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Trauma torácico REFERÊNCIA: ATLS 10°ED + MEDCURSO 2020 INTRODUÇÃO As consequências fisiológicas do trauma torácico são hipóxia, hipercabia e acidose. Contusão, hematoma e colapso alveolar, bem como alterações nas relações de pressão intratorácica causam hipóxia e conduzem a acidose metabólica. A hipercabia causa acidose respiratória e, na maioria das vezes, também ventilação inadequada decorrente de alterações nas relações de pressão intratorácica e rebaixamento do nível de consciência. AVALIAÇÃO PRIMÁRIA: LESÕES COM RISCO DE VIDA Os problemas críticos são corrigidos à medida que são identificados. Obstrução da Via aérea: A obstrução da via aérea pode resultar do edema, sangramento ou vômito que é aspirado para a via aérea interferindo na troca gasosa. Vários mecanismos de trauma podem produzir essas alterações. A lesão laríngea está associada a grave trauma torácico, ou consequência do trauma direto do pescoço ou por compressão da cabeça clavicular. O deslocamento posterior da cabeça clavicular ocasionalmente gera obstrução da via aérea. No trauma penetrante, as lesões e hemorragias podem produzir obstruções. A obstrução da via aérea pelo traumatismo laríngeo é uma lesão potencialmente fatal. Durante avaliação primária, procure por evidências de falta de ar, retrações da musculatura intercostal e supraclavicular. Inspecione a orofaringe quanto a obstrução por corpo estranho. Ouça o movimento do ar no nariz, boca e ausculte os campos pulmonares. Veja se há estridor indicando uma obstrução parcial de via aérea superior. Perceba se há mudança na qualidade da voz. Sinta se há crepitação à palpação da parede anterior do pescoço. Os doentes com sinais de obstrução da via aérea podem ser tratados inicialmente com a aspiração de sangue ou vômitos da via aérea. Esta manobra é temporária e requer, posteriormente, a obtenção de via aérea definitiva. Lesão da árvore traqueobrônquica: Geralmente ocorre próximo da Carina. A IOT pode provocar ou piorar uma lesão da traqueia ou dos brônquios proximais. Os doentes geralmente apresentam hemoptise, enfisema subcutâneo cervical, pneumotórax hipertensivo e/ou cianose. A expansão incompleta do pulmão e uma fístula aérea de alto débito após a drenagem torácica sugerem uma lesão traqueobrônquica, podendo ser necessário a colocação de mais de um tubo torácico. A broncoscopia confirma o diagnóstico, se houver suspeita de lesão traqueobrônquica, solicite rapidamente a avaliação de um cirurgião. O tratamento imediato é o estabelecimento de via aérea definitiva com a IOT, porém deve-se ter muito cuidado por que é uma intubação difícil, e não podemos piorar a situação. Muitas vezes utiliza-se de IOT com suporte de fibra óptica após o local da lesão. Em casos de lesão da árvore traqueobrônquica precisa fazer abordagem cirúrgica imediata. Em doentes mais estáveis, o tratamento cirúrgico de lesões traqueobrônquicas pode ser retardado até que a inflamação aguda e o edema regridam. Problemas respiratórios: O profissional deve avaliar todo o sistema respiratório. O aumento da frequência respiratória e a mudança no padrão dos movimentos da caixa torácica, especialmente a ocorrência de movimentos respiratórios cada vez mais superficiais constituem evidências de lesões torácicas ou hipóxia. A cianose é sinal tardio de insuficiência respiratória do doente traumatizado. Ausência de cianose, contudo, não implica em oxigenação tecidual adequada e via aérea pérvia. As principais lesões que afetam a ventilação e que devem ser reconhecidas e abordadas na avaliação primária incluem pneumotórax hipertensivo, pneumotórax aberto e ferida torácica aspirativa) e hemotórax maciço. É fundamental que os médicos reconheçam e tratem essas lesões na avaliação primária. PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO Ocorre quando há formação de um mecanismo chamado “valvulado unidirecional” de escape de ar do pulmão para o espaço pleural. O ar entra para a cavidade pleural sem possibilidade de sair, colapsando completamente o pulmão. O mediastino é deslocado para o lado oposto, diminuindo o retorno venoso e comprimindo o pulmão contralateral. O choque decorrente desta situação é consequente à acentuada diminuição do retorno venoso determinando uma queda de débito cardíaco, e é denominado de choque obstrutivo. A causa mais comum de pneumotórax hipertensivo é a ventilação mecânica com pressão positiva em doentes com lesão da pleura visceral. No entanto, o pneumotórax hipertensivo pode representar a complicação de um pneumotórax simples devido a um trauma penetrante ou contuso no qual não ocorreu o fechamento da lesão do parênquima pulmonar ou após tentativas mal direcionadas de acesso venoso central. Ocasionalmente, o pneumotórax hipertensivo pode resultar de lesões traumáticas da parede torácica seja por que a lesão constitui um mecanismo valvular unidirecional, seja por que foi recoberta incorretamente por um curativo oclusivo. O pneumotórax hipertensivo pode também resultar de fraturas com grande desvio de coluna torácica. O diagnóstico de pneumotórax hipertensivo é clínico, resultado do acúmulo de ar sob pressão no espaço pleural. O tratamento não deve ser adiado à espera de confirmação radiológica. Doentes que estão respirando espontâneamente frequentemente manifestam taquipneia e “sensação de fome de ar” extremos, enquanto pacientes ventilados apresentam colapso hemodinâmico. O pneumotórax hipertensivo pode causar os seguintes sinais e sintomas: -Dor torácica -Sensação de fome de ar -Dispneia importante -Desconforto respiratório -Taquicardia -Hipotensão -Desvio da traqueia para o lado contrário da lesão -Ausência unilateral de murmúrio vesicular - Elevação do hemitórax sem movimento respiratório -Distensão das veias do pescoço - Cianose, com manifestação tardia Saturação baixa no oximetro de pulso deve estar presente no pneumotórax hipertensivo. Quando o ultrassom fast estiver disponível, pode usar para diagnosticar. Mesmo assim, o diagnostico é clinico, o tratamento não deve ser adiado a espera de uma confirmação diagnóstica. O pneumotórax hipertensivo requer descompressão imediata e pode ser tratado inicialmente inserindo-se rapidamente um grande cateter sobre agulha no espaço pleural. Insere-se a agulha no quinto espaço intercostal em região ligeiramente anterior à linha medioaxilar. O tamanho da agulha vai depender da espessura da parede torácica, em geral os melhores resultados são com agulha de 8cm. A descompressão com agulha bem sucedida converte o pneumotórax hipertensivo em pneumotórax simples. Contudo, existe a possibilidade de subsequente pneumotórax como resultado da manobra. Logo, é necessária a reavaliação contínua. Após a descompressão com agulha ou digital é obrigatória a drenagem torácica em selo d’água. Pneumotórax aberto O pneumotórax aberto é provocado por grandes ferimentos da parede torácica que permanecem abertos e são denominados ferimentos torácicos aspirativos. Nestas condições, o equilíbrio entre as pressões intratorácica e a pressão atmosférica é imediato. O ar tende a passar pelo local de maior resistência, por isto se a abertura da parede torácica for de aproximadamente 2/3 do diâmetro da traqueia, o ar passará pelo local da lesão (e não pela traqueia). Com isso, a ventilação fica prejudicada, resultando em hipóxia. No penumotórax aberto visualizam-se sinais e sintomas clínicos de dor, dificuldade respiratória, taquipneia, diminuição dos sons respiratórios e movimento ruidoso do ar através da parede respiratória de um lado afetado. Para o tratamento inicial de um pneumotórax aberto, feche o ferimento imediato com um curativo estéril que cubra as bordas da ferida. Qualquer curativo oclusivo pode ser usado como medida temporária nesses casos, mas o curativo deve ser de três bordas para produzir um efeito de válvulaunidirecional (quando o doente inspira, o curativo oclui a ferida, impedindo a entrada de ar na expiração, o lado que está aberto permite o escape de ar de dentro da cavidade pleural). Nesses casos de pneumotórax aberto, se fizer um curativo com as quatro bordas fechadas pode gerar um pneumotórax hipertensivo, a menos que um dreno torácico seja inserido. Assim que possível, um dreno torácico deve ser introduzido, longe do ferimento. Frequentemente o doente precisa de reconstrução cirúrgica da parede torácica. Hemotórax maciço Acúmulo maior de 1500ml de sangue em um hemitórax é classificado como hemitórax maciço, que pode prejudicar de forma significativa o esforço respiratório, pela compressão do pulmão. Realiza-se drenagem do tórax para melhorar a ventilação e a oxigenação e solicita-se uma consulta rapidamente com o cirurgião, prosseguindo-se uma reanimação apropriada. Acúmulo maciço de sangue causa hipotensão e choque. PROBLEMAS DE CIRCULAÇÃO As principais lesões torácicas que comprometem a circulação e que devem ser reconhecidas e abordadas durante a avaliação primária são: hemotórax maciço. Tamponamento cardíaco e parada cardíaca por trauma. Hemotórax maciço Acúmulo de mais de 1500 ml de sangue na cavidade torácica. É causado, mais comumente, por ferimentos penetrantes que comprometem os vasos sanguíneos sistêmicos, mas traumas contusos também podem gerar o hemotórax maciço. No doente com hemotórax maciço, as veias do pescoço podem estar colapsadas devido à grave hipovolemia ou distendidas quando existir um pneumotórax hipertensivo concomitante. É raro um hemitorax maciço deslocar o mediastino a ponto de distender veias cervicais, geralmente hemitorax maciço são veias colapsadas na cervical. O hemotórax maciço é diagnosticado com associação de choque com ausência de murmúrio vesicular e/ou macicez à percussão de um dos hemitórax. Trata com descompressão da caixa torácica e reposição do volume sanguíneo. Primeiro infunde-se cristaloide, e o sangue drenado do hemitorax pode ser reposto no paciente (autotransfusão). Para descomprimir a caixa torácica, insere-se o dreno geralmente no nível do mamilo, um pouco anterior a linha axilar média, e a medida que vai descomprimindo a caixa torácica faz a reposição de volume. Tamponamento cardíaco O tamponamento cardíaco é a compressão do coração por acúmulo de liquido no saco pericárdico. Isso resulta em diminuição do débito cardíaco devido a diminuição do fluxo de entrada para o coração. A tríade clássica é sons cardíacos abafados, hipotensão e elevação da pressão venosa, mas nem todos terão essa tríade. O sinal de Kussmaul (aumento de pressão venosa durante a inspiração) é uma anormalidade de pressão venosa paradoxal associada ao tamponamento. AESP também pode sugerir tamponamento cardíaco. USG fast é um método ótimo de diagnostico. O tratamento é uma toracotomia de emergência ou esternotomia. Caso a cirurgia não seja possível, a pericardiocentese pode ser utilizada como terapêutica, mas não constitui um tratamento definitivo para o tamponamento cardíaco. Parada circulatória traumática Comece a RCP fechada simuntaneamente com o tratamento do ABC. Garanta uma via aérea definitiva com IOT. Execute ventilção com 100% de oxigênio. Monitore o eletro e a saturação de o2 e comece reposição volêmica rapidamente por veias de grande calibre ou acesso intraósseo. Administre epinefrina (1mg) e, se a fibrilação ventricular estiver presente, trate-a se acordo com os protocolos de ACLS. AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA Existem outras condições potencialmente fatais que podem não ser observadas na avaliação secundária, então elas tem que ser avaliadas e tratadas durante a avaliação secundária: -Pneumotórax simples -Hemotórax -Tórax instável -Contusão pulmonar -Trauma cardíaco contuso -Ruptura traumática da aorta -Lesão traumática do diafragma -Ruptura esofágica no trauma contuso Pneumotórax simples Realize um exame físico detalhado do tórax, atente-se para equimoses, lacerações e contusões. Avalie o movimento da parede torácica e compare o murmúrio vesicular em ambos os lados. Na presença de um pneumotórax, o murmúrio vesicular está diminuído no lado afetado e a percussão demonstra hipertimpanismo. O tratamento é um dreno de tórax no quarto ou quinto espaço intercostal logo anterior a linha axilar média. Após a inserção do dreno precisa de um raio x. Hemotórax É definido quando o derrame pleural tem sangue na cavidade pleural. O hemotórax agudo o suficiente para aparecer em um raio x deve ser tratado com um dreno de tórax de grosso calibra. Tórax instável e contusão pulmonar Tórax instável ocorre quando um segmento da parede torácica não tem mais contiguidade óssea com o resto da caixa torácica e geralmente é consequente a um trauma que provoca múltiplas fraturas de costelas, ou seja, duas ou mais fraturas em dois ou mais lugares, embora também possa ocorrer quando há separação costocontral de uma costela. (Dois arcos costais em consecutivo fraturados e cada arco costal fraturado em dois locais. – fica um pedaço de costela solto) Clínica do tórax instável – dói muito durante a inspiração; respiração paradoxal (o tórax afunda muito durante a expiração). A conduta é oxigênio, analgesia e fisioterapia respiratória. A contusão pulmonar é uma lesão no pulmão causada por um trauma torácico. Sangue e outros fluidos acumulam-se no tecido pulmonar, interferindo na ventilação e levando potencialmente a hipóxia. A observação do movimento respiratório anormal e a palpação quanto à crepitação e fraturas de costela ou cartilagem podem ajudar o diagnóstico. Uma radiografia de tórax pode sugerir fraturas de costelas múltiplas, mas pode não mostrar separação costocondral. O tórax instável em si não causa insuficiência respiratória, mas a contusão pulmonar sim. O tratamento da contusão é o mesmo do tórax, analgesia, o2 e fisioterapia respiratória, mas se pa02 < 65% ou Sat <90% faz IOT. Trauma contuso cardíaco Pancada no músculo cardíaco (sofreu agressão no tórax, bateu no volante do carro), como o VD é o da frente, pega mais o VD, ai fica com insuficiência cardíaca as custas de ventrículo direito. Pode ter taquicardia inexplicável (já passou um tempo depois do trauma e segue taquicárdico), e bloqueio do ramo direito. Diagnóstico é por meio da clínica e do ecocardiograma. A conduta é manter paciente monitorizado por 24h . Lesão de aorta Laceração de aorta; ocorre no nível do ligamento arterioso. O sangue chega a encher os braços (pulso cheio em mmss), mas não desce pra tórax e abdome. O paciente fica vivo quando o sangramento faz um tamponamento na lesão, mas mesmo com esse tamponamento ele fica com pulsos diminuídos em mmii. Diagnóstico é clínico mais exame de imagem. É possível ver no raio x, mas o mais usado é a angioTC e o melhor exame para fazer diagnóstico é a aortografia. A conduta é iniciar beta bloq o mais rápido possível e, depois de tamponar as outras lesões do politraumatizado, deve-se fazer toracotomia a esquerda ou terapia endovascular. (a ruptura de aorta demora cerca de 24h para dar ruim, por que o coágulo fica tamponando e com isso da um tempo para estabilizar as outras lesões antes.
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