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DIGITADA POR JÚLIA ROBADEY AULA 7- TRANSFUSÃO DE HEMOCOMPONENTES Falaremos mais sobre indicações transfusionais nas doenças hematológicas em geral, e, temos uma aula só sobre transfusão maciça na cadeira de urgência e emergência, no período que vem. SEGURANÇA TRANSFUSIONAL Toda transfusão de hemocomponentes, o primeiro passo dela é a segurança transfusional, é evitarmos ao máximo a transmissão de doenças que possam ser veiculadas pelo sangue. Para isso, se aplica um questionário vigoroso antes da doação, qualquer comportamento que possa ser considerado que vai comprometer a segurança do sangue doado, irá impedir a doação. Quem fez uma tatuagem recente não pode doar sangue porque não tem garantia de ter sido feita com material descartável, não temos garantia de que o paciente não se contaminou com hepatite C ao fazer a tatuagem. Quem fez endoscopia recente, pelo mesmo motivo, não temos garantia de que o estetoscópio foi corretamente esterilizado entre um paciente e outro. Então, dá-se um tempo, para que não corra nenhum risco de estar em janela imunológica para alguma patologia, e, depois ser liberado para doar. Algumas doenças crônicas, como por exemplo doença autoimune, neoplasia no passado, também são causas de inaptidão permanente. ▪ Triagem clínica; ▪ HIV: imunoensaioenzimático + PCR; ▪ HCV: anti HCV + PCR; ▪ HBV: HBsAg + AntiHBc + PCR; ▪ HTLV I e II; ▪ Sífilis; ▪ Doença de Chagas. Acima temos os testes que são realizados para uma doação de sangue no território brasileiro, isso varia conforme as doenças mais prevalentes em cada país. Depois que começamos a aplicar as técnicas de PCR para detecção do próprio material genético do vírus em si, para HIV, Hepatite B e Hepatite C, conseguimos diminuir o período de janela imunológica para cerca de 15/20 dias. Mesmo assim, não é 0 dias, e, além disso, nenhum exame, por melhor que ele seja, é 100% de acurácia. Então, o questionário é tão rigoroso, justamente, porque teoricamente já tenho que ter uma confiança daquele sangue antes dele ser colhido, para podermos juntar isso com exame negativo, e, achar que aquela bolsa não veicula doença alguma. HEMOCOMPONENTES ▪ Sangue total: - Concentrado de hemácias; - Concentrado de plaquetas; - Plasma fresco congelado; - Crioprecipitado. Os 4 hemocomponentes são obtidos através de processos exclusivamente físicos*, procedidos após uma doação de sangue total. Então, sangue total doado pode ser dividido nesses 4 hemocomponentes. E, esses são os únicos hemocomponentes existentes, albumina, fator de coagulação é hemoderivado, não é hemocomponente. Hemocomponente, e, hemoderivado não são palavras sinônimas*. HEMOCOMPONENTES: COMPONENTES OBTIDOS ATRAVÉS DO SANGUE TOTAL, APÓS PROCESSOS EXCLUSIVAMENTE FÍSICOS. PRINCÍPIOS BÁSICOS ▪ Transfusão em via venosa exclusiva, não pode estar entrando sangue, e, ao mesmo tempo outras medicações naquele mesmo acesso. Se um paciente tiver uma veia profunda, com um cateter de duplo lúmen puncionada, pode entrar sangue em um dos lúmens, e, outra coisa no outro, porque não está infundindo no mesmo lugar. Se tivermos a opção de conseguir outra veia periférica, independente do cateter, aquilo vai entrar sem encostar em nenhuma medicação, então, é preferível, se for possível. Ou então, para um pouco alguma medicação para o sangue entrar. ▪ Apenas salina 0,9% pode ser infundido concomitantemente (misturado ao sangue, ou entrado na mesma veia). Nenhuma outra solução, ou, medicação. ▪ O sangue só pode ser aquecido em equipamento específico; ▪ Tempo de transfusão não pode exceder 4 horas, porque depois consideramos que aquela bolsa virou meio de cultura. Por exemplo, paciente perdeu acesso, era um recém-nascido, difícil de puncionar, e, quando conseguiu outra veia, já tinha passado mais de 4 horas que aquela bolsa foi aberta, essa bolsa vai ser descartada, e, se precisar, pegamos outra bolsa, e, fazemos nova transfusão, mas aquela não pode ser usada mais, para qualquer hemocomponente. CONCENTRADO DE HEMÁCIAS ▪ Devem ser ABO compatíveis: 1. Pode-se usar hemácias O em receptores A, B ou AB; 2. Pode-se usar hemácias A ou B em pacientes AB. ▪ Devem ser RhD compatíveis: Pacientes Rh positivos, podem receber tanto de Rh positivo, quanto de Rh negativo. Os pacientes negativos, só podem receber de negativo. Em uma situação de vida ou morte, em que preciso transfundir, mas não tenho negativo no serviço, e o paciente é negativo, posso transfundir O+, e, administrar imunoglobulina em seguida, anti-Rh, que é aquela mesma imunoglobulina que quando uma gestante é negativa, e o parceiro dela é Rh positivo, administramos depois do parto, para evitar sensibilizações para gestações futuras. 1. Em caso de emergência, é permitido transfundir bolsas RhD positivas em receptores negativos; 2. Administrar Rhlg, neste caso. DIGITADA POR JÚLIA ROBADEY ▪ Hematócrito de +/- 70%; ▪ Volume da bolsa: aproximadamente 250 a 350ml (varia de concentrado para concentrado); ▪ Validade: 35 dias (para maioria das bolsas, dependendo da solução de preservação usada), mantida entre 2 e 6°c. Tem que ser mantido em geladeira; ▪ O raciocínio clínico é soberano! Não é um valor de hemoglobina sozinho que define se uma pessoa vai transfundir ou não. Obviamente, tem algumas situações, como falcêmico com AVC, que tenho que transfundir independente do hematócrito para diluir a hemoglobina S. Fora essas situações pontuais que já vimos, ou veremos, o que me define se a pessoa precisa transfundir ou não é se ela clinicamente está descompensada, chocada, taquicárdica, com esforço respiratório, e, nesse contexto da decisão clínica de transfundir, é muito importante diferenciar anemia aguda, de anemia crônica. ▪ Diferenciar anemia aguda x doença crônica. Foi citado que por múltiplas transfusões, paciente pode fazer acúmulo de ferro, e, vai acumular, principalmente, no fígado, miocárdio, suprarrenal, por aí vai. Isso acontece porque uma bolsa do concentrado de hemácias, tem hematócrito de 70%. ▪ Hemoglobina é mais precisa que o hematócrito para definir sobre a transfusão; ▪ Cada unidade aumenta a hemoglobina em +/-1 g/dL; O certo é solicitar a transfusão de uma unidade de concentrado de hemácias, não é por ml, bolsa, é por unidade. Para transfusão em pediatria, 10 a 15 ml/kg equivale ao que seria um concentrado de hemácias para um adulto. Então, para uma criança de 10kg, vou transfundir 100 ml, até 150 ml, vou pegar uma bolsa, e, fracionar na metade, naquele ml que você quer. No caso de um recém- nascido, fracionamos na metade. Um paciente idoso com síndrome mielodisplásica, com 6 de hemoglobina, além da síndrome mielodisplásica, ele descobriu câncer de colo, e, precisa fazer uma hemi-colectomia, com 6 de hemoglobina não é seguro ele ir para cirurgia, por isso, precisamos então melhorar o hemograma dele, para que ele possa operar o intestino de forma mais segura. O alvo para um paciente fazer cirurgia abdominal é 8 de hemoglobina, se ele tem 6, e, eu quero 8, preciso transfundir mais ou menos 2, 3 concentrados de hemácia, para ter uma margem de segurança. Porque cada unidade eleva a hemoglobina em 1 g/dL, mais ou menos. A equivalência de dose na pediatria, o que em um adulto seria um concentrado, e, elevaria a hemoglobina em mais ou menos 1g/dL, para a criança, 10 a 15 ml/kg, por transfusão. Então, para uma criança de 10kg, 100, até 150 ml equivaleria a um concentrado de hemácias inteiro, se fosse um adulto. Para criança, vou transfundir 10/15 ml/kg e vou repetir o hemograma. Se melhorar, atingir o valor esperado, não preciso transfundir mais. Se tiver subido o que era esperado, mas ainda estiver abaixo do valor alvo, vou transfundir mais uma dose de 10 a 15 ml/kg. O quanto vou transfundir ao final, vai depender de cada situação clínica. ▪ Hb<6 é um bom indicador; ▪ Manter Hb maior ou igual a 8 g/L, em portadores de condições clínicas especiais. Seria recomendado manter hemoglobina acima de 8, naqueles pacientes idosos comcardiopatia grave. Aquele paciente idoso com DPOC, pacientes politraumatizados (TCE, traumatismo abdominal, paciente grave internado em UTI). Para insuficiência renal, especificamente, doença renal crônica estágio 4, que já chamaríamos de doença renal, isso não é considerada condição clínica especial para manter acima de 8. No renal crônico terminal, ou, em diálise, se eu mantiver a hemoglobina dele muito baixa, o rim dele não vai ser mau perfundido piorando a lesão. Não tem mais como piorar nada. Então, nesse caso, se esse paciente for politransfundido, daqui a pouco terá hemocromatose hereditária, e, o coração e o fígado dele já não vão funcionar, como o rim também já não funciona. Então, nesses pacientes renais crônicos, eu transfundo se tiver anemia sintomática. Se a hemoglobina está 6, e, o paciente não está taquicárdico, hipotenso, cansado, não transfundo, irei apenas observar. ▪ Dose depende do valor da Hb e Htc; ▪ Doença falciforme: STA, sequestro esplênico, AVE, priapismo, queda Hb > 1g/dL + sintomas; Nessas 4 situações da doença falciforme (STA, sequestro esplênico, AVE, priapismo), transfundo independente do valor da hemoglobina, porque meu objetivo é diluir a hemoglobina S dando hemoglobina normal. Fora essas situações específicas, queda da hemoglobina > 1g/dL do valor basal daquele paciente, desde que ele esteja sintomático em relação a anemia. ▪ Anemia aplástica: Conduta conservadora sempre que possível; Doença em geral autoimune que a medula do paciente passa a ter poucas células tronco e não funciona mais. Vamos estudar essa doença na semana seguinte. Paciente com hemoglobina 5,9 mas não está cansado, hipotenso, etc, não transfundo, só observo. Cada hemácia de outra pessoa que recebemos, ela é parecida com a nossa, mas não é igual. Especialmente, porque, por exemplo, o estudo HLA para ver se é geneticamente muito semelhante, é feito pré transfusão de medula, mas pré transfusão de sangue não é viável isso ser realizado para todo mundo porque é caro, demorado... Quanto mais aquele paciente com aplasia de medula for exposto a uma hemácia diferente da dele, pior vai ser o resultado dele para o transplante, quando ele fizer depois. ▪ Hemorragias agudas graus III ou IV (perda > 30% da volemia); Pacientes com hemorragia ESTIMADA (não é medida, é estimada), grau III ou IV, ou, se eu não tiver como estimar, paciente sangrou em casa, e, não sei quanto foi. Se ele tem sinais clínicos de choque hemorrágico (devemos perceber que a transfusão aqui é para choque hipovolêmico hemorrágico, choque hipovolêmico, por exemplo, devido uma desidratação por diarreia, coisa assim, não vai entrar aqui). Choques hemorrágico e/ou hemorragias classificadas (estimadas) como grau III ou IV, essa classificação é do colégio americano de cirurgiões, que é a classificação do ATLS. Que seria perda da volemia > 30% para grau III, e, > 40% para grau IV. Nesse caso, também vamos transfundir, paciente chega na emergência, já começamos a transfundir, sem prova cruzada, sem nada, pegamos aquela bolsa O- que estava na geladeira, tipo “doador universal”, enquanto isso, banco de sangue vai fazendo testes para que as próximas transfusões dele, a 2°, a 3° bolsas já tenham sido testadas. Isso seria transfusão maciça, que é o objetivo do material de apoio. ▪ Hemólise autoimune (AHAI): NÃO TRANSFUNDIR. DIGITADA POR JÚLIA ROBADEY Salvo em caso de anemia muito, muito sintomática. Se o paciente está com 5 de Hb mas não está chocado, não está taquicárdico, hipotenso, não vai transfundir. CONCENTRADOS DE PLAQUETAS ▪ Contagens plaquetárias necessárias para os diferentes procedimentos: - Preciso de plaquetas acima de 30.000 para fazer uma punção lombar diagnóstica; - Preciso de plaquetas acima de 50.000 para fazer endoscopias digestivas, ou broncoscopias, com ou sem biópsia, também para biópsia hepática esplênica, ou qualquer coisa dessas, punção venosa profunda, bloqueios centrais de neuroeixo (peridural ou raquianestesia), e, cirurgias em geral (cirurgias de cavidade abdominal, parto seja ele normal ou cesária); - Preciso de plaqueta acima de 100.000 para fazer cirurgias oftalmológicas invasivas, como cirurgias de retina, neurocirurgias em geral, e, injúria cerebral traumática. Se tiver abaixo de 100.000, vou transfundir, colher um hemograma pós transfusão para conferir se está em 100.000, e, depois que faço procedimento cirúrgico. ▪ Situações que vou transfundir plaquetas: - Contagem plaquetária abaixo de 10.000mm3; ou abaixo de 20.000mm3 em situações de risco; Se a contagem plaquetária estiver abaixo de 10.000, quase sempre (sempre, salvo em contraindicações- dengue, plaquetopenia imunológica) vou transfundir, mesmo que não haja sangramento ativo grave. Transfundo abaixo de 20.000mm3, em situações de risco, como por exemplo, paciente com febre, paciente tratando neutropenia febril). - Plaquetas abaixo de 50.000mm3, em vigência de sangramento; Se as plaquetas estiverem abaixo de 50.000, mas com sangramento ativo, vou transfundir também, ou, se ele vai precisar fazer algum daqueles procedimentos que precisa estar em 50.000 plaquetas. - Politraumatizados com outras alterações de coagulação ou submetidos a protocolo de transfusão maciça. Abaixo de 50.000 eu transfundo, ou abaixo de 100.000 em vigência de injúria cerebral traumática. - Hemorragia ou pré-operatório, nas deficiências de função plaquetária, transfundir com qualquer contagem; Tem algumas doenças, que veremos na aula de coagulação, que a plaqueta do paciente tem contagem normal, mas ela não funciona. Então, paciente tem plaqueta que não funciona, e, vai precisar fazer uma cirurgia, qualquer que seja, uma colecistectomia eletiva videolaparoscópica, se a plaqueta dele não funciona, tenho que transfundir plaqueta para ele imediatamente antes da cirurgia. - Nas plaquetopenias autoimunes, NÃO TRANSFUNDIR! Exceto em caso de sangramento ativo. Nas plaquetopenias autoimunes não transfundo, Púrpura Trombocitopênica Imunológica (não podemos confundir com PTT), só transfundo em caso de sangramento ativo. - Dengue: Transfundir apenas se plaquetopenia + sangramento ativo. A plaquetopenia associada ao dengue, não é autoimune, mas ela é imunomediada, anticorpo anti vírus dengue faz reação cruzada com antígeno plaquetário. Então, ela é imunológica, do mesmo jeito que é autoimune, só não é autoimune. Vou transfundir, vai consumir toda aquela plaqueta, contagem do paciente não vai subir, e, eu expus ele ao risco de uma transfusão que não vai trazer benefício. Paciente com dengue com uma plaqueta de 10.000, NÃO VOU TRANSFUNDIR. Se não tenho certeza se é dengue ou não, poderia, em teoria, transfundir. Mas se é um caso clássico de dengue, ou dengue confirmada, com NSI positivo, ou já IgM positivo, não vou transfundir. Se não tiver sangrando, sangramento mucoso, sangramento grave, só petéquias, prova do laço positiva, não é para transfundir. Independente da contagem, é para ficar só olhando. Sangramento ativo transfundo com qualquer contagem, se a plaqueta estiver baixa. Paciente sangrando nariz, mesmo que abundantemente, se a contagem plaquetária dele está normal e funciona, não vou transfundir. RESUMO CONTRAINDICAÇÕES: Dengue, plaquetopenia autoimune (essas duas abrangeriam plaquetopenias imunológicas, dengue, febre amarela, tudo isso é plaquetopenia imunológica), ou autoimune, ou imunomediada, de qualquer jeito, então, é imunológica de qualquer forma. Paciente com anemia aplástica, também não devo transfundir, e, nesse caso, transfundiria abaixo de 5.000 plaquetas. Com ou sem sangramentos. OU abaixo de 20.000 com sangramento. Um paciente com aplasia de medula, com plaquetas de 10.000, se não estiver sangrando, seguro, não transfundo, especialmente se é um paciente jovem que vai transplantar depois, como dito na transfusão de concentrado de hemácias, pior a resposta do transplante posteriormente. Já vou colocando esse paciente em contato com antígenos sanguíneos diferentes do que ele tem,e, depois isso vai ajudar a gerar uma “rejeição’, quando ele fizer o transplante depois. FUNÇÃO DA PLAQUETA: Tive uma lesão endotelial, ela vai naquele endotélio lesado fazer o tampão plaquetário, como se fosse “colocar os tijolos” naquele buraco da parede, mas aquilo é frágil, e, conforme o sangue vai circulando ele arranca aquele tampão plaquetário. E então as proteínas da cascata de coagulação vão lá formar aquela rede de fibrina em volta da plaqueta. É como se eu pegasse aqueles tijolos que eu coloquei ali, e, botasse cimento, grudando então um no outro. Tijolos simplesmente apoiados um sobre o outro, quando ventar, aquela parede vai cair, as proteínas da cascata de coagulação, no fim das contas, o fibrinogênio, os multímeros de fibrina serão como um cimento que vai colar um tijolo no outro, e, aquela parede então passou a ser forte, o vento não derruba ela mais. Vou transfundir plaqueta para uma pessoa então, quando ela tiver deficiência de plaqueta. Se a plaqueta dela está boa, mas o que ela tem é deficiência da cascata de coagulação, não adianta transfundir plaqueta, é plasma, e já veremos isso. Por outro lado, se a cascata de coagulação dela está normal, e, o que ela tem é baixa contagem plaquetária, ela vai transfundir plaqueta, não vai transfundir plasma. Na unidade de plasma, não vem plaquetas. Na unidade de plaquetas, não vem fator de coagulação. Um pouco até tem ali perdido, já que não separo 100%, mas nada em quantidade que faça efeito. Plaqueta e a cascata de coagulação funcionam uma interligada com a outra, e, até mesmo, uma ativa a outra. Mas são duas coisas que apesar de interligadas, são completamente diferentes. Se eu tenho só falta de plaquetas, mas a cascata desse paciente funciona bem, a única coisa que esse paciente precisa é de plaquetas, e, por outro lado, da cascata de coagulação. ▪ Dose: DIGITADA POR JÚLIA ROBADEY - Cada unidade de concentrado de plaquetas tem +/- 70ml e validade de 5 dias; Na maioria dos lugares, temos dificuldade para conseguir plaqueta, devido sua validade. No hospital escola de Valença mesmo, não fica plaqueta de rotina, se precisarmos, temos que solicitar para Barra Mansa. Uma bolsa de plaquetas doadas, no Rio, por exemplo, o HEMORIO demora 3 dias para dizer se aquela unidade é positiva ou negativa para HIV, Hepatite, Sífilis, etc, então, só posso usar a bolsa após sair a sorologia negativa, e, então, tenho basicamente 2 dias para usar aquela bolsa, do contrário, ela vai para o lixo. Porque como a plaqueta não fica em geladeira, não pode, o ar condicionado é até friozinho mas “”ainda é quente””, 17/18°c, entendo que depois de 5 dias, aquilo ali, possivelmente, virou meio de cultura. E, então, ela será descartada. Como nossa utilização de plaquetas em Valença é pequena, passamos as vezes semanas sem precisar transfundir uma plaqueta, nosso descarte de plaquetas seria de toda semana descartarmos plaquetas, e, como isso é uma coisa preciosa que falta, nenhum hospital pode se dar ao luxo de jogar plaqueta fora por validade vencida. Quando precisamos, Barra Mansa, que é o banco de sangue que abastece a nossa agência transfusional, manda então para a gente. A dose é de uma unidade para cada 10kg de peso. Até 60kg. - 1 unidade para cada 10kg de peso; A dose é de uma unidade para cada 10kg de peso. Até 60kg. Um paciente gordinho que pesa 90kg, 6 unidades. Passou de 60kg, paro em 6 unidades. Porque a literatura não vê benefícios em aumentarmos mais que 6 unidades. - 10-15ml/kg, em pacientes <10kg; Para pediatria, o mesmo 10-15ml que guardamos para hemácias, é o que vale para plaquetas. Crianças menores que 10kg, lactentes. Para crianças com mais de 10kg, vale a mesma dose do adulto, 1 unidade para cada 10kg de peso. - 6 unidades em “pool” bastam para um adulto; - Preferencial/ respeitar o grupo sanguíneo; Não é obrigatório, respeitar o mesmo grupo sanguíneo, é só preferencial. - Plaquetas obtidas por plaquetaférese: basta 1 unidade (entre 200 e 300ml); Existe uma técnica de coleta de plaquetas, que a pessoa doa só plaquetas, em uma máquina especial de coleta, que colhe só plaquetas, e, devolve para o doador, a hemácia, o plasma, as outras coisas. Faço uma bolsa de plaquetas grande, que uma bolsa só daquela equivale a 6,7,8 unidades da plaqueta pequena. Quando doamos sangue total, daquele sangue total, será obtido uma unidade de plaqueta randômica, e, junto então 6 unidades para transfundir uma pessoa. Essa pessoa foi exposta a 6 doadores diferentes. Tanto em termos de antígenos diferentes, para sensibilizar meu sistema imunológico, quanto em termo de risco de doenças, estou sendo exposta a 6 doadores diferentes, ao passo que plaquetas obtidas por plaquetaférese, estou sendo exposto a um doador apenas. Então, o que é feito pelos hematologistas é que aquele paciente com doença hematológica que vai transfundir plaqueta muitas vezes ao longo da vida, transfundo plaquetas por aférese. Aquele paciente que está transfundindo uma vez, porque foi atropelado, levou uma facada, e, nunca mais vai precisar transfundir, provavelmente, aí que ele usa plaqueta randômica. DÚVIDA DE AULA: Gestação e transfusão prévia sensibilizam o organismo da mulher do mesmo jeito. Já que temos os anticorpos incompletos, que só serão expressos no organismo se eu tiver uma sensibilização prévia (transfusão ou gestação prévia, por exemplo, já fui sensibilizada por um C, e, supondo que eu não tenha C, desenvolvi um anticorpo anti C, se aquela minha hemácia, plaqueta, seja lá o que for, for utilizado em um paciente com C-, porque vai um pouco de plasma, o anticorpo não está na hemácia, está no plasma, mas quando coleto plaqueta por aférese, fica uma quantidade considerável de plasma ali, que o aparelho não é capaz de separar. Então, toda hemácia obtida por aférese, ela tem uma quantidade considerável de plasma do doador). O anticorpo anti A e anti B, por exemplo, eu já nasci com ele. Se eu sou O+, naturalmente, eu já tenho no meu organismo anti A, anti B, mesmo que eu nunca tenha entrado em contato. Então, se você me transfundir uma hemácia A, vai hemolisar aquilo tudo, podendo levar até ao óbito. Cada plaqueta colhida por aférese, o custo é de cerca 1000 reais, então, colho uma plaqueta que pode me dar problema, por isso, tem essa restrição em mulheres que já gestaram para não doar, e, pessoas com transfusão prévia. TRALI: Imunidade celular relacionada ao doador, faria sequestro de neutrófilos no pulmão, causando lesão pulmonar aguda relacionada a transfusão. Semelhante a um edema agudo cardiogênico. TRALI está mais relacionado com plasma, que é o próximo que será falado. PLASMA FRESCO CONGELADO ▪ Indicações: - Reposição de múltiplos fatores da coagulação ou quando não existem os concentrados de fatores específicos; Quando eu quero transfundir múltiplos fatores da coagulação ao mesmo tempo, ou quando não existe concentrado de fatores específicos. Por exemplo, se tenho deficiência de fator V da coagulação (raríssimo mas existe), não tenho fator V recombinante para utilizar, então, se esse paciente estiver sangrando, ou for fazer uma cirurgia, ele tem que repor plasma para eu dar o fator V através do plasma. - NÃO deve ser usado como expansor plasmático (colóide); - CIVD com sangramento ativo; - Protocolos de transfusão maciça. Paciente que sangrou, perdeu 3 litros, 3 litros e meio de sangue, ele não perdeu só hemácias, ele perdeu também fator de coagulação. E, então, estou dando hemácia para ele, supondo um acidente de moto, com amputação traumática ao nível da coxa, o ortopedista ou vascular foi lá, e, corrigiu cirurgicamente. O paciente vai para o UTI pós-operatório e fica sangrando ativamente pelo coto da amputação. Não necessariamente isso ocorre porque o cirurgião errou, a coagulação dele a nível capilar não está funcionando porque não tem fator de coagulação. Então, aquela hemostasia do ato cirúrgico, é feita para hemostasia de grandes vasos, no pós-operatório, se tem um capilar sangrando,isso não é culpa do cirurgião, é o que chamamos de “Sangramento não cirúrgico ou microvascular”, e, tem relação com deficiência de fator da coagulação. No caso, daria hemácia e plasma, hemácia DIGITADA POR JÚLIA ROBADEY para repor a hemácia que o paciente perdeu, e, plasma para repor os fatores de coagulação que o paciente perdeu. Quem sangra, perde sangue total, não perde só hemácia. - Usuários de antagonista da Vitamina K (Marevan ®); CCP é preferível, se disponível (maioria dos serviços do SUS não está disponível); CCP é “Concentrado de Complexo Protrombinico”, é um concentrado industrialmente produzido que contém os fatores II, VII, IX, X. Então, um paciente que toma Marevan, supondo que ele tentou suicídio, e, tomou a caixa inteira de Marevan de uma vez só, chagou a emergência com sangramento ativo, vou transfundir plasma para ele, porque os fatores da coagulação vitamina K dependentes que são II, VII, IX e X, desse paciente, não funcionam pelo uso do Marevan. Vou fazer, obviamente, Vitamina K para ele, já que a vitamina K dele não funciona. O Marevan está ligado na Vitamina K naquele local que ela se ligaria no fator de coagulação. Então, a vitamina K não vai ligar no fator da coagulação, para quem usa Marevan, Varfarina, com isso, o fator da coagulação não funciona. Essa ligação é irreversível, e aquela vitamina K não é capaz de ativar aquele fator da coagulação. Quando um usuário de Varfarina, Cumarínico, chega na emergência com INR alargado e sangrando, vou fazer vitamina K, e, vou dar plasma para ele, para fazer aquela interação, vitamina K e fator de coagulação, que naquele paciente, naquele momento, não está funcionando. - Nos politraumatizados, com sangramento anormal ou alargamento do TAP; É o paciente em transfusão maciça. Sangramento anormal seria o sangramento não cirúrgico ou microvascular. Um paciente que lesou a femoral, e, está sangrando pelo buraco que fez na femoral, isso não é sangramento anormal. Isso é um sangramento esperado para aquele caso, mas, no momento que o vascular rafiou a femoral, corrigiu as lesões grandes, e, o paciente continua sangrando pela ferida operatória, isso é o sangramento anormal. - Hemorragias nas hepatopatias; Ou um paciente portador de hepatopatia crônica, está sangrando e já tem um alargamento do TAP pela cirrose hepática. - Púrpura Trombocitopênica Trombótica. Pilar do tratamento é transfusão de plasma em altas doses, como foi dito na aula de Microangiopatias Trombóticas. A dose de plasma que será falada a seguir, não é a dose de PTT, a dose de PTT é bem maior 45 a 60 ml/kg. ▪ Administração e dose (*importante): - 10 a 20ml/kg por dose; o intervalo depende do fator que se quer repor, e, se persiste ou não o sangramento; Para um adulto de 60kg, o mínimo é 600ml, o máximo 1200. Se uma unidade tem mais ou menos 200ml, o mínimo que vou ter que pedir para um adulto de 60kg é 6 unidades. Então, pedir uma unidade de plasma, a menos que seja um paciente pediátrico, é erro de prescrição. Em teoria, é uma dose só. Protocolo de transfusão maciça é outro departamento, é 1:1, quantas unidades que eu vou usar não importa, até o paciente parar de sangrar. Aí é protocolo de transfusão maciça, que iremos falar detalhadamente sobre isso em Urgência e Emergência no período que vem. Para criança a dose é a mesma 10/20ml/kg/dose. Por exemplo, paciente usuário de Marevan, vai fazer uma dose só, colho INR dele depois que fiz o plasma, se ele parou de sangrar, e, o INR dele corrigiu, veio menor que 1,5, não vou fazer uma nova dose de plasma, vou só observar. Se eu vou repetir o plasma depois de algumas horas ou não, depende de qual situação clínica se trata. - Cada unidade +/- 200ml; - A validade é de 1 ano se conservado entre -20°c, e -30°c; Temperaturas inferiores a -30°c aumentam a validade para 24 meses. CRIOPRECIPITADO ▪ Composição: - É o precipitado obtido através do descongelamento do plasma; Pego uma bolsa de plasma, descongelo, com equipamento específico, e, quando ela está em 4°c, 5°c, por ai, vou ter um sobrenadante, e, um precipitado. Esse precipitado que eu produzo com o descongelamento do plasma chama-se crioprecipitado. Separo cada um em uma bolsa, e, vou ter uma bolsa pequena, de 15 a 20ml, e, ele é rico basicamente em Fibrinogênio. Uma bolsa de plasma, obviamente, também tem fibrinogênio, mas uma bolsa de plasma tem 200ml de conteúdo, uma bolsa de crio tem no máximo 20, 10 vezes menos. Primeiro que, dependendo da situação clínica, vou precisar de 6, 7 bolsas para dar uma quantidade de fibrinogênio adequada. 6, 7 bolsas de plasma têm quantos ml? E então, temos duas questões, se o meu paciente, a menos que esteja com sangramento ativo, hemodinamicamente aguenta esse ml todo de transfusão, lembrando que não é soro, é uma coisa viscosa, grossa, que é o hemocomponente. Um paciente idoso, dependendo situação clínica, não aguenta 1,5L, por aí de transfusão, então, para eu dar para ele a quantidade de fibrinogênio através do plasma, vou ter que transfundir quanto de plasma? E, além do paciente as vezes não aguentar, quanto tempo demora para isso correr? Horas. Já que isso é viscoso, não corre tão rápido quanto um soro. Com o crio, pelo volume ser pequeno, consigo transfundir 6, 7 bolsas de crio em um tempo menos do que eu demoraria para transfundir uma bolsa de plasma, e, o volume, também é muito menor. - Rico em FXIII, FVIII, fator de Von Willebrand, FIBRINOGÊNIO, e, Fibronectina; O que o não hematologista precisa saber, é que ele é um hemocomponente rico em Fibrinogênio. Então, o objetivo de se transfundir crioprecipitado para uma pessoa é reposição de fibrinogênio. - Fibrinogênio humano liofilizado substitui CRIO, na maioria dos casos. A dose do fibrinogênio liofilizado para o adulto é de 2g/ dose. OBS: No paciente, por exemplo, vítima de hemorragia aguda grave, o protocolo é hemácia + plasma, mais ou menos, na proporção de 1:1. Já que, estou dando fibrinogênio também, porque cada bolsa de plasma tem um pouco, não preciso me preocupar com sobrecarga volêmica, porque o paciente está sangrando, então vai acontecer isso. E, se logo quando ele começou a perder fator de coagulação, já dei o plasma para ele, ele não chegou a abaixar tanto assim o fibrinogênio dele, e, então, aquelas bolsas de plasma que eu fiz com um pouco de fibrinogênio que tem em cada uma, foi suficiente para repor. Agora, se for um paciente que DIGITADA POR JÚLIA ROBADEY já depletou tanto fibrinogênio que preciso repor de forma urgente, aí o crio é mais rápido, já que o volume é menor. Ou um paciente que está repondo fibrinogênio por outra causa, não por sangramento grave, e, ele não vai aguentar esperar aquele tempo, nem o volume de todo aquele plasma. ▪ Cascata da coagulação: - Fibrinogênio é o último já da cascata, que vai fazer monômeros e polímeros de fibrina para fazer a rede que vai manter o tampão plaquetário estável, formando então um coágulo propriamente dito. ▪ Indicações e doses: - Indicada reposição de fibrinogênio se o nível sérico estiver abaixo de 150mg/dL; Paciente chegou com politraumatismo, sangrando, e, a dosagem do laboratório veio menor que 150, além de dar hemácia + plasma, já vou fazer também fibrinogênio liofilizado ali. No brasil, não costumamos dosar fibrinogênio, então transfundo crio quando tenho deficiência presumida de fibrinogênio. Paciente que está sinalizando isso para mim é aquele paciente com sangramento não cirúrgico microvascular. Amputação traumática da perna, o cirurgião corrigiu, e, o paciente está sangrando pelo coto de amputação. Chamo cirurgião vascular, ele revê, e, vê que fez tudo certo, mas o paciente está sangrando pela ferida operatória em si. É aquele paciente que o laboratório vai colher amostra de sangue dele para exame, e, ele fica sangrando pelo local de punção. Puncionei uma veia profunda dele, e, ele está sangrando pelo sítio da punção profunda. Passou um cateter para sondagem vesical, e, ele sangrou na horade introdução do cateter, isso indica sangramento não cirúrgico ou microvascular, e, isso é fortemente indicativo de hipofibrinogenemia. Então, no Brasil, justificamos no prontuário que não temos dosagem de fibrinogênio no SUS, mas o paciente está apresentando tais sinais, e, por isso, você optou por transfundir uma dose de crioprecipitado. - Indicada reposição do fator XIII na ausência do concentrado de fator específico; - Dose de 1U para cada 10kg/ peso; meia-vida de alguns dias (XIII e fibrinogênio). Mesma dose da plaqueta. Se o paciente passou de 60kg, continuo aumentando, não paro em 6 unidades como era na plaqueta. Se pesa 80kg, 8 unidades. Isso é de peso predito, se é uma mulher baixinha, que pesa 120kg porque tem obesidade importante, não vou transfundir 12 unidades. Vou escolher alguma coisa entre o peso predito, e, o peso real daquela pessoa.
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