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Texto complementar às aulas da disciplina Extinção da Punibilidade Prof. Caupolican 1 1. REABILITAÇÃO 1.1 CONCEITO É possível afirmar que a reabilitação é a declaração judicial de que o condenado cumpriu as obrigações impostas na sentença condenatória, estando apto a exercitar seus direitos individuais e sociais, assegurando o sigilo sobre o processo e sobre a condenação. O instituto restabelece o exercício de alguns direitos atingidos pela sentença condenatória, estimulando a regeneração do condenado, facilitando sua readaptação no convívio social. Em razão da sua natureza e pressupostos, só se fala em reabilitação quando houver sentença condenatória com trânsito em julgado. 1.2 EFEITOS DA REABILITAÇÃO O sigilo sobre a condenação e o processo é o principal efeito da reabilitação, porém ele cede em face de ordem judicial, de requisição do Ministério Público ou da Autoridade Policial, no caso de processo ou de investigação criminal. Outro efeito da reabilitação é a suspensão dos efeitos da condenação previstos no artigo 92 do CP. Porém no caso de perda de cargo, função ou mandato eletivo, bem como a incapacidade para exercer o poder familiar, a tutela e a curatela, é vedada a reintegração na mesma situação. Sendo assim, é possível a reabilitação para ocupação de cargo, função ou mandato eletivo, desde que não seja o mesmo anteriormente ocupado, como também exercer o poder familiar, tutela ou curatela em relação a outra pessoa que não tenha sido a vítima da condenação. A reabilitação não afasta os efeitos da reincidência, deste modo, mesmo que reabilitado, mas não decorrido o prazo prescricional da reincidência, o sentenciado poderá ser considerado reincidente se cometer novo crime dentro do prazo do artigo 64, I do Código Penal. Boa parte da doutrina penal considera o instituto da reabilitação obsoleto, isso em razão do artigo 202 da Lei e Execução Penal – LEP, onde está dito que "cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha corrida, atestados ou certidões fornecidas por autoridade policial ou por auxiliares da Justiça, qualquer notícia ou referência à condenação, salvo para instruir processo pela prática de nova infração penal ou outros casos expressos em lei". Por força desse dispositivo, uma vez cumprida ou extinta a pena, o egresso já tem direito ao sigilo, sem precisar aguardar o prazo para requerer sua reabilitação. Por isso boa parte da doutrina penal considera obsoleto instituto da reabilitação. Ocorre que o dispositivo do art. 202 da LEP assegura o sigilo quanto a condenação, a regra não fala em processo. Já o dispositivo do art. 93 do CP, que define o Texto complementar às aulas da disciplina Extinção da Punibilidade Prof. Caupolican 2 instituto da reabilitação, assegura o sigilo não só da condenação como também do processo, ou seja, é mais abrangente que o texto da LEP. 1.3 PRESSUPOSTOS Para a concessão da reabilitação é necessário o decurso do prazo de dois anos do dia em que for extinta a pena ou do término de sua execução. Para preencher esse pressuposto pode ser computado o período de prova do sursis e do livramento condicional, desde que não revogados. Com relação ao prazo para a concessão do beneficio, a lei não faz distinção entre o condenado reincidente e não reincidente, em ambos os casos, o prazo é de dois anos. Além desses pressupostos, se torna necessário também os seguintes requisitos, todos definidos nos incisos do art. 94 do CP: CP Art. 94 (...): I - tenha tido domicílio no País no prazo acima referido; II - tenha dado, durante esse tempo, demonstração efetiva e constante de bom comportamento público e privado; III - tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstre a absoluta impossibilidade de o fazer, até o dia do pedido, ou exiba documento que comprove a renúncia da vítima ou novação da dívida. A demonstração de bom comportamento nos âmbitos público e privado, durante esse prazo, será provada por meio dos atestados, conforme artigo 744 do CPP. A reparação deve se dar da maneira mais completa possível, visando recompor o patrimônio do lesado. Porém, no caso de impossibilidade de reparar o dano, não é necessário comprovar sua absoluta insolvência, mas demonstrar que no momento não tem condições de efetuar o ressarcimento. 1.4 REVOGAÇÃO A revogação pode se dar por iniciativa do juiz ou a requerimento do órgão do Ministério Público. O recurso cabível da decisão que revoga a reabilitação é a apelação. A nova condenação, para ensejar a revogação, deve atribuir pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos. A aplicação apenas da pena de multa não Texto complementar às aulas da disciplina Extinção da Punibilidade Prof. Caupolican 3 pode ensejar a revogação da reabilitação. Desde que preenchidos os pressupostos e requisitos legais, nada impede, mesmo diante da revogação, que seja feito novo pedido de reabilitação. 2. MEDIDA DE SEGURANÇA As medidas de segurança, assim como as penas, são espécies de sanção penal, ou seja, uma das reações penais destinadas à prevenção da criminalidade. De natureza preventiva, visa preservar a sociedade de condutas consideradas socialmente perigosas e recuperar os perigosos com tratamento, evitando que um sujeito perigoso cometa novo delito. Existem várias diferenças entre as penas e as medidas de segurança: a) a aplicação da pena tem como fundamento a culpabilidade, ao passo que a medida de segurança se assenta na periculosidade; b) as penas possuem natureza preventiva e retributiva. As medidas de segurança são apenas preventivas; c) as penas têm prazo de duração e são fixas, enquanto as medidas de segurança não possuem prazos finais de duração, perdurando sua aplicação enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. Porém nesse caso, apesar desse ser o discurso legal, há interpretações jurisprudenciais que fixam prazo às medidas de segurança, o que veremos mais a frente; d) as penas são proporcionais à gravidade da infração praticada ao passo que as medidas de segurança têm sua proporcionalidade relacionada com a periculosidade do agente; e) aplicam-se as penas aos imputáveis e aos semi-imputáveis, já as medidas de segurança são aplicáveis aos inimputáveis e aos semi-imputáveis que necessitarem de tratamento curativo especial; 2.1 SISTEMA ADOTADO NO CÓDIGO PENAL De acordo com o sistema adotado na lei anterior, as medidas de segurança eram aplicadas isoladamente aos inimputáveis, e cumulado com penas, aos semi-imputáveis e aos imputáveis considerados perigosos. Esse sistema é conhecido como duplo binário. Com a reforma penal, substituiu-se o sistema do duplo binário pelo sistema vicariante, que conduz a aplicação ou de medida de segurança ou de pena. Não se admite a aplicação e a execução cumulativa das duas reações penais. 2.2 PRINCÍPIOS APLICADOS À MEDIDA DE SEGURANÇA Vige em relação às medidas de segurança, a partir de uma interpretação Texto complementar às aulas da disciplina Extinção da Punibilidade Prof. Caupolican 4 que podemos dizer garantista do sistema penal, os mesmos princípios atinente às penas. Mesmo sem determinação expressa a respeito, as medidas de segurança obedecem ao princípio da tipicidade penal, ou seja, não é possível impor medida de segurança a condutas que não estejam previstas anteriormente em lei. Vige também o princípio da humanidade, pois todas as sanções previstas no ordenamento têm a dignidade da pessoa humana como princípio orientador, sendo assim, as regras institucionais e constitucionais instituídas em favor do preso e do acusado, valem também para o indivíduo submetido a uma medida de segurança. O princípio da retroatividade da lei mais benéfica também atinge asmedidas de segurança. 2.3 PRESSUPOSTO A aplicação da medida de segurança tem como pressuposto a prática de um fato previsto como crime e a periculosidade do agente. Embora o Código Penal referir-se à prática de crime, a medida de segurança também é aplicável no caso de contravenções, conforme artigo 13 da Lei de Contravenções Penais. Por essa forma, se o agente agiu acobertado por uma causa excludente de antijuridicidade, não se aplica pena nem medida de segurança, uma vez que não há crime a punir. Do mesmo modo, não havendo provas suficientes, seja quanto à autoria ou materialidade, não será aplicado medida de segurança. Extinta a punibilidade do fato delituoso também não se impõe medida de segurança, nem subsiste a que foi imposta. Por essas aduções, é importante registrar que para que uma medida de segurança seja atribuída ao agente perigoso, é preciso que fique demonstrado que o fato é típico, é ilícito e é punível. 2.4 ESPÉCIES O Código Penal prevê duas espécies de medidas de segurança. a) DETENTIVA, que consiste na internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, ou à falta em estabelecimento adequado. b) RESTRITIVA, que consiste em sujeição do agente a tratamento ambulatorial. A internação aplica-se obrigatoriamente aos inimputáveis absolvidos com fulcro no artigo 26, CP, e que tenham praticado um fato definido como crime apenado com reclusão. Facultativamente, aplica-se aos inimputáveis que praticaram fato tido como crime, porém, punido com pena de detenção, bem como aos semi-imputáveis. Já o tratamento ambulatorial é conferido aos inimputáveis que praticam fato previsto como crime punido com pena de detenção. Texto complementar às aulas da disciplina Extinção da Punibilidade Prof. Caupolican 5 É garantida a liberdade de contratação de médico de confiança, tanto ao internado como ao submetido a tratamento ambulatorial, através de seus familiares ou dependentes, a fim de orientar e acompanhar o tratamento. Caso haja divergências entre o médico oficial e o particular, estas serão resolvidas pelo Juiz de execução. 2.5 PRAZO O prazo mínimo de execução da medida de segurança, tanto para a internação como para o tratamento ambulatorial, será de um a três anos, independente do ilícito praticado. Esse prazo não guarda nenhuma relação com a quantidade da pena privativa de liberdade que seria imposta ao autor do fato. É fixado de acordo com o grau de periculosidade do agente e o tempo necessário para o tratamento. A lei estabelece o prazo mínimo, mas não menciona o termo final. Segundo o texto legal a medida de segurança deve perdurar enquanto não for averiguada a cessação da periculosidade. Em hipótese alguma, pode o juiz fixar um limite mínimo inferior ou superior ao previsto em lei. Apesar de não haver prazo máximo legalmente definido para a medida de segurança, a jurisprudência dos tribunais superiores vêm estabelecendo limites para o cumprimento da medida. O STJ editou o enunciado de súmula 527, estabelecendo que: STJ Enunciado de Súmula Nº 527: O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado. É possível observar que o STJ estabeleceu como limite temporal o prazo máximo da pena associada ao tipo penal violado. Já o STF sugere uma outra leitura quanto a esse prazo máximo da medida de segurança. Apesar do STF não ter sumulado a matéria, mas sua jurisprudência é no limite de que a medida de segurança não deva perdurar por um prazo superior a 30 (trinta) anos. Veja-se jurisprudência do STF. STF 1.O entendimento do STF é no sentido de que "a medida de segurança deve perdurar enquanto não haja cessado a periculosidade do agente, limitada, contudo, ao período máximo de trinta anos" (HC 97.621, Rel. Min. Cezar Peluso). (...) (STF; HC-AgR 201.120; SP; Primeira Turma; Rel. Min. Roberto Barroso; DJE 26/08/2021; Pág. 54) Texto complementar às aulas da disciplina Extinção da Punibilidade Prof. Caupolican 6 É importante ressaltar que para estabelecer esse limite de prazo o STF utilizou como argumento o tempo máximo previsto para cumprimento de pena no Brasil, que, segundo a redação do artigo 75 do CP antes da reforma de 2019, era de 30 anos. Com a reforma do art. 75 do CP, passando o limite máximo de cumprimento de pena para 40 anos, é possível que o STF aperfeiçoei seu entendimento, no caso fatos realizados após a reforma, para, quanto a esses, atualizar seu entendimento de limite máximo para 40 anos. Findo o prazo mínimo estabelecido, o agente será submetido à perícia. Esse procedimento visa verificar a cessação da periculosidade, devendo limitar-se apenas à análise da melhora ou não da doença. Constatada a permanência da doença, novas perícias serão realizadas de ano em ano ou em face de determinação judicial, podendo ainda ocorrer em qualquer tempo se houver elementos que justifiquem a antecipação do exame, conforme artigo 176 da LEP. 2.6 LIBERAÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA Verificada a ausência de periculosidade, será determinada a desinternação ou liberação, concedidas em caráter condicional no prazo de um ano. Se durante esse período, o sujeito cometer qualquer fato que indique a persistência da periculosidade, será restabelecida a situação anterior. Findo esse período, extingue-se a medida de segurança. 3. PUNIBILIDADE Com a realização da ação proibida surge o "jus puniendi", ou seja, o direito subjetivo do Estado de impor a pena ao transgressor da norma penal. Existe um debate sobre a punibilidade integrar ou não o conceito de crime. No Brasil a maioria dos autores entendem que a punibilidade não integra o conceito de crime. Há casos ainda que o direito do Estado punir não surge com a prática da conduta típica, ilícita e culpável. São as hipóteses denominadas como condição objetiva de punibilidade e escusa absolutória. Todavia, existem situações em que, apesar da punibilidade surgir, essa pode ser extinta em razão de causas legalmente definidas. São as chamadas causas extintivas da punibilidade. 3.1 EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE O Código Penal, traz em seu artigo 107, algumas causas extintivas da punibilidade. É um rol exemplificativo, visto que existem outras no aludido diploma, como também em leis especiais. Um exemplo é a lei dos Juizados Especiais Criminais, onde é previsto que decorrido o prazo da suspensão condicional do processo sem sua Texto complementar às aulas da disciplina Extinção da Punibilidade Prof. Caupolican 7 revogação, extingue-se a punibilidade. (artigo 89, parágrafo quinto da Lei nº 9.099/95). Algumas das causas extintivas de punibilidade decorrem da iniciativa do Estado (indulto, graça), outras da vontade do ofendido (perdão, renúncia), ou ainda, da vontade do agente (retratação, ressarcimento do dano). Algumas têm origem em acontecimentos naturais (morte), outros derivam de fatos complexos como o decurso do tempo e a inércia do titular do direito (decadência, prescrição). Há causas de extinção gerais ou comuns, que podem ocorrer em qualquer delito (prescrição) e causas especiais ou particulares, que se referem a determinados delitos, como a retratação do agente nos crimes contra honra. É importante ressaltar que a causa extintiva de punibilidade pode ocorrer antes do processo ou em qualquer fase desse, e o Código de Processo Penal diz que o juiz poderá reconhecer de ofício ou a requerimento das partes, as causas extintivas da punibilidade. (artigo 61, CPP). Ainda, a extinção da punibilidade pode ocorrer antes da sentença condenatória, atingindo o próprio direito de punir, não permanecendo qualquer efeito da condenação (como a decadência e a prescrição da pretensão punitiva). Em alguns casos pode eventualmente permaneceralguns dos efeitos secundários da condenação, como se vê no caso do perdão judicial. Porém, outras ocorrem depois da sentença condenatória, e, em regra, apenas o título executivo será extinto, perdurando os efeitos secundários da condenação, ou seja, somente a pena não será aplicada. Contudo, em certos casos, todos os efeitos da sentença penal condenatória desaparecerão, como na hipótese da anistia e da abolitio criminis. 3.2 CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PREVISTAS NO ART. 107 DO CÓDIGO PENAL 3.2.a) MORTE A primeira causa extintiva da punibilidade enumerada no artigo 107 do CP, é a morte do agente. De acordo com a Constituição Federal, a pena não passará da pessoa do condenado (artigo 5º, XLV, CF), e segundo o princípio mors ominia solvit (a morte apaga tudo), a morte extingue a punibilidade do agente, independente do momento em que ocorra, seja antes ou depois da sentença. Em razão disso, nenhuma pena poderá ser transferida para os herdeiros. Contudo, perduram os efeitos civis a cargo dos herdeiros, pois a morte não extingue a obrigação de reparar o dano causado pelo cometimento do crime. Mas, essa transferência aos herdeiros, que ocorrerá com a herança, é limitada ao valor e à aceitação da herança. A prova da morte é obtida através da certidão de óbito, em conformidade com o previsto no artigo 62, do CPP. Não bastando a declaração judicial de ausência (artigos 22 e seguintes do Código Civil). Todavia, a extinção da punibilidade pode se dar pela morte presumida, Texto complementar às aulas da disciplina Extinção da Punibilidade Prof. Caupolican 8 com base no artigo 7º do CC, sem decretação de ausência, quando for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; ou se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Se a extinção da punibilidade se deu com base em atestado de óbito falso, a literatura penal e parte da jurisprudência entendem que não poderá reverter-se a sentença transitada em julgado, pois no nosso ordenamento, não se admite a revisão pro societate. Na hipótese, somente seria possível intentar ação penal pelos crimes de falsidade ou de uso de documento falso. Porém já existe entendimento jurisprudencial que a decisão declaratória extintiva da punibilidade baseada em atestado falso não faz coisa julgada, portanto poderia ser revista a qualquer tempo. Independente do crime cometido, a morte não se comunica aos demais, visto que é causa pessoal de extinção da punibilidade. 3.2.b) ANISTIA, GRAÇA E INDULTO A anistia, a graça e o indulto são formas de indulgência soberana. É o beneficio concedido ao autor do crime ou ao condenado por órgãos alheios ao Poder Judiciário. A anistia é a forma mais ampla de clemência, visando fazer desaparecer a reprovação do fato punível e a perdoar os seus autores, impedindo o reconhecimento da reincidência diante de ilícito futuro. Ressalte-se que a anistia apaga o fato criminoso, permanecendo íntegro o tipo penal. Deste modo, embora haja o esquecimento do tipo penal em determinado momento histórico, não ocorre à extinção do tipo, devendo ser aplicado normalmente aos crimes praticados e não atingidos pela anistia. A anistia destina-se a fatos e não a pessoas. ANISTIA Em regra, a anistia aplica-se aos crimes políticos (anistia especial), porém, pode abranger outros tipos de ilícitos (anistia comum). Compete à União, através do Congresso Nacional, sua concessão, com a sanção do Presidente da República (artigos 21, XVII e 48, VIII, da CF). A anistia opera ex tunc, ou seja, retroativos, fazendo desaparecer o crime e extinguindo seus efeitos penais. Todavia, os efeitos civis da condenação não desaparecem, permanecendo a responsabilidade civil pelos danos causados (dever de indenizar, perdimento dos instrumentos ou produtos do crime). Concedida a anistia, será declarada extinta a punibilidade de oficio pelo juiz, a requerimento do interessado ou do Ministério Público, por proposta da autoridade administrativa ou do Conselho Penitenciário. ANISTIA PRÓPRIA, IMPRÓPRIA, PLENA, RESTRITA, CONDICIONADA E INCONDICIONADA A anistia pode ser concedida a qualquer momento. Se concedida antes da condenação, ou seja, durante o curso da ação penal ou mesmo antes de sua instauração, Texto complementar às aulas da disciplina Extinção da Punibilidade Prof. Caupolican 9 chama-se própria. Se concedida após a condenação transitada em julgado ou em grau de recurso, recebe o nome de imprópria. Se beneficiar os autores de determinado crime indistintamente diz-se geral ou plena, caso beneficie determinados autores de crimes específicos, a anistia será restrita. Quando concedida sem se estabelecer qualquer condição, será incondicionada, caso contrário, será condicionada. A anistia condicionada poderá ser recusada por aquele que não concordar com as condições impostas pela lei que a concedeu. Uma vez aceita, não poderá ser revogada (CF, artigo 5º, XXXVI). O descumprimento das condições impostas não ensejará a revogação, podendo o anistiado responder pelo ilícito previsto no artigo 359, do CP. CRIMES INSUSCETÍVEIS DE ANISTIA, GRAÇA E INDULTO São insuscetíveis de anistia, graça ou indulto, os crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes, terrorismo e os hediondos, consumados ou tentados (CF, artigo 5º, XLIII). GRAÇA E INDULTO A Constituição Federal não se refere mais à graça, tratando apenas da figura do indulto (CF, artigo 84, XII). Por este motivo, a Lei de Execução Penal passou a tratá-la como indulto individual. Sua principal característica é favorecer pessoa determinada. O indulto individual extingue somente a punibilidade quanto ao crime definido no decreto de concessão, permanecendo os demais efeitos, sejam penais ou civis, da condenação. Destina-se aos crimes comuns, sendo de competência do Presidente da República, só podendo ser concedido depois da condenação. O indulto individual ou graça pode ser total, caso em que alcança todas as sanções impostas pela sentença, extinguido a punibilidade, ou parcial, com a redução ou substituição da sanção, operação que recebe o nome de comutação. Poderá ser provocada por petição do condenado, de qualquer pessoa do povo, do Conselho Penitenciário, ou do Ministério Público, ressalvada, entretanto, ao Presidente da República, a faculdade de concedê-la espontaneamente. O indulto propriamente dito é uma medida de caráter coletivo e espontâneo, não necessitando de solicitação. A competência para indultar é do Presidente da República, podendo delegar essa atribuição ao Ministro do Estado, ao Procurador Geral da República ou ao Advogado Geral da União, respeitado os limites estabelecidos para tanto, conforme artigo 84, parágrafo único da CF. O indulto deverá ser apreciado pelo Poder Judiciário a fim de verificar se determinada pessoa poderá ser beneficiada. A concessão do indulto não restitui ao condenado a condição de primário. Assim como no indulto individual, poderá ser total, extinguindo a punibilidade, abrangendo todas as sanções impostas ao condenado ou ainda, ser parcial, Texto complementar às aulas da disciplina Extinção da Punibilidade Prof. Caupolican 10 quando não há propriamente extinção da punibilidade e sim apenas uma diminuição ou substituição da reprimenda (comutação). Admite-se a soma de penas que correspondam a delitos autônomos para a concessão do beneficio. Pode atingir quem esteja no gozo de suspensão condicional da pena ou de livramento condicional. O indulto extingue somente as sanções mencionadas no decreto, permanecendo os demais efeitos da sentença. Não pode ser recusado, a não ser que se trate de comutação da pena, ou seja, de indulto condicionado. Pode ser concedido mesmo que a sentença não tenha transitadoem julgado para o réu, desde que já tenha transitado em julgado para a acusação. Nesses casos o indulto não prejudica o julgamento da apelação. Concedido, o indulto ou a graça, e anexado nos autos cópia do decreto, o juiz declarará extinta a pena ou ajustará a execução aos termos do decreto no caso de comutação. 3.2.c) ABOLITIO CRIMINIS Traz o inciso III do artigo 107 do CP, a extinção da punibilidade pela ocorrência da abolitio criminis, ou seja, a nova lei deixa de tipificar a infração penal, devendo retroagir para beneficiar o autor do fato anteriormente tido como delituoso, cessando todos os efeitos advindos da aplicação da lei anterior. Não teria sentido manter a punição ao fato que não mais atinge a consciência ético-jurídica. A extinção da punibilidade deve ser declarada de oficio pelo juiz, independente da fase em que se encontre o processo (artigo 61, CPP). Ocorrendo a abolitio criminis, se tiver havido condenação, o condenado, se preso deverá ser solto, terá seu nome riscado do rol de culpados, o fato não poderá constar de sua vida pregressa, não deverá cumprir o sursis, voltará à condição de primário, ou seja, todos os efeitos penais deverão desaparecer. Ressalvam-se os efeitos civis da condenação, restando obrigado a reparar o dano decorrente do crime. Somente a lei em sentido estrito, emanada originalmente do poder legislativo, é possível gerar a abolitio criminis, sendo vedada à ocorrência por meio de medida provisória. 3.2.d) DECADÊNCIA A decadência, outra causa extintiva da punibilidade, nada mais é do que a perda do direito de ação pelo decurso do tempo (artigo 103, CP). Quando tratar de ação de iniciativa privada, atinge o direito de iniciar o processo através da queixa, ou de oferecer a representação, ou a requisição, quando se tratar de ação penal pública dependente dessas condições. Tratando-se de ação pública incondicionada, por força de lei, não se opera a decadência. Em conformidade com o artigo 61 do CPP, a decadência deverá ser Texto complementar às aulas da disciplina Extinção da Punibilidade Prof. Caupolican 11 declarada de ofício pelo juiz. Em regra, o prazo decadencial é de seis meses, contados do dia em que o ofendido tomou conhecimento da autoria do fato, ou no caso de ação penal privada subsidiária da pública, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia. Esse prazo é fatal, não estando sujeito a nenhuma causa interruptiva. Conta-se de acordo com a regra estabelecida no artigo 10 do Código Penal, ou seja, inclui-se o dia do começo. O instituto da decadência não se confunde com a prescrição, pois esta atinge todos as espécies de crimes, salvo os imprescritíveis, antes, durante e após o processo. A prescrição pode ser interrompida ou suspensa; e atinge diretamente o jus puniendi, ao passo que a decadência refere-se ao direito de ação e indiretamente ao direito de punir do Estado. 3.2.e) PEREMPÇÃO Perempção é a perda do direito de prosseguir na ação penal privada. Se a queixa é subsidiária, não há que se falar em perempção visto que a inércia do queixoso faz com que o Ministério Público assuma a ação como parte principal. A perempção é uma sanção jurídica imposta em decorrência da inércia, desídia ou descuido do querelante. As causas, para se considerar perempta uma ação, estão previstas no artigo 60 do Código de Processo Penal, de maneira exaustiva: CPP Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal: I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos; II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36; III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais; IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor. Conforme esse dispositivo, uma das causas é deixar o querelante de promover o andamento da ação durante trinta dias seguidos, demonstrando o desinteresse em ver o autor do fato punido, o que acarreta a perempção e consequentemente a extinção da punibilidade. Também ocorre a perempção diante do não comparecimento em juízo, em razão do falecimento ou interdição do querelante, para sucedê-lo, dentro do prazo de sessenta dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo. Nesse caso, o direito de prosseguir na ação passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. Tratando-se de ação personalíssima, a morte, interdição ou ausência, importa em perempção, diante da impossibilidade de sucessão processual nesses crimes. Texto complementar às aulas da disciplina Extinção da Punibilidade Prof. Caupolican 12 Outro caso em que se verifica a perempção, ocorre quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais. Se o querelante, devidamente intimado para o ato, deixa de comparecer sem justificativa, demonstra o descaso com o processo. Entende-se necessário o pedido de condenação nos casos de ação penal privada, e sua ausência extingue a punibilidade. Por fim, também haverá a perempção quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor. A sucessora incumbe prosseguir na ação dentro de prazo de sessenta dias, sob pena de torna-se perempta, o que também ocorrerá se ela não houver deixado sucessora. Os prazos são contínuos e peremptórios, não se interrompendo pelo decurso de férias forenses 3.2.f) RENÚNCIA DO DIREITO DE QUEIXA Como os crimes de ação privada dependem da iniciativa do ofendido ou de seu representante, pode, contudo, antes de escoar o prazo decadencial, o ofendido renunciar ao direito de queixa, operando como causa extintiva da punibilidade. A renúncia antecede a propositura da ação, uma vez iniciada, poderá ocorrer apenas a perempção ou o perdão do ofendido. A renúncia pode ser expressa, quando constar de declaração assinada pelo ofendido, por seu representante ou por procurador com poderes especiais (CPP, artigo 50), ou tácita, quando o querelante praticar ato incompatível com a vontade de exercer o direito de queixa (CP, artigo 104, parágrafo único). Se o crime foi praticado em coautoria, a renúncia ao direito de queixa em relação a um dos coautores estende-se a todos, a menos que se trate de desconhecido, prevalecendo o princípio da indivisibilidade da ação penal. No caso de dois titulares da ação privada, o ofendido e seu representante, a renúncia de um não se estende ao outro. Não produz efeito como causa extintiva da punibilidade a renúncia do representante da vítima menor de dezoito anos enquanto este não atingir a maioridade. Ainda, havendo pluralidade de ofendidos, a renúncia de um não prejudica o direito dos outros. 3.2.g) PERDÃO DO OFENDIDO Proposta a ação, pode o querelante perdoar o querelado em qualquer fase da ação penal até o trânsito em julgado da sentença condenatória, inclusive na fase recursal. É uma forma de desistência da ação. Diferencia-se da perempção pois no perdão o querelante desculpa o querelado. Texto complementar às aulas da disciplina Extinção da Punibilidade Prof. Caupolican 13 Pode ser expresso, quando manifesto em declaração subscrita pelo ofendido ou seu representante legal, ou ainda por seu procurador desde que este possua poderes especiais para tanto. Ou tácito, quando resulta da prática de ato incompatível com a vontade de prossegui na ação. Assim comona renúncia, o perdão tácito admite todos os meios de prova. O perdão concedido a qualquer um dos querelados se estende a todos, a exemplo do que ocorre com a renúncia, salvo se o querelado não aceitar, quando somente contra esse correrá a ação penal. Havendo mais de um querelante, o oferecimento do perdão por um dos ofendidos não prejudica os outros, preservando o direito de prosseguir na ação. 3.2.h) RETRATAÇÃO Retratação é a confissão de engano, de equívoco cometido, através de declaração contrária à outra anteriormente feita. É desdizer-se. Deverá ser cabal e não impor condições para produzir seus efeitos. Em regra, a retratação do autor não o exime de pena. Contudo, em determinadas situações expressamente previstas em lei, a retratação impede a aplicação da pena, extinguindo a punibilidade do agente. Caberá retratação nos crimes de calúnia e difamação (CP, artigo 143), e nos crimes de falso testemunho ou falsa perícia (CP, artigo 342, § 2o). A retratação deve ser feita antes da prolação da sentença. Nos crimes contra a honra não se estende aos coautores, porém nos crimes de falso testemunho ou falsa perícia, a retratação se comunica ao partícipe. 3.2.i) PERDÃO JUDICIAL Em determinados casos, expressamente definidos em lei, o legislador prevê a possibilidade de aplicação do perdão judicial, tendo em vista circunstâncias que, no caso concreto, fazem a reprimenda ser desproporcional. O juiz deixa de aplicar a sanção ao réu em sentença, cuja natureza não é nem condenatória ou absolutória, mas declaratória da extinção da punibilidade. O perdão judicial é identificado na lei pela expressão “o juiz pode deixar de aplicar a pena”. Toda vez que se encontrar essa expressão na lei, é porque é admitido o perdão judicial para o crime de que trata o dispositivo. 4. PRESCRIÇÃO A prescrição é uma das formas de extinção da punibilidade pelo decurso do tempo. É a perda do direito de punir o infrator, por não exercê-lo no prazo previamente estabelecido em lei. Texto complementar às aulas da disciplina Extinção da Punibilidade Prof. Caupolican 14 Todos os crimes são suscetíveis de prescrição, com exceção de dois casos previstos na regra constitucional. A Constituição Federal estabelece que são imprescritíveis a prática do racismo e a ação de grupos armados, civis ou militares contra a ordem constitucional e o Estado de Direito (Constituição Federal, artigo 5º, incisos XLII e XLIV). O interesse do Estado na punição do infrator é chamado de pretensão, que pode se apresentar sob duas formas: pretensão punitiva, que é o interesse na condenação do autor do crime, e pretensão executória, que é o interesse na execução da pena aplicada ao autor do crime. O que prescreve são essas pretensões estatais. Em razão disso, a literatura penal classifica a prescrição em: a) prescrição da pretensão punitiva, e b) prescrição da pretensão executória. 4.1 PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA Para todo crime o Estado estabelece uma sanção, variável conforme a gravidade do delito praticado. Verificada a infração, surge o jus puniendi, ou seja, o poder-dever de punir o transgressor da norma. Vencidos os prazos predefinidos em lei sem que se instaure ou encerre o processo, tem-se a prescrição da pretensão punitiva do Estado. Ou seja, a prescrição da pretensão punitiva ocorre antes de transitar em julgado a decisão condenatória. A prescrição da pretensão punitiva, segundo a literatura penal, pode se dá sob três formas: a) prescrição em abstrato; b) prescrição retroativa; e c) prescrição intercorrente ou superveniente. 4.1.a) PRESCRIÇÃO EM ABSTRATO A prescrição em abstrato da pretensão punitiva do Estado, também chamada de prescrição da ação penal, é regulada pelo tempo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, conforme tabela impressa no artigo 109 do CP. Deve-se ressaltar que essa espécie de prescrição ocorre sempre antes de transitar em julgado a sentença condenatória, e cessa o direito do Estado à persecução penal. Exceto a causa de aumento de pena decorrente do concurso de crimes, que possui regra específica (artigo 119, CP), as causas de aumento e de diminuição da pena, bem como as qualificadoras devem ser levadas em consideração para o cálculo da prescrição. Porém, as agravantes e atenuantes genéricas são irrelevantes para o cálculo do prazo prescricional, pois não interferem na pena máxima abstratamente cominada para o crime. Todavia, sendo o agente menor de vinte e um anos à época dos fatos ou maior de setenta anos por ocasião da sentença, o prazo prescricional será reduzido da metade (artigo 115, CP). A competência para reconhecer a prescrição da pretensão punitiva é do juiz da instrução. Contudo, nada impede que o Tribunal reconheça a prescrição em grau de recurso, habeas corpus ou em revisão criminal, pois se trata de matéria de ordem Texto complementar às aulas da disciplina Extinção da Punibilidade Prof. Caupolican 15 pública. Será reconhecida de ofício pelo juiz ou a requerimento das partes conforme artigo 61 do CPP, em qualquer fase do processo. A contagem do prazo prescricional obedece à regra do artigo 10 do CP, ou seja, inclui-se o dia do começo, não estando sujeito à suspensão em virtude de férias, domingos ou feriados e é improrrogável. 4.1.b) PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE OU SUPERVENIENTE Estabelece o § 1o do artigo 110 do CP que o prazo prescricional será regulado pela pena em concreto estabelecida na sentença, desde que não haja recurso da acusação ou quando o recurso é improvido. Chamada de prescrição intercorrente ou superveniente, é contada para frente, iniciando-se com a publicação da sentença, e encerrando com o trânsito em julgado para acusação e defesa. Sendo uma modalidade de prescrição da pretensão punitiva, não gera nenhum efeito. 4.1.c) PRESCRIÇÃO RETROATIVA O Código Penal, no artigo 110, admite que a prescrição pode ter por termo inicial data anterior à condenação, porém em hipótese alguma data anterior à denúncia ou à queixa. A prescrição retroativa ocorre quando se considera o prazo entre o recebimento da denúncia ou da queixa e o da condenação, usando-se como referência a pena aplicada e não a cominada. Além disso, a súmula 146 do STF, dispõe que "a prescrição da ação penal regula-se pela pena concretizada na sentença, quando não há recurso da acusação." Sua interpretação significa que a pena concretizada na sentença regula a prescrição com efeito retroativo à causa interruptiva anterior a sentença. 4.2 PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA A prescrição da pretensão executória surge após o trânsito em julgado da sentença condenatória, atingindo o direito do Estado de executar a pena imposta. Essa prescrição atinge somente o efeito principal da condenação, ou seja, a possibilidade de aplicação da reprimenda, permanecendo os efeitos secundários. A competência para declarar a prescrição executória é do juiz da execução. 4.3 TERMO INICIAL DO PRAZO PRESCRICIONAL Termo inicial é quando começa a contar o prazo prescricional. Os termos de início de contagem são diferentes para a prescrição da pretensão punitiva e para a prescrição da pretensão executória. No caso da prescrição da pretensão punitiva, o termo inicial de contagem do prazo é definido no artigo 111 do Código Penal, que tem uma redação bem esclarecedora: Texto complementar às aulas da disciplina Extinção da Punibilidade Prof. Caupolican 16 Código Penal Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: I - do dia em que o crime se consumou; II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa; III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência; IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamentodo registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido. V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal. Já no caso da prescrição da pretensão executória, o termo inicial de seu prazo se encontra definido no artigo 112 do Código Penal: Código Penal Art. 112 - No caso do artigo 110 deste Código, a prescrição começa a correr: I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional; II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção deva computar-se na pena. Da leitura do artigo 112, é interessante observar que o trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação, que é termo inicial da prescrição superveniente, também é termo inicial da prescrição da pretensão executória. Com isso, percebe-se que, ao ocorrer o trânsito em julgado para a acusação, ocorre o termo inicial de dois prazos prescricionais, o da prescrição superveniente e o da prescrição da pretensão executória. Porém, ocorrendo o trânsito em julgado em definitivo, e não prescrevendo o delito, apenas o prazo da prescrição da pretensão executória continuará correndo, só sendo interrompido com o início de cumprimento da pena. 4.4 PRAZO PRESCRICIONAL Os prazos prescricionais obedecem a uma tabela, que se encontra impressa no artigo 109 do Código Penal: Código Penal Texto complementar às aulas da disciplina Extinção da Punibilidade Prof. Caupolican 17 Art. 109 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no parágrafo primeiro do artigo 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: I - em 20 (vinte) anos, se o máximo da pena é superior a 12 (doze); II - em 16 (dezesseis) anos, se o máximo da pena é superior a 8 (oito) anos e não excede a 12 (doze); III - em 12 (doze) anos, se o máximo da pena é superior a 4 (quatro) anos e não excede a 8 (oito); IV - em 8 (oito) anos, se o máximo da pena é superior a 2 (dois) anos e não excede a 4 (quatro); V - em 4 (quatro) anos, se o máximo da pena é igual a 1 (um) ano ou, sendo superior, não excede a 2 (dois); VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano. (...) Esses prazos prescricionais são reduzidos da metade quando o criminoso era ao tempo do crime menor de vinte e um anos, ou maior de setenta na data da sentença. 4.5 INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL Diferentemente do que ocorre na decadência, o prazo prescricional não é contínuo, podendo ser interrompido diante da ocorrência de determinadas causas. A interrupção implica em extinção do prazo já decorrido, para que comece fluir novamente como se estivesse iniciado naquele momento. As causas de interrupção do prazo prescricional encontram-se previstas no artigo 117 do Código Penal: Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se: I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; II - pela pronúncia; III - pela decisão confirmatória da pronúncia; IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis; V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena; VI - pela reincidência. § 1o - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer deles. § 2o - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V deste artigo, todo o prazo começa a correr, novamente, do dia da interrupção. Texto complementar às aulas da disciplina Extinção da Punibilidade Prof. Caupolican 18 Uma das causas interruptivas da prescrição da pretensão punitiva é o recebimento da denúncia ou da queixa. A lei refere-se à data do despacho interlocutório do juiz que recebe as peças acusatórias, e não o oferecimento ou registro. Pronúncia é a decisão do juiz de submeter o réu a julgamento pelo Tribunal do Júri. Essa decisão também interrompe o prazo prescricional, que se verifica a partir de sua publicação. Negando provimento ao recurso da decisão que pronunciou o acusado, o prazo será novamente interrompido, bem como a confirmação da decisão de pronunciar o réu também o interrompe. A confirmação da pronúncia é a manifestação do Tribunal que, em acórdão, entendeu ser caso de submeter o réu a julgamento pelo Júri, quer seja em resposta ao recurso interposto pela defesa ou pela acusação. No caso de desclassificação para outro delito de competência do juiz singular, a decisão da pronúncia continua sendo marco interruptivo da prescrição. Por outro lado, a impronúncia ou a desclassificação operada pelo juiz singular não interrompem o prazo prescricional. A sentença condenatória recorrível, proferida pelo juiz singular ou pelo Tribunal em grau de recurso, tem o condão de interromper a prescrição. Do mesmo modo ocorre no caso de julgamento de infração penal cuja competência originária é do Tribunal, o acórdão condenatório recorrível também interrompe o prazo prescricional. A interrupção se dá na data da publicação da sentença condenatória recorrível de acordo com o que rege o artigo 389 do Código de Processo Penal. O acórdão confirmatório da condenação não interrompe a prescrição. Apenas o acórdão condenatório recorrível interromperá e a data dessa interrupção será a da sessão do julgamento. Todavia, o acórdão que agravar ou majorar a pena também é causa interruptiva da prescrição. O início e a continuação do cumprimento da pena, interrompem a prescrição da pretensão executória, que se iniciou com o trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação, ou o dia do trânsito em julgado da sentença que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional, ou ainda, o dia da interrupção da execução. Havendo interrupção, o recomeço do curso prescricional devolverá o prazo por inteiro, desconsiderado o tempo decorrido antes da interrupção, salvo no caso do inciso V do artigo 117 do CP, quando o prazo prescricional não reiniciará por se tratar de pena que está sendo executada. 4.6 SUSPENSÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL Entende-se por suspensão a parada momentânea, o intervalo no curso da prescrição, que somente recomeça a correr depois de cessada a causa impeditiva. O prazo já decorrido antes da suspensão é reaproveitado, ou seja, é computado quando a prescrição começar a fluir novamente. Texto complementar às aulas da disciplina Extinção da Punibilidade Prof. Caupolican 19 Uma causa suspensiva da prescrição da pretensão punitiva é a ocorrência de questão prejudicial que conduz ao sobrestamento da ação penal. O Código de Processo Penal trata da questão prejudicial em seus artigos 92 a 94. A suspensão terá início com a data da publicação da decisão judicial determinando o sobrestamento da ação, e encerra com o trânsito em julgado da sentença sobre a matéria, ou ainda quando ordenar o andamento do processo. Enquanto não resolvida a questão prejudicial a prescrição não corre. Ainda, na hipótese do agente estar cumprindo pena no estrangeiro, será suspenso o curso da prescrição. Isso porque, via de regra, não seria possível a extradição nesses casos, e o condenado não podendo estar à disposição da Justiça Brasileira, dificulta ou até mesmo impede a ampla defesa, prejudicando o andamento do processo, não deve correr a prescrição. O prazo volta a fluir com a soltura do acusado e a retomada do processo penal. Tem-se, ainda, a suspensão do prazo prescricional se o acusado, citado por edital,não comparecer nem constituir advogado. O processo e o prazo prescricional ficam suspensos até que ele ou seu procurador intervenham no processo. Como a lei não estipula um limite para a suspensão do prazo, visando evitar a imprescritibilidade, tem se adotado como parâmetro, o lapso temporal referente ao tempo máximo da pena abstratamente cominada para o crime. O prazo prescricional também é suspenso enquanto o acusado é citado por carta rogatória, por estar no estrangeiro, em lugar sabido, cessando a suspensão com seu cumprimento. A Lei nº 9.099/95, em seu artigo 89, parágrafo sexto, dispõe que é cabível, nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que preenchido os requisitos legais. Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo, ou seja, durante o período de prova não fluirá o prazo prescricional, obstando a extinção de punibilidade. Do mesmo modo, fica suspenso o prazo da prescrição da pretensão punitiva ocorrendo a sustação da ação penal movida contra Senador ou Deputado, até o término ou perda do mandato. Findo o mandato ou restabelecido o processo, o prazo prescricional voltará a correr. A Lei 13.964/19 acrescentou ao art. 116 do CP duas novas causas de suspensão do prazo prescricional: a pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis; e enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução penal. O parágrafo único do artigo 116 do CP traz uma causa suspensiva do prazo da prescrição da pretensão executória. Estabelece que depois de passado em julgado a sentença condenatória, enquanto o sentenciado estiver preso por uma outra razão, não corre a prescrição. A prisão pode ter origem em uma sentença condenatória ou ser provisória.
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