dinâmica acerca da doença. Nesse período, saúde e doença se distinguiam pelo fato do estado de saúde ser a harmonia e equilíbrio, enquanto a doença seria a perturbação desse equilíbrio. E o que está em equilíbrio e pode causar perturbação são os quatro humores. A doença pode ser entendida como uma tentativa da natureza para restaurar a saúde e um novo equilíbrio, não se configurando totalmente disfuncional, mas sim uma reação em busca de cura. Já de acordo com o positivista, August Comte, muito apoiado nas ideias de Broussais, a doença e a saúde coincidem diferindo apenas em relação à intensidade de estimulação. Marcando assim, o estudo entre saúde e doença em uma perspectiva qualitativa o que desencadeou o curso das teorias subjacentes. Claude Bernard, por exemplo, acreditava que saúde e doença não eram dois modos antagônicos, entidades disputando o corpo, mas sim equivalentes diferenciando em grau de exagero, desproporção e desarmonia. Assim, a doença é uma função normal perturbada, sendo necessário para a sua cura o conhecimento acerca da fisiologia das funções normais (BERNARD, s.d. apud CANGUILHEM, 1904). Já na visão de Leriche, a saúde seria ‘’a vida no silêncio dos órgãos’’, sendo o inconsciente do indivíduo sobre seu próprio corpo, enquanto a doença é a perturbação. Canguilhem, entretanto, vai buscar na psicopatologia novas ideias para o entendimento do estado patológico, pois neste campo não é mais possível essa separação centrada nas mudanças fisiológicas, tanto pelo desconhecimento da fisiologia dos processos mentais, quanto por considerar o normal individual. Canguilhem ainda, aborda a distinção entre, anormal, anomalia e patológico. Hipócrates deu inicio a separação da doença sagrada dos domínios religiosos. Para ele o corpo humano contém sangue, fleuma, bile amarela e bile negra. Quando os humores estão em harmonia há saúde. O adoecimento decorre da falta ou excesso de um desses humores ou quando se separam do corpo e não se unem aos demais. De acordo com Canguilhem, normal vem de normativo, o que institui normas feitas pela própria vida. ''É um valor. Mas não um valor social ou estatístico; é um valor estabelecido pela vida em sua própria defesa e interesse.'' Podemos entender também como a capacidade de retornar um equilíbrio anterior. Isto sugere que haja um processo de adaptação a certa condição, o que infere, portanto, que a saúde seria a capacidade de adaptação ao meio e suas exigências, capaz de criar e seguir novas normas de vida NORMAL Adendo: é importante lembrar que o conceito de normal sem levar em conta os aspectos fisiológicos, psicológicos e dinâmicos do sujeito se torna simplista, e ignora a complexidade do ser. P S I C O P A T O L O G I A I I - R E S U M O A U L A 0 1 M A R I A N A S O A R E S 2 O anormal seria o que está fora da norma, das regras instituídas pela vida, é o apego a algum valor predeterminado, o anormal se afasta da grande maioria dos seres pelos quais se deve comparar. ANORMAL Já anomalia diz respeito à variabilidade da vida, é a diferença entre os indivíduos, uma variação ou diversidade congénita. ANOMALIA E o patológico consiste na incapacidade de tolerar os desvios, pois é incapaz de se tornar outra norma, gerando um sentimento de sofrimento e impotência. PATOLÓGICO Podemos considerar então que algumas reações, em determinados contextos podem ser considerados como anormalidade. Em determinas situações, por exemplo, quando não suportam mais as tensões e exigências sociais as pessoas podem reagir de forma anormal ou desviante. O que poderia comprometer a homeostase do ser podendo levar a um transtorno. O patológico entretanto, ocorre quando as reações a situação consomem as pessoas, fazendo-as sofrerem para além daquela situação, desenvolvendo sofrimento e impotência. Devemos dizer que o estado patológico ou anormal não é consequência da ausência de qualquer norma. A doença é ainda uma norma de vida, mas uma norma inferior, no sentido que não tolera nenhum desvio das condições em que é válida, por ser incapaz de se transformar em outra norma. O ser vivo doente está normalizado em condições bem definidas, e perdeu a capacidade normativa, a capacidade de instituir normas diferentes em condições diferentes.
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