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Secessão, Estatalidade e Novos Estados Africanos - Daniel Carvalho

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1 
 
SECESSÃO, ESTATALIDADE E NOVOS ESTADOS AFRICANOS 
 
Daniel Duarte Flora Carvalho 
Centro Universitário Vila Velha - UVV 
 
 
Resumo 
 Com o resultado do plebiscito sobre a independência do Sudão do Sul favorável 
à secessão, uma série de questões surge sobre as relações exteriores do novo Estado. 
No entanto, re-surge também a necessidade de discutir a estatalidade na África e o 
surgimento de movimentos de libertação nacional capazes de derrubar governos e 
decretar unilateralmente a independência de região que pretendia libertar. No último 
vintênio, Eritréia e Sudão do Sul tornaram-se independentes em um processo guiado 
por frentes de libertação nacional que reivindicavam a representação popular e do 
território em questão. O presente artigo visa a refletir, ainda que preliminarmente, sobre 
o êxito das FLNs e as condicionantes que permitiram ou impediram a secessão, em 
especial nos chamados Grandes Estados Africanos. 
 
Palavras-chave: secessão, Estatalidade, soberania, frente de libertação nacional.
2 
 
 
A divulgação do resultado oficial do referendo, no começo de 2011, que decidiu 
pela separação da região sul-sudanesa, conforme previstos nos acordos de paz de 
2005 entre o Movimento/Exército de Libertação Popular do Sul (SPLA/M, em inglês) e o 
governo central do Sudão, trouxe mais uma vez a necessidade da discussão sobre os 
Estados na África. Esse recente acontecimento provocou indagações sobre a natureza 
dos Estados, do sistema internacional africano e das abordagens teóricas para a 
explicação/compreensão do continente. Neste trabalho, pretende-se debruçar sobre o 
fenômeno da secessão que, desde 1991, deu origem a três novos Estados no 
continente. 
 Discutir a estatalidade na África, portanto, já se mostrava essencial para uma 
melhor compreensão de suas relações internacionais há muito tempo. Engel e Olsen 
(2006) já acusavam a existência de dois sistemas internacionais na África: um 
westfaliano e outro não-westfaliano, no qual o dilema de segurança era calculado pelo 
regime objetivando a sobrevivência não só de seu Estado, mas também a sua própria 
permanência no poder. Além disso, o pós-Guerra Fria foi responsável por um processo 
de “balcanização” da África (Vizentini 2007) que culminou, em boa medida, no 
surgimento de uma série de movimentos armados que visavam, via de regra, a tomar o 
poder do Estado, adquirir maior autonomia para a região que dizia libertar ou à 
secessão dessa região, o que promoveria a partição do Estado que aqui é entendida 
como 
an internally motivated (i.e. secessionist) division of a country’s homeland (i.e. 
non-colonial) territory that results in the creation of at least one new independent 
state (e.g. Eritrea) and that leaves behind the now territorially smaller rump state 
(e.g. Ethiopia) (Tir 2005, 545). 
Alguns desses movimentos (doravante Frentes de Libertação Nacional, FLN) 
obtiveram êxitos na consecução de seus objetivos e foi no Chifre da África onde esses 
sucessos se concentraram: a Somalilândia, em 1991, cuja independência não é 
reconhecida internacionalmente; a Eritréia, também em 1991, e que dois anos mais 
tarde obteve o reconhecimento internacional de sua independência graças a um 
3 
 
referendo promovido pelas Frente Popular de Libertação da Eritréia (FPLE) e Frente 
Popular de Libertação do Tigray (FPLT, que recém haviam derrocado o regime de 
Mengistu Haile-Mariam) e com o patrocínio da ONU; e o Sudão do Sul que, após 
referendo (também patrocinado pela ONU) previsto nos acordos de paz entre SPLA/M e 
Cartum, está em fase final do processo de independência (previsto para ser concluído 
no dia 09 de julho de 2011). 
 Nestes três casos, a secessão foi originada por grupos insurgentes capazes de 
atender requisitos mínimos de estatalidade (Clapham, 1998), que reivindicavam a 
representação da população e território em questão. Nos dois últimos casos, a 
secessão foi concluída através de referendo com aprovação quase que unânime e ao 
passo que a Eritréia obteve pronto reconhecimento da comunidade internacional, não 
há o que leve a pensar que o Sudão do Sul não tenha o mesmo destino a partir de 9 de 
julho de 2011. 
 Apesar de as FLNs serem onipresentes no continente, seu sucesso ficou 
confinado a uma região específica cujos mecanismos multilaterais apresentam as 
mesmas limitações para lidar com a questão que a União Africana e outros órgãos 
multilaterais africanos (Okafor 2000). Destarte, é necessário refletir sobre o êxito dessas 
FLNs e as condicionantes que lhe permitiram ou impediram no continente africano, em 
especial nos chamados Grandes Estados Africanos, os quais já apresentaram ou 
apresentam movimentos de secessão e são considerados como ameaças aos vizinhos 
dada sua fragilidade (Clapham et al. 2006) 
 Com base nesses Grandes Estados será feita a análise das condicionantes que 
permitiram o surgimento de novos Estados africanos que, neste trabalho, são definidos 
como todo Estado africanos que obteve sua independência de facto e de jure a partir de 
outro Estado africano no pós-Guerra Fria. Para tanto, será feita uma análise geral das 
semelhanças dos Grandes Estados (África do Sul, Angola, Etiópia, Nigéria, República 
Democrática do Congo e Sudão) com o intuito de verificar as razões que levaram 
algumas dessas FLNs a conseguirem seu objetivo secessionista e outras não. 
4 
 
Os Grandes Estados Africanos 
 Os chamados Grandes Estados Africanos (doravante GEAs) têm importância 
singular no desenvolvimento das relações internacionais das regiões onde estão 
alocados. Dado o seu tamanho, servem eles como grandes centros de gravitação 
política, o que lhes confere a posição central no processo de causa e conseqüência das 
relações entre os atores regionais (sejam eles Estados ou não). A gravitação por eles 
exercida, contudo, não significa obrigatoriamente que eles sejam potências regionais ou 
líderes cujas ações sejam legítimas perante os demais atores regionais. Na verdade, o 
que se demonstra nesses GEAs é que suas grandes proporções territoriais e 
demográficas combinadas, entre outros fatores, com escassez de recursos provocou 
sérias desfuncionalidadesi nos serviços do governo (Herbst et al. 2006). 
 Chamar a estes Estados de “grandes” não é exagero. Cinco dos sete maiores 
Estados em extensão territorial na África estão neste grupo (dos seis GEAs, apenas 
Angola não figura entre os sete maiores Estados; enquanto Quênia e Tanzânia estão 
presentes nesta lista). Além disso, esses sete Estados aglomeravam, em 2006, 57% da 
população da África. Desta forma, é possível destacar a sua importância para uma 
análise de relações internacionais africanas. 
Nigeria alone has a population equivalent to the sum of the thirty one smallest 
countries. Each of Africa’s region can be said to have at least one big country that 
is the centre of gravity for much political and economic activity. Thus, South Africa 
dominates southern Africa, the DRC dwarfs the rest of central Africa, Nigeria is 
recognized as the centre of West Africa, and Sudan and Ethiopia are the major 
countries in the Horne of Africa (Herbst et al. 2006, p.07). 
 O que torna intrigante essa combinação desproporcional de território e população 
nos GEAs são as conseqüências que lhes surge no processo de construção do Estado, 
que está diretamente ligado ao fenômeno da secessão. Estes Estados têm 
desempenho econômico pífio, apesar de serem ricos em recursos naturais e terem 
mercados internos que deveriam ser capazes de garantir o crescimento econômico 
(Ottaway et al. 2004). Além disso, ainda têm como característica regimes unipartidários 
ou militares, responsivos à estrutura colonial herdada. Como diz Ottaway, Herbst e Mills 
5 
 
(2004, p.01), “forty years after independence, most are still struggling to find a political 
system capable ofholding together their diverse populations without constant strife”. 
 Essas lutas que ainda ocorrem estão ligadas, em boa medida, à concentração da 
riqueza que acaba privilegiando uma determinada região, seja por vontade dos 
governantes, seja pelas dificuldades logísticas de difundir o poder para áreas mais 
distantes da capital. Esta forma de difusão, que será vista mais para frente, é 
organizada de forma decrescente a partir da capital rumo à hinterlândia do Estado. No 
caso dos GEAs, todos possuem grandes hinterlândias de difícil governo e policiamento 
(Herbst et al. 2006). Além das dificuldades logísticas, Herbst (2000) afirma que dado à 
falta de ameaça externa e à alta concentração populacional na capital e nos entornos, 
os Estados africanos – por meio de seus governos – não julgam ser do interesse 
nacional difundir poder e marcar presença nessas remotas áreas, visto o baixo retorno 
político e de taxação. Além de grandes hinterlândias, também é característica dos 
GEAs a existência de grande número de agrupamentos étnicos, dado o tamanho de sua 
população e a evidente dependência da exportação de minérios (com a exceção da 
Etiópia, que depende das exportações de café primariamente. 
 Sobre os agrupamentos étnicos, é importante ressaltar a existência de uma 
problemática que recomendaria a não centralização do conceito etnia na analisa das 
relações internacionais. Apesar de a hipótese afro-pessimista de que etnias e tribos 
inimigas foram unidas em um mesmo território durante a colonização ser bastante 
convidativa para compreender parte dos processos de secessão no continente, é 
necessário ter em mente que etnias são construídas politicamente, sem qualquer 
critério objetivo e não manipulável para defini-las (Fearon 2004) e que as identidades 
são sempre maleáveis e multifacetadas (Chabal et al. 2000). De qualquer modo, muitas 
das FLNs presentes nos GEAs reivindicam uma identidade coletiva subnacional cujo 
povo elas pretendem libertar. Em alguns casos, elas estão localizadas longe do 
principal centro político do país e acabam sendo marginalizadas dos benefícios do 
Estado: este é o caso da FLT, na Etiópia, e da SPLA/M, no Sudão (Woodward 2003). 
6 
 
 A presença desses vários agrupamentos étnicos e das grandes hinterlândias se 
justifica – como já dito – pelo tamanho do território desses Estados e isso não deveria 
ser um problema de acordo com as noções ocidentais de estatalidade, que tendem a 
influenciar a análise sobre a viabilidade política dos Estados na África de forma a 
afirmar que quanto maior o Estado, maior o potencial de viabilidade econômica. 
Contudo, os GEAs estão demonstrando que tal afirmação é contrafactual, uma vez que 
o indivíduo médio tem vivido de modo muito pior do que mostram as estatísticas per 
capita continentais, dado que os países onde a maioria da população africana vive em 
Estados que apresentam desempenhos muito inferiores à média africana. Se a 
literatura sobre a viabilidade do Estado assume que “maior é melhor”, na África o 
resultado tem sido exatamente o oposto: são os GEAs os mais disfuncionais. 
The fundamental problem affecting Africa is that, overall, the countries that have 
done especially well have few people and the countries that have performed 
worse than average are extremely large and populous” (Herbst et al. 2006, p.03). 
 O desempenho desses GEAs tem importantes reflexos nas dinâmicas políticas, 
sociais e econômicas das regiões nas quais são centros de gravitação. Dessa forma, 
ocorre um processo de spill over de seus desempenhos, bons ou ruins, assim como de 
suas desfuncionalidades: e o crescimento econômico e a estabilização política desses 
Estados podem incentivar os mesmos efeitos nos países vizinhos, a estagnação e a 
instabilidade também podem promover efeitos homólogos. Portanto, os GEAs podem 
ser problemas para suas regiões, assim como grandes hinterlândias são problemas 
para a governança nesses Estados, já que apresentam retornos decrescentes de 
escala que geram três conseqüências: 1- a existência de múltiplos centros de poder nos 
Estados que podem beneficiar o surgimento de FLNs as quais responderiam às 
preocupações decrescentes de difusão do poder sobre a distância por parte do governo 
centralii; 2- dificuldades para as insurgências levarem a cabo seus planos e atingirem 
seus objetivos dado que a distância atrapalha a angariação de recursos e dificulta o 
combate contra as tropas do governo central, tornando longas as guerras civis; e 3- a 
dificuldade de governar causada por problemas logísticos (Herbst et al. 2006). 
7 
 
 Desta forma, aos GEAs e aos demais Estados africanos, acaba sendo 
diretamente associada a nomenclatura de “Estados falidos”iii, porém de maneira pouco 
crítica. Como evidencia Dunn (2001), boa parte da literatura atribui um adjetivo para o 
Estado africano (falido, fraco, quase, inventado e imposto, parasitário etc), o que 
prejudica um melhor entendimento das dinâmicas existentes no continente, incluindo os 
movimentos de secessão e até mesmo graus de estatalidade. Por isso, se faz 
necessária a discussão sobre a natureza do Estado africano. 
 
Graus de estatalidade e o estado essencial: a natureza dos “estados” africanos 
 Uma premissa (ainda) pouco debatida sobre os Estados africanos é sua natureza 
artificial. De acordo com ela, os atuais Estados africanos são um legado da época 
colonial e seriam a primeira experiência de vida dos povos africanos sob o governo de 
um Estado. Além disso, a imposição de fronteiras artificiais teria separado os povos que 
deviam ficar juntos e juntado aqueles que deviam ter permanecido separado, o que 
seria fonte de conflitos. As fronteiras teriam se tornado, portanto, um grande problema 
para a África. Além disso, elas acabam recebendo a atenção de boa parte da discussão 
sobre a natureza dos Estados africanos uma vez que “a África é o continente mais 
dividido” (Döpkce 1999, 77). Apesar desta realidade do continente africano, é 
necessário levar em consideração que essa premissa é problemática. 
No debate sobre os conflitos políticos na África contemporânea, comumente 
destaca-se o papel das fronteiras e suas origens coloniais como uma das 
principais vertentes. Entretanto, este discurso, dominado por cientistas políticos, 
recorre freqüentemente a estereótipos e mitos e se recusa a reconhecer a 
complexidade do assunto, especialmente na sua dimensão histórica (Döpcke 
1999, 78). 
 Esta visão, combatida por Döpcke e outros africanistas, é responsável pela 
conclusão de que os Estados africanos são ilegítimos – o que é discutível. Essa 
atribuição de ilegitimidade aos Estados está diretamente ligada aos três métodos de 
análise que se costuma utilizar para a compreensão do Estado africano. Isto é, se o 
analisa levando em consideração 1) o controle físico do território por parte do governo 
8 
 
que deve ser provedor de bem-estar social; 2) a “idéia de Estado”iv, ou seja, pela 
construção do Estado no imaginário das populações; e 3) pelo reconhecimento 
internacional como membro legalmente igual do sistema de Estados (Clapham 1996). 
 Nenhum Estado africano atende completamente a nenhum desses critérios. A 
grande maioria tem o reconhecimento internacionalv, mas não consegue atender a 
todos esses requisitos, gerando a quase-estatalidade e o sistema de soberania negativa 
de Jackson (1990) que, segundo Clapham (1998, 146), “always rested on the 
contradiction that states could retain their independence of the international system 
while remaining dependent on the international system”. A partir da soberania negativa, 
então, os Estados africanos seriam ilegítimos e isso seria a causa da ascensão das 
FLNs. 
 Essa afirmação não está errada, porém está incompleta. A (i)legitimidade do 
Estado africano é discutível. Para compreender isso, primeiro é preciso estabelecer 
qual Estadoafricano é (i)legítimo: os Estados que detêm reconhecimento internacional 
ou alguma outra concepção de Estado? Se tomarmos o primeiro caso, esse debate 
pode ser visto por meio das condições que tornam um Estado africano legítimo ou não. 
Para Engelbert (2000), há três condições que auferem legitimidade ao Estado africano, 
estando elas diretamente relacionadas ao período da colonização: 1) ter mantido sua 
independência na era moderna, sem ter sido colonizado (ex: Etiópia); 2) ter 
permanecido com instituições políticas semelhantes às anteriores à colonização (ex: 
Botsuana, Burundi, Lesoto, Ruanda e Suazilândia); e 3) ter sido iniciado em áreas sem 
prévio assentamento humano (Cabo Verde, Maurício, São Tomé e Príncipe e 
Seychelles). Além dessas condições ressaltadas por Engelbert, Chabal e Daloz (2001) 
ressaltam o processo de acomodação das relações entre instituições herdadas e povos 
africanos (o que eles chamam de “africanização” dos sistemas políticos herdados). 
Esse processo de “compartilhar o botim” e “domesticar a desordem” seria responsável 
por auferir legitimidade à instituição “Estado”. 
9 
 
 Essas duas visões não são, como já foi dito, consensuais. Enquanto autores pós-
colonialistas sentir-se-iam pouco confortáveis com a noção de legitimidade explicitada 
por Engelbert, a noção apresentada por Chabal e Daloz pode ser acusada de 
conformista e comprometida em legitimar um status quo antidemocrático e injusto nos 
Estados africanos. Ambas as visões têm certa relação com a questão da secessão: a 
relação entre legitimidade do Estado, secessão (ocorrência e fomento) e possível 
conflito pós-partição já foi trabalhada por Carvalho (2008) enquanto a visão de Chabal e 
Daloz foi incorporada, ainda que indiretamente e sem ser referido, na discussão de 
Clapham, Herbst e Mills (2006), sobre os grandes Estados africanos. De qualquer 
modo, essa segunda visão parece oferecer um retrato bastante fiel à realidade política 
dos Estados africanos e se mostra bastante útil para a compreensão de como surgiram 
as FLNs e os múltiplos centros de poder. 
 O advento do colonialismo na África não alterou o padrão de difusão de poder e 
a existência de múltiplos centros de poder nos Estados africanos. Se antes da 
colonização, “African international relations reflected the complexity of shared 
sovereignty and multiple state forms” (Herbst 2000, 54), após a colonização e os 
processos de independência essa estrutura se manteve graças à força das fronteiras 
impostas pelos poderes coloniais. Com isso, “a divisão arbitrária do continente pelas 
potências européias [...] complicou imensamente as tarefas de construção de nação e 
de Estado pelos governos africanos” (Ravenhill 1988, 82) uma vez que antes da 
colonização o tamanho dos Estados africanos variava de acordo com as possibilidades 
de comércio em função dos custos de difusão de poder, enquanto no período pós-
colonial o tamanho já era dado e imutável, fazendo com que pouco interessasse a 
difusão do poder para a hinterlândia. 
States had to control their political cores but often had highly differentiated control 
over outlying áreas. Indeed, there was often no immediate imperative to improve 
tax collection in the hinterlands or to do the necessary work so that those outside 
the capital could be bound to the state through symbolic politics (Herbst 2000, 
134). 
Essa desatenção do centro político maior do Estado para as hinterlândias, 
denunciada por Herbst (2000), aparenta ser uma importante razão para o surgimento 
10 
 
das FLNs. Uma vez que o aparato estatal se coloca como uma das principais fontes de 
renda nos Estados africanos, a desatenção em alguma região favoreceu o surgimento 
de uma estrutura governamental privatizada e que goza de apoio popular. Um bom 
exemplo disso é a FPLT, conforme explicado por Berhe (2004), um dos fundadores do 
movimento. 
Esse fenômeno que liga o surgimento e a força das FLNs aos múltiplos centros 
de poder dentro dos Estados é inerente aos GEAs. Neles, a incompatibilidade do 
território do Estado com os agrupamentos e organizações políticas anteriores à 
colonização é mais acentuada, dada a escassez de recursos e os baixos incentivos de 
difusão de poder sobre a distância. Isso também é válido para a Etiópia, um dos GEAs 
e único país africano que não sucumbiu à colonização. Carvalho (2010) procura 
demonstrar que o Estado etíope atual conta com fronteiras artificiais criadas durante a 
modernização do Estado e expansão territorial levada a cabo por Menelik II como forma 
defesa. 
Il riassetto territoriale portato a termine dall’imperatore Menelik, già ré dello Scioa, 
che spostò più a sud la capitale, fondando Addis Abeba, e che assorbì terre 
abitate da popolazioni non abissine come l’Harar e l’Ogaden, ha fatto dire che 
l’Etiopia ha partecipato allo Scramble condividendone gli intenti. Ma nella 
prospettiva dell’Etiopia quell’espansione fu un modo per opporsi al colonialismo 
europeo (Novati et al. 2005, 241)vi. 
 Dessa forma, sendo a artificialidade das fronteiras e a existência de FLNs 
características comuns aos Estados africanos – em especial, os GEAs – é importante 
pensar no que foi dito sobre o papel das FLNs nos centros de poder mais afastados do 
principal, aquele que é controlado pelo governo do Estado. Em muitos casos – 
principalmente nos que levaram à secessão de jure e/ou de facto – esses movimentos 
eram fortemente armados e sua estrutura representava uma organização 
governamental (ainda que nada democrática) para aquela região. São eles que ditam 
as regras nesses locais, determinando lei, cobrando impostos e até mesmo mantendo 
serviços sociais e fazendo o serviço de policiamento. 
The functions of international relations for African insurgents were, in many 
respects, little different from those for recognised states. Insurgent leaders, like 
heads of state, used international contacts in order to strengthen their own control 
11 
 
over their domestic political structure, gain access to external resources, and so 
far as possible ensure their own survival (Clapham 1996, 223). 
Nota-se assim que os grupos insurgentes são atores que desempenham o 
mesmo papel que os Estados oficialmente reconhecidos, chegando até mesmo a 
manter relações e alianças com eles. Por isso, Lemke (2003, 138) os chamou de 
“Estados de facto”, que são “political entities controlling territory and possessing military 
capabilities”. Importante ressaltar, portanto, que essa definição é composta pelos 
critérios básicos de Estatalidade destacados por Clapham (1998) e guarda uma 
importante proximidade com o chamado “Estado essencial” (ou “Estado como tal”) de 
Wendt (1999, 213), que é definido como “an organizational actor embedded in na 
institutional legal order that constitutes it with sovereignty and a monopoly on legitimate 
use of organized violence over a society in a territory”. 
Sobre essa visão de Wendt, é discutível a existência de uma ordem legal 
instituicional nos Estados de facto africanosvii. No entanto, eles detêm o controle sobre 
os meios de destruição que, segundo Wendt (1999, 204) “is the ultimate and distinctive 
basis of state Power, and only this is essential to stateness”. Nos demais critérios, o 
Estado de facto de Lemke e o Estado essencial de Wendt coincidem: ambos são o 
locus supremo para a autoridade política de uma sociedade, gozando, portanto, dessa 
soberania interna e de soberania externa, uma vez que “a state can have external 
sovereignty even if it is not recognized by other states”viii (Wendt, 1999, 208 – destaque 
no original); e ambos detêm território com fronteiras confusa, levando sempre em 
consideração que “states are effects of boundary construction as much as they are its 
causes” e que “the construction of state boundaries is never a finished affair” (Wendt, 
1999, 213). 
Assim, considera-se que, naÁfrica, há Estados dentro de Estados. Isto é, há 
Estados de facto dentro de Estados de jure. Esses primeiros – organizados e 
governados pelas FLNs – gozam das mesmas características que os últimos, 
carecendo apenas de reconhecimento internacional. Isso faz com que possam ser 
considerados como “states-in-waiting”, tal como Reid (2004) qualificou a FPLT. Com 
12 
 
isso, será útil o debate sobre a secessão nos Estados africanos, não como forma de 
encorajá-la, mas sim a fim melhor entender as forças que levam a ela e suas 
conseqüências. 
A questão da secessão 
 A questão da secessão (ou partição) na África tem sido debatida – ainda que 
com grandes interregnos – desde 1972 (aproximadamente) quando Saadia Touval e 
Thomas Hachey começaram os seus estudos sobre as fronteiras africanas. Enquanto o 
primeiro, por meio de seu livro The boundary politics of independent Africa, preocupou-
se em explicar a manutenção das fronteiras africanas as quais considerava artificiais, o 
segundo, por meio de seu livro The problem of partition: peril to world peace, já 
posicionava-se claramente afirmando que a secessão representava uma ameaça à paz 
e segurança internacionais. Durante a década de 1990, no imediato pós-Guerra Fria, o 
debate concentrou-se na discussão sobre a África e os Bálcãs, sempre trazendo a 
questão sobre quais seriam as conseqüências de uma secessão. 
 Vários autores se preocuparam demonstrar que a partição seria uma solução 
viável para por termo a guerras civis e solucionar crises étnicas geradas por divisões 
arbitrárias de territórios sem conhecimento ou respeito à realidade demográfica. 
Kaufman (1996 e 1998), Tullbert & Tullberg (1998) e outros se apoiaram na premissa de 
que más fronteiras podem confinar dentro de seus limites culturas incompatíveis, o que 
geraria o nacionalismo violento. Outros – como Etzioni (1992), Kumar (1997) e Fearon 
(2004) – destacaram que as partições só gerariam futura violência. Com esta divisão, o 
único consenso aparente que se pode destacar seria sobre a definição de partição de 
Tir (2005, descrita na introdução)ix. 
 Várias são as razões às quais os autores atribuem o surgimento de movimentos 
separatistas. Alguns autores se apóiam no argumento wilsoniano de que as fronteiras 
não estariam alinhadas adequadamente com os grupos nacionais pré-existentes. 
Muitos são os autores que parecem concordar com essa premissa, dizendo que a falta 
de responsividade e de democracia são responsáveis pelo surgimento das FLNs 
13 
 
(Etzioni, 1992) ou então que é a retórica hipernacionalista que eleva as identidades 
étnicas em momentos de crise (ou não), tal como afirma Kaufmann (1996). Digno de 
nota é que a democracia e a falta de responsividade são comumente apontadas pela 
FPLE e SPLA/M como motivos que lhes levaram a almejar a secessão. 
 De certa forma, esses argumentos estão conectados com a existência de 
múltiplos centros de poder e a difusão de poder decrescente sobre as distâncias. As 
FLNs, até hoje, se concentram em países não democráticos, em regiões (hinterlândias) 
com a população mais pobre que aquela do entorno da capital e que não gozam de 
autonomia política nem de atenção do governo central. Ou seja, é a ausência de um 
Estado imparcial e forte o bastante para prevenir conflitos civis que gera tal 
necessidade de secessão. 
 Assim sendo, as identidades passam a ser importantes para a questão da 
partição uma vez que podem ser securitizadas. Afirma-se que é com base nelas que as 
populações posicionar-se-ão em um possível conflito. Nesse sentido, as lealdades se 
tornam rígidas e transparentes, criando dilemas de segurança que forcem a separação 
das populações etnicamente diferentes. De acordo com Kaufmann (1996, 137), a 
neutralização do conflito étnico-identitário só será possivel “only when opposing groups 
are demographically separated into defensible enclaves”, uma vez que os exemplos 
históricos demonstram que, segundo Kaufmann (1998), quanto mais separados os 
grupos combatentes, mais pacíficas serão as relações entre eles. 
 Para ser completa, portanto, a partição teria de garantir a separação do povo em 
enclaves defensáveis com soberania, isto é, a separação só poderá ser garantida com 
a criação de um novo Estado (o Estado secessionista). Nesse sentido, uma vez que a 
coabitação dos povos se torna impossível, a partição torna-se necessária, garantindo 
primeiro enclaves baseados nas identidades para parar com uma possível matança e, 
em seguida, a criação de novos Estados (Kaufmann 1998). 
 Sem querer entrar na discussão sobre as conseqüências da partição/secessão, 
isto é, sobre se a partição gera novos conflitos (desta vez inter-estatais) ou uma 
14 
 
pacificação definitiva, é importante destacar a proximidade teórica entre o debate sobre 
a partição e a estatalidade. Como já dito, muitas FLNs na África são “states-in-waiting”, 
desempenhando todas as funções de Estados oficiais, inclusive gozando de soberania 
externa e de reconhecimento enquanto ator políticox, atendendo aos requisitos mínimos 
de estatalidade e configurando-se em Estados essenciais ou “Estados como tal”. Elas 
controlam centros de poder na hinterlândia, mais afastados do centro político do Estado 
e não gozam de autonomia de jure, o que lhes faz pleitear a secessão. 
Conclusão 
 Este trabalho tinha como objetivo fornecer respostas preliminares sobre os 
motivos que levavam ao surgimento de Novos Estados Africanos, por meio das 
condicionantes que permitiram o surgimento das FLNs e por que algumas obtiveram 
sucesso na sua agenda secessionista enquanto outras não. Como se procurou mostrar, 
o Estado em África deve ser visto como algo além do que a entidade que goza de 
reconhecimento internacional. Dada a estrutura dos Estados africanos e suas 
desfuncionalidades que são potencializadas nos Grandes Estados Africanos, a 
existência de múltiplos centros de poder combinados com a existência de FLNs com 
objetivo de liberar essas regiões do jugo do governo central acabou sendo essencial 
porém não suficiente para o sucesso da agenda secessionista. 
 Todos os seis GEAs possuem FLNs com objetivos secessionistas, mas apenas 
em dois casos houve o sucesso. Tanto na Etiópia quanto no Sudão, os problemas que 
levaram à secessão estavam diretamente relacionados com a construção do Estado 
pós-colonial, que não foi capaz de alterar o padrão de difusão de poder sobre a 
distância. Nos outros quatro Estados, supõe-se que as FLNs talvez arrastem com os 
governos centrais dos países onde atuam guerras civis por décadas (ou apenas 
reclames retóricos, dada a incapacidade/opção política de tomar armas) visando um 
objetivo menor que seria a autonomia, mesmo que sem aprovação constitucional uma 
vez que a distância a outros centros de poder pode ser tão grande que o isolamento 
pode até mesmo impossibilitar a visibilidade midiática do movimento. 
15 
 
 É possível que FLNs nesses quatro países tenham sucesso e consigam a 
secessão no futuro, mas – preliminarmente – parece altamente improvável. Eritréia e 
Sudão do Sul tiveram êxito graças à relativa proximidade dos centros de poder de seus 
respectivos países e graças às relações internacionais guardadas com países alhures. 
Nesses dois casos – é preciso reforçar – as FLNs trataram de libertar centros de poder 
que já estavam em questão e já tinham sua relevância desde a criação dos Estados 
pós-coloniais etíope e sudanês. 
 
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i
 Definida por Herbst et al. (2006) como “a falta de provisão de bem estar e de oportunidades para a população”. 
ii
 De acordo com a idéia apresentada em Herbst (2000). 
iii
 Não à toa. Segundo o ranking de Estados falidos do ano de 2010 da revista Foreign Policy, os GEAs estão, em sua 
maioria, estão em estado de alerta. Desses seis, apenas a África do Sul não está entre os 20 Estados mais falidos do 
mundo. 
http://www.foreignpolicy.com/articles/2010/06/21/2010_failed_states_index_interactive_map_and_rankings 
(último acesso em 20 de julho de 2011). 
iv
 Baseado em Buzan, B. Peoples, States and Fear: the national security problem in International relations. 1989 
v
 Somalilândia e Saara Ocidental são dois que merecem destaque. Enquanto a Somalilândia não tem nenhum 
reconhecimento internacional de sua independência e soberania, o Saara Ocidental é reconhecido pelos demais 
Estados africanos, com exceção de Marrocos. 
vi
 “A reorganização territorial concluída pelo imperador Menelik, já rei dos Scioa, que transferiu mais para o sul a 
capital, fundando Adis Abeba, e que absorveu terras habitadas por populações não-abissínias como a Harar e a 
Ogaden, fez dizer que a Etiópia participou do scramble, compartilhando suas intenções. Porém, na perspectiva da 
Etiópia a expansão foi um modo para se opor ao colonialismo europeu”. (tradução própria) 
18 
 
 
vii
 Destaca-se os Estados de facto africanos dado o objetivo deste trabalho. O autor acredita, no entanto, que a 
mesma discussão pode ser feita para Estados de facto em outras regiões do mundo. 
viii
 Para Wendt (1999, 208), isso é possível uma vez que “the concept of external sovereignty is relatively straight 
foward, denoting merely the absence of any external authority higher than the state, like other states, international 
law, or a supranational Church – in short, “constitutional independence””. 
ix
 Mesmo sendo tal definição posterior aos trabalhos citados, as idéias que eles carregam não parecem ir-lhe de 
encontro ao passo que não se encontrou questionamentos sobre ela nos anos que lhe sucederam. 
x
 Podemos destacar como exemplos nos GEA, a Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (Angola) e a Frente de 
Libertação Nacional de Ogaden (Etiópia). Além dos GEA, a Somalilândia talvez seja o melhor exemplo de Estado 
com soberania externa sem reconhecimento internacional.

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