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Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO PRINCIPAIS PATOLOGIAS DO JOELHO: LESÕES LIGAMENTARES: RURPTURA DO LIGAMENTO CRUZADO ANTERIOR: A lesão do ligamento cruzado anterior ocorre principalmente em atividades esportivas, especialmente futebol e judô, que apresentam elevado grau de contato físico. O trauma em si frequentemente apresenta mecanismo torcional em valgo, com rotação externa da perna seguida por um estalido audível. Principais mecanismos de trauma associados a lesões do LCA O edema é precoce, em decorrência do acúmulo de sangue no espaço articular, podendo levar a bloqueio do arco de movimento, especialmente da extensão. Frequentemente, as lesões do LCA são acompanhadas por dano a um dos meniscos, especialmente o medial. O exame físico deve contar com a execução dos testes de Lachman, Pivot-Shift, Jerk, gaveta anterior e estresse em varo e valgo, sempre precedidos de analgesia para minimizar o desconforto (não insistir em caso de dor). Movimentos realizados durante o teste de pivot hift A confirmação diagnóstica é feita principalmente por meio da ressonância magnética (borramento de fibras), precedida ou não por punção articular para a drenagem de líquido excessivo, que pode ser submetido a avaliação laboratorial. A presença de derrame articular hemorrágico com gotículas de gordura é um forte indicador de ruptura do LCA. Comparação entre um LCA saudável (esq.) e LCA roto (esq.), evidenciando a perda do contorno das fibras O tratamento desse tipo de lesão é inicialmente conservador, com uso de AINES e fisioterapia, para recuperação do equilíbrio muscular (exercícios de fortalecimento e isometria). Radiografias do joelho devem ser realizadas em AP e perfil, de forma a excluir a presença de fraturas Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO No entanto, se há instabilidade anterior significativa, impactando nas atividades de vida diária ou no esporte, a abordagem cirúrgica deve ser recomendada, com a substituição do LCA por um enxerto (ligamento patelar ou tendões de músculos da coxa) via artroscopia. Áreas possíveis para obtenção de enxerto na reconstrução do LCA A reabilitação, nesses pacientes, conta com treino de core, para melhora do controle neuromuscular, e exercícios isocinéticos excêntricos, capazes de fortalecer mecanismos de controle do movimento. Mesmo com esse amparo, déficits podem permanecer no membro lesionado, principalmente para atividades que necessitem de extensão da perna. RUPTURA DO LIGAMENTO CRUZADO POSTERIOR: Lesões ao LCP são menos frequentes que as do LCA, uma vez que é significativamente mais forte como resultado de inserções ósseas amplas. Esses eventos normalmente são consequência de golpes na face anterior da perna, deslocando-a para trás. O comprometimento de estruturas adjacentes é comum, sendo necessário avaliar possível lesão de vasos poplíteos. Mecanismos de trauma e lesões resultantes ao LCP O quadro clínico é semelhante ao observado na ruptura do LCA, sendo realizados os testes de gaveta posterior e Godfrey para investigação inicial, também confirmados por ressonância. Comparação entre a lesão do LCP (dir., com fibras borradas) e um ligamento saudável (esq.) Quando o comprometimento do LCP é isolado, o manejo é conservador, ao passo que a cirurgia é indicada na presença de dano em meniscos ou outros ligamentos. A estratégia de enxerto é a mesma usada no LCA. Reconstrução de LCP com enxerto de tendão patelar Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO O acompanhamento fisioterápico contempla a mobilização precoce, com ganho gradual de amplitude flexora, e a anteriorização passiva da tíbia, de modo a minimizar a tensão sobre a área operada. LESÕES DE OUTROS LIGAMENTOS: O diagnóstico de acometimentos do ligamento colateral medial (LCM) é realizado por meio do reste de estresse em valgo, reforçado com avulsões ósseas em áreas de projeção dessa estrutura, visíveis na radiografia. Progressão da lesão do ligamento colateral medial Quanto ao tratamento, as lesões parciais e estiramentos do LCM costumam apresentar bom prognóstico, com cicatrização após cerca de 6 semanas. Quando há ruptura completa deste, frequentemente também ocorre lesão de ligamento cruzado, possivelmente necessitando de intervenções cirúrgicas. No que se refere ao ligamento colateral lateral, por sua vez, as lesões raramente são isoladas, uma vez que ele se relaciona a muitas outras estruturas no controle da estabilização lateral do joelho, justificando o manejo cirúrgico como intervenção de escolha. As áreas mais comumente atingidas são o nervo fibular e o tendão do bíceps femoral. LESÃO DOS MENISCOS: O desenvolvimento de lesões aos meniscos pode ocorrer por meio de múltiplos mecanismos de trauma, principalmente pelo excesso de carga axial e torcional, uma vez que essas estruturas são empregadas constantemente na redução do estresse mecânico. Por possuírem terminações nervosas em sua porção externa, o quadro típico é de dor articular associada a edema e derrame articular e espasmos isquiotibiais, que simulam travamento do movimento do joelho. Destaca-se que essas manifestações são proporcionais ao grau de lesão meniscal, podendo também contar com percepção de crepitações e estalidos. O diagnóstico requer realização de testes especiais (Apley e McMurray) no exame físico, podendo ser respaldado pela realização de ressonância magnética. Radiografias do joelho em AP, perfil e incidência axial podem ser usadas para descartar outros diagnósticos. Sinais de lesão ao menisco observadas na RNM Rupturas desses ligamentos podem ser divididas de acordo com a intensidade do desgaste, sendo o 3º grau indicativo de lesão total Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO A principal forma de comprometimento do menisco é a lesão em alça de balde, na qual ele se mantém preso pelas extremidades, com toda a parte central rompida, afetando a maior parte do menisco medial. Padrões de lesão meniscal O tratamento conservador deve ser indicado em casos de lesões estáveis, menores que 1 cm ou em idosos, quando apresentam padrão degenerativo. Deve-se diminuir a carga com o uso de muletas, executando também exercícios de fortalecimento e de ganho de amplitude de movimento. A meniscectomia (retirada do menisco) pode ser parcial, com remoção apenas de fragmentos soltos, mantendo o anel periférico e o suprimento sanguíneo, ou total, muito menos usada atualmente. Após o procedimento parcial, há maior risco de desenvolvimento de osteoartrose no joelho, pois a aplicação de carga passa a se concentrar em um ponto menos, exercendo mais pressão sobre o osso. A sutura meniscal pode ser feita em lesões isoladas > 1 cm, situadas na periferia (área vascularizada), ou em pacientes < 45 anos que não apresentem lesão ativa de ligamentos. Resolução cirúrgica da lesão meniscal, por sutura ou remoção parcial A reabilitação pós-correção cirúrgica requer mobilizações passivas, técnicas de manipulação para alívio da dor e fortalecimento muscular, especificamente do glúteo médio, quadríceps femoral (em isometria), assim como treinamentos de propriocepção postural. OSTEOARTROSE DO JOELHO: A osteoartrose representa a doença articular mais comum atualmente, com incidência elevada principalmente após os 65 anos, decorrente de seu fator degenerativo. Sugere-se que a fisiopatologia desse distúrbio esteja associada a desequilíbrios entre degeneração e reparo do espalho articular, promovendo insuficiência da cartilagem e, consequentemente, inflamação. Esse processo desencadeia uma aplicação de carga cada vez mais intensa sobre o osso subcondral, que sofre esclerose.O quaro clínico costuma cursar com dor na articulação, principalmente ao apoiar peso sobre ela, além de “rangidos”, edema e derrame articular, possivelmente tendo sido realizados procedimentos prévios de drenagem. A limitação funcional é progressiva, com desconforto ao caminhar, Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO agachar-se ou permanecer de pé por muito tempo, sendo acompanhada por deformidade em varo ou valgo. O exame mais empregado para determinação diagnóstica é a radiografia do joelho, que revela diminuição do espaço articular, esclerose do osso subcondral, cistos subcondrais e o desenvolvimento de osteófitos na periferia articular. Radiografia de joelho afetado por osteoartrose Assim, os critérios para diagnóstico da osteoartrose, definidos pelo American College of Rheumatology são os seguintes: Critérios clínicos: o Dor nos joelhos na maior parte dos dias, no último mês; o Crepitação durante a movimentação ativa; o Rigidez matinal por menos de 30 minutos; o Idade > 38 anos; o Alargamento ósseo no exame físico do joelho. Critérios clínico-radiológicos: o Dor nos joelhos na maior parte dos dias, no último mês; o Osteófitos na radiografia; o Derrame articular; o Idade > 40 anos; o Rigidez matinal por menos de 30 minutos; o Crepitação durante a movimentação ativa. De acordo com o comprometimento osteoarticular evidenciado na radiografia, ainda é possível classificar a osteoartrose com níveis de gravidade, empregando a classificação de Albach. Parâmetros usados na classificação de Albach O tratamento clínico, direcionado a estágios iniciais da doença, conta com mudanças no estilo de vida (emagrecimento, prática de exercício físico) e uso de AINES e drogas condroprotetoras O controle cirúrgico, por sua vez, é reservado a quadros refratários, com a realização de intervenções que otimizem a biomecânica articular, como a vídeoartroscopia (remoção de corpos livres), osteotomia (desvio do eixo de carga) e a artroplastia do joelho (restauração da articulação). Representação de uma artroplastia total de joelho A reabilitação com fisioterapia pode tanto ampliar a capacidade de movimento (alongamentos estáticos e fortalecimento muscular) como promover o controle da dor, empregando para tanto a estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS). Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO TENDINOPATIAS E BURSITES: A tendinite patelar descreve um processo inflamatório periarticular sobre o tendão patelar, fortemente relacionada a atividades de impacto, como saltos (justificando a denominação de “joelho do saltador”). O sintoma mais comum é a dor no polo inferior da patela que pode surgir tanto após quanto durante o esforço físico. O diagnóstico é clínico e o tratamento, frequentemente conservador, com exercícios de fortalecimento excêntrico da coxa e uso de órteses e AINES. Representação topográfica do sítio doloroso na tendinite patelar A bursite pré-patelar, por sua vez, descreve a inflamação da Bursa, saco de líquido sinovial que minimiza a fricção entre a pele e a patela. Isso pode ocorrer de forma traumática aguda (quedas), traumática de repetição (ajoelhar-se repetidamente), infecciosa ou inflamatória (gota). O quadro é marcado por edema em região patelar e dor, que pode limitar os movimentos. O tratamento é conservador, empregando-se AINES para manejo da inflamação e estratégias de controle da causa-base. Topografia das bursas presentes no joelho, e edema inflamatório OSTEONECROSE DO JOELHO: Esse quadro pode ter manifestação espontânea (primária), predominante em mulheres com mais de 55 anos, de início súbito e unilateral, ou ser secundário ao uso de corticoides ou doenças autoimunes, apresentando quadro insidioso e bilateral, principalmente em jovens. O diagnóstico pode ser realizado precocemente por meio de ressonância magnética, uma vez que sinais radiográficos costumam surgir em estágios avançados. O cisto de Baker é uma manifestação geralmente benigna decorrente da distensão de bursas em região poplítea, causando dor e desconforto, decorrente do tamanho exagerado dos cistos Júlia Figueirêdo – LOCOMOÇÃO E APREENSÃO Presença de foco de osteonecrose em côndilo medial do fêmur O tratamento será dependente do estágio da doença, bem como da extensão do acometimento ósseo e, quando presente, da causa-base do distúrbio. Quando detectada na fase inicial, a cicatrização pode ser espontânea, sendo estimulada pelo uso de bisfosfonatos e por fisioterapia. A intervenção cirúrgica pode se basear tanto na descompressão central (perfuração de um orifício para diminuir a pressão intraóssea) como no uso de enxertos ósseos
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