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Anna lillian canuto bittencourt • Homeostase significa o conjunto de situações adotadas pelos organismos visando a manutenção do equilíbrio e constância do meio interno, bem como a relação com o meio ambiente; - É por isso que existe a resposta endócrina, metabólica e imunológica ao trauma. • O ser humano diante das intervenções cirúrgicas, queimaduras, fraturas e politraumas em geral responde do mesmo modo; • A condição metabólica prévia do paciente irá modular a intensidade da resposta pós-agressiva; • A resposta do organismo à determinadas agressões, sejam elas de natureza cirúrgica, traumática ou infecciosa, envolve: - Manutenção do fluxo sanguíneo e da oferta de oxigênio para tecidos e órgãos; - Mobilização de substratos para utilização como fonte energética e para auxílio ao processo de cicatrização de feridas. • Embora a resposta biológica ao trauma tenha como princípio básico preservar o organismo, agressões intensas e graves desencadeiam uma resposta “maléfica”, que pode levar o hospedeiro à óbito. • Quando o estímulo lesivo externo é de pequena magnitude, às vezes o único efeito é a identificação da situação; • Quando a intensidade da agressão for significativa, surgirá grande destruição tissular ou mesmo de órgãos, promovendo lesões irrecuperáveis, que podem ser incompatíveis com a sobrevida do paciente; • A lesão tissular se traduz em: - Alterações na permeabilidade da membrana celular e do protoplasma; - Liberação de substâncias intracelulares. • O trauma operatório em si, a consequente perda sanguínea, eventuais transfusões associadas ou não e a hipotermia desencadeiam a resposta inespecífica; • A possibilidade do contato do sangue com superfícies não endotelizadas na zona traumatizada ou de aparelhos, o Resposta endócrina, metabólica e imunológica ao trauma IDEIAS GERAIS LESÃO CELULAR Anna lillian canuto bittencourt surgimento dos fenômenos de isquemia- reperfusão e as soluções de continuidade, possibilitando endotoxemia, são os principais responsáveis pela resposta inflamatória específica; • A Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS), que é deflagrada por infecção ou por outro tipo de agrssão, pode ser reconhecida clinicamente quando há presença concomitante de pelo menos 02 das seguintes situações: - Hipotermia ou febre; - Taquicardia; - Taquipnéia; - Leucocitose; - Leucopenia; - Presença de pelo menos 10% de formas imaturas. 01. Neutrófilos: • Em condições de normalidade, apenas 25% do total de neutrófilos está presente na circulação sistêmica; - Um grupo fica aderido ou próximo à parede dos vasos; - Outro grupamento de neutrófilos está na medula óssea. 1°: Neutrofilia – quando o organismo sofre agressão ou estímulo nocivo, ocorre a neutrofilia, pois há mobilização dessas células que ficam próximas ou aderidas à parede dos vasos para a circulação sanguínea; - É mediada pela liberação de hormônios produzidos como resposta metabólica ao traumatismo, como o corticoide e a epinefrina. 2°: Neutropenia – próximo ao terceiro dia de pós-operatório, observa-se uma neutropenia transitória devido à migração dessas células para os órgãos ou tecidos lesionados; 3°: Neutrofilia – numa fase mais tardia, entre o 5-10° dia, há uma nova neutrofilia decorrente da mobilização dos neutrófilos da medula óssea para a circulação sanguínea; • Os neutrófilos produzem lesão tecidual por diversos mecanismos, destacando-se a liberação de enzimas proteolíticas, radicais livres, ou pela ação mecânica de obstrução do fluxo microcirculatório. - Isso pode estender ainda mais a lesão tissular. 02. Macrófagos: • Possuem uma mobilização mais lenta para a área traumatizada em comparação aos neutrófilos; • Produzem enzimas e mediadores inflamatórios de grande importância nas etapas mais tardias da resposta inflamatória, como: - Citoquinas; - Proteínas, como hidrolazes, ECA, antiproteases, elastases, colagenase, entre outras; Anna lillian canuto bittencourt - Espécies reativas do oxigênio; - Produtos lipídicos, como ácidos graxos, produtos de degradação do ácido aracdônico. 03. Mastócitos: • São as células que formam a primeira barreira contra os estímulos nocivos; • Isso acontece porque elas se localizam nas regiões próximas aos vasos e em áreas adjacentes às mucosas e superfícies epiteliais; • A histamina e a bradicinina promovem aumento da permeabilidade capilar e vasodilatação arteriolar. 04. Citoquinas: A) Fator de necrose tumoral (TNF-alfa): - Possui vida plasmática extremamente curta; - É um mediador liberado pelos macrófagos quando essas células são expostas a endotoxinas, certos vírus e outros estímulos, como estado de choque ou mesmoa penas hipoperfusão; - O IFN-gama e a IL-2 são moduladores da sua liberação; - O corticoide endógeno ou exógeno promove a diminuição de sua produção; - Aumenta a defesa contra bactérias; - Pode destruir tecidos caso a resposta inflamatória seja persistente e exacerbada. B) Interleucina 1: - É produzido por várias células, como macrófagos, linfócito, astrócito, células epiteliais e mesangiais; - Está relacionado com a reação aguda da reação inflamatória; - Provoca febre e sono; - Estimula as células hepáticas a produzirem proteínas da fase aguda pós- trauma; - Ativação de neutrófilos e células T. C) Interleucina 2: - É produzida pelos linfócitos T; - Os seus níveis séricos estão reduzidos após os traumas, provavelmente associados à excessiva produção de prostaglandinas E2; - Possui importante papel na produção e liberação de alguns hormônios hipofisários; - Reduz a pressão arterial, aumenta o débito cardíaco e atua na liberação de TNF-alfa e IFN-gama. D) Interleucina 6: - Possui importante significado para pacientes em condições críticas; - Atua na prevenção e no tratamento da sepse, sendo, na atualidade, considerada a “droga-alvo”. Anna lillian canuto bittencourt E) Fator ativador de plaquetas (PAF): - Estimula a liberação de TNF-alfa; - Ativa neutrófilos e citotoxicidade; - Aumenta a permeabilidade vascular e vasodilatação sistêmica; - Estimula agregação plaquetária; - Promove constrição das coronárias. F) Interferon alfa e beta: - Possui atividade antiviral; - Induz a febre. G) Interferon gama: - Provoca aumento da produção de anticorpos e ativação dos linfócitos B; - Promove ativação e proliferação neutrofílica; - Induz a expressão do antígeno de histocompatibilidade de classe I e II. • A ação do estímulo nocivo sobre as células dos vasos sanguíneos pode se traduzir por vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular; • Quando ocorre destruição dos vasos, ocorrendo a secção destes, há extravasamento de sangue e formação de hematomas e hemorragias, seja interna ou externa; • O simples aumento da permeabilidade vascular permite a perda de plasma sanguíneo para a área traumatizada, na qual se acumulam água, eletrólitos, proteínas e outras substâncias intracelulares que promovem ações diversas; • Na vigência de traumas com grande intensidade, o compartimento extracelular sofre importante redução, com repercussões hemodinâmicas representadas por: - Diminuição do débito cardíaco; - Diminuição do retorno venoso; - Alterações endócrinas. • O trauma pode promover agressão ou mesmo destruição extensa de órgãos definidos; • Essa lesão específica e significativa produz condição de insuficiência funcional parcial ou total; • Essa destruição pode causar insuficiência orgânica incompatível com LESÃO DE ÓRGÃOS ESPECÍFICOS EDEMATRAUMÁTICO Anna lillian canuto bittencourt a vida, provocando desequilíbrios do meio interno, às vezes não recuperáveis, e causando a morte do paciente. •O organismo frente ao trauma de qualquer origem se mobiliza totalmente para a produção de glicose; • O glicogênio hepático, sob influência hormonal, é rapidamente consumido em aproximadamente 12-24 horas (glicogenólise); • Quando o glicogênio hepático é todo consumido, o organismo passa a fazer gliconeogênese, caracterizado por: - Lipólise, que fornece ácidos graxos, que corresponde à principal fonte de energia utilizada pelo organismo durante o trauma; - O glicerol, proveniente também da lipólise, e aminoácidos, resultado da quebra proteica oriunda do tecido muscular, participam da gliconeogênese para a produção de mais glicose. Alterações endócrinas • Diante da agressão física, a resposta neuroendócrina normal é influenciada pela interação conjunta e simultânea do SNC, psiquismo do paciente, ação hormonal, atuação de estímulos provenientes da área lesada, medicamentos empregados, infecção e condições e alterações nutricionais; • O SNC é um importante regulador da resposta endócrina ao trauma; • A lesão tecidual ou de infecção são reconhecidas pelo SNC através de estímulos aferentes, mediados pelo nervo vago; 01. Cortisol e ACTH: • As principais funções do cortisol são: - Mobilizar AA da musculatura esquelética para serem substrato para gliconeogênese, para a cicatrização de feridas e para a síntese hepática de proteínas da fase aguda; - Facilitar a ação das catecolaminas no processo de lipólise. • Os níveis de cortisol permanecem elevados por no mínimo 24 horas em cirurgias de grande porte, mas não complicadas. 02. Catecolaminas: • A agressão física estimula a rápida liberação de adrenalina e noradrenalina pela suprarrenal; • Promove a vasoconstrição, a fim de evitar grandes perdas volêmicas; ALTERAÇÕES SISTÊMICAS Anna lillian canuto bittencourt • Além disso, possui funções metabólicas, como estímulo a: - Glicogenólise; - Gliconeogênese; - Lipólise. 03. Hormônio antidiurético (ADH): • Ocorre aumento da secreção de ADH durante o trauma; • A taxa elevada de ADH no pós- operatório aumenta a reabsorção de água pelos rins, diminuindo a formação de urina e aumentando o volume plasmático. 04. Aldosterona: • Ocorre aumento da secreção de aldosterona e, consequentemente, dos níveis séricos da tríade renina, angiotensina II e aldosterona; • A taxa elevada de aldosterona no pós- operatório, atuando nos rins, determina: - Diminuição da excreção dos íons sódio e bicarbonato; - Produção de urina ácida e com alto teor de potássio. • Aumenta o volume intravenoso, que foi perdido tanto durante o trauma quanto com a formação do edema traumático, aumentando o débito cardíaco. 05. Glucagon: • Possui seus níveis elevados no trauma; • É o principal mediador responsável pela gliconeogênese hepática; • O cortisol parece exercer efeito permissivo à ação do glucagon. 06. Insulina: • Possui seus níveis reduzidos em pós- operatórios de cirurgias eletivas; • É importante perceber que toda a resposta ao trauma é catabólica, e a insulina possui uma função anabólica; • Além disso, vários hormônios que estão elevados no trauma são contrainsulínicos, como o cortisol, epinefrina e glucagon. 07. Hormônio do crescimento (GH): • O GH está elevado durante procedimentos cirúrgicos, anestésicos e trauma. • Como o GH está aumentado se ele é um hormônio anabólico e o metabolismo pós-trauma é caracterizado por catabolismo? 1°: A ação anabólica do GH ocorre por meio de um hormônio sintetizado pelo fígado sob seu comando, o fator de crescimento de insulina tipo 1 (IGF-1); 2°: No trauma, os efeitos do IGF-1 são inibidos pelos altos níveis de IL-1, TNF- alfa e IL-6. • O GH, no trauma, apresenta alguma função catabólica nas fases iniciais, tendo Anna lillian canuto bittencourt ação conjunta com as catecolaminas, promovendo a lipólise. 08. Fases de recuperação cirúrgica: Fase adrenérgica-corticoide • Período inicial após procedimentos cirúrgicos; • Nessa fase, as ações provocadas pelas catecolaminas e pelo cortisol são mais intensas; • A taxa de gliconeogênese, a síntese de proteínas de fase aguda e a atividade imune atingem níveis insuperáveis; • Dura cerca de 6-8 dias em cirurgias eletivas não complicadas. Fase anabólica precoce • A ação do IGF-1 começa a se fazer presente; • A diminuição de ADH promove diurese de água retida; • O paciente manifesta desejo de se alimentar, que reflete a queda de TNF- alfa. Fase anabólica tardia • O paciente apresenta um ganho ponderal lento; • Pode durar de meses a anos. Alterações hemodinâmicas • Os traumatismos promovem perda sanguínea por edema e/ou hemorragias/hematomas, podendo promover importante hipovolemia; • Há uma queda do débito cardíaco, com menor retorno venoso central, além do aparecimento da vasoconstrição; • A vasoconstrição periférica impõe condições de redistribuição do fluxo sanguíneo para territórios prioritários, como o cérebro e o coração, possibilitando prejuízo em outras áreas como rins, pele e músculo; • As consequências orgânicas finais dessas alterações irão depender da intensidade e duração dessa irrigação prioritária. • O termo “trauma acidental” leva-se em consideração, além de lesões multissistêmicas e queimaduras, qualquer evento que ponha em risco a vida de pacientes; • A reação do organismo a esta agressão será mais significativa quanto mais grave for a intensidade da lesão; • As modificações hormonais, descritas para uma cirurgia eletiva, intensificam-se e tendem a se perpetua; TRAUMA ACIDENTAL Anna lillian canuto bittencourt • É nesse momento que a resposta ao estresse poderá levar ao óbito; • Efeitos deletérios da resposta exacerbada: - O desgaste da proteína muscular é mais acelerado, ou seja, possui um estado catabólico mais intenso e contínuo; - A proteólise descontrolada leva a um comprometimento da musculatura diafragmática, causando prejuízo a dinâmica respiratória; - A cicatrização de feridas encontra-se prejudicado; - A persistência de lipólise pode determinar a formação de microêmbolos gordurosos, agravada pelo decúbito dorsal e imobilização; - Pode apresentar uma acidose metabólica, após um período inicial de alcalose metabólica; - A vasoconstrição microcirculatória mantida pode ocasionar uma hipóxia; - Fenômenos trombóticos e distúrbios de coagulação podem se instalar; - A insuficiência renal e a síndrome do desconforto respiratório agudo são complicações desta cascata de eventos; - A disfunção de múltiplos órgãos aparece como circunstância final de uma evolução prolongada de processos traumáticos graves e persistentes. A MEDCURSO. Cirurgia – Resposta endócrina e imunológica ao trauma, queimaduras, cicatrização de feridas, choque, suporte nutricional e cirurgia plástica. Vol.3. 2019. USP. Cirúrgicas. Vol.1. REFERÊNCIAS Anna lillian canuto bittencourt
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