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FACULDADE DE CIÊNCIA E TECNOLOGIAS MATER CHRISTI AMANDA REBOUÇAS DE OLIVEIRA JÚLIA RUAMA P. DA SILVA LAURA LAIRONNY SILVA NUNES THAMIRES CARMINDA GARCIA ARRUDA THAMIRIS DA SILVA COSTA REGIME DA PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS (ARTS. 1.672 ao 1.686, CC/02) MOSSORÓ/ RN 2015 Introdução O presente trabalho tem o condão de realizar uma abordagem, ainda que breve, acerca do conceito de regime de participação final dos aquestos. A previsão legal a respeito desse regime de bens é encontrada no capítulo que trata do Direito de Família no Código Civil vigente, mais especificamente nos artigos 1.672 ao 1.686. Regime da participação final nos aquestos A participação final nos aquestos, como regime matrimonial de bens, repercute sobre as relações econômicas e patrimoniais do casal, notadamente sobre os modos de participação de cada um, comunicação ou não de bens entre ambos, administração e titularidade dos bens que sejam comuns e particulares e as consequências jurídicas dos atos dos consortes em relação a terceiros até a dissolução da sociedade conjugal. O referido regime, também denominado regime contábil, não era previsto na codificação anterior, tendo sido criado para substituir o antigo regime dotal. Sobre este último regime, Eduardo de Oliveira Leite, citado por Flávio Tartuce, comenta que: “Tudo indica, pois, como já demonstrado pela doutrina e jurisprudência francesas (onde o regime se revelou um enorme fracasso) que, além dos aspectos negativos do regime, ‘que lhe são inerentes’, o regime tem sido empregado de maneira muito limitada, só ‘satisfazendo futuros cônjuges aos quais pode-se prever a manutenção da igualdade de fortuna, em capitais e rendas, durante toda a união’”. Superado o modelo dotal, cuidou o codificador de 2002 de substituí-lo, consagrando o regime de participação final nos aquestos. De qualquer modo, conforme a doutrina majoritária, ele pouco será adotado no Brasil devido à sua difícil aplicação prática. Tanto isso se concretizou nos mais de dez anos do Código Civil de 2002, que o Projeto de Lei conhecido como Estatuto das Famílias do IBDFAM pretende suprimir o regime, por tratar-se de um estrangeirismo desnecessário, não adotado na prática familiarista nacional. Nas palavras de Maria Berenice Dias: “O regramento é exaustivo (arts. 1.672 a 1.686) e tem normas de difícil entendimento, gerando insegurança e incerteza. Além disso, é também de execução complicada, sendo necessária a mantença de uma minuciosa contabilidade, mesmo durante o casamento, para possibilitar a divisão do patrimônio na eventualidade de sua dissolução, havendo, em determinados casos, a necessidade de realização de perícia. Ao certo, será raramente usado, até porque se destina a casais que possuem patrimônio próprio e desempenhem ambos atividades econômicas, realidades de poucas famílias brasileiras, infelizmente”. De fato, o regime de participação final, além de ser dotado de intrínseca complexidade, acarreta, ainda, a inconveniência manifesta da vulnerabilidade à fraude patrimonial, o que, por si só, já serviria como desincentivo à sua adoção. ANTECEDENTES HISTÓRICOS E CONCEITO A legislação de Costa Rica é antiga referência histórica deste regime, como anota ROLF MADALENO: “O Código Civil da Costa Rica entrou em vigor em 1º de janeiro de 1888, teria sido um dos primeiros diplomas civis a adotar o regime matrimonial denominado de participação diferida dos bens gananciais, equivalente ao regime do Direito de Família brasileiro de participação final nos aquestos”. Outros estados, como a Alemanha, a França e a Espanha, guardadas as suas peculiaridades locais. Podemos reconhecer a participação final nos aquestos, em nosso sistema, como um regime híbrido, com características de separação e de comunhão parcial de bens. Esse regime assemelha-se ao regime da comunhão parcial, todavia garante aos cônjuges mais liberdade e autonomia na administração de seus bens, assim como, individualmente quanto à responsabilidade pelas obrigações contraídas durante o casamento. Isso explica a própria denominação do regime, uma vez que, partilham-se, ao final, os bens adquiridos com a participação onerosa de ambos os cônjuges. Nesse diapasão, o art. 1.672 do Código Civil: “Art. 1.672. No regime de participação final nos aquestos, cada cônjuge possui patrimônio próprio, consoante disposto no artigo seguinte, e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal, direito à metade dos bens adquiridos pelo casal, a titulo oneroso, na constância do casamento”. REGIME DE PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS X REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL Embora haja certa semelhança entre o regime de participação final nos aquestos e o da comunhão parcial – tendo com este o traço comum de não se comunicarem bens anteriores ao casamento e haver comunicação de certos bens adquiridos depois –, não se pode confundi-los. Na comunhão parcial, comunicam-se, em regra, os bens que sobrevierem ao casamento, adquiridos por um ou ambos os cônjuges, a título oneroso. Já na participação final, a comunicabilidade refere-se apenas ao patrimônio adquirido em comum esforço econômico pelo próprio casal, conforme dispõe o art. 1.672 do CC/02. O art. 1.673 reforça esta dessemelhança ao determinar que “integram o patrimônio próprio os bens que cada cônjuge possuía ao casar e os por ele adquiridos, a qualquer título, na constância do casamento”. Ou seja, mesmo durante a vigência do casamento, aquilo que um dos cônjuges adquirir sozinho, sem ajuda financeira do outro, integrará o seu patrimônio próprio. Outra diferença entre os regimes diz respeito à esfera sucessória, pois conforme o art. 1.829 do Código Civil, o cônjuge sobrevivente concorrerá com o descendente do autor da herança se foi casado no regime de participação final nos aquestos. O mesmo direito concorrencial só existirá, no caso da comunhão parcial, se o falecido houver deixado bens particulares. O legislador consagrou, então, uma explícita delimitação ao direito da(o) viúva(o), não prevista para aqueles que foram casados em participação final. A MATEMÁTICA DO REGIME A compreensão matemática do regime de participação final não é simples, portanto cabe aqui, realizarmos uma breve explicação a respeito dos dispositivos que vigem sobre o tema. O juiz, na condução da partilha, determinará os referenciais jurídicos a serem seguidos. Todavia, é necessário o auxílio de um contador para que o resultado da meação seja justo. A complexidade deriva da quantidade de massas patrimoniais que devem ser consideradas na partilha, correspondentes ao patrimônio que cada cônjuge possuía ao casar; as massas amealhadas por cada um no curso do matrimonio e a porção de bens adquirida a título oneroso. O Código Civil, no art. 1.674, dispõe a respeito dos bens que não comporão os aquestos, não integrando, assim, o cálculo da partilha. São estes: (I) os bens anteriores ao casamento e os que em seu lugar se sub-rogaram; (II) os que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade e (III) as dívidas relativas a esses bens. Ademais, o art. 1.675 determina que sejam computados no montante dos aquestos, as doações feitas por um dos cônjuges, sem a necessária autorização do outro. Nesse caso, faculta-se ao cônjuge prejudicado ou ao herdeiro a reivindicação do bem, em virtudeda vedação ao locupletamento ilícito. Nessa mesma linha, incorpora-se também ao monte partível, segundo o art. 1.676, o valor dos bens alienados em detrimento da meação, se não houver preferência do cônjuge lesado ou de seus herdeiros de os reivindicar. Vale salientar que, não sendo possível a divisão de todos os bens em natureza, deverá o juiz calcular a sua expressão econômica para permitir a reposição em dinheiro ao cônjuge não proprietário (aquele que não possui o registro ou título do bem) ou, afigurando-se inviável essa solução, tais bens serão judicialmente alienados, para posterior compensação em dinheiro, nos termos do art. 1.684/CC. AS DÍVIDAS NO REGIME DE PARTICIPAÇÃO NOS AQUESTOS É interessante para melhor entendimento acerca desse assunto, falarmos sobre a questão das dívidas neste regime. Neste regime, as dívidas contraídas por um dos cônjuges após o casamento, não se comunicam, salvo se reverterem em favor do outro. Conforme estabelece o art. 1.677 do CC: “Art. 1.677. Pelas dívidas posteriores ao casamento, contraídas por um dos cônjuges, somente este responderá, salvo prova de terem revertido, parcial ou totalmente, em benefício do outro.” Importante ressaltar, que não integraram os aquestos, os bens anteriores ao casamento, assim, imaginemos que um dos cônjuges trouxe para o casamento um imóvel exclusivamente seu, este, estará excluído de eventual meação como também possível dívida incidente sobre ele não se comunicará. Entretanto, se um dos cônjuges pagar a dívida do outro com patrimônio próprio, terá direito à restituição do valor atualizado, a ser descontada da meação que couber ao outro na dissolução do casamento. “Art. 1.678. Se um dos cônjuges solveu uma dívida do outro com bens do seu patrimônio, o valor do pagamento deve ser atualizado e imputado, na data da dissolução, à meação do outro cônjuge.” O cônjuge endividado vai pagar as suas dívidas com os seus bens próprios, não confundindo com os bens do outro. E, mesmo assim, se o credor (a quem se deve pagar a dívida) pretender tomar um bem de uso do casal, mas em nome do devedor, este bem estará protegido por ser de utilidade do cônjuge não devedor. Conclui-se, então, que, no casamento por esse regime, cada cônjuge mantém patrimônio distinto, administrando-o com maior liberdade e respondendo individualmente pelas dívidas que contrair. A DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL E O REGIME DE PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS Em havendo dissolução do regime da participação final nos aquestos, seja na antiga separação judicial, seja por divórcio, verificar-se-á o montante dos aquestos à data em que cessou a convivência, o que visa a evitar fraudes por aquele que detêm a titularidade ou a posse do bem partível (art. 1.683 do CC). É importante ressaltar que o termo final a ser considerado para efeito de se aferir o patrimônio amealhado em conjunto não é o da obtenção de sentença que haja dissolvido o vínculo conjugal, mas, sim, a data em que a convivência entre os cônjuges se encerrou. Não se levará em conta o conjunto de bens adquiridos após a ruptura fática para efeito de meação. Se o casamento for dissolvido por morte, verificar-se-á a meação do cônjuge sobrevivente, com a ressalva de que a herança deve ser deferida na forma estabelecida no art. 1.685 do CC/02. Em caso de nulidade ou anulação do casamento, se reconhecida a putatividade do matrimônio, deverão ser aplicadas as normas acima referidas (arts. 1.683 e 1.685) em favor do(s) cônjuge(s) de boa-fé. Conclusão Vimos que, o regime de bens aludido no presente trabalho é pouco aplicado no sistema jurídico brasileiro, dada a sua complexidade de execução. Conclui-se que, ao convencionar tal regime, o casamento não repercute na esfera patrimonial dos cônjuges, tendo em vista a incomunicabilidade que envolve os bens. E isso garante aos consortes uma certa autonomia na administração dos bens que lhe são individualizados. Referências Bibliográficas DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 9ª Edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito Civil, vol. 6: Direito de Família: As famílias em perspectiva constitucional. 4ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2014. TARTUCE, Flávio. Direito Civil, vol. 5: Direito de Família. 9ª edição. São Paulo: Método, 2014. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 6: direito de família, 10ª edição. São Paulo: Saraiva, 2013.
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