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RESUMOS P r o l i f e r a ç ã o C e l u l a r M E D I C I N A - F I P G U A N A M B I Por: Maria Eduarda de Souza e Vitor Dantas Proliferação Celular RESUMOS Obs.: Os resumos foram desenvolvidos no primeiro semestre de 2020 durante o módulo tutorial de Proliferação Celular. Além disso, esses resumos tem a função exclusiva de ajudar os acadêmicos das FIPGuanambi. Evite copiar! Tutoria 01 - Ciclo e proliferação celular Tutoria 02 - Câncer de colo de útero Tutoria 03 - Câncer de mama Tutoria 04 - Câncer de próstata Tutoria 05 - Câncer de pulmão Tutoria 06 - Câncer de esôfago Tutoria 07 - Câncer gástrico Tutoria 08 - Câncer colorretal Tutoria 09 - Câncer de pele Tutoria 10 - Câncer de tireóide Vitor Dantas – PROLIFERAÇÃO CELULAR CICLO E PROLIFERAÇÃO CELULAR Proliferação e diferenciação celulares são processos essen - ciais para os seres vivos. A multiplicação celular, responsável pela formação do conjunto de células que compõem os indivíduos, é indispensável durante o desenvolvimento normal dos organismos e necessária para repor as células que morrem após seu período de vida ou por processos patológicos. A diferenciação, que se refere à especialização morfológica e funcional das células, permite o desenvolvimento do organismo como um todo integrado. Como esses dois processos - proliferação e diferenciação - recebem influência de grande número de agentes internos e externos às células, não é surpresa que, com certa frequência, surjam transtornos nos mecanismos que os controlam. Na prática dos profissionais de saúde, os distúrbios da proliferação e diferenciação celulares assumem grande importância, de um lado por sua elevada frequência, de outro pelas graves repercussões que podem ter. No seu ciclo vital, as células encontram-se em duas fases ou períodos: (1) mitose, quando as células dividem o material nuclear (cariocinese) e fazem a citocinese; (2) interfase, período entre duas divisões celular. A duração da mitose é curta (não ultrapassa 1 h), enquanto a da interfase varia muito, dependendo do tipo de célula. Em cultura, células humanas completam um ciclo em cerca de 24 h. Como os períodos de S, G2 e M do ciclo celular consomem tempo mais ou menos constante, o que varia é a duração do período G1 . Algumas células ciclam continuamente (p. ex., epitélios de revestimento, medula óssea). Outras, após a fase M (mitose), deixam o ciclo, vão para o compartimento G0 e nele permanecem por período variado; se forem estimuladas, retornam ao ciclo na fase G1 (p. ex., hepatócitos). Há também células que, uma vez formadas, abandonam o ciclo celular e passam a fazer parte do compartimento não replicativo (p. ex., neurônios, miocélulas cardíacas). Em tecidos com renovação contínua (lábeis), encontram-se células em mitose, células nas fases G1, S e G2 e células que se diferenciam. Em tecidos estáveis, as células se diferenciam e deixam o ciclo (fase G0), mantendo, no entanto, a capacidade de entrar em G1 se forem devidamente estimuladas (células quiescentes). Em tecidos perenes, as células atingem a chamada diferenciação terminal e não mais se dividem. Se forem estimuladas por fatores de crescimento em quantidade ele vada, podem entrar em G1 e sintetizar DNA, porém permanecem em G2 ou completam a divisão nuclear mas sem realizar a divisão celular. Formam-se assim núcleos poliploides, como acontece com neurônios e células musculares estriadas ou cardíacas. Nas diferentes fases do ciclo celular, as células podem ser identificadas por seu teor de DNA ou pelo reconhecimento de moléculas expressas nas diferentes fases do ciclo. Células em G1 têm cromossomos em duplicata (paternos e maternos); portanto, possuem DNA = 2n, em que n é a quantidade de DNA existente no complexo haploide. Após síntese, a quantidade de DNA é 4n, voltando a 2n em cada célula-filha após mitose. Essa avaliação pode ser feita por métodos histoquímicos (coloração pelo Feulgen e leitura em citofotômetro, ver Capítulo 2) ou por tratamento com substância fluorescente específica para DNA (p. ex., brometo de etídio) e avaliação em citômetro de fluxo. A identificação de moléculas que aparecem quando a célula está em Gp S ou G2, especialmente ciclinas, possibilitou a obtenção de anticorpos monoclonais que permitem sua identificação por imuno-histoquímica. Existem no mercado alguns anticorpos monoclonais que reconhecem diferentes ciclinas (complexos ciclinas/CDK) e marcam as células que estão no ciclo, indicando indiretamente o índice de proliferação do tecido (PCNA, de proliferation cell nuclear antigen e Ki 67 são os anticorpos monoclonais mais usados para se avaliar o índice de proliferação celular). CICLO CELULAR Uma célula se reproduz realizando uma sequência ordenada de eventos nos quais ela duplica o seu conteúdo e então se divide em duas. Esse ciclo é chamado de ciclo celular, e é o principal mecanismo pelo qual todos os seres vivos se reproduzem. Para produzir células-filhas geneticamente idênticas, os cromossomos devem ser replicados fielmente e distribuídos ou segregados para dentro das suas células-filhas, de modo que cada célula receba uma cópia completa de todo o genoma. Além disso, as outras macromoléculas e organelas também precisam ser duplicadas para que as células-filhas, após a divisão, possuam o mesmo tamanho da célula original. A realização desse ciclo necessita da ocorrência de uma série de eventos bem definidos, bem como da regulação deles por proteínas específicas. Vitor Dantas – PROLIFERAÇÃO CELULAR SISTEMA DE CONTROLE DO CICLO CELULAR Dois tipos de maquinaria estão envolvidos na divisão celular: uma produz os novos componentes da célula em crescimento e a outra atrai esses componentes para o local certo. O sistema de controle do ciclo celular ativa e desativa toda essa maquinaria nos momentos corretos e coordena várias etapas do cilo. Esse sistema é composto por: Proteínas-Cinases dependentes de ciclina (CDKs): comandam as reações de fosforilação.Estão presentes nas células em proliferação por todo o ciclo celular, sendo ativadas e desativadas a depender do momento do ciclo. Dessa forma, a atividade das CDKs aumenta e diminui de maneira cíclica. Ciclinas: são responsáveis por ativar e desativas as CDKs. Elas devem ligar-se as cinases no ciclo celular antes que elas se tornem enzimaticamente ativas. As alterações cíclicas nas concentrações dessa proteína ajudam a direcionar a montagem e ativação das CDKs, que acionam vários eventos do ciclo celular. Proteínas-Fosfatases: comandam as reações de desfosforilação. Esses três tipos de proteínas agem em conjunto na progressão do ciclo celular. Para uma CDK ser ativada, ela deve ser fosforilada em um sítio por uma ciclina específica e desfosforilada em outro sítio por uma fosfatase específica. Além disso, CDKs distintas se associam a diferentes ciclinas para acionar os diferentes eventos do ciclo celular. Em determinada fase, complexo relacionado aquela fase é ativado para que os eventos devidos possam ocorrer. PROTEÍNAS INIBIDORAS: O sistema de controle do ciclo aciona os eventos devidos em uma ordem específica. Se uma das etapas atrasar, esse sistema também atrasa as próximas etapas para que nenhuma ocorra antes da anterior ser finalizada. Dessa forma, a sequencia normal e necessária é sempre mantida. Essa regulação é realiza por “freios moleculares” que podem parar o ciclo celular em pontos de verificação específicos, permitindo que a célula monitore o seu estado interno e o seu meio antes de continar o ciclo. Alguns desses freios mleculares são proteínas inibidoras de CDK, que bloquiam a montagem ou atividade de um ou mais complexos ciclina-CDK. Isso ocorre através da ubiquitilação de uma ciclina, que marca a proteína para destruição, inativando, assim, o complexo. FASES DO CICLO CELULAR E PONTOS DE VERIFICAÇÃO O ciclo celular eucariótico é divididoem quatro fases: FASE G0: fase de quiescência. A célula está “fora” do ciclo celular. FASE G1: ocorre a síntese de RNA e proteínas. PONTO DE VERIFICAÇÃO G1: avalia a presença de danos no DNA. Esses danos causam um aumento na concentração e atividade da proteína P53, que ativa a transcrição de um gene que codifica a P21, uma proteína inibidora de CDK, que vai inativar CDKs que levariam a célula para a fase S. O aprisionamento da célula em G1 permite que ela tenha tempo para reparar o DNA danificado antes de replicá-lo. Caso o dano seja muito extenso para ser reparado, a P53 pode induzir a célula à apoptose. FASE S: fase se síntese. O DNA é replicado para gerar as cópias para ambas as células filhas. Essa replicação ocorre com extrema acuidade para minimizar o risco de mutações na próxima geração de células. A replicação se inicia nas origens de replicação (sequências nucleotídicas que estão dispersas em vários locais ao longo de cada cromossomo). Essas sequências recrutam proteínas específicas que controlam o início e o término da replicação do DNA. A proteína responsável pelo início da replicação é a SCDK. Depois de os cromossomos terem sido replicados, as duas cópias de cada um permanecem fortemente unidas como cromátides-irmãs, que se mantêm unidas por complexos proteicos chamados de coesinas. Essa coesão entre as Vitor Dantas – PROLIFERAÇÃO CELULAR cromátides é essencial para a segregação adequada dos cromossomos. FASE G2: ocorre a síntese de novas proteínas e a célula praticamente dobra de tamanho. PONTO DE VERIFICAÇÃO G2: avalia a presença de DNA danificado ou replicado incorretamente. Caso sejam identificados danos, a proteína-fosfatase ativadora do complexo CDK que leva a célula para a fase M (M-CDK) é inibida, impedindo, então, a progressão do ciclo. Dessa forma, a célula tem tempo de reparar o seu dano. FASE M: o envelope nuclear da célula mãe se desfaz, os cromossomos pareados são puxados para os polos opostos da célula, cada conjunto de cromossomos é circundado por um envelope nuclear recém-formado e a citocinese divide a célula pela metade, originando duas células-filhas. Para que essa fase se inicie o complexo M-CDK aciona a condensação dos cromossomos replicados (mediada pelas condensinas) em estruturas semelhantes a bastões, preparando-os para a segregação, além de induzir a montagem do fuso mitótico que separará os cromossomos condensados e os segregará para as duas células-filhas. Após a condensação dos cromossomos, duas estruturas citoesqueléticas complexas se reúnem em sequência para realizar os dois processos mecânicos que ocorrem na fase M: Fuso mitótico: realiza a divisão nuclear (mitose). É composto de microtúbulos e de várias proteínas que interagem com eles. É responsável por separar os cromossomos e alocar uma cópia em cada célula-filha. Anel contrátil: realiza a divisão citoplasmática (citocinese). Consiste em filamentos de actina e miosina, arranjados em formato de anel ao redor do equador da célula. Quando o anel contrai, ele puxa a membrana para o interior, dividindo a célula em duas. → A fase M é dividida em seis estágios: Interfase: a célula aumenta de tamanho. O DNA dos cromossomos é replicado e o centrossomo é duplicado. Prófase: os cromossomos replicados, cada um consistindo em duas cromátidesirmãs intimamente associadas, condensam-se. Fora do núcleo, o fuso mitótico se forma entre os dois centrossomos, os quais começam a se separar. Pró-metáfase: se inicia repentinamente com o rompimento do envelope nuclear. Os cromossomos podem agora se ligar aos microtúbulos do fuso pelo cinetócoro (discos de proteínas localizados no centrômero) e sofrem movimentos ativos. Metáfase: os cromossomos estão alinhados no equador do fuso, exatamente na metade entre os dois polos. Os microtúbulos dos cinetócoros pareados em cada cromossomo se ligam aos polos opostos do fuso Vitor Dantas – PROLIFERAÇÃO CELULAR Anáfase: as cromátides-irmãs se separam sincronicamente, e cada uma delas é puxada lentamente para o polo do fuso ao qual está ligado. Os microtúbulos do cinetócoro encurtam, e os polos do fuso também se distanciam, contribuindo para a segregação dos cromossomos. Telófase: os dois conjuntos de cromossomos chegam aos polos do fuso. Um novo envelope nuclear é remontado em torno de cada conjunto, completando a formação de dois núcleos e marcando o fim da mitose. A divisão do citoplasma começa com a formação do anel contrátil. Citocinese: o citoplasma é dividido em dois pelo anel contrátil, o qual forma um sulco na célula para dar origem a duas células-filhas, cada uma com um núcleo. CLASSIFICAÇÃO E NOMENCLATURA DE ATIVIDADES CELULARES ▪ Hipotrofia: É a redução quantitativa de componentes estruturais e funções celulares, resultando em diminuição de volume das células e órgãos atingidos. O mecanismo básico de aparecimento da hipotrofia é a redução do anabolismo celular, que resulta em menor renovação dos constituintes celulares mortos. Pode ser fisiológica (senilidade) e patológica (inanição, desuso, compressão, obstrução vascular, intoxicação por chumbo). As consequências dependem da redução da atividade e função do órgão acometido. ▪ Hipertrofia: É o aumento quantitativo dos constituintes e das funções celulares, resultando em aumento volumétrico das células e dos órgãos atingidos. Para uma hipertrofia, o fornecimento de O2 e nutrientes deve ser maior para suprir aumento das exigências das células, e as organelas e enzimas devem estar íntegras, com inervação preservada. Representa uma adaptação das células e órgãos a uma maior exigência de trabalho. Pode ser fisiológica, como a hipertrofia da musculatura uterina durante gravidez, e patológica, como a hipertrofia do miocárdio após sobrecarga do coração como numa estenose valvar. A arquitetura do órgão permanece intacta. Em alguns casos, o estímulo pode ser tão intenso que também leva ao aumento do material genético, podendo levar à poliploidia nas células perenes ou à multiplicação celular nas lábeis ou estáveis. ▪ Hipoplasia: É a diminuição da população celular de um tecido, de um órgão ou parte do corpo. Há uma preservação do padrão arquitetural básico. Pode ser fisiológica (involução do timo e das gônadas no climatério) ou patológica (da medula óssea em infecções, levando a anemias aplásicas, ou na AIDS). As patológicas são reversíveis, salvo decorrentes de anomalias congênitas. Muitas vezes, anda junta com a hipotrofia. ▪ Hiperplasia: É o aumento no número de células de um órgão ou parte dele. Decorre do aumento da taxa de reprodução celular, portanto só ocorre em órgãos com células lábeis ou estáveis. É necessário aumento do suprimento sanguíneo, integridade morfofuncional das células e inervação adequada. Pode ser concomitante à hipertrofia. A capacidade de proliferação hiperplásica tem limites, conservando os mecanismos de controle da divisão celular. Além disso, é um processo reversível, no sentido se a causa é eliminada a população celular volta ao nível normal. Isso diferencia da neoplasia, pois nessa, o crescimento celular é autônomo e independe da ação de um agente estimulador. Porém, nem sempre é capaz identificar esse agente, de modo que muitas vezes não é possível distinguir com segurança uma hiperplasia de um tumor benigno. Pode ser fisiológica (hiperplasias compensadoras –rim- e secundárias a estimulação hormonal) e patológica (secundária a hiperestimulação hormonal, como síndrome de Cushing), além de Vitor Dantas – PROLIFERAÇÃO CELULAR inflamatórias (em inflamações crônicas, pode haver hiperplasia do epitélio ou conjuntivo, formando lesões papilomatosas). Muitas hiperplasias patológicas são consideradas potencialmente neoplásicas. ▪ Metaplasia: É a mudança de um tipo de tecido adulto (epitelial ou msesnquimal) em outro de mesma linhagem. A metaplasia resultada inativação de alguns genes e desrepressão de outros (para diferenciar o tecido). Um exemplo é a metaplasia brônquica secundária a agressão persistente, como tabagismo, em que há mudança de epitélio pseudoestratificado ciliado em epitélio estratificado pavimentoso queratinizado ou não. Além disso, outro exemplo é o epitélio glandular seroso em epitélio glandular mucíparo, em uma metaplasia intestinal da mucosa gástrica. Nesses casos, o tecido metaplásico é mais resistente às agressões. Há a leucoplasia também, uma metaplasia de epitélio estratificado não queratinizado em um queratinizado com várias camadas ▪ Displasia: É uma condição adquirida caracterizada por alterações do crescimento e diferenciação celular. Os exemplos mais conhecidos são as displasias epiteliais, em que pode haver atipias arquiteturais. Podem preceder tumores, como nas displasias de mucosas (colo uterino, gástrico e brônquico). Além de atipias importantes, as células displásicas podem apresentar alterações significativas no conteúdo de DNA, como uma polipoidia ou aneupleidia (visto em displasia de mucosa do colo uterino). O termo pode ser usado em processos patológicos cuja posição patogeética é variada e pouco conhecida, como em defeitos malformativos (displasia renal). ▪ Lesões e Condições Pré-Cancerosas: É uma condição probabilística e estatística, ou seja, são lesões estatisticamente mais propensas a desenvolver câncer. As principais são displasias, sendo algumas do colo uterino, mucosa gástrica ou epitélio brônquico. Obs.: Quanto mais desenvolvida é a lesão, maior é a probabilidade. Certas hiperplasias e neoplasias benignas podem desenvolver câncer, como a hiperplasia do endométrio. ▪ Neoplasias: Uma das características da neoplasia é a proliferação celular descontrolada, uma vez que normalmente as células sofrem replicação controlada por um sistema que busca a homeostase. Há uma correlação inversa entre diferenciação e multiplicação celular. Quanto mais avançado é o estágio de diferenciação, menor é a taxa de reprodução. Nas neoplasias, há, paralelamente ao aumento do crescimento, perda da diferenciação celular. As células neoplásicas, em decorrência disso, perdem características de diferenciação e se tornam atípicas, com metabolismo desviado da diferenciação para a proliferação. As células tumorais têm proliferação como atividade constitutiva. Inicialmente, há o parênquima tumoral, e depois, surge o estroma conjuntivo-vascular. Tumores com até 2mm não formam o estroma com vasos. Neoplasias não possuem inervação, a dor é por infiltração ou compressão de terminações nervosas vizinhas. ▪ Tipos de Tumores: Nodular: massa expansiva que tende a ser esférica, visto em tumores benignos e malignos em órgãos compactos, como fígado, rins e pulmão. Vegetante: encontrado em tumores malignos e benignos que crescem em superfícies como pele e mucosas. Formando uma massa de crescimento que pode ser poliposo, papilomatoso ou em couve-flor, tendendo à ulceração precoce. Infiltrativo: praticamente exclusivo dos tipos malignos, há infiltração maciça da região acometida, mas sem formar nódulos ou vegetações, deixando o órgão espesso mas menos deformado. Pode provocar estenose se em órgãos ocos. Outro exemplo é o câncer cirroso, em que há grande quantidade de produção de estroma conjuntivo, como no câncer de mama. Ulcerado: sofre ulceração precoce, quase exclusivo de neoplasias malignas. A lesão cresce infiltrando os tecidos adjacentes e ulcerando no centro, formando uma cratera com brodas endurecidas, elevadas e irregulares. Ex: neoplasia ulcerovegetante ▪ Neoplasia Benigna: Apesar de não representarem grande problema ao paciente no geral, o seu volume pode obstruir órgãos ou estruturas ocas, comprimir órgãos, induzir a produção de substâncias em maior quantidade, etc. As células da neoplasia benigna são diferenciadas, podendo ser até indistinguíveis das células normais correspondentes. As atipias celulares e arquiteturais são discretas. Há baixo índice mitótico, o que leva o tumor a ter crescimento lento. Os tumores benignos formam uma massa geralmente esférica, não invadindo os tecidos vizinhos. O crescimento é expansivo e provoca compressão das estruturas adjacentes, que podem sofrer hipotrofia. Pode-se formar uma cápsula fibrosa em torno do tumor, com origem do estroma adjacente. Por isso, a neoplasia fica delimitada e pode ser removida cirurgicamente, não recidivando após (há exceções, como adenomas pleomórficos das salivares). Seu crescimento lento permite o desenvolvimento adequado de vasos sanguíneos, garantindo boa nutrição das células e minimizando hemorragias e degenerações/necroses. O tumor benigno não compromete a nutrição do hospedeiro e nem produz substâncias que podem levar à anemia ou caquexia. Porém, alguns tumores histologicamente benignos podem ser fatais, como adenomas secretores de substâncias importantes para a homeostase (como insulina) que leva a uma condição hipoglicemiante. Alguns tumores benignos encefálicos não têm acesso cirúrgico fácil, podendo crescer e obstruir passagem do líquor, comprimindo e deslocando estruturas vitais. Vitor Dantas – PROLIFERAÇÃO CELULAR ▪ Neoplasia Maligna: São neoplasias formadoras de câncer. Suas células têm alto índice mitótico, com crescimento tão rápido que não é acompanhado pela formação de vasos sanguíneos, causando degenerações, necroses, hemorragias e ulcerações. São células mais volumosas que as normais, sobretudo pelo aumento da relação núcleo/citoplasma. Além disso, sua cromatina é irregular e mais compacta, podendo haver células bi ou multinucleadas. As mitoses podem ser atípicas, como tri ou multipolares. Anomalias cromossômicas são comuns, podendo haver até tetraploidia. Há uma hipercelularidade, e o citoplasma pode variar, gerando pleomorfismo celular. As células apresentam atipias celulares, por perda da diferenciação celular (pode-se confundir inclusive células epiteliais com conjuntivas). Essas células também não são tão aderentes entre si como na da neoplasia benigna, facilitando o deslocamento da colônia cancerígena, justificando a penetração de vasos sanguíneos e linfáticos e a metástase. Os cirurgiões normalmente retiram tecidos normais como margem de segurança, mesmo assim o câncer tem tendência à recidiva local. Em cânceres que há restrição à camada epitelial e limitada pela membrana basal, há carcinoma in situ. Microscopicamente, há diminuição de REG e CG, enquanto aumento de ribossomos livres. Os microfilamentos são mais desenvolvidos, explicando a motilidade das células. Há diminuição das estruturas juncionais. ▪ Características das Células Neoplásicas: O conjunto enzimático das células tumorais é mais pobre que o das células saudáveis, pois seu metabolismo é mais simples. O metabolismo da célula cancerosa é dirigido para obtenção rápida de grande quantidade de energia, necessária para elevação da taxa de divisão celular. Para tal, possuem alta atividade glicolítica para produção de ATP. As células malignas, como já dito, têm menor adesão entre si, o que é explicado por modificações na membrana plasmática, diminuição nas estruturas juncionais e redução nas moléculas de adesão, como caderinas, além de grande eletronegatividade na face externa da membrana plasmática. O seu citoesqueleto é mais forte, e isso, associado à menor adesividade e à perda da inibição de contato (para evitar multiplicação) e à independência da ancoragem, permite maior deslocamento e motilidade, facilitando disseminação. Além disso, as células neoplásicas são pouco diferenciadas, tendendo a perder suas funções específicas. Os tumores podem chegar a ser anaplásicos, tamanha a perda das propriedades morfofuncionais das células de origem. Alguns tumores, como carcinomas da cortical da supra-rrenal, prodzem hormônios esteroides, produzindo síndromes clinicas de hipercorticalismo (hiperglicemia,obesidade central, retenção de sódio, problemas cardíacos, hipocalemia, alcalose metabólica, etc.). CARCINOGÊNESE Células tumorais originam-se de células normais que sofreram alterações no DNA (fatores genéticos) ou em mecanismos que controlam a expressão gênica (fenômenos epigenéticos) em um ou mais locos envolvidos no controle da divisão e da diferenciação celulares. Nesse processo, são as células de reserva ou basais nos epitélios, células-tronco nos tecidos hematopoéticos e as células em G0 os alvos principais dos agentes tumorigênicos. O aparecimento de tumores em tecidos com células que não se renovam deve- se a alterações em células-tronco (p. ex., transformação de neuroblastos, originando neuroblastoma no cerebelo). A demonstração recente de que células diferenciadas podem originar células-tronco pelo processo de desdiferenciação levanta a possibilidade de que células já diferenciadas sofram alterações genômicas e originem células cancerosas ou células-tronco do câncer, responsáveis por gerar progenitores de diferentes subclones que formam o tumor. A carcinogênese é um processo complexo, multifásico e dependente de fenômenos genéticos e epigenéticos que culminam no surgimento de clones de células imortalizadas que adquirem a capacidade de se multiplicar autonomamente, de invadir os tecidos vizinhos e de dar metástases. Inúmeras observações sobre a patogênese das neoplasias levam a admitir que o desenvolvimento de um câncer, em qualquer órgão, é um processo evolutivo do tipo darwiniano, no qual alterações genéticas e epigenéticas originam clones celulares que, ao adquirirem vantagem de proliferar, sobreviver, destruir e invadir os tecidos, formam os tumores. Ainda que haja particularidades para cada neoplasia, algumas características do processo são comuns aos diferentes tipos de câncer. A ideia de que o câncer origina- se por um processo estocástico em que mutações ao acaso originam subclones que sofrem seleção clonal e originam clones com maior capacidade de invadir tecidos e de metastatizar é compatível com a heterogeneidade das células em um tumor. Os tumores são monoclonais, ou seja, formados por um clone que venceu a barreira do controle da proliferação celular e tornou-se imortal; desse clone surgem descendentes (subclones) com capacidade varai da de sobreviver, invadir tecidos e se implantar a distância. CÉLULAS-TRONCO DO CÂNCER Embora classicamente se considere que a heterogeneidade de células em neoplasias se deva a mutações aleatórias que aparecem na lesão, algumas observações levam a admitir a existência de células-tronco nos cânceres, as quais seriam Vitor Dantas – PROLIFERAÇÃO CELULAR responsáveis por originar as diferentes linhagens de células tumorais. Células-tronco do câncer foram documentadas em leucemias, gliomas, carcinoma da mama, carcinoma colorretal e melanoma. Tais células comportam-se de modo semelhante ao de células-tronco de tecidos normais, o que não significa que tenham sua origem nessas células. Tal como em tecidos normais, células-tronco de tumores têm capacidade de autoduplicar-se e de originar células com autoduplicação limitada (progenitoras), das quais se originam as diferentes células do tumor. A existência de células-tronco em neoplasias leva a admitir que o tumor é um organismo simplificado em que células-tronco multipotentes originam progenitores dos diferentes tipos celulares do tumor, explicando a heterogeneidade morfológica da neoplasia. Como as células progenitoras têm capacidade limitada de proliferação, admite-se que somente células-tronco do tumor são capazes de se implantar a distância e de originar metástases. Não se sabe se existe um único tipo de células- tronco em cada tumor ou se há várias células tronco na mesma neoplasia. Células-tronco do câncer podem permanecer quiescentes no seu nicho, o que, em parte, pode explicar, por exemplo, sua resistência aos quimioterápicos e à radioterapia (que atuam mais em células que estão no ciclo celular) e o aparecimento de metástases tardias após retirada do tumor primitivo, as quais se originam em células-tronco que permanecem quiescentes nos órgãos para os quais migraram. A caracterização de células-tronco do câncer possibilita seu isolamento, podendo permitir ensaios com métodos terapêuticos que visem sua destruição, com isso eliminando definitivamente a lesão. A ineficácia dos tratamentos atuais em muitos cânceres pode dever-se ao fato de que eles e minam li a grande maioria das células do tumor mas não destroem as células-tronco, que são as responsáveis por recidivas. MARCAS FENOTÍPICAS DAS CÉLULAS CANCEROSAS Embora não se possam estabelecer com precisão as etapas da transformação maligna, não há dúvidas de que o processo é multifásico, ainda que uma sequência comum de etapas não possa ser estabelecida. Há várias tentativas de separar as características fenotípicas mais importantes que marcam o processo de carcinogênese, havendo consenso de que células neoplásicas adquirem as seguintes características fenotípicas: autonomia de proliferação, insensibilidade aos sinais inibidores de mitose, evasão de apoptose, evasão de senescência replicativa, autonomia de sobrevivência, instabilidade genômica, capacidade de evasão do sistema imunitário e capacidade de invadir e de metastatizar. • Autonomia de sinais de proliferação resulta de mutações ativadoras em oncogenes, que são frequentes em genes de fatores de crescimento (p. ex., PDGF), de seus receptores (p. ex., EGFR no carcinoma da mama), de moléculas transdutoras de sinal (p. ex., RAS no carcnoma i colorretal) e de amplificação em genes que acionam o ciclo celular (p. ex., ciclina D 1). • Insensibilidade aos sinais inibidores de mitose decorre de: (1) mutação inativadora em genes que codificam moléculas reguladoras da via MAPK (p. ex., PTEN, que desfosforila moléculas nessas vias), de fatores de transcrição ativadores de genes que controlam o ciclo celular (p. ex., pRB, inativador natural de E2F, que ativa a entrada em G1); (2) mutação inativadora no gene p53, que inativa complexos ciclina/CDK. • Evasão de apoptose resulta da inibição de genes próapoptóticos, de hiperexpresão de genes antiapoptóticos ou de inativação de genes que fazem a checagem de lesões no DNA (p. ex., p53, frequentemente inativado em vários tumores esporádicos). • Evasão de senescência replicativa deve-se a ativação de telomerase (enzima que impede o encurtamento de telômeros), permitindo a duplicação do DNA. Proliferação autônoma, insensibilidade a sinais inibidores de mitose e evasão de apoptose e de senescência replicativa conferem às células neoplásicas a propriedade de imortalidade, possibilitando sua multiplicação indefinida. • Instabilidade genômica resulta de estresse oxidativo e durante a duplicação do DNA, favorecendo quebras no DNA em sítios frágeis. O genoma torna-se instável quando lesões induzidas por estresse mitótico não mais emitem sinais para parada do ciclo celular e para apoptose. Instabilidade genômica persistente facilita alterações na regulação genética e epigenética associada a progressão da transformação maligna. • Autonomia de sobrevivência de clones imortalizados é possibilitada pela neoformação vascular que permite a nutrição das células. A angiogênese em tumores faz-se por meio dos mesmos mecanismos de angiogênese que ocorre na cicatrização de feridas e em inflamações. Células tumorais e células do estroma do tumor, inclusive leucócitos que nele se infiltram, liberam fatores angiogênicos, como VEGF A e B e FGFb, que atuam no endotélio de capilares viznhos i e induzem suas proliferação, migração e diferenciação em novos capilares. Também precursores de células endoteliais originados na medula óssea participam do processo. HIF induzido por hipóxia é fator importante na ativação da transcrição de genes de fatores angiogênicos. A angiogênese é mais intensa e mais aceleradapela produção de outros fatores de crescimento (HGF) e de quimiocinas (p. ex., CXCL 12) por células tumorais e do estroma, que atuam em receptores no endotélio, favorecendo a migração e a reorganização dessas células em novos vasos. Esses fatores de crescimento e quimiocnas i também influenciam a proliferação e a Vitor Dantas – PROLIFERAÇÃO CELULAR capacidade de deslocamento e de ni vasão das células cancerosas. Em muitos tumores, existe correlação entre angiogênese e malignidade: quanto maior a atividade angiogênica, maior é a potência de metastatização do câncer e mais rápida é a sua progressão. Linfangiogênese também ocorre em neoplasias, embora não se conheça seu significado. A formação de novos vasos linfáticos faz-se por ação de VEGF C e D, nduzidos por citocinas pró-inflamatórias. Vasos linfáticos não trazem nutrientes para o tumor, mas são importantes para drenar macromoléculas extracelulares, reduzindo a pressão intersticial na lesão. • A capacidade de invadir e de deslocar-se, destruindo tecidos vizinhos, deve-se à ativação de genes que favorecem a produção de metaloproteases (MMP) e inibição de genes que estimulam inibidores de MMP (TIMP). Em células cancerosas, existem alterações em genes que codificam moléculas de adesão, com deleção de alguns e ativação de outros, de modo a facilitar que as células se destaquem da massa primitiva e se desloquem na MEC. Nesse processo, é importante o fenômeno de transição epiteliomesenquimal, em que células ectodérmicas adquirem o fenótipo de células mesenquimais móveis. Ativação de outros genes (p. ex., hedgehog, que ativa fatores de transcrição Gli, e WNT, que ativa a catenina) é também importante nesse processo. • A capacidade de evasão dos mecanismos imunitários deve-se a interação complexa entre células transformadas, células do estroma e células do sistema imunitário, que criam um microambiente supressor da resposta imunitária citotóxica. Nesse ambiente, e ao contrário do seu papel específico, as células do sistema imunitário são forçadas a cooperar, juntamente com células do estroma, com as células transformadas, favorecendo a progressão da neoplasia. • capacidade de originar metástases é uma propriedade complexa que depende, como foi discutido anteriormente, de características fenotípicas das células transformadas e de modificações no tecido em que ocorre a implantação. ESTROMA DE NEOPLASIAS E CARCINOGÊNESE O desenvolvimento do câncer depende não somente de alterações genéticas ou epigenéticas em células neoplásicas. O tumor é formado por células que vivem ancoradas no estroma em que se originaram, no qual existem células de defesa que procuram eliminar o clone anômalo. Apesar do individualismo das células cancerosas, elas interagem com as suas congêneres, com a matriz extracelular, com as células do estroma (fibroblastos e mastócitos) e com as células de defesa inata e adaptativa. Essa interação tão ampla implica enviar e receber sinais: é o resultado dessa troca de sinais que torna o ambiente permissivo, ou não, para a progressão da neoplasia. Portanto, embora tenha sido dada ênfase às alterações que ocorrem em células transformadas, o processo depende muito também do estroma e das células que nele existem. Os carcinógenos induzem alterações não só na célula que origina o câncer (p. ex., epitélio) como também no estroma. O estroma das neoplasias contém células endoteliais, fibroblastos, mastócitos e vários tipos de células originadas da medula óssea, inclusive leucócitos, células-tronco mesenquimais e células supressoras mieloides. O número dessas células varia em cada tipo de tumor, e elas representam o que se denomina células inflamatórias ou células imunitárias no tumor. Admitiu-se inicialmente que tais células estariam exercendo efeito defensivo contra a neoplasia, o que levou pesquisadores a estudarem quantitativamente as células inflamatórias nos tumores tentando correlacionar seu número com o prognóstico após remoção cirúrgica da lesão. Os resultados mostraram que maior número de células inflamatórias no tumor não se correlacionava com melhor prognóstico, podendo inclusive indicar o oposto - ou seja, pior evolução. Com a utilização de marcadores fenotípicos de células inflamatórias, verificou-se que, quando predominam linfócitos T CD4+ produtores de IFN-y (Thl), macrófagos ativados do tipo Ml e linfócitos citotóxicos T CDS+, há nítida correlação com melhor prognóstico. Se há predomínio de linfócitos Th2, de macrófagos alternativamente ativados (M2) e de células mieloides supressoras, o número dessas células associa-se a pior evolução. Tais observações reforçam a suspeita de que o câncer induz o sistema imunitário a trabalhar a seu favor. Dados experimentais comprovam que, durante a carcinogênese, o estroma se altera e facilita o processo neoplásico. Outra evidência da importância de células do estroma do tumor na progressão de neoplasias está na relação entre inflamação crônica preexistente e origem de alguns cânceres. Muitas inflamações crônicas associam-se a alguns cânceres (colite ulcerativa, hepatite B e C..). lém de citocinas e de quimiocinas que contribuem para o crescimento do tumor, inflamação crônica favorece a carcinogênese também pelo ambiente próoxidante por ela criado, com excesso de radicais livres, os quais aumentam o número de mutações e favorecem instabilidade do genoma, condição associada à progressão de neoplasias. IL- 6 favorece a proliferação e a sobrevivência de células neoplásicas. Citocinas pró-inflamatórias, PGE2 e radicais livres reduzem a expressão de proteínas do complexo MMR (complexo reparador de pareamento errado do DNA), favorecendo instabilidade genômica, detectada já em estágios pré-neoplásicos no carcinoma colorretal e no carcinoma gástrico associados a gastrite. ETIOPATOGÊNESE DAS NEOPLASIAS O notável avanço no conhecimento sobre etiologia e patogênese das neoplasias trouxe a constatação de que fatores genéticos e componentes ambientais, notadamente alguns vírus, certos agentes físicos e substâncias químicas variadas, têm papel no aparecimento de vários tumores humanos e de animais. Em outras palavras: os tumores são Vitor Dantas – PROLIFERAÇÃO CELULAR entendidos como o resultado de agressões ambientais em um indivíduo geneticamente suscetível. A causa ambiental pode atuar de forma endêmica (como certos hábitos alimentares) ou esporádica. A influência genética pode ser forte e determinante, como no adenocarcinoma da mama em algumas cepas de camundongas, que é causado por um vírus mas que se manifesta apenas nos animais com constituição genética determinada; ou pode ser fraco, como no aparecimento de tumores por carcinógenos químicos ou físicos. Pessoas com constituição genética diferente, vivendo em regiões geográficas distintas, têm diferenças importantes no tipo e na sede do câncer. Quando mudam de um local para outro, após uma ou duas gerações, em geral adquirem o padrão predominante no novo ambiente. Como não existe causa única para o câncer, também não existe um modo único de ação dos agentes cancerígenos. Conforme documentado em estudos in vitro e in vivo, tanto em humanos como em animais de laboratório, o câncer é o resultado final de um processo complexo que se desenvolve em vários estágios. Em cada um deles, ocorrem alterações genéticas e epigenéticas em células suscetíveis, as quais acabam adquirindo crescimento seletivo e expansão clonal. A relação entre causa e efeito é probabilística. A potência de um agente cancerígeno pode ser definida como a probabilidade que ele tem de provocar neoplasia em determinadas condições (genéticas, nutricionais etc.), em determinado período, para determinada espécie animal e para determinada célula. Esse fato é muito importante não só para a análise correta dos dados experimentais e epidemiológicos como também para a prevenção de tumores. Todos os cancerígenos químicos,físicos ou biológicos têm como alvo o DNA, portanto os genes. Hoje está bem claro que os cânceres surgem por alterações em grupos de genes associados a proliferação e dferen i ciação das células. Dada a grande importância de inúmeros produtos gênicos para a compreensão da origem e do desenvolvimento dos tumores, antes de discutir a carcinogênese propriamente dita é interessante considerar a ação de algumas categorias de genes intimamente associados às neoplasias. GENES E NEOPLASIAS A ideia atual pressupõe que o câncer se desenvolve, em última instância, em um substrato molecular das células (o DNA), sobre o qual atuam fatores ambientais de ordem variada. Por esse entendimento, o câncer pode ser considerado uma doença genômica de células somáticas. Na verdade, consideram-se as neoplasias como doenças provocadas por alterações na expressão de certos genes, especialmente daqueles que regulam a proliferação e a diferenciação celulares, as quais conferem às células malignas as propriedades de imortalidade, de invadir tecidos e de formar novas colônias a distância. A proliferação e a diferenciação celulares dependem de vários genes, cujos produtos: (1) estimulam a multiplicação celular, como fatores de crescimento, seus receptores, moléculas transdutoras de sinais, fatores de transcrição e moléculas envolvidas diretamente no ciclo celular, como ciclinas e CDK. Nesse grupo estão os chamados oncogenes; (2) controlam a proliferação dentro dos limites fisiológicos para cada tecido, estando aqui os genes que codificam moléculas que inibem a proliferação celular. Incluem os denominados genes supressores de tumor; (3) regulam a apoptose, evento fundamental na limitação da população celular; (4) comandam o reparo do DNA, constituindo os genes "guardiães" do genoma. Capacidade reduzida de reparação do DNA aumenta o número de mutações, aumentando a chance de seu aparecimento em oncogenes e genes supressores de tumor; (5) estão envolvidos nos mecanismos de silenciamento genético, por meio de regulação da metilação do DNA e da desacetilação da cromatina. Esses dois últimos grupos de genes são responsáveis pelo fenômeno de instabilidade genômica observada na maioria das neoplasias, especialmente nos seus estádios mais avançados. Uma neoplasia surge quando ocorrem anormalidades em um ou mais de um desses genes. ONCOGÊNESE A ideia de que o câncer pode ser causado por alterações genômicas é antiga, e desde muito tempo se postula que a expressão de alguns genes, denominados oncogenes, pode ser responsável pelo aparecimento de neoplasias. Segundo essa concepção, os oncogenes seriam genes que, quando expressos, causariam o aparecimento de uma neoplasia. Antes de mais nada, é necessário destacar que os genes envolvidos na carcinogênese estão presentes em células normais, têm expressão regulada e participam na proliferação e na diferenciação celulares, processos básicos para a existência das células. Por essa razão, tais genes são muito conservados na natureza, havendo grande homologia entre os encontrados em invertebrados e os correspondentes em mamíferos. Como é na vida embrionária que as células mais precisam regular a multiplicação, a diferenciação e a migração, o estudo da expressão gênica em embriões em diferentes fases muito tem contribuído para a identificação de oncogenes e seus produtos. O primeiro oncogene isolado foi o SRC, no vírus do sarcoma aviário. Esse oncogene, denominado v-SRC, quando transfectado para fibroblastos de embrião de galinha, induz transformação celular. O RAS foi o primeiro oncogene isolado de um tumor humano. Para sua identificação, DNA das células de um carcinoma da bexiga foi extraído e digerido por meio de enzimas de restrição. Os fragmentos resultantes foram separados por eletroforese de acordo Vitor Dantas – PROLIFERAÇÃO CELULAR com seu tamanho, e cada fração obtida foi transfectada em fibroblastos em cultura. Após certo tempo em cultura, observou-se que algumas colônias apresentavam células transformadas. Destas, foi recuperado o mesmo fragmento de DNA do carcinoma vesical, que foi caracterizado então como contendo um oncogene. Com essa e outras tecnologias, constatou-se que muitos tumores humanos ou células em cultura derivadas de cânceres diversos possuem oncogenes. Uma vez isolado, um oncogene pode ser explorado sob vários aspectos. Em primeiro lugar, pode-se fazer sua clonagem, ou seja, obtenção de grande número de cópias da sequência específica em forma pura, que pode ser utilizada para sequenciamento, para uso como sonda ou para induzir transformação celular. Conhecendo-se a sequência do oncogene, é possível compará-la com a de outros genes ou com sequências conhecidas; com sondas de DNA, pode-se procurar oncogenes em diferentes tumores, seja em células intactas ou em preparações cromossômicas. Essas observações tiveram enorme impacto e despertaram grande interesse sobre o papel de proto-oncogenes na biologia animal. O raciocínio é simples: sendo tão conservados na evolução, proto-oncogenes deveriam ter papel biológico relevante. Estudos com foco em diferentes aspectos da questão convergiram de fato para a ideia de que proto-oncogenes são genes essenciais para grande parte dos processos biológicos vitais, como multiplicação e diferenciação celulares. Em seu estado natural, eles comandam a divisão celular de uma maneira ordenada e fisiológica, sendo responsáveis pelo controle normal do ciclo celular. Nesse sentido, seriam chamados mais apropriadamente mitogenes ou genes de proliferação celular. Quando, porém, um proto-oncogene celular sofre mutações, rearranjos, translocações ou outras alterações que o ativam, passa a ser um oncogene celular e recebe a designação c-ONC. Produtos de Proto-Ocogenes Os oncogenes e seus congêneres normais (proto- oncogenes) codificam moléculas que interferem na regulação da proliferação e diferenciação das células. • Fatores de crescimento A proteína codificada pelo v-SIS (vírus do sarcoma do macaco) é muito semelhante ao PDGF, liga-se ao receptor deste, estimula a fosforilação em tirosina desse receptor e é potente mitogênico para células conjuntivas. O proto- oncogene humano SIS codifica a cadeia do PDGF. Tanto o proto-oncogene SIS estimulado por um promotor como o v- SIS são capazes de transformar fibroblastos em cultura. Muitos cânceres humanos (fibrossarcomas, osteossarcomas, glioblastomas) secretam produtos similares ao PDGF, enquanto as células normais correspondentes não o fazem. Como as células desses tumores também sintetizam receptores para PDGF, sua proliferação se dá por mecanismo autócrino. Proliferação celular aumentada, por sua vez, favorece o surgimento de mutações em outros genes. • Receptores de fatores de crescimento Cerca de 30% dos oncogenes codificam cinases com atividade de fosforilação do resíduo tirosina. O exemplo mais conhecido é o do erbB e seu homólogo v-erbB (do vírus da eritroleucemia aviária), que codificam a sequência cinásica do receptor do EGF. Essas cinases são internas, não possuindo componente externo com ligação para agonista, deixando-as sempre ligadas. • Proteínas ligadoras de GTP As proteínas ligadoras de GTP são de dois tipos: proteínas G triméricas e proteínas G monoméricas (p. ex., proteína RAS). Em condições normais, proteínas RAS são ativadas quando recebem estímulo externo, transmitem o sinal para um efetor e logo em seguida são inativadas. Ao contrário, quando o gene RAS sofre alteração (c-RAS), em geral por mutação puntiforme, a proteína RAS se modifica e, apesar de se ligar à GAP, perde a atividade GTPase. Nesse caso, a proteína ras modificada perde a capacidade de ligar-se à GAP, deixando esta de exercer a sua atividade GTPase e provocando um crescimento celular de modo descontrolado. Cerca de 20% dos tumores humanos apresentam mutações puntiformes no RAS (c-RAS); os mais atingidos são colangiocarcinoma e carcinomas dopâncreas, endometrial e da tireoide. • Proteínas Citoplasmáticas com atividade cinásica A proteína ABL localiza-se na face interna da membrana citoplasmática e possui atividade cinásica; além disso, estimula a apoptose quando há lesão no DNA. A importância maior da proteína ABL reside em leucemias, nas quais o gene ABL é translocado e forma um híbrido com a região BCR (ver adiante, Translocação); esse gene de fusão perde a regulação da atividade cinásica, a qual fica ativa de forma constitutiva. Mais ainda, como a proteína Vitor Dantas – PROLIFERAÇÃO CELULAR lúbrida ABL-BCR não penetra no núcleo, o componente ABL deixa de estimular a apoptose. Uma substância dirigida contra a proteína ABL-BCR mostrou bons resultados no tratamento da leucemia mieloide crônica. Em células cancerosas, há desestruturação das placas de adesão, fenômeno que depende da fosforilação de vinculina (proteína estrutural das placas) pela pp60src. • Ciclinas e CDK Ciclinas, CD K e seus inibidores (CD KI) têm papel crucial na regulação da proliferação celular, de modo que anormalidades na sua síntese estão associadas a muitos tumores. Além disso, ciclinas e CDK estão associadas a produtos de oncogenes e de genes supressores de tumor. Expressão aumentada de genes de ciclinas, por exemplo, associa-se a cânceres da mama, do fígado e alguns linfomas; amplificação do gene de CDK4 é encontrada em melanomas e alguns sarcomas. Mutações ou perda de CDKI ocorrem em inúmeras neoplasias humanas. • Proteínas nucleares Proteínas codificadas por alguns oncogenes localizam-se e atuam apenas no núcleo. Chamadas fatores de transcrição, tais proteínas interagem com o DNA e, assim, estimulam ou inibem numerosos genes. Os principais representantes dessa categoria de genes são MYC, MYB, FOS e JUN. Controlam fatores de transcrição, que estimulam síntese de DNA e divisão celular. Esses oncogenes possibilitam crescimento em baixas concentrações de soro e imortalidade a células em cultura. Essas proteínas se ligam a regiões do DNA estimulando expressão de genes que promovem multiplicação celular. Ativação dos Protoncogenes Se tornam oncogenes em alteração na estrutura do gene, resultando em oncoproteína ou por aumento da sua expressão por amplificação gênica ou ação de promotores virais gerando maior quantidade de proteína normal que estimula crescimento celular. Está presente em c-onc e v- onc. Proto-oncogenes podem tornar-se oncogenes quando: (1) há alteração na estrutura do gene (mutação), resultando em produto anormal (oncoproteína); (2) ocorre aumento da expressão gênica, gerando maior quantidade de proteína (estruturalmente normal) que estimula o crescimento celular. Nos vírus, a ativação de um proto- oncogene em v-ONC pode dar-se de dois modos: (1) por mutações durante a transdução; (2) por expressão aumentada quando os protooncogenes são inseridos perto de promotores virais potentes. As mutações podem ser por: • Mutação por inserção: Inativa genes diretamente ou influencia expressão de genes nativos por coloca-los sob ação de promotores de expressão gênica. • Mutação puntiforme: O gene ras modificado é o oncogene mais associado a neoplasias, sendo causado por carcinógenos físicos ou químicos. Desestimula o contato de ras-GAP para influenciar GTPase. • Amplificação Gênica: Corresponde à amplificação de fatores de crescimento, formando cromossomos extras (cromossomos diminutos duplos). • Translocação: Rearranjos gênicos resultam em ativação de um protooncogene, como leucemia mieloide e linfoma de Burkitt, através de translocações recíprocas. • Perda de sequências regulatórias: O myc possui três exons, sendo que em condições normais, os dois últimos são inibidos pelo primeiro. Em condições anormais, há perda dessa regulação, causando modificação na síntese proteica para mais. COOPERAÇÃO ENTRE OCOGENES Os tumores podem precisar de um ou mais oncogenes para provocar transformação celular. Como a célula neoplásica adquire propriedades diversas e ausentes em células normais (crescimento autônomo, invasividade, capacidade de originar metásases, etc), pode-se imaginar que mais de um oncogene foi ativado e mais outros genes foram desativados. Há evidências de que a ação do primeiro oncogene gera proliferação policlonal, enquanto o segundo gene atua sobre um clone particular, originando a multiplicação neoplásica monoclonal. GENES SUPRESSORES DE TUMOR O câncer pode se originar por conta da inativação desses genes, uma vez que alguns deles presentes em células normais podem inibir o crescimento de células neoplásicas. Esses genes controlam pontos estratégicos da cadeia de eventos que controla crescimento e diferenciação celular. Esses genes precisam ter dois alelos afetados para induzir câncer, sendo recessivos. Em geral, a perda de uma cópia é por mutação, e a da outra, por deleção. Alguns indivíduos são heterozigotos para o gene (com apenas um alelo normal), apresentando maior risco de desenvolver câncer. • Gene Rb: É o gene do retinoblastoma, mais conhecido dessa categoria. O retinoblastoma é uma neoplasia que pode ser hereditária com transmissão autossômica dominante ou esporádica, com lesão unifocal e unilateral. A lesão ocorre de inativação por duas mutações de ambas cópias do gene Rb numa célula precursora. Na herança, há crianças que recebem uma cópia defeituosa do gene, e o outro pode sofrer mutação até os 5 anos, quando viram retinócitos e não retinoblastos. O gene Rb possui papel antioncogênico porque a pRb está ausente no retinoblastoma, e está presente em tecidos normais, e pacientes com retinoblastoma são mais susceptíveis a outros tumores. Além disso, perda dos dois alelos do gene Rb é encontrada em outros cânceres, como sarcomas de tecidos moles e carcinomas de mama, pulmão, bexiga e próstata. • Gene p53: É a forma mais comum de alteração gênica em neoplasias humanas. Além de responsáveis pelo surgimento, alterações nesse gene podem associar à progressão tumoral, sendo mais comuns em cânceres avançados. O fenótipo neoplásico se manifesta quando há perda de dois alelos dos genes, que pode ser de forma herdada ou adquirida (a herdada é só por um alelo). O gene p53 se localiza no cromossomo 17 e Vitor Dantas – PROLIFERAÇÃO CELULAR possui 11 éxons. As mutações ocorrem nos éxons de 5 a 10, geralmente por troca de aminoácido por outro. O gene p53 normal não é identificado em imunocitoquimica porque tem vida útil curta, o que não acontece no mutado por troca, em que há acúmulo e identificação. Há também deleções do gene, em que não há aumento da vida média nem acúmulo de proteína, nesse caso o gene é identificado somente por técnicas de biologia molecular. Algumas formas da proteína anormal podem inibir a proteína normal, gerando fenótipo maligno com apenas um alelo mutado (mutação dominante-negativa). • Outros Genes: APC (polipose famílial do cólon inicial com nascimento com perda de um alelo, com evolução para câncer após mutação de outro alelo), DCC (deleção) e WT-1 (inativação em cromossomo 11), gerando neurofibromas e neurofibrossarcomas. MECANISMO DE AÇÃO DOS GENES SUPRESSORES DE TUMOR Mecanismo de Ação dos Genes Supressores de Tumor: A pRb é encontrada em formas hipo e hiperfosforilada. Na hipo, é ativa e impede divisão celular por se ligar a fatores de transcrição (T, como produto dom myc). Quando a célula recebe estimulo mitogenico, as cdk fosforilam a pRb tornando-a inativa, e fazendo com que os fatores de transcrição se soltem dela e se liguem ao DNA para estimular a divisão celular. Após mitose, fosfatases celulares removem radicais fosfato da proteína e a pRb retorna ao seu estado hipofosforilado e ativo. Ela atua no período G1/S. Pode ser inativada em mutações do gene, que alteram ligação de pRb aos fatores de transcrição (deixando FT livre para ligar a DNA); em ligações com proteínas de vírus oncogênicos, que também ocupam o sítio de ligaçãocom FT. A p53 se localiza no núcleo e está relacionada aos processos de crescimento, reparo e síntese de DNA, diferenciação celular e apoptose. Em células agredidas, a p53 sofre modificações que a tornam mais estável, ela se liga ao DNA e induz síntese da proteína p21, que inibe o complexo cinina-cdk, o que inibe a fosforilação da pRb, que continua ativa e não permitindo a liberação de FT, bloqueando células na fase G1 do ciclo celular, de modo a dar tempo para que sistemas de reparo de DNA corrijam o defeito provocado, impedindo propagação desse defeito. Caso esses defeitos não sejam corrigidos, a p53 age induzindo a célla a entrar em apoptose por estimulação do gene bax. Na ausência da ação da p53, as mutações são transmitidas às células e amutações adicionais vão se acumulando no genoma, tornando-se suficientes para iniciar transformação celular. Seu desaparecimento pode ser por deleção gênica, mutações congênitas ou adquiridas, ligação com oncoproteínas de vírus oncogênicos (que inativam ou estimulando a degradação da p53). DEMAIS TIPOS DE CARCINOGÊNESE ETAPAS DA CARCINOGÊNESE Iniciação: •É a fase de transformação celular, ou seja, mudanças induzidas por cancerígenos físicos, químicos ou biológicos, causam modificações genômicas nas células tornando-as capazes de se multiplicar sozinhas. • O iniciador é sempre uma substancia mutagênica e eletrofilica, ou seja, tem grande afinidade por compostos nucleofílicos, como RNA e DNA. • Ex: agentes químicos são capazes de ativar proto- oncogenes ou inativar genes supressores de tumor. • No entanto, nem toda agressão ao DNA leva a transformação celular, pois os genes de reparo podem corrigir os defeitos ocorridos. • Assim, a célula atingida pelo iniciador e cujo o defeito no DNA não foi corrigido precisa sofre pelo menos uma divisão para que a iniciação ocorra. OBS: Mutações espotaneas ou erros de replicação do dna durante a divisão celular ocorrem com frequência e são suficientes para explicar os eventos genéticos encontrados em neoplasias. Por isso, em muitos casos não se consegue identificar um fator externo como causador da mutação. Promoção: A promoção consiste na expansão das células iniciadas, proliferando células transformadas. Os promotores são substancias que tem em comum a propriedade de irritar tecidos e de provocar reações inflamatórias e proliferativas. Fatores variados podem ser promotores: hormônios, medicamentos, calor, traumatismos, etc. Progressão: • É a fase na qual as modificações biológicas (mutações) que tornam o CA cada vez mais agressivo e maligno. • Com o tempo vão surgindo populações celulares diferentes dentro da massa neoplásica, assim, as que não morrem, adquirem vantagens para crescimento, sendo selecionados clones mais agressivos. • Além da aquisição de novas características intrínsecas das células tumorais, a progressão dos tumores depende também de fatores do hospedeiro. A resposta imunitária por exemplo tem papel de destaque, se os novos clones adquirem forte antigenicidade, provavelmente serão eliminados. OBS: nem sempre é assim, em alguns casos raros ocorre a involução espontânea do câncer. FONTES Alberts. Fundamentos da biologia celular BOGLIOLO, L.; BRASILEIRO FILHO, G. Patologia. 7ªed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006 KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. Robbins patologia básica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. Vitor Dantas – PROLIFERAÇÃO CELULAR CÂNCER DO COLO DO ÚTERO O câncer de colo de útero se inicia com a multiplicação descontrolada de células anormais, sem a reparação ou morte dessas células, como acontece com células normais que apresentam alguma falha no DNA. Essa multiplicação celular desordenada se deve à alteração do DNA das células do hospedeiro após integração do genoma humano pelo Vírus do Papiloma Humano (HPV). O colo uterino tem a forma cilíndrica e apresenta uma parte interna, que constitui o chamado canal cervical ou endocérvice, e uma parte externa, que mantém contato com a vagina e é identificada como ectocérvice. A endocérvice é revestida por uma camada única de células cilíndricas produtoras de muco, chamada de epitélio colunar simples, enquanto a ectocérvice é revestida por um tecido de várias camadas de células planas, chamado de epitélio escamoso e estratificado. Entre esses dois epitélios, encontra-se a Junção Escamocolunar (JEC), que é uma linha que pode estar tanto na ecto como na endocérvice, dependendo da situação hormonal da mulher. Isso é importante porque ajuda a compreender a fisiopatologia. EPIDEMIOLOGIA • O câncer do colo do útero é o segundo tipo de câncer mais frequente entre as mulheres, atrá somente do câncer de mama. • Com aproximadamente 500 mil casos novos de câncer cervical por ano no mundo. • Responsável pelo óbito de 230 mil mulheres por ano, em especial onde não existem programas de rastreamento organizado. • Sua incidência é cerca de duas vezes maior em países menos desenvolvidos quando comparada aos países mais desenvolvidos. • Apesar de encontrarmos casos de câncer de colo uterino em mulheres cada vez mais jovens, a grande maioria deles ocorre entre 35 e 50 anos de idade, sendo a idade mais comum aos 45 anos, mas não podemos nos esquecer de que quase 20% dos casos ocorrem em pacientes com mais de 60 anos e por isso a importância de se manter o rastreamento nessa faixa etária também. • O Inca orienta que o exame colpocitológico seja feito a partir de 25 anos de idade, após o início da atividade sexual. Após dois exames anuais consecutivos normais, deve-se passar a fazê-los trienalmente, até os 64 anos. • Pacientes submetidas à histerectomia por doença benigna não precisam continuar o rastreamento se os exames anteriores forem normais, bem como as pacientes após os 64 anos que tenham dois exames anteriores normais. • O carcinoma epidermóide compreende 90% das neoplasias do colo uterino, seguido pelo adenocarcinoma. Carcinomas adenoescamosos, sarcomas e linfomas raramente são encontrados. • Como está associado com a infecção pelo o HPV, aproximadamente 291 milhões de mulheres no mundo apresentam infecção por HPV em algum período da vida, correspondendo a uma prevalência de 10,4%. • Entretanto, mais de 90% dessas novas infecções por HPV regridem espontaneamente em seis a 18 meses. • A estimativa do INCA para 2016 calculou 16.340 casos novos de câncer de colo uterino no Brasil. • O câncer do colo do útero é o primeiro mais incidente na região Norte. Nas regiões Centro-Oeste e Nordeste ocupa a segunda posição mais frequente, na região Sudeste, a terceira, e na região Sul, a quarta posição. • Segundo dados do Ministério da Saúde, no Brasil, existem cerca de seis milhões de mulheres, entre 35 a 49 anos, que nunca realizaram o exame citopatológico do colo do útero (Papanicolaou). Nesta faixa etária, ocorrem mais casos positivos de câncer do colo do útero do que em qualquer outra. Como consequência, são milhares de novas vítimas de câncer de colo uterino a cada ano. Então, é importante não esquecer que o câncer de colo uterino é um problema de saúde pública no Brasil. • No entanto, entre todos os tipos de câncer, é o que apresenta um dos mais altos potenciais de prevenção e de cura, perto de 100%, quando diagnosticado precocemente. • A detecção precoce do câncer do colo do útero em mulheres assintomáticas (rastreamento), por meio do exame citopatológico (Papanicolaou), permite a detecção das lesões precursoras e da doença em estágios iniciais, antes mesmo do aparecimento dos sintomas. E mais, uma vez diagnosticado, ele pode ser tratado ambulatorialmente em cerca de 80% dos casos. Vitor Dantas – PROLIFERAÇÃO CELULAR FATORES DE RISCO A ocorrência do câncer de colo do útero está relacionada, sobretudo: • À atividade sexual, uma vez que na maioria dos casos o principal fator predisponente para o surgimentodesta neoplasia é a infecção pelo Papiloma Vírus Humano (HPV), responsável por 99% dos casos. São considerados fatores de risco relacionados ao comportamento sexual: • Inicio da atividade sexual precoce, antes dos 16 anos: quanto mais cedo o início da atividade sexual acontecer, maior será a chance de desenvolver agressões ao epitélio e um processo inflamatório ginecológico, que podem repercutir, em um tempo não muito longo, em lesão maligna. • Multiparidade: quanto maior o número de filhos, mais propenso a chance de desenvolver câncer de colo uterino. Principalmente, o tumor se desenvolve a partir de partos mal assistidos, como aqueles realizados por parteiras. Nestes casos, quando há lesão do colo, dificilmente será feita a colorrafia (sutura da lesão do colo), o que leva a uma cicatrização por segunda intenção, gerando uma área desvitalizada e sem irrigação. Com o advento de traumas ou partos subsequentes, os processos inflamatórios vão se instalando em locais já previamente alterados do ponto de vista histológico, servindo como uma área de propensão ao câncer de colo uterino. • Uso de contraceptivos orais por mais de 5 anos. • Múltiplos parceiros: principalmente, aqueles parceiros não circuncisados. Em alguns países, regidos pela lei de suas religiões (como o Judaísmo), os homens são circuncisados ainda crianças. Por esta razão, o câncer de colo uterino e de pênis nos países que adotam este tipo de cultura religiosa é pouco frequente. Isso se deve ao fato de que o esmegma (substancia lipídica lubrificante produzida por células da glande peniana) apresenta alguns compostos (histona e porfirina) que agem como substâncias cancerígenas. • Baixa higiene genital, exposição à radiação ionizante e agentes químicos somam-se aos outros fatores supracitados. • Fatores socioeconômicos, educacionais e culturais: a maioria dos pacientes de baixa renda apresenta receio ao exame clínico, principalmente, quando se trata de sangramento intermenstrual, o que dificulta o diagnóstico. • Acredita-se em última análise que o comportamento sexual promíscuo seja fator de risco para o surgimento de câncer de colo do útero pela maior probabilidade de infecção pelo HPV. Além disso, • O tabagismo é considerado um importante fator de risco isolado, mas agravado quando há associação com o HPV. • Coinfecção por agentes infecciosos como o Chlamydia trachomatis, situações de imunossupressão como corticoterapia prolongada, diabetes e AIDS estão relacionadas a uma maior incidência de câncer de colo do útero, assim como deficiências nutricionais de vitaminas A e C, beta-caroteno e ácido fólico, fatores comumente associados a baixas condições sócio- econômicas. • Pacientes com lesões pré-invasivas do colo do útero apresentam maior risco de desenvolver câncer invasivo caso não sejam conduzidos adequadamente. • Segundo a classificação de Bethesda, as lesões são divididas em baixo grau e alto grau. São consideradas lesões de baixo grau a neoplasia intra-epitelial cervical grau I (NIC I) e lesões por HPV, e lesões de alto grau a NIC II e a NIC III. O tempo de evolução das lesões pré- invasivas para o câncer ainda não foi estabelecido, variando de alguns meses a vários anos. Lesões de baixo grau têm maior probabilidade de regressão e menor probabilidade de evolução para carcinoma invasor do que as lesões de alto grau. ETIOLOGIA No pequeno número de casos nos quais a infecção pelo HPV persiste e, especialmente, é causada por um tipo viral oncogênico, pode ocorrer o desenvolvimento de lesões precursoras, cuja identificação e tratamento adequado possibilitam a prevenção da progressão para o carcinoma cervical invasivo. Além de aspectos relacionados à própria infecção pelo HPV (tipo e carga viral, infecção única ou múltipla), outros fatores ligados à imunidade, à genética e ao comportamento sexual parecem influenciar os mecanismos ainda incertos que determinam a regressão ou a persistência da infecção e também a progressão para lesões precursoras ou câncer. A idade também interfere nesse processo, sendo que a maioria das infecções por HPV em mulheres com menos de 30 anos regride espontaneamente, ao passo que acima dessa idade a persistência é mais frequente. Trata-se de um parasita intracelular, capaz de acelerar a velocidade das mitoses celulares, o que aumenta a chance de desenvolvimento de atipias. Estudos recentes revelaram que o HPV possui proteínas que interagem com os genes supressores de tumor p53 e erb. Existem mais de 100 subtipos de HPV. Os subtipos 16 e 18 são responsáveis por aproximadamente 70% de todos os carcinomas cervicais, por serem os mais mitogênicos. O tipo 16 é o mais prevalente e o mais frequente entre os carcinomas de células escamosas. O tipo 18 é o responsável por 20% dos tumores e o mais comum entre os adenocarcinomas. Os outros subtipos estão associados a infecções transitórias, que normalmente se resolvem entre dois e cinco anos. Vitor Dantas – PROLIFERAÇÃO CELULAR FISIOPATOLOGIA Antes de aprofundar o estudo do câncer de colo uterino, é preciso relembrar alguns conceitos que são importantes para o entendimento das lesões intraepiteliais cervicais e do câncer de colo uterino. → Epitélio colunar (cilíndrico) simples: É o epitélio característico da região endocervical, constituído por uma única camada de células responsáveis pela secreção do muco cervical (epitélio cilíndrico simples ou epitélio glandular). → Epitélio escamoso estratificado não queratinizado: É o epitélio característico da região da ectocérvice, formado por várias camadas de células, o que confere maior proteção à região. Esse epitélio também reveste os fundos de saco e a vagina em toda sua extensão. → JEC (Junção Escamocolunar): O estudo da topografia do colo uterino identifica duas zonas: a ectocérvice e a endocérvice. A ectocérvice é revestida por epitélio escamoso estratificado não queratinizado. A endocérvice é revestida por epitélio colunar (cilíndrico) simples. O ponto de encontro destes epitélios denomina-se Junção Escamocolunar (JEC). Quando a JEC se localiza no orifício externo tem-se o colo padrão. A JEC é um ponto dinâmico, de localização variável, que se modifica em resposta à faixa etária, gravidez, paridade, menopausa, traumatismos, infecções e estimulação hormonal (anticoncepção hormonal). → Metaplasia escamosa: É um processo fisiológico de transformação do epitélio colunar em escamoso, que origina uma “nova JEC” (zona de transformação). Nesse processo, a nova JEC “desloca” a JEC primitiva para dentro do canal endocervical. Consequentemente, essa nova JEC se exterioriza. Como a metaplasia escamosa é um processo fisiológico e comum em mulheres no menacme, a sua presença em um esfregaço de Papanicolaou ou no laudo de biópsia do colo uterino não indica nenhum tipo de tratamento ou de cuidado especial. → Zona de Transformação (ZT): Estudos citológicos mostram um terceiro tipo de epitélio. Corresponde à zona de transformação, onde se vê o epitélio escamoso entremeado de epitélio colunar, orifícios glandulares e cistos de Naboth, resultante de um processo de metaplasia. A zona de transformação corresponde à região entre a JEC primitiva (original) e a nova JEC (JEC fisiologicamente ativa). Ou seja, corresponde à região que sofreu metaplasia escamosa. Em outras palavras, a ZT é a responsável pela transformação do epitélio colunar em estratificado pavimentoso. Portanto, é na ZT que se localizam mais de 90% das lesões precursoras ou malignas do colo do útero. → Ectopia ou ectrópio: A JEC ativa deslocada para fora do orifício externo do colo uterino define a ectopia ou ectrópio. Esta alteração topográfica é clinicamente referida como mácula rubra durante o exame especular. Como a mácula rubra não é um achado patológico, não há necessidade de realizar nenhum outro exame complementar. Na infância e no período pós-menopausa, geralmentea JEC situa-se dentro do canal cervical. No período da menacme, fase reprodutiva da mulher, geralmente a JEC situa-se no nível do orifício externo ou para fora desse e recebe o nome de ectopia ou eversão. Nessa situação, o epitélio colunar fica em contato com um ambiente vaginal ácido, hostil a essas células. Assim, células subcilíndricas bipotenciais, de reserva, se transformam por meio de metaplasia em células mais adaptadas (escamosas), dando origem a um novo epitélio situado entre os epitélios originais, chamado de terceira mucosa ou zona de transformação. Nessa região pode ocorrer obstrução dos ductos excretores das glândulas endocervicais subjacentes, dando origem a estruturas císticas sem significado patológico, chamadas de cistos de Naboth. O câncer do colo do útero é caracterizado pela replicação desordenada do epitélio de revestimento do órgão, comprometendo o tecido subjacente (estroma) e podendo invadir estruturas e órgãos contíguos ou à distância. O câncer de colo de útero se inicia com a multiplicação descontrolada de células anormais, sem a reparação ou morte dessas células, como acontece com células normais que apresentam alguma falha no DNA. Essa multiplicação celular desordenada se deve à alteração do DNA das células do hospedeiro após integração do genoma humano pelo Vírus do Papiloma Humano (HPV). Inicialmente existe a infecção do epitélio metaplásico na zona de transformação do colo uterino, por HPV oncogênico, seguido da persistência dessa infecção e da progressão de um clone de células epiteliais para lesões pré-invasivas e invasivas, com ruptura da membrana basal. A infecção por HPV é extremamente comum - estima-se que 75% a 80% dos adultos com vida sexual irão adquirir HPV antes dos 50 anos de idade. Essa infecção pode levar ainda ao câncer de canal anal, vagina, vulva e pênis, bem como às verrugas anogenitais. A maioria das infecções por HPV é transiente e o vírus não é capaz de desenvolver câncer invasor isoladamente. Quando a infecção persiste, o tempo da infecção inicial à alteração pré-invasiva e finalmente ao câncer invasor é em média de Vitor Dantas – PROLIFERAÇÃO CELULAR 15 anos, embora tenhamos relatos de evoluções mais rápidas. O colo uterino é formado principalmente por células escamosas e células cilíndricas ou glandulares, e a junção desses dois epitélios é chamada de zona de transformação, onde se inicia a quase totalidade dos cânceres do colo uterino. O Vírus do Papiloma Humano é o principal cofator para o início dessa multiplicação celular desordenada, quando o indivíduo apresenta uma persistência dessa infecção. As alterações pré-cancerosas podem ser divididas em alterações escamosas - neoplasias intraepiteliais escamosas (NIC), grau I, II e III, conforme o comprometimento do epitélio escamoso. A NIC I tem taxas de regressão espontânea muito altas e baixa probabilidade de progressão para câncer. Normalmente não é considerada lesão pré-invasiva, diferentemente das NIC II e III e do adenocarcinoma in situ, quando do acometimento do epitélio glandular (AIS). Nesses casos não temos o rompimento da membrana basal. HISTÓRIA NATURAL E DISSEMINAÇÃO DO TUMOR Geralmente, o tumor se origina da junção escamo-cilíndrica do cérvice e é precedido por displasia e câncer in situ. Caso esta lesão não seja detectada, quando as células malignas rompem a membrana basal para entrar no estroma, ocorre o câncer invasivo em um intervalo de 10 anos. Com o crescimento contínuo, a lesão torna-se visível e envolve progressivamente mais tecido cervical com invasão dos espaços linfovasculares. Os tumores invasivos podem apresentar um caráter vegetante ou infiltrativo. Quando os tumores são vegetantes, crescem em direção à vagina, podendo ocupá-la totalmente e ser visível mais facilmente. Quando são infiltrativos, destroem o colo e penetram na cavidade, podendo ocupar até a região do istmo uterino. Muitas vezes, a paciente pode advir ao médico por queixa de sangramento e, ao exame, não se consegue observar massa tumoral. Neste caso, se a paciente apresentar lesão do canal cervical, impreterivelmente, o médico não conseguirá alcançar tal área. Por esta razão, toda paciente em menopausa que apresente quadros de sangramento, até que se prove o contrário, deve apresentar câncer do endométrio ou canal cervical, sendo necessário realizar curetagem de prova para envio do material ao patologista. OBS1.: Os oncologistas costumam referenciar três lesões neoplásicas de fácil diagnóstico: o câncer de pele, tumores da cavidade oral e tumor de colo uterino. PROPAGAÇÃO O câncer de colo propaga-se por três vias principais: 1. Contiguidade: paramétrios, paracolpo – tecido conjuntivo ao redor da vagina –, bexiga e reto; 2. Continuidade: vagina e corpo uterino; 3. Via linfática: inicialmente, para linfonodos paracervicais. Em seguida, aos parametriais, obturadores, ilíacos internos e externos e, posteriormente, aos linfonodos ilíacos comuns, para-aórticos e inguinais. Obs.: A propagação hemática ocorre para o fígado, pulmões, cérebro, ossos e linfonodos supraclaviculares. QUADRO CLÍNICO Após a exposição, o vírus coloniza todo o epitélio do trato genital inferior. Pode, então, existir uma ampla variação individual de manifestações clínicas, que, provavelmente, são reguladas pela resposta imunológica local ou sistêmica do hospedeiro, além da presença ou ausência de cofatores. A infecção pelo HPV pode ter diferentes evoluções: • Cura espontânea, com desaparecimento do vírus; • Persistência do vírus associada a citologia normal ou a alterações citopáticas discretas; • Alterações celulares transitórias que desaparecem espontaneamente; • Alterações celulares que, apesar de persistentes, não progridem; • Alterações celulares que evoluem para carcinoma in situ ou invasivo. A lesão mais evidente é o condiloma acuminado, que acomete a vulva e a pele do períneo e, menos frequentemente, o colo uterino. O sintoma mais acusado pela paciente é uma perda sanguínea vaginal começando com uma sinusorragia, com aumento gradativo do sangramento, que é proporcional ao crescimento da tumoração, podendo chegar a um quadro de hemorragia. Quando o tumor já é avançado, aparece um corrimento seroso definido como água de carne, fétido devido à necrose e à infecção da tumoração. Contudo, muitas mulheres com diagnóstico de câncer cervical em estágio inicial apresentam-se assintomáticas. Muitas vezes, quando sintomática, há uma semelhança com a patologia benigna. Para evitar erros devido essa semelhança com neoplasia benigna, deve-se realizar esfregaços de Papanicolau de rotina, para então abordar o diagnóstico correto do que se trata. Em resumo, as principais manifestações clínicas de pacientes sintomáticas são: • Corrimento de odor fétido; • Sangramento intermenstrual; Vitor Dantas – PROLIFERAÇÃO CELULAR • Dispareunia (dor ao ato sexual); • Sinusorragia (sangramento durante o ato sexual): pode ser causada por lesões durante o coito ou devido à neovascularização tumoral. • Dor epigástrica e dor pélvica aparecem quando o tumor está em fase mais avançada. • Edema dos membros inferiores também caracteriza fase avançada da doença e é causado por obstrução do fluxo linfovascular. REALAÇÃO DO HPV COM A GESTAÇÃO Na mulher grávida ocorre uma imunossupressão fisiológica e uma maior produção de hormônios esteroides, que resultam em uma proliferação celular intensa, principalmente nas camadas intermediárias e superficiais de epitélio escamoso. Estas alterações propiciam um ambiente muito favorável à replicação viral. Nas gestantes, é comum a formação de condilomas gigantes ou a evolução rápida para lesões neoplásicas de grau mais acentuado. No pós- -parto ocorre o inverso, há regressão espontânea da maioria das lesões verrucosas. Em geral, opta-se pelo tratamento após revisão nos quatro a seis meses após parto.
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