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APOSTILA CIENCIAS POLÍTICAS (Recuperação Automática)

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CIÊNCIAS POLITICAS E TEORIA DO ESTADO – TEMA 1
DESCRIÇÃO
O Estado Nacional como objeto das preocupações do pensamento político moderno ocidental e sua constituição histórica.
PROPÓSITO
O Estado, como aparelho burocrático-militar-institucional, é uma das invenções mais importantes da modernidade ocidental, tendo sido difundido pelo mundo a partir das experiências de colonização que os países europeus impuseram a outros territórios. Por isso, é fundamental compreender, em suas dimensões teórica e prática, o Estado Nacional Moderno.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar como o “Estado” tornou-se a questão fundamental para os tratados filosóficos que fundaram o pensamento político moderno
MÓDULO 2
Descrever a formação dos Estados Nacionais e do nacionalismo como ideologia política, fenômenos típicos da experiência histórica que chamamos de “modernidade”
MÓDULO 3
Exemplificar as diversas revoluções sociais que, na modernidade, confrontaram a estrutura do Estado-nação
INTRODUÇÃO
Entre os séculos XVI e XIX formou-se na Europa aquela que se tornou uma das principais organizações institucionais da modernidade, estruturando nossas vidas até os dias atuais: o Estado Nacional, entendido como aparelho burocrático-militar-institucional mais ou menos centralizado e capaz de exercer soberania sobre determinado território.
Nosso conteúdo está dividido em três partes: primeiro, examinaremos as discussões conceituais que definiram filosoficamente o Estado nos textos mais emblemáticos do pensamento político moderno. Em seguida, analisaremos a história da construção do Estado Moderno, tomando como estudos de caso algumas regiões da Europa. Por último, estudaremos as revoluções sociais que, desde o final do século XVII, estão confrontando o Estado.
MÓDULO 1
Identificar como o “Estado” tornou-se a questão fundamental para os tratados filosóficos que fundaram o pensamento político moderno
O CONCEITO DE ESTADO
Assista ao vídeo.
The Course of Empire - Destruction, de Thomas Cole.
O conceito “Estado” costuma ser utilizado para definir o organismo institucional que nasceu na Europa, na transição do século XIV para o século XV, sendo caracterizado pela centralização administrativa, burocrática e militar e pela capacidade de exercer soberania sobre um território delimitado por fronteiras. Na próxima seção, estudaremos com mais detalhes a história da formação do Estado na Europa. Por ora, é importante entender como essa organização política chamou a atenção dos autores que, na época, tentavam interpretar as sociedades europeias. Certamente, o intelectual florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527) é um dos nomes mais destacados entre os primeiros esforços de criação de uma teoria do Estado Moderno, sendo conhecido como o fundador da Ciência Política. Maquiavel costuma ser conhecido pelo livro O Príncipe, publicado postumamente em 1532, com a máxima os “fins justificam os meios”, que, no senso comum, se tornou sinônimo de tolerância com a perversidade política.
Fonte: Santi di Tito/Wikimedia commons/licença (CC BY 3.0...)Nicolau Maquiavel
Porém, se estudarmos com mais cuidado os escritos de Maquiavel, perceberemos que seu interesse era desenvolver uma teoria de governo capaz de garantir a “virtude da República”. A ideia de “República” que, segundo o historiador inglês Quentin Skinner, Maquiavel herdou da tradição republicana, é fundamental para o pensamento político do intelectual florentino e para o próprio pensamento político moderno. Essa ideia de virtude foi desenvolvida, em um primeiro momento, na Grécia Clássica, especialmente por Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), sendo trabalhada também em Roma por autores como Cícero (106 a.C.- 43 a.C.) e Tito Lívio (59 a.C. – 17 d.C.), chegando até Maquiavel por uma série de debates políticos que estavam sendo travados na Península Itálica desde o final do século XII.
Foi nesse momento, ainda segundo Quentin Skinner, que as estruturas políticas dos principados medievais, comandados por monarcas com direito hereditário, começaram a ser repudiadas no território que, no século XIX, passaria a ser chamado de “Itália”. As sociedades italianas, ou regnum italicum, como eram chamadas na época, estavam preocupadas em desenvolver formas de convivência coletiva capazes de resistir ao despotismo monárquico e garantir a estabilidade interna e externa, proporcionando aos seus cidadãos aquilo que Aristóteles chamava de “boa vida”.
Fonte: MapMaster/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)Regnum Italiae (Localização de Reino Itálico)
Para isso, era necessário encontrar meios que impedissem, ou amenizassem, a “corrupção” da República — outro conceito trazido do vocabulário político aristotélico. Corrupção, disse Aristóteles no tratado da Política, é o efeito natural do tempo nos governos, podendo, no máximo, ser atenuado por governantes virtuosos. Foi essa atmosfera conceitual dentro da qual Maquiavel pensou, escreveu e atuou politicamente, como analista, poeta, historiador e conselheiro do poder.
Tito Lívio, autor e historiador romano que registrou a história de Roma e seu significado político, elaborou o texto Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio entre 1513 e 1521. Na obra, Maquiavel tem interesse de entender as leis, a liberdade e as instituições políticas no funcionamento de uma República. Em sua discussão sobre política e governos, Maquiavel parte da premissa de que os assuntos terrenos estão na alçada das competências humanas, não restando espaço para a interferência divina.
REPÚBLICA
República é uma ideia romana em que público e privado se separavam e a função do governo era estabelecer a administração do que era público, além de zelar para que os limites do privado não fossem ultrapassados.
REFLEXÃO
A boa vida comum, portanto, é da responsabilidade dos seres humanos, a eles cabendo desenvolver mecanismos que tornem possível o convívio coletivo harmônico. A Ciência Política elaborada por Maquiavel afirma a laicização da vida social.
LAICIZAÇÃO
É o processo pelo qual a sociedade se torna laica, sem os incentivos religiosos ou o pragmatismo natural das religiões.
O NASCIMENTO DE UMA CIDADE SE DÁ PELA AÇÃO DOS HOMENS. NÃO É, CONTUDO, PRODUTO DE INDIVÍDUOS, MAS SIM DE POVOS OU GRUPOS QUE VIVEM DISPERSOS E, DE ALGUMA FORMA, DECIDEM UNIR-SE EM UMA MESMA ÁREA, SEJA EM RAZÃO DE SUA SEGURANÇA OU DE QUALQUER OUTRO MOTIVO [...] NO MOMENTO DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO, OS INDIVÍDUOS JÁ ESTÃO REUNIDOS EM GRUPOS. E É COMO TAL QUE SE ORGANIZAM PARA FORMAR O ESTADO. A PROSPERIDADE E A SEGURANÇA DA CIDADE NÃO SÃO MATÉRIA INDIVIDUAL, DE FORO ÍNTIMO, MAS SIM ASSUNTO DOS GRUPOS.
(MAQUIAVEL, 1982)
Temos, na citação, muitos elementos que nos permitem compreender o núcleo do pensamento político de Maquiavel para além dos clichês compartilhados no senso comum. Na época de Maquiavel, Florença era objeto de constantes assédios de repúblicas vizinhas e impérios estrangeiros, o que colocou o tema da estabilidade do governo no primeiro plano das preocupações do autor. A cidade, que no texto de Maquiavel pode ser tomada como sinônimo de “Estado”, é resultado de uma escolha racional, feita por grupos humanos, que antes viviam de forma desagregada e esparsa. Não há em Maquiavel um “Estado natural”, pré-social, como vamos encontrar em outros teóricos do Estado Moderno. A agregação social é um “desde sempre” no pensamento do escritor florentino.
O Estado surge quando esses grupos, movidos por necessidade prática, decidem que é melhor se unir e pactuar a organização de um poder relativamente centralizado que seja capaz de defender os interesses de todos. A partir desse momento fundacional, o desafio da comunidade política passa a ser a defesa da “virtude” da República, entendida como a capacidade de prover o bem comum contra os assédios internos das facções e os ataques dos inimigos estrangeiros.
É essa a discussão que Maquiavel desenvolve em O Príncipe, sem dúvida um dos livros mais famosos da literatura política ocidental. O interesse do autor é aconselhar o príncipe no melhor caminho para a conservação da República.
O PRÍNCIPEUm breve manual direcionado a governantes do momento em que Maquiavel viveu, na busca de melhoria de sua condição social. Era influenciado pela tradição greco-latina, bem como pelo seu contexto de observação do entorno, como no Império Turco-Otomano.
DEVE, POIS, ALGUÉM QUE SE TORNE PRÍNCIPE MEDIANTE O FAVOR DO POVO CONSERVÁ-LO AMIGO, O QUE SE LHE TORNA FÁCIL, UMA VEZ QUE NÃO PEDE ELE SENÃO NÃO SER OPRIMIDO. PORÉM, QUEM SE TORNA PRÍNCIPE PELO FAVOR DOS GRANDES, CONTRA O POVO, DEVE ANTES DE MAIS NADA GANHAR ESTE PARA SI, O QUE SE LHE TORNA FÁCIL QUANDO ASSUME SUA PROTEÇÃO. E PORQUE OS HOMENS, QUANDO RECEBEM O BEM DE QUEM ESPERAVAM SOMENTE O MAL, OBRIGAM-SE MAIS AO SEU BENFEITOR, TORNA-SE O POVO DESDE LOGO MAIS SEU AMIGO DO QUE SE TIVESSE SIDO POR ELE LEVADO AO PRINCIPADO.
(MAQUIAVEL, 2002)
O governante, diz Maquiavel, deve ser julgado por critérios específicos, diferentes daqueles usados para avaliar o caráter dos homens comuns. Temos aqui a diferença entre os governantes e os homens comuns, entre a vida política e a vida privada, estabelecida por Maquiavel como “razão de Estado”. A política teria moral própria e seu objetivo sempre é manter a “saúde cívica da República”, ainda que para isso o governante precise fazer aquilo que seria considerado inadequado para o homem comum, como matar. É fundamental que o governante, continua Aristóteles, tenha sorte (fortu) e a capacidade de ser amado pela comunidade (virtu). Um governante azarado e odiado pela maioria jamais conseguiria manter a República saudável e capaz de exercer “soberania sobre territórios e corações”.
Fonte: Artist is Elihu Vedder/Santi di Tito/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)Governo, 1896, de Elihu Vedder. Pintura exposta na Biblioteca do Congresso, em Washington. Na placa, pode-se ler: "um governo das pessoas, pelas pessoas, para as pessoas".
Se é fundamental ser “amigo do povo”, o governante precisa dosar os bons e os maus atos. Os bons atos são executados em ritmo lento para “perpetuar a memória da bondade”, enquanto os “maus atos” devem ser “executados de uma só vez para que sua memória seja curta”.
Então, ao governante é permitido ser mau?
Para Maquiavel, sim, desde que isso seja necessário para garantir a integridade da República. Não se trata da defesa da maldade em si, mas sim do reconhecimento de que o governo da cidade demanda escolhas difíceis. Por isso, o governante deve ser “sábio, ilustrado e corajoso”.
ESTADO E CONTRATO SOCIAL
Teoria do Estado bastante distinta da de Maquiavel foi aquela desenvolvida pelos autores que costumamos agrupar na corrente dos “contratualistas”, que se desenvolveu na Europa entre os séculos XVII e XVIII, encontrando em Thomas Hobbes (1588-1679) e Jean Jacques Rousseau (1712-1778) seus principais expoentes. Isso não significa que tenham abordado o tema do Estado da mesma maneira, pois há diferenças substantivas entre os pensamentos políticos desenvolvidos pelos dois autores. Em comum entre eles estão a sintaxe política e os conceitos acionados na reflexão.
Então, o que é Estado na visão do contratualismo?
O contratualismo parte da premissa de que o Estado é o resultado de um contrato social, de um acordo coletivo movido pela racionalidade humana no qual a maioria, deliberada ou tacitamente, decide que viver em comunidade é melhor do que viver isoladamente. Disso depreende-se que, diferentemente de Maquiavel e da tradição aristotélica, os contratualistas reconhecem a possibilidade de existência de um momento pré-político, de um “estado natural”, quando os seres humanos não viviam de forma gregária.
Thomas Hobbes é autor do Leviatã, publicado em 1651 e um dos mais famosos tratados de filosofia política da modernidade, popularmente reconhecido pela máxima “o homem é o lobo do homem”. Porém, da mesma forma como fizemos há pouco com Maquiavel, é necessário entender o pensamento político de Hobbes para além dos clichês e como um esforço de teorizar sobre a própria ontologia humana.
Fonte: Gustave Doré/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)Destruição do Leviatã, 1865, Gustave Doré
GREGÁRIA
Que vivem em bandos ou em grupos. Em sentido mais amplo, aqueles que são sociáveis, que vivem bem socialmente.
LEVIATÃ
O livro traz a ideia de um grande ser, monstruoso, mas que precisava ser entendido para que o senso e o coletivo não permitissem ser o monstro que era.
Fonte: Desconhecido/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)Capa original de Leviatã, de Thomas Hobbes, no qual ele discute o conceito de contrato social.
Toda a discussão que o autor propõe a respeito do Estado parte de uma premissa ontológica, segundo a qual nós, seres humanos, somos naturalmente ruins e racionais. Ou seja, nascemos perversos, egoístas e apetitosos, mas nascemos também capazes de entender que nossa natureza é potencialmente destrutiva, e que é necessário domá-la para que a própria vida seja possível.
O estado natural, então, é violento, selvagem, uma situação de “guerra de todos contra todos”, como o próprio Thomas Hobbes afirmava.
ONTOLÓGICA
Reflexão a respeito do sentido abrangente do ser.
SE DOIS HOMENS DESEJAM A MESMA COISA, ELES PODEM TORNAR-SE INIMIGOS, SE FOR IMPOSSÍVEL QUE AMBOS ALCANCEM O QUE DESEJAM AO MESMO TEMPO. E NO CAMINHO PARA SEU FIM (QUE É PRINCIPALMENTE SUA PRÓPRIA CONSERVAÇÃO, E ÀS VEZES APENAS SEU DELEITE), ESFORÇAM-SE POR SE DESTRUIR OU SUBJUGAR UM AO OUTRO. DISSO SEGUE-SE QUE, QUANDO UM INVASOR NADA MAIS TEM A RECEAR DO QUE O PODER DE UM ÚNICO OUTRO HOMEM, SE ALGUÉM PLANTA, SEMEIA, CONSTRÓI OU POSSUI UM LUGAR CONVENIENTE, É PROVAVELMENTE PARA ESPERAR QUE OUTROS VENHAM PREPARADOS COM FORÇAS CONJUGADAS, PARA DESAPOSSÁ-LOS E PRIVÁ-LOS, NÃO APENAS DO FRUTO DE SEU TRABALHO, MAS TAMBÉM DE SUA VIDA E DE SUA LIBERDADE. POR SUA VEZ, O INVASOR FICARÁ NO MESMO PERIGO EM RELAÇÃO AOS OUTROS.
(HOBBES, 1983)
Jean-Jacques Rousseau, autor de Contrato Social, publicado em 1762, parte de premissa ontológica diametralmente oposta. Tal como Hobbes, Rousseau também afirma a existência de um mundo pré-social, onde os homens viviam isolados. Porém, a natureza humana, para Rousseau, é boa e generosa.
O estado de natureza é pacífico, harmonioso, é o “império da felicidade”.
NO PRINCÍPIO, QUANDO VIVIAM ENTREGUES AO LIVRE-ARBÍTRIO DOS SEUS INSTINTOS, OS HOMENS NÃO PRATICAVAM VILANIA, TIRANIA OU ASSASSÍNIO. ERAM DOCES COMO ANIMAIS DOMÉSTICOS, INOFENSIVOS COMO CRIANÇAS, E A TERRA ABUNDAVA, DANDO O NECESSÁRIO PARA TODOS VIVEREM COM FARTURA.
(ROUSSEAU, 1999)
Em Hobbes, o estado natural é o inferno na Terra. Em Rousseau, é o Éden.
Em comum entre eles está a ideia de que a saída da situação pré-social se deu por um acordo, por um contrato estabelecido pela maioria e movido pelos imperativos da razão. Diz Hobbes que os primeiros humanos perceberam que o estado de natureza, se perpetuado, significaria a extinção da espécie. Pactuaram, então, que melhor seria abrir mão das liberdades primitivas para submeterem-se a um poder externo, acima de todos, e que fosse capaz de garantir a vida e a propriedade, tornando a própria existência coletiva possível.
O FIM ÚLTIMO, CAUSA FINAL E DESÍGNIO DOS HOMENS (QUE AMAM NATURALMENTE A LIBERDADE E O DOMÍNIO SOBRE OS OUTROS), AO INTRODUZIR AQUELA RESTRIÇÃO SOBRE SI MESMOS SOB A QUAL OS VEMOS VIVER NOS ESTADOS, É O CUIDADO COM SUA PRÓPRIA CONSERVAÇÃO E COM UMA VIDA MAIS SATISFEITA. QUER DIZER, O DESEJO DE SAIR DAQUELA MÍSERA CONDIÇÃO DE GUERRA QUE É A CONSEQUÊNCIA NECESSÁRIA (CONFORME SE MOSTROU) DAS PAIXÕES NATURAIS DOS HOMENS, QUANDO NÃO HÁ UM PODER VISÍVEL CAPAZ DE OS MANTER EM RESPEITO, FORÇANDO-OS, POR MEDO DO CASTIGO, AO CUMPRIMENTO DE SEUS PACTOS E ÀQUELAS LEIS DE NATUREZA QUE FORAM EXPOSTAS.
(HOBBES, 1983)
RESUMINDO
Na teoria hobbesiana, então, o Estado nasce de uma situação original de caos e violência e como produto da racionalidade humana. Em Rousseau, a decadência não é original, intrínseca à natureza humana, mas sim resultado de uma escolha infeliz: a invenção da propriedade privada, que se deu no momento em que o primeiro ser humano “demarcou no chão um pedaço de terra para dizer que era seu,encontrando outros inocentes o suficiente para acreditar nele”. Começava aqui a guerra geral rousseauniana, porque, não havendo nenhum poder externo capaz de regular os limites de cada propriedade, estabeleceu-se o “reino da força”, que, no limite, não era proveitoso para ninguém, “pois nada garante que o mais forte hoje se manterá forte amanhã, e a obrigação de se manter forte para sempre é fardo tão pesado que ninguém pode carregar sobre os ombros” (ROUSSEAU, 1999).
Surge, então, o Estado, como um pacto no qual os homens abdicam de sua liberdade original para dar aval à existência de um poder comum, responsável pela salvaguarda do interesse coletivo. Rousseau, no entanto, resguarda a possibilidade de ruptura com esse poder, desde que ele não cumpra seu papel no contrato. Então, o contrato social para Rousseau poderia ser rompido unilateralmente pela sociedade civil, em uma ação revolucionária.
A FIM DE QUE NÃO CONSTITUA, POIS, UM FORMULÁRIO INÚTIL, O PACTO SOCIAL CONTÉM TACITAMENTE ESTA OBRIGAÇÃO, A ÚNICA A PODER DAR FORÇAS ÀS OUTRAS: QUEM SE RECUSAR A OBEDECER À VONTADE GERAL, A ISTO SERÁ CONSTRANGIDO PELO CORPO EM CONJUNTO, O QUE APENAS SIGNIFICA QUE SERÁ FORÇADO A SER LIVRE. ASSIM É ESTA CONDIÇÃO: OFERECENDO OS CIDADÃOS À PÁTRIA, PROTEGE-OS DE TODA DEPENDÊNCIA PESSOAL; CONDIÇÃO QUE PROMOVE O ARTIFÍCIO E O JOGO DA MÁQUINA POLÍTICA E QUE É A ÚNICA A TORNAR LEGÍTIMAS AS OBRIGAÇÕES CIVIS, AS QUAIS, SEM ISSO, SERIAM ABSURDAS, TIRÂNICAS E SUJEITAS AOS MAIORES ABUSOS.
(ROUSSEAU, 1999)
Fonte: Maurice Quentin de La Tour/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Jean-Jacques Rousseau
Fonte: anónimo/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Thomas Hobbes
ESTADO E LIBERDADE
Outra tradição que, na modernidade, trouxe o Estado para o centro de suas preocupações filosóficas foi o liberalismo político, um “fenômeno histórico pertencente à história europeia e marcado pelos embates com o absolutismo monárquico e outras formas de tirania política que existiram na Europa no início da modernidade” (MATEUCI, 2000).
Fonte: artistique7/Shutterstok.com
Entre os fundadores do liberalismo político estão nomes como:
Fonte: Godfrey Kneller/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
John Locke (1632-1704)
Fonte: Laderer (graveur)/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Benjamin Constant (1767-1830)
Locke e Constant notabilizaram-se por delinear dimensões mais claras ao ideário político liberal, escrevendo importantes tratados sobre a limitação institucional do poder do Estado. Destacam-se aqui o Primeiro tratado sobre o governo civil e o Segundo tratado sobre o governo civil, escritos por Locke e publicados em 1689, além de Sobre a liberdade dos antigos comparada com a dos modernos, escrito por Constant e publicado em 1819.
LIBERAL
Princípio filosófico que discute o sentido do ser, a capacidade de escolha e liberdade, do seu corpo, das suas ações, entre outros.
Ambos os autores partem da premissa de que a boa vida em comunidade somente é possível a partir de uma premissa: a existência de um Estado comprometido com o bem-estar coletivo e com a defesa da vida e da propriedade dos indivíduos (entendidas como direitos naturais), sem que com isso se exerça tirania ou poder absoluto sobre a sociedade.
A noção de “governo consentido” é fundamental para Locke, que acredita que os seres humanos, dotados de racionalidade intrínseca, são perfeitamente capazes de idealizar formas de governo que atendam às suas necessidades, ou seja, a defesa da vida e da propriedade. Segundo Locke, portanto, a existência dos governos, e no limite do próprio Estado, justifica-se pelas necessidades da sociedade civil e não pelos interesses do próprio governo, ou do próprio Estado.
SE O HOMEM NO ESTADO DE NATUREZA É LIVRE COMO SE DISSE, SE É SENHOR ABSOLUTO DA SUA PRÓPRIA PESSOA E SUAS PRÓPRIAS POSSES, IGUAL AO MAIS EMINENTE DOS HOMENS E A NINGUÉM SUBMETIDO, POR QUE HAVERIA ELE DE SE DESFAZER DESSA LIBERDADE? POR QUE HAVERIA DE RENUNCIAR A ESSE IMPÉRIO E SUBMETER-SE AO DOMÍNIO E AO CONTROLE DE QUALQUER OUTRO PODER? A RESPOSTA EVIDENTE É A DE QUE, EMBORA TIVESSE TAL DIREITO NO ESTADO DE NATUREZA, O EXERCÍCIO DO MESMO É MUITO INCERTO E ESTÁ CONSTANTEMENTE EXPOSTO À VIOLAÇÃO POR PARTE DOS OUTROS [...]. TAIS CIRCUNSTÂNCIAS O FAZEM QUERER ABDICAR DESSA CONDIÇÃO, A QUAL, CONQUANTO LIVRE, É REPLETA DE TEMORES E PERIGOS CONSTANTES. E NÃO É SEM RAZÃO QUE ELE PROCURA E ALMEJA UNIR-SE EM SOCIEDADE COM OUTROS QUE JÁ SE ENCONTRAM REUNIDOS OU PROJETAM UNIR-SE, PARA A MÚTUA CONSERVAÇÃO DE SUAS VIDAS, LIBERDADES E BENS, AOS QUAIS ATRIBUO O TERMO GENÉRICO DE PROPRIEDADE. O FIM MAIOR E PRINCIPAL PARA OS HOMENS UNIREM-SE EM SOCIEDADES POLÍTICAS E SUBMETEREM-SE A UM GOVERNO É, PORTANTO, A CONSERVAÇÃO DE SUA PROPRIEDADE.
(LOCKE, 1990)
Benjamin Constant, por sua vez, está interessado em entender as especificidades da liberdade moderna quando comparada com a antiga, com o objetivo de teorizar formas de governo adequadas às modernas sociedades de massa, em muitos aspectos diferentes das sociedades antigas. O autor argumenta que, na Antiguidade, a liberdade republicana era viável, pois garantia aos cidadãos participarem diretamente do governo.
Esse tipo de liberdade somente seria possível em pequenos territórios, ocupados por populações pouco numerosas. Como na modernidade a situação é bastante diferente, uma vez que as nações modernas costumam ser mais extensas e populosas do que as repúblicas antigas, fez-se necessária a reconceituação das ideias de liberdade e de participação política.
A LIBERDADE MODERNA CONSISTE NO DIREITO, PARA CADA UM, DE INFLUIR SOBRE A ADMINISTRAÇÃO DO GOVERNO, SEJA PELA NOMEAÇÃO DE TODOS OU DE CERTOS FUNCIONÁRIOS, SEJA POR REPRESENTAÇÕES, PETIÇÕES, REIVINDICAÇÕES, ÀS QUAIS A AUTORIDADE É MAIS OU MENOS OBRIGADA A LEVAR EM CONSIDERAÇÃO. COMPARAI AGORA A ESTA A LIBERDADE DOS ANTIGOS. ESTA ÚLTIMA CONSISTIA EM EXERCER COLETIVA, MAS DIRETAMENTE, VÁRIAS PARTES DA SOBERANIA INTEIRA, EM DELIBERAR NA PRAÇA PÚBLICA SOBRE A GUERRA E A PAZ, EM CONCLUIR COM OS ESTRANGEIROS TRATADOS DE ALIANÇA, EM VOTAR AS LEIS, EM PRONUNCIAR JULGAMENTOS, EM EXAMINAR AS CONTAS, OS ATOS, A GESTÃO DOS MAGISTRADOS; EM FAZÊ-LOS COMPARECER DIANTE DE TODO UM POVO, EM ACUSÁ-LOS DE DELITOS, EM CONDENÁ-LOS OU EM ABSOLVÊ-LOS.
(CONSTANT, 2019)
Aqui o autor está formulando aquela que é uma das principais características do liberalismo político: a defesa de uma democracia fundada em instituições legislativas responsáveis por representar os interesses da população, que participaria do governo de forma indireta. Assim, seria possível garantir direitos políticos às populações numerosas, que periodicamente seriam convocadas ao debate público, no período eleitoral, para escolher livremente seus representantes.
Outra filosofia política moderna que se preocupou em teorizar limites institucionais ao poder do Estado foi o Constitucionalismo, principalmente com Montesquieu (1689-1756), autor do tratado O espírito das leis, publicado em 1748 e considerado a matriz teórica inspiradora das Constituições modernas. No texto, Montesquieu idealizou o sistema de “freios e contrapesos”, segundo o qual o poder do Estado é dividido em três partes independentes entre si:
PODER LEGISLATIVO
PODER EXECUTIVO
PODER JUDICIÁRIO
COMO A VIRTUDE É NECESSÁRIA EM UMA REPÚBLICA E NA MONARQUIA A HONRA, O MEDO É NECESSÁRIO EM UM GOVERNO DESPÓTICO, POIS NELE A VIRTUDE NÃO É NECESSÁRIA E A HONRA SERIA PERIGOSA. O IMENSO PODER DO PRÍNCIPE PASSA INTEIRAMENTE ÀQUELES QUE ELE CONFIA E SE TORNA PERIGOSO INSTRUMENTO DE OPRESSÃO CONTRA A LIBERDADE DE TODOS. MANTER O PODER DO PRÍNCIPE RESTRITO A LEIS PACTUADAS COLETIVAMENTE É A ÚNICA FORMA DE GARANTIR AS LIBERDADES INDIVIDUAIS E COLETIVAS.
(MONTESQUIEU, 1990)
Percebe-se claramente como a preocupação com a liberdade contra a tirania do Estado pauta o pensamento político moderno desde o século XVI, junto com outras questões, como a segurança territorial contra as invasões estrangeiras e a prosperidade econômica da República.
ESTADO E A PRODUÇÃO DE RIQUEZA
A teoria política marxista, desenvolvidapor Marx e Engels no século XIX, trouxe para a discussão a agenda da libertação das classes oprimidas. No Manifesto comunista, publicado em 1848, os autores argumentam que:
O ESTADO É UM ÓRGÃO ESPECIAL QUE SURGE EM CERTO MOMENTO DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA HUMANIDADE, E QUE ESTÁ CONDENADO A DESAPARECER NO DECURSO DA MESMA EVOLUÇÃO. NASCEU DA DIVISÃO DA SOCIEDADE EM CLASSES E DESAPARECERÁ NO MOMENTO EM QUE DESAPARECER ESTA DIVISÃO. NASCEU COMO INSTRUMENTO NAS MÃOS DA CLASSE DOMINANTE, COM O FIM DE MANTER O DOMÍNIO DESTA CLASSE SOBRE A SOCIEDADE, E DESAPARECERÁ QUANDO O DOMÍNIO DESTA CLASSE DESAPARECER.
(ENGELS; MARX, 2003)
RESUMINDO
No vocabulário marxista, portanto, o Estado não é o resultado de uma racionalidade humana intrínseca nem tampouco uma evolução em relação à situação das liberdades primitivas. O Estado é resultado de uma realidade material e objetiva, na qual as classes superiores desenvolvem aparelhos institucionais para dominar as classes inferiores.
Essa relação de dominação somente seria superada pela abolição da divisão de classes e do próprio Estado, dando lugar a uma sociedade comunista em que as pessoas viveriam solidariamente, consumindo o que produzem, sem se apropriarem da riqueza produzida por outros.
No próximo módulo, nos debruçaremos sobre a realidade histórica que, na Europa, deu origem ao Estado Nacional, buscando entender como foi forjada a estrutura de poder que por tanto tempo tem sido o principal objeto do pensamento político ocidental.
VEM QUE EU TE EXPLICO!
O Estado e o Príncipe: a visão de Maquiavel
O Liberalismo e o Estado: entre Jhon Locke e Adam Smith
MAQUIAVEL
LIBERALISMO
Resumo da história de Maquiavel;
Defensor da separação de Estado x Igreja apresentado a ideia de que os homens é quem deveriam resolver assuntos terrenos.
A creditava que o surgimento do estado se dá quando grupos se unem e organizam um poder centralizado para defender os interesses de todos.
Para ter a estabilidade do governo, Maquiavel defendia a Razão do Estado, o governante precisa fazer aquilo que o homem comum é inadequado.
Virtude - tomar as melhores decisões para o fortalecimento de seu poder.
Fortuna - está ligado a sorte. Nada poderia acontecer para limitar o poder do rei.
O motivo do homem abdicar de sua liberdade e se submeter a um governo é a conservação da propriedade.
Locke defende a limitação institucional do poder do Estado se justifica pelas necessidades da sociedade civil e não pelos interesses do próprio governo, ou seja, a soberania não está no Estado, mas sim na população.
O bom governo devia estar comprometido com o bem-estar coletivo, defesa da vida e da propriedade privada.
Princípio da divisão dos três poderes.
A não intervenção estatal na economia.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
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1. O INTELECTUAL FLORENTINO NICOLAU MAQUIAVEL COSTUMA SER RECONHECIDO PELA MÁXIMA “OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS”, QUE SE TORNOU SINÔNIMO DE LEGITIMAÇÃO DA PERVERSIDADE POLÍTICA. NO ENTANTO, A OBRA DE MAQUIAVEL É MUITO MAIS COMPLEXA. ASSINALE, ENTRE AS ALTERNATIVAS A SEGUIR, AQUELA QUE MELHOR DEFINE A OBRA DE MAQUIAVEL.
Maquiavel estava interessado em discutir como seria possível defender a monarquia e a tirania do príncipe, sendo assim o principal teórico do autoritarismo político na modernidade.
Maquiavel estava interessado em discutir a abolição da propriedade privada e a revolução social, sendo, por isso, o precursor do comunismo na modernidade e a fonte onde beberia Karl Marx.
Maquiavel estava interessado em discutir formas de garantir a estabilidade interna e externa da República, e, dessa maneira, atenuar os efeitos da corrupção, sendo o republicanismo de Aristóteles sua principal referência.
Maquiavel estava interessado em afirmar a liberdade do mercado, sendo, portanto, o precursor do liberalismo econômico, e a fonte onde a escola austríaca beberia.
Maquiavel estava interessado em defender a total abolição do Estado, sendo um dos primeiros pensadores a formular o ideal anarquista.
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2. THOMAS HOBBES E JEAN JACQUES ROUSSEAU SÃO OS PRINCIPAIS EXPOENTES DA CORRENTE DE PENSAMENTO POLÍTICO QUE COSTUMAMOS CHAMAR DE “CONTRATUALISTA”. ASSINALE, ENTRE AS ALTERNATIVAS A SEGUIR, AQUELA QUE MELHOR DEFINE A PREMISSA DO CONTRATUALISMO.
A premissa do contratualismo afirma a organização política como o resultado de um acordo coletivo segundo o qual, racionalmente, os homens decidem que viver em coletividade é melhor do que viver em situação de desagregação.
A premissa do contratualismo afirma que o homem é naturalmente gregário e, por isso, a questão principal é desenvolver mecanismos de aprimoramento da sociedade política, visto que a sua existência se confunde com a própria natureza humana.
A premissa do contratualismo afirma que o Estado Moderno é o resultado da vitória política da burguesia, que acumulou poder suficiente para organizar uma estrutura de dominação, cujo objetivo é a exploração do trabalho.
A premissa do contratualismo afirma que os homens estão naturalmente vocacionados à liberdade, sendo o Estado o artifício criado pela tirania divina com o objetivo de impedir a plena realização da natureza humana.
A premissa do contratualismo afirma que os seres humanos são naturalmente gregários, logo o Estado é um “desde sempre” que não precisa ser necessariamente explicado, mas apenas aprimorado.
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GABARITO
1. O intelectual florentino Nicolau Maquiavel costuma ser reconhecido pela máxima “os fins justificam os meios”, que se tornou sinônimo de legitimação da perversidade política. No entanto, a obra de Maquiavel é muito mais complexa. Assinale, entre as alternativas a seguir, aquela que melhor define a obra de Maquiavel.
A alternativa "C " está correta.
Maquiavel é herdeiro do republicanismo aristotélico, sendo seu interesse, portanto, discutir a ação do governo no sentido de preservar a “virtude” da República.
2. Thomas Hobbes e Jean Jacques Rousseau são os principais expoentes da corrente de pensamento político que costumamos chamar de “contratualista”. Assinale, entre as alternativas a seguir, aquela que melhor define a premissa do contratualismo.
A alternativa "A " está correta.
Diferentemente do republicanismo maquiavélico de matriz aristotélica, o contratualismo parte do princípio de que a organização política é o resultado de uma escolha racional, e não a manifestação da natureza humana.
MÓDULO 2
Descrever a formação dos Estados Nacionais e do nacionalismo como ideologia política, fenômenos típicos da experiência histórica que chamamos de “modernidade”
ESTADO NACIONAL
Assista ao vídeo.
O Estado Nacional, entendido como estrutura de poder centralizada e capaz de exercer soberania burocrática, política e militar sobre um território delimitado por fronteiras, é resultado da história europeia ocidental entre os séculos XIV e XVII.
Nesse período, entende-se por “Europa Ocidental”, segundo o historiador inglês Perry Anderson (2004), a aproximação de França e Inglaterra com a Península Ibérica, formada por Portugal e Espanha. Crises democráticas agudas, guerras civis religiosas, início da laicização das mentalidades e dos costumes, modernização das relações econômicas, urbanização. São essas as experiências que aconteceram em uma Europa Ocidental plural e extremamente diversificada, e que serviram de pano de fundo para o surgimento dos Estados Nacionais.
Começar a contar a história da origem dos Estados Nacionais nos convida, segundo Guy Fourquin, a entender a dinâmica da prosperidade material vivida pela Europa no século XI. O crescimento produtivo aumentou a quantidade de alimentos disponíveis para o comércio, fazendo com que seus preços dos víveres alimentícios diminuíssem e a qualidade de vida aumentasse, resultando no crescimento demográfico e, consequentemente, no crescimento das cidades e na intensificação da atividade comercial.
GUY FOURQUIN
Professor na Universidade de Lille, Guy Fourquin foi um dos mais reconhecidos especialistas franceses em matéria de História Medieval,seja no domínio da história econômica, seja no da organização social e institucional.
E essa evolução também pode ser percebida nos âmbitos artístico e intelectual.
Na vida cultural, observou-se notória expansão das atividades artísticas e intelectuais, com a difusão de universidades pelo continente. Tratava-se, portanto, de um ciclo virtuoso experimentado em graus distintos em diversas regiões da Europa e que aponta para um cenário de desenvolvimento econômico, prosperidade material e grandeza cultural, bem diferente da imagem de uma Idade Média atrasada e decadente, que muitas vezes modula o imaginário histórico coletivo.
Fonte: Etienne Collault/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)Manuscrito medieval mostrando uma reunião de doutores na Universidade de Paris
Um dos resultados desse cenário, ainda seguindo os estudos de Fourquin, foi o aumento do custo de vida da aristocracia feudal, pois, com a Revolução Comercial, para utilizarmos as palavras de Henri Pirenne (apud FOURQUIN, 1987), ficou mais caro manter os signos de distinção tão importantes para alimentar o ethos aristocrático em sociedades pré-modernas.
HENRI PIRENNE
Historiador, Henri Pirenne (1862-1935) fez grandes contribuições para o entendimento sobre a formação do mundo ocidental, compreendendo a dinâmica de ocupação maior do Norte após a expansão islâmica. A formação e o espírito das cidades marcam um ideal de vida europeu, e a reestruturação do comércio mercantilista é a base do fortalecimento da Europa nos séculos decorrentes.
ETHOS
Conjunto de costumes e hábitos fundamentais no âmbito do comportamento (instituições, afazeres etc.) e da cultura (valores, ideias ou crenças). Muitas vezes traduzido por espírito, é mais intenso do que a ideia de cultura.
E, com isso...
A consequência dessa situação foi o endividamento em massa da nobreza europeia, fenômeno detectado por Fourquin (1987) a partir da análise de inventários post mortem. Ao estudar essas fontes, o autor detectou que os nobres europeus, em geral, estavam morrendo endividados.
Temos aqui um impasse que, na racionalidade econômica moderna, capitalista, não seria dos mais difíceis de se resolver. Bastaria que a nobreza diminuísse seus gastos ou aumentasse os impostos cobrados sobre seus dependentes. No entanto, a racionalidade econômica feudal funciona a partir de outras prioridades, como demonstra Witold Kula (1974) no livro Teoria econômica do sistema feudal.
WITOLD KULA
Witold Kula (1916-1988) foi cientista social, historiador e economista polonês, próximo da metodologia do materialismo histórico.
Fonte: anonymous (Queen Mary Master)/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)Obrigações Feudais
O autor argumenta que a economia, entendida como o conjunto de atividades sociais desenvolvidas com o objetivo de garantir a existência material das pessoas, não pode ser pensada de forma separada dos valores culturais. A cultura feudal é fundada na ideia da desigualdade natural, ou seja, na premissa de que as pessoas nascem diferentes entre si, divididas em inferiores e superiores, e assim ficarão até morrer. Isso não significa, entretanto, que essa mesma tradição não reconheça os direitos adquiridos pelos “de baixo”.
O princípio da reciprocidade de direitos e deveres entre fortes e fracos, diz Kula, também é basilar da cosmovisão feudal.
E O QUE SIGNIFICA ESSE PRINCÍPIO?
VERIFICAR
Se o menor deve obediência e impostos (em forma de serviços e produtos) ao seu senhor, o aristocrata também tem suas obrigações, como proteger seus dependentes e não cobrar taxas abusivas. O endividamento da aristocracia colocava, então, um impasse ao sistema. Ou seja, se a nobreza não pode cortar gastos porque precisa manter seu estilo de vida ostentatório, e os servos não aceitam impostos que consideram abusivos, o que fazer? Essa situação é o ponto de partida para a famosa “crise do feudalismo”. A crise do feudalismo, portanto, foi o resultado da disfunção do próprio sistema, pois suas causas foram endógenas, isto é, internas. A epidemia de Peste Negra, que assolou a Europa durante o século XIV, não foi a causa da crise, mas sim o seu agravante.
Pressionada e endividada, parte da nobreza começou a quebrar os acordos consuetudinários (legitimados pelos costumes), o que provocou uma revolta geral junto ao campesinato, dando início ao que alguns autores chamam de “anarquia feudal”. Em alguns lugares da Europa Ocidental, os conflitos foram mais intensos do que em outros, mas a realidade de colapso estrutural foi comum a todo o continente, de acordo com as pesquisas desenvolvidas pelo historiador francês Georges Duby.
Diante da real possibilidade da destruição física e do desaparecimento do estamento social, a aristocracia europeia aceitou fazer algo que, em condições normais, jamais aceitaria: abnegar de sua autonomia, inclusive militar, para permitir que uma família aristocrática centralizasse o poder, dominando todas as outras e, dessa maneira, reunisse condições políticas, econômicas e militares para o restabelecimento das hierarquias feudais, ameaçadas pelas guerras camponesas.
GEORGES DUBY
Georges Duby (1919-1996) foi um dos grandes medievalistas de seu tempo, teve foco principal sobre as dinâmicas da organização política da França, decorrentes da formação do Estado francês.
Fonte: Rob Bogaerts (ANEFO)/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
ESTAMENTO SOCIAL
O estamento constitui uma forma de estratificação social com camadas mais fechadas do que as classes sociais, e mais abertas do que as castas, ou seja, possui maior mobilidade social do que o sistema de castas, e menor mobilidade social do que o sistema de classes sociais.
Aconteceu, nesse momento, aquilo que Perry Anderson, no livro Linhagens do Estado Absolutista, chama de Revolução Militar, que marcou o nascimento dos exércitos modernos, formados não mais por servos que pagavam o “tributo de sangue”, mas sim por soldados profissionais, remunerados e subordinados ao Estado centralizado, personificado na pessoa do rei, o “primeiro entre iguais, o primus inter pares”, como se costumava dizer na época.
A ideia de monarquia precede a de República, mas a ideia de noção de identidade nacional remete diretamente às dinâmicas da construção da identidade monárquica.
EXEMPLO
No Brasil, a identidade monárquica é tão forte, que, mesmo na tentativa de ruptura republicana, as cores e muitos dos símbolos foram mantidos.
Agora, uma casa aristocrática específica detinha o poder sobre as outras e sobre o território. Surgiu, assim, o Estado Nacional, impulsionado pela tentativa de salvar as hierarquias tradicionais da destruição, preservando o máximo possível a ordem social feudal. Para isso, entretanto, foi necessário mudar, e a nobreza perdeu suas antigas liberdades, passando a estar subordinada ao rei.
Desse jeito foi possível impor ao campesinato a “segunda servidão”, novamente utilizando as palavras de Perry Anderson. Essa foi a contradição que caracterizou a formação dos Estados Nacionais. Para salvar a ordem feudal, o novo arranjo político deixou aquele que era um dos seus valores fundamentais: a autarquia aristocrática.
Surgiu, junto com o Estado, um novo tipo de nobreza. Não mais aquela que vivia no campo, com hábitos rústicos e no controle de seu exército particular. O nobre deixou de ser o “senhor da guerra” para tornar-se o cortesão, sedentarizado, desarmado, vivendo na corte, sob controle do trono.
Retrato do "Tratados de Münster", um dos caminhos percorridos para a Paz de Vestfália, onde o conceito de Estado-nação foi criado.
FORMAÇÃO DOS ESTADOS MODERNOS: PORTUGAL
Fonte: Zulske heraldry/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa, no pleno sentido do termo, com sistema fiscal, exército e burocracia em dimensão centralizada, supralocal. Tal como aconteceu no restante da Europa, o Estado surgiu em Portugal como um dos resultados de experiências de intensa movimentação militar e guerra civil provocadas pelo cenário geral da crise feudal, que estudamos anteriormente.
Foi a chamada Revoluçãode Avis, iniciada em 1383 e terminada em 1385, que levou D. João (1385-1433), chefe da casa de Avis, ao trono português, com o título de D. João I. A partir de então, todos os empreendimentos da sociedade portuguesa, inclusive a expansão marítima e comercial a partir do final do século XIV, seriam coordenados pela autoridade central do Estado. Comparado com o restante da Europa, Portugal tinha vantagem em termos de eficiência e rapidez, o que explica a dianteira que tomou na geopolítica continental na época.
Fonte: Jean d'Wavrin (Chronique d'Angleterre)/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)Batalha de Aljubarrota, de Jean de Wavrin.
Para entender como se deu a construção da modernidade em Portugal, é importante, segundo Luiz Felipe Tomaz, estudar o processo de recristianização da Península Ibérica, pois, somente mais tarde — a partir do século XI —, o território foi incorporado à cristandade. Desde a Idade Média, argumenta Tomaz, Portugal contava com uma estrutura política e militar relativamente centralizada. Quem comandou a reconquista cristã (avanço da cristandade sobre os mouristas) foi a monarquia.
Fonte: unknown, uploaded by en:User:Muriel_Gottrop or de:User:Rhino/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)D. Afonso Henriques, fundador da nação e da dinastia borgonhesa
Entre os séculos VII e XI, a Península Ibérica foi controlada pelos muçulmanos. Nesse momento, a cristandade resumia-se a senhorios que se encontravam ao norte da península. Um dos principais senhorios era o Condado Portucalense, onde vigorava a família de Borgonha (origem francesa), sendo Afonso Henriques (1110-1185) o principal líder. A princípio, o Condado Portucalense estava subordinado ao Reino de Leão.
Esse condado, juntamente com os outros senhores do norte, manifestou o desejo de ampliar seus domínios (autoridade e riqueza) por meio da expansão militar e da guerra com os muçulmanos. Nesse momento, as cidades do Porto e de Viana eram extremamente importantes para o contato comercial com Flandres, atual Bélgica e centro comercial da época. A aliança com essas cidades, que eram chefiadas por uma oligarquia mercantil, permitiu à coalizão cristã a aquisição de recursos para a formação de exércitos.
Nessas cidades tinha-se grande autonomia municipal, pois as câmaras detinham forte poder em relação aos senhores do norte. Essas câmaras eram governadas pelos homens bons (elite local), que tinham interesse em garantir sua autonomia, que estava sendo contestada pelos senhores do norte.
Afonso Henriques surgiu nesse contexto para oferecer proteção militar a fim de que essas cidades mantivessem sua autonomia. Em troca, essas cidades ofereceriam dinheiro a Afonso Henriques.
Por meio da aliança com as cidades, Afonso Henriques acumulou dinheiro e, com os nobres, otimizou a atividade militar. Tal fato conferiu notória força militar ao Condado Portucalense, a ponto de outras casas aristocráticas reconhecerem sua ascendência sobre elas. A partir do século XII, essas casas aristocráticas proclamaram a família dos Bourbon como dinastia real.
Surge, assim, a monarquia feudal em Portugal, liderada por um grande senhor de terras, que se sobrepõe aos demais.
A expansão marítima e comercial portuguesa, portanto, foi potencializada por uma monarquia com longo histórico de centralização administrativa, que gerenciou a nobreza com ethos militar e que efetivamente se lançou aos mares.
RECOMENDAÇÃO
Fonte: Luís Vaz de Camões/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Para entender melhor esses acontecimentos históricos, leia os textos de Luís Vaz de Camões, em especial Os Lusíadas, obra de poesia épica da epopeia portuguesa.
FORMAÇÃO DOS ESTADOS MODERNOS: ESPANHA
Fonte: Heralder/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
O caso do Estado Nacional espanhol remete à principal experiência imperialista dos primeiros anos da modernidade, visto o poder que a Espanha exerceu sobre grande parte do continente americano e sobre o extenso território na própria Europa. Mais do que qualquer outro país europeu, a Espanha beneficiou-se da política de alianças matrimoniais/diplomáticas característica das sociedades monárquicas. No século XIV, pressionados pela crise estrutural que assolava as sociedades europeias e pela ocupação muçulmana, alguns reinos ibéricos decidiram unir-se com o objetivo de centralizar esforços para a superação da crise e a reconquista cristã do território. Entre esses reinos, os maiores eram o de Castela e o de Aragão, que se uniram por meio do casamento de Isabel I e Fernando II, em 1649.
Fonte: Alexandre Vigo/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)Localização de Castela
Fonte: Unidentified painter/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
ISABEL I
Fonte: Michel Sittow/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
FERNANDO II
Perry Anderson mostra como, durante a escassez de mão de obra provocada pela crise geral do feudalismo, Castela mostrou-se sede de uma lucrativa economia lanífera(Que produz lã.). Enquanto isso, Aragão, que já era potência territorial e comercial com capacidade de controlar territórios mediterrânicos, como a Sicília e a Sardenha, garantia o fluxo comercial para abastecer o Estado espanhol.
O DINAMISMO POLÍTICO E MILITAR DO NOVO ESTADO LOGO SE REVELARIA DRAMATICAMENTE EM UMA VASTA SÉRIE DE CONQUISTAS EXTERNAS.
VERIFICAR
Granada, o último reduto mouro, foi destruída, completando a reconquista.
Nápoles foi anexada.
Navarra, absorvida.
E, acima de tudo, as Américas foram descobertas e subjugadas.
O Império espanhol chegou ao apogeu, em 1519, com Carlos I (1550-1558), que foi também o Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico. Devido a uma complexa teia de relações dinásticas, Carlos, ao mesmo tempo um Bourbon e um Habsburgo, acabou herdando aqueles que na época eram os maiores impérios do mundo: o espanhol, voltado ao Atlântico, e o Habsburgo, continental, voltado ao centro da Europa. Surgiu assim, comandado a partir de Madri, o maior império da era moderna.
RECOMENDAÇÃO
A transição espanhola é muito bem explorada na literatura de Dom Quixote, que fala sobre um novo mundo e os grupos apegados. No grande livro de Miguel de Cervantes (1547-1616), é trabalhada a “confusão” de ideias entre um velho e um novo mundo, com a transição da mentalidade e a confusa relação entre o ideal de cavalaria e a velha aristocracia.
FORMAÇÃO DOS ESTADOS MODERNOS: FRANCESES X INGLESES
Na França, o Estado Nacional formou-se na transição do século XIV para o século XV, a partir da sobreposição de duas situações de crise: a crise estrutural do feudalismo e a famosa Guerra dos Cem Anos (1339-1453) contra a Inglaterra. Em desvantagem na guerra e pressionada pela crise das hierarquias feudais, a nobreza francesa permitiu que o rei Carlos VII concentrasse em si a talha, que era o imposto de sangue que o campesinato pagava à aristocracia em forma de serviços militares esporádicos. Nasceu assim a “talha real”, que direcionou à dinastia a prerrogativa de apropriar-se do serviço militar dos camponeses.
Fonte: Virgil Master and his atelier/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)Soldados ingleses que desembarcaram na Normandia, c. 1380–1400, durante a Guerra dos Cem Anos
GUERRA DOS CEM ANOS
Guerra travada na transição do medievo e da modernidade. O objetivo era, pelas relações consanguíneas, o pleito inglês ao trono francês. Depois de uma primeira fase de vitórias ingleses a partir de Calais, os franceses retomaram as terras continentais. O trajeto também é mitológico, com representações como a de Joana D’Arc (1412-1431).
Fonte: Alonso de Mendoza/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)Joana D’Arc
Temos aqui, também segundo Perry Anderson, o evento que fundou o exército moderno, ao centralizar no rei o direito exclusivo de convocar e coordenar a força militar. A nobreza foi, então, desarmada, sedentarizada, em um ato voluntário, consentido, por uma questão de sobrevivência. Como se diz popularmente: “entregou os anéis para não perder os dedos”.
Já na Inglaterra...
A formação do Estado Nacional deu-se de maneira distinta quando comparada à situação dos países continentais(Portugal, Espanha e França). Para entender essas particularidades, precisamos conhecer a situação de quase colapso na qual se encontrava a Inglaterra na segunda metade do século XV.
Após perder a guerra para os franceses, a Inglaterra, que tinha tradição de descentralização político-administrativa, foi dividida por uma guerra civil travada entre duas de suas principais casas aristocráticas.
Foi a chamada Guerra das Duas Rosas (1450-1485), envolvendo os York e os Lancaster. A guerra foi tão longa e sangrenta que praticamente extinguiu as duas casas, abrindo um vazio de poder que foi ocupado por outra dinastia, a dos Tudor.
Fonte: Unknown Derivative/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)Guerra das Duas Rosas
Henrique VII (1457-1509) foi o primeiro rei da dinastia Tudor, diante da fragilidade das outras casas aristocráticas, sempre rivais potenciais da dinastia. O projeto de centralização político-administrativa liderado por Henrique VII, na avaliação do historiador Perry Anderson, teve três movimentos:
PRIMEIRO MOVIMENTO
Desarmar a nobreza, fragilizando-a ainda mais e concentrando, na autoridade central, o poder de convocar e formar exércitos.
SEGUNDO MOVIMENTO
Mais complexo, consistiu no esvaziamento político da nobreza.
TERCEIRO MOVIMENTO
Como consequência direta, foi o rompimento com a tradição que orientava o monarca a delegar cargos para a aristocracia, nomeando em seu lugar novas famílias emergentes e enriquecidas em virtude do comércio de lã. Assim, a monarquia feudal menos centralizada da Europa Ocidental fortaleceu sua autoridade central em virtude do profundo esgotamento da aristocracia, e não por causa dos esforços do grupo em sobreviver à crise estrutural do feudalismo, como aconteceu no continente.
Fonte: https://futurehistory.wikia.org/es/wiki/Guerra_civil_francesaO irrestrito amor à nação como elemento formador de uma nova visão política
O processo de construção do Estado Nacional, no entanto, não envolve apenas centralização política, administrativa e militar, mas também representações simbólicas que sejam capazes de construir vínculos identitários entre as pessoas.
RESUMINDO
Trata-se de convencer todos os que nasceram no território controlado por determinado Estado de que fazem parte de uma comunidade, de que existem vínculos afetivos que os irmanam.
Para isso, foi fundamental o “nacionalismo”, um ambiente político-cultural que teve seu lugar na Europa e nas Américas durante o século XIX.
Os diversos nacionalismos mobilizaram os estudos históricos, geográficos, e os rituais da cultura popular com o objetivo de inventar ritos e tradições capazes de fomentar sensações de pertencimento à nação que, antes de ser o território e seu aparato de poder institucional, é uma “comunidade imaginada”, nas palavras do historiador norte-americano Benedict Anderson (2008).
Fonte: EdgarFabiano/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)Mural nacionalista irlandês, em Belfast, mostrando solidariedade com o nacionalismo basco.
A nação é um tipo de comunidade imaginada socialmente, construída de modo a fazer as pessoas pensarem sobre si próprias como parte de um grupo. A invenção da nação é de interesse direto do Estado, pois não há poder que consiga se sustentar apenas pela repressão, sem contar com nenhum consentimento.
A afetividade e a identidade fomentadas pela simbologia identitária, nesse sentido, são fundamentais para a própria efetividade do poder público. Por isso, e essa foi uma das principais caraterísticas da história política do século XIX, o Estado investe tanto na “invenção de tradições”, como dizem os historiadores ingleses Eric Hobsbawm (1917-2012) e Terence Ranger (1929-2015).
POR “TRADIÇÃO INVENTADA” ENTENDE-SE UM CONJUNTO DE PRÁTICAS, NORMALMENTE REGULADAS POR REGRAS TÁCITA OU ABERTAMENTE ACEITAS; TAIS PRÁTICAS, DE NATUREZA RITUAL OU SIMBÓLICA, VISAM INCULCAR CERTOS VALORES E NORMAS DE COMPORTAMENTO ATRAVÉS DA REPETIÇÃO, O QUE IMPLICA, AUTOMATICAMENTE, UMA CONTINUIDADE EM RELAÇÃO AO PASSADO. ALIÁS, SEMPRE QUE POSSÍVEL, TENTA-SE ESTABELECER CONTINUIDADE COM UM PASSADO HISTÓRICO APROPRIADO.
(HOBSBAWM; RANGER, 2004)
VEM QUE EU TE EXPLICO!
Nação e Nacionalismo: caminhos diversos
Estados em conflito: a era dos extremos
NAÇÃO E NACIONALISMO
A ERA DOS EXTREMOS
Foi necessário a criação de vínculos identitários entre as pessoas como a criação de tradições, ícones e sentimento de pertencer.
Revolução inglesa como ponto de partida para a descentralização do poder real, formação da monarquia parlamentarista.
Com a Revolução francesa o conceito de nação se torna mais próximo de todos, o poder sai das mãos de uma elite e o estado passa a ser comandado por parte da população;
Fazer com que as pessoas se sintam parte daquela luta e anseiem em defender os interesses do seu grupo gera um sentimento de pertença que ajuda a construir a ideia de nação.
Os discursos nacionalistas são usados não mais para unir o povo, agora é necessário atacar os adversários, provar a superioridade da nação.
O belicismo como consequência dos conflitos entre nações;
Durante o século XX regimes como Nazismo e Fascismo usaram do discurso nacionalista para atacar inimigos e promover a guerra.
ATIVIDADE
VAMOS REFLETIR SOBRE O QUE APRENDEMOS?
Para isso, complete as frases com as palavras do quadro.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
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1. A ANARQUIA FEUDAL, CARACTERÍSTICA DA CRISE DO FEUDALISMO, FOI O PONTO DE PARTIDA PARA A FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS NA EUROPA OCIDENTAL. ASSINALE ENTRE AS OPÇÕES A SEGUIR AQUELA QUE JUSTIFICA CORRETAMENTE ESSA AFIRMAÇÃO.
As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma aliança entre o campesinato e a aristocracia, que juntos derrotaram a burguesia e mantiveram a estrutura político-administrativa descentralizada. Nasceu, assim, o Estado Nacional Moderno.
As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma aliança entre as famílias aristocráticas, que favoreceram o fortalecimento de uma delas para centralizar os esforços de repressão ao campesinato. Nasceu, assim, o Estado Nacional Moderno centralizado.
As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma aliança entre as frações da burguesia comercial, que favoreceram o fortalecimento de uma delas para centralizar os esforços de repressão ao campesinato. Nasceu, assim, o Estado Nacional Moderno centralizado.
As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma aliança entre a Igreja Católica e as frações da burguesia comercial, que favoreceram o fortalecimento de uma delas para centralizar os esforços de repressão ao campesinato. Nasceu, assim, o Estado Nacional Moderno centralizado.
As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma aliança entre a Igreja Católica e as famílias aristocráticas, que favoreceram o fortalecimento de uma delas para centralizar os esforços de repressão ao campesinato. Nasceu, assim, o Estado Nacional Moderno centralizado.
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2. PORTUGAL FOI O PRIMEIRO CASO DE MODERNIDADE POLÍTICA NA EUROPA. ASSINALE ENTRE AS OPÇÕES A SEGUIR AQUELA QUE MELHOR EXPLICA POR QUÊ.
Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque já vinha desenvolvendo relações comerciais no campo desde o século XI, o que potencializou a formação de um Estado burguês.
Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque precisou formar um exército nacional e centralizado pra lutar contra a França no conflito que ficou conhecido como Guerra dos Cem Anos.
Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque já contava com situação de relativa centralização militar e administrativa desde a Idade Média, quando a aristocracia cristã formou uma coalizão pra reconquistar o território ibérico, então ocupado pelos muçulmanos.
Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque a expansão marítima comercial forneceu recursos para a burguesia portuguesa, que se articulou politicamente e fundou o primeiroEstado capitalista do mundo.
Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque a guerra com a Espanha fortaleceu a nobreza, que derrotou a burguesia incipiente, fundando assim o primeiro Estado aristocrático do mundo.
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GABARITO
1. A anarquia feudal, característica da crise do feudalismo, foi o ponto de partida para a formação dos Estados Nacionais na Europa Ocidental. Assinale entre as opções a seguir aquela que justifica corretamente essa afirmação.
A alternativa "B " está correta.
As guerras camponesas travadas entre os séculos XIII e XIV colocaram a hierarquia feudal em perigo, o que fez com que a nobreza europeia pactuasse que casas aristocráticas específicas centralizariam os esforços para o restabelecimento da ordem.
2. Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa. Assinale entre as opções a seguir aquela que melhor explica por quê.
A alternativa "C " está correta.
Portugal já havia centralizado esforços administrativos e militares na época da reconquista, sob o comando de Afonso Henriques, chefe do Condado Portucalense.
MÓDULO 3
Exemplificar as diversas revoluções sociais que, na modernidade, confrontaram a estrutura do Estado-nação
ESTADO NACIONAL: REAFIRMAÇÃO E REVOLUÇÕES
Assista ao vídeo.
O período compreendido entre os séculos XVII e XIX foi, ao mesmo tempo, o momento de consolidação e crise dos Estados Nacionais. Foi nessa época que o modelo de Estado centralizado, originado na Europa Ocidental no século XIV, se espalhou pelo mundo, mas foi também quando a sociedade civil questionou e confrontou a autoridade centralizada.
Estudaremos aqui o ciclo de rebeliões sociais e políticas que aconteceu na Europa e nas Américas nesse período. Foram experiências tão transformadoras que chegaram a modificar o vocabulário político, como demonstra a filósofa alemã Hannah Arendt (1998), que identificou aquela que teria sido a principal transformação político-semântica trazida pela modernidade: a mudança no sentido do conceito “revolução”.
Se antes “revolução” era uma palavra associada ao movimento circular dos corpos celestes, agora passa a ser um sinônimo de ruptura social e política drástica, que transforma para melhor as sociedades, que acelera a marcha da história rumo ao futuro, como, por exemplo:
Fonte: William Shakespeare Burton/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Alegoria da Guerra Civil Inglesa, por William Shakespeare Burton.
REVOLUÇÃO INGLESA
Fonte: E. Percy Moran /Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Os britânicos avançam em Bunker Hill, por Percy Moran.
A INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS
Fonte: Eugène Delacroix/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
A Liberdade guiando o povo, por Eugène Delacroix.
A REVOLUÇÃO FRANCESA
Foi assim que se construiu uma memória positiva desse conjunto de rebeliões sociais e políticas que aprendemos a chamar de “Revoluções Burguesas”. Vamos começar pela Revolução Inglesa!
INGLATERRA
Ainda no século XVII, a Inglaterra foi desestabilizada por um conjunto de revoltas sociais que acabaram por instituir aquele que se tornaria um dos valores mais sagrados das democracias liberais modernas: o Constitucionalismo, que, como vimos no módulo 1, está fundado na premissa de que o poder do Estado deve ser limitado pela lei.
CONSTITUCIONALISMO
É o exercício de estruturar a sociedade a partir da lei e da submissão de todos às suas regras, públicas e claras por meio de Constituições nacionais.
 SAIBA MAIS
A Revolução Inglesa foi bastante estudada na bibliografia especializada, que apresenta diferentes, e por vezes conflitantes, interpretações do evento. Certamente, as duas principais referências para o assunto são os livros O mundo de ponta cabeça: ideias radicais durante a Revolução Inglesa de 1640, de Christopher Hill, publicado em 1987, e o livro As causas da Revolução Inglesa, de Lawrence Stone, publicado em 1988. Enquanto Christopher Hill, em perspectiva marxista, afirma que a Revolução Inglesa foi o evento de inauguração da fase moderna da luta de classes, ao decretar a primeira grande vitória da burguesia sobre a aristocracia; Stone argumenta que o processo de aburguesamento da Inglaterra se deu pela modernização da própria nobreza rural, a gentry.
Seja como for, apesar das diferenças, ambos os autores interpretam as revoluções inglesas do século XVII como o momento de fundação da ordem capitalista, que passaria a estruturar a vida social e política no mundo ocidental.
A Revolução Inglesa (1640-1688) foi um processo plural, cheio de idas e vindas e atravessado por diversas guerras civis. Desde o século XVI, a burguesia inglesa (famílias ricas, mas sem signos aristocráticos de distinção) era um grupo influente devido ao processo de cercamento dos campos, que pioneiramente passou a subordinar o espaço rural às demandas comerciais e industriais urbanas.
Fonte: Desconhecido/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)Guerra Civil Inglesa durante a Revolução Inglesa
O campo inglês especializou-se em criar ovelhas para servirem como fonte de matéria-prima para a incipiente indústria têxtil. Esse foi o “cercamento dos campos”, enclosures, aquilo que Karl Marx (1818-1883) chamou de “acumulação primitiva do capital”. Entretanto, essa burguesia ascendente estava sub-representada na estrutura da monarquia aristocrata inglesa. Podemos dizer que essa situação de sub-representação foi um dos principais focos de tensão que implodiram o sistema político inglês. No processo, o rei Carlos I foi morto, em janeiro de 1649, no primeiro regicídio, ou seja, assassinato do rei, moderno da história.
VOCÊ SABIA
Regicídios são normais nas monarquias, pois é comum que o trono seja objeto de desejo e alvo de conspirações, quase sempre envolvendo grupos aristocráticos próximos ao monarca. No caso da morte de Carlos I, o regicídio não foi conspiratório, mas sim realizado em execução pública, em nome da “autoridade do povo”. O povo, então, empoderou-se a ponto de condenar o rei à morte, o mesmo monarca que até então era visto como o portador de um direito divino. Depois da execução de Carlos I, a Inglaterra viu, ainda, a formação de uma ditadura comandada por um líder militar chamado Oliver Cromwell (1599-1658). A monarquia foi restaurada com a dinastia dos Stuart, e uma nova guerra civil, a Revolução Gloriosa, em 1688, instituiu a primeira monarquia constitucional da história.
Agora, a verdadeira soberania não pertencia ao rei, mas sim à lei, entendida como a manifestação da vontade do “povo”.
É a máxima que diz que “o rei reina, mas não governa”.
Em todo esse período, o trono esteve em conflito com o parlamento, disputando a quem caberia o controle político da monarquia. O parlamento venceu. O parlamentarismo sobrepôs-se ao absolutismo.
INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS
Na segunda metade do século XVIII, o mundo inglês protagonizaria outro evento que seria reconhecido como um dos momentos de fundação da cultura democrática moderna. Foi a independência das treze colônias inglesas, ou a Revolução Americana, que trouxe ao mundo a novidade de um país independente na América.
COMENTÁRIO
A formação dos Estados Unidos nunca contou com uma organização única, tendo cada uma das colônias estruturas singulares. Sua unidade nunca feriu esse princípio, não à toa foi ali que se consolidou o modelo de federalismo.
Declaração da independência dos Estados Unidos.
Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, a Revolução Americana não questionou a monarquia ou a autoridade do rei, mas sim o parlamento, acusado de violar direitos coloniais adquiridos. Até o fim do processo, as elites coloniais insurgentes pediram a proteção do rei contra a espoliação feita pelo parlamento britânico. Por isso, como afirma John Pocock, a independência dos EUA deve ser inserida no contexto mais amplo das transformações das instituições britânicas que vinham se processando desde o século XVII.
SÉCULO XVII
Entre os períodos de 1641 a 1660 e entre 1688 a 1689, ocorreram crises nas relações entre a Coroa inglesa e a classe inglesa proprietária de terras,das quais o King-in-Parliament saiu fortalecido, embora profundamente transformado. A capacidade da Inglaterra de criar e consolidar a “Grã-Bretanha” e seguir em busca de um império atlântico foi um dos subprodutos de 1688. Porém, em 1776, ou mais propriamente entre 1764 e 1801, a capacidade do parlamento de exercer o governo sobre as províncias — e, em menor grau, a maneira como ele agora governava a sociedade inglesa — foi severamente desafiada. Nas colônias americanas teve lugar a revolução contra o parlamento (POCOCK, 2003).
E como os conflitos começaram?
Guerra dos Sete Anos
Os conflitos entre as colônias e o parlamento começaram na década de 1760, logo após o fim da Guerra dos Sete Anos (1756-1763).
Brasão de Armas (Parlamento britânico)
Tendo saído da guerra com as contas desequilibradas, o parlamento britânico, que, como sabemos, governava o Império desde a Revolução Gloriosa (1688), apertou o rigor em suas relações mercantis com as colônias.
Caricatura britânica representando as leis como uma violação de Boston
Entre 1764 e 1774, o parlamento criou dura legislação que pressionou os interesses econômicos coloniais.
O primeiro congresso continental, 1774.
Em 1774, as lideranças coloniais organizaram o I Congresso da Filadélfia, quando redigiram um manifesto pedindo proteção e apresentando suas reclamações ao rei George III.
A Inglaterra era o parceiro governante e as raízes do parlamento estavam na sociedade inglesa comercial e de proprietários de terra. Era isso o que “tornaria a conciliação com as colônias, em última instância, impossível” (POCOCK, 2003).
Diante da recusa do parlamento inglês em atender às reivindicações das colônias, os representantes coloniais reuniram-se novamente em 1776, quando Thomas Jefferson (1743-1826) redigiu a Declaração de Independência dos EUA. Começou, então, um ciclo de conflitos que se arrastaria até 1783, mostrando ao mundo o caso inédito de colônias que confrontaram a autoridade de sua metrópole e venceram.
THOMAS JEFFERSON
Um dos mais importantes intelectuais norte-americanos. Notabilizou-se como um defensor da República pela atuação na Constituição, e foi presidente dos Estados Unidos.
Para Bernard Bailyn (2003), o que alimentou a insatisfação das colônias foi a convicção de que seus direitos tradicionais estavam sendo atacados, de que suas liberdades adquiridas corriam risco. O algoz não era a monarquia centralizada. Era o parlamento.
NO FIM, CHEGUEI À CONCLUSÃO DE QUE O MEDO DE UMA CONSPIRAÇÃO AMPLA CONTRA A LIBERDADE NO MUNDO DE LÍNGUA INGLESA – UMA CONSPIRAÇÃO QUE SE ACREDITAVA TER SIDO ALIMENTADA NA CORRUPÇÃO E SOBRE A QUAL SE SENTIA QUE A OPRESSÃO NA AMÉRICA DO NORTE ERA APENAS A PARTE MAIS IMEDIATAMENTE VISÍVEL – ESTAVA NO CORAÇÃO DO MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO.
(BAILYN, 2003)
Sem dúvida alguma, as revoltas sociais que desestabilizaram o mundo francês durante as décadas de 1780 e 1790, e que posteriormente ficariam conhecidas como Revolução Francesa, tornaram-se o evento simbolicamente mais importante da cultura política moderna. Já tendo sido objeto de diversos estudos especializados, a Revolução Francesa precisa ser pensada como um processo complexo, cheio de idas e vindas e não restrito apenas ao território europeu francês, visto que se manifestou também em terras coloniais, como na ilha caribenha de Santo Domingo, palco da mais radical e violenta revolução social dos primeiros anos da modernidade.
MODERNIDADE
A independência de uma parte da ilha conhecida atualmente como Haiti, liderada pelos negros locais, gerou uma intensa reação dos senhores do restante da ilha, Santo Domingo, além de desestabilizar o governo revolucionário haitiano.
Nos diversos momentos dos conflitos, em alguns de forma mais aguda, em outros de maneira mais pálida, a “tirania” do Estado monárquico foi questionada pela sociedade. O historiador francês Albert Soboul (1914-1982) divide o processo revolucionário em três momentos, cada qual apresentando níveis diferentes de radicalismo disruptivo e projetos distintos para a organização político-institucional do Império francês.
Entre 1789 e 1791, o projeto vitorioso foi o girondino, marcado pelo objetivo de transformar a monarquia absolutista comandada pelos Bourbons em uma monarquia constitucional, à moda inglesa. A propriedade privada foi defendida e a desigualdade social não foi pautada como problema estrutural da sociedade francesa.
FOI UM MOMENTO DE COMPROMISSO ENTRE A BURGUESIA E OS SETORES MAIS PROGRESSISTAS DA ARISTOCRACIA E DA IGREJA. O OBJETIVO DO PACTO ERA ABOLIR A FEUDALIDADE, AMPLIAR O ACESSO AOS DIREITOS POLÍTICOS, NUMA REVOLUÇÃO PACÍFICA QUE NÃO ALMEJAVA QUESTIONAR A PROPRIEDADE PRIVADA E A AMPLIAÇÃO DE DIREITOS SOCIAIS.
(SOBOUL, 1995)
REVOLUÇÃO FRANCESA
Revolução Francesa
A partir de 1792 até 1795, começaria o momento de maior radicalidade do conflito, quando a própria estrutura da sociedade francesa foi posta em questão pelo projeto jacobino, comandado pela aliança entre operariados urbanos e a pequena burguesia liderada por Maximilien François Marie Isidore de Robespierre (1758-1794). Esses grupos situavam-se mais à esquerda do espectro político francês e demandavam mais do que apenas o fim da monarquia absolutista e o fim da feudalidade. Desejavam questionar a estrutura fundiária, a divisão de terras, a miséria dos trabalhadores urbanos.
Mas, politicamente, quem eram os jacobinos?
Politicamente, os jacobinos eram republicanos e não estavam dispostos a negociar com a estrutura monárquica. O resultado foi o acirramento dos conflitos sociais e a militarização efetiva da crise francesa, dando início àquilo que já na época ficou conhecido como “terror”, quando o tribunal revolucionário executou milhares de pessoas, incluindo o rei Luís XVI e o próprio Robespierre.
Os efeitos da guerra revolucionária atravessaram o oceano Atlântico, chegando à ilha de Santo Domingo, colônia francesa na América. Santo Domingo era uma sociedade escravocrata, em que a minoria branca comandava uma economia agroexportadora, movida pelo trabalho escravo da maioria negra. Nos anos da Revolução Pacífica girondina, como explica Eugene Genovese, a elite colonial manifestou o desejo de ser representada na Assembleia dos Estados Gerais e gozar da ampliação dos direitos políticos. Porém, com a radicalização jacobina, a escravidão foi abolida em todo o império colonial francês. Nesse momento, as forças revolucionárias eram lideradas pelo comandante e governador de Santo Domingo Toussaint Bréda (1743-1803), e o objetivo era defender a Revolução, o que significava defender a abolição da escravidão, tanto dos ataques restauradores internos como dos externos.
Fonte: Desconhecido/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)Toussaint Bréda
O termo “revolucionário” provocou a formação de um amplo arco de forças, que passou a ter o objetivo de derrotar a agenda social e republicana dos jacobinos. Nobreza, clero, potências internacionais e alta burguesia juntaram-se para atacar a Revolução Jacobina e retroceder o processo ao estágio do capitalismo monárquico liberal, tal como era o objetivo na fase jacobina do processo. Em Santo Domingo, a reação colocou a emancipação política na agenda dos revolucionários, agora comandados J. J. Dessalines (1758-1806), outra importante liderança militar negra. Os conflitos foram sangrentos e a minoria branca foi quase completamente exterminada naquela que foi a primeira revolução moderna a trazer a discussão racial para o centro da pauta dos conflitos.
Em 1º de janeiro de 1804 foi proclamada a independência da República do Haiti, que se tornou o segundo país independente das Américas, logo depois dos EUA. Na França, a monarquia foi restaurada, a propriedade privada respeitada e as demandas jacobinas por direitos sociais sufocadas. Napoleão Bonaparte (1769-1821) tornou-se a principal liderança política do Império francês.
NAPOLEÃO BONAPARTE
Comandante militar do Egito e convocado para comandar a França Revolucionária ao fim do processo relatado.
Fonte: Jacques-Louis David / Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)NapoleãoBonaparte
Os questionamentos ao Estado Moderno continuariam no século XIX, novamente nas duas margens do Atlântico: dezenas de processos emancipacionistas decretaram o fim da dominação colonial europeia nas Américas, novas revoluções sociais desestabilizaram a França, em 1830, 1848 e 1871, apresentando amplo leque de projetos políticos, indo do liberalismo burguês ao comunismo.
Se, entre os séculos XIV e XVI, a Europa construiu o Estado Moderno, com sua estrutura política, administrativa e militar centralizada e com seu espírito aristocrático, os séculos XVIII e XIX questionaram tanto a centralização como a dimensão feudal dos Estados Nacionais, dando origem a uma série de disputas ideológicas que marcariam a história humana no século XX.
VEM QUE EU TE EXPLICO!
Estados Modernos e a invenção do capitalismo
ESTADOS MODERNOS
A consolidação dos Estados também se da quando se tem a transição do mercantilismo para o capitalismo;
Monetização das relações entre Estados;
Revolução industrial como fato acelerador da implementação do capitalismo nos Estados;
A busca por mercados não é só econômica é também por influência política em outros territórios;
Partilha da África como símbolo desse momento da história, onde a busca por mercados, matéria prima e poder de influência vai fazer com que Estados europeus subjuguem o continente africano a sua vontade;
ATIVIDADE
VAMOS REFLETIR SOBRE O QUE APRENDEMOS?
Para isso, complete as frases com as palavras do quadro.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
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1. A REVOLUÇÃO AMERICANA GUARDA ALGUMAS PARTICULARIDADES QUANDO COMPARADA COM AS REVOLUÇÕES INGLESAS DO SÉCULO XVII. ASSINALE ENTRE AS ALTERNATIVAS A SEGUIR AQUELA QUE MELHOR APRESENTA ESSAS PARTICULARIDADES.
Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram o poder político da burguesia, a Revolução Americana questionou o poder político da Igreja, considerada responsável pelo endurecimento das relações coloniais a partir da década de 1760.
Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram o poder político da Igreja, a Revolução Americana questionou o poder político da burguesia, considerada responsável pelo endurecimento das relações coloniais a partir da década de 1760.
Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram a autoridade do rei, a Revolução Americana questionou o poder do parlamento, considerado responsável pelo endurecimento das relações coloniais a partir da década de 1760.
Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram a autoridade do parlamento, a Revolução Americana questionou o poder do rei, considerado responsável pelo endurecimento das relações coloniais a partir da década de 1760.
Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram a autoridade do rei, a Revolução Americana questionou o poder da Igreja, considerada responsável pelo endurecimento das relações coloniais a partir da década de 1760.
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2. A REVOLUÇÃO FRANCESA FOI UM PROCESSO HISTÓRICO COMPLEXO, HETEROGÊNEO E CHEIO DE IDAS E VINDAS, QUE NO FINAL DO SÉCULO XVIII DESESTABILIZOU O MUNDO FRANCÊS. ASSINALE ENTRE AS ALTERNATIVAS A SEGUIR AQUELA QUE MELHOR DEFINE A REVOLUÇÃO FRANCESA.
A Revolução Francesa não ficou restrita apenas ao território europeu, chegando também à América, e a partir disso surgiu o segundo país independente das Américas: a República do Haiti, fundada em janeiro de 1804.
A Revolução Francesa ficou restrita ao território europeu francês, chegando às Américas apenas no plano das ideias políticas, levando o continente a restaurar as relações coloniais, abolidas desde a independência dos EUA, na década de 1770.
A Revolução Francesa não ficou restrita apenas ao território europeu, chegando também à América, e a partir disso surgiu o segundo país independente das Américas, os EUA, fundado em janeiro de 1804.
A Revolução Francesa não ficou restrita apenas ao território europeu, chegando também à América, e a partir disso surgiu o primeiro país independente das Américas, os EUA, fundado em janeiro de 1804.
A Revolução Francesa ficou restrita ao território europeu francês, chegando às Américas apenas no plano das ideias políticas, levando o continente a adotar o comunismo, tal como havia sido pregado em Paris, na década de 1780.
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GABARITO
1. A Revolução Americana guarda algumas particularidades quando comparada com as revoluções inglesas do século XVII. Assinale entre as alternativas a seguir aquela que melhor apresenta essas particularidades.
A alternativa "C " está correta.
A rebelião das Treze Colônias inglesas aconteceu pela insatisfação com o parlamento, e não com o rei, ou seja, o alvo da revolta colonial não foi a monarquia centralizada, mas sim as políticas fiscais mercantis desenvolvidas pelo parlamento britânico.
2. A Revolução Francesa foi um processo histórico complexo, heterogêneo e cheio de idas e vindas, que no final do século XVIII desestabilizou o mundo francês. Assinale entre as alternativas a seguir aquela que melhor define a Revolução Francesa.
A alternativa "A " está correta.
A Revolução Francesa foi um processo histórico intercontinental vivenciado no império colonial francês, tanto na Europa como na América. Um de seus principais desdobramentos foi a independência do Haiti, que em 1804 tornou-se a segunda nação autônoma das Américas.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como aprendemos, estudar a história dos Estados Nacionais nos convida e entender a heterogeneidade dos processos históricos que, em diversos lugares da Europa, levaram à formação de estruturas políticas centralizadas, cujo objetivo foi salvar o feudalismo da experiência de crise que começou no século XIV.
O tempo passou e, nos séculos XVIII e XIX, os Estados Nacionais tornaram-se alvo de contestações das sociedades civis europeias, em um momento de urbanização e industrialização do Velho Mundo. Vários projetos políticos foram formulados nesse momento: liberalismo, anarquismo, comunismo, que seriam aprofundados no século XX e, de alguma maneira, estão presentes até hoje nos conflitos políticos do nosso tempo.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
CIÊNCIAS POLÍTICAS E TEORIA DO ESTADO – TEMA 2
DESCRIÇÃO
As estruturas políticas do Estado moderno, sua origem e elementos constitutivos.
PROPÓSITO
Discutir as condições de surgimento do Estado moderno e os processos de formação de sua organização política, objetos fundamentais para a compressão do funcionamento das instituições e do conjunto de leis que regulam nossas vidas nas sociedades contemporâneas.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar o surgimento dos princípios políticos da sociedade contemporânea
MÓDULO 2
Relacionar o conceito de Estado moderno, a transição do absolutismo ao Estado liberal com a ascensão e consolidação da burguesia no poder
MÓDULO 3
Reconhecer os poderes do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário) por meio da análise do seu surgimento, suas capacidades específicas e mecanismos de independência
INTRODUÇÃO
Para início de conversa, podemos pensar que na sociedade contemporânea, como a nossa, vivemos experiências e conflitos cotidianos (seja qual for nosso país, etnia, gênero ou classe social) que nos relembram diariamente que precisamos agir conforme as leis, regras e/ou convenções para conviver da forma mais harmoniosa possível. Não é à toa que, ao falar dos amplos conflitos sociais, normalmente sintonizamos nosso discurso ao ente, com autoridade e legitimidade, capaz de dirimir, atenuar ou intervir diretamente sobre os problemas que nos assolam. Esse é o momento em que evocamos quase automaticamente a noção de Estado através de suas instituições, poderes ou representantes.
Neste tema, aprenderemos um pouco mais sobre a sociedade contemporânea, as instituições que a compõem e seu surgimento na história. E, como, afinal, surgiu o Estado em que vivemos? Como podemos defini-lo? Que poderes os governantes possuem? O que os regulam? Questões como estas serão abordadas nos nossos estudos.
Partiremos

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