Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Louyse Jerônimo de Morais Distopias testiculares Referência: aula do prof. Daniel Rangel + medcurso 2020 Introdução • Nomenclatura o Testículo não-descido não palpável ou criptorquidia: quando se palpa a bolsa escrotal e o canal inguinal, mas não se encontra testículo em nenhum local. Então, não se sabe se o testículo existe ou não – testículo oculto. o Testículo não-descido palpável: quando o testículo não descido é palpável no canal inguinal. Nesse caso, indica uma cirurgia denominada orquidopexia. o Testículo ectópico: testículo fora do trajeto de descida normal, como na região suprapúbica, períneo, raiz da coxa ou lado contralateral. o Testículo não-palpável: mesma coisa que criptorquidia. o Testículo retrátil: testículo palpável no canal inguinal que retorna à bolsa escrotal ao exame clínico. o Testículo não descido tardio Se, ao palpar uma criança, não encontrar testículo na bolsa escrotal, já faz o diagnóstico, que é, portanto, clínico. Tudo isso não envolve exames complementares, mas somente um exame clínico. Faz anamnese, exame físico, diagnóstico e indica tratamento cirúrgico. Possível questão de prova de testículo não descido: a mãe chega no consultório, com filho de 8 meses de idade e você não palpa o testículo na bolsa escrotal, mas palpa uma massa ovalada de 0,5 cm na região inguinal próximo à entrada da bolsa escrotal. Qual é a melhor conduta a ser tomada? A melhor conduta é a orquidopexia. Só que o fato de existir essa possibilidade não quer dizer que nunca precisa de outros exames. Pode ser que precise, eventualmente. Veremos as indicações. Testículo ectópico O testículo tem um trajeto de descida. Inicialmente, ele se forma junto dos ductos mesonéfricos e paramesonéfricos, próximo ao tecido que vai dar origem ao rim, e depois é tracionado para baixo por outra estrutura que se forma a partir do estímulo da testosterona e do hormônio do crescimento semelhante à insulina [Insulina Like 3]. Esses dois hormônios fazem crescer uma estrutura chamada gubernáculo, que se prende ao polo inferior do testículo e ao canal inguinal. Durante o primeiro trimestre de gestação, o gubernáculo traciona o testículo desse local [onde fica o polo inferior do rim] até o canal inguinal. Muito raramente, essa descida transabdominal falha – geralmente quando há múltiplas malformações e/ou síndromes genéticas raras. O que mais falha, no entanto, é a segunda fase [inguino-escrotal], que geralmente ocorre no final da gestação, no terceiro trimestre. Então, nesse período, sob o estímulo do nervo genitofemoral e dos androgênios, o gubernáculo fica mais gelatinoso e largo. À medida que vai se alargando, o testículo desce dentro de um orifício, chamado de conduto peritônio-vaginal. Pode-se imaginar esse conduto como um cilindro, que dá passagem ao testículo pelo canal inguinal até a bolsa escrotal. A parte inferior do gubernáculo vai se estender até a bolsa escrotal e depois vai reduzir de tamanho, tracionando o testículo para dentro da bolsa, através do canal inguinal e por dentro do conduto peritônio-vaginal. 2 Louyse Jerônimo de Morais Isso também acontece na menina, mas ela não tem testículo, apenas uma outra estrutura, que é o ligamento redondo. Chamamos de ducto de Nuck. Então, quando temos alguma persistência, geralmente é desse conducto de Nuck, formando cisto de Nuck. • Fase trans-abdominal o 8-15 semanas de idade gestacional o Testosterona + Ins3 o < 10% de falha • Fase inguino-escrotal o 25-35 semanas de idade gestacional Quando o testículo não está nesses locais, dizemos que ele é ectópico [região suprapúbica, períneo, raiz da coxa ou no lado contralateral]. Geralmente acontece associado com outras malformações. Testículo retrátil O testículo retrátil é quando se palpa a bolsa escrotal e não tem testículo, mas quando palpa o testículo no canal inguinal, a estrutura desce e fica lá. Geralmente acontece porque, entre as camadas que envolvem o cordão espermático e o testículo em si, existe o músculo cremaster ou fáscia espermática média [derivado do m. oblíquo interno], que se contrai sob o estímulo sexual, de medo, frio, dor e sobre um reflexo que é desencadeado quando se desliza o dedo na raiz da coxa do paciente. Só que muitas vezes, em algumas crianças, esse reflexo é exacerbado. Nessas situações, é comum pedir exame de USG, que normalmente é feito por um médico de adulto, a criança entra chorando, recebe gel gelado na virilha e transdutor. O médico acaba dando diagnóstico de criptorquidia, mas ao exame clínico do cirurgião percebe- se que é apenas um testículo retrátil. Nesses casos, nas crianças virgens de tratamento, pode-se administrar gonadotrofina coriônica [HCG] intramuscular ou GnRH intranasal. Há sucesso em 100% dos casos de testículos retráteis. Testículo não descido tardio É a criança que vai na puericultura com testículos na bolsa escrotal, mas à medida que cresce, o testículo e o cordão espermático não crescem junto do canal inguinal, fazendo o testículo não descer. Acredita-se que está relacionado com traumas no cordão espermático, que provocam fibrose e aderência do testículo no canal inguinal. Epidemiologia • Diagnóstico ao nascimento: 4 a 5% das crianças • Após 3 meses de vida: 1 a 2% No passado, isso foi motivo para indicar conduta de esperar dois anos para se indicar procedimento cirúrgico. Hoje em dia, não se espera mais tanto tempo, porque se sabe que, depois dos 3 meses, provavelmente o testículo não vai descer. Além disso, parte do desenvolvimento histológico do testículo acontece no primeiro ano de vida. Assim, acarreta-se índices mais altos de infertilidade quando se faz a cirurgia mais tardiamente. Fatores de risco • Prematuridade: até 30%. Lembre-se que parte do desenvolvimento do testículo ocorre no terceiro trimestre de gestação. • Retardo no crescimento intrauterino: alterações nos estímulos hormonais causados por hormônios do crescimento. • Exposição a estrogênios. Efeitos As células tronco do testículo se desenvolvem em espermatogônias do tipo A e do tipo B. As espermatogônias do tipo A se desenvolvem nos primeiros 12 meses de vida. Então, temos variação nos níveis do hormônio luteinizante [LH], fator inibidor mulleriano e testosterona. Isso faz com que as espermatogônias se diferenciem a partir das células tronco. Mais para frente, elas se transformam em espermátide, espermatócito, espermatócito tipo I e, por fim, espermatozoides. As espermatogônias do tipo B aparecem por volta do terceiro ao quarto ano de vida e se transformam em espermatócitos, que permanecem inertes até a puberdade, quando se diferenciam em espermatozoides. 3 Louyse Jerônimo de Morais O que ocorre é que a espermatogônia, célula grande que fica na periferia do testículo, se desenvolve pouco quando a temperatura do órgão não se encontra mais baixa do que a do corpo, que é o que ocorre quando ele se encontra dentro da cavidade abdominal. Isso contribui para taxas de infertilidade mais altas nos pacientes que têm criptorquidia. Quando faz cirurgia até os 2 anos, a fertilidade é de 87,5%. Se fizer depois da puberdade, cai para 14%. Além disso, existe um risco aumentado [5%] de se desenvolver tumor no testículo, mesmo após cirurgia. Ocorre principalmente em pacientes com outras anomalias de genitália e cariótipo. • Fertilidade o Bilateral: 78-100% o Unilateral: 33% Há indicação de cirurgia por volta dos 3 aos 6 meses de vida. Esse é o tempo ideal. Obs.: O medcurso diz que a cirurgia antes dos noves meses de idade aumenta o risco de lesão do feixe vascular do cordão espermático. Então, idealmente, deve ser realizada entre nove e quinze meses de vida, através de um acesso inguinal. Lutem para saber em quem confiar. Diagnóstico • Ultrassonografia• RNM • Angio-RNM • TC Faz quando tiver dúvida sobre outras malformações associadas – genitália ambígua, criptorquidia bilateral, gônadas intrabdominais, hipospádia, malformações associadas. Se o testículo não for palpável e a angio-RNM diz que não se conseguiu visualizar o testículo, pode dizer para a mãe que não tem testículo? Qual seria a melhor conduta a ser tomada? LAPAROSCOPIA, porque pode ser que o exame esteja errado. Cirurgia Se testículo palpável, faz cirurgia inguinal – orquidopexia ou remoção do remanescente embriológico [o ideal é biopsiar e deixar quieto]. Se não palpar, faz laparoscopia. A partir disso, pode-se ter os seguintes achados: 4 Louyse Jerônimo de Morais Fluxograma das condutas frente a um testículo não palpável Pode acontecer de se fazer uma VDL [videolaparoscopia] e se visualizar o testículo dentro do canal inguinal? Sim, quando o médico não consegue palpar. Isso acontece, por exemplo, quando a criança é mais gordinha, com muita gordura suprapúbica. Nessas situações, a USG seria interessante, pois já indicaria uma orquidopexia convencional, ao invés de VDL. É válido ressaltar que pode acontecer o contrário, isto é, a USG dizer que o testículo está no canal inguinal, quando na verdade ele é intrabdominal. Nesse caso, faz VDL para poder encontrar o órgão. Então é melhor, em um testículo não palpável, fazer uma VDL e, se os ductos estiverem entrando no canal inguinal, fechar o umbiguinho e fazer a incisão na região inguinal. Como funciona o primeiro tempo de Fowler-stephens? Faz a ligadura dos vasos testiculares e se espera criar circulação colateral. Após três meses, opera novamente, para abaixar o testículo junto com sua circulação colateral. Geralmente, o que impede o testículo de descer são os vasos testiculares curtos. Isso é importante porque, se descer o testículo sem vasos, ele vai necrosar. Como definir se vai fazer o primeiro tempo de Fowler- stephens ou orquidopexia laparoscópica? Isso depende se o testículo consegue descer para a bolsa escrotal ou não. Dessa forma, para saber se vai poder fazer em apenas um tempo, pega o testículo dentro da cavidade abdominal e tenta alcançar o lado contralateral. Se conseguir, significa que ele é capaz de ter corda para descer, então faz corte na bolsa escrotal, coloca um trocater para dilatar e puxa o testículo de volta para lá. Quando dizemos que o testículo não tem aparência normal? Quando ele é hipervascularizado, quando tem presença de tumor e quando não tem massa estromal, mas apenas fibrose. Nessas situações, faz remoção da gônada. E se houver vasos ou ducto deferente em fundo cego? Não se indica mais nenhum procedimento. Provavelmente, houve torção testicular durante o período intrauterino, que gerou isquemia testicular, fazendo com que o órgão fosse necrosado e reabsorvido. Por questão de estética, na puberdade, pode-se implantar uma prótese. Testículo não palpável Testículo intrabdominal Aparência normal Orquidopexia VDL Liberar testículo e avaliar possibilidade de orquidopexia Orquidopexia laparoscópica Primeiro tempo de Fowler-stephens Aparência anormal Orquiectomia VDL Vasos ou ducto deferente em fundo cego Sem mais procedimentos. Vasos no canal inguinal Orquidopexia convencional
Compartilhar