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. SISTEMA RESPIRATÓRIO A caixa torácica, os pulmões e o diafragma sofrem alterações que comprometem a complacência do sistema respiratório. A complacência é a capacidade de resistir a pressões e distender-se sem que ocorram rupturas. A diminuição da altura das vértebras, associada à cifose e à calcificação das articulações conde esternais e controverterias, reduz o tamanho da caixa torácica e a expansibilidade do tórax, causando interferência na contração muscular do diafragma. Além disso, há perda da retração elástica do pulmão devido a mudanças de configuração do colágeno. Assim, os mecanismos de defesa contra infecções, com espessamento do muco e redução do clearance mucociliar, ficam alterados. No nível imunológico, há aumento da relação CD4+/CD8+ e maior resposta macrofágica alveolar na liberação de radicais livres em resposta a estímulos antigênicos e ambientais. A VO2 diminui a partir dos 25 anos, com a capacidade vital reduzindo 75% entre a segunda e a sétima décadas de vida, e o volume residual aumentando cerca de 50%. O fluxo expiratório máximo – peak flow – tende a diminuir com a idade, e o Volume Expiratório Forçado no 1º Segundo (VEF1) reduz de 20 mL a 29 mL por ano na velhice. A sensibilidade de quimiorreceptores carotídeos diminui e, consequentemente, há menor adaptação ao exercício. Tais alterações também levam a maior predisposição a infecções pulmonares. A pressão parcial de oxigênio sanguíneo decai cerca de 4% por década de vida após os 30 anos, sendo a fórmula seguinte indicada para a estimativa desse valor, de acordo com a idade: paO2 esperada = 100 – (idade/3) • Alterações morfológicas no tórax e nos pulmões como envelhecimento. Com o envelhecimento há grandes modificações tanto na arquitetura quanto na função pulmonar, contribuindo para o aumento da frequência de pneumonia, aumento da probabilidade de hipoxia e diminuição do consumo máximo de oxigênio pela pessoa idosa. Os primeiros sinais de piora da respiração pulmonar já podem ser vistos por volta dos 25 anos. Os pulmões se tornam mais volumosos, os ductos e bronquíolos se alargam e os alvéolos se tornam flácidos, com perda do tecido septal. A consequência é o aumento de ar nos ductos alveolares e diminuição do ar alveolar com piora da ventilação e perfusão. Concorrem para o declínio da capacidade respiratória os maus hábitos de vida, a poluição do local de moradia e trabalho e as doenças concomitantes. • Respiração A inspiração e a expiração se dão da mesma forma no adulto. Na inspiração participam os músculos intercostais externos para elevarem as costelas e o diafragma, responsável por 75% do aumento do volume torácico durante a respiração de repouso. A expiração se faz, basicamente, de forma passiva. Também estão envolvidos os músculos intercostais internos que, ao se contraírem, puxam as costelas para baixo e para dentro, diminuindo o volume torácico. Caso seja necessário, as musculaturas abdominal e dos ombros podem participar como músculos auxiliares dos movimentos respiratórios. Além das alterações descritas, há falha no controle central (medula e ponte) e nos quimiorreceptores carotídeos e aórticos com diminuição da sensibilidade a PCO2, PO2 e ao pH, limitando a adaptação da pessoa idosa ao exercício físico. A maioria dos músculos sofre um certo grau de sarcopenia, daí a capacidade de a função pulmonar piorar em algumas pessoas pela diminuição da força e da resistência da musculatura respiratória, tornando a tosse menos vigorosa. A função mucociliar é lenta, prejudicando a limpeza de partículas inaladas e facilitando a instalação de infecções (Svartengren et al., 2005). Todas as modificações do sistema respiratório são lentas, mas progressivas. A partir dos 25 anos a VO2 máxima diminui em 5 mℓ/kg/min/década. O tórax se torna enrijecido devido à calcificação das cartilagens costais e os pulmões distendidos pela diminuição da capacidade de as fibras elásticas retornarem após a distensão na inspiração. Com isso o volume pulmonar e a capacidade ventilatória diminuem. A capacidade vital pode chegar a diminuir 75% entre a 7 a e a 2 a década, enquanto o volume residual aumenta em torno de 50%. A consequência é a inadequada oxigenação do sangue, enquanto a PCO2 não se altera (Taffet et al., 2014). • Surfactante O surfactante é um líquido secretado pelos pneumócitos tipo II, localizado na superfície interna do alvéolo, com a finalidade de manter sua tensão baixa. Sua produção está diminuída nos idosos. Na deficiência do surfactante os alvéolos poderão colabar na expiração, fazendo atelectasias. O surfactante também tem função protetora, impedindo a entrada de partículas, e aumenta a capacidade de os macrófagos pulmonares destruírem bactérias. Ainda na deficiência de surfactante, há o aumento da permeabilidade alveolar, podendo levar ao edema pulmonar. Apesar de sua perda progressiva, a maioria dos idosos é capaz de levar uma vida normalmente ativa. SISTEMA IMUNOLÓGICO- Imunossenescência O progressivo e fisiológico declínio da reserva funcional que ocorre em todos os sistemas biológicos ao longo da vida também afetará o sistema de defesa, a função imune. A este fenômeno chamamos imunossenescência, que corresponde ao envelhecimento imunológico traduzido por um conjunto de modificações tanto na resposta inata quanto na adquirida. Tais modificações podem ocorrer em uma ou várias etapas do caminho de ativação celular, as quais resultarão em menor eficiência do sistema de defesa aumentando a propensão e a gravidade de doenças infecciosas, autoimunes e neoplásicas. A marca do envelhecimento é o progressivo declínio dos três maiores sistemas de comunicação do corpo: o imune, o endócrino e o nervoso. Entre as incontáveis variáveis relacionadas com o processo de envelhecimento, uma das mais controversas é o perfil imunológico do indivíduo velho. Há um consenso de que ele se modifica, tornando-se menos eficiente. Embora tenha sido aceito por muito tempo que a imunidade inata fosse menos atingida com o envelhecimento, os estudos mais recentes demonstram a existência de importantes alterações também nesta esfera de defesa. Entre os componentes da imunidade inata, os neutrófilos, que apresentam um papel importante na defesa primária contra fungos e bactérias, e fazem parte das etapas de ativação (p. ex., liberação de enzimas proteolíticas) são afetados no envelhecimento, reduzindo seu potencial microbicida como também sua interação com o sistema da imunidade adquirida. A capacidade fagocitária e, em alguns estudos também a capacidade quimiotática estão reduzidas, dando mais tempo à multiplicação bacteriana aumentando o dano tecidual (liberação de enzimas proteolíticas). As células dendríticas relacionam o sistema imune inato com o adquirido, tendo a capacidade de induzir tanto uma potente resposta antigênico-específica como também à tolerância. Iniciam e amplificam respostas, estando distribuídas pelo corpo em regiões de contato com o meio externo como pulmões, trato digestivo e em extensa rede a qual inclui outras células apresentadoras de antígenos. Com o envelhecimento, apresentam menor eficiência na apresentação do antígeno, o que levará a menor estimulação de linfócitos T. Os monócitos/macrófagos, componentes de alta mobilidade, parecem aumentar em número com o avançar da idade, entretanto sua função (diferenciação) é reduzida. Com relação às células NK importantes na defesa viral e oncológica, com o envelhecimento ocorre um aumento quantitativo, porém à custa de célulasmenos eficientes na produção de citocinas (responsáveis pela emissão do sinal e regulação para a resposta imune). Há um aumento, porém, de células killer de menor competência. No campo da imunidade adaptativa, sabemos que todas as células imunologicamente ativas podem exibir modificações idade-relacionadas e isto inclui a imunidade celular (linfócitos T) e imunidade humoral (linfócitos B). O declínio da atividade da célula T é representado por um aumento na proporção das células de memória (que já tiveram contato com um antígeno), em relação a células virgens (naïve), aquelas que ainda não entraram em contato com um antígeno, o que resultará em uma diminuição do potencial de reatividade a novos antígenos. Com a involução do timo, diminui o repertório de células T provenientes dele, inclusive aquelas com capacidade supressora que impediriam a quebra do delicado equilíbrio entre estas e as efetoras, aumentando assim a chance de fenômenos autoimunes. O envelhecimento é acompanhado por um progressivo aumento na proporção de células T que atuam de forma disfuncional. O declínio da capacidade imune com a idade poderia ser atribuído à prevalência de um linfócito T com fenótipo senescente. Suas células virgens apresentam defeitos funcionais, redução dos telômeros, diminuição na produção de interleucina 2, prejuízo na expansão e diferenciação em célula efetora e consequente redução na habilidade da resposta antigênica. Sua maior característica é a irreversibilidade da perda de sua capacidade replicativa. O número de divisões celulares, nos quais a senescência é atingida, depende da espécie, da idade e do conjunto genético do indivíduo. Assim, células de origem fetal ou neonatal são capazes de um número maior de divisões do que as células de indivíduos velhos – limite de Hayflick. Com o avanço da idade, há um aumento no número de células que parecem normais, mas falham em responder ao estímulo ativador. Os linfócitos B, embora não demostrem alteração quantitativa importante, apresentarão a qualidade da função de seus anticorpos prejudicada, o que se refletirá em respostas mais baixas às vacinas. Com o envelhecimento a medula óssea tem reduzida a capacidade de expansão da população de linfócitos B. Estes linfócitos são estimulados de forma menos eficiente, fazendo surgir uma população de linfócitos B de memória cada vez maior e de linfócitos virgens (naïve) cada vez menor, reduzindo a capacidade de reconhecer novos antígenos. Enquanto os títulos de anticorpos para partículas estranhas e a resposta imune secundária caem com a idade, os autoanticorpos aumentam. Aumenta a frequência da autorreatividade que parece se originar na diminuição do potencial de regulação imune, ou talvez pelo fato de que o sistema imune também preencha a função de remover material autólogo danificado. Geralmente estes autoanticorpos são IgM e IgG de baixa afinidade A afinidade do anticorpo é crítica na resposta imune, já que é ela quem determina a força e a especificidade com a qual o anticorpo se ligará ao antígeno. Anticorpos com alta afinidade são capazes de se ligar mais avidamente, formando o chamado complexo imune, tornando mais eficiente a eliminação do antígeno. Anticorpos de baixa afinidade, por sua vez, são pouco específicos e pouco eficientes na eliminação do antígeno e apresentam, além disso, mais reações cruzadas com outros antígenos. O declínio na resposta dos anticorpos e a diminuição de sua ligação (afinidade) com o antígeno aumentarão o estado de anergia (não responsividade ao antígeno). O fato de os anticorpos produzidos pelo linfócito B de indivíduos velhos serem de baixa afinidade se refletirá no menor percentual de eficácia na vacinação quando comparados a jovens. Além das células envolvidas em todo o processo de defesa, existem as proteínas mediadoras da resposta imunológica, as citocinas, que afetam desde a proliferação e a diferenciação até o estágio final de morte celular (apoptose). Entre as principais, destacamos as interleucinas (IL-1, IL-2 e IL-6), a interferona- γ (IFN-γ), o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), e o fator de crescimento tumoral (TGF). Estes mediadores apresentam-se alterados com o envelhecimento. As interleucinas possuem, entre outras funções, a de ativação dos linfócitos e a indução da divisão de outras células. Cada interleucina atua sobre um grupo limitado e específico de células que expressam receptores adequados para elas. Com o envelhecimento, diminui a produção interleucina-2 (IL- 2), importante fator de crescimento para linfócito T. Além disso, células de doadores velhos não expressam receptor para IL-2 na mesma proporção. A mobilização do cálcio e a ativação para a progressão do ciclo celular estão modificadas nas células de indivíduos velhos. Enquanto algumas células podem não liberar interleucina-2 e interferona-γ adequadamente após a ativação, elas liberam outros fatores, como o TNFα, com propriedades inflamatórias, interleucina-1, interleucina-6, mais do que os liberados por células de indivíduos jovens. A interleucina-6 está relacionada com distúrbios inflamatórios crônicos, e seus níveis parecem aumentar com a idade (Shaw et al., 2010). Assim, existem perda da função celular, modificação na habilidade em responder aos eventos de ativação e modificações da resposta aos eventos desta ativação. • Fenótipo Os principais aspectos observados no envelhecimento imunológico caracterizam-se por uma resposta de ativação e efetora diminuída ou disfuncional tanto na resposta imune inata quanto na adaptativa, tendo no linfócito T sua principal expressão, uma vez que o timo já terá involuído completamente. Na imunidade inata os neutrófilos demonstram menor atividade quimiotática e fagocítica, e as células NK apresentam aumento numérico com menor capacidade citotóxica. Na imunidade adaptativa há atrofia do timo, desequilíbrio entre as células T virgens e as de memória, dificultando a indução de resposta imunológica adaptativa contra novos antígenos, além de uma alteração na produção de imunoglobulinas (anticorpos) pelos linfócitos B. Uma marcante característica do fenótipo senescente é a diminuição de células periféricas nativas (naïve) já depletadas pelo contato com antígenos ao longo da vida e não substituídas após a involução do timo e, portanto, convertidas a células de memória (imunidade adaptativa). Este fato limita a geração de novas células para fazer frente aos novos antígenos que se apresentarão durante o envelhecimento. Estas alterações concorrerão para o aumento da gravidade em caso de exigência defensiva aguda maior, ao mesmo tempo que a produção de mediadores inflamatórios e sua consequente estimulação antigênica prolongada podem dar origem a uma situação de cronicicidade inflamatória de baixo grau (inflamm-aging). Este processo tem impacto no meio interno, podendo mudar sua composição ao longo do tempo, uma vez que uma carga antigênica crônica formada por antígenos não eficientemente inativados e por restos celulares não completamente eliminados poderá estar envolvida na estimulação imunológica continuada e contribuir para a patogênese de doenças crônico-degenerativas. Estas alterações que estimulam a produção de citocinas próinflamatórias, proteases, quimiocinas, entre outros, são conhecidas como fenótipo secretor relacionado à senescência, que pode ser benéfico ou deletério, dependendo do momento no qual ele é desencadeado e por quanto tempo é mantido. O estado inflamatório prolongado, de baixa intensidade (inflamm-aging), é oresultado da ativação de macrófagos e linfócitos T dirigidos contra vírus comuns como por exemplo o Epstein-Barr (EPV) ou o citomegalovírus (CMV). Trata-se de um desequilíbrio entre os agentes inflamatórios e a rede antiinflamatória (pleiotropia antagônica), aumentando a morbidade. Tanto uma condição inflamatória subclínica como uma incapacidade do sistema imune em degradar estes produtos, ao mesmo tempo que, induzindo certa tolerância ao antígeno facilitando, a destruição de tecido sadio, esta distorção do reconhecimento, podem estar envolvidas na patogênese das doenças crônicas do envelhecimento bem como a ocorrência de fenômenos alérgicos e autoimunes. Em outras palavras, a fonte antigênica tanto pode ser externa (vírus, bactérias) como endógena, derivada de macromoléculas alteradas que continuam a estimular a atividade dos macrófagos. A síndrome consumptiva pode também ser encontrada como “Emagrecimento Involuntário” em diversas literaturas. Ambos podem ser definidos como o estado patológico resultante de absoluta ou relativa deficiência de proteína e energia. Portanto, pense em uma balança na qual em um lado se encontra o gasto de energia e do outro o consumo dessa energia. Caso a balança pese mais no gasto de energia, ocorre o emagrecimento. Quando o emagrecimento ocorre de maneira involuntária geralmente está associado a alguma patologia, demandando avaliação e tratamento! Para abordar esse tema, devemos dominar alguns conceitos. A caquexia é a perda de peso associada à perda de massa muscular, podendo haver ou não perda de gordura. É o estado mais grave do emagrecimento. A desnutrição, por sua vez, é a deficiência de nutrientes específicos ou globais, associada ou não à perda de peso. A sarcopenia é usualmente uma síndrome geriátrica, caracterizada por perda de massa muscular, de força e de desempenho, gerando um déficit funcional no idoso. Por fim, a desnutrição energético-proteica (DEP) ocorre por aporte inadequado de energia associado ou não ao déficit de proteínas. Para definição da síndrome consumptiva, devemos ter em mente que tanto o grau de emagrecimento, bem como o tempo em que ele ocorreu, devem ser avaliados sempre de acordo com o seu peso basal anterior ao quadro de emagrecimento involuntário! Considera-se emagrecimento involuntário se houve perda de > 2% do peso basal em 1 semana, >5% em 1 mês, >7,5% em 3 meses, > 10% em 6 a 12 meses. Algumas situações devem ser avaliadas de forma específicas, como em idosos, nos quais considera-se síndrome consumptiva em perdas maiores que 5% em 6 a 12 meses e em pacientes portadores de anorexia nervosa, nos quais considera-se emagrecimento involuntário em perdas maiores que 15% em 6 meses. Divide-se a base fisiopatológica da perda de peso em três categorias: diminuição da ingestão de alimentos, metabolismo acelerado ou aumento da perda de energia. A perda de peso pode ser traduzida como um sintoma de desordem multifatorial que inclui alteração da ingesta calórica, da absorção intestinal, da motilidade intestinal, do uso de medicamentos e abuso de drogas ou da produção aumentada de substâncias endógenas como fator de necrose tumoral, a interleucina 6, substâncias bombesina-like e fatores liberadores de corticotropina. Outros fatores como náusea e vômito causados pela quimioterapia também são importantes processos associados à perda de peso, bem como dor oncológica e compressões tumorais do trato gastrintestinal, quando provocam disfagia e distensão abdominal. A regulação do apetite sofre alterações com o envelhecimento (“anorexia fisiológica da idade”), há aumento da circulação de colecistocinina, por exemplo, que associada à diminuição do metabolismo basal pode levar à perda de peso importante. A maioria dos homens atinge o máximo de peso corporal ao redor dos 40 anos e as mulheres aos 50 anos. Logo após, ocorre progressiva perda de massa magra corporal, principalmente nas extremidades e estoque de gordura central. Atrofia gordurosa também pode ocorrer gerando aparência caquética. Alguns estudos mostram que há declínio natural da sensibilidade ao paladar e olfato com o aumento da idade, o que pode contribuir para a diminuição de peso. Distúrbios de visão e cognição no idoso também podem contribuir para a diminuição de ingesta calórica3,4. Classifica-se perda de peso em dois grandes grupos: 1) Perda de peso involuntária com aumento ou diminuição do apetite 2) Perda de peso voluntária IDOSO Deve-se ter em mente que os idosos são uma população em especial, cujas causas comuns de emagrecimento podem ser lembradas de forma mais prática através dos “Dez D’s do Emagrecimento no Idoso”: Dentição (próteses mal adaptadas, dentes mal cuidados, dor ao mastigar, diminuição do paladar, lesões gengivais), Disgeusia (Perda do paladar associada a perda do olfato, anosmia, com a idade), Disfagia, Diarreia, Doenças Crônicas, Depressão, Demência (perda progressiva dos instintos de fome e sede), Disfunção (perda de entes queridos, condições socioeconômicas precárias, dependência), Drogas, Don’t Know (Não sei – Uma boa parte dos pacientes idosos exibem emagrecimento sem uma causa conhecida). • Neoplasia Em um artigo realizado com 154 pacientes com perda de peso involuntária, observou-se a presença de mais de 1/3 dos pacientes (36,3%) portadores de câncer como a causa base do emagrecimento involuntário, principalmente neoplasias do TGI. O restante dos pacientes possuía causas benignas gastrointestinais (26 pacientes, 16,9%) e causas psiquiátricas (16 pacientes, 10,4%). Apesar de intensas investigações, em 36 pacientes (23,3%) não se pôde encontrar uma causa específica. Causas endócrinas, como DM e Hipertireoidismo foram raras nesse estudo, correspondendo a apenas 3,8% da amostra. • Drogas Drogas psicoativas ou não, como a cocaína, o álcool e o tabaco, agem alterando o centro da saciedade, levando a um estado de anorexia durante o uso das substâncias. Pessoas adictas acabam por utilizar a substância durante mais tempo, levando a uma diminuição da ingesta alimentar e emagrecimento expressivo. O paciente alcoolista crônico troca a grande maioria das suas calorias diárias apenas pelas calorias da bebida, gerando um grande déficit nutricional com consequente emagrecimento. A maconha ou canabbis pode induzir o emagrecimento em seu processo de abstinência, quando o paciente pode cursar com uma síndrome composta por anorexia, emagrecimento, irritabilidade e ocorrência de sonhos estranhos. Os opioides reduzem tanto o apetite, como a motilidade intestinal e a produção e liberação das secreções digestivas, promovendo a perda ponderal em pacientes com abuso de uso dos opiáceos. A utilização das anfetaminas gera a liberação de catecolaminas a nível pré-sináptico, levando a um aumento expressivo do metabolismo basal do paciente. Porém, de forma diferente do que ocorre no hipertireoidismo, o apetite é perdido nesse mecanismo. A síndrome de abstinência das diversas substâncias existentes pode gerar também um emagrecimento involuntário. O quadro clínico clássico da abstinência alcoólica, chamado de Delirium Tremens, é caracterizado pela presença de febre, tremores distais finos, alucinações e anorexia, sintomas com base adrenérgica. • Transtornos Psiquiátricos Os transtornos psiquiátricos ocupam uma grande porcentagem das causas de perda de peso não intencional, podendo corresponder a 10 a 23% dos casos. Os principais transtornos psiquiátricos associados à síndrome consumptiva são a depressão e os transtornos alimentares.A depressão possui um emagrecimento multifatorial, onde há uma grande sobreposição de causas. Os transtornos alimentares, por sua vez, possuem como mecanismo fisiopatológico a obsessão pelo excesso de peso, gerando a diminuição da ingestão alimentar de forma expressiva, um aumento do nível de atividade física até ao excesso (vigorexia), pode gerar vômitos provocados pela culpa após cursar com uma compulsão alimentar (principalmente na bulimia) e utilização de medicamentos para estimular a perda de peso. • Diabetes Mellitus (DM) Nessa patologia o mecanismo fisiopatológico é um pouco mais peculiar, pois há um emagrecimento apesar do apetite preservado e muitas vezes exacerbado! Isso ocorre tanto no Diabetes Mellitus quanto no hipertireoidismo. Há um processo de fome celular, estimulando o paciente a se alimentar, que gera uma hiperglicemia associada, pois o paciente continua ingerindo os alimentos, mas não há sensibilidade à insulina ou insulina circulante para fazer o transporte da glicose para as células, permanecendo o paciente nesse ciclo, o que justifica as perdas energéticas abundantes. O quadro clínico clássico, portanto, é de polifagia, poliúria e polidpsia. Há perda de glicose e nutrientes na urina (aumento da eliminação de urina), levando a uma perda de água (pelo componente osmolar). Essa perda justifica a polidipsia (ingestão de água aumentada) e a polifagia (ingestão de alimentos aumentada). Além do mecanismo fisiopatológico básico, os pacientes com DM podem vir a emagrecer por um evento secundário, como um AVC ou um Infarto Agudo do Miocárdio (IAM). • Hipertireoidismo De forma semelhante ao DM, ocorre um estado de hipermetabolismo sistêmico pelo aumento do hormônio tireoidiano circulante. Portanto, também se apresenta com um emagrecimento apesar do apetite preservado e/ou exacerbado. O quadro clínico que vai nos fazer pensar em hipertireoidismo em um paciente com síndrome consumptiva pode envolver sintomas como a hiperfagia, palpitação, tremores distais, sudorese quente, insônia, hiper defecação e presença de bócio. • Doenças Gastrointestinais Nesse grupo de doenças, temos como exemplos a úlcera péptica, a doença celíaca e as doenças inflamatórias intestinais. Tais patologias podem gerar emagrecimento por dor (durante a alimentação, inclusive), disfagia (principalmente em doenças que acometem ao esôfago, como esofagite, acalasia), estado inflamatório sistêmico (semelhante ao abordado no tópico das neoplasias) e perda de nutrientes nas fezes (síndromes disabsortivas). A clínica dos pacientes com doenças gastrointestinais pode ser caracterizada pela presença de anorexia, dor abdominal, disfagia, odinofagia, saciedade precoce, diarreia, este atorreia ou sangramento crônico do TGI. O envelhecimento, em si, causa o declínio funcional de diversos sistemas orgânicos, o que aumenta a probabilidade da ocorrência de disfunções e doenças nesses indivíduos, sobre esse sentido alguns autores destacam que idosos, devido a tais fatores apresentam declínio de suas capacidades físicas, funcionais, mudanças no padrão de alimentação e, em alguns casos, processos inflamatórios. Tais fatores podem desencadear o aparecimento de anemia, um tipo de problema hematológico comumente encontrado em indivíduos idosos. A anemia é definida a partir de valores de hemoglobina (Hb) no sangue, a qual para tanto se encontraria abaixo do normal para idade e gênero de cada indivíduo. Segundo a Portaria SAS/MS, nº 1247 de 10 de novembro de 2014 a mesma é considerada um dos principais problemas de saúde a nível mundial, afetando mais de um quarto da população do planeta. Com relação à anemia em idosos, a mesma está relacionada ao aumento da morbilidade e mortalidade na população idosa, a qual a acarreta um grande impacto na função e na qualidade de vida do idoso, mesmo quando o nível de Hb apresenta somente uma ligeira diminuição. primeira manifestação ou manifestação tardia do tumor. As malignidades acometem aproximadamente um terço dos pacientes que apresentam síndrome consumptiva. Afecções gastrointestinais benignas, tais como úlcera e colicistite, também têm sido causas de perda de peso em 11,0 a 17,0% dos pacientes investigados. Nos pacientes com vírus da imunodeficiência humana (HIV) positivos ou soro-reagentes a perda de peso é sintoma relativamente comum, mas ao contrário dos cânceres, esta redução de peso está associada primariamente à diminuição da ingestão calórica, já que o gasto energético é igual ao paciente sem a doença. Perda de peso súbita no paciente com HIV geralmente está relacionada à infecção secundária, enquanto que perda gradual geralmente está relacionada à redução de ingesta calórica. Dentre as endocrinopatias, a insuficiência adrenal pode cursar com anorexia, náusea e perda de peso, assim como a hipercalcemia e alguns pacientes com hipertireoidismo, geralmente idoso. Nos pacientes com diabetes mellitus, pode ocorrer a perda de apetite como sintoma da gastroparesia, má absorção intestinal por neuropatia intestinal e insuficiência renal. Diabético tipo um pode também apresentar doença de Addison associada. Pacientes com doenças psiquiátricas frequentemente apresentam perda de peso como critério de diagnóstico, como por exemplo, na depressão maior (perda de mais de 5,0% em um mês). A caquexia pode ser induzida por uso crônico de neuroléptico e deve ser descontinuada neste caso. O uso crônico do álcool, nicotina, opiáceos e estimulantes do sistema nervoso central diminuem o apetite e causam perda de peso. Outro distúrbio psiquiátrico, a anorexia nervosa é classificada como perda de peso voluntária. Nas doenças cardiopulmonares, a perda de peso relacionasse à insuficiência cardíaca (caquexia cardíaca) ou à doença pulmonar obstrutiva crônica. No entanto, esta perda de peso pode ser ocultada pelo edema concomitante. Doenças neurológicas como o acidente vascular cerebral, demências, esclerose múltipla, Parkinson, podem estar associadas com alteração de motilidade gastrintestinal bem como disfagia, alteração do olfato, paladar (disgeusia), constipação, disfunção esfincteriana e falta de apetite. A doença de Parkinson relacionasse com anorexia e aumento do gasto energético. Uremia induz anorexia, náusea e vômito, assim como perda de proteína pela urina, por exemplo, na síndrome nefrótica, contribuindo para o balanço negativo calórico. Pacientes em situações de isolamento social tendem a apresentar diminuição do apetite. Nos idosos, o isolamento se refere não apenas ao ato de comer, mas também à dificuldade em comprar e preparar os alimentos. • ENFISEMA O enfisema se caracteriza pela dilatação dos espaços aéreos distais aos bronquíolos terminais, consequente à destruição das suas paredes. Observe que essa definição é anatômica. Em outras palavras, o diagnóstico em vida é presumível. Patologia O enfisematoso apresenta perda das paredes alveolares com consequente destruição de porções do leito capilar. Algumas vezes, partes do parênquima contendo vasos sanguíneos podem ser vistas atravessando os grandes espaços aéreos dilatados. As pequenas vias aéreas (< 2 mm de diâmetro) são estreitas, tortuosas e numericamente reduzidas. Além disso, elas possuem paredes finas e atrofiadas. Também ocorre alguma perda nas grandes vias aéreas. Em grandes cortes do tecido pulmonar, as alterações podem ser vistas a olho nu ou com ajuda de lupas. Tipos Vários tipos de enfisema são conhecidos. A definição fornecida antes indica que a doença afeta o parênquima distalao bronquíolo terminal. Essa unidade é o ácino, porém o dano pode não ser uniforme. No enfisema centriacinar, a destruição é limitada à parte central do lóbulo, e os duetos alveolares periféricos e os alvéolos podem ser poupados. Ao contrário, no enfisema panacinar, ocorre distensão e destruição em todo o lóbulo. Ocasionalmente, a doença é mais marcada no pulmão adjacente ao septo Inter lobular (enfisema paras septal). Em outros pacientes, desenvolvem-se grandes áreas císticas ou bolhas (enfisema bolhoso). O enfisema centriacinar e o panacinar apresentam diferentes distribuições topográficas. O primeiro é mais saliente nos ápices, mas se estende inferiormente com a progressão da doença. A preferência pelo ápice pode ser reflexo do maior estresse mecânico nessa região, o que predispõe à falência estrutural das paredes alveolares. Pelo contrário, o enfisema unilateral (síndrome de MacLeod ou Swyer-James), no qual a radiografia torácica demonstra hiperlucência unilateral. • Patogênese Esta é uma área de pesquisa ativa. Uma hipótese atual é a liberação pelos neutrófilos de grandes quantidades da enzima lisossomal elastece. Isso causa a destruição da elastina, uma proteína estrutural fundamental do pulmão. A elastece também cliva o colágeno tipo IV, uma molécula importante para determinar a resistência do lado fino do capilar pulmonar e, portanto, da integridade da parede alveolar. Animais submetidos à instilação de elastece neutrofilia nas suas vias aéreas desenvolvem alterações histológicas similares às vistas no enfisema. O fumo é um fator patogênico importante, agindo por meio da estimulação dos macrófagos para a liberação de substâncias quimioatrativas de neutrófilos, como o CSa, ou por meio da redução da atividade dos inibidores da elastase. Além disso, muitos neutrófilos já são marginados (aprisionados) no pulmão, um processo que é exacerbado pelo fumo, o qual também ativa leucócitos marginados. Essa hipótese equipara esta etiologia com a da deficiência de a 1-antitripsina, na qual o mecanismo é a falta de antiproteases inibidoras da elastece. Um mistério é o fato de alguns fumantes pesados não desenvolverem a doença. A poluição do ar também pode desempenhar um papel, assim como fatores hereditários, estes claramente importantes na deficiência de a 1-antitripsina. • BRONQUITE CRÔNICA Esta doença é caracterizada pela grande produção de muco na árvore brônquica, suficiente para causar expectoração excessiva. Observe que essa é uma definição clínica (ao contrário da do enfisema). Na prática, o critério para expectoração "excessiva" é arbitrário, por exemplo, expectoração na maioria dos dias por pelo menos três meses ao ano, por pelo menos dois anos sucessivos. Patologia O achado característico é a hipertrofia das glândulas mucosas nos brônquios maiores e a evidência de alterações inflamatórias crônicas nas pequenas vias aéreas. O aumento das glândulas mucosas pode ser expresso pela relação glândula/parede, a qual normalmente é < 0,4, podendo exceder 0,7 na bronquite crônica grave. Essa relação é conhecida como índice de Reid. Quantidades excessivas de muco são encontradas nas vias aéreas, e tampões semissólidos podem ocluir alguns brônquios pequenos. Além disso, as pequenas vias aéreas são estreitas e apresentam alterações inflamatórias (infiltração celular e edema de paredes). Tecido de granulação está presente, e pode ocorrer fibrose Peri brônquica. Aparentemente, há hipertrofia da musculatura lisa da parede brônquica. Há evidências que sugerem que as alterações patológicas iniciais ocorrem nas pequenas vias aéreas, depois progredindo para os brônquios maiores. Patogênese Mais uma vez, o fumo é o principal responsável. A exposição repetida às suas substâncias irritantes causa inflamação crônica. "Se você escutar seu paciente tossir com secreção (pigarrear), é certo que ele é um fumante." A poluição industrial e a fumaça são outras causas conhecidas. • ASMA Esta doença se caracteriza pela hiper- reatividade das vias aéreas a vários estímulos e se manifesta por inflamação e estreitamento generalizado dessas vias, cuja gravidade se modifica espontaneamente ou como resposta a intervenções terapêuticas. Patologia A musculatura lisa das vias aéreas se torna hipertrofiada, contraindo vigorosamente durante uma crise e causando broncospasmo. Também há hipertrofia das glândulas mucosas, edema da parede brônquica e extensa infiltração por linfócitos e eosinófilos. A quantidade e a consistência do muco são aumentadas, e o seu movimento é mais lento. Nos casos graves, as vias aéreas são obstruídas por tampões mucosos, os quais podem ser eliminados por meio da tosse. O escarro costuma ser escasso e esbranquiçado. Fibrose subepitelial é comum em pacientes com asma crônica, sendo parte do processo conhecido como remodelamento. Na asma não complicada, não há destruição de paredes alveolares, e as secreções brônquicas não são abundantes nem purulentas. Por vezes, o excesso de eosinófilos no escarro pode causar um aspecto purulento, o que pode ser erroneamente atribuído à infecção. Patogênese Muito progresso tem sido feito neste campo, e as afirmações poderão ser modificadas. Os dois achados que parecem comuns a todos os asmáticos são a hiper- reatividade brônquica e a inflamação das vias aéreas. Algumas pesquisas sugerem que a hiper-reatividade é consequente à inflamação, e alguns pesquisadores acreditam que a inflamação é responsável por todos os achados da asma: hiper-reatividade, edema, hipersecreção mucoide e infiltrado de células inflamatórias. Contudo, em alguns pacientes, é possível que haja uma anormalidade na regulação muscular do tônus das vias aéreas. Estudos epidemiológicos indicam que, na maior parte dos casos, a asma começa na infância e que uma predisposição alérgica pode desempenhar um papel etiológico importante. Todavia, fatores ambientais parecem importantes, podendo ser responsáveis pelo aumento da prevalência de asma grave nos países industrializados nos últimos 20 a 40 anos. Uma exposição maior a infecções típicas da infância e à contaminação oro fecal é associada a uma incidência menor de asma. Essas e outras observações formaram a base da “hipótese da higiene”. Essa hipótese sugere que crianças em um estágio crítico do desenvolvimento que não são expostas a essas infecções típicas podem desenvolver uma predisposição alérgica e asma. Outras hipóteses que também tentam explicar o aumento da prevalência incluem a obesidade, a redução na atividade física e a exposição a poluentes atmosféricos. O fator desencadeador da inflamação de via aérea nem sempre pode ser identificado. Em algumas circunstâncias, o fator é bem óbvio, como no caso de determinados antígenos em pessoas com asma alérgica. Contudo, em outros tipos de asma, como a induzida pelo exercício e a que segue infecções respiratórias virais, os fatores não são identificados. Também pode haver um papel para poluentes atmosféricos, especialmente nano partículas eliminadas pelos canos de descarga de veículos automotivos. As manifestações da asma não podem ser atribuídas a um único tipo celular ou mediador inflamatório. Eosinófilos, mastócitos, neutrófilos, macrófagos e basófilos, todos têm sido implicados. Também há evidência da contribuição de células não inflamatórias, como as células epiteliais e as neurais, em especial as neurais peptidérgicas. Alguns investigadores acreditam que os eosinófilos desempenham um papel central na maioria dos casos. Há, também, evidência da participação de linfócitos, sobretudo os do tipo T, pois eles respondem a antígenos específicos e sãomoduladores da função celular inflamatória. Muitos mediadores inflamatórios têm sido identificados na asma. As citocinas provavelmente são os mais importantes, em particular as associadas aos Th2, a ativação das células T auxiliares. Essas citocinas são interleucina-3, IL-4, IL5 e IL-13. Acredita-se que essas citocinas sejam responsáveis em parte pela modulação das funções celulares inflamatória e imunológica e pela sustentação da resposta inflamatória nas vias aéreas. Provavelmente, outros mediadores inflamatórios também atuem, em especial no broncospasmo agudo. Esses mediadores são os metabólitos do ácido araquidônico, como os leucotrienos e as prostaglandinas; o fator ativador das plaquetas (FAP); os neuropeptídeos; as espécies reativas do oxigênio; as cininas; a histamina; e a adenosina. A asma também possui um componente genético. Estudos populacionais mostram que se trata de um distúrbio genético complexo, com influência de fatores tanto ambientais como genéticos. Os últimos não se devem a um gene único, sendo poligênicos. A associação da asma a vários lócus cromossômicos tem sido demonstrada por análise de acoplamento. • FIBROSE PULMONAR INTERSTICIAL DIFUSA A nomenclatura dessa doença é confusa. Os sinônimos são fibrose pulmonaridiopática, pneumonia intersticial e alveolite fibrosante criptogênica. Alguns clínicos reservam a expressão "fibrose" para os estágios mais tardios da doença. Patologia O achado principal é um espessamento do interstício da parede alveolar. Há infiltração de linfócitos e células plasmáticas no início. Mais tarde, aparecem fibroblastos que depositam feixes espessos de colágeno. Essas alterações podem serirregulares no pulmão. Em alguns pacientes, no início da doença, forma-se um exsudato celular no interior dos alvéolos, constituído por macrófagos e outras células mononucleares. Isso “é chamado ‘‘descamação”: A arquitetura alveolar pode ser destruída, e a consequente cicatrização pode levar à formação de múltiplos espaços císticos aerados. Esses espaços são formados pela dilatação de bronquíolos terminais e respiratórios levando a um padrão conhecido como pulmão em "favo de mel" (faveolamento). Patogênese É desconhecida, porém, em alguns casos, há evidências de reação imune. • SARCOIDOSE É uma doença que se caracteriza pela presença de tecido granulomatoso com histologia característica. Afeta frequentemente vários órgãos. Patologia A lesão característica é um granuloma epitelioide não caseoso composto por histiócitos grandes, células gigantes e linfócitos. Essa lesão pode acometer linfonodos, pulmões, pele, olhos, fígado, baço e outros órgãos. Na doença avançada, são vistas alterações fibróticas nas paredes alveolares. Patogênese É desconhecida, ainda que pareça haver uma base imune. Uma possibilidade é o reconhecimento pelo macrófago alveolar de algum antígeno desconhecido, o que ativa as células T e leva à produção de interleucina-2. O macrófago ativado também pode liberar vários produtos que estimulam os fibroblastos, explicando a deposição de tecido fibrótico no interstício. • PNEUMONITE POR HIPERSENSIBILIDADE Também é conhecida como alveolite alérgica extrínseca. É uma reação de hipersensibilidade que afeta o parênquima em resposta à poeira inalada. Um bom exemplo é o pulmão de fazendeiro. A exposição costuma ser ocupacional e intensa. A doença é um exemplo de hipersensibilidade tipo 3 (ou uma combinação dos tipos 3 e 4), sendo encontradas precipitinas séricas. O termo "extrínseca" significa que o agente etiológico é externo, podendo ser identificado, ao contrário da alveolite fibrosante "intrínseca" (a fibrose intersticial difusa discutida antes), cuja causa não é conhecida. O pulmão de fazendeiro se deve a esporos da termófila Actinomyces encontrados no feno. Alguns pássaros também podem causar pneumonite por hipersensibilidade por meio de antígenos aviários presentes nas penas ou nas excreções. A pneumonite por hipersensibilidade também pode ser causada por aparelhos de ar-condicionado ou pelo bagaço da cana-de-açúcar (em trabalhadores de canaviais). Patologia As paredes alveolares são espessadas e infiltradas por linfócitos, células plasmáticas e, às vezes, eosinófilos associados a histiócitos, podendo formar pequenos granulomas. Os pequenos bronquíolos costumam estar afetados, e pode haver exsudato luminal. Alterações fibróticas ocorrem nos casos avançados. • EMBOLIA PULMONAR Essa é uma doença importante por ser potencialmente fatal e, com frequência, evitável. Êmbolos pequenos são comuns e raras vezes diagnosticados. Patogênese A maioria dos êmbolos pulmonares corresponde a partes desprendidas de trombos venososformados nas veias profundas das extremidades inferiores. Outros locais são as câmaras cardíacas direitas e a pelve. Êmbolos não trombóticos, como gordura, ar e líquido amniótico, também podem ocorrer, mas são relativamente incomuns. Os fatores que favorecem a formação de trombos venosos são: 1. Estase venosa 2. Alterações no sistema de coagulação 3. Lesões da parede vascular A estase venosa é promovida por imobilização prolongada após fraturas ou cirurgias, por pressão localizada ou por obstrução venosa. É comum em insuficiência cardíaca, choque, hipovolemia, desidratação e varizes de membrosinferiores. Um átrio direito grande e fibrilado costuma conter alguns trombos. A coagulação intravascular é aumentada em várias doenças, como a policitemia vera e a anemia falciforme. A viscosidade aumenta, tornando o fluxo sanguíneo mais lento junto à parede do vaso. Em outras condições, a causa da hipercoagulabilidade é pouco conhecida. Essas condições são as neoplasias, a gestação, o trauma recente e o uso de anticoncepcionais orais. Não há um teste confiável que avalie a tendência ao aumento da coagulação intravascular. As paredes vasculares podem ser lesadas por trauma localizado ou por inflamação. Onde houver um local com flebite apresentando dor, rubor, calor e edema, um coágulo pode aderir com mais firmeza à parede. Com frequência, não se suspeita da presença de trombos nas veias profundas das pernas ou da pelve até que ocorra embolia pulmonar. Algumas vezes, há edema do membro ou dor localizada, os quais podem ser sinais inflamatórios. A dorsiflexão aguda do tornozelo pode causar dor na panturrilha (sinal de Homans). A confirmação pode ser feita por meio de exames complementares, como venografia, cintilografia com captação local de fibrinogênio radioativo e pletismografia por impedância. Quando fragmentos do trombo são liberados, alojam-se rapidamente em ramos da artéria pulmonar. Trombos muito grandes obstruem artérias maiores. Contudo, também podem se dividir, obstruindo artérias menores. Os lobos inferiores são mais envolvidos devido ao seu alto fluxo sanguíneo. O infarto pulmonar, ou seja, a necrose da região que alojou o êmbolo, não é frequente. O mais comum é haver hemorragias e atelectasias distais, porém com manutenção da estrutura alveolar. A perda de surfactante pode contribuir para essas alterações. O infarto é provável quando o êmbolo obstrui uma artéria grande ou se há doença cardiopulmonar preexistente. No infarto, os alvéolos são preenchidos com eritrócitos e células inflamatórias extravasados, causando opacificações radiológicas. Mais raramente, uma área de infarto pode infectar e evoluir para um abscesso pulmonar. A infrequência de infarto se explica, em parte, pelo fato de raras vezes haver obstrução embólica completa dos vasos. Além disso, as anastomoses brônquicas e as viasaéreas fornecem o suprimento de oxigênio necessário ao parênquima envolvido. • PNEUMONIA Pneumonia é definida como sinais e sintomas de uma infecção do trato respiratório baixo, acompanhado de um infiltrado novo na radiografia de tórax compatível com a clínica e sem outras explicações para tal. A pneumonia pode ser dividida em: - Pneumonia adquirida na comunidade (PAC): aquela vista em pacientes fora do ambiente hospitalar ou que surge nas primeiras 48 horas de internação. Além disso, para que seja considerada PAC, o paciente não pode residir em casas de repouso, ou em homecare; não deve ter sido internado por mais de 2 dias nos últimos três meses; nem devem ter recebido antibióticos ou quimioterapia no último mês; ou ser um paciente que faz tratamento em clínica de hemodiálise. A pneumonia relacionada aos cuidados de saúde é aquela que ocorre em pacientes que foram internados por mais de 2 dias nos últimos 3 meses, residem em casa de repouso ou estão em internação domiciliar, receberam antibiótico ou quimioterapia no último mês ou se encontram em hemodiálise. - Pneumonia hospitalar (PH): definida como aquela que acomete pacientes com internamento hospitalar superior a 48 horas. A pneumonia hospitalar pode ainda ser classificada em pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM), que acomete pacientes após 48 horas da intubação orotraqueal. Epidemiologia De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,6 milhão de pessoas ainda morrem anualmente em decorrência da Pneumonia, e são vistos 12 casos/1000 habitantes a cada ano. A maioria das pessoas afetadas encontra-se abaixo de 5 anos ou já são idosos, porém muitos casos são vistos também em outras faixas etárias. Segundo o DATASUS, a pneumonia é a principal causadora de morte entre as infecções respiratórias, sendo a 4a patologia em mortalidade geral, excluindo causas externas. A Pneumonia Hospitalar é mais frequente naqueles pacientes em ventilação mecânica, sendo a segunda causa de infecção hospitalar, respondendo por 25% das internações em UTIs e 50% das prescrições de antibióticos. Nos Estados Unidos, aparece entre 4 e 5 pacientes a cada 1000 que são internados anualmente, porém, esse dado varia de acordo com os hospitais, já que diversas medidas preventivas podem reduzir a incidência de pneumonia hospitalar. Fisiopatologia As vias aéreas inferiores costumam estar protegidas de patógenos devido aos mecanismos de defesa pulmonares, porém, deficiências no sistema de defesa do paciente podem desencadear uma pneumonia, assim como exposição a microrganismo muito virulento ou inoculação excessiva, além da capacidade de defesa do indivíduo. Os principais mecanismos de desenvolvimento da PAC são: micro ou macroaspiração, disseminação de infecções distantes através da circulação sanguínea, ou contiguidade de outro foco infeccioso. Já a PH pode aparecer em pacientes com estado de defesa diminuído por causa do uso de drogas, da doença de base, desnutrição e invasão por sondas, cateteres e cânulas, porém, a colonização é composta, geralmente, por patógenos mais resistentes. Dentre as diversas causas de PH, a principal é o aspirado de secreção da orofaringe ou vazamento da secreção que se acumula no tubo traqueal. Por isso, é importante o constante cuidado com os dispositivos hospitalares que os pacientes utilizam. A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é caracterizada por limitação do fluxo aéreo não totalmente reversível, progressiva e associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões à inalação de partículas ou gases nocivos. Os principais fatores de risco são: fumaça do cigarro, poeiras ocupacionais, irritantes químicos, poluição ambiental, baixa condição socioeconômica e infecções respiratórias graves na infância. O processo inflamatório crônico pode produzir modificações dos brônquios (bronquite crônica) e causar destruição do parênquima pulmonar (enfisema), com consequente redução de sua elasticidade. A presença dessas alterações é variável em cada indivíduo e determina os sintomas da enfermidade. Os sintomas incluem tosse crônica, produção de expectoração e dispneia ao esforço; embora a DPOC comprometa os pulmões, também produz consequências sistêmicas significativas para o sistema muscular e o cardiovascular. As mudanças compostas por inflamação, hipersecreção de muco, contração da musculatura lisa das vias aéreas, espessamento da parede brônquica, perda de retração elástica e destruição alveolar levam à limitação do fluxo aéreo, à inadequação da relação ventilação- perfusão e à hiperinflação pulmonar. Com exceção da asma, a DPOC engloba a bronquite crônica e o enfisema, e essas duas doenças possuem definições próprias: a bronquite crônica refere-se à presença de tosse e produção de expectoração por pelo menos três meses em dois anos consecutivos; o enfisema é definido por destruição alveolar. A DPOC é uma das principais causas de morbidade e mortalidade no mundo, impondo substancial sobrecarga econômica sobre o indivíduo portador da doença e o sistema de saúde. Os custos diretos incluem: despesas médicas (remédios, exames, consultas e serviços hospitalares) e não-médicas (transporte e aluguel/compra de equipamentos domiciliares) associadas à doença. Os custos indiretos refletem as perdas causadas por redução ou interrupção da produtividade em virtude do adoecimento ou morte precoce. Combinando a prevalência da doença com seu impacto, estimam-se gastos da ordem de US$ 1.522,00 por doente por ano, quase três vezes o custo por doente asmático. Dados de uma coorte prospectiva de 1.510 pacientes com DPOC, acompanhados na Espanha durante o ano 2000, mostraram que os pacientes mais graves geraram custo anual de US$ 2.911,00, os moderados, de US$ 2.047,00 e os leves, de US$ 1.484,00. Halbert et al10 (2003) analisaram a prevalência da DPOC em 17 cidades da Europa e da América do Norte a partir de 32 artigos científicos publicados entre 1961 e 2001. As prevalências variaram de 4% a 10% e foram estimadas a partir de diagnósticos espirométricos, de sintomas respiratórios e de doença auto referida. A prevalência da DPOC esteve entre 6% e 15,8% na cidade de São Paulo em 2003, a depender do critério diagnóstico espirométrico. Para a América Latina, a prevalência variou de 7,8% na Cidade do México a 19,7% em Montevidéu. Existe importante carência de informações sobre prevalência de DPOC e fatores associados. O fator de risco considerado mais importante para presença da DPOC é a fumaça de cigarro. O cachimbo, o charuto e outros tipos de tabaco populares em muitos países também são fatores associados à DPOC. Fatores adicionais incluem: poeiras e produtos químicos ocupacionais; poluição do ar intradomiciliar, proveniente de fogões a lenha utilizados para cozinhar e aquecer residências pouco ventiladas; poluição extradomiciliar, que se acrescenta ao impacto total de partículas inaladas do pulmão, embora seu papel específico para determinação da DPOC não seja bem compreendido; e a exposição passiva à fumaça de cigarro, que também pode contribuir para sintomas respiratórios e para a DPOC. Nos Estados Unidos, a DPOC é a quarta causa de morte, e a maior causa de morbidade e incapacidade; cerca de 715.000 hospitalizações ocorreram no país por DPOC em 2005. Segundo o último consenso sobre DPOC, a doença foi a quinta maior causa de internação no sistema público de saúde em maiores de 40 anos no Brasil em 2003, com 196.698 internações e gasto aproximado de R$ 72 milhões. A mortalidade por DPOC no Brasilalcançou 38 mil pessoas por ano, classificada entre a quinta e a sexta causa de morte no País (excluindo mortalidade por causas externas). Entre 1997 e 2007 a mortalidade por essa doença cresceu 24,3%. • Função pulmonar Capacidade mecânica e ventilatória Na DPOC, são reduzidos o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1), a capacidade vital forçada (CVF), o volume expiratório forçado como porcentagem da capacidade vital forçada (VEF/CVF%), o fluxo médio expiratório forçado (FEF2s-7s%) e o fluxo expiratório máximo a 50 e 75% da capacidade vital exalada (FEFsoo/o e FEF75%). Todas as medições refletem a obstrução das vias aéreas, seja causada por muco luminal excessivo, por espessamento inflamatório das paredes, ou por perda da tração radial. A CVF é reduzida porque as vias aéreas fecham prematuramente na expiração ainda com um volume pulmonar muito alto, elevando o volume residual (VR). Um exame da espirometria mostra que o fluxo durante a maior parte da expiração forçada é muito reduzido, e o tempo expiratório é muito aumentado. De fato, alguns clínicos consideram esse tempo prolongado como um índice útil, à beira do leito, do grau de obstrução. Frequentemente a manobra é terminada por perda de fôlego, com o paciente ainda expirando. Esse baixo fluxo durante a maior parte da expiração forçada reflete a redução da retração elástica do enfisema, pois é a retração que gera a pressão responsável pelo fluxo sob compressão dinâmica. Na doença grave, o VEF 1 pode ser inferior a 0,8 litros (o valor normal é cerca de 4 litros em homens jovens e saudáveis). O valor normal depende da idade, da altura e do sexo do indivíduo. Em alguns pacientes, o VEF1, a CVF e o VEF1/CVF% podem aumentar significativamente após a administração de broncodilatadores (p. ex., nebulização com salbutamol* a 0,5% por 3 minutos). Vias aéreas reativas são mais observadas durante uma exacerbação infecciosa de bronquite crônica. Resposta significativa a broncodilatadores que dura semanas sugere asma, doença esta que pode sobre pôr-se à bronquite crônica (bronquite asmática). Alguns médicos administram broncodilatadores a todos os pacientes com DPOC. A curva fluxo-volume expiratória é muito anormal na doença grave. Depois de um breve período de fluxo moderadamente elevado, o fluxo sofre uma redução impressionante com o colapso das vias aéreas e é limitado pela compressão dinâmica. Quando colocada em gráfico, o ramo descendente da curva tem um aspecto côncavo. O fluxo é muito reduzido em proporção ao volume pulmonar e é interrompido com um volume ainda alto, justamente pelo fechamento prematuro das vias aéreas. Contudo, a alça inspiratória da curva fluxo-volume pode ser normal ou próxima a isso.O enfisema se caracteriza pelo aumento da capacidade pulmonar total (CPT), da capacidade residual funcional (CRF) e do VR. Com frequência, a relação VR/CPT expressa em porcentagem pode exceder 40% (normalmente inferior a 30% em indivíduos jovens e saudáveis). Com frequência, há uma discrepância impressionante entre a CRF medida por pletismografia e a medida pela técnica de diluição dos gases(equilíbrio do hélio),sendo a diferença de um litro ou mais a favor da primeira. Isso pode ser causado por regiões pulmonares sem comunicação a jusante de vias aéreas extremamente distorcidas. Contudo, em geral, essa disparidade reflete o lento processo de equilíbrio que ocorre nas áreas pouco ventiladas. Esses volumes estáticos também são alterados na bronquite crônica, mas o aumento no volume é menos significativo. No enfisema, a curva pressão-volume é deslocada para cima e para a esquerda devido à redução da retração elástica. Essa alteração reflete a desorganização e a perda do tecido elástico resultante da destruição das paredes alveolares. A pressão transpulmonar ao nível da CPT é baixa. Na bronquite crônica não complicada sem enfisema, a curva pressão- volume pode ser quase normal, porque o parênquima é pouco afetado. A resistência das vias aéreas (em relação ao volume pulmonar) é aumentada na DPOC. Contudo, é possível distinguir entre o aumento causado pelo estreitamento intrínseco da via aérea e pela presença de debris luminais e aquele causado por perda de retração elástica e tração radial. Isso pode ser feito relacionando-se a resistência com a retração elástica estática. Portanto, pode-se atribuir a redução da capacidade ventilatória quase que inteiramente à diminuição da retração elástica. Essa diminuição, além de reduzir a pressão gerada em uma expiração forçada, permite que as vias aéreas colapsem com maior facilidade, pois a tração radial foi perdida. O pequeno deslocamento na linha dos enfisematosos para a direita provavelmente reflete a distorção e a perda das vias aéreas nessa doença. Ao contrário, na linha dos asmáticos, a condutância foi muito reduzida a uma dada pressão de retração. Portanto, o aumento da resistência nesses pacientes pode ser atribuído ao estreitamento intrínseco causado por broncospasmo e alterações inflamatórias. Depois de terem recebido um broncodilatador (isoproterenol), a linha dos asmáticos retornou à posição normal. Não há dados comparáveis disponíveis em bronquíticos sem enfisema, pois é praticamente impossível selecionar esse grupo de pacientes em vida. Troca gasosa O desequilíbrio entre ventilação- perfusão é inevitável na DPOC, levando à hipoxemia com ou sem hipercapnia. No paciente tipo A, a hipoxemia é moderada (Po2 em torno de 60 a 70 mmHg), e a Pco2 é normal. Ao contrário, no tipo B, ocorre hipoxemia grave (Po2 entre 40 e 50 mmHg) com hipercapnia, sobretudo na doença avançada. O gradiente alvéolo-arterial sempre aumentado, em especial na bronquite grave. Uma análise baseada no conceito do ponto ideal revela um aumento do espaço morto e shunt fisiológicos. O espaço morto é especialmente aumentado no enfisema, ao passo que um shunt fisiológico aumentado é mais comum na bronquite. A razão dessa diferença é esclarecida pela técnica de eliminação de gases inertes. A Figura 4.11 mostra uma distribuição típica de um paciente com doença tipo A avançada. Este homem de 76 anos tem uma história de dispneia progressiva por vários anos. A radiografia torácica mostrou hiper insuflação e atenuação dos pequenos vasos pulmonares. A Po2 arterial era 68 mmHg, e a Pco2 era 39 mmHg. A distribuição mostra uma grande quantidade da ventilação direcionada para unidades com relações ventilação-perfusão (VA/01) elevadas. Na análise do ponto ideal, isso é identificado como espaço morto fisiológico, e muito da ventilação é desperdiçado em termos de troca gasosa. Ao contrário, há pouco fluxo sanguíneo direcionado a unidades com VA/Q1 muito baixas. Isso explica a discreta hipoxemia e a pouca elevação do shunt fisiológico calculado. Esses achados podem ser contrapostos aos mostrados na Figura 4.12. Nessa figura, vê-se a distribuição em um homem de 47 anos com bronquite crônica avançada e doença tipo B. Ele era um fumante pesado com tosse produtiva há muitos anos. A Po2 arterial era 47 mmHg, e a Pco2 era 50 mmHg. É observado que houve algum aumento na ventilação de unidades com altas VAIQ1 (espaço morto fisiológico). Contudo, a distribuição mostrou principalmente um grande fluxo sanguíneo para unidades com baixas VA/Q 1 (shunt fisiológico), justificando a gravidade da hipoxemia. É de se salientar que não houve fluxo sanguíneo para alvéolos não ventilados (shunt verdadeiro). Shunts verdadeiros elevados são incomuns na DPOC. Durante o exercício, a Po2 arterial pode cair ou elevar-se.As mudanças dependem da resposta da ventilação, do débito cardíaco e das alterações na distribuição da ventilação e do fluxo sanguíneo. Pelo menos em alguns pacientes, o fator mais importante na queda da Po2 é a limitação do débito cardíaco que, na presença de desequilíbrio entre ventilação- perfusão, exagera qualquer hipoxemia. Pacientes retentores de C02 elevam ainda mais a Pco2 durante o exercício pela sua limitada resposta ventilatória. O motivo do desequilíbrio entre ventilação- perfusão é claro se considerarmos a desorganização da arquitetura pulmonar no enfisema e as alterações das vias aéreas da bronquite crônica. Há uma ampla evidência de ventilação desigual demonstrada por meio do teste da eliminação do nitrogênio por respiração única. Além disso, medições topográficas com materiais radioativos mostram desigualdades regionais da ventilação e do fluxo sanguíneo. A desigualdade do fluxo sanguíneo é basicamente causada pela destruição de porções do leito capilar. Os efeitos deletérios da obstrução das vias aéreas na troca gasosa são reduzidos pela ventilação colateral que ocorre nesses pacientes. Há muita evidência experimental da existência de canais comunicantes entre alvéolos adjacentes e entre pequenas vias aéreas vizinhas. O fato de haver pouco fluxo sanguíneo para unidades não ventiladas nesses pacientes reforça a efetividade da ventilação colateral, porque, em tese, algumas vias aéreas devem estar totalmente ocluídas, sobretudo na bronquite grave. Outro fator que reduz o desequilíbrio entre ventilação-perfusão é a vasoconstrição hipóxica. Essa resposta local a uma baixa Po2 alveolar reduz o fluxo sanguíneo para unidades pouco ou não ventiladas, minimizando o grau de hipoxemia. Algumas vezes, quando pacientes com DPOC recebem broncodilatadores como o salbutamol, eles desenvolvem uma pequena queda na Po2 arterial. Isso provavelmente se deve à ação vasodilatadora de fármacos f3- adrenérgicos aumentando o fluxo sanguíneo para áreas pouco ventiladas. Esse achado é mais importante na asma. Com frequência, a Po2 arterial é normal em pacientes com DPOC leve à moderada, apesar do desequilíbrio entre ventilação-perfusão. Qualquer tendência à hipercapnia estimula os quimiorreceptores, aumentando a ventilação alveolar. Com o agravamento da doença, ocorre hipercapnia. Isso é mais frequente em pacientes tipo B. O aumento do trabalho respiratório é um fator importante, mas também há evidência de que a sensibilidade do centro respiratório ao C02 seja reduzida em alguns pacientes. Se ocorre hipercapnia, o pH tende a cair causando acidose respiratória. Em alguns pacientes, a hipercapnia se desenvolve de maneira tão lenta que o rim é capaz de reter bicarbonato, mantendo o pH praticamente constante (acidose respiratória compensada). Em outras ocasiões, a hipercapnia é súbita, talvez em decorrência de uma exacerbação infecciosa. Nessas circunstâncias, poderá ocorrer acido se respiratória. Informação adicional da troca gasosa desses pacientes pode ser obtida medindo-se a capacidade de difusão (fator de transferência) do monóxido de carbono. A capacidade de difusão medida pelo método da respiração única deverá estar reduzida no enfisema grave. Do contrário, os valores podem ser normais em pacientes com bronquite crônica, mas com pouca destruição parenquimatosa. As alterações imunológicas associadas ao envelhecimento ou imunossenescência fazem aumentar o risco de infecções que, em idosos, podem ser associadas com declínio funcional inespecífico e comorbidades, com manifestações clínicas diversificadas, promovendo nesse grupo populacional maiores taxas de hospitalizações e morbimortalidade. Esses são alguns dos aspectos que justificam a imunização como parte fundamental dos programas de prevenção e promoção da saúde do idoso. Outros aspectos importantes são: a proximidade entre avós e netos, sendo as crianças importantes agentes transmissores de doenças infecciosas; e as mudanças nos padrões da sexualidade, com o consequente aumento da incidência de doenças sexualmente transmissíveis entre os maiores de 60 anos. Sendo assim, cabe ao médico investigar a situação vacinal, identificar quais vacinas devem ser indicadas e orientar o indivíduo sobre a importância de mantê-las atualizadas, visando à prevenção de doenças como: • As do trato respiratório inferior – quarta causa de morte nos países desenvolvidos, sendo três vezes mais comuns em pessoas acima dos 60 anos de idade. • O tétano, ainda frequente em muitos países, em especial na população acima dos 50 anos. • A difteria, que pode trazer problemas futuros em idades mais avançadas. • A pertussis, cuja morbidade parece ser substancial entre os idosos. • O herpes zoster, cujo risco de emergência aumenta com a idade – ocorre em 20% a 25% da população com mais de 60 anos. • A hepatite B, sexualmente transmissível. De modo geral, todas as vacinas podem ser aplicadas nos idosos. Algumas requerem precauções especiais, como é o caso do sarampo, da caxumba, da rubéola, da varicela e da febre amarela, compostas de vírus vivos atenuados. Após os 60 anos de idade, 8 vacinas devem sertomadas por este público. Essas são recomendações presentes no calendário de vacinação de idosos, determinadas pela Sociedade Brasileira de Imunizações em conjunto com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. • Influenza (gripe) • Pneumocócicas • Herpes zoster • dTpa (adulto) ou dTpa-VIP e dupla adulto (difteria e tétano) – dT • Hepatites A e B • Febre amarela • Meningocócicas conjugadas ACWY/C • Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) Dessas vacinas, apenas quatro são disponibilizadas pelo SUS, segundo o calendário de vacinação da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm): • Influenza (gripe) • dT e dTpa para profissionais da saúde • Hepatite B • Febre amarela INFLUENZA Importância da vacinação na população idosa: Dentre as infecções preveníveis por meio de vacinas, as mais frequentes em idosos são as do trato respiratório, destacando-se as infecções por influenza. A vacinação é a medida mais eficaz para prevenir a gripe e reduzir a morbimortalidade associada à doença nesse grupo populacional e, nas últimas décadas, essa medida tem sido usada com sucesso para reduzir os impactos da enfermidade nessa população. 2. Características gerais da vacina No Brasil, as vacinas disponíveis são constituídas por vírus inativados e fragmentados, portanto, sem risco de infectar o paciente. Para a produção dessas vacinas, o vírus influenza é inoculado em ovos embrionados de galinha, purificado e inativado pelo formaldeído. As vacinas são trivalentes, compostas de três cepas influenza: dois subtipos A (H1N1 e H3N2) e um subtipo de B, conforme orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS). A vacina com adjuvante pode ser utilizada na população de idosos com boa resposta imune, o que compensaria a resposta imune deficiente pela própria imunossenescência. As vacinas utilizadas pelo Programa Nacional de Imunizações(PNI- -MS) não contêm adjuvantes, sendo apenas disponíveis no sistema privado. 3. Esquema de doses Dose única anual como rotina, em especial nos indivíduos com mais de 60 anos, e de preferência antes do início do outono. 4. Comentários Os maiores de 55 anos fazem parte do grupo de risco aumentado para as complicações e óbitos por influenza. Desde que disponível, a vacina influenza 4V é preferível à vacina influenza 3V, por conferir maior cobertura das cepas circulantes. Na impossibilidade de uso da vacina4V, utilizar a vacina 3V. PNEUMOCÓCICAS (VPC13) E (VPP23) Importância da vacinação na população idosa: As infecções pneumocócicas são mais comuns nos extremos da vida (em menores de 2 anos e maiores de 65). É importante salientar que doenças crônicas cardiovasculares, pulmonares, hepáticas ou renais, bem como as neurológicas e a imunodepressão, são fatores de risco bem estabelecidos. Assim, em comparação com adultos saudáveis, pessoas com doenças cardíacas ou pulmonares crônicas ou diabetes mellitus têm risco três a seis vezes maior de doença pneumocócica invasiva. Pacientes com imunodeficiência possuem risco 23 a 48 vezes maior de desenvolver a doença invasiva. Além disso, os idosos são um conhecido grupo de risco para complicações e mortalidade por doença pneumocócica, por isso a importância de vacinar idosos. 2. Características gerais da vacina: Atualmente, as vacinas disponíveis são a polissacarídica 23-valente (VPP23) e conjugada 13 valente (VPC13). A vacina polissacarídica 23 valente (VPP23) contém polissacarídios da cápsula de 23 sorotipos do Streptococcus pneumoniae: 1, 2, 3, 4, 5, 6B, 7F, 8, 9N, 9V, 10A, 11A, 12E, 14, 15B, 17E, 18C, 19A, 19E, 20, 22F, 23F e 33F. Enquanto que as vacinas conjugadas 13 valente contém os sorotipos 1, 3, 4, 5, 6A, 6B, 7F, 9V, 14, 18C, 19A, 19F e 23F. 3. Esquema de doses Iniciar com uma dose da VPC13 seguida de uma dose de VPP23 seis a 12 meses depois, e uma segunda dose de VPP23 cinco anos após a primeira. 4. Comentários Para aqueles que já receberam uma dose de VPP23, recomenda-se o intervalo de um ano para a aplicação de VPC13. A segunda dose de VPP23 deve ser feita cinco anos após a primeira, mantendo intervalo de seis a 12 meses com a VPC13. Para os que já receberam duas doses de VPP23, recomenda-se uma dose de VPC13, com intervalo mínimo de um ano após a última dose de VPP23. Se a segunda dose de VPP23 foi aplicada antes dos 60 anos, está recomendada uma terceira dose depois dessa idade, com intervalo mínimo de cinco anos da última dose. HERPES ZÓSTER Vacina recomendada mesmo para aqueles que já desenvolveram a doença. Nesses casos, aguardar intervalo mínimo de um ano, entre o quadro agudo e a aplicação da vacina. Em caso de pacientes com história de herpes zóster oftálmico, não existem ainda dados suficientes para indicar ou contraindicar a vacina. O uso em imunodeprimidos deve ser avaliado pelo médico. O esquema vacinal é de rotina e com apenas umas dose. A vacina não está disponível pelo SUS. dTpa 1. Vacinas disponíveis As vacinas disponíveis, hoje, são: dT (dupla bacteriana do tipo adulto), apenas na rede pública, e dTpa (tríplice bacteriana acelular do tipo adulto), apenas na rede privada. Não existe vacina monovalente de difteria ou coqueluche. Mas existe o toxoide tetânico (TT) que é produzido para uso como vacina monovalente, mas não está disponível na rede pública. 2. Eficácia Os toxoides diftérico e tetânico são extremamente imunogênicos e falhas vacinais em pessoasjá vacinadas são muito raras. As vacinas coqueluche são muito eficazes na prevenção de formas graves da doença, mas menos para a prevenção de formas atenuadas. Entretanto, a duração da proteção induzida por essas vacinas, e também pela doença, é relativamente curta, em muitos casos inferior a dez anos. Acredita-se ser essa uma das causas do ressurgimento da doença, já referido. É importante salientar que a coqueluche (ao contrário de outras, como sarampo e varicela) não confere proteção vitalícia, o que explica novos episódios em indivíduos previamente acometidos, inclusive adultos e idosos. 3. Esquema de doses Idealmente, os idosos vacinados para difteria e tétano (três doses, pelo menos, no passado) deveriam receber uma única dose da vacina dTpa (independentemente do intervalo transcorrido desde a última dose de TT ou dT) e, a partir daí, uma dose de dTpa a cada dez anos. Não havendo disponibilidade de dTpa, a indicação para os adequadamente vacinados é de uma dose de dT a cada dez anos. Os idosos nunca vacinados (ou com história vacinal desconhecida) devem receber uma dose de dTpa, seguida de duas doses de dT no esquema 0 - 2 - 4 a 8 meses 4. Comentários A vacina está recomendada mesmo para aqueles que tiveram a coqueluche, já que a proteção conferida pela infecção não é permanente. Considerar anteciparreforço com dTpa para cinco anos após a última dose de vacina contendo o componente pertussis para idosos contactantes de lactentes. Para idosos que pretendem viajar para países nos quais a poliomielite é endêmica recomenda-se a vacina dTpa combinada pólio inativada (dTpa- VIP). A dTpa-VIP pode substituir a dTpa, se necessário. (dTpa-VIP só está disponível na rede privada). HEPATITES A E B 1. Importância da vacinação na população idosa A maioria dos adultos e idosos em nosso país apresenta positividade sorológica para essa infecção. Aos 50 anos, são poucos os indivíduos que não tiveram ainda contato com o vírus. Assim sendo, para os idosos, a vacinação é indicada apenas para aqueles suscetíveis, com sorologia negativa para a doença. O que mostra a importância especial para a indicação desta triagem sorológica é a representada pelos indivíduos com risco aumentado de complicações decorrentes da hepatite A, como, por exemplo, os portadores de doenças hepáticas crônicas (em particular a hepatite C, os hemofílicos e em algumas situações de imunossupressão, por doença ou medicamento). Em idosos suscetíveis, que tiveram contato com doente ou durante surtos da doença em instituições, embora a aplicação precoce da vacina possa trazer proteção completa, quando o período de contágio pode ter sido superior a poucos dias, considera-se prudente associar à imunoglobulina humana normal, em dose de 0,02 a 0,06 ml/kg, por via IM em uma única administração. Em relação à hepatite B, houve uma e mudança no padrão sexual dos homens com mais de 60 anos em decorrência dos medicamentos para tratamento de disfunção erétil, disponíveis no mercado a partir da década de 1990, proporcionando- lhes atividade sexual mais intensa. Com essa nova realidade é necessário que os profissionais da área da Saúde estejam atentos ao diagnóstico e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis também entre os idosos. 2. Características gerais da vacina: Tanto a Vacina hepatite A, quanto a vacina hepatite B são compostas por vírus inativado. 3. Esquema de doses Hepatite A: após avaliação sorológica ou em situações de exposição ou surtos. É administrado duas doses no esquema 0 - 6 meses. (Não disponível pelo SUS) Hepatite B: rotina. É administrado três doses no esquema 0 - 1 - 6 meses, ou seja, a segunda um mês depois da primeira e a terceira seis meses após a primeira. Hepatite combinada A e B: a vacinação combinada para as hepatites A e B é uma opção e pode substituir a vacinação isolada para as hepatites A e B, quando as duas vacinas estão indicadas. Para ela, a administração é de três doses no esquema 0 - 1 - 6 meses. 4. Comentários Na população com mais de 60 anos é incomum encontrar indivíduos suscetíveis. Para esse grupo, portanto, a vacinação não é prioritária. A sorologia pode ser solicitada para definição da necessidade ou não de vacinar. Em contactantes de doentes com hepatite A, ou durante surto da doença, a vacinação deve ser recomendada. FEBRE AMARELA 1. Importância da vacinação na população idosa A febre amarela é uma doença endêmica cujas formas maisseveras oferece letalidade ao redor de 50%,sendo mais grave entre crianças de
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