Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AFIRMAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS: PRIMEIRA DIMENSÃO DIREITOS INDIVIDUAIS MAGNA CARTA - 1215 • Guerras promovidas por João Sem-Terra com o consequente aumentos dos impostos - gerando insatisfação entre a nobreza • Os barões entram em guerra com o rei e como consequência o obrigaram a assinar a Magna Carta com o objetivo de que seus direitos fossem reconhecidos. • Pela primeira vez na história medieval, o Rei torna-se naturalmente vinculado às leis que edita. • Parte de sua inovação foi reconhecer que os direitos da nobreza e do clero existem independentemente do consentimento do monarca MAGNA CARTA - 1215 • A democracia moderna acaba despontando a partir desse documento. Com uma soberania popular ativa e povo exercendo funções legislativas e judiciárias • Mesmo tendo sido foi uma convenção entre o monarca e os barões para garantir a eles privilégios especiais, algumas de suas disposições ainda fazem parte da legislação inglesa em vigor. MAGNA CARTA - DISPOSIÇÕES • O artigo 39 é uma das cláusulas de maior relevância (devido processo legal e júri popular): • “Nenhum homem livre será preso, aprisionado ou privado de uma propriedade, ou tornado fora-da-lei, ou exilado, ou de maneira alguma destruído, nem agiremos contra ele ou mandaremos alguém contra ele, a não ser por julgamento legal dos seus pares, ou pela lei da terra”. • Artigo 12 – nenhuma taxação sem representação • “12. Nenhuma scutage (taxa) ou ajuda será imposta no nosso reinado, exceto pelo conselho comum do nosso reino” PRINCIPAIS DISPOSIÇÕES • Bases da ideia de que ninguém será obrigado a fazer algo, senão em virtude de lei • “16. Ninguém será forçado a prestar mais serviços por um feudo de cavaleiro, ou outra tenência livre, além dos que deve em consequência disso.” • “23. Nenhuma vila ou homem serão forçados a construir pontes sobre rios, exceto aqueles que tiverem esse dever legalmente por costume.” PRINCIPAIS DISPOSIÇÕES • Bases do tribunal do Júri • “20. Um homem livre será punido por um pequeno crime apenas, conforme a sua medida; para um grande crime ele será punido conforme a sua magnitude, conservando a sua posição; um mercador igualmente conservando o seu comércio, e um vilão conservando a sua cultura, se obtiverem a nossa mercê; e nenhuma das referidas punições será imposta excepto pelo juramento de homens honestos do distrito. “ • “21. Os condes e barões serão punidos por seus pares, conformemente à medida do seu delito.” LEI DE HABEAS CORPUS - 1679 • O habeas corpus já existia na Inglaterra como remédio contra a prisão ilegal. No entanto não haviam regras processuais adequadas para garantir sua eficácia. • Isso veio consolidar um modelo de pensamento jurídico segundo o qual não existem direitos sem uma ação judicial própria para sua defesa (remedies precede rights) • Dessa forma se instituíram duas linhas de pensamento muito distintas em termos de direitos humanos: a inglesa e a francesa. • A inglesa defende que a proteção jurídica da pessoa provem das garantias judiciais, ao passo que a francesa entende que uma declaração de direitos tem mais força LEI DE HABEAS CORPUS - 1679 • Essa garantia de proteção jurídica passa a ser matriz das que vieram a ser criadas posteriormente • No entanto a fórmula inglesa previa que a autoridade que detinha o indivíduo o apresentasse dentro de três dias à autoridade judicial. ILUMINISMO E DIREITOS HUMANOS • A partir da Escola do direito natural e das teorias do pacto social, difundiu-se na cultura política europeia a ideia de direitos naturais para todos os seres humanos, bom como a ideia de soberania popular. • Os iluministas reelaboram e difundem a ideia de direitos naturais, conferindo a eles mais amplos valores políticos e sociais. • As teorias sobre as quais principalmente se fundamentam a Declaração dos direitos do homem e do cidadão de 1789 são: a) dos direitos e do Estado de Locke; b) da soberania popular de Rousseau (1712-1778) e c) da divisão de poderes de Montesquieu (1689-1755). LIBERDADE DE RELIGIÃO E DIREITOS DE LIBERDADE • Muitos autores consideram a liberdade religiosa como a fonte e o modelo de todos os direitos de liberdade • Segundo Jellinek, “a ideia de fixar sob forma de lei os direitos inatos, inalienáveis e sagrados do indivíduo não é de origem política, e sim de ordem religiosa” • Liberdade de consciência e separação entre Igreja e Estado são dois princípios que constituem o fundamento da laicidade francesa que perdura até hoje. • “Na França dos setecentos, a ideia de liberdade e sua institucionalização como direito estão intimamente ligadas à limitação dos poderes da Igreja católica às lutas do povo francês contra as manifestações mais opressivas do clero. [...] nessa visão, a liberdade religiosa de crer, professar qualquer religião, ou nenhuma religião, e a liberdade dos não crentes nascem de uma única raiz, a liberdade de consciência” (FACCHI, 2011) ILUMINISMO E DIREITO PENAL • A realização dos direitos naturais exige uma transformação radical das instituições e das normas vigentes. • Os direitos do indivíduo sobre o próprio corpo, sobre a própria liberdade e sobre os próprios bens devem ser protegidos de outros indivíduos, mas especialmente do Estado. • Assim, o âmbito no qual mais incidiu o Iluminismo Jurídico foi o do direito penal e processual penal. • São exemplos de propostas de reformas: o princípio da proporcionalidade da pena ao crime; a abolição dos suplícios e dos sofrimentos físicos; a atenuação das penas; as instauração de regras de garantias do acusado durante o processo. • O Iluminismo foi fundamental para a construção do modelo garantista de direito penal ILUMINISMO E DIREITO À PROPRIEDADE • A propriedade privada também é defendida como direito natural que quase não possui limites • Ainda que haja críticas importantes como as de Rousseau • “Segundo essa visão a desigualdade nas riquezas, nas honras e no poder não possui fundamento na natureza, mas no progresso da espécie humana. Rousseau não é uma voz isolada: a propriedade privada é vista por vários autores em seus aspectos negativo e seu seus valores antissociais.” (FACCHI, 2011) A INDEPENDÊNCIA DOS EUA E AS PRIMEIRAS CARTAS DOS DIREITOS • A primeira Constituição proclamada foi a da Virginia, em 1776, seguida, meses depois, pela Declaração da Independência e, aos poucos, outros estados, até a Constituição dos Estados Unidos da América em 1787. • As cartas estadunidenses são as primeiras manifestações históricas do constitucionalismo moderno, isto é, da corrente de pensamento que considera a Constituição um elemento essencial de um estado de direito. (FACCHI, 2011) • Nessa perspectiva, a garantia dos direitos naturais é a finalidade do governo: ela é o limite e a legitimação do poder político. A INDEPENDÊNCIA DOS EUA E AS PRIMEIRAS CARTAS DOS DIREITOS • Segundo FACCHI, 2011 “Foram, portanto, as próprias conquistas da história do povo inglês que legitimaram a insurreição americana, enquanto os direitos das cartas inglesas apelavam para a tradição, “para um direito nacional e histórico”, os direitos das declarações americanas “o indivíduo não os deve ao Estado, mas à sua própria essência, invioláveis e inalienáveis”. É a primeira realização histórica dos direitos naturais do ser humano teorizados pelo contratualismo.” CONSTITUIÇÃO DOS EUA • Criada em 1787 e ratificada em 1788 • Diz-se ser a segunda constituição mais antiga, perdendo para a constituição de San Marino de 1600 • Na formulação original possuía apenas 07 artigos CONSTITUIÇÃO DOS EUA • Nos artigos 1 a 3 estabelece a divisão de poderes instituindo primeiro um Poder legislativo constituído de Senado e Câmara de Deputados (art. 1), depois a figura do Poder Executivo com as figuras do Presidente da República e do Vice (art. 2) e, por fim, um Poder Judiciário (art. 3) • Os artigos 6 a 7 dispõem sobre a organização federativa e as propostas de emendas à constituição. • Foi complementada pelo “Bill ofRights” que incorporou mais 10 artigos (emendas) ao texto constituicional • Estes artigos tratavam fundamentalmente dos direitos individuais BILL OF RIGHTS • Redigido em 1789, entra em vigor em 1791. • Diz respeito às proteções dos indivíduos contra os arbítrios do Estado • Garante, assim, a liberdade de expressão, de crença, de imprensa e reunião (Emenda I); direito de portar armas (Emenda II – interpretação controversa); O direito do povo à inviolabilidade de pessoas, casas, documentos e propriedade pessoal contra buscas e apreensões não razoáveis (Emenda IV); garantia do júri (Emenda V); devido processo legal (Emenda VI); REVOLUÇÃO FRANCESA E A DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO • A declaração dos direitos do homem e do cidadão é o documento que assinala, para toda a nação Francesa, o rompimento com a antiga ordem e o início de uma nova. • Primeira carta dos direitos universais • Universalismo, racionalismo, individualismo são as três ideologias fundamentais que inspiram a Declaração dos direitos 1789. • Três ideologias que se integram e sustentam mutuamente: os direitos pertencem aos indivíduos, que os reconhecem através da própria razão, que pertence a cada um pelo único fato de ser homem em todo lugar e momento. (FACCHI, 2011) DECLARAÇÃO DE DIREITOS DA REVOLUÇÃO FRANCESA • Um dos principais marcos na garantia de direitos individuais ao lado da Constituição dos EUA • Diferente da tradição inglesa, os franceses declararam direitos sem mencionar os instrumentos judiciais para garanti-los • Suprime a divisão da sociedade em estamentos e dá mais um passo na constituição do conceito de indivíduo • Separação entre “direitos do homem” e “do cidadão”- estes são meios para a proteção daqueles. DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO • Marca o fim do Antigo Regime • Universalismo, racionalismo e individualismo são os três ideários que compõem essa declaração de direitos • Maior precisão dos direitos individuais – no campo penal especialmente – princípio da anterioridade – art. 7º e 8º • Presunção de inocência – art. 9º • Liberdade de expressão - art. 10 e 11 • Estrita legalidade na criação e cobrança de tributos (art. 13 e 14) • Garantia da propriedade privada contra expropriações abusivas (art. 2º e art. 17) • Sentido de constituição - art. 16 O SURGIMENTO DOS DIREITOS DAS MULHERES • No decorrer do século XVIII, delineiam-se os contornos de duas esferas da ação e da moral humana: uma esfera pública, que corresponde às atividades econômicas, comerciais, políticas e ao trabalho remunerado, e uma esfera privada relativa à família, aos afetos, ao trabalho doméstico. (FACCHI, 2011) • Os homens são destinados à primeira e as mulheres à segunda. • A condição jurídica feminina permanece diferente da masculina. “O homem da Declaração universal é masculino” • Apesar de denúncias pontuais e do fato de que a participação das mulheres na revolução francesa tivesse sido ampla e determinante, a condição das mulheres não melhorou. CONTRIBUIÇÕES FEMINISTAS • “Mary Wollstonecraft escreve em 1792, A Vindication of the rights of Woman, que seria considerado o primeiro texto de teoria feminista. A autora defende a potencial paridade de razão e de juízo moral entre os sexos e coloca a instrução como primeiro objetivo que as mulheres devem atingir.” (FACCHI, 2011) • “Se as mulheres devem ser excluídas da participação nos direitos naturais da humanidade, provai de algum modo (...) que elas são privadas de razão, do contrário esta falha de vossa NOVA CONSTITUIÇÃO sempre indicará que o homem deve, de alguma maneira, agir como um tirano.” (Wollstonecraf) DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DA MULHER CIDADÃ • A primeira afirmação dos direitos das mulheres se encontra na Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, redigida por Olympe de Gouges • Afirma a igualdade entre mulheres e homens nos direitos à liberdade, propriedade, segurança e SOBRETUDO à opressão – entendendo que a principal opressão é a tirania masculina. • Afirma o direito à participação na vida política, à cargos e funções públicas e à liberdade de pensamento e opiniões. • Diante dessa crítica poderíamos dizer que os direitos da revolução são realmente universais? pensar na condição feminina, voto censitário, escravização...
Compartilhar