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• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Bryan Lawson • • • • • • • • • • • ... • • • • • • • • • • • • COMO ARQUITETOS E DESIGNERS PENSAM Bryan Lawson Tradução I Maria Beatriz Medina Copyright original© 2006, Bryan Lawson. Publicado originalmente pela Elsevier Ltd. Todos os direitos reservados. Copyright© 2006, Bryan Lawson. Originally published by Elsevier Ltd. All rights reserved. Copyright© 2011 Oficina de Textos 1ª reimpressão 2015 Esta edição de How Designers Think, de Bryan Lawson, foi publicada em acordo com a ELSEVIER LIMITED, The Boulevard, Langford Lane, Kidlington, Oxford, OX5 1GB, Reino Unido. A tradução é de responsabi- lidade da Oficina de Textos. ISBN original: 978-0-7506-6077-8. Grafia atualizada conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009. Conselho editorial Cylon Gonçalves da Silva; Doris C. C. K. Kowaltowski; José Galizia Tundisi; Luis Enrique Sánchez; Paulo Helene; Rozely Ferreira dos Santos; Teresa Gallotti Florenzano Capa e Projeto grá fico Malu Vallim Diagramação Cristina Carnelós, Douglas da Rocha Yoshida e Malu Vallim Preparação de figuras Cristina Carnelós Preparação de Textos Gerson Silva Revisão de Textos Felipe Marques e Marcel lha Tradução Maria Beatriz Medina Impressão e acabamento Prol editora gráfica Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Lawson, Bryan Como arquitetos e designers pensam/ Bryan Lawson; tradução Maria Beatriz Medina. -- São Paulo : Oficina de Textos, 2011. Título original: How designers think : the design process demystified . Bibliografia ISBN 978-85-7975-017-5 1. Comunicação em design 2. Design I. Título. 11-02746 CDD-745.4 Índices para catálogo sistemático: 1. Design: Artes 745.4 A Oficina de Textos e a Elsevier Ltd., na extensão permitida sob as leis aplicáveis, não assumem qualquer responsabilidade por perdas e danos sofridos por pessoas, animais ou propriedades referentes a declarações caluniosas, violações de propriedade intelectual ou direitos de privacidade, ou responsabilidade de produtos, negligência ou outros, - reais ou alegados-, ou proveniente do uso ou operação de quaisquer ideias, instruções, méto- dos, produtos ou procedimentos contido nesta obra. Todos os direitos reservados à Editora Oficina de Textos Rua Cubatão, 959 CEP 04013-043 São Paulo SP tel. (11) 3085-7933 (11) 3083-0849 www.ofitexto.com.br atend@ofitexto.com.br Para Rosie Prefácio Neste momento, este livro tem uma história longa demais para o meu gosto. É assustador pensar que a primeira edição foi publicada há quase um quarto de século. Desde então não saiu de catálogo e muitos tiveram a gentileza de me dizer que o livro lhes foi útil nos estudos, na pesquisa ou no desenvolvimento do seu processo de projeto. Nem é preciso dizer que muitos outros foram bem mais críticos em relação a algumas ideias, e que a maioria dos seus argumentos foi levada em conta conforme o livro progrediu nas edições anteriores a esta, que é a quarta. A princípio, este livro não pretendia ser normativo, e con- tinua assim. Ele é uma tentativa de reunir boa parte do que sei sobre projetar. É claro que esse conhecimento vem de mui- tos anos de pesquisa. Mas vem também de ensinar projetistas com históricos bem variados. Ensinei alunos de arquitetura, de design de interiores, de desenho industrial e de produtos, de urbanismo e de planejamento urbano, de paisagismo, de design gráfico e também os que desenvolvem mundos virtuais, como sites na internet e desenhos animados. Também dei aulas nas áreas de ergonomia, projeto de sistemas e programação de computadores. Várias vezes esses alunos me divertiram, surpreenderam e entretiveram. Sempre me ensinaram coisas novas e, às vezes, me espantaram. O encanto e a vantagem desses alunos noviços deve-se, muitas vezes, ao fato de não perceberem que algumas coisas são consideradas difíceis, e de vez em quando eles mostram que é possível transformar o complexo em simples e resolver o que é espinhoso. É por isso que projetar vicia tanto e é tão fascinante, mas é claro que também, com muita frequência, é frustrante e enfurecedor. Tive o privilégio de conhecer muitos projetistas maravilhosos, alguns conhecidíssimos, outros menos famosos. Discutimos as ideias deste livro. É comum que projetistas de muito suces- so me avisem, no início das discussões, que conseguem des- crever os projetos com mais facilidade do que os processos. Na verdade, em geral conseguem dizer muito mais sobre o processo do que antes achavam possível. Para alguns leitores, pode parecer estranho que falo relativamente pouco da obra final de alguns desses projetistas bem-sucedidos. O fato é que se escreve muito mais sobre projetos do que sobre processos, por isso não peço desculpas por dizer pouquíssimo aqui sobre o produto e me concentrar no processo. Se eu fosse começar a escrever este livro agora, do nada, provavelmente faria tudo diferente. Depois que o publiquei, escrevi mais dois sobre assuntos correlatos, Design in Mind [O projeto em mente] e What Designers Know [O que sabem os projetis- tas]. Na verdade, esse último é irmão deste aqui. Revisei esta quarta edição à luz das pesquisas mais recentes, mas tam- bém com o conhecimento de que What Designers Know já foi publicado. Na verdade, ambos os livros, reunidos, representam as minhas ideias mais recentes. Esta quarta edição tem dois capítulos inteiramente novos no final. Os capítulos da tercei- ra edição sobre projetar com desenhos e projetar com compu- tadores foram removidos. Em essência, ambos estudavam o modo como o conhecimento do projeto é transferido da mente humana para alguma representação externa. Agora, as ideias principais que brotaram desse estudo podem ser encontradas, de forma muito mais desenvolvida, em What Designers Know. Aqui, o primeiro capítulo novo discute a ideia do projeto como conversa. Além de a popularidade dessa visão do projeto ter aumentado no período em que este livro esteve em catálogo, agora ela constitui um modo de pensar sobre muitas questões importantes relativas ao modo como os projetistas trabalham em equipe, com desenhos e com computadores. O segundo capítulo novo tenta resumir, de forma bastante impulsiva, a série de atividades que, segundo acredito, formam o processo de projeto. Também incorpora e resume algumas lições que só recentemente nos foram disponibilizadas sobre como real- mente trabalham os projetistas experientes e como isso pode ser diferente do modo como os novatos trabalham. Portanto, no livro agora há três novos resumos. O modelo de problemas de projeto desenvolvido no Cap. 6, as conclusões intermediárias do Cap. 7 e o sumário final da atividade de pro- jetar no Cap. 16. Duvido muitíssimo que esse seja o fim da his- tória. Tenho certeza de que muitos me dirão que não é e que continuaremos a ter os mesmos debates interessantes e fasci- nantes dos quais tive a sorte de participar durante tantos anos. Já pesquiso o processo de projeto há mais de quatro décadas, conheci a maioria dos que contribuem de forma significativa e constante com o tema e me beneficiei muito das discussões entre todos os envolvidos. Os Design Thinking Research Sym- posia (Simpósios de Pesquisa sobre o Pensamento ao Projetar] e as Creativity and Cognition Conferences (Conferências de Criatividade e Cognição] trouxeram inspirações específicas. Supervisionei a pesquisa de muitos alunos e me beneficiei da colaboração com eles. Sou muito grato a todos os que me aju- daram a dar forma a essas ideias mal-ajambradas enquanto procuramos o entendimento desta que é a mais mágica de todas as realizações cognitivas humanas: projetar. Bryan Lawson Apresentação O livro Como Arquitetos e Designers Pensam (How Designers Think, no original em inglês)foi publicado pela primeira vez em 1980 por Bryan Lawson. Em sua quarta edição, publicada em 2006, esta obra teve um papel fundamental nos estudos sobre o processo de projeto, principalmente em Arquitetura. A pri- meira edição marcou um momento importante na história do movimento chamado Design Methods, na busca de aprofundar o conhecimento sobre os procedimentos e as atividades cogni- tivas do processo de projeto. As investigações na área de Metodologia de Projeto foram formalizadas durante a década de 1950, quando arquitetos e engenheiros atentos ao panorama científico procuraram apli- car novas técnicas ao desenvolvimento de projeto para melho- rar a qualidade do processo e dos seus produtos. No final de 1962, realizou-se em Londres a primeira conferência sobre métodos de projeto (Conference on Design Methods), com o obje- tivo de buscar e definir métodos sistemáticos de resolução de problemas. Seguiram-se outros congressos importantes e sur- giram grupos de estudo sobre métodos de projeto. O assun- to tomou rumos diversos nos cinquenta anos seguintes, mas a criação de vários periódicos, como a revista Design Studies, publicada pela Elseuier Ltd., constituiu uma importante fonte para pesquisa em projeto e atesta a vitalidade contínua de estudos na área. Nigel Cross, um dos criadores do periódico Design Studies, identifica os principais assuntos discutidos pelos expoentes dos métodos de projeto como sendo: o controle do processo de proje- to, a estrutura dos problemas de projeto, a natureza da ativida- de de projeto, e a filosofia do método de projeto. Bryan Lawson, na sua obra Como Arquitetos e Designers Pensam, aborda os quatro assuntos, com ênfase na natureza da atividade de projeto. No Brasil, os Design Methods não tiveram expressiva reper- cussão na atividade profissional dos escritórios de projeto e influenciaram pouco os programas de ensino ou pesquisa das escolas de Arquitetura. Um dos motivos dessa indiferença pode ser a falta de traduções de publicações seminais como, por exemplo, esta obra. Desta forma, a tradução do livro de Bryan Lawson, em sua quarta edição, traz uma importante contribuição para a área, que deve enriquecer as discussões sobre o processo de projeto. Espera-se poder contar com outras traduções de autores como John Christopher Jones, Christopher Alexander, Geo- ffrey Broadbent, Õmer Akin, Donald Schõn e Nigel Cross, entre outros. Algumas das obras desses autores já foram traduzidas para o português, mas faltam ainda importantes textos, inclu- sive do próprio Bryan Lawson, para estimular e apoiar os estu- dos da área no Brasil. Este livro de Lawson discute assuntos como: o papel do designer ou projetista em arquitetura, os componentes dos pro- blemas em projeto e a busca de soluções. Os estilos de pen- samento são analisados com ênfase no processo criativo. Analisa-se a estrutura do processo e propõe-se um modelo na última parte da obra, que na quarta edição toma novos rumos. É dada menos importância aos impactos da informática no pro- cesso de projeto, e Lawson reafirma a sua fascinação pela prá- tica de projeto, ou seja, pelo estudo e compreensão da magia que acontece no processo criativo de projeto. Esses assuntos são apresentados por Lawson com vários exemplos de diversas áreas, principalmente a sua própria experiência como arquite- to e professor de projeto, relatada em linguagem rica e agradá- vel de ler. A tradução de obras sobre o processo de projeto não é uma tarefa fácil, inclusive pelas dificuldades em encontrar termos corretos para os assuntos abordados. Para começar, o próprio título do livro, onde figura o profissional "designer", encontrou algumas dificuldades na sua definição em português. Trata- -se de que tipo de projetista? Projetos são desenvolvidos em todas as atividades humanas e as palavras "design" e "designer", constando atualmente nos dicionários de língua portuguesa, referem-se respectivamente às atividades de diagramação grá- fica e aos profissionais do desenho industrial. A obra de Lawson discute estas questões, analisando principalmente o proces- so cognitivo de profissionais em arquitetura. Desta maneira, optou-se pelo título Como os Arquitetos e Designers Pensam. A tradução desta obra destina-se a profissionais de projeto, arquitetos, designers, engenheiros e alunos de graduação e pós- -graduação, bem como pesquisadores da área de teoria e pro- jeto. Com esta empreitada, a Editora Oficina de Textos oferece para este público no Brasil uma das obras mais reconhecidas e importantes sobre como os problemas e as soluções em pro- jeto são abordados. Doris C. C. K. Kowaltowski Profª Titular da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - Universidade Estadual de Campinas Agradecimentos Sou muito grato aos muitos estudantes de projeto que foram meus alunos com o passar dos anos e que frequentemente questionam, com a sua imaginação criativa, as ideias do pro- fessor. Agradeço especificamente as muitas discussões e deba- tes que tivemos durante tantos anos no meu grupo de pesqui- sa e com outros colegas. Os que contribuíram dessa maneira são tantos que não é possível citá-los, mas, se continuam inte- ressados a ponto de ler isto aqui, espero que saibam quem são! Tenho de agradecer aos projetistas que concordaram em submeter-se à minha investigação. Muitos gozam de sólida reputação e tiveram coragem suficiente para me abrir a sua mente. Espero que sintam que aqui fiz justiça ao seu talento. Pelo fornecimento de ilustrações, também sou grato a: Richard Seymour, de Seymour/Powell, Londres, Reino Uni- do, pelas Figs. 10.4 e 15.2; Ken Yeang, da T. R. Hamzah, e Yeang Sdn Bhd, de Kuala Lumpur, Malásia, pela Fig. 10.5; Richard MacCormac, de MacCormac, Jamieson, Prichard, Londres, Reino Unido, pelas Figs. 11.5, 11.6 e 14.3; Professor Peter Blundell Jones, da Universidade de Sheffield, Reino Unido, pela Fig. 11.7; Kit Allsopp, da Kit Allsopp Architects, Londres, Reino Unido, pelas Figs. 12.1 e 12.2; Michael Wilford, de Michael Wilford and Partners, Londres, Reino Unido, pela Fig. 12.3; Eva Jiricna, de Eva Jiricna Architects, Londres, Reino Unido, pela Fig. 12.4; Robert Venturi, de Venturi, Scott Brown and Associates, Fila- délfia, EUA, pelas Figs. 12.5 e 12.6; GeoffJones, de Building and Urban Design Associates, Birmin- gham, Reino Unido, pela Fig. 13.9; Steven Groak, de Ove Arup Partnership, Londres, Reino Unido, pela ideia da Fig. 15.3; Richard Burton, de Ahrends, Koralek and Burton, Londres, Rei- no Unido, pelas Figs. 14.1 e 14.2; Peter Durand, Londres, Reino Unido, pela Fig. 14.4; Ian Ritchie, de Ian Ritchie Associates, Londres, Reino Unido, pela Fig. 15.1. Sumário Prefácio Apresentação Agradecimentos Primeira parte O QUE É PROJETAR? 1 2 3 Introdução A mudança do papel do projetista Mapeamento do processo de projeto Segunda parte PROBLEMAS E SOLUÇÕES 4 5 6 7 Os componentes dos problemas de projeto Medições, critérios e avaliação ao projetar Modelo de problemas de projeto Problemas, soluções e o processo de projeto 4 7 10 13 15 27 40 57 59 68 86 11 O Terceira parte O PENSAMENTO AO PROJETAR 125 8 Tipos e estilos de pensamento 9 Pensamento criativo 10 Princípios condutores 11 Estratégias para projetar 12 Táticas para projetar 13 Armadilhas do projeto 14 Projetar com outros 15 Projetar como conversa e percepção 16 Rumo a um modelo de projeto Referências bibliográficas Índice remissivo 127 141 153 171 187 205 216 245 264 280 289 PARTE UM O QUE É PROJETAR? 1 Introdução Ponha um g rupo de arquitetos, urbanistas e planejado res nu m ônibus de tu rismo e as suas ações definirão os limites dos seus interesses. Os arquitetos tirarão fotog rafias de prédios, estradas e pontes. Os urbanistas esperarão o momento em que os três estejam juntos.Os planejadores est arão ocupados demais falando para olhar pela janela. Denise Scott Brown, A D Urban Concepts Ver o pensament o com o habilidade e não como dom é o primeiro passo para agi r de modo a aprimo rar essa habilidade. Edward de Bono, Practica/ Thinking 1.1 Projetar A própria palavra "projetar" é o primeiro problema que temos de enfrentar neste livro, já que tem uso cotidiano mas, para cada grupo, o seu significado é diferente e bem específi- co. Vamos começar observando que há o verbo projetar e o substantivo projeto, que pode se referir tanto ao produto final quanto ao processo. Há relativamente pouco tempo, a palavra inglesa designer, ou "projetista", chegou até a ser usada como adjetivo. Embora, por um lado, se possa considerar que isso trivializa a atividade de projetar como moda apenas, o uso da palavra como adjetivo indica algo importante para nós neste livro. Indica que nem todo projeto tem o mesmo valor e que, talvez, o trabalho de alguns projetistas seja considerado mais importante do que o de outros. Neste livro, não estudaremos como projetos e designs nos propiciam acessórios da moda. Na verdade, não daremos muita atenção direta ao produto final dos projetos. Este livro trata principalmente do projeto 16 COMO ARQUITETOS E DESIGNERS PENSAM enquanto processo. Daremos atenção ao funcionamento desse processo, ao que sabemos ou não a seu respeito e a como é aprendido e praticado por pro- fissionais e especialistas. Estaremos interessados em como auxiliar o pro- cesso com o uso de computadores e com o trabalho em grupo. Estaremos interessados em como levar todos os envolvidos a se fazer ouvir. Até certo ponto, podemos consi- derar genérica a atividade de projetar, mas, ainda assim, parece haver dife- renças reais entre os produtos finais criados por projetistas de vários cam- pos. Assim, uma das perguntas presen- tes no livro todo será até que ponto os projetistas têm processos em comum e até que ponto esses processos variam de um campo a outro e entre indiví- duos. Um engenheiro estrutural pode chamar de projeto o processo de calcu- lar as dimensões de vigas de uma edifi- cação. Na verdade, esse é um processo quase inteiramente mecânico. Apli- cam-se várias fórmulas matemáticas e os valores apropriados das várias car- gas que agirão sobre a viga; o resultado é o tamanho necessário. É bem com- preensível que o engenheiro use aqui a palavra "projeto", já que esse processo é bem diferente da "análise" na qual as cargas são propriamente determina- das. No entanto, ao criar o projeto de uma nova coleção, o estilista de moda pode ficar um tanto perplexo com o uso da palavra "projeto" pelo engenheiro. O processo do engenheiro nos parece relativamente preciso, sistemático e até mecânico, enquanto a criação de moda parece mais imaginativa, imprevisí- vel e espontânea. Desde o princípio, o engenheiro sabe mais ou menos o que é preciso. Nesse caso, uma viga que tenha a propriedade de cobrir o vão necessá- rio e suportar as cargas conhecidas. É provável que o conhecimento do esti- lista de moda sobre o que é necessário seja muito mais vago. A coleção pre- cisa atrair a atenção e vender bem, e possivelmente aumentar o renome da confecção. No entanto, essas informa- ções nos dizem muito menos sobre a natureza do produto final do processo de projeto do que as do engenheiro que projeta a viga. Na verdade, até certo ponto, ambas as descrições são caricaturas, já que a boa engenharia exige considerável ima- ginação e muitas vezes pode ter resulta- do imprevisível, e é pouco provável que se consiga boa moda sem considerá- vel conhecimento técnico. Portanto, os vários tipos de projeto lidam com ideias precisas e vagas, exigem pensamen- to sistemático e caótico, precisam de ideias criativas e cálculos mecânicos. No entanto, um grupo de campos pare- ce ficar próximo do meio dessa série de atividades que envolvem projetos. Os campos tridimensionais e ambientais da arquitetura, do design de interiores, do desenho industrial e de produto, do urbanismo e do paisagismo exigem todos que o projetista gere produtos finais belos e também úteis, práticos e que funcionem bem. Nesses campos, na maioria dos casos, é provável que pro- jetar exija considerável especialização e conhecimento técnico, além de ima- ginação visual e capacidade específica. Os projetistas desses campos geram objetos ou lugares que podem ter gran- de impacto sobre a qualidade de vida de muita gente. Os erros podem causar inconveniências graves e custos ele- vados, e podem até mesmo ser perigo- sos. Por outro lado, projetos muito bons podem se aproximar do poder que as artes plásticas e a música têm de elevar o espírito e enriquecer a vida. A arquitetura é um dos campos com localização mais central nesse espectro da atividade de projetar e, provavel- mente, é sobre ela que mais se escreve. Como o autor é arquiteto, haverá mui- tos exemplos arquitetônicos neste livro. No entanto, este não é um livro sobre arquitetura, muito menos sobre os produtos de algum projeto. É um livro sobre os problemas de projetar, sobre o que os torna tão especiais, sobre como entendê-los, e trata dos processos de projeto e de como aprendê-los, desen- volvê-los e praticá-los. Já começamos a nos concentrar em projetistas profissionais como os arqui- tetos, os estilistas de moda e os enge- nheiros. Mas aqui há um paradoxo sobre a atividade de projetar. Hoje, visivelmen- te, projetar é uma atividade altamente profissional para algumas pessoas; os melhores projetistas são valorizadíssi- mos, e o que fazem é muito admirado. Ainda assim, projetar também é uma atividade cotidiana de todos nós. Proje- tamos o nosso quarto, decidimos como arrumar objetos em prateleiras ou sis- temas de armazenamento, planejamos nossa aparência toda manhã, planta- mos, cultivamos e cuidamos do jardim, escolhemos alimentos e preparamos refeições, planejamos as férias. Todas 1 Introdução 17 essas atividades domésticas e cotidia- nas podem ser consideradas projetos, ou pelo menos semelhantes a projetos. Quando estamos no trabalho, também projetamos ao planejar o tempo, orga- nizar a tela inicial dos computadores, arrumar salas para reuniões, e assim por diante. Podemos não engrandecer essas humildes tarefas com a palavra "projeto", mas elas têm muitas caracte- rísticas em comum com as tarefas pro- fissionais de projetar. Podemos ver, porém, que essas tare- fas variam de modo a nos dar algumas pistas sobre a natureza do ato de proje- tar. Algumas delas, na verdade, são uma questão de escolher e combinar itens predeterminados. Em alguns casos, podemos também criar esses itens. Às vezes, podemos criar algo tão novo e especial que os outros talvez queiram copiar o que fizemos. Em geral, é mui- to mais provável que isso aconteça com projetistas profissionais. Mas os proje- tistas profissionais também projetam para os outros, não só para si mesmos. Eles têm de aprender a entender proble- mas que os outros acham difícil des- crever e dar a eles boas soluções. Esse trabalho exige mais do que apenas "jei- to" com materiais, formas e cores; exige um grande leque de habilidades. Assim, atualmente os projetistas profissionais são muito bem qualificados e treinados. 1.2 A formação de projetistas A formação de projetistas que conhe- cemos hoje é um fenômeno relativa- 18 COMO ARQUITETOS E DESIGNERS PENSAM mente recente. Atualmente, o fato de o projetista precisar de instrução formal com períodos de estudo acadêmico e de isso acontecer numa instituição edu- cacional é uma ideia aceita por todos. A história da formação de projetistas mostra que progressivamente o local de trabalho foi trocado pelo ateliê de projeto de faculdades e universidades. Numa tentativa recente de interpretar a história da formaçãoem arquitetu- ra associada à fundação do Prince of Wales Institute of Architecture [Insti- tuto de Arquitetura Príncipe de Gales], essa mudança foi interpretada como uma série de conspirações políticas (Crinson; Lubbock, 1994). Sem dúvida, é possível defender que falta à formação acadêmica de projetista o contato com quem faz as coisas, mas, como vere- mos no próximo capítulo, isso reflete a prática. Os projetistas de hoje não podem mais ser treinados para seguir um conjunto de procedimentos, já que o ritmo das mudanças no mundo no qual têm de trabalhar logo os deixaria para trás. Não podemos mais nos dar ao luxo de mergulhar o estudante de arquitetura ou de desenho industrial em alguns ofícios tradicionais. Em vez disso, eles têm de aprender a avaliar e aproveitar a nova tecnologia enquanto ela se desenvolve. Também vemos surgir, como consequência da tecnologia, vários campos novos da atividade de proje- tar. Tive a sorte de passar algum tempo trabalhando no departamento de pro- jeto de uma universidade inteiramente dedicada à multimídia. Lá, os projetis- tas aprendem a fazer animações, criar sites na internet, projetar mundos vir- tuais e criar novas maneiras de usar uma tecnologia muito complexa e de relacionar-se com ela. Esses campos de projeto seriam inimagináveis quando a primeira edição deste livro foi publica- da (1980], mas hoje são muito populares entre os estudantes. Ainda mais adian- te, na variedade de campos de projeto, encontramos os projetistas de software e de sistemas, que criam os programas que todos usamos para escrever livros, manipular imagens e dar aulas. Muitos produtos contemporâneos combinam e integram em si hardware e software, de tal modo que a distinção fica cada vez mais irrelevante. Celulares, tocadores de MP3 e computadores pessoais por- táteis surgem, convergem e transfor- mam-se em novos tipos de aparelhos. Os projetos dessas áreas vêm m udando a nossa vida não só física como social- mente. Até há pouco tempo, acredita- va-se que programas de computador e analistas de sistemas estariam fora do alcance de um livro como este. No entanto, descubro cada vez mais que quem trabalha nesses campos conside- ra pertinentes as ideias aqui expostas e, em consequência, passa a questionar a maneira tradicional em que se forma- ram tais projetistas. No século XX, a tecnologia começou a desenvolver-se tão depressa que, pela primeira vez na história, uma pessoa, ao longo de sua vida, podia perceber essa mudança. Projetar sempre esteve ligado às nossas realizações intelec- tuais contemporâneas, como na arte, na ciência e na filosofia. Durante esse período, vimos uma mudança dessa atividade que, na época, foi conside- rada mais profunda e fundamental do que em todos os períodos estilísticos precedentes. Essa época passou a ser conhecida pela ligação direta com o contemporâneo: "modernismo". Esse nome insinuava que seria um pon- to final na história do projeto, e estu- dei com professores que acreditavam genuinamente nisso. Esse conjunto de ideias influenciou de forma tão profun- da o modo como pensamos a ativida- de de projetar que, às vezes, é difícil se desembaraçar dele. Só agora começa- mos a ver que é possível avançar além do modernismo. Aqui, o estilo dos pro- jetos não será a principal preocupação, mas também não podemos pensar no processo isoladamente. Recentemente, a formação de pro- jetistas saiu de um período em que a história era tratada como merecedora de estudo acadêmico, mas com pou- ca ligação com o presente. Ainda bem que essa noção de modernismo como última palavra na atividade de projetar foi amplamente rejeitada, e esperamos que o estudante de hoje não só aprecie a obra histórica pelo valor intrínseco, como também a use para embasar pro- jetos contemporâneos. A formação de projetistas tem algu- mas características muito comuns que transcendem os países e os campos de atividade. Tipicamente, as escolas usam o ateliê físico e conceituai como principal mecanismo de ensino. Em termos conceituais, o estúdio é um pro- cesso de aprender fazendo, no qual os alunos recebem uma série de proble- mas de projeto para resolver. Assim, 1 Introdução 19 aprendem a projetar principalmente na prática, em vez de empregar estudos ou análises. Parece quase impossível aprender a projetar sem pôr a mão na massa. No entanto, as ideias deste livro podem ser um recurso complementar. Um dos pontos fracos do estúdio tradi- cional é que os alunos, por dar muita atenção ao produto final do trabalho, deixam de refletir suficientemente sobre o processo. Em termos físicos, o estúdio é o lugar onde os alunos se reú- nem e trabalham sob a supervisão dos professores. Muitas vezes se pressupõe que o estúdio reproduz um escritório de projetistas profissionais naquele campo de atividade. No entanto, aqui um dos problemas perenes é o fato de ser dificílimo reproduzir na universi- dade boa parte do mundo profissional real. Especificamente, em geral não há clientes com problemas reais, dúvidas, orçamentos e restrições de prazo. Portanto, muitas vezes é difícil para os alunos desenvolver um processo que lhes permita relacionar-se adequada- mente com as outras partes interessa- das no projeto. Em vez disso, para eles é mais fácil desenvolver, de forma mui- to pessoal, processos autorreflexivos que visam principalmente satisfazer a si mesmos e, talvez, aos professores. Assim, é fácil o estúdio didático trans- formar-se num lugar fantasioso e dis- tante das necessidades do mundo real onde os alunos trabalharão quando se formarem. No processo, isso tende a distorcer não só o equilíbrio de habili- dades como também o conjunto de valo - res que os alunos adquirem. Hubbard mostrou, por exemplo, que, a respeito 20 COMO ARQUITETOS E DESIGNERS PENSAM da arquitetura, os planejadores urba- nos tendem a adquirir um conjunto de valores diferente do público que repre- sentam e ao qual servem (Hubbard, 1996). Do mesmo modo, Wilson mos- trou que os arquitetos usam sistemas de avaliação de edificações diferentes de outras pessoas (Wilson, 1996). Ela também mostrou que essa tendência é adquirida durante a formação. O mais perturbador é que esse trabalho tam- bém revelou uma forte correlação entre as preferências de cada escola de arqui- tetura e que essas preferências estão vinculadas ao estilo. Quase com cer- teza, as escolas de projeto não visam a esses efeitos, de modo que isso talvez revele alguns problemas importantes do conceito de formação de projetistas por meio do ateliê de projeto. Neste livro, veremos a quantas influências deve expor-se o projetista e quantos argumentos existem sobre a importância relativa dessas influências na prática. Provavelmente, a formação do projetista, assim como a própria atividade de projetar, sempre serão controvertidas. Desenvolveram-se tra- dições que mostram variações estrutu- rais não só entre países, como também entre os vários campos de atividade. Até que ponto os vários campos usam o mesmo processo é tema de considerável discussão. O fato de que os projetistas formados em cada um desses campos tendem a ter uma visão diferente dos problemas é menos con- trovertido. Os projetistas de móveis afirmam que conseguem distinguir as peças criadas por arquitetos das proje- tadas por quem se forma em projeto de mobiliário. Alguns dirão que os arqui- tetos projetam móveis que se acomo- dem ao espaço sem obstruí-lo; outros dirão que os arquitetos simplesmente não entendem a natureza dos materiais usados nos móveis e, por isso, montam- nos como montariam uma edificação. Hoje, admite-se que o setor de cons- trução civil do Reino Unido é dividido e conflituoso demais, e que os vários especialistas e empreiteiros envolvidos tendem a ser beligerantes, enquanto os clientesprefeririam que fossem coope- rativos. Um relatório recente sugeriu que uma solução seria formar todos eles num tipo de curso universitário comum que só mais tarde permitisse a especialização (Bill, 1990). Essa ideia, embora bem-intencionada, tem uma falha fundamental. Ela supõe que haja um reservatório de alunos de 18 anos com mente e personalidade mais ou menos vazias que se sentiriam atraí- dos por um curso desses. Na verdade, sabemos que a verdade é bem diferen- te. Pouquíssimos candidatos à universi- dade se matriculam em cursos de m ais de uma área do setor de construção. Do mesmo modo, pouquíssimos alunos tentam estudar mais de um campo da atividade de projetar. Portanto, embora pareça que a arquitetura e o desenho industrial têm uma relação m uito ínti- ma, há pouco contato entre os campos. O britânico Richard Seymour, dese- nhista industrial de fama internacio- nal, não se surpreende com isso. Embora algumas obras arquitetônicas e alguns desenhos industriais pareçam muito próximos, na verdade é a ponta do galho da árvore da arquitetura que roça uma folha da extrem idade d a árvore do desenho industr ial. Te ndemos a pensa r q ue são muito pa recidos, mas não são. Basicamente, as ra ízes são complet amente difere ntes. (Lawson, 1994a) Para Richard Seymour, a separação entre essas profissões começa mui- to cedo e, de modo importantíssimo, antes do período de formação superior que poderia ser responsabilizado pela linha divisória. A opinião dele é que essas "raízes" são lançadas muito antes e que, quando selecionamos a nossa profissão, efetivamente a escolha já foi feita. Ele observa que a maioria dos desenhistas industriais tem um histó- rico de realizações em ofícios mais prá- ticos, como o artesanato com metal e madeira: "O desenhista industrial está acostumado a trabalhar com entidades físicas e com a natureza dos materiais, e as vivencia com a visão e o tato". O sistema inglês de educação secundária pode agravar essa dificul- dade, porque os alunos têm de escolher apenas quatro matérias, em média, para estudar. E as universidades exi- gem matérias específicas para con- ceder vagas em cada curso. Portanto, quem não estudou matemática pode conseguir vaga para estudar arquite- tura, mas é quase certo que a mesma universidade não concederá a essa pes- soa uma vaga para estudar engenha- ria civil. Portanto, a especialização dos alunos já começa na escola secundária. Seja em razão do sistema educa- cional, seja pela própria natureza dos alunos, que os leva a fazer escolhas, o clima e as normas sociais das salas de aula, dos estúdios e laboratórios dos 1 Introdução 21 departamentos de arquitetura, enge- nharia civil e desenho industrial das universidades são diferentes desde o princípio. Os alunos falam e se ves- tem de forma diferente e têm imagens diferentes de si mesmos e da vida que os espera. Portanto, é preciso cautela ao pressupor que seria possível con- siderar todos os campos da atividade de projetar dividindo o mesmo terre- no. O certo é que projetar é uma ati- vidade mental distinta, e neste livro examinaremos progressivamente as suas características. No entanto, tam- bém descobriremos que a atividade de projetar pode ser bem variada e que os projetistas bem-sucedidos empregam processos bastante diferentes, seja qual for a sua formação. 1.3 Tecnologias para projetar Este capítulo começou com uma rápi- da abordagem de algumas diferenças entre a maneira de projetar de esti- listas de moda e de engenheiros civis. Outra diferença importantíssima entre eles é a tecnologia que precisam conhe- cer e usar para atingir os seus fins. Os projetistas não decidem apenas o efei- to que querem obter; também têm de saber como obtê-lo. Assim, o nosso engenheiro civil precisa entender as propriedades estruturais do concreto e do aço, enquanto o nosso estilista de moda tem de avaliar as característi- cas dos vários tecidos. Mais uma vez, essa é uma caricatura simples, já que ambos têm de saber muito mais do que 22 COMO ARQUITETOS E DESIGNERS PENSAM isso, mas a questão é demonstrar que os seus conhecimentos tecnológicos têm de ser pertinentes ao seu campo. Tradicionalmente, tendemos a usar os produtos finais dos projetos para dife- renciar os projetistas. Assim, um clien- te pode procurar um tipo de projetista para fazer uma ponte, outro para uma edificação, outro ainda para uma cadei- ra etc. Muitos projetistas se interessam por outros campos além daquele em que se formaram, como o famoso arquiteto Mies van der Rohe, que projetou uma cadeira para o Pavilhão Alemão da Exposição Internacional de Barcelona de 1929, que até hoje está presente em saguões de bancos e hotéis do mundo inteiro. Na verdade, poucos projetistas são formados em mais de um campo, como o muito elogiado arquiteto e enge- nheiro Santiago Calatrava. Alguns são até difíceis de classificar, como Philippe Starck, que projeta edificações, interio- res, móveis e aparelhos domésticos. É interessante que algumas invenções mais famosas dos tempos modernos foram criadas por pessoas que não se formaram especificamente no cam- po ao qual deram a sua contribuição (Clegg, 1969}: Invenção Inventor Aparelho de Vendedor de barbear rolhas Filme Kodachrome Músico Esferográfica Escu ltor Telefone Coveiro automático Parquímetro Jornalista Disco LP Engenheiro de televisão Parece que classificar a atividade de projetar de acordo com o produto final é pôr a carroça adiante dos bois, pois a solução é formada pelo processo de projeto e não existia antes dele. A ver- dadeira razão para classificar a ativida- de desse modo não tem tanto a ver com o processo, mas é um reflexo da nos- sa tecnologia cada vez mais especiali- zada. Os engenheiros não diferem dos arquitetos só por usar um processo de projeto diferente; o mais importante é que conhecem exigências e materiais diferentes. Infelizmente, é fácil esse tipo de especialização tornar-se uma camisa de força para os projetistas, dirigindo o seu processo mental para uma meta predefinida. Portanto, é mui- to fácil para o arquiteto pressupor que a solução para o problema do cliente seja uma nova edificação. Muitas vezes não é! Se não tomarmos cuidado, a for- mação do projetista pode restringir, em vez de aprimorar, a capacidade de pen- sar de forma criativa. A fábula do cientista, do engenhei- ro, do arquiteto e da torre da igreja ilustra esse fenômeno. Os três estavam diante da igreja discutindo a altura da torre quando um lojista local que vinha passando sugeriu uma competição. Ele se orgulhava muito do novo barômetro que estava à venda na loja e, para pro- movê-lo, ofereceu um prêmio a quem conseguisse descobrir com mais exa- tidão a altura da torre usando um dos seus barômetros. O cientista mediu cui- dadosamente a pressão barométrica no pé e no alto da torre e, pela diferença, calculou a altura. O engenheiro, desde- nhando essa técnica, subiu até o alto, largou o barômetro e mediu o tempo da queda. No entanto, foi o arquiteto que, para surpresa de todos, encontrou a resposta mais exata. Ele simplesmente entrou na igreja e ofereceu o barômetro ao encarregado, caso o deixasse exami- nar o projeto original da igreja. Muitos problemas de projeto tam- bém podem ser submetidos a trata- mentos igualmente variados, mas é raro que os clientes tenham a perspicá- cia do nosso lojista. Examinemos rapi- damente a situação. Imaginemos que uma companhia ferroviária oferece, há muitos anos, um serviço de alimenta- ção em trens selecionados e agora des- cobriu que essa parte do negócio vem dando prejuízo. O que fazer? Uma agên- cia de publicidade sugeriria a criação de uma imagem inteiramente nova, com os alimentos reembalados e anuncia- dos de forma diferente. Um desenhista industrial talvez achasseque o verda- deiro problema é o projeto do vagão- restaurante. Se pudessem receber e consumir a comida na cabine, sem ter de caminhar pelo trem, seria possível . . que os passageiros comprassem mais. É provável que um especialista em pesquisa de operações se concentre em descobrir se os vagões-restaurante estão nos trens certos etc. É bem possível que nenhum dos nos- sos especialistas esteja certo. Será que a comida não era simplesmente pouco apetitosa e cara demais? Na verdade, o mais provável é que todos os espe- cialistas tenham alguma contribuição a dar ao projeto de solução. O perigo é que cada um esteja condicionado pela sua formação e pela tecnologia de pro- 1 Introdução 23 jeto que conhecem. As situações em que se projeta não variam apenas por- que os problemas são dessemelhantes, mas também porque os projetistas cos- tumam adotar abordagens diferentes. Neste livro, passaremos algum tempo discutindo tanto os problemas quanto as abordagens usadas ao se projetar. 1.4 Projetar exige o quê? Talvez a maior fama de Barnes Wallis se deva à invenção, durante a guerra, da bomba de rebote imortalizada no filme The Dam Busters (Os demolidores de represas]. Mas as realizações da sua carreira foram muito além disso, com toda uma sucessão de projetos inova- dores na aviação, como aeroplanos, hidroaviões e muitos itens menores. No entanto, aos 16 anos, Barnes Wallis não passou na prova final do estudo secun- dário em Londres (Whitfield, 1975). É provável que isso tenha resultado da forma de educação heurística criada por Armstrong e usada no Christ's Hos- pital, que pouco fazia para preparar os alunos para esse exame, mas se con- centrava em ensiná-los a pensar. Bar- nes Wallis recorda que "eu não sabia nada, só pensar, só pegar o problema e brigar com ele até resolvê-lo". Mais tarde, ele se formaria na Universidade de Londres num período curtíssimo de apenas cinco meses. Posteriormente, Barnes Wallis não se opunha a receber orientação técni- ca, mas nunca pediu ajuda nos projetos propriamente ditos: "Quando queria a resposta de um problema cuja mate- 24 COMO ARQUITETOS E DESIGNERS PENSAM mática não conseguia resolver, busca- va alguém que conseguisse [ ... ] nesse aspecto, eu pedia conselho e auxílio [ ... ] nunca contribuições para uma solução". Mesmo em tenra idade, foi a qualidade do pensamento de Barnes Wallis e o tipo de abordagem que dava aos problemas, tanto quanto os seus conhecimentos técnicos, que lhe permitiram produzir tantos projetos aeronáuticos originais. Para os muitos tipos de projeto que estamos considerando, é importante não apenas ter competência técnica, como também uma avaliação estéti- ca bem-desenvolvida. Espaço, forma e linha, além de cor e textura, são as ver- dadeiras ferramentas do ofício para o designer gráfico e o projetista industrial ou ambiental. O produto final desse tipo de projeto será sempre visível para o usuário, que pode também se mover dentro dele ou pegar o objeto projetado. O projetista precisa entender a nossa experiência estética, especialmente a do mundo visual, e, nesse sentido, divi- de o território com o artista plástico. Por essa razão apenas, e há outras de que trataremos mais adiante, o projetista também tende a trabalhar de maneira muito visual. Quase sempre o projetista desenha, às vezes pinta e, com frequ- ência, constrói maquetes e protótipos. A imagem arquetípica do projetista é de alguém sentado à prancheta. Mas o que fica claro é que ele exprime as suas ideias e trabalha de um modo muito gráfico e visual. Realmente, seria muito difícil tornar-se um bom projetista sem desenvolver a capacidade de desenhar bem. E, na verdade, muitas vezes os desenhos dos projetistas são belíssimos. Às vezes, esses desenhos tornam- se objetos de arte por direito próprio e são expostos ao público. Deixaremos para mais tarde a discussão de por que a prática de projetar não deveria ser considerada um equivalente psicológi- co da criação artística. Por enquanto, basta dizer que projetar exige mais do que apenas apreciação estética. Quan- tos críticos de projetos, mesmo os que têm percepção mais penetrante, acham projetar mais fácil do que criticar? Talvez não seja possível fazer uma lista completa das áreas do conheci- mento necessárias para os projetistas, mas tentaremos chegar perto disso no final do livro. No entanto, deveríamos, pelo menos, apresentar aqui outro con- junto de habilidades de que os proje- tistas necessitam. A imensa maioria dos artefatos que projetamos é criada para grupos específicos de usuários. Os projetistas precisam entender um pou- co a natureza desses usuários e da sua necessidade, seja em termos da ergo- nomia das cadeiras ou da semiótica da comunicação visual. Mais recentemen- te, junto com o reconhecimento de que o processo de projeto propriamente dito deveria ser estudado, a formação dos projetistas passou a incluir mate- rial das ciências sociais e comporta- mentais. Os projetistas, porém, não são mais cientistas sociais do que artistas plásticos ou tecnólogos. Este livro não trata de ciência, arte ou tecnologia, mas o projetista não pode fugir à influência dessas três cate- gorias muito amplas de esforço intelec- tual. Uma das dificuldades essenciais e fascinantes de projetar é a necessidade de adotar tantos tipos diferentes de pensamento e conhecimento. O cien- tista consegue trabalhar perfeitamen- te sem ter sequer a mínima noção de como os artistas pensam, e estes, por sua vez, com certeza não dependem do método científico. Para os projetistas, a vida não é tão simples; eles têm de avaliar a natureza tanto da arte quan- to da ciência e, além disso, ter capaci- dade de projetar. Então, essa atividade de projetar é o quê, exatamente? Isso temos de deixar para o próximo capítu- lo, mas já podemos ver que ela envolve um processo mental sofisticado, capaz de manipular muitos tipos de infor- mações, misturando-os num conjunto coerente de ideias e, finalmente, geran- do alguma concretização dessas ideias. Normalmente, essa concretização assume a forma de um desenho, mas, como já vimos, também pode ser um novo cronograma. É o processo, e não o produto final do projeto, que mais nos interessa neste livro. 1.5 Projetar como um tipo de habilidade Projetar é uma habilidade altamente complexa e sofisticada. Não é um talen- to místico concedido apenas aos que têm poderes recônditos, mas uma habi- lidade que tem de ser aprendida e prati- cada, como se pratica um esporte ou se toca um instrumento musical. Conside- remos então os dois trechos seguintes: Dobre os joelhos de leve e, enquanto a parte superior do corpo se inclina na d ire- 1 Introdução 25 ção da bola, evite curvar demais a cintura . Os braços se estendem por inteiro, mas com naturalidade, na direção da bola, sem nenhuma grande sensação de tentar atin- gi-la[ ... ] mova o taco para trás com o braço esquerdo reto, deixando o cotovelo direito se dobrar contra o corpo[ ... ] a cabeça deve se manter acima da bola [ ... ] a cabeça é o pivô fixo em torno do qual o corpo e o mo- vimento giratório devem acontecer. Lee Trevino (1972), / Can Help Your Game Mantendo os lábios fechados de leve, es- tique-os um pouco na direção dos cantos, como num meio-sorriso, tomando cuidado para não virá-los para dentro no processo. O "sorriso", talvez bem sardônico, deve re- puxar as bochechas contra os dentes nas laterais, e a ação muscular produzirá uma firmeza dos lábios perto dos cantos. Agora, ao soprar pela embocadura na direção da borda externa, a expiração criará uma pequena abertura no meio dos lábios e, quando o jato de ar assim formado atingir a borda externa, a cabeça da flauta soará . F. B. Chapman (1973), F/ute Technique Esses dois trechos vêm de livros sobre habilidades. As duas são habili-dades que passei a vida toda sem con- seguir aperfeiçoar: jogar golfe e tocar flauta. Os meus exemplares folheadís - simos desses livros me sugerem para onde devo voltar a minha atenção. Os dois autores se concentram em dizer aos leitores como é fazer a coisa certa. Alguns podem pegar um taco de gol- fe e balançá-lo naturalmente, ou tirar um lindo som da flauta. Para eles, tal- vez esses livros não sejam muito úteis, mas, para a imensa maioria, a habili- dade tem de começar a ser adquirida dando atenção aos detalhes. Faz parte da própria natureza das habilidades altamente desenvolvidas praticá-las de forma inconsciente. Os golfistas mais 26 COMO ARQUITETOS E DESIGNERS PENSAM hábeis não pensam no balanço do taco, mas no campo, no tempo e nos adversá- rios. Para tocar bem, o flautista tem de esquecer as técnicas de embocadura e controle da respiração e os sistemas de digitação, e concentrar-se em interpre- tar a música como o compositor preten- dia. Não seria possível dar expressão à música com a cabeça cheia de conselhos de Chapman sobre os lábios. É a mesma coisa na hora de projetar. Provavelmen- te, trabalhamos melhor quando pensa- mos menos sobre a técnica. No entanto, em primeiro lugar, os iniciantes têm de analisar e praticar todos os elementos da sua habilidade, e devemos nos lem- brar de que até os golfistas e músicos profissionais mais talentosos se benefi- ciam das lições durante toda a carreira. Embora estejamos acostumados à ideia de que habilidades físicas como andar de bicicleta, nadar e tocar instru- mentos musicais tenham de ser apren- didas e praticadas, é mais difícil admitir que o pensamento pode exigir atenção semelhante, como sugerido pelo famo- so filósofo britânico Ryle (1949): "O pensamento é, em grande parte, uma questão de treino e habilidade". Mais tarde, o psicólogo Bartlett (1958) refletiu essa noção: "Pensar deve- ria ser tratado como um tipo de habili- dade complexa de alto nível". Mais recentemente, houve muitos escritores que exortaram os leitores a praticar essa habilidade de pensar. Um dos mais notáveis, Edward de Bano (1968), resume a mensagem desses autores: "No todo, tem de ser mais importante ser hábil ao pensar do que se encher de fatos". Antes que possamos estudar ade- quadamente como pensam os pro- jetistas, precisamos desenvolver um entendimento melhor da natureza e das características dos problemas e das soluções dos projetos. As duas pri- meiras partes do livro vão examinar esse território antes da terceira seção principal sobre o pensamento ao proje- tar. O livro como um todo dedica-se a desenvolver a ideia de que pensar para projetar é uma habilidade. Sem dúvi- da, é uma habilidade muito complexa e sofisticada, mas que ainda assim pode ser analisada, decomposta, desenvol- vida e praticada. Entretanto, no final, para obter o melhor resultado, os pro- jetistas precisam fazer como os golfis- tas e flautistas. Têm de esquecer tudo o que lhes ensinaram sobre a técnica e simplesmente agir! 2 A mudança do papel do projetista A abelha envergonha muitos arquitetos ao construi r os seus favo s, mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abe lha é que o arquiteto ergue a sua estrutura na imaginação antes de erigi- la na realidade. No final de todo processo de trabalho, obtemos um result ado que, e m pri ncípio, já existia na imaginação do trabalhador. Karl Marx, O Capital A arquitetura nos dá oportunidades extraordinárias de servi r à co- munidade, aprimorar a paisagem, renovar o ambient e e fazer a humanidade avançar; entretanto, o arquiteto be m-sucedido p recisa de treinamento para superar essas armadilhas e começa r a ganha r di- nheiro de verdade. Stephen Fry, Paperweight 2.1 Projeto vernacular ou artesanal No mundo industrializado, projetar tornou-se uma atividade profissional. Hoje, há uma gama variada de projetistas, todos formados e treinados para criar objetos com propósitos bem específicos. Há os designers gráficos, que organizam a miríade de imagens que vemos; os desenhistas industriais, que criam os itens que usamos na vida cotidiana; e os arquitetos, que projetam as edificações onde moramos e t rabalhamos. Hoje, na universidade, é possível fazer cursos de projeto cenográfi- co, urbano e paisagístico, além de design de interiores, têxtil e de moda, e é claro que há cursos de engenharia civil e estr u- tural, elétrica e eletrônica, mecânica, química e de processos. Assim, parece que há um projetista ou designer formado na 28 COMO ARQUITETOS E DESIGNERS PENSAM universidade para projetar cada arti- go que compramos, consumimos ou habitamos. No entanto, nem sempre foi assim, e em muitas sociedades ain- da não é. A atividade de projetar que conhecemos no mundo industrializado é uma ideia relativamente recente. Há alguns anos, um grupo de alu- nos meus do primeiro ano de arqui- tetura da Universidade de Sheffield trabalhou num projeto cujo objetivo era fazê-los pensar sobre o proces- so de projeto. Esse exercício foi criado especificamente para fazer os alunos se concentrarem no processo, e não no produto, e, por essa razão, não envol- via edificações. Em vez disso, os alunos tiveram de trabalhar em grupo para Fig. 2.1 Parte de uma máquina de bolinhas de gude projetada por um grupo de alunos de arquitetura usando um processo muito consciente projetar uma máquina que processas- se bolinhas de gude (Fig. 2.1). Com um copinho plástico, nove bolinhas eram inseridas numa das pontas da máqui- na, que, depois de determinado perío- do, teria de devolver duas, três e quatro bolinhas, respectivamente, em mais três copinhos plásticos. Os alunos tam- bém teriam de registrar e, mais tarde, analisar como tomaram as decisões e como interagiram entre si durante o processo de projeto. Durante o proje- to, o estúdio ficou muito barulhento, não só com os choques das bolinhas de gude durante os testes e o aprimo- ramento das máquinas, como tam- bém com as discussões surgidas sobre como poderiam ou deveriam ser feitos os aperfeiçoamentos. Inevitavelmente, os projetos, em sua maioria, começa- ram complicados e pouco confiáveis, e, aos poucos, os grupos foram avançan- do rumo a máquinas mais simples e confiáveis. Em geral, as soluções mais confiáveis eram as que tinham poucas partes móveis, usavam poucos mate- riais diferentes e eram mais fáceis de construir. Como costuma acontecer, a aparência dessas soluções também tende a ser agradável, e o seu funciona- mento se explica visualmente. Certa noite nevou muito e, na manhã seguinte, os alunos, de forma bem espontânea, decidiram largar o trabalho e construir um iglu numa pra- ça vizinha (Fig. 2.2). O iglu foi um suces- so. Manteve-se firme e podia acomodar umas dez pessoas, com a temperatura interna bem acima do ar ambiente. Na verdade, o iglu foi tão bem construído que chamou a atenção da estação de rádio local, que veio fazer uma entre- vista conosco lá dentro. O mais notável, porém, foi a mudan- ça do processo. Lá fora, na praça, os alunos deixaram para trás não apenas as máquinas de bolas de gude, mas as discussões sobre projetos. Na mesma hora e sem nenhuma deliberação, pas- saram do modo de pensar muito auto- consciente e introspectivo estimulado pelo exercício para uma abordagem natural, desinibida e com base na ação. Não houve discussões nem discor- dâncias prolongadas sobre a forma, o local, o tamanho, nem mesmo sobre a construção do iglu, e é claro que não se fez nenhum desenho. Eles simples- mente foram lá e construíram. Na verdade, na sua consciência coletiva, como se pode dizer de forma um tanto imaginosa, esses alunos tinham mais ou menos a mesma imagem comum de iglu. Nesse aspecto, o seu compor- tamento tem semelhança muito maior com a maneira esquimó de se abrigar do que com o papel do arquiteto para 2 A mudançado papel do projetista 29 o qual estavam todos sendo formados. Na verdade, a imagem de iglu que esses alunos tinham em comum e concreti- zaram com êxito não era inteiramente exata nos detalhes, pois, com os seus pressupostos ocidentais, eles constru- íram as paredes em camadas horizon- tais, enquanto a forma de construção esquimó costuma ser numa rampa em espiral, contínua e ascendente (Fig. 2.3). Quando o iglu ficou pronto, a forma- ção teórica dos alunos voltou a assumir o controle. Houve muita discussão sobre a resistência à tração e à compressão da neve compactada. É conhecida a dificul- dade de construir arcos e cúpulas com materiais de baixa resistência à tra- ção. Também se percebeu que a neve, embora fria ao toque, é um isolante tér- mico muito eficiente. Na verdade, seria muito improvável ouvir uma discussão parecida entre esquimós. Em condições normais, os iglus são construídos de maneira vernacular. Para o esquimó, não há um problema a resolver com um projeto, mas sim uma forma tradicional Fig. 2.2 Os mesmos alunos de arquitetura projetaram e construíram um iglu, mas usaram uma abordagem nada autoconsciente 30 COMO ARQUITETOS E DESIGNERS PENSAM de solução com variações que se adap- tam a circunstâncias diferentes, sele- cionadas e construídas sem pensar nos princípios envolvidos. No passado, muitos objetos foram sistematicamente produzidos com pro- jetos muito sofisticados e com a mesma falta de compreensão da base teórica. É comum chamar esse procedimento de "projeto de ferreiro", porque o artesão, tradicionalmente, projetava os objetos enquanto os fazia, sem desenhos técni- cos, baseado em padrões antigos pas- sados de geração em geração. Há uma descrição fascinante desse tipo de pro- jeto no livro The Wheelwright's Shop (A oficina do construtor de carroças], de Geor- ge Sturt (Sturt, 1923}. Em 1884, com a morte do pai, Sturt se viu repentina- mente encarregado da oficina de cons- trução de rodas e carroças. No livro, ele recorda a luta para compreender "um ofício popular realizado com métodos populares", segundo a sua descrição. Fig. 2.3 Método tradicional de construção de iglus Aqui, interessa-nos especificamen- te a dificuldade de Sturt com o forma- to côncavo das rodas de carroça. Ele logo percebeu que as rodas dos veí- culos puxados a cavalo eram sempre construídas com um formato bastante elaborado e semelhante ao de um pires, mas a razão disso lhe escapava (Fig. 2.4). Pela descrição que faz, podemos per- ceber que os operários de Sturt traba- lharam a vida inteira com aquela rara combinação de habilidade construtiva e ignorância teórica tão característica desse tipo de artesão. Assim, durante muitos anos, ele manteve a tradição de construir essas rodas sem, na verdade, entender por quê. Sturt percebia que a construção da roda em forma de prato devia ser muito mais complexa do que a da roda plana. No entanto, o projeto exigia ainda outros detalhes complexos para que as rodas cambassem para fora e convergissem para a frente (Fig. 2.5). Assim, não surpreende que ele não se contentasse em permanecer na igno- rância das razões por trás do projeto. Primeiro, Sturt suspeitou que a for- ma de prato servia para dar à roda uma direção para se distorcer quando o aro externo de ferro quente se encolhesse ao esfriar, mas Jenkins (1972) mostrou que as rodas em forma de prato pre- cederam o uso dos aros de ferro. Outra razão que ocorreu a Sturt foi a van- tagem obtida com o alargamento da parte superior da carroça, permitindo assim que cargas maiores pudessem ser transportadas. Era possível conseguir isso porque a parte da roda em forma de prato que transfere a carga do eixo para 2 A mudança do papel do projetista 31 a estrada tem de ser vertical e, assim, a metade superior da roda se inclina para fora. Talvez isso tivesse mais validade do que Sturt percebia, porque, em 1773, uma lei restringiu a bitola dos veícu- los de rodas grossas a um máximo de 1,73 m. Embora as rodas de carroça em forma de prato fossem finas o bastante para não serem atingidas pela legisla- ção, é provável que as estradas tenham ficado tão cavadas pelos veículos de rodas mais grossas que as carroças de bitola mais larga tenham tido que rodar em terreno acidentado. Finalmente, Sturt descobriu a razão para a forma de prato que ele achou Fig. 2.4 A roda de carroça dos veículos puxados a cavalo era construída com a forma complexa de um pires Ponta de eixo Fig. 2.5 O eixo tinha de ser inclinado para baixo, para permitir que a roda da carroça transferisse a carga para o solo de forma quase vertical, e depois inclinado para a frente, de modo a evitar que a roda se soltasse Eixo Principal o Metade da Metade da vista superior vista de e levação 32 COMO ARQUITETOS E DESIGNERS PENSAM que seria a "verdadeira". A forma con- vexa da roda era capaz não apenas de suportar a carga vertical, como tam- bém o impulso lateral causado pelo andar natural do cavalo, que tende a jogar a carroça de um lado para o outro a cada passo, mas esse não é, de jei- to nenhum, o quadro inteiro. Desde então, vários escritores comentaram a análise de Sturt, e Cross (1975), espe- cificamente, destacou que a roda em forma de prato também precisava de inclinação para a frente. Para manter vertical a metade inferior da roda, o eixo tem de se inclinar para baixo na direção da roda. Isso, por sua vez, pro- duz na roda a tendência a escorregar pelo eixo e se soltar, o que tem de ser contrabalançado inclinando o eixo de leve e, assim, virando a roda para dentro na frente. As forças resultantes da "inclinação para a frente" forçam a roda de volta ao eixo quando a carroça avança. Cross defende que essa incli- nação é precursora da convergência usada nos carros modernos para faci- litar as curvas. É provável que isso não seja exato porque, como argumentou Clegg (1969), na verdade, a convergên- cia moderna é necessária para contra- balançar a força lateral causada pelos pneus de borracha, inexistente nas rodas sólidas de carroça. Provavelmente, não há uma razão "verdadeira" e única para a forma de prato das rodas de carroça, mas sim um grande número de vantagens inter- ligadas. Isso é bem característico do processo artesanal de projetar. Depois de muitas gerações de evolução, o pro- duto final torna-se uma resposta ao problema totalmente integrada. Por- tanto, quando se altera uma das par- tes, o sistema completo pode falhar de várias maneiras. Esse processo tinha ótima serventia quando o problema permanecia estável durante muitos anos, como nos casos do iglu e da roda de carroça. No entanto, quando o pro- blema muda de repente, é improvável que o processo vernacular ou artesanal produza resultados adequados. Se Sturt não conseguia entender os princípios envolvidos na forma de prato da roda de carroça, como reagiria ao desafio de projetar a roda de um veículo a vapor, ou mesmo de um veículo moderno com motor a gasolina e pneus de borracha? 2.2 A profissionalização do ato de projetar No processo vernacular, o projetar é intimamente associado ao fazer. Os esquimós não precisam de arquitetos para projetar os iglus onde moram, e George Sturt oferecia um serviço com- pleto de projeto e fabricação aos fre- gueses que queriam rodas. No mundo ocidental moderno, a situação costuma ser bem diferente. Uma casa britânica média, com o seu conteúdo, constitui o produto final de uma série imensa de processos de projeto profissiona- lizados. É provável que a própria casa tenha sido projetada por um arquiteto e se situa numa área designada como residencial por um planejador urba- no. Lá dentro, a decoração, os tecidos, a mobília, as máquinas, os aparelhos foram todos criados por projetistas que, provavelmente, nunca sujaram as mãos com a fabricaçãodesses arte- fatos. O arquiteto pode ter enlameado as botas no terreno ao conversar de vez em quando com o mestre de obras, mas não passou disso. Por que é assim? Essa separação entre projetar e fazer promo- ve projetos melhores? Logo voltaremos a essa pergunta, mas vamos exami- nar primeiro o contexto social dessa mudança do papel dos projetistas. Hoje, pode-se dizer que cerca de um décimo da população da Grã-Bretanha compõe-se de profissionais liberais. Em sua maioria, as profissões liberais que conhecemos hoje são fenômenos rela- tivamente recentes e só começaram a crescer até a proporção atual durante o século XIX (Elliot, 1972). O Royal Institu- te of British Architects [RIBA, Instituto Real de Arquitetos Britânicos] foi fun- dado naquela época. Em 1791 já havia um "Architects' Club" e, mais tarde, surgiram várias Sociedades Arquitetô- nicas. O processo inevitável de profis- sionalização começara e, em 1834, foi fundado o RIBA. Essa entidade não era mais um clube ou sociedade apenas, e sim uma organização de homens com ideias semelhantes e a aspiração de criar, controlar e unificar padrões pro- fissionais. A Carta Real de 1837 iniciou o processo de dar aos arquitetos uma boa posição social; finalmente, a cria- ção de exames e registro lhes deu sta- tus legal. Na verdade, até hoje, no Reino Unido, o próprio título de arquiteto é legalmente protegido. Era inevitável que todo esse processo de profissionali- zação levasse à transformação da clas- se dos arquitetos em elite exclusivista, 2 A mudança do papel do projetista 33 legalmente protegida e socialmente respeitada. Assim, a distância atual que separa arquitetos de construtores e usuários foi assegurada. Por essa razão, muitos arquitetos ficaram insatisfeitos com a criação do RIBA, e até hoje há os que defendem que as barreiras legais levantadas entre projetista e constru- tor não produzem boa arquitetura. Nos últimos anos, o RIBA afrouxou muitas regras mais antigas, e hoje permite que os membros sejam diretores de empre- sas de construção civil, publiquem anúncios e, em geral, se comportem de maneira mais comercial do que antes exigia o código de conduta. Na verda- de, porém, o profissionalismo não dizia respeito aos projetos nem ao processo de projeto, mas à busca de controle e elevação social, e isso pode ser encon- trado tanto nas profissões baseadas em projetos quanto nas outras. Não há dúvida de que esse controle levou a padrões cada vez mais elevados de formação e exame, mas se conduziu a uma prática melhor ainda é uma ques- tão mais ampla. Hoje, a divisão de trabalho entre os que projetam e os que fazem tomou-se uma pedra fundamental da nossa socie- dade tecnológica. Para alguns, pode parecer irônico que essa dependência que temos de projetistas profissionais se baseia, em boa parte, na necessidade de resolver os problemas criados pelo uso de tecnologia avançada. O proje- to de uma cabana na montanha é uma proposta totalmente diferente de ofere- cer moradia numa cidade barulhenta e congestionada. O terreno no centro da cidade pode trazer consigo problemas 34 COMO ARQUITETOS E DESIGNERS PENSAM sociais de privacidade e comunida- de, riscos à segurança, como a disse- minação de incêndios ou de doenças, sem falar dos problemas de acesso ou poluição. A lista de dificuldades desco- nhecidas para construtores de iglus ou cabaninhas na montanha é quase inter- minável. Além disso, cada terreno no centro da cidade apresentará uma com- binação diferente desses problemas. Essas situações complexas e variáveis parecem exigir a atenção de projetis- tas profissionais experientes que, além de tecnicamente capazes, também são treinados para o próprio ato de tomar decisões durante os projetos. Christopher Alexander (1964) apre- sentou uma das discussões mais lúci- das e concisas acerca dessa mudança do papel do projetista. Ele defende que, quando a sociedade é submetida a mudanças rápidas, súbitas e cultu- ralmente irreversíveis, é inevitável que a abordagem espontânea e artesanal do projeto dê lugar ao processo pro- fissionalizado e autoconsciente. Essas mudanças podem resultar do contato com sociedades mais avançadas, seja na forma de invasão e colonização, seja pela infiltração insidiosa que se vê mais recentemente, causada pela aju- da externa concedida aos países sub- desenvolvidos. Aqui na Grã-Bretanha, a Revolução Industrial promoveu essa mudança. Os meios de produção meca- nizados recém-descobertos passaram a ser o pivô cultural em tomo do qual a sociedade girou. As sementes do respei- to pelas profissões liberais do século XIX e da fé na tecnologia do século XX foram plantadas. Mudanças nos materiais e na tecnologia disponíveis tomaram-se rápidas demais para serem acompa- nhadas pelo processo evolucionário do artesão. Assim, o processo de projeto que conhecemos em tempos recentes não surgiu como resultado de um pla- nejamento cuidadoso e voluntário, mas como reação a mudanças no contexto social e cultural mais amplo em que se projeta. O projetista especializado e pro- fissional que produz desenhos com base nos quais outros constroem passou a ser uma imagem tão estável e conheci- da que hoje vemos esse processo como a forma tradicional de projetar. 2.3 O processo tradicional de projetar Devemos nos fazer as seguintes pergun- tas: até que ponto esse novo processo tradicional de projetar nos beneficiou? Ele mudará? Na verdade, ele sempre sofreu um certo volume de mudança, e há sinais de que, atualmente, muitos projetistas buscam um novo papel na sociedade, embora ainda mal definido. Por que é assim? A princípio, a separação entre proje- tar e fazer teve como efeito não apenas isolar os projetistas, como colocá-los no centro das atenções. O próprio Alexan- der (1964) comentou essa evolução com bastante discernimento: O reconhecimento autoconsciente pelo artista de sua própria individualidade cau- sa um efeito profundo no processo de cria r formas. Agora, cada forma é vista como o trabalho de um único homem, e o seu su- cesso é uma realização só dele. Esse reconhecimento da realização individual pode dar origem facilmente ao culto do indivíduo. Em termos edu- cacionais, isso levou ao sistema de ensi- nar a projetar por meio de contratos de estágio. O jovem arquiteto era entregue aos cuidados de um renomado mes- tre do ofício, na esperança de que, em consequência de um período extenso de serviço, a habilidade específica daquele mestre fosse passada adiante. Mesmo nas escolas de arquitetura, exigia-se dos alunos que projetassem à moda de um indivíduo específico. Para ter sucesso, os projetistas tinham de adquirir uma ima- gem fácil de identificar, ainda vista nos retratos extravagantes de projetistas em livros e filmes. Os grandes arquitetos do movimento moderno, como Le Corbusier ou Frank Lloyd Wright, além de projetar edificações com um estilo de fácil identi- ficação, comportavam-se e escreviam de forma excêntrica sobre o seu trabalho. Na Grã-Bretanha, no final do século XIX, os arquitetos descontentes com a influ- ência crescente do RIBA defendiam que a arquitetura era uma arte individual e não devia ser regularizada e controlada. Kaye (1960) argumentou que, na verda- de, esse período de profissionalização coincidiu com um período de rigidez do estilo arquitetônico. 2.4 Projetar com desenhos A separação entre projetar e fazer tam- bém resulta no papel central do dese- nho. Como não é mais o artesão que realmente faz o objeto, o projetista tem de transmitir instruções aos que de fato 2 A mudança do papel do projetista 35 o farão. Primária e tradicionalmente, o desenho foi a forma mais popular de dar essas instruções. Nesse processo, o cliente não compra ma is o artigo aca- bado, mas recebe um projeto, descrito mais uma vez e primariamentecom desenhos. Esses desenhos costumam ser chamados de "desenhos de apre- sentação", ao contrário dos "desenhos de produção", feitos para a construção. No entanto, no contexto deste livro, é mais importante ainda o "desenho de projeto". Esse desenho não é feito pelo projetista para comunicar-se com os outros, e faz parte do próprio processo de pensamento que chamamos de pro- jetar. Numa frase m uito feliz, Donald Schon (1983) descreveu o projetista como quem "conversa com o desenho". O papel do desenho é tão fundamen- tal nesse processo de projeto que Jones (1970) descreve o processo inteiro como "projetar com desenhos". Em seguida, Jones discute os pontos fracos e fortes de um processo de projeto que depen- de tanto do desenho. Comparado ao processo vernacular, o projetista que trabalha dessa maneira tem grande liberdade de manipulação. Partes da solução proposta podem ser ajustadas e as consequências, investigadas ime- diatamente, sem o tempo e o custo de construir o produto final. O processo de desenhar e redesenhar poderia conti- nuar até que todos os problemas que o projetista conseguisse ver fossem resol- vidos. Segundo Jones, essa "amplitude perceptiva" muitíssimo maior permite que os projetistas façam muito mais inovações e mudanças fundamentais no mesmo projeto do que seria possí- 36 COMO ARQUITETOS E DESIGNERS PENSAM vel no processo vernacular, e resolvam os problemas criados pelo aumento do ritmo de mudanças da tecnologia e da sociedade. Assim, esse processo de pro- jeto encoraja a experimentação e libera a imaginação criativa do projetista de maneira bastante revolucionária, dei- xando o processo quase irreconhecível para o artesão vernacular. Embora tenha muitas vantagens cla- ras em relação ao processo vernacular, projetar com desenhos não deixa de ter as suas desvantagens. De certa forma, o desenho é um modelo muito limitado do produto final do projeto, mas, mes- mo assim, num mundo cada vez mais dependente da comunicação visual, ele parece convincente. O projetista pode ver no desenho como ficará o produto final; infelizmente, porém, nem sem- pre pode ver como ele funcionará. O desenho é um modelo bastante exato e confiável da aparência, mas não neces- sariamente do desempenho. Portanto, os arquitetos puderam projetar formas de moradia bastante novas, nunca antes construídas, assim que a tecnologia per- mitiu os arranha-céus. O que os dese- nhos não puderam necessariamente permitir que vissem foram os proble- mas sociais que, anos depois, com os prédios em uso, se tomaram tão óbvios. Até a aparência dos projetos pode ser apresentada de forma enganosa pelos desenhos. O desenho que o proje- tista opta por fazer enquanto cria tende a ser muito codificado e raramente está ligado à nossa vivência direta do pro- jeto final. Por exemplo, é provável que os arquitetos trabalhem mais frequen- temente com plantas baixas, represen- tação muito pobre da vivência de se locomover dentro de uma edificação. Por todas essas razões, dedicamos mais adiante um capítulo inteiro ao papel do desenho no processo de projeto. 2.5 Projetar com a ciência Conforme os projetos ficaram mais revolucionários e progressistas, as falhas do processo de projeto com dese- nhos tornaram-se mais óbvias, prin- cipalmente no campo da arquitetura. Ficou claro que, para continuar sepa- rando o projetar do fazer, e também para manter o ritmo rápido de mudança e inovação, eram urgentemente neces- sárias novas formas de criar modelos do projeto final. Foi exatamente essa preocupação que levou Alexander a escrever, em 1964, a sua famosa obra Notes on the Synthesis of Form [Anotações sobre a sín- tese da forma]. Ele defendia que éramos otimistas demais ao esperar resulta- dos satisfatórios de um processo de projeto com base na prancheta. Como algumas horas ou dias de esforço por parte de um projetista substituiriam o resultado de séculos de adaptação e evolução incorporados ao produto ver- nacular? Alexander propôs um méto- do de estruturar problemas de projeto que permitiria aos projetistas ver uma representação gráfica da estrutura dos problemas não visuais. Essa obra teve um efeito extraordinariamente dura- douro sobre o pensamento a respeito do método de projeto. Isso é mais notá- vel ainda porque só há uma tentativa registrada de usar o método, e ela não resultou num sucesso óbvio (Hanson, 1969). A razão do fracasso do método de Alexander vem dos pressupostos errô- neos sobre a verdadeira natureza dos problemas de projeto, e isso discutire- mos no próximo capítulo. No entanto, essa geração de metodologia do projeto para a qual o trabalho de Alexander é, hoje em dia, um símbolo, foi motivada pela inquietação comum aos projetistas acerca da inadequação dos seus mode- los de realidade. Infelizmente, os novos modelos, muitas vezes emprestados da pesquisa operacional ou da psicologia comportamental, se mostrariam tão inadequados e inexatos quanto o pro- jeto com desenhos (Daley, 1969). Tal- vez a verdadeira razão da influência da obra de Alexander seja ter assinalado outra mudança no papel do projetista. A questão parecia não ser mais a pro- teção da individualidade e da identida- de dos projetistas, e sim o problema de exercer o "controle coletivo", segundo Jones, das atividades do projetista. De certa forma, o processo todo tinha de se expor mais à inspeção e à avaliação crítica. O modelo do método científico mostrou-se irresistível. Os cientistas tomavam explícitos não só os resulta- dos, como também os procedimentos. O seu trabalho podia ser reproduzido e criticado, e os métodos estavam aci- ma de suspeitas. Como seria bom se os projetistas seguissem um processo tão claro, público e aberto! Essa ideia levou muitos escritores a desenvolver mode- los do processo de projeto propriamen- te dito, e examinaremos alguns deles na próxima seção. Porém, com tudo 2 A mudança do papel do projetista 37 isso, qual é o papel do projetista na sociedade de hoje? 2.6 Futuros papéis do projetista No nosso estado atual de incerteza, dificilmente seria válido ter uma opi- nião definitiva sobre o futuro papel do projetista, ou mesmo do seu papel presente. Cross (1975) nos pede para pensar se estamos entrando agora numa sociedade pós-industrial que, consequentemente, necessita de um processo de projeto pós-industrial. Na verdade, a dificuldade dessa pergunta é como encarar a possibilidade de vida nesta sociedade. Em essência, a questão é o debate político sobre até que ponto queremos descentralizar os centros de poder da nossa sociedade. Alguns auto - res louvam a iminente crise de energia como um empurrão importante para a volta à autossuficiência. Outros afir- mam que a inércia do desenvolvimen- to tecnológico é grande demais para ser detida e que encontraremos outros meios de obter formas centralizadas de energia. Assim, a opinião sobre o futuro papel dos projetistas está ine- vitavelmente ligada ao tipo de direção que desejamos que a sociedade adote. Markus (1972) sugere três pontos de vista amplos que os projetistas de hoje podem adotar a respeito do seu papel na sociedade. Em essência, o primeiro papel é con- servador, centrado na continuação do domínio das instituições profissionais. Nesse papel, os projetistas permane- 38 COMO ARQUITETOS E DESIGNERS PENSAM cem desligados dos clientes e daqueles que fazem. Aguardam passivamente a encomenda do cliente, produzem o projeto e saem de cena. Já há proble- mas reais nessa abordagem. No caso da arquitetura, muitas vezes o cliente é um órgão do governo ou uma grande organização comercial, e, nesses casos, é comum os arquitetos serem emprega- dos, e não assessores. Espera-se que o arquiteto que busca esse papel conser- vador seja apoiado pelo RIBA, mas as entidades profissionais tendem
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