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1 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 MÓDULO saúde da mulher 1. CONHECER AS SÍNDROMES HIPERTENSIVAS GESTACIONAIS: CLASSIFICAÇÃO, FATORES DE RISCO, FISIOPATOLOGIA (ECLÂMPSIA E PRÉ-ECLÂMPSIA), MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS, DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO E COMPLICAÇÕES MATERNAS E FETAIS. SÍNDROMES HIPERTENSIVAS NA GESTAÇÃO Os distúrbios hipertensivos apresentam elevada incidência na gestação e representam uma causa importante de morbimortalidade perinatal, sendo a maior causa de morte materna no Brasil. CLASSIFICAÇÃO HIPERTENSÃO GESTACIONAL (TRANSITÓRIA) É definida pelo surgimento de nova hipertensão na 2ª metade da gravidez, mas sem o desenvolvimento de proteinuria. A pressão retorna aos níveis normais dentro das primeiras 12 semanas de puerpério PRÉ-ECLÂMPSIA É definida pelo aparecimento de hipertensão e proteinúria após 20 semanas de gestação em gestantes previamente normotensas. A pré-eclâmpsia é uma desordem multissitêmica, idiopática, especifica da gravidez e do puerpério. ECLÂMPSIA É a ocorrência de crises convulsivas, seguidas ou não de coma, em uma paciente com pré- eclâmpsia, descartando-se outras causas. São geralmente do tipo tônico-clônicas generalizadas e podem aparecer antes, durante ou após o parto. São autolimitadas (2-3 minutos) e são precedidas de sinais como cefaleia, alterações visuais, epigastralgia e dor no QSD do abdome. Pode ter como causa o vasoespasmo cerebral com isquemia local, encefalopatia hipertensiva, edema vasogênico e dano cerebral. HIPERTENSÃO CRÔNICA A hipertensão crônica na gravidez é definida como um estado hipertensivo (PA >140X90) presente antes do início da gestação ou diagnosticado antes de 20 semanas. Não está associada a edema e proteinúria. HIPERTENSÃO CRÔNICA COM PRÉ-ECLÂMPSIA SOBREPOSTA A Hipertensão essencial crônica preexistente se agrava em algumas gestantes, caracteristicamente após 24 semanas. Essa elevação da PA pode ser acompanhada de proteinúria, o que define a pré-eclampsia sobreposta e piora o prognóstico, além de se apresentar mais precocemente e ser frequentemente acompanhada de crescimento intrauterino restrito. DIFERENÇAS ENTRES OS TIPOS: Na pré-eclâmpsia ocorre elevação do ácido úrico, diminuição de antittrombina III, hipocalciúria (<100). Além de aparecimento recente de proteinúria, trombocitopenia e elevação de enzimas hepáticas. Na hipertensão crônica vamos ter uma fundoscopia com alterações. Níveis normais de ácido úrico e calciúria (>100). Problema 04 - A pressao subiu... 2 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 PRÉ-ECLÂMPSIA FATORES DE RISCO As complicações hipertensivas da gravidez são mais comuns entre as nulíparas e nos extremos da vida reprodutiva. A maior incidência em mulheres negras está relacionada a maior prevalência de hipertensão arterial em indivíduos dessa raça. A história familiar de pré-eclâmpsia é um importante fator de risco, como uma herança provavelmente monogênica. ETIOLOGIA Uma das bases mais aceitas para explicar a etiologia da pré-eclâmpsia tem como base a implantação anormal da placenta no leito uterino devido à ausência da segunda onda de invasão trofloblástica, que ocorre no segundo trimestre. TEORIA DA PLACENTAÇÃO ANORMAL Primeiro precisamos recordar que a placenta se desenvolve primariamente de células chamadas trofloblastos, que se diferenciam inicialmente em dois tipos: o sinciciotrofloblásto, que é responsável pelas trocas materno-fetais e produção hormonal e o citotrofloblasto que é responsável pela invasão da decídua e das artérias espiraladas. A invasão das artérias pelo citotrofloblasto leva a um alagamento do diâmetro do vaso de 4 a 6 vezes, e consequentemente aumento o fluxo sanguíneo. Na pré-eclâmpsia essa invasão trofloblástica e o remodelamento das artérias espiraladas é deficiente, resultando em diâmetros 50% menores. A consequência disso é uma isquemia placentária. Na gestação sem anormalidades, a migração trofloblástica acontece em duas ondas, uma no primeiro e outra no segundo trimestre. Na primeira onda ocorre destruição da capa musculoelástica das artérias espiraladas. E na segunda onda entre 16ª e 20ª semanas o segmento miometrial é consumido. Essas ondas acabam convertendo as artérias em vasos de baixa resistência. Nas gravidas que desenvolvem a pré-eclâmpsia, essa segunda onda de migração ocorre de forma incompleta. Assim, a resistência arterial não cai adequadamente, e os vasos permanecem estreitos e desenvolve-se a isquemia. Essa isquemia ou hipoperfusão placentária acaba levando injuria do endotélio vascular, desenvolvendo todas as alterações observadas na gestante. 3 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 TEORIA DA SUCEPTIBILIDADE GENÉTICA A pré-eclâmpsia é mais observada em mulheres com história familiar, em gêmeas e na raça negra, o que nos faz considerar um possível fator genético implicado. Ela é uma doença multifatorial poligênica, com centenas de genes implicados na associação com este distúrbio da gravidez. Não há, portanto, um gene específico que seja considerado responsável pelo desenvolvimento da doença. O risco de ter pré-eclâmpsia aumenta em até 40% caso a mãe da paciente tenha apresentado a doença, em torno de 35% se a irmã teve este diagnóstico e entre 22 e 47% para gemêas. FISIOPATOLOGIA A ativação endotelial sistêmica resulta em vasoespasmo, com consequente aumento da resistência vascular periférica e hipertensão arterial. Além disso, ocorre aumento da permeabilidade vascular, perda de volume plasmático para o terceiro espaço e deposito subendotelial de plaquetas e fibrinogênio. A lesão endotelial (decorrente da isquemia) leva a um descontrole no equilíbrio da produção de agentes vasodilatadores, vasoconstritores e coagulantes, o que provoca maior sensibilidade endotelial a agentes vasopressores pelo aumento da produção de tromboxano A2 (vasoconstrictor), diminuição da prostaciclina (vasodilatador) e aumento da produção de endotelinas e agregação plaquetária. A produção de oxido nítrico (potente vasodilatador) normalmente está diminuída na pré-eclâmpsia. Como consequência de todo o processo, temos o espasmo arteriolar placentário e sistêmico, evento básico na fisiopatologia dos distúrbios hipertensivos da gestação. A lesão endotelial também favorece a deposição de fibrina nos leitos vasculares, deflagrando eventos de Coagulação Intravascular Disseminada. As anormalidades nos níveis e atividade dos fatores de coagulação e distúrbios plaquetários primários também contribuem no processo. As lesões características da eclampsia são, em grande parte, causadas por trombose de arteríolas e capilares por todo o organismo, particularmente no fígado, rins, cérebro e placenta. Isso justifica a indicação de prevenção de tromboembolismo em pacientes com pré- eclâmpsia e eclampsia, defendida por alguns autores A permeabilidade vascular também se encontra aumentada secundariamente à lesão endotelial. Este fato é o principal responsável pelo edema periférico generalizado observado na pré- eclâmpsia/eclampsia, sendo exacerbado pela hipertensão (aumento da pressão hidrostática) e favorecido pela menor pressão coloidosmótica do plasma. Ausência da 2ª onda de invasão trofoblástica→ (2) Isquemia placentária → (3) Lesão endotelial → (4) Espasmo arteriolar placentário e sistêmico → (5) Aumento da permeabilidade vascular. REPECURSSÕES SISTÊMICAS ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS Como ocorre vasoconstrição (aumento da pressão hidrostática) e lesão endotelial (aumento da permeabilidade vascular), observamos saída de líquido do leito vascular (edema) e consequente hemoconcentração, que é um achado muito frequente na pré-eclâmpsia. Não há, entretanto, hipovolemia,pois o vasoespasmo diminui o leito vascular a ser preenchido. 4 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 As plaquetas se encontram, em geral, diminuídas por aumento da agregação e ativação plaquetária. Os fatores de coagulação só se alteram significativamente nos quadros graves, como síndrome HELLP. ALTERAÇÕES RENAIS Ocorre diminuição da perfusão renal e consequente diminuição da filtração glomerular. Com isto, podemos observar o aparecimento de oligúria, elevação dos níveis séricos de ureia, creatinina e ácido úrico, assim como diminuição da calciúria. Além disso, a lesão renal produzida pelo espasmo arteriolar sistêmico pode levar a quadros de insuficiência renal por necrose tubular aguda, geralmente reversível com o término da gestação. A necrose cortical renal é um distúrbio irreversível, mas felizmente raro. A lesão renal característica é a glomeruloendoteliose capilar, que antigamente se acreditava ser patognomônica da pré- eclâmpsia. Ela leva à proteinúria não seletiva (proteinúria ≥ 300 mg/24h), evento geralmente tardio no curso da doença. ALTERAÇÕES ENDÓCRINAS Na pré-eclâmpsia, em resposta à retenção primária de sódio pelos túbulos renais e à hipertensão, a secreção de renina pelo aparelho justaglomerular decresce e os níveis de AT-II e de aldosterona se reduzem para valores pré- gravídicos. ALTERAÇÕES CEREBRAIS Duas teorias tentam explicar as anormalidades cerebrais encontradas na eclampsia. Na primeira, a regulação cerebrovascular responde a hipertensão com um vasoespasmo exacerbado, o que resulta em isquemia, edema citotóxico e infarto tecidual. Já a segunda teoria, propõe que a elevação súbita da pressão excede a autorregulação cerebrovascular, levando a áreas de vasoconstricção e outras de vasodilatação. Isto gera um aumento da pressão hidrostática nos capilares arteriais e extravasamento de plasma e hemácias, culminando em edema vasogênico. A convulsão define o diagnóstico de eclampsia e é causada por uma liberação excessiva de neurotransmissores excitatórios, especialmente o glutamato; despolarização maciça da rede de neurônios; e liberação excessiva de potenciais de ação. Uma causa frequente de morte (60% dos óbitos) em pacientes com pré-eclâmpsia é a hemorragia cerebral. ALTERAÇÕES HEPÁTICAS Em casos mais graves, observa-se comumente disfunção hepática com elevação das transaminases e necrose periportal hemorrágica. Este quadro, quando associado à trombocitopenia e hemólise, recebe o nome de síndrome HELLP. Se estiver diante de paciente com pré-eclâmpsia com quadro de dor em barra no quadrante superior direito do abdome (dor em barra de Chaussier), você pode ter certeza que o quadro é grave e que pode evoluir a qualquer momento para crises convulsivas. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de pré-eclâmpsia tem como base o aparecimento de hipertensão e proteinúria após 20 semanas de gravidez. 1. HIPERTENSÃO É definida com uma pressão arterial > 140x90mmHg. Deve ser confirmada em duas medidas espaçadas por, pelo menos, quatro horas, não devendo ser espaçadas por mais de sete dias. 2. PROTEINÚRIA Proteinúria ≥ 300 mg/24h; ≥ 1+ em amostra isolada de urina (geralmente tardia em relação à hipertensão), o que equivale a 30 mg/dl em amostra urinária única ou relação proteinúria/creatinúria em amostra urinária > 0,3. Obs: Edema foi abandonado como critério diagnóstico por ocorrer em grande número de gestantes normais; Uma das formas propostas de rastreamento é através da dopplerfluxometria da artéria uterina, com intuito de identificar a invasão inadequada das artérias espiraladas e consequente aumento da resistência vascular, representada pelos índices de resistência elevados e incisuras diastólicas. Esta avaliação pode ser feita no 5 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 primeiro ou no segundo trimestre, mas a possibilidade de prevenção só é possível no rastreamento precoce. CLASSIFICAÇÃO Pré-eclâmpsia leve: A paciente com pré- eclâmpsia leve ou sem sinais de gravidade possui quadro de hipertensão e proteinúria, porém não há qualquer tipo de lesão de órgão-alvo. Pré-eclâmpsia grave: a presença de qualquer um dos sinais da tabela indica gravidade da doença; Obs: Caso um dos critérios de gravidade esteja presente, inclusive o pressórico, a paciente deverá ser considerada como portadora de pré- eclâmpsia, mesmo sem a presença de proteinúria COMPLICAÇÃO SÍNDROME HELLP HELLP é um acrônimo que significa Hemolisys, Elevated Liver enzimes e Low Platelets, do inglês hemólise, aumento de transaminases e trombocitopenia. Representa uma forma grave de pré-eclâmpsia, porém ainda não há consenso a respeito desta relação, uma vez que cerca de 15% das pacientes não apresentam antecedentes de hipertensão ou proteinúria. A hemólise é definida pela presença de anemia hemolítica microangiopática, sendo a alteração mais importante da tríade. Que identifica esquizócitos. Outros dados laboratoriais incluem aumento da bilirrubina indireta, haptoglobina diminuída (< 25 mg/dl), LDH aumentado e diminuição da hemoglobina Outros sintomas incluem: dor no quadrante superior direito ou epigástrica; aumento excessivo do peso e piora do edema; hipertensão; proteinúria; náuseas e vômitos, cefaleia, alterações visuais e icterícia. As pacientes que não apresentem todos os critérios são diagnosticadas como portadoras de síndrome HELLP parcial. ECLÂMPSIA Caracteriza-se pela presença de convulsões tônico-clônicas em uma paciente com pré- eclâmpsia. Em geral, são de curta duração (média de 60 a 75 segundos) e são indistinguíveis eletroencefalo‐graficamente de outras causas de crises tônico-clônicas; Pode ocorrer durante a gravidez (50% dos casos), durante o trabalho de parto (25%) ou no puerpério (25%). Em cerca de 20% dos casos, as crises convulsivas se desenvolvem na ausência DE proteinúria, o que reforça a necessidade de seguimento das gestantes que desenvolvem hipertensão, mesmo na ausência de proteinúria patológica. Após a convulsão, sobrevém um estado comatoso (período pós-ictal), seguido de alterações respiratórias, taquicardia, hipertermia e acidose láctica. Bradicardia fetal com duração de cerca de três a cinco minutos é comum durante e logo após o episódio convulsivo, devido ao quadro de hipóxia e hipercapnia materna, e não requer parto de emergência. A estabilização da pressão materna, 6 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 terapia anticonvulsivante e oxigenoterapia em geral são suficientes para recuperação fetal. Deve-se considerar outro diagnóstico quando as convulsões surgem 48-72 horas pós-parto ou durante a administração do sulfato de magnésio. SEGUIMENTO e TRATAMENTO Até o momento, o único tratamento possível para pré-eclâmpsia é a interrupção da gestação. 1. PRÉ-ECLÃMPSIA LEVE Nesses casos a conduta deve ser conservadora até que o feto atinja 37 semanas. O acompanhamento materno-fetal deve ser rigoroso com consultas semanais para aferição da PA e pesquisa de sinais de gravidade. Além de exames laboratoriais (hemograma, plaquetas, ureia, creatinina, ácido úrico, transaminases, EAS e proteinúria). A cardiotocografia deve ser feita semanalmente a partir de 30-32 semanas. E o USG deve ser repetido a cada 3 ou 4 semanas. Atingindo o termo, a recomendação é pela interrupção da gestação. O tratamento anti-hipertensivo não altera o curso da pré-eclâmpsia, não previne a evolução para eclampsia e não reduz morbimortalidade perinatal. Desta forma, não se deve prescrever anti- hipertensivos ou sulfato de magnésio para gestante com diagnóstico de pré-eclâmpsia leve ou hipertensão gestacional. A corticoterapia pode ser considerada já que há um risco de progressão da doença e consequentemente interrupção prematurada gestação. 2. PRÉ-ECLÂMPSIA GRAVE O surgimento de sinais que indiquem uma pré- eclâmpsia grave ou o aparecimento de convulsões justifica a internação imediata; O parto nesses casos será sempre benéfico para a gestante (IG>34 semanas). No entanto, a conduta conservadora pode ser considerada nos casos de pré-eclâmpsia grave em que a gestante está estável e o feto é bastante prematuro. Obs: a conduta conservadora não é permitida na eclampsia. Antes de se interromper a gestação, algumas medidas devem ser tomadas por pelo menos quatro horas para estabilização do quadro clínico e prevenção e/ou tratamento das crises convulsivas. Na vigência de crises convulsivas, deve-se atentar para a manutenção das vias aéreas livres e prevenção da aspiração, adotar o decúbito lateral esquerdo e oxigenoterapia suplementar (8 a 10 L/min). Administrar corticoide para a maturação pulmonar fetal: Betametasona (12 mg IM a cada 24 horas por 48 horas); ou Dexametasona (6 mg IM a cada 12 horas por 48 horas); SULFATO DE MAGNÉSIO É a medicação de escolha para prevenir ou controlar as convulsões, mas não tem ação anti- hipertensiva. Deve ser prontamente administrado em todo quadro de eclampsia ou pré-eclâmpsia grave e mantido por 24 horas após o parto, quando o risco de crises convulsivas se torna baixo; É contraindicado em caso de miastenia gravis (pode precipitar crise) e o uso associado a uso de bloqueadores do canal de cálcio deve ser cauteloso. Alguns cuidados devem ser tomados para evitar a intoxicação pelo magnésio. Por isso é importante solicitar a dosagem de Magnésio (manter entre 5- 9mg/dl). Além disso, observar a presença dos reflexos tendinosos, principalmente o patelar, visto que seu desaparecimento é sinal de intoxicação. Também deve avaliar a diurese <25ml/h indica um reajuste de dose. A FR <12 também é sugestiva de intoxicação; Qualquer sinal de intoxicação indica imediata suspensão da medicação e administração de gluconato de cálcio 1 g IV, infundido lentamente em três a cinco minutos. 7 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 ANTI-HIPERTENSIVO Devem ser utilizados sempre que a PAS for >160 OU PAD >110, por um período > 15 minutos. É importante ressaltar que o controle da pressão arterial não impede a convulsão, portanto, não justifica abrir mão do uso de sulfato de magnésio. O objetivo do tratamento medicamentoso é manter a pressão sistólica entre 140 a 155 mmHg e a diastólica entre 90 e 105 mmHg. HIDRALAZINA: é um vasodilatador arteriolar e o anti-hipertensivo de escolha. A dose é de 5mg IV, repetida em 20 a 40 minutos até uma dose cumulativa máxima de 20mg. Ele leva a uma diminuição da PA em até 20 minutos. Seus efeitos colaterais incluem hipotensão materna, cefaleia e alterações no traçado do cardiotoco. NIFEDIPINA: este bloqueador do canal de cálcio é utilizado na dose de 10-20mg oral a cada 20 minutos, em uma dose máxima de 180mg. Seu início de ação ocorre após 5-10 minutos. O uso concomitante com sulfato de magnésio deve ser evitado. NITROPRUSSIATO DE SÓDIO: deve ser utilizado em casos refratários a outras medidas hipertensivas, pelo risco de intoxicação fetal por cianeto. A dose inicial deve ser de 2 a 10mg/kg/min. E o início de ação é imediato. 3. SÍNDROME HELLP Da mesma forma que na eclâmpsia, o tratamento da síndrome HELLP consiste na interrupção da gestação após estabilização materna, independentemente da idade gestacional. Aqui vale ressaltar que o sulfato de magnésio deve ser evitado por via intramuscular, pelo risco aumentado de hematoma nos casos de síndrome HELLP complicadas com distúrbios da coagulação e trombocitopenia. Em pacientes com menos de 34 semanas, deve- se tentar estabilizar a paciente com o uso de sulfato de magnésio e anti-hipertensivos (hidralazina, labetalol ou nifedipina), fazer uso de glicocorticoides (para acelerar a maturação pulmonar fetal) e proceder à internação. Geralmente, após o término do ciclo do corticoide glicocorticoide, a conduta consiste na interrupção da gravidez. 4. HIPERTENSÃO CRÔNICA METILDOPA: É considerado de escolha para tratamento da HAC. Sua dose inicial é de 250mg VO 2x por dia até dose máxima de 3g. Entretanto, é considerado um anti-hipertensivo fraco e, portanto, não é efetivo no tratamento da hipertensão grave. BETABLOQUEADORES: são, em geral, considerados seguros durante a gestação, apesar de haver certa preocupação com o risco de restrição de crescimento quando utilizados no segundo e terceiro trimestres da gestação, especialmente com atenolol e propranolol, os quais devem ser evitados. Particularmente, o pindolol pode ser utilizado (inclusive como medicação de escolha para alguns autores), na dose 10 a 30 mg/dia, em duas ou três tomadas, com incrementos de 5 a 10 mg. ANTAGONISTAS DE CÁLCIO: a anlodipina seria uma terceira opção, na dose de 5 a 20 mg por dia por via oral. Verapamil também pode ser considerado. Iniciar com 80 mg/dia (dose máxima de 240 mg/dia). Obs: os IECA são contraindicados. PROFILAXIA Diversos estudos sugerem a efetividade da administração de baixas doses de AAS (aspirina) (60-150mg ao dia) em diminuir a incidência dos distúrbios hipertensivosna gestação em pacientes de alto risco (hipertensas crônicas, diabéticas, pacientes com história familiar ou obstétrica de pré-eclâmpsia). Iniciada até 16 semanas e mantida até o parto. Esta medida profilática tem como base a propriedade inibitória da aspirina na síntese de tromboxano sem alterar de forma significativa a produção de prostaciclinas, restaurando assim o equilíbrio entre essas duas substâncias. 2. DESCREVER A ASSISTÊNCIA DAS SINDROMES HIPERTENSIVAS NA GESTAÇÃO DE ACORDO COM O MINISTÉRIO DA SAUDE. 8 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 3. EXPLICAR OS MECANISMOS DE AÇÃO DOS FÁRMACOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DAS SÍNDROMES HIPERTENSIVAS NA GESTAÇÃO (METILDOPA, SULFATO DE MAGNÉSIO E HIDRALAZINA). METILDOPA É um simpaticolítico de ação central, que reduz a descarga simpática dos centros vasomotores do tronco encefálico. Na atualidade é prescrita sobretudo para hipertensão durante a gravidez. A metildopa baixa a pressão arterial, principalmente pela redução da resistência vascular periférica, com diminuição variável da FC e do débito cardíaco. A maioria dos reflexos cardiovasculares permanece intacta após a administração de metildopa e a redução da PA não depende acentuadamente da postura. Algumas vezes ocorre hipotensão postural. O efeito indesejável mais comum da metildopa é a sedação, principalmente no início do tratamento. Com a terapia a longo prazo, os pacientes podem queixar-se de cansaço mental persistente e diminuição da concentração mental. Pode ocorrer pesadelos, depressão mental, vertigem e sinais extrapiramidais embora mais raro. Tanto em homens quanto mulheres tratados com metildopa pode ocorrer lactação associada a um aumento da secreção de prolactina. Esse efeito toxico é provavelmente mediado pela inibição de mecanismos dopaminérgicos no hipotálamo. HIDRALAZINA A hidralazina é um vasodilatador direto e dilata as arteríolas, mas não as veias. Ela pode ser usada de maneia mais efetiva de modo combinado com outros agentes anti-hipertensivos, sobretudo no tratamento da hipertensão grave. A hidralazina é rapidamente metabolizada pelo fígado durante sua primeira passagem. Sua meia- vida caria de 1,5 a 3 horas, porém os efeitos vasculares persistem por mais tem devido à intensa ligação ao tecido vascular. Os efeitos adversos mais comuns são cefaleia, náuseas, anorexia, palpitações, sudorese e rubor. Em pacientes com cardiopatia isquêmica, taquicardia reflexa e estimulação simpática, pode haver angina ou arritmias isquêmicas. Com doses acima de 40 mg/diaé possível a manifestação de uma síndrome semelhante ao lúpus eritematoso, caracterizada por artralgia, mialgia, erupções cutâneas e febre. NITROPRUSSIETO DE SÓDIO É um poderoso vasodilatador administrado por via parenteral, utilizado no tratamento de emergências hipertensivas, bem como na insuficiência cardíaca grave. O nitroprusseto dilata os vasos tanto arteriais quanto venosos, com consequente redução da resistência vascular periférica. A ação ocorre em consequência da ativação da enzima guanililciclase, por meio da liberação de óxido nítrico, ou por estimulação direta da enzima. O nitroprusseto é rapidamente metabolizado pela captação dos eritrócitos, com liberação de cianeto. 9 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 Ele reduz de forma rápida a pressão arterial, porém seus efeitos desaparecem em 1 a 10 minutos. Além de redução excessiva da PA, o efeito adverso mais grave observado está associado ao acúmulo de cianeto. Já foi constatada a ocorrência de acidose metabólica, hipotensão excessiva e morte. SULFATO DE MAGNÉSIO O sulfato de magnésio vem sendo utilizado em obstetrícia para prevenção e controle das crises convulsivas na doença hipertensiva específica da gravidez com a vantagem de diminuir a resistência vascular periférica sem alterar o fluxo sanguíneo uterino. Foi postulado que a propriedade anticonvulsivante do sulfato de magnésio se deve ao bloqueio do receptor NMDA. O magnésio é um elemento essencial para centenas de processos enzimáticos, que incluem a ligação a receptores hormonais, o metabolismo energético e a contratilidade muscular, além da função neuronal e neurotransmissora. Atua através da competitividade com o cálcio, seja na placa motora terminal ou na membrana celular. O sulfato é a única preparação existente do magnésio para uso parenteral (MgSO4.7H2O) e pode ser administrado por via intramuscular (IM) ou intravenosa (IV). Como a absorção intestinal de magnésio é instável, a administração parenteral é a preferida para as principais indicações obstétricas. Os efeitos colaterais maternos são dependentes da adequação das doses e da velocidade de infusão e aqueles mais frequentes (rubor, sudorese, náuseas, sonolência, cefaleia e visão borrada) são transitórios e de menor gravidade; 4. 4. CARACTERIZAS AS GESTAÇÕES DE BAIXO E ALTO RISCO (CAUSAS); Essa identificação de risco deverá ser iniciada na primeira consulta de pré-natal e deverá ser dinâmica e contínua, sendo revista a cada consulta. 5. SALIENTAR AS PRINCIPAIS CAUSAS DE MORTE MATERNA NA GESTAÇÃO. A morte materna é definida como óbito de uma mulher durante a gestação ou até 42 dias após o término da gestação, independente da duração 10 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 ou da localização da gravidez, devida à qualquer causa relacionada ou agravada pela gravidez ou por medidas em relação à ela, porém não devida a causas acidentais ou incidentais. Quando essa morte é resultante de complicações obstétricas ocorridas na gravidez, parto ou puerpério, é classificada como morte obstétrica direta; por exemplo: a morte materna por pré- eclâmpsia, eclâmpsia, aborto, hemorragia, infecção de foco uterino. Quando é resultante de doenças pré-gestacionais ou que se desenvolveram durante a gestação, não devido a causas obstétricas diretas, mas que foram agravadas pelos efeitos fisiológicos da gravidez, é classificada como morte obstétrica indireta; por exemplo: a morte materna decorrente de infecção de foco não uterino, hipertensão pré-existente à gestação, cardiopatia etc. Distúrbios hipertensivos da gravidez, hemorragia, infecções, complicações no parto e abortamento inseguro são as principais causas de morte materna e representam aproximadamente 75% do total de óbitos maternos no mundo.
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