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resenha do filme "Sociedade dos Poetas Mortos"

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Universidade Federal da Fronteira Sul
UFFS Erechim
Curso: Ciências Sociais Turma: 2015/1
Disciplina: Produção Textual Acadêmica 
Professor: Anderson Jair Goulart 
Acadêmico: Tiago Fernando Afonso 
Nº de matrícula: 1515742013
Resenha do filme: “Sociedade dos Poetas Mortos”.
Os jogos de poder nas instituições sociais
O drama cinematográfico de 1989 “Dead Poets Society” (Sociedade dos Poetas Mortos) conquistou o Oscar de Melhor Roteiro Original, e foi indicado ao prêmio nas categorias de Melhor Diretor, Melhor Edição e Melhor Ator.
O enredo da trama se passa em 1959 na Welton Academy uma instituição exclusivamente para rapazes de pele branca e de famílias ricas, tendo a escola a incumbência de preparar os jovens para as melhores universidades americanas. Reconhecida por sua metodologia fundamentada em quatro pilares: Tradição, Honra, Disciplina e Excelência, a trajetória da instituição se resume em um rígido código de normas e de construção de valores preocupados em primeiro lugar com a satisfação lógica intelectual dos interesses financeiros dos mantenedores do sistema econômico vigente. Criando futuros homens sem sentimentos, sem emoção, sem paixão, sem fantasia, seres aprisionados em uma estrutura social aristocrática, onde apenas os melhores terão um futuro brilhante. 
O filme contempla campos analisados nas ciências sociais, pois aborda além das relações pessoais, ou seja, aquelas que acontecem entre os personagens – agentes possuidores de diversos sentidos subjetivos em suas ações na sociedade (WEBER, 2003) – mas também os campos das instituições sociais formadoras: a família, a religião e a escola (DURKHEIM, 2007). O doutrinamento insistente na manipulação e coação aos alunos funcionam como “dispositivos de poder” utilizados com a finalidade de dominar o mais fraco socialmente. (FOUCALT, 1979).
Para o autor, dispositivos de poder agem como:
[...] um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre estes elementos. Em segundo lugar, gostaria de demarcar a natureza da relação que pode existir entre estes elementos heterogêneos. Sendo assim, tal discurso pode aparecer como programa de uma instituição ou, ao contrário, como elemento que permite justificar e mascarar uma prática que permanece muda; pode ainda funcionar como reinterpretação desta prática, dando-lhe acesso a um novo campo de racionalidade. Em suma, entre estes elementos, discursivos ou não, existe um tipo de jogo, ou seja, mudanças de posições, modificações de funções, que também podem ser muito diferentes. Em terceiro lugar, entendo dispositivo como um tipo de formação que, em um determinado momento histórico, teve como função principal responder a uma urgência. O dispositivo tem, portanto, uma função estratégica dominante (FOUCAULT, 1979, p. 244). 
O pós-guerra abala diversas estruturas dos Estados Unidos, inclusive a educacional que até então era inconsistente na formação desde os anos iniciais. O Estado e a comunidade científica, ao se analisarem em desvantagem em relação à União Soviética nesse aspecto, iniciam a reforma do currículo escolar para que deixe de existir um “abismo” entre o High School e a universidade, que neste momento se torna demanda social científica e de mercado para os setores econômicos públicos e privados para diversos outros interesses. (MORAES, 2004). Nesse sentido, a abordagem do filme enquadra a instituição escolar como única capaz de capacitar, treinar e desenvolver os jovens para o futuro mercado de trabalho. 
As imposições das instituições sobre os indivíduos.
O premiado roteiro de Tom Schulman explora as relações de poderes e liberdade de escolha entre essas estruturas já moldadas e engessadas no tempo, e a vida fulgaz que brota nas veias vigorosas dos adolescentes. O desenvolvimento põe em questão como as estruturas conservadoras impõem rigidez quando são questionadas a respeito de mudanças.
Entretanto, a chegada do professor John Keating (Robin Williams) e seu pródigo método do ensino teórico de literatura inglesa inicia um grande processo de reflexão e crítica à ordem social implícita e às práticas explicitas aos estudantes. Partindo do ponto de que a sociedade capitalista é uma criação do homem, logo, pode ser consumida de diferentes maneiras e usando a expressão latina Carpe Diem os aconselha a entender a vida como um momento único, sugerindo que aproveitem o momento presente.
Aturdidos pelos acontecimentos e informações obtidas sobre o passado do professor, um grupo de alunos aborda e questiona Keating sobre a “Sociedade dos Poetas Mortos”. Ele explica que se tratava de uma reunião de criação, que visava inspirar a sensação de liberdade e repulsa a todas as privações que sofriam na Welton Academy.
A fotografia de John Seale mostra imagens da natureza, humilde e bucólica, não aproveitada pela burguesia racional focada no progresso e na ciência. Outra imagem interessante que remete ao paganismo e a subversão dos alunos é a ida pela primeira vez à caverna onde os membros da Sociedade dos Poetas Mortos se encontram para as reuniões. A trilha sonora contribui com o clima bucólico, as músicas instrumentais despertam sentimentos nostálgicos no decorrer do filme.
A produção de Peter Weir aborda a questão da educação que deixa de formar agentes pensantes, para aumentar os gestores. Nesse processo em meio ao caos e de re-descobertas, os adolescentes vão ver e sentir florescer seus sentimentos enclausurados, vão se empoderar de atos de coragem contra o sistema que os limita e molda a sociedade. O desenrolar da trama está no clímax de expectativa dos personagens de que o inesquecível e o imprevisível construam os sentidos de suas novas ações e que as reações sejam experiências transcendentais. No entanto, a estrutura conservadora, com seus métodos violentos mascarados e sua intelectualidade burguesa capitalista consegue manter sua aparência através de seus discursos tradicionalistas.
A catarse que envolve o personagem Neil Perry na conclusão da trama alude a dois comportamentos abordados por Durkheim em uma de suas pesquisas. Se por um lado a ação foi “fatalista”, pois o personagem estava em um regime de doutrinamento e obrigações, também pode ser reconhecida como “altruística”, pois sua atitude, apesar de ter causados certas perdas à organização até então estabelecida, promove o despertar do entendimento como uma ação coletiva, para que daí um bem maior sucedesse. (GIDDENS, 2005).
Empoderamento do dispositivo de segurança.
Na lógica do dispositivo proposto por Foucault dentro do contexto histórico americano as instituições acadêmicas impunham suas regras, reflexo de uma sociedade arcaica, não preocupada com os sentimentos dos jovens, mas somente em prepará-los para o mercado financeiro que via esperanças no futuro presidente John Kennedy. Entretanto, a lógica do dispositivo se reverte contra a instituição, não para superá-la, mas mostrando que é possível ver o mundo e as limitações por outros ângulos. Mostra o crescimento intelectual dos alunos a partir da vivência proporcionada pelas aulas do professor Keating, demonstrando que ser militante não é apenas gritar ao mundo as injustiças, mas sim afirmar as convicções pessoais, fazê-lo com sinceridade, sabendo justificar suas escolhas.
A reforma do sistema educacional dos Estados Unidos e a valorização da cultura científica serviram de combustível para que diversos cientistas políticos, sociólogos, antropólogos, psicólogos e demais representantes dos estudos humano-sociais reivindicassem o status de ciência e sua difusão, inclusive e principalmente no ensino, como exemplificado no filme. A teoria é a base do conhecimento cientifico, mas fica claro que a experiência empírica também é de extrema importânciana constituição de agentes pensantes, principalmente para estudantes do ensino médio, pois dependente ou independente da carreira seguida, a prática e o conhecimento científico social, se torna um dispositivo empoderador de quem o utiliza.
 
Referências:
WEBER, M. A objetividade do conhecimento nas ciências sociais. In: Sociologia. (org.) Gabriel Cohn. 7. Ed. Ática São Paulo. 2003.
DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. 3. Ed. Martins Fontes. São Paulo. 2007.
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 23. Ed. Graal. Rio de Janeiro. 1979.
GIDDENS, A. Sociologia. 4. Ed. Artmed. Porto Alegre. 2005.
FILHO, D. Estilos de época na literatura. 4. Ed. Rio – SP. São Paulo 1973
MORAES, A. O que temos de aprender para ensinar ciências sociais. São Paulo. 2004.
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-5280/ Acesso em 11/07/2015

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