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Antropologia Jurídica - A Cultura

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A CULTURA
A atividade animal
A ação instintiva é regida por leis
biológicas, idênticas na espécie e invariáveis
de indivíduo para indivíduo. A rigidez dá a
ilusão da perfeição quando o animal,
especializado em determinados atos, os
executa com extrema habilidade.
Na verdade os instintos são "cegos", ou
seja, são uma atividade que ignora a
finalidade da própria ação.
O ato humano voluntário, em
contrapartida, é consciente da finalidade,
isto é, o ato existe antes como
pensamento, como uma possibilidade, e a
execução é o resultado da escolha dos
meios necessários para atingir os fins
propostos. Quando há interferências
externas no processo, os planos também
são modificados para se adequarem à
nova situação.
A inteligência
concreta
A inteligência distingue-se do
instinto por sua flexibilidade, já que as
respostas são diferentes conforme a
situação e também por variarem de
animal para animal.
Trata-se, porém, de um tipo de
inteligência concreta, porque
depende da experiência vivida "aqui e
agora". Mesmo quando o animal
repete mais rapidamente o teste já
aprendido, seu ato não domina o
tempo, pois, a cada momento em
que é executado, esgota-se no seu
movimento.
Em outras palavras, o animal não
inventa o instrumento, não o
aperfeiçoa. Portanto, o gesto útil não
tem sequência e não adquire o
significado de uma experiência
propriamente dita.
Intelig. Concreta
A atividade humana
A linguagem
O homem é um ser que fala. A palavra se
encontra no limiar do universo humano,
pois caracteriza fundamentalmente o
homem e o distingue do animal.
Poderíamos dizer, porém, que os animais
também têm linguagem. Mas a natureza
dessa comunicação não se compara à
revolução que a linguagem humana
provoca na relação do homem com o
mundo.
A diferença entre a linguagem humana e a
do animal está no fato de que este não
conhece o símbolo, mas somente o
índice. O índice está relacionado de forma
fixa e única com a coisa a que se refere. Por
exemplo, as frases com que adestramos o
cachorro devem ser sempre as mesmas,
pois são índices, isto é, indicam alguma
coisa muito específica.
Assim, a linguagem animal visa a
adaptação à situação concreta,
enquanto a linguagem humana
intervém como uma forma abstrata
que distancia o homem da experiência
vivida, tornando-o capaz de reorganizá-
la numa outra totalidade e lhe dar novo
sentido.
É pela palavra que somos capazes de
nos situar no tempo, lembrando o que
ocorreu no passado e antecipando o
futuro pelo pensamento. Enquanto o
animal vive sempre no presente, as
dimensões humanas se ampliam para
além de cada momento.
É por isso que podemos dizer que,
mesmo quando o animal consegue
resolve problemas, sua inteligência é
ainda concreta. Já o homem, pelo
poder do símbolo, tem inteligência
abstrata.
O trabalho
O animal não produz a sua
existência, mas apenas a conserva
agindo instintivamente ou, quando se
trata de animais de maior
complexidade orgânica, "resolvendo"
problemas de maneira inteligente.
Se o trabalho é a ação transformadora
da realidade, na verdade o animal não
trabalha, mesmo quando cria resultados
materiais com essa atividade, pois sua
ação não é deliberada, intencional.
O trabalho humano é a ação dirigida
por finalidade conscientes, a resposta
aos desafios da natureza na luta pela
sobrevivência. Ao reproduzir técnicas
que outros homens já usaram e ao
inventar outras novas, a ação humana
se torna fonte de ideias e ao mesmo
tempo uma experiência propriamente
dita.
Isso significa que, pelo trabalho, o
homem se autoproduz. Enquanto o
animal permanece sempre o mesmo
na sua essência, já que repete os
gestos comuns à espécie.
Por ser uma atividade relacional, o
trabalho, além de desenvolver
habilidades, permite que a convivência
não só facilite a aprendizagem e o
aperfeiçoamento dos instrumentos,
mas também enriqueça a afetividade
resultante do relacionamento
humano: experimentando emoções de
expectativa, desejo, prazer, medo, inveja,
o homem aprende a conhecer a
natureza, as pessoas e a si mesmo.
O trabalho é a atividade humana por
excelência, pela qual o homem intervém
na natureza e em si mesmo. O trabalho
é condição de transcendência e,
portanto, é expressão da liberdade.
Cultura e humanização
As diferenças entre o homem e o
animal não são apenas de grau, pois
enquanto o animal permanece
mergulhado na natureza, o homem é
capaz de transformá-la, tornando
possível a cultura. 
A palavra cultura também tem vários
significados, tais como o de cultura
da terra ou cultura de um homem
letrado. Em antropologia, cultura
significa tudo que o homem produz
ao construir sua existência: as
práticas, as teorias, as instituições. 
A cultura é portanto, um processo
de autoliberação progressiva do
homem, o que o caracteriza como
um ser de mutação, um ser que
ultrapassa a própria experiência. 
Comunidade dos homens 
Todas as diferenças existentes no
comportamento modelado em
sociedade resultam da maneira pela
qual os homens organizam as
relações entre si, que possibilitam o
estabelecimento das regras de conduta
e dos valores que nortearão a
construção da vida social, econômica e
política. 
Assim como a manifestação pode ser
decorrente da aceitação sem crítica
dos valores impostos pelo grupo
social, também é verdade que a vida
autêntica só pode ocorrer na
sociedade e a partir dela.
 
Cabe ao homem a preocupação
constante de manter viva a dialética, a
contradição fecunda de pólos que se
opõem mas não se separam.
Portanto, a sociedade é a condição da
alienação e da liberdade, é a condição
para o homem se perder, mas
também de se encontrar. 
REFERÊNCIAS
 
ARANHA, Marina Lucia de
Arruda; MARTINS, Maria Helena
Pires. Filosofando- Introdução
à Filosofia . 2a ed. São Paulo:
Moderna, 1997.

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