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Marcas do câncer – resumo Oito capacidades marcantes atuais: o Sustentar a sinalização proliferativa – produção de FC pelas células tumorais; mutações ativadoras em oncogenes; hiperexpressão de genes que acionam o ciclo celular; o Evitar supressores de crescimento – mutação com perda de função ou deleção de genes supressores de tumor; modificação na atividade de fatores de crescimento que inibem a proliferação celular; o Resistir à morte celular – evasão da apoptose o Permitir a imortalidade replicativa – evasão da senescência replicativa; o Induzir/acessar a vasculatura – os tumores podem se tornar suficientemente vascularizados, seja pela ativação da angiogênese ou pela cooptação de vasos de tecidos normais. o Ativar a invasão e metástase – as células malignas têm menor adesão entre si; existem alterações em genes que codificam moléculas de adesão, com deleção de alguns e ativação de outros, de modo a facilitar que as células se destaquem da massa primitiva e se desloquem na MEC. o Reprogramar o metabolismo celular – as células tumorais são submetidas a uma mudança metabólica para a glicólise aeróbica (efeito warburg), que permite a síntese de macromoléculas e organelas que são necessárias para o crescimento celular rápido. o Evitar a destruição imunológica – as células cancerígenas apresentam inúmeras alterações que lhes permitem evadir a resposta imune do hospedeiro. Características habilitantes (fatores de capacitação): consequências da condição aberrante da neoplasia que fornece meios pelos quais células cancerígenas e tumores podem adotar esses traços funcionais. • Inflamação promotora de tumor; • Instabilidade e mutação do genoma; Marcas emergentes: • Reprogramação do metabolismo celular; • Evitar destruição imune; Características emergentes e características de habilitação: • Desbloqueio da plasticidade fenotípica; • Reprogramação epigenética não mutacional; • Microbiomas polimórficos; • Células senescentes; A aquisição das alterações genéticas e epigenéticas que conferem essas marcas pode ser acelerada pela instabilidade genômica e pela inflamação promotora do câncer. Essas características são consideradas capacitantes pois promovem a transformação celular e a progressão subsequente do tumor. DESBLOQUEIO DA PLASTICIDADE FENOTÍPICA É um meio pelo qual as células cancerígenas usam para evadir ou escapar do estado de diferenciação terminal antiproliferativo que limita a proliferação contínua dessas células. PLASTICIDADE FENOTÍPICA → capacidade de um determinado ser vivo apresentar diferentes características em função das condições ambientais. DESDIFERENCIAÇÃO de células maduras de volta à estados progenitores. DIFERENCIAÇÃO BLOQUEADA para congelar células em desenvolvimento em estado de células progenitoras/tronco. TRANSDIFERENCIAÇÃO para linhagens celulares alternativas. DESDIFERENCIAÇÃO É o processo no qual uma célula adulta, já diferenciada, regride para um estágio indiferenciado, sendo capaz de originar novos tipos de células. Na desdiferenciação, células cancerígenas originárias de uma célula normal que avançou por uma via aproximando- se ou assumindo um estado totalmente diferenciado, podem reverter seu curso e voltar para um estado celular semelhante a célula que a deu origem. As células perdem o estado de diferenciação e retornam a estados mais indiferenciados, adquirindo propriedades de células tronco com grande plasticidade, sendo capazes de originar progenitores dos três folhetos embrionários. CARCINOGÊNESE DO CÓLON → a proteína homebox HOXA5 e SMAD4 que são altamente expressas em células epiteliais são perdidas. A HOXA5 quando expressada em células do cólon, suprime fenótipos de células-tronco e prejudica a invasão e metástase. O SMAD4 quando expressa, suprime a proliferação impulsionada pela sinalização oncogênica de WNT (via de sinalização). Quando suprimidas/perdidas, ocorre a desdiferenciação e subsequente a hiperproliferação orientada pela WNT. MELANOMA MALIGNO → ocorre a supressão da expressão do fator de transcrição MITF (regulador da diferenciação de melanócitos) e consequentemente a reativação de genes da crista neural e a regulação negativa de genes que caracterizam melanócitos. O reaparecimento de genes da crista neural indica que essas células revertem ao estado progenitor do qual os melanócitos surgem no desenvolvimento. O MITF quando expresso, consegue suprimir o oncogene BRAF e o FT ATF2. A desdiferenciação e a diferenciação bloqueada estão interligadas. DIFERENCIAÇÃO BLOQUEADA Células progenitoras incompletamente diferenciadas podem sofrer alterações regulatórias que bloqueiam ativamente seu avanço contínuo em estados totalmente diferenciados, tipicamente não proliferativos. Ocorre um curto-circuito no processo, mantendo as células cancerígenas em estado semelhante ao progenitor parcialmente diferenciado. LEUCEMIA PROMIELOCÍTICA AGUDA (LPA) → ocorre uma translocação que funde o locus PML com o gene que codifica o receptor nuclear alfa do ácido retinóico. Sendo assim, as células progenitoras mieloides portadoras de tais translocações se tornam incapazes de continuar sua diferenciação terminal em granulócitos, resultando em células presas em um estágio progenitor promielocítico proliferativo. LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA → portadora da translocação t, que produz a proteína de fusão AML1-ETO. Essa proteína pode transformar progenitores mieloides, pelo menos em parte, bloqueando sua diferenciação. MELANOMA → a expressão de SOX10 (fator de transcrição) bloqueia a diferenciação de células progenitoras neurais em melanócitos. OUTROS EXEMPROS DE MODULADORES DE DIFERENCIAÇÃO: CÂNCER DE PÂNCREAS → o supressor tumoral p53 estimula a produção de alfa-cetoglutarato (cofator de várias enzimas modificadoras da cromatina) e a manutenção de um estado celular mais bem diferenciado, enquanto a perda prototípica da função da p53 resulta em reduções nos níveis de alfa-cetoglutarato e consequente desdiferenciação associada a progressão maligna. CÂNCER DE FÍGADO → ocorre a mutação de um gene da isocitrato desidrogenase (IDH1/2) que resulta na produção de um oncometabólito, D-2-hidroxigluterato (D2HG), esse vai bloquear a diferenciação de hepatócitos de células progenitoras do fígado por repressão mediada por D2HG de um regulador de diferenciação de hepatócitos quiescente, HNF4a. TRANSDIFERENCIAÇÃO. Células que foram inicialmente comprometidas em uma via de diferenciação, mudam para um programa de desenvolvimento totalmente diferente, adquirindo assim características específicas do tecido que não foram pré- ordenadas por suas células de origem normais. Conhecida como metaplasia tecidual, em que células de um fenótipo diferenciado particular alteram marcadamente sua morfologia para se tornarem claramente reconhecíveis como elementos de outro tecido. ESÔFAGO DE BARRETT → a inflamação crônica do epitélio escamoso estratificado do esôfago induz a transdiferenciação em um epitélio colunar simples que é característico do intestino, facilitando o desenvolvimento de adenocarcinomas e não os carcinomas de células escamosas como esperado para surgir desse epitélio escamoso. ADENOCARCINOMA DUCTAL PANCREÁTICO (PDAC) → a célula acinar pancreática, pode se tornar transdiferenciada em um fenótipo de célula ductal durante o início do desenvolvimento neoplásico. O fatores de transcrição PTF1 e MIST1 expressam no contexto de loops regulatórios auto-sustentáveis, manutenindo o estado diferenciado das células acinares pancreáticas. A supressão de PTF1 induz a metaplasia acinar-ductal, ou seja, a transdiferenciação. Da mesma forma, a deleção genética de MIST1 aumenta a formação de lesões pré-malignas e a progressão neoplásica induzida pelo K-RAS. Quando háperda desses fatores de transcrição durante a tumorigênese há a expressão de outro FT, o SOX9, que normalmente opera na transdiferenciação de células acinares pancreáticas em ductais, tornando-as sensíveis a K-RAS. REPROGRAMAÇÃO EPIGENÉTICA NÃO MUTATIVA A epigenética se refere a alterações reversíveis, hereditárias, na expressão gênica que ocorrem sem mutação. Essas alterações envolvem modificações pós-translacionais das histonas e metilação do DNA, que afetam a expressão gênica. As células cancerosas são caracterizadas por uma hipometilação global de DNA e hipermetilação seletiva localizada no promotor. Sendo assim, os genes supressores de tumor, algumas vezes, são silenciados pela hipermetilação das sequências promotoras e não por mutação. Tumores são compostos de células cancerosas geneticamente transformadas, interagindo e se beneficiando de células acessórias (estromais) recrutadas e epigeneticamente corrompidas. MECANISMOS MICROAMBIENTAIS DE REPROGRAMAÇÃO EPIGENÉTICA Propriedades do microambiente tumoral podem causar mudanças no epigenoma, como seleção fenotípica das capacidades de marca registrada podem resultar em crescimento clonal de células cancerígenas com maior aptidão para expansão proliferativa. HIPÓXIA → A vascularização insuficiente limita a biodisponibilidade de nutrientes essenciais transmitidos pelo sangue. A hipóxia reduz a atividade das TET demetilases e contribui para hipermetilação. A hipóxia desencadeia a angiogênese através de HIF-1α na transcrição do VEGF, que é um fator pró-angiogênico. Esses fatores criam um gradiente angiogênico que estimula a proliferação de células endoteliais e orienta o crescimento de novos vasos em direção ao tumor. METILAÇÃO DO DNA → responsável pelo silenciamento de alguns genes supressores de tumor. MODIFICAÇÃO DE HISTONAS → histonas são proteínas que agrupam o DNA na cromatina, o que, dependendo de sua natureza, podem aumentar ou diminuir a expressão gênica. TRANSIÇÃO EPITÉLIO-MESENQUIMAL (EMT) → indução reversível de invasão de células cancerosas nas margens de muitos tumores sólidos. O ZEB1, regulador da EMT, induz a expressão de uma histona metiltransferase (SETD1B), que sustenta a expressão de ZEB1 em um loop de feedback positivo que mantém o estado regulador de EMT (invasivo). SNAIL1 → repressor transcricional de e-caderina. ATIVAÇÃO AUTÓCRINA → ocorre quando uma célula secreta um mensageiro químico para atuar em seus próprios receptores. HETEROGENEIDADE REGULADORA EPIGENÉTICA A heterogeneidade caracteriza a diversidade fenotípica em que as células mais aptas para expansão proliferativa e invasão superam seus irmãos e, portanto, são selecionadas para progressão maligna. HETEROGENEIDADE INTRATUMORAL → conjunto variável de mutações gênicas dentro de um mesmo tumor. A reprogramação epigenética, as células normais são corrompidas para apoiar funcionalmente o desenvolvimento e a progressão do tumor. Essa reprogramação pode envolver modificações do epigenoma, além do intercâmbio indutivo de citocinas, quimiocinas e fatores de crescimento que alteram as redes de sinalização intracelular em todos esses tipos de células. REGULAÇÃO EPIGENÉTICA NO MICROAMBIENTE TUMORAL MICROAMBIENTE TUMORAL → composto de populações heterogêneas e interativas de células cancerígenas e células tronco cancerosas, juntamente com uma multiplicidade de tipos de células estromais recrutadas. As células acessórias no microambiente tumoral que contribuem funcionalmente para a aquisição de capacidades marcantes, não sofrem instabilidade genética e reprogramação mutacional para aumentar suas atividades promotoras de tumor. Infere-se que essas células, fibroblastos associados ao câncer, células imunes inatas e células endoteliais e periquitos da vasculatura tumoral, são epigeneticamente reprogramadas após seu recrutamento por fatores solúveis e físicos que definem o microambiente do tumor sólido. ESTROMA → é composto de tecido conectivo normal contendo fibroblastos, miofibroblastos, leucócitos inflamatórios e células endoteliais do câncer. O tumor e seu estroma se desenvolvem juntos e o tumor se torna dependente das células do estroma. MICROBIOMAS POLIMÓRFICOS MICROBIOMA → São ecossistemas criados por bactérias e fungos. A variabilidade polimórfica nos microbiomas podem ter efeitos protetores ou deletérios no desenvolvimento do câncer, progressão maligna e resposta à terapia. Microbiomas polimórficos em um indivíduo versus outro, sendo residentes no cólon, outras mucosas e órgãos conectados, ou nos próprios tumores, podem influenciar de forma diversa, induzindo ou inibindo muitas das capacidades características e, portanto, são potencialmente uma variável instrumental e quase independente no quebra-cabeça de como os cânceres se desenvolvem, progridem e respondem à terapia. DIVERSOS EFEITOS MODULADORES DO MICROBIOMA INTESTINAL DISBIOSE → distorções nas populações microbianas que podem causar um espectro de doenças fisiológicas. CÂNCER DE CÓLON → a patogênese é influenciada pelo microbioma intestinal. CÉLULAS SENESCENTES É uma forma tipicamente irreversível de parada proliferativa que provavelmente evoluiu como um mecanismo protetor para manter a homeostase do tecido, ostensivamente como um mecanismo complementar à morte celular programada (apoptose), que serve para inativar e, no devido tempo, remover células doentes, disfuncionais ou desnecessárias. A senescência celular é uma resposta ao estresse que provoca uma parada permanente do ciclo celular e desencadeia profundas mudanças fenotípicas, como a produção de um secretoma bioativo, conhecido como fenótipo secretor associado a senescência (SASP). Esse é capaz de transmitir, de forma parácrina, moléculas sinalizadoras que contribuem para as capacidade marcantes de células cancerosas senescentes. A subunidade TERT da telomerase (com atividade de transcriptase reversa), estimula a via WNT, ativando a β- catenina, fator de transcrição que aciona genes favorecedores da proliferação celular; TERT também inibe a apoptose. A ativação da telomerase em células cancerosas, portanto, atua na evasão da senescência replicativa, diminui a apoptose e amplifica os mecanismos de proliferação celular. SENESCENCIA INDUZIDA POR ONCOGENE Ocorre devido a sinalização hiperativada e senescência induzida por terapia, consequente a danos celulares e genômicos causados por quimioterapia e radioterapia. SENESCÊNCIA TRANSITÓRIA Estados celulares senescentes transitórios e reversíveis, pelos quais as células cancerígenas senescentes podem escapar de sua condição não proliferativa que expressa SASP, e retornar à proliferação celular e a manifestação das capacidades associadas de células oncogênicas totalmente viáveis. Resistência a terapia.
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