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Hipertensão Intracraniana A hipertensão intracraniana (HIC) é uma condição clinica que acomete muitos pacientes, sendo causada por muitas doenças do sistema nervoso central (SNC) ou sistêmicas. Hipótese de Monro-Kellie O crânio é um comportamento inelástico com volume fixo, contendo sangue, líquor e tecido cerebral. Esse conteúdo mantém um volume contínuo, de forma que o aumento de um deles é compensado com a diminuição de outro, ou a PIC subirá. Líquor > Sangue > Tecido cerebral A capacidade de adaptação cerebral aos aumentos de PIC é denominado complacência cerebral e a variação de PIC promovida pelo acréscimo do volume intracraniano é denominado elastância cerebral. Redução do fluxo sanguíneo dentro do crânio de alguém - clinicamente haverá rebaixamento do nível de consciência, dependendo do nível de comprometimento arterial pode levar ao coma Herniação - Reação do organismo ao qual esta no máximo de hipertensão intracraniana, ao qual, “empurra” o tecido pelo forame magno. PIC Normal Manobra de Valsalva - aumenta a pressão intrabdominal resultando um aumento do retorno venoso -> aumento da pressão intravenosa no coração -> dificultando o retorno venoso no crânio. Pressão de Perfusão Cerebral Pressão de Perfusão Cerebral (PPC) = Pressão Arterial Média (PAM) – Pressão Intracraniana (PIC) Como resultado do aumento da PIC, o corpo tende a aumentar a PA, para manter a perfusão cerebral e evitar isquemia. Porém, o aumento da PA também aumenta o fluxo cerebral, causando hiperemia e aumentando ainda mais a PIC... Normalmente, o cérebro tem mecanismos de autorregulação, para controlar esse equilíbrio. Com a PAM entre 60-160 mmHg e PIC 10 mmHg, a PPF fica entre 50-150 mmHg, o que é suficiente para manter a autorregulação. Tríade de cushing: bradicardia + hipertensão + bradipneia e/ou alteração do padrão respiratório Etiologia Lesões com efeito de massa, como tumores, infarto, contusões, hematomas, abscesso, etc Inchaço cerebral difuso, visto em TCE grave, hipóxia, encefalopatia hepática, encefalopatia hipertensiva Aumento da pressão venosa, como na trombose venosa cerebral (TVC), insuficiência cardíaca, trombose jugular Hidrocefalia Hipertensão intracraniana idiopática (mais raro, ocorre em mulheres na meia idade) Cranioestenose (fechamento precoce das suturas) Um aumento secundário da PIC pode ser observado em 3-10 dias após o trauma, estando associado a um pior prognóstico. Suas causas incluem: Formação tardia de hematoma; Vasoespasmo cerebral Síndrome da angústia respiratória do adulto com hipoventilação Edema cerebral tardio (mais comum em crianças) Hipoanatremia Disautonomia do tronco cerebral Sinais e Sintomas • Cefaleia • Náusea e vômitos • Alteracões visuais • Papiledema • Alteracões comportamentais • Diplopia • Dificuldade de marcha • Sonolência • Anisocoria • Coma (alteração da consciência - nínel e conteúdo) • Tríade de Cushing: hipertensão, bradicardia e irregularidade respiratória Fundo de olho normal Papiledema Boramento de papila - a hipertensão tenta jogar líquido para fora e um desses lugares será a bainha do nervo óptico botando a imagem Fisiopatologia Perda da autorregulação cerebrovascular • Perda da reatividade vascular ao CO2 (vasoplegia), evoluindo com hiperemia e inchaço cerebral (brainswelling). Alteração da velocidade que o sangue passa pelo tecido -> diminui a extração das células de O2 -> diminui O2 -> metabolismo anaeróbio -> incha Fluxo sanguíneo cerebral (FSC): • Hipoperfusão focal ou global (isquemia piora prognóstico) • Mecanismos: distorção traumática do vaso, hipotensão na falha de autorregulação. cerebrovascular, desbalanço entre vasoconstritores (prostaglandinas) e vasodilatadores (NO). • FSC < 15 ml/100g no TCE causa isquemia • Hiperperfusão (FSC> 55 ml/100g) • Corresponde a vasoplegia (perda da autorregulação), com aumento subsequente do volume sanguíneo e da PIC, por hiperemia cerebral. O tecido cerebral necessita de metabolismo de oxigênio e glicose para manter suas funções preservadas em todas as regiões. O envio de oxigênio e glicose para o cérebro é realizado por meio da circulação sanguínea, regulada para que o FSC se mantenha constante em diversas situações. Contudo, o fluxo sanguíneo se altera rapidamente em resposta às alterações da atividade neural local. A autorregulação cerebral é um mecanismo que permite que, em larga escala, grandes mudanças na pressão arterial sistêmica causem pequenas mudanças no FSC. A pressão de perfusão cerebral (PPC), que determina essa distribuição dos metabólicos necessários para manter a atividade cerebral, geralmente é calculada pela diferença entre a pressão arterial média (PAM) e a PIC, sendo considerados valores normais entre 50 e 60mmHg. A PIC aumentada diminui a PPC, ocasionando sérios danos ao tecido cerebral. A PPC não guarda correlação fidedigna com o fluxo sanguíneo cerebral ou com o metabolismo de oxigênio, isto é, a PPC baixa é indesejável, mas a PPC alta não está associada a beneficio fisiológico. A quantificação do FSC é diretamente proporcional à PPC e inversamente proporcional à resistência vascular cerebral (RVC). O valor médio normal para o FSC ficou estabelecido em 50 mUlOO g/min. Metabolismo Cerebral • Disfunção mitocondrial • Demanda maior de glicose sem um correspondente aumento do FSC causando isquemia Oxigenação Cerebral • Desbalanço entre consumo e oferta de O2 • Medidas de PtO2 após TCE revelou valores críticos 15 - 10mmHg Lesão celular • Dano neuronal secundário ao aumento de glutamato após TCE • Aumento do glutamato aumenta a demanda metabólica cerebral sem o correspondente aumento do FSC Edema • Vasogênico (trauma): destruição química ou mecânica da camada endotelial dos vasos cerebrais (quebra da BHE) • Citotóxico (isquêmia): falência de canais iônicos e subsequente reabsorção celular de íons e água Processo Inflamatório • Aumenta o edema local reduzindo a perfusão, com subsequente aumento do dano cerebral secundário. Abordagem inicial ao paciente com hipertensão intracraniana Medidas de primeiro nível: medidas clínicas iniciais para controle da HIC. • Gerais: elevação da cabeça (otimizar a drenagem venosa - decúbito elevado a 30ºgraus), analgesia (aumenta o tônus muscular, reduz o retorno venoso), sedação, equilíbrio hemodinâmico, hidratação, eletrólitos, nutrição, prevenção de convulsão, monitorização. • Específicas: Drenagem ventricular, bloqueador muscular, solução hiperosmolar, hiperventilação otimizada, hipotermia leve. Monitorização de Pressão Intracraniana • Manejo de pacientes com TCE grave com monitorização de PIC reduz mortalidade hospitalar e em 2 semanas. • Indicações de monitorização:TCE grave com ECG < 9 • Com tomografia anormal • Ou com tomografia normal, mas fatores de risco para HIC 📍 Idade > 40 📍 PAS > 90 mmHg 📍 Postura de descerebração ou decorticação • Tratamento de PIC maior que 22 mmHg é recomendado.Valores maiores estão associados com maior mortalidade. (Sorrentino, 2012) • PIC ventricular x parenquimatosa Ambos apresentam medida fidedigna da PIC Em caso de hidrocefalia, DVE é preferencial e permite drenagem liquórica para diminuição da PIC. Contraindicações: paciente acordado, coagulopatia. Monitorização da Pressão de Perfusão Cerebral Outras medidas de monitorização • Pressão de Perfusão Cerebral (PPC) = PAM – PIC • A perda da autoregulação cerebral no TCE grave é um dos motivos para diminuição da perfusão cerebral. • PPC < 60 mmHg aumenta em 3x o risco de hipóxia (Chang, 2009). • A PPC alvo para sobrevida e desfecho favorável é entre 60 e 70 mmHg. (Allen et al, 2014; Sorrentino, 2012) • Evitar medidas agressivas para manter PPC acima de 70 mmHg com fluidos e vasopressors, pelo risco deinsuficiência respiratoria. • SjvO2: 55-75%. Risco de isquemia quando < 50%. • PbtO2: 23-35 mmHg. Medidas < 20 são sinais de hipóxia e risco de isquemia. • Doppler Transcraniano: correlação com PPC • Microdiálise cerebral • EEG Sedação Ventilação • Administração profilática de barbitúricos para induzir supressão no EEG e controle de PIC não é recomendada. • Sem diferença na mortalidade ou GOS em 1 ano (Ward et al, 1985) • Doses altas de barbitúricos são recomendadas para controle da HIC refratária. Estabilidade hemodinâmica antes e durante o tratamento é essencial. • Menor mortalidade com controle de PIC (8% x 83%). Sem benefício em caso de hipotensão. (Eisenberg et al, 1988) • Propofol é recomendado para controle de PIC, mas sem melhora da mortalidade. • GOS favorável em 6 meses mais frequente com doses altas. (Kelly et al, 1999) • PaCO2 é um importante determinante do fluxo sanguíneo cerebral, que varia de forma linear com PaCO2 entre 20 e 80 mmHg. • O aumento da PaCO2 pode levar à hiperemia e aumento da PIC, mas a diminuição excessiva pode levar à isquemia. O objetivo é manter normoventilação, com PaCO2 entre 35-45 mmHg. • Hiperventilação profilática prolongada com PaCO2 ≤ 25mmHg não é recomendada. • Pior GOS em 3 e 6 meses em pacientes com hiperventilação. (Muizelaar, 1991) Terapia Hiperosmolar • O uso do manitol antes da monitorização da PIC deve ser restrito a pacientes com sinais clínicos de herniação cerebral ou piora neurológica progressiva. • Manitol é eficaz no controle de HIC na dose de 0,25 à 1 g/kg. Hipotensão arterial deve ser evitada. • A solução salina hipertônica foi mais efetiva na redução da PIC, mas sem diferença na mortalidade em 2 semanas. (Mangat et al, 2014). O mecanismo de redução da PIC inclui: - Expansão plasmática imediata que reduz o hematócrito e a viscosidade sanguínea, aumentando o fluxo sanguíneo cerebral e a oferta de oxigênio. A redução da PIC ocorre em minutos e é mais pronunciada em pacientes com PPC < 70 mmHg; - Efeito osmótico que se inicia após 15-30 minutos, com pico de ação em 1 hora após a administração, durando, em média, 1-6 horas. - Melhora da microcirculação por melhorar as características reológicas do sangue. A furosemida pode ser utilizada para reduzir edema cerebral e diminuir a produção de LCR. A dose é de 10-20 mg EV a cada 6 horas, alternando com manitol. Drenagem Liquórica Craniectomia Descompressiva • DVE (drenagem ventricular externa) aberta com drenagem contínua é mais efetiva para diminuição da PIC do que drenagem intermitente, sem efeito na mortalidade ou GOS em 6 meses. • Drenagem para abaixar a PIC em pacientes com Glasgow < 6 nas primeiras 12 horas pode ser considerada. • Griesdale, 2010. Maior mortalidade hospitalar e em 28 dias em pacientes com Glasgow ≥ 6 nas primeiras 12 horas. Aberta ao nível do meato acústico, ao transportar o paciente deve fechar (fisiológico: ao valor da PIC normal) • CD: retirada de uma parte do crânio, permitindo que o inchaço cerebral ocorra, sem aumento da PIC. • Pode ser realizada em um lado do crânio (hemicraniectomia unilateral), em ambos os lados (hemicraniectomia bilateral) ou bifrontal. • Craniectomia deve ser grande, com pelo menos 12 x 15 cm ou 15 cm de diâmetro, para redução de mortalidade e melhor desfecho neurológico. • O uso de corticoesteroides não é recomendado para melhora do desfecho neurológico ou redução da PIC. Em pacientes com TCE grave, doses altas de metilprednisolona estiveram associadas com aumento da mortalidade e é contra-indicada. Corticoesteroides Estudo RESCUE-icp (2016): Menor mortalidade com CD, porém incidência maior de estado vegetativo e disabilidade grave. Incidência de disabilidade moderada ou boa recuperação foi similar.
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