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Meningites e meningoencefalite Lavínia Vasconcellos Patrus Pena 2022 2022 Meningite = inflamação da meninge -> sem alteração de nível e estado de consciência · Inflamação da membrana aracnoide, pia-máter e líquido cefalorraquidiano · Processo inflamatório se estende por todo o espaço subaracnoideo em torno do cérebro e da medula espinal e compromete os ventrículos Meningoencefalite = inflamação da meninge e acomete o encéfalo -> disfunção do nível (estado de alerta, vigil, sonolência, letárgica o em coma) e estado (orientação ou confusão) de consciência (algo compatível com delirium) Etiologia: qualquer quadro que gere inflamação: infecciosos (bacterianas, virais, fúngicas, por tuberculose, sífilis, agentes atípicos), autoimunes, neoplásicos, paraneoplásicos, químicas Quadros agudos ou crônicos (agente + comum de meningite crônica é a tuberculose) Principal complicação de uma meningite pneumocócica para quem sobrevive = surdez Diagnóstico Sintoma principal = cefaleia -> dor sem precedentes, com sinais sistêmicos (febre) e alteração do exame neurológico -> cefaleia com febre não é sinônimo de sinusite -> cuidado com RX de seios da face Sinal de Kerning (flexão da coxa e extensão da perna -> paciente refere uma dor em choque na coluna) e Brudzinski (flexão da perna com a flexão do pescoço) de baixa sensibilidade, mas boa especificidade -> não servem para fazer diagnóstico Avaliar rigidez de nuca em TODAS as cefaleias agudas Suspeita de meningite: · Exame físico · Petéquias: Meningococemia -> crianças com petéquias no rosto e no pescoço depois de vômitos = não é diagnóstico de meningite · Revisão laboratorial: · Hemograma: leucocitose (bacteriana) Vs leucopenia (viral) · PCR (alta = bacteriana) · Função renal, hepática, íons, gasometria, lactato · Hemocultura: sensibilidade baixa e especificidade alta dependendo do estado do paciente: com ou sem febre, se colheu 1 ou 3 amostras · TC de crânio sem contraste: · Avaliar presença de abscesso associado, sinusite associada e hemorragia subaracnóidea · Abscesso disseminado: via hematogênica · Verificar pressão intracraniana · Realizado também na suspeita de massa cerebral para evitar o perigo de formação de uma hérnia cerebral com a realização de punção lombar · Fundo de olho normal + sem déficit focal + rigidez de nuca = fazer punção lombar com segurança · Punção lombar (liquor) · Aumento de células (polimorfo ou linfomono): normal até 5 por campo · Consumo de glicose: normal equivalente a 2/3 da glicemia (feita a 4h antes -> importante para paciente diabético insulinodependente) · Valor de proteína: normal até 45 · Aumento de polimorfonuclear + consumo de glicose + aumento de proteína = bacteriana -> turvo · Aumento de linfócitos + sem consumo de glicose + aumento de proteína = viral -> transparente · Aumento de linfomono + consumo de glicose + aumento de proteína = tuberculose ou carcinomatose meníngea · Contexto de imunossupressão = fungo · Gram e cultura (comprometida quando se usa corticoide antes da coleta) · Látex: teste rápido para procura de antígenos bacterianos específicos -> frequência alta de falso positivos Meningite bacteriana Bactérias podem ter acesso às meninges por: · Disseminação hematogênica a partir de um local distante · Ingresso direto a partir do trato respiratório superior ou da pele através de um defeito anatômico (como fratura de crânio e Meningocele) · Passagem para interior do crânio através de vênulas na nasofaringe · Disseminação a partir de um foco contíguo de infecção (infecção dos seios paranasais, vazamento de um abscesso cerebral) Tríade clássica da meningite bacteriana: rigidez de nuca, febre e alteração do sensório: · Rigidez de nuca causada por meningite = normalmente o pescoço resiste a flexão, mas não à rotação passiva de um lado para o outro e normalmente desaparece quando paciente está em coma · 3 sintomas juntos presentes em apenas 46% dos casos · 95% dos pacientes apresentam 2 dos 4 sintomas: cefaleia, febre, rigidez de nuca e alteração do sensório · Se nenhum dos 3 sintomas estiver presente, não é meningite (valor preditivo negativo muito alto) Toda meningite bacteriana vira meningoencefalite Nunca atrasar no início do tratamento -> atraso > 3h no diagnóstico e início de tratamento de uma meningite bacteriana = fator de risco independente de mortalidade Iniciar ATB logo após a punção lombar e coleta de culturas · Se não houver como realizar punção lombar imediata, iniciar ATB empírico (sem estudos randomizados em adultos -> recomendações baseadas em susceptilidade in vitro, dados farmacodinâmicos, estudos randomizados em crianças e experiência clínica) Usar corticoide (dexametasona) em suspeita de meningite bacteriana 15-20 minutos antes ou junto com o ATB se houver suspeita de meningite pneumocócica (bacteriana -> paciente com quadro de meningoencefalite e liquor turvo) para redução da surdez como complicação (único benefício do corticoide) · Não usar corticoides se já tiver iniciado antibiótico e em pacientes imuno-deprimidos ou desnutridos · Interromper corticoide se infecção não for por pneumococo -> continuar só com ATB · Uso de corticoides em pacientes usando vancomicina no esquema ([] de vancomicina cai no organismo): associar rifampicina Profilaxia de quem teve contato: meningite pneumocócica e por hemófilos -> transmissão por gotículas aéreas -> impacto nas crianças Meningite asséptica Meningite com cultura bacteriana negativa, liquor sem bactérias e normalmente transparente Normalmente de etiologia viral -> causa + comum: enterovírus (geralmente somente causa meningite = sintomas abruptos de cefaleia, febre e rigidez de nuca) -> outras causas: outros vírus, microbactérias, fungo, espiroqueta, autoimune, infecção para-meníngea, medicamentos, doença oncológica Importância da história: sexual com uso de proteção, viagem, exposição a medicamentos ou outras substâncias Meningites virais -> bom prognóstico Não há tratamento específico no caso de meningite viral isolada Meningoencefalite viral Herpes simples 1: + comum -> prognóstico ruim se atraso no tratamento Iniciar tratamento empírico com Aciclovir venoso 10mg/Kg 8/8h (dose total: 30mg/kg/dia) PCR para herpes: altamente sensível e específico no diagnóstico de HSV1 Paciente com alteração de nível e estado de consciência + cefaleia + liquor transparente + rigidez de nuca = começar com aciclovir e só interromper quando o PCR der negativo para herpes Encefalite herpética: lesão de lobo temporal Conclusão Cefaleia + prostração + febre + rigidez de nuca + sem possibilidade de colher liquor e sem saber diferenciar entre viral e bacteriana = ATB (dexametasona) + corticoide se paciente estiver na faixa etária de infecção por pneumococo + aciclovir + rapidamente colher o liquor do paciente Tratamento adequado começa em um diagnóstico correto e rápido Não comprometer o início do tratamento por nenhuma dificuldade técnica Sempre que possível, ter um exame de imagem cerebral e liquor além do exame de sangue antes do início do tratamento Avaliar sinais clínicos e laboratoriais que sugiram a etiologia da meningite ou meningoencefalite Escolher o tratamento empírico de acordo com contexto do paciente e epidemiologia local Usar dexametasona na meningite bacteriana se o paciente não for imuno-deprimido, mantendo se for pneumococo Iniciar aciclovir imediatamente em paciente com clínica de meningoencefalite e com liquor transparente Referência Goldman-Cecil. Medicine. 26ed. 2020 3 lAVÍNIA VASCONCELLOS PATRUS pena
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