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Atendimento inicial ao paciente traumatizado - ATLS REFERÊNCIA: ATLS 10°ED; MEDCURSO 2020 INTRODUÇÃO Etapa: -Preparação -Triagem -Avaliação primária (ABCDE) – reanimação dos doentes com lesões que ameacem a vida -Medidas auxiliares à avaliação primária e à reanimação -Considerar transferência do doente -Exame secundário -Medidas auxiliares a avaliação primária -Reanimação e monitorização contínua - Cuidados definitivos PREPARAÇÃO O médico do atendimento pré-hospitalar deve levar o paciente para o lugar certo conforme a gravidade da lesão que o paciente apresenta. O médico do ambiente hospitalar deve estar com tudo pronto e checado no hospital (materiais, estrutura). TRIAGEM Acidente com múltiplos acidentes – o hospital consegue receber todos. Vítimas em massa – o hospital não consegue receber todos e começa a selecionar os doentes com maior possibilidade de sobrevida. AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E REANIMAÇÃO SIMUNTÂNEA ABCDE A – Via aérea com proteção da coluna cervical B – Ventilação e respiração C – Circulação com controle da hemorragia D – Neurológico E – Exposição/controle do ambiente: despir completamente o doente, mas prevenindo a hipotermia **Se o atendimento ao paciente estiver em via pública, a primeira coisa a olhar não é o ABCDE, é a segurança do ambiente. No hospital temos de olhar se existem equipamentos de proteção individual. **Se for atendimento pré-hospitalar a avaliação primária é XABCDE (PHTLS). A - MANUTENÇÃO DA VIA AÉREA COM RESTRIÇÃO DO MOVIMENTO DA COLUNA CERVICAL Primeira coisa é avaliar a via aérea e sua permeabilidade. Esta rápida avaliação busca ver sinais de obstrução da via aérea, como detecção de corpos estranhos, identificação de fraturas na face, mandíbula e/ou fraturas traqueal/ laríngea e outras lesões que podem resultar em obstrução da via aérea; aspiração para limpar o sangue acumulado ou secreções que podem causar ou estar causando obstrução da via aérea. Se o doente está se comunicando verbalmente, é bem possível que não haja um problema na via aérea, mesmo assim é bom verificar se está pérvia. (Perguntou o nome pro paciente e ele fala o nome direitinho, a via aérea está pérvia). Pacientes vítimas de TCE com Glasgow menor ou igual a 8 exigem o estabelecimento de via aérea definitiva. Caso o doente esteja insconsciente e não tem reflexo de deglutição, pode-se colocar a cânula orofaríngea (cânula de guedel), temporariamente. Paciente convulsionando também pode fazer uso dessa cânula. É importante evitar movimentação excessiva da cervical. Baseado no mecanismo do trauma, devemos assumir que exista uma lesão de coluna. Em geral paciente politraumatizado acaba ficando com o colar cervical e prancha mesmo sem referir dor, e esse colar só será retirado na UPA ou no hospital após análise da cervical. É importante constante monitorização da via aérea, por que se o paciente estiver perdendo a capacidade de manter via aérea pérvia, devemos assegurar uma via aérea definitiva. Caso não for possível realizar a intubação ou esta for contra-indicada, deve-se estabelecer cirurgicamente uma via aérea. Indicações de via aérea artificial: 1. apneia, 2. proteção de via aérea, 3. TCE menor ou igual a 8, 4. incapacidade de o paciente manter a oxigenação com a máscara (tem deformidade em tórax ou está com muita dor). Existem as vias aéreas definitivas, que são aquelas que protegem a via aérea, considera-se que protege a via aérea quando insufla um balonete, por que se insufla um balonete na traqueia ela vai ficar aberta. Via aérea definitiva: IOT, intubação nasotraqueal, cricotireoidostomia cirúrgica, traqueostomia. Via aérea temporária: máscara laríngea, cricotireoidostomia por punção. OBS: Para checar se o tubo está bem colocado, faz ausculta de pulmão, faz capnografia e raio x de tórax. OBS: armadilhas do A – pacientes que não pode/não consegue intubar, pensa em outra via aérea definitiva, a melhor opção é a cricotireoidostomia (a cirúrgica). Criança com menos de 12 anos não faz essa crico cirúrgica; daí se não sabe fazer a crico e também não pode fazer ( <12anos), pode fazer crico por punção. OBS: Rouquidão, enfisema subcutâneo e fratura palpável são indicativos de laceração/fratura da laringe. B - RESPIRAÇÃO E VENTILAÇÃO Não basta assegurar permeabilidade da via aérea, é preciso que haja efetivamente troca gasosa. Para isso, a equipe deve checar se os pulmões, a parede torácica e os diafragmas estão funcionando. O pescoço e o tórax do doente devem ser expostos para avaliar adequadamente a distensão de jugulares, a posição da traqueia e a expansibilidade da parece torácica. Precisa auscultar o tórax e escutar os murmúrios vesiculares presentes. Lesões que prejudicam significativamente a ventilação em curto prazo incluem: pneumotórax hipertensivo, hemotórax massivo, pneumotórax aberto e lesão traqueal ou brônquica. Essas lesões devem ser suspeitadas durante a avaliação primária e requerem conduta imediata. O pneumotórax hipertensivo compromete a ventilação e a circulação de forma dramática e aguda, a descompressão no tórax deve ocorrer imediatamente quando existir suspeita na avaliação clínica. Todo doente ferido deve receber oxigênio suplementar; se o doente não for intubado, deve receber oxigênio por meio de máscara com reservatório para obter a oxigenação ideal. Use oxímetro de pulso para monitorar a saturação. Pneumotórax simples, hemotórax, fraturas de costela, afundamento de tórax e a contusão pulmonar podem comprometer a ventilação em menor grau e geralmente são identificados durante a avaliação secundária. **Um pneumotórax simples pode evoluir para pneumotórax hipertensivo quando um doente é intubado e ventilado com pressão positiva antes de ter o hemitórax descomprimido com um dreno torácico. OBS: armadilhas do B Pneumotórax hipertensivo – a fisiopato clássica é o trauma contuso que provoca lesão em “saco de papel”; cria uma bola de ar entre o pulmão e a pleura, de modo que desvia o mediastino para o lado oposto; quando desvia o mediastino os vasos da base ficam ser descer o sangue, ocorre turgência de jugular; na percussão tem timpanismo, a ausculta tem murmúrio vesicular diminuído/abolido; isso pode causar morte muito rápido, a causa da morte é choque obstrutivo (por que não flui o sangue que está nos vasos do pescoço), o paciente fica hipotenso por conta desse choque; o diagnóstico do pneumotórax hipertensivo é clínico, não precisa fazer raio x para diagnosticar, tem que tratar rápido se não o paciente morre. O tratamento imediato é toracocentese de alívio (punção por agulha); em crianças a toracocentese é 2° espaço intercostal em linha hemiclavicular, nos adultos é 4° e 5° espaço intercostal ligeiramente anterior a linha axilar média. A conduta definitiva é toracostomia com dreno em selo d’água. Pneumotórax aberto: é causado por um trauma penetrante, o orifício tem pelo menos 2/3 do diâmetro da traqueia e aí o ar começa a ir pelo local da lesão; não tem instabilidade hemodinâmica, mas tem o timpanismo a percussão e o murmúrio vesicular abolido/diminuído. A diferença entre o penumotórax hipertensivo e o pneumotórax aberto é que no aberto não tem a instabilidade hemodinâmica que tem no hipertensivo. A conduta imediata é um curativo em três pontas. A conduta definitiva é drenagem em selo d’água, entre 4° e 5° espaço intercostal entre linha axilar anterior e média. *Se pneumotórax aberto (simples) e pequeno (toma apenas 20-30% do tórax) aí só drena se tiver algum fator que piora o paciente ou que pode evoluir para pneumotórax hipertensivo (se for fazer transporte aéreo ou se o paciente for submetido a uma ventilação mecânica). Hemotórax: normalmente é um trauma penetrante que pegou vasos hílares ou sistêmicos, o sangramento é autolimitado, vai parar de sangrar eventualmente; ajugular fica colabada (choque hipovolêmico hemorrágico), percussão com som maciço (percute em cima de sangue), murmúrio vesicular diminuído ou abolido, paciente evolui com choque por perda sanguínea. A conduta é retirar o sangue, toracostomia com drenagem em selo d’água. O diagnóstico é clínico. ***O Hemotórax no raio x da pra ver que o sangue faz uma parábola na região entre o sangue e o ar; quando tem hemopneumotórax o sangue não faz essa parábola, por que o penumotórax está pressionando para baixo o sangue. Então se tiver indicio de hemotórax, mas não tem a parábola, eu falo que é um hemopneumotórax. A conduta no hemopneurmotórax é drenagem em selo d’água. C - CIRCULAÇÃO COM CONTROLE DA HEMORRAGIA Identificar e tratar a hemorragia é fundamental. Se o pneumotórax hipertensivo for excluído, considere que a hipotensão após o trauma seja decorrente da perda sanguínea até que se prove o contrário. Os elementos importantes são: nível de consciência, perfusão da pele e pulso. -Nível de consciência: quando o volume de sangue circulante é reduzido, a perfusão cerebral pode ser prejudicada criticamente, resultando em alteração do nível de consciência. -Perfusão de pele: doente com pele acinzentada e extremidades pálidas provavelmente estão hipovolêmicos. -Pulsos: pulso rápido e fino é sinal de hipovolemia Se houver hemorragia externa, esta deve ser controlada ainda na avaliação primária do doente. Controla-se inicialmente com pressão manual direta sobre o ferimento, caso não resolva e o paciente esteja em risco de vida, pode-se tentar um torniquete. As principais áreas de hemorragia interna são o tórax, abdome, retroperitôneo, pelve e ossos longos. A fonte de sangramento é identificada por exame físico e imagem (RX, USG FAST ou lavagem peritoneal diagnóstica). Deve-se estabelecer dois acessos venosos periféricos, e administrar sangue, fluido (1l de cristaloide aquecido) e plasma. Colhe sangue para hemograma e tipagem sanguínea e se for mulher em idade fértil, teste de gravidez. Para avaliar a presença ou grau de choque obtém-se gasometria e/ou dosagem de lactato. Deu cristaloide e o paciente não respondeu bem, está indicado transfusão sanguínea. *Controle da hemorragia – compressão local; torniquete; OBS: armadilhas do C: Fratura pélvica é uma fratura que gera sangramento e você pode não ver, geralmente é sangue venoso (plexo venoso posterior); quando tem fratura de pelve, inicialmente realiza-se “amarração” da pelve, realiza-se USG fast para ver se o sangramento é do abdome ou da pelve, se tiver sangramento no abdome é laparotomia, se não tiver sangramento abdominal deve ser lesão de pelve,aí faz tamponamento do sangramento com compressa, faz incisão baixa e enche o corpo do paciente de compressa para parar o sangramento. Quando o sangramento é venoso, esse tamponamento resolve, mas se o tamponamento é arterial, faz-se angiografia para embolizar o sangramento. Para resolver a fratura chama a ortopedia! Tamponamento cardíaco é quando acumula sangue no pericárdio; tríade de Beck – turgência jugular, hipotensão e hipofonese de bulhas; pulso paradoxal (queda superior a 10mm na PAS na inspiração; sinal de Kussmaul (aumento da turgência jugular na inspiração). Diagnóstico é clínica + USG fast. A conduta tenporária é pericardiocentese, a conduta de escolha é toracotomia para realizar o reparo da lesão. D - DISFUNÇÃO (AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA) Glasgow – repetir exame após admissão, pode ser que o paciente esteja com lesões secundárias. E - EXPOSIÇÃO E CONTROLE AMBIENTAL Despir o paciente completamente para poder analisar possíveis lesões; cobrir com cobertor térmico e aquecer os fluidos antes de injetar. Como a hipotermia é uma complicação potencialmente fatal em doentes traumatizados, tome medidas agressivas para evitar a perda de calor corporal e restaurar a temperatura do corpo ao normal. AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA Inicia-se a avaliação secundária após a avaliação primária (ABCEs) ter sido completada e quando as medidas indicadas para a reanimação tiverem sido adotadas e o doente melhorar suas funções vitais. A avaliação secundária é um exame do doente traumatizado da cabeça aos pés, isto é, uma historia clínica e um exame físico completos, incluindo a reavaliação de todos os sinais vitais. Cada região do corpo deve ser examinada por completo. Na avaliação secundária obtem-se a historia do mecanismo de trauma. Os familiares e socorrristas devem ser consultados pata obter informações que facilitem esclarecer o estado fisiológico do paciente. Utiliza-se o mneumônico AMPLA: A – alergia M – medicamentos de uso habitual P – passado médico/ prenhez L – líquidos e alimentos ingeridos recentemente A – ambiente e eventos relacionados ao trauma As lesões são dividas em dois grandes grupos, trauma fechado e lesão penetrante. O trauma fechado é resultante de colisões automobilísticas, quedas e outros mecanismos relacionados ao transporte, recreação ou ao trabalho. Também pode ser resultante de agressões. Informações importantes sobre colisões de automóveis incluem uso do cinto de segurança, deformações do volante, presença e ativação de air-bags, danos ao veículo em termos de grande deformação ou intrusão no compartimento de passageiros e posição da vítima. A ejeção do veículo aumenta a possibilidade de lesões graves. No trauma penetrante, o tipo de lesão e o tratamento dependerão da região do corpo que foi afetada. É importante também checar se o doente estava em ambiente de risco, ou seja, se ele teve contato com elementos químicos, tóxicos e radiação. Durante a avaliação secundária, o exame físico segue a sequência da cabeça, estruturas maxilofaciais, pescoço e coluna cervical, tórax, abdome, pelve, períneo/reto/vagina, sistema musculoesquelético e sistema neurológico. Cabeça Avaliação neurológica, lesão de couro cabeludo, contusão, evidência de fratura. Avalia os olhos e determina a acuidade visual, o tamanho da pupila, se tem hemorragias do fundo de olho e da conjuntiva, se há lesões penetrantes, se houve uso de lente de contato, se houve deslocamento do cristalino, se há encarceramento ocular. O teste de acuidade visual pode ser feito vendo se o paciente consegue ler os rótulos do soro. Avalia estruturas maxilo-faciais, palpação de todas as estruturas ósseas, faz exame intraoral e avaliação de partes moles; o trauma maxilofacial que não está associado à obstrução da via aérea ou sangramento importante deve ser tratado somente após a estabilização do doente e as lesões com risco de morte terem sido tratadas. Doentes com TCE e trauma macilo-facial devem ser considerados como portadores de lesão instável de coluna cervical (fraturas e/ou ligamentos) e os movimentos cervicais devem ser restringidos; o exame do pescoço inclui inspeção, palpação a ausculta (artéria carótida deve ser palpada e auscultada para checar se há frêmitos e sopros). Paralisia isolada ou inexplicada dos mmss deve levantar suspeita de lesão de raiz de nervo cercical e deve ser documentada cuidadosamente. Tórax A inspeção visual do tórax permite a identificação de lesões como pneumotórax aberto e grandes segmentos instáveis (tórax flácido). Uma avaliação completa do tórax inclui palpaçãp da caixa torácica incluindo clavículas, costelas e esterno. A pressão esternal é dolorosa se o esterno estiver fraturado ou quando há disjunção costocondral. Contusões e hematomas da parede torácica podem alertar o médico para a possibilidade de lesões ocultas. Lesões torácicas significativas podem manifestar-se por dor, dispneia ou hipóxia. O murmúrio vesicular é auscultado na parte ântero-superior do tórax para a identificação do pneumotórax e na face posterior do tórax para identificação de hemotórax. Abdome e pelve Suspeita-se de fratura pélvicase identificação de equimoses sobre as asas do ilíaco, púbis, grandes lábios ou escroto. A dor à palpação do anel pélvico é um achado importante em pacientes conscientes. Períneo, Reto e Vagina Períneo deve ser analisado em buscas de contusõees, hematomas, lacerações e sangramento uretral. O toque retal deve ser realizado antes da introdução da sonda urinária. O médico avalia se tem sangue na luz intestinal e a integridade da parede do reto, assim como tônus. O exame vaginal é feito em pacientes com risco de lesão vaginal. Sistema músculo esquelético As extremidades devem ser inspecionadas para checar a presença de contusões e deformidades. A palpação dos ossos é feita pesquisando dor ou movimentos anormais para ajudar na identificação de fraturas ocultas. Checar estabilidade de articulações; movimentação ativa das articulações. Analisar dorso do paciente. Sistema Nervoso A proteção da coluna cervical é necessária em todos os momentos até que uma lesão raquimedular seja excluída. OBS: Quando o SAMU traz o doente ao ambiente de saúde referenciado, é importante passar certas informações, que podem ser sintetizadas pelo acrônimo MIST: M – mecanismo (e tempo) do trauma I – lesões encontradas e suspeitas S – sinais e sintomas T – tratamento iniciado
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