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DOR Princípios de neurociência de Kendall + Observações do Harrison Resumo: ⇒Definiçã�: DOR DESCREVE UMA EXPERIÊNCIA sensorial e emocional desagradável associada a um dano tecidual real ou potencial O Sistem� sensoria� par� � dor Quando aguda, a dor está associada a uma reatividade comportamental e a uma resposta de estresse que consiste em elevação da pressão arterial, da frequência cardíaca, do diâmetro da pupila e dos níveis plasmáticos de cortisol. Além disso, muitas vezes há contração de músculos locais (p. ex., flexão dos membros, rigidez da parede abdominal). ⇒ Estímul� nociv� ativa� nociceptore� Muitos desses nociceptores são simplesmente terminações nervosas livres de neurônios sensoriais primários. Há três Classes principais de nociceptores: térmicos mecanicos polimodais temp <5° ou >45° pressão intensa intensos: mecânico , químico ou térmico axônio AO pouco mielinizado axônio A O pouco mielinizado axônio C amielínico(mais lentos) # A dor forte e rápida é transmitida pelas fibras Aô, que levam a informação de nociceptores térmicos ou mecânicos danificados. A dor surda lenta é transmitida pelas fibras C, que transmitem sinais de nociceptores polimodais. #Térmicos, mecânicos e polimodais ⇒ amplamente distribuídos na pele e nos tecidos profundos(geralmente são coativados). OBS: Há também os nociceptores silentes que são encontrados nas vísceras. São ativados por inflamação e agentes químicos O estímulo nocivo despolariza o terminal nervoso dos axônios aferentes e gera potenciais de ação que são propagados centralmente⇒A membrana do nociceptor contém receptores que convertem a energia térmica, mecânica ou química dos estímulos nocivos em um potencial elétrico despolarizante⇒através das proteínas TRP( canais iônicos de potencial de receptor transitório) 1 Emanuela Altmann Ferreira-09 # E as pessoas insensíveis à dor? Uma classe de mutações inativa o canal SCN9A( um tipo de canal de Na+) e resulta em uma completa incapacidade de sentir dor. #Ativação descontrolada dos nociceptores =alodinia( dor a estímulos que normalmente não causam dor) e hiperalgesia( dor persistente na ausência de estimulação sensorial) Dor persistent� x. Dor nociceptiva: resulta da ativação dos nociceptores na pele ou nos tecidos moles em resposta à lesão tecidual, e em geral surge de uma inflamação. Ex: Entorses e distensões (formas moderadas),artrite ou um tumor que invade tecidos moles ( muito grave). x.Dor neuropática:resulta da lesão direta dos nervos no sistema nervoso periférico ou central e com frequência é acompanhada por uma sensação de queimação ou elétrica.Ex: síndrome de dor regional complexa,dor do membro-fantasma(ocorre após a amputação de um membro), dor devido a neuropatia diabética e a neuralgia pós-herpética(uma dor grave experimentada pelos pacientes após surtos de herpes-zoster devido à lesão de nervos aferentes primários⇒ dor referida para a região do corpo suprida pelos nervos afetados)*. * Preparação tópica de lidocaína a 5% sob a forma de adesivo é eficaz para pacientes com neuralgia pós-herpética que apresentem alodinia acentuada. A dor neuropática também pode ser produzida por lesão do sistema nervoso central (SNC), por exemplo, em alguns pacientes após traumatismo ou lesão vascular da medula espinal, tronco encefálico ou regiões talâmicas contendo as vias nociceptivas. Essas dores neuropáticas com frequência são graves e caracteristicamente resistentes aos tratamentos convencionais. Alodinia e hiperalgesia são muito comuns na dor neuropática. ⇒Sinai� d� nociceptore� sã� transmitid� par� � neurôni� d� corn� dorsa� d� medul� espina� Camada mais superficial do corno dorsal=lâmina I ou lâmina marginal. ● Muitos dos seus neurônios respondem somente a estímulos nocivos transmitidos pelas fibras Aô e C=neurônios específicos da nocicepção ● Há também os neurônios de amplo espectro dinâmico. Lamina II, III, IV V⇒ muitos interneurônios, recebem alguns estímulos dolorosos, mas principalmente estímulos inócuos. OBS:Fibras AB são aquelas que respondem a estímulos cutâneos inócuos como deflexão dos pelos e a pressão leve(mecanorreceptores) OBS: a lâmina V recebe aferências nociceptivas viscerais e somáticas ⇒ Isso explica o fenômeno da dor referida= a lesão de um tecido visceral é percebida como originada de uma região da superfície do corpo. Ex: IAM refere comumente dor no braço esquerdo. Esse fenômeno ocorre porque um único neurônio da lâmina V recebe aferência sensorial de ambas as regiões! VI⇒ não contribuem para a informação nociceptiva 2 Emanuela Altmann Ferreira-09 VII, VIII⇒ contribuem para a qualidade difusa de muitas dores As regiões ventral e intermediária da medula também podem conduzir alguns estímulos dolorosos. Neurotransmissore� liberad� pel� neurôni� nociceptiv� d� corn� dorsa� x. Glutamato: neurotransmissor primário de todos os neurônios sensoriais primários, independentemente da modalidade sensorial. x. Neuropeptídeos: são liberados como co- transmissores por muitos nociceptores com axônios amielínicos.Incluem a substância P, o peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP, de calcitonin gene-related peptide), a somatostatina e a galanina . #A hiperalgesia possui origem periférica e central ⇒ A hiperalgesia pode ser provocada pela: Sensibil�açã� d� nociceptore� periféric� por exposição repetitiva a estímulos mecânicos nocivos ! A sensibilização (diminuição do limiar de ativação nociceptiva) ocorre por um acúmulo no local do tecido lesionado de substâncias como: 3 Emanuela Altmann Ferreira-09 -Histamina: liberada dos mastócitos após lesão tecidual -Anandamida: inflamação - O fator de crescimento neural(NGF )e o Fator neurotrófico derivado do encéfalo (BDNF)tem sua síntese aumentada em tecidos inflamados⇒ dor As neurotrofinas são mediadores de dor. A produção local de citocinas inflamatórias como a interleucina-1 (IL-1) e do fator de necrose tumoral (TNF, de tumor necrosis factor) promove a síntese e a liberação do NGF a partir de diversos tipos de células na periferia. O NGF une-se aos terminais nociceptivos primários (A), disparando mudanças pós -transcricionais localizadas na expressão de canais iônicos que aumentam a excitabilidade do receptor. O transporte retrógrado de endossomas sinalizadores para o corpo celular (B) resulta em uma expressão aumentada do BDNF (C), e sua liberação dos terminais sensoriais na medula espinal (D) causa ainda maior aumento da excitabilidade e facilita a ativação dos neurônios do corno dorsal. Psiu! a inibição da função e da sinalização do NGF bloqueia a sensação da dor tão eficientemente quanto os inibidores da COX e os opiáceos!!! -ATP, acetilcolina e serotonina: liberados pelas células endoteliais danificadas e pelas plaquetas ⇒ Todos os citados anteriormente desencadeiam a liberação pelas células periféricas de bradicinina e prostaglandinas (muito importantes para a dor) Psiu!:A COX2 é induzida em condições de inflamação periférica ⇒ mais prostaglandinas ⇒ contribui para a sensibilidade à dor 4 Emanuela Altmann Ferreira-09 Lembrar:As vias enzimáticas da síntese das prostaglandinas são alvos de analgésicos! OBS: Os sinais cardinais da inflamação :calor, rubor e tumor são induzidos pelos neutransmissores( CGRP e susbtância P especialmente) liberados pelas fibras C= Inflamação neurogênica. ENTENDA: Lesões ou danos nos tecidos liberam bradicininas e prostaglandinas, as quais ativam ou sensibilizam nociceptores periféricos. A ativação de nociceptores leva à liberação de substância P e de CGRP. A substância P atua nos mastócitos na vizinhança dos terminais sensoriais e evoca a desgranulação e a liberação de histamina, que excita diretamente os nociceptores. A substância P produz extravasamento do plasma(edema), e o CGRP produz dilatação de vasos sanguíneos periféricos(calor e rubor); o edema resultante causa liberação adicional de bradicinina.É um ciclo-vicioso de feedbacks positivos envolvendo dor e inflamação! ###Essesmecanismos também podem ocorrer no tecido saudável que não sofreu lesão causando hiperalgesia secundária ou generalizada. O qu� aument� � sensibilidad� d� neurôni� d� corn� dorsa� a� sinai� nociceptiv� (Sensibil�açã� centra�)? Sob condições de lesão persistente, as fibras C disparam repetidamente, e a resposta dos neurônios do corno dorsal aumenta de maneira progressiva. O aumento gradual na excitabilidade dos neurônios do corno dorsal tem sido chamado de potenciação da dor (wind up) e acredita-se que envolva receptores para glutamato do tipo NMDA. Mecanismos que aumentam a excitabilidade dos neurônios do corno dorsal. 5 Emanuela Altmann Ferreira-09 A. Respostas típicas de um neurônio do corno dorsal a um estímulo elétrico.Com a estimulação repetida, a resposta da fibra C (associado aos receptores de dor)aumenta gradualmente, enquanto a resposta da fibra A(mecanorreceptores) se mantém constante. B. O neurônio do corno dorsal recebe aferências monossinápticas dos mecanorreceptores (fibras A) e aferências polissinápticas dos nociceptores (fibras C). Há produção e liberação aumentada de glutamato e substância P na fenda pós sináptica pelas fibras tipo C .Assim , ocorre a ativação dos receptores pós-sinápticos tipo NMDA e dos receptores NK1, além dos receptores ampa. Logo, a concentração de Ca++ no citosol do neurônio no corno dorsal( em sinapse com a fibra C) aumenta devido à entrada de Ca++ através dos canais NMDA e AMPA, e canais de Ca++ dependentes de voltagem. O Ca++ elevado e a ativação dos receptores NK1 aumentam o desempenho dos receptores NMDA por meio de sistemas de segundos mensageiros, tornando-os mais sensíveis. Tudo isso interfere no comportamento dos canais iônicos responsáveis pelos potenciais de ação, resultando em excitabilidade aumentada. ##Em certas condições clínicas, as alterações na excitabilidade dos neurônios no corno dorsal podem diminuir o limiar de dor e levar à dor espontânea. Uma ilustração notável desse fenômeno é a dor do membro-fantasma, uma sensação persistente de dor que parece se originar de uma região do membro amputado. Mudanças na ativação neural na dor do membro-fantasma. A. As regiões do córtex cerebral ativadas pela informação das vias sensoriais ascendentes da medula espinal estão expandidas em pacientes com dor no membro-fantasma. B. Imagem por ressonância magnética funcional(fMRI) de pacientes com dor no membro-fantasma e pacientes amputados sem dor durante uma tarefa de franzir o lábio. Em pacientes amputados com dor no membro-fantasma, a representação cortical da boca se ampliou para regiões da mão e do braço. Em pacientes amputados sem dor, as áreas dos córtices somatossensorial primário e motor que são ativadas são similares àquelas dos controles saudáveis (imagem não mostrada). Antigamente ⇒ se fazia apenas anestesia geral. Hoje para se evitar dor no membro fantasma⇒A anestesia geral com frequência é suplementada com a administração espinhal 6 Emanuela Altmann Ferreira-09 direta de um agente analgésico ou a administração de anestésico no local da lesão. A informação nociceptiva é transmitida da medula espinal ao tálamo Cinc� via� ascendente� principai� transmite� � informaçã� nociceptiv� As cinco vias ascendentes principais — os tratos espinotalâmico, espinorreticular, espinomesencefálico, cervicotalâmico e espino-hipotalâmico — contribuem para o processamento central da informação nociceptiva. A lesão do trato espinotalâmico (cordotomia anterolateral) pode resultar em uma redução importante na sensação de dor no lado do corpo contralateral à lesão. Trato espinomesencefálico: Neurônios do núcleo parabraquial projetam-se para a amígdala, um núcleo-chave do sistema límbico que regula o estado emocional.Muitos dos axônios dessa via cursam pela parte dorsal do 7 Emanuela Altmann Ferreira-09 funículo lateral em vez do quadrante anterolateral. Nos procedimentos cirúrgicos destinados a aliviar a dor, como a cordotomia anterolateral, a dispersão dessas fibras pode explicar a persistência ou a recorrência de dor mesmo após a cirurgia. Vári� núcle� talâmic� retransmite� � informaçã� nociceptiv� a� córt� cerebra� Duas das mais importantes regiões talâmicas são os grupos nucleares lateral e medial. #Acredita-se que o tálamo lateral seja responsável pelo processamento da informação sobre a localização precisa de uma lesão, informação que geralmente é levada à consciência como dor aguda. #Lesões do trato espinotalâmico e seus alvos no tálamo causam dor central, uma forma grave de dor.Um infarto em uma pequena região do tálamo lateral produz a percepção de uma dor em queimação espontânea, associada a outras sensações anormais⇒síndrome de Dejerine-Roussy⇒ (chamadas de disestesias) que são percebidas como originadas de diversas regiões do corpo. ⇒Essa e outras observações clínicas sugerem que, em condições de dor crônica, pode haver uma mudança fundamental na circuitaria talâmica e cortical. A dor é controlada por mecanismos corticais A� área� d� córtice� cingulad� � insular estã� ativa� durant� � percepçã� d� dor Neurônios do córtex somatossensorial em geral possuem campos receptivos pequenos e podem não contribuir muito para a percepção 8 Emanuela Altmann Ferreira-09 difusa das dores que caracterizam a maioria das síndromes clínicas. MASSS …O giro cingulado e o córtex insular contêm neurônios que são ativados forte e seletivamente pelos estímulos somatossensoriais nociceptivos ⇒ O giro cingulado forma parte do sistema límbico e acredita-se que esteja envolvido no processamento do estado emocional associado à dor. ⇒Os neurônios no córtex insular processam a informação sobre o estado interno do corpo e contribuem para o componente autônomo das respostas à dor. ###Pacientes com lesões no córtex insular apresentam a impressionante síndrome de assimbolia para dor: eles percebem estímulos nocivos como dolorosos e podem distinguir entre dor aguda e dor surda, mas não apresentam resposta emocional apropriada. Essas observações implicam o córtex insular como uma área na qual os componentes sensoriais, afetivos e cognitivos da dor são integrados. A percepçã� d� dor � regulad� por u� equilíbri� d� atividad� na� fibra� aferente� nociceptiva� � nã� nociceptiva� ⇒Teoria de Ronald Melzak e Patrick Wall: A ativação de neurônios sensoriais não nociceptivos fecha um “portão” para a transmissão central dos sinais nociceptivos, podendo ser aberto pela ativação de neurônios sensoriais nociceptivos. O neurônio de projeção(do corno dorsal da medula espinhal) é excitado por ambos os tipos de neurônios sensoriais e inibido por interneurônios no corno dorsal superficial. Os dois tipos de fibras sensoriais também terminam nos interneurônios inibitórios; as fibras tipo C inibem os interneurônios, incrementando, assim, a atividade do neurônio de projeção, enquanto as fibras tipo AB excitam os interneurônios, suprimindo, assim, a saída de informação do neurônio de projeção. EX: O balançar da mão que se segue ao golpe de um martelo ou a uma queimadura é um comportamento reflexo e pode aliviar a dor por ativar aferentes de grande diâmetro que suprimem a transmissão central do estímulo nocivo. ⇒A ideia de convergência também ajudou a incentivar o uso da estimulação nervosa elétrica transcutânea (TENS, de transcutaneous electrical nerve stimulation) e da estimulação da coluna dorsal para o alívio da dor. 9 Emanuela Altmann Ferreira-09 #A estimulaçã� elétric� d� encéfal� prod�z analgesi� Muitos locais de regulação endógena da dor são localizados no encéfalo. Um meio efetivo de suprimir a nocicepção envolve a estimulação da região cinzenta periaquedutal, a área do mesencéfalo que circunda o terceiro ventrículo e o aqueduto cerebral. A estimulação dessa região em animais experimentais provoca uma analgesia profunda e seletiva. ⇒Essa analgesia produzida pela estimulação é bastante específica; os animais aindarespondem ao toque, à pressão e à temperatura na área do corpo que exibe analgesia, mas eles sentem menos dor. De fato, a analgesia induzida pela estimulação tem provado ser uma via efetiva para o alívio da dor em um número limitado de condições dolorosas em seres humanos. ⇒Poucos neurônios nessa substância cinzenta periaquedutal se projetam diretamente para o corno dorsal da medula espinal. Muitos fazem conexões excitatórias com neurônios do bulbo rostroventral, incluindo neurônios serotonérgicos em uma região da linha média chamada de núcleo magno da rafe, ou neurônios dos núcleos do complexo da rafe. Os axônios desses neurônios serotonérgicos projetam-se através da região dorsal do funículo lateral para a medula espinal, onde eles formam conexões inibitórias com os neurônios das lâminas 1, II e V do corno dorsal. Assim, a estimulação do bulbo rostroventral, por meio da estimulação da substância periaquedutal do mesencéfalo, inibe o disparo de muitas classes de neurônios do corno dorsal, incluindo os neurônios de projeção do trato espinotalâmico que transmitem sinais nociceptivos aferentes. 10 Emanuela Altmann Ferreira-09 #Peptídeos opióides contribuem para o controle endógeno da dor Opiáceos interagem com receptores específicos nos neurônios da medula espinal e do encéfalo⇒ isolamento de neuropeptídeos endógenos com atividades nesses receptores como as dos opiáceos. OBS:A observação de que a naloxona, um antagonista opiáceo, bloqueia a analgesia produzida pela estimulação forneceu a primeira pista de que o encéfalo contém opioides endógenos. Efeit� placeb� A atividade cerebral é comprovadamente (via ressonâncias funcionais)intensificada por placebo em regiões anatômicas relacionadas com o sistema descendente opioidérgico de controle da dor. ⇒O aumento de resposta induzido por placebo em todas as áreas foi reduzido com a administração de naloxona, demonstrando haver ligação entre o sistema opioidérgico descendente e a resposta analgésica tipo placebo. ⇒ Peptíde� opióide� endógen� � seu� receptore� estã� distribuíd� n� sistema� moduladore� d� dor Os receptores opióides são classificados em quatro classes principais: mI (u), delta (8), kappa (K) e orfanina FQ. Os receptores mi são altamente concentrados na superfície do corno dorsal da medula espinal, no bulbo ventral e na substância cinzenta periaquedutal, locais anatômicos importantes para a regulação da dor. Contudo, como em outras classes de receptores opióides, eles também são encontrados em muitos outros lugares nos sistemas nervosos central e periférico. Sua ampla distribuição explica por que a administração sistêmica de morfina influencia muitos processos fisiológicos além da percepção da dor. O número de receptores mi nos nociceptores Aô, que medeiam a dor rápida e aguda ou “primeira dor”, é menor que aquele nos nociceptores das fibras C, que medeiam a dor persistente lenta ou “segunda dor”. Isso pode ajudar a explicar por que a morfina é mais efetiva no tratamento da dor persistente em comparação às dores agudas. 11 Emanuela Altmann Ferreira-09 Os opiáceos regulam a transmissão nociceptiva das sinapses no corno dorsal por meio de dois mecanismos principais. Primeiro, eles aumentam a condutância ao K“ nos neurônios do corno dorsal, hiperpolarizando os neurônios e, assim, aumentando o limiar para ativação. Segundo, pela ligação aos receptores nos terminais sensoriais pré-sinápticos, os opiáceos inibem a liberação do neurotransmissor e, assim, diminuem o grau de ativação dos neurônios pós--sinápticos do corno dorsal. A diminuição da liberação dos neurotransmissores resulta da diminuição da condutância do Ca++ e da consequente redução de entrada de Ca++nos terminais nervosos sensoriais. Muitos dos efeitos secundários dos opiáceos são causados pela ativação dos receptores opióides no encéfalo e na periferia. Por exemplo, esses receptores são expressos pelos músculos do intestino e do esfincter anal; sua ativação contribui para a constipação. A ativação dos receptores opioides no núcleo do trato solitário é responsável pelos efeitos colaterais cardiovasculares e de depressão respiratória. Portanto, limitar a administração do fármaco à medula espinal ou à periferia pode minimizar os efeitos secundários sistêmicos dos opiáceos. Por exemplo, foi induzido alívio prolongado da dor após cirurgia artroscópica pela injeção de morfina nas articulações em doses que são ineficazes quando administradas sistemicamente. Essa via periférica de administração de opiáceos reduz de maneira significativa os efeitos secundários dos fármacos opiáceos. #A Tolerânci� � � dependênci� a� opioide� sã� fenômen� diferente� O uso repetido de morfina para o alívio da dor pode levar os pacientes a desenvolver resistência aos efeitos analgésicos desse fármaco e, consequentemente, doses cada vez mais altas são necessárias para alcançar o mesmo efeito terapêutico. Tal tolerância fisiológica difere da dependência, um desejo psicológico pela droga. A dependência psicológica quase nunca ocorre quando a morfina é usada para tratar a dor crônica. 12 Emanuela Altmann Ferreira-09 TRATAMENTO DA DOR AGUDA O tratamento ideal para qualquer dor é eliminar sua causa! por essa razão, embora o tratamento possa ser iniciado imediatamente, devem-se empregar esforços concomitantes para determinar a etiologia subjacente no início da terapêutica. ÁCIDO ACETILSALICÍLICO (AAS), PARACETAMOL E ANTI INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDES (AINEs) Todos esses compostos inibem a ciclooxigenase (COX) e, à exceção do paracetamol, exercem ação anti-inflamatória, sobretudo quando usados em doses mais altas. São particularmente efetivos para a cefaleia leve a moderada e para a dor de origem musculoesquelética. Idade avançada e história de doença gastrintestinal são fatores que aumentam os riscos relacionados com o AAS e os AINEs⇒se uso crônico⇒ elevação da pressão arterial risco de nefrotoxicidade e irritação gástrica(principalmente no AAS)⇒erosão e ulceração da mucosa gástrica⇒ risco de sangramento ou perfuração. OBS:Como o ácido acetilsalicílico acetila irreversivelmente a ciclo-oxigenase plaquetária e, dessa forma, interfere com a coagulação do sangue, a hemorragia digestiva passa a ser um risco específico. OBS2:Embora seja hepatotóxico quando tomado em altas doses, o paracetamol raramente provoca irritação gástrica e não interfere com a função plaquetária. A introdução das formas parenterais de AINEs, cetorolaco e diclofenaco, ampliou a utilidade dessa classe de medicamentos no tratamento da dor aguda intensa. Há duas classes principais de COX: a COX-1 é expressa constitutivamente, e a COX-2 ocorre nos estados inflamatórios. Os fármacos seletivos para a COX-2 possuem ação analgésica semelhante e não afetam a coagulação sanguínea(podendo ser usados no tratamento pós-operatório) e provocam menos irritação gástrica que os inibidores não seletivos da COX. MASSS NEM TUDO SÃO FLORES.. Os inibidores da COX-2, como o celecoxibe, estão associados a aumento do risco cardiovascular. O efeito parece ser uma propriedade da classe dos AINEs, exceto o AAS. Tais fármacos estão contraindicados nos pacientes que estejam no período pós operatório imediato da instalação de bypass coronariano e devem ser usados com 13 Emanuela Altmann Ferreira-09 cautela naqueles com história de, ou fatores de risco significativos para, doença cardiovascular. Principais representantes: Ácido acetilsalicílico, Paracetamol, Ibuprofeno, Naproxeno, Fenoprofeno, Indometacina, Cetorolaco, Celecoxibe, Valdecoxibe. Analgésicos Opióides São os agentes mais potentes para o alívio da dor atualmente disponíveis! Embora comuns, os efeitos colaterais em sua maioria são reversíveis: náusea, vômitos, prurido e constipação são os efeitos colaterais mais frequentes e incômodos. A depressão respiratória* é incomum com as doses analgésicas padrão, mas pode representaruma ameaça à vida. Os efeitos colaterais relacionados aos opioides podem ser rapidamente revertidos com o antagonista dos narcóticos naloxona. * A depressão respiratória induzida por opioide é caracteristicamente acompanhada por sedação e por redução da frequência respiratória. A queda na saturação de oxigênio indica nível crítico de depressão respiratória com necessidade de intervenção imediata a fim de prevenir a ocorrência de hipoxemia potencialmente fatal. Deve-se manter assistência ventilatória até que a depressão respiratória induzida pelo opioide tenha sido resolvida. O antagonista dos opióides naloxona deve estar imediatamente disponível, sempre que sejam utilizados opióides em doses elevadas ou em pacientes com função pulmonar comprometida! !!!!!A probabilidade de um paciente se tornar dependente de narcóticos em consequência do seu uso clínico apropriado é muito pequena. O médico não deve hesitar em prescrever analgésicos opióides a pacientes com dor aguda intensa!!!!!! OBS: A meperidina tem como metabólito a normeperidina. Com doses maiores de meperidina, normalmente acima de 1 g/dia, o acúmulo de normeperidina pode produzir hiperexcitabilidade e crises convulsivas não reversíveis com a naloxona. Esse acúmulo é maior nos pacientes com insuficiência renal. ⇒A terapia com opióides requer titulação para a determinação da dose e do intervalo ideais! O erro mais frequentemente cometido pelos médicos no tratamento da dor intensa com opióides é a prescrição de dose inadequada. Como muitos pacientes relutam em se queixar, essa prática leva a sofrimento desnecessário. ⇒Analgesia controlada pelo paciente (ACP): A ACP utiliza um dispositivo de infusão controlado por microprocessador capaz de fornecer uma dose contínua basal de um opióide assim como doses adicionais 14 Emanuela Altmann Ferreira-09 pré-programadas toda vez que o paciente apertar um botão. ⇒ Os opioides podem ser infundidos através de cateter medular intratecal ou extradural! Ao aplicar opióides diretamente na medula espinal ou no espaço epidural adjacente à medula espinal, obtém-se analgesia regional utilizando uma dose total relativamente baixa. Dessa maneira, é possível minimizar efeitos colaterais, como sedação, náusea e depressão respiratória. Essa abordagem vem sendo extensamente utilizada em trabalho de parto e no nascimento bem como para alívio da dor pós-operatória que se segue a procedimentos cirúrgicos. A administração intratecal contínua via implante com sistema de infusão espinal atualmente é usada com frequência, particularmente para o tratamento da dor relacionada com câncer a requerer doses sedativas para seu controle caso o fármaco fosse administrado por via sistêmica. ⇒Os opioides também podem ser administrados pelas vias intranasal (butorfanol), retal, transdérmica (fentanila e bupremorfina), ou através da mucosa oral, evitando-se, assim, o desconforto de injeções frequentes em pacientes que não possam receber medicação oral. ⇒Um acréscimo recente ao arsenal para tratamento dos efeitos colaterais induzidos por opioides são os antagonistas periféricos dos receptores opioides, alvimopan e metilnaltrexona!Esses fármacos revertem os efeitos adversos dos analgésicos opióides que são mediados pelos receptores periféricos sem reverter seus efeitos analgésicos! Combinaçõe� d� opioide� � inibidore� d� COX Como é possível utilizar uma dose menor de cada um para alcançar o mesmo grau de alívio da dor, e como seus efeitos colaterais não se acumulam, essas associações são utilizadas para reduzir a gravidade dos efeitos colaterais relacionados com a dose. DOR CRÔNICA Pode ter como causa: ⇒Alguma doença caracteristicamente dolorosa para a qual não existe atualmente qualquer possibilidade de cura(artrite, o câncer, as cefaleias crônicas diárias, a fibromialgia e a neuropatia diabética). ⇒Fatores perpetuadores secundários que tenham sido desencadeados por alguma doença e tenham persistido após a sua resolução. São exemplos a lesão de nervos sensoriais, a atividade eferente simpática e a contração muscular reflexa dolorosa (espasmo). 15 Emanuela Altmann Ferreira-09 ⇒ Diversos estados psicológicos que podem agravar ou mesmo causar dor. Quando suspeitar de transtorno emocional?Padrão de episódios dolorosos recorrentes, porém distintos, com início na infância ou na adolescência; o fato de a dor ter-se iniciado em uma época de trauma emocional, como a perda de um dos pais ou do cônjuge; história de maus-tratos físicos ou de abuso sexual; e uso abusivo, passado ou presente, de drogas. ⇒Dor miofascial crônica :A palpação profunda pode revelar pontos desencadeantes altamente localizados que consistem em faixas ou nós rígidos nos músculos. O alívio da dor após injeção de anestésico local em tais pontos desencadeadores confirma o diagnóstico ⇒Lesão de nervos: Se apresenta com deficiência sensitiva, pele hipersensível, perda de força e atrofia muscular ou abolição dos reflexos tendíneos profundos. ⇒Comprometimento do Sistema nervoso simpático:edema difuso, alterações na cor e temperatura da pele, bem como hipersensibilidade cutânea e articular em comparação com o lado normal.O alívio da dor com bloqueio simpático corrobora o diagnóstico,mas, uma vez que o quadro se torne crônico, a resposta ao bloqueio simpático passa a ser variável em magnitude e duração; Anális� médic� É importante a análise conjunta de fatores emocionais e orgânicos, pois melhora a adesão do paciente ao tratamento, o que em parte pode ser explicado pela tranquilização do paciente ao perceber que a avaliação psicológica não significa que o médico esteja duvidando da validade de sua queixa. TRATAMENTO ⇒Abordagem multidisciplinar: medicamentos, orientação psicológica, fisioterapia, bloqueio nervoso e até mesmo cirurgia para melhorar a qualidade de vida do paciente. Medicament� antidepressiv� Antidepressivos tricíclicos (ADTs): Particularmente amitriptilina, imipramina, nortriptilina e desipramina são úteis no tratamento dos pacientes com dor crônica. O efeito analgésico dos ADTs tem início mais rápido e ocorre com doses mais baixas que as necessárias para o tratamento da depressão!Pacientes com dor crônica que não estejam deprimidos também obtêm alívio com antidepressivos! ⇒Os antidepressivos tricíclicos potencializam a analgesia dos opioides, por isso podem ser úteis como adjuvantes no tratamento da dor intensa e persistente, como a que ocorre na presença de tumores malignos! 16 Emanuela Altmann Ferreira-09 ⇒Os ADTs são particularmente úteis no tratamento das dores neuropáticas, como na neuropatia diabética e na neuralgia pós-herpética, para as quais existem poucas opções terapêuticas.Outras aplicações ainda são:Cefaleia tensional, Enxaqueca, Artrite reumatoide, Lombalgia crônica, Câncer e Dor central pós-AVE. ⇒Efeitos colaterais: hipotensão ortostática, sonolência, retardo da condução cardíaca, perda de memória, constipação intestinal e retenção urinária; ⇒ Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina, como a fluoxetina, apresentam efeitos colaterais menos numerosos e menos graves que os ADTs; todavia, são muito menos eficazes no alívio da dor. !!!!É interessante assinalar que a venlafaxina e a duloxetina, antidepressivos não tricíclicos que bloqueiam a recaptação de serotonina e norepinefrina, parecem manter a maior parte do efeito analgésico dos ADTs, com um perfil de efeitos colaterais mais parecido com o dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina.Esses fármacos podem ser particularmente úteis para pacientes que não tolerem os efeitos colaterais dos ADTs!!!! Anticonvulsivante� � Antiarrítmic� São utilizados primariamente em pacientes com dor neuropática. Possuem poucos efeitos colaterais. Fenitoína e a carbamazepina⇒neuralgia do trigêmio Gabapentina e a pregabalina⇒ Ampla variedade de dores neuropáticas Medicaçã� Opióid� Crônic� O uso de opióidesa longo prazo é aceito para os pacientes com dor causada por câncer! Embora o uso de opioide para dor crônica de origem não maligna seja controverso, está claro que, para muitos pacientes, os opióides são a única opção capaz de produzir alívio significativo na dor. ⇒Para uso ambulatorial oral⇒medicamentos com ação prolongada: levorfanol, metadona, ou morfina de liberação sustentada ou fentanil transdérmico; !!!!! A constipação intestinal é um efeito colateral praticamente universal dos opioides e deve ser tratado com conduta expectante(ou antagonista opióides de ação periférica)!!!!!! Tratamento da dor neuropática ⇒Os anticonvulsivantes (gabapentina ou pregabalina) ou os antidepressivos 17 Emanuela Altmann Ferreira-09 (nortriptilina, desipramina, duloxetina ou venlafaxina) podem ser usados como medicamentos de primeira linha nos pacientes com dor neuropática. ⇒ Os opioides devem ser, nesses casos, considerados medicamentos de segunda ou terceira linhas ⇒Nos pacientes com neuralgia pós-herpética e hipersensibilidade cutânea significativa, o uso tópico de lidocaína (em adesivo) pode produzir alívio imediato sem efeitos colaterais. O�ervaçõe� d� Dr. Rafae� sobr� Analgesi� n� pacient� vítim� d� traum� ⇒Fazer analgesia quando não houver mais dúvida do diagnóstico!(no contexto de trauma, a analgesia pode dificultar o diagnóstico e tratamento definitivo) Bloqueio e sedação morfina ou fentanil morfina ou fentanil Op.F Op.F Op.F AINE AINE AINE AINE An. S. An.S. An.S An. S An S 1 ESCALA DE DOR 10 An. S(Analgésicos simples):dipirona(4 em 4 —em 2h atinge seu pico), paracetamol AINE: 8 em 8 h ( atinge o pico em 4h) Op.F(opióide Fraco) :TRAMAL de 6 em 6h(pico 3h) Morfina e Fentanil (opióides fortes): titula até aliviar a dor. De 4 em 4h o pico é a metade Analgesia multimodal: usar vários ao mesmo tempo No caso do paciente , Rafael usou de forma escalonada Dipirona +tramal+tilatil 18
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