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1 LEITURA DE PROJETOS PARÂMETROS DE ARQUITETURA Le Corbusier “Vocês usam pedra, madeira e concreto, e com esses materiais constroem casas e palácios;isso é construção. A inventividade está em ação. De repente, porém,vocês tocam meu coração, fazem-me bem; fico feliz e digo:”Isso é bonito”. Isso é arquitetura. Existe a participação da arte. Minha casa é prática. Agradeço a vocês, como poderia agradecer aos engenheiros ferroviários ou ao serviço telefônico. Vocês não tocaram meu coração.mas suponhamos que as paredes se elevem aos céus de um modo que me deixe emocionado. Percebo suas intenções: seus estados de espírito foram gentis, brutais, encantadores ou nobres. É o que me dizem as pedras que vocês erigiram. Vocês me fixam no lugar e meus olhos o contemplam. Eles vêem algo que expressa uma idéia. Uma idéia que se manifesta sem som ou palavra, mas unicamente através de formas que mantêm uma certa relação mútua. Essas formas são tais que se revelam claramente à luz. As relações entre elas não têm, necessariamente, nenhuma referencia àquilo que é prático ou descritivo. São uma criação matemática que a mente de vocês gerou. São a linguagem da Arquitetura. Com o uso de materiais inertes e partindo de condições mais ou menos utilitárias, vocês estabeleceram certas relações que despertam minhas emoções. Isso é Arquitetura.” Le Corbusier - Vers une architecture, 1923 Charles Édouard Jeanneret (seu verdadeiro nome) adotou o pseudônimo Le Corbusier em 1923 com a publicação da revista Vers une Architecture. Participa do movimento de vanguarda na França como forma necessária para renovação da cultura artística; Mediador entre a tradição francesa e movimento moderno; Se propõe a superar o contraste entre progresso técnico e arte; Le Corbusier define técnica e arte como dois valores paralelos:”o engenheiro, inspirado na lei da economia e levado pelo cálculo, entra num acordo com as leis do universo; o arquiteto, pela disposição que imprime à forma, realiza uma ordem que é a pura criação de seu espírito”.”Três lembretes aos senhores arquitetos: volumes simples, superfícies definidas mediante as linhas diretrizes dos volumes, a planta como princípio gerador”. A arquitetura deve ser submetida ao controle dos traçados geométricos reguladores; os elementos da nova arquitetura já podem ser reconhecidos nos produtos industriais: as naves, os aeroplanos, os automóveis; os meios da nova arquitetura são as relações que enobrecem os materiais rudes, o exterior como projeção do interior, a moda natural como pura criação espiritual; a 2 casa deve ser construída em série, como uma máquina;”Os arquitetos vivem na estreiteza das aquisições escolares, na ignorância das novas regras de construir, e suas construções param habitualmente nas pombas que se entrebeijam. Mas os construtores de transatlânticos, ousados e sábios, realizam palácios juntos dos quais as catedrais são bem pequenas: e eles os atiram na água! A arquitetura asfixia-se nos hábitos.” Relacionando a casa aos aviões Corbusier diz:”Coloco-me, do ponto de vista da arquitetura, no estado de espírito do inventor dos aviões. A lição do avião não está tanto nas formas criadas e, para começar, é preciso aprender a não ver em um avião um pássaro ou uma libélula, mas uma máquina de voar; a lição do avião está na lógica que presidiu ao enunciado do problema e que conduziu ao sucesso de uma realização. Quando um problema é colocado, na nossa época, sua solução é fatalmente encontrada.” Aldo Rossi:”Le Corbusier oferece a solução poética, que é a única que todos parecem reconhecer, mas que é também a solução mais prática e acertada. Não conheço uma definição mais exata e culta da função da casa na arquitetura moderna do que aquela que ele ofereceu: a casa é uma machine à habiter. Esta definição é tão precisa que ainda suscita o desprezo de muitos críticos; e ressalte-se que é muito mais do que um simples slogan. É a definição mais revolucionária da arquitetura moderna.”(Rossi, A. Casabella, n. 246 (1960), p. 4.) Em 1908, Le Corbusier entra em contato com o arquiteto parisiense Auguste Perret que foi o 1º arquiteto a utilizar estrutura de concreto armado em um edifício residencial. Esta técnica construtiva, inovadora na época, era capaz de trazer mais luz e mais ar aos ambientes através dos grandes vãos e aberturas que a mesma propicia. Trabalhou com ele por um tempo e depois foi para a Alemanha onde entrou em contato com Gropius e Mies Van der Rohe, pioneiros do movimento moderno, que já trabalhavam numa nova estética onde aliavam o funcionalismo industrial e a beleza da geometria clássica. Em 1926 Le Corbusier e Pierre Jeanneret (arquiteto, primo e colaborador de Le Corbusier) publicam o documento “cinco pontos de uma nova arquitetura”: • Os Pilotis • Os tetos jardins • A planta livre • A fachada livre • As janelas horizontais 1. Os Pilotis: 3 O concreto armado torna possível os pilotis. A casa fica no ar, longe do terreno; o jardim passa sob a casa, o jardim também está sobre a casa, no teto. Pilotis, liberando o edifício do solo e tornando público o uso deste espaço antes ocupado, permitindo inclusive a circulação de automóveis; 2. Os tetos-jardim: Terraço jardim, transformando as coberturas em terraços habitáveis, em contraposição aos telhados inclinados das construções tradicionais; O concreto armado é o novo meio que permite a realização de coberturas homogêneas. Dilata-se acentuadamente e a dilatação faz romper a estrutura. É necessário procurar manter a umidade constante sobre o concreto do terraço e, portanto a temperatura regulada. Areia recoberta por lajes de concreto, com juntas afastadas. Nestas juntas são plantadas com grama. Areia e raízes não deixam que a água se infiltre rapidamente. Os jardins terraço tornam-se opulentos: flores, arbustos e árvores, um prado. 3. Planta livre: Resultado direto da independência entre estruturas e vedações, possibilitando maior diversidade dos espaços internos, bem como mais flexibilidade na sua articulação; O concreto armado traz para a casa a planta livre. Os andares não precisam mais ser encaixados uns sobre os outros. Estão livres. Através de uma estrutura independente permite a livre locação das paredes, já que estas não mais precisam exercer a função estrutural. 4. Fachada livre: Resulta igualmente da independência da estrutura. Assim, a fachada pode ser projetada sem impedimentos. A fachada está livre; as janelas, sem se interromperem, podem correr de um lado para o outro da fachada. Também permitida pela separação entre estrutura e vedação, possibilitando a máxima abertura das paredes externas em vidro, em contraposição às maciças alvenarias que outrora recebiam todos os esforços estruturais dos edifícios; 5. Janelas horizontais, em fita (em banda): O concreto revoluciona a história da janela. As janelas podem correr de um lado para o outro da fachada. Possibilitadas pela fachada livre, permitem uma relação desimpedida com a paisagem. 4 Janelas como aberturas longilíneas que cortam toda a extensão do edifício, permitindo iluminação mais uniforme e vistas panorâmicas do exterior. 1922- Maison Dom-Ino A teoria dos cinco pontos; os pilotis, a planta livre, a fachada livre, as janelas em fita e o terraço jardim, formulada em 1926, e a invenção do sistema Dom-ino, buscavam uma forma de padronização ou uma lógica compositiva que permitisse uma grande flexibilidade. Charles Jenks diz em seu livro”Le Corbusier e a revolução contínua em arquitetura”:”O sistema Dom-ino é o grande, primário princípio estrutural moderno”. Jogo com a palavra Dom-Inocomo nome industrial patenteado, denotando uma casa tão estandartizada quanto um dominó. Jogo que adquiria força de um quebra cabeça literal, onde as colunas livres podem ser vistas em planta como pontos de dominó, e onde o padrão em ziguezague de um agregado dessas casas lembrava a formação de um jogo de dominó. O sistema Dom-Ino como uma peça de equipamento, análoga em sua forma e modo de montagem a uma peça típica do design de produtos. “Se eliminarmos de nossos corações e mentes os conceitos mortos a propósito das casas e examinarmos a questão a partir do ponto de vista crítico e objetivo, chegaremos à”Máquina de Morar”, a casa de produção em série, saudável (também moralmente) e bela como são as ferramentas e os instrumentos de trabalho que acompanham nossa existência”. Este sistema foi pensado para uma produção em série, de baixo custo, a ser empregado na realização de bairros populares. 5 Dom-ino: independência funcional e formal entre vedação e estrutura possibilitada pela construção em esqueleto. planta livre - a configuração da vedação obedece a raciocínios primariamente topológicos e não necessariamente idênticos em pavimentos diferentes; Dom-ino era também uma precisão sobre esta estrutura independente. Um sistema de lajes lisas paralelas repousando sobre fileiras paralelas de suportes e prolongando-se em balanço, de tal maneira que não existe congruência entre perímetro das lajes e perímetro da malha de suportes. O princípio de independência entre vedação e estrutura se desdobrava via Dom-ino em independência entre vedação e suporte, suporte e laje e, por extensão, entre vedação e laje. Dom-ino postulava uma sintaxe geométrico-construtiva aberta a uma considerável variedade de possibilidades compositivas. 6 7 8 O Pensamento de Le Corbusier O ambiente é o início do século XX. A fé desloca-se de Deus para a Ciência. Freud investiga o potencial do ser humano. Marx discute a luta de classes. O ser humano ganha o centro das atenções. O homem é a medida de tudo e de todas as coisas. 9 Nasce o Modulor. Nos primeiros anos da 2ª Guerra Mundial Le Corbusier criou o sistema que se chamou MODULOR. Modulor é uma palavra composta a partir de module e section d´or ou secção de ouro: a divisão de uma reta de tal modo que o segmento menor está para o maior assim como o segmento maior está para o todo. O Modulor é um sistema de proporcionamento do espaço arquitetônico baseado neste critério geométrico, e oferece toda uma gama de dimensões. “A matemática é o magistral edifício imaginado pelo homem para compreender o Universo. Nela encontra-se o absoluto e o infinito, o apreensível e o não-apreensível, e está rodeada de altos muros diante dos quais pode-se passar e de novo passar sem proveito nenhum. Neles às vezes abre-se uma porta, entra-se e aí se está no lugar onde se encontram os deuses e as chaves dos grandes sistemas. Estas portas são as portas dos milagres, e, franqueada uma delas, já não é o homem quem atua, porém o Universo que se manifesta e diante dele desenrolam-se os prodigiosos tecidos das combinações sem limites. Estais no país dos números. Deixai-vos permanecer nele, maravilhados diante de tanta luz intensamente espalhada”. Depois que publica o artigo “Os traçados reguladores” na L´Esprit Nouveau, em 1921, Le Corbusier conhece os livros de Matila Ghyka, sobre a proporção áurea, que lhe confirmam e demonstram matematicamente assuntos que já o ocupavam. E também em suas pinturas, experimenta a plasticidade sobreposta a uma rigorosa geometria. Baseado na razão de ouro e nos números de Fibonacci e usando também as dimensões médias humanas (dentro das quais considerou 183 cm como altura standard), o Modulor é uma sequência de medidas que Le Corbusier usou para encontrar harmonia nas suas composições arquitecturais. O Modulor foi publicado em 1950 e depois do grande sucesso, Le Corbusier veio a publicar, em 1955, o “Modulor 2”. 10 11 Os projetos de Le Corbusier, desde as primeiras produções da Maison Dom-ino, mostraram um pensamento arquitetônico que não dispensa as considerações sobre a cidade. A Cidade Contemporânea para três milhões de habitantes (1922) mostra sua capacidade de desenvolver os aspectos urbanos da arquitetura e sua busca pelo ideal de cidade voltada à humanização da vida. Material básico para seus projetos: Sol, espaço e verde. A cidade contemporânea pensada como um espaço organizado segundo uma grelha ortogonal onde escritórios são dispostos em torres em forma de cruz de 60 andares no centro e as residências são organizadas em blocos com 10 a 20 andares (moradias duplex com um jardim suspenso). O restante do espaço urbano é ocupado por grandes massas de verde e amplos eixos de estradas para facilitar o tráfego de veículos. 12 “A cidade contemporânea de três milhões de habitantes” Se o homem pode ser a medida e a referência de tudo, então é a partir dele e das suas necessidades básicas que o pensamento arquitetônico vai ser pautado. Para Le Corbusier, as cidades são ineficazes: desgastam o corpo, contrariam o espírito. A desordem que se multiplica nelas é ultrajante: sua decadência fere nosso amor- próprio e melindra nossa dignidade. Elas não são dignas da época: já não são dignas de nós (Le Corbusier, 2000, p. VII). Le Corbusier -preocupado com a maneira como a espécie humana se organiza nos assentamentos humanos - ele pensa em um ideal. Para ele, o caos e a desordem da cidade pré-moderna devem passar por uma transformação. E essa transformação é constituída de um ato de ordenar, de retificar, no sentido de tornar reto, alinhado, segundo os preceitos da boa ordem arquitetônica. 13 14 15 16 17 18 19 20 EXERCÍCIO EM SALA DE AULA: Grupos de 4 pessoas: Arquitetura e industrialização- traçar paralelos e possibilidades. • É possível atender a diversidades de necessidades criando projetos padrão? • A arquitetura pode ser vista como um produto industrial? Como um objeto de consumo? EXERCÍCIO EXTRA AULA: GRUPO DE 2 PESSOAS. Leitura sobre Le Corbusier e resenha sobre o arquiteto. Bibliografia: CORBUSIER, Le.”Por uma Arquitetura”. São Paulo: Perspectiva,2002. BAKER, Geoffrey Howe.”Le Corbusier- Uma análise da forma”. São Paulo: WMF Editora, 1998. CORBUSIER, Le.”Os três estabelecimentos humanos”. São Paulo: Perspectiva, 1976. FRAMPTON, Kenneth.”História Crítica da Arquitetura Moderna”.São Paulo: Martins Fontes, 2000. BENEVOLO, Leonardo.”História da Arquitetura Moderna”. São Paulo: Perspectiva, 1976. CORBUSIER, Le.”Precisões”. São Paulo. Cosac Naify, 2004. http://architizer.com/blog/corbusier-videos/ https://www.youtube.com/watch?v=nAfmba3hLPw https://www.youtube.com/watch?v=3ChtM71axgA
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