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Vic tor i� K av� ur� Pa sch oal ett� Infecçõe� Congênita� Pediatria Acrônimo TORCH: ★ T = toxoplasmose; ★ O = outras (sífilis); ★ R = rubéola; ★ C = citomegalovírus (CMV); ★ H = herpes simples vírus (HSV). Ministério da Saúde recomenda o rastreamento de rotina: ● 1ª consulta pré-natal → sífilis, toxoplasmose e HIV; ● Sinais da doença → rubéola. ● 30ª semana de gestação → hepatite B; ● Não é recomendado → citomegalovirose e hepatite C. T - T�oplasm�� congênit� O Toxoplasma gondii é um protozoário intracelular obrigatório → a ingestão de cistos do parasita, presentes na carne animal, ou de oocistos eliminados nas fezes de gatos. Risco de transmissão: 1º trimestre: 15% – apresenta repercussões graves no concepto, óbito fetal ou neonatal, sequelas importantes; 2º trimestre: 25% – o recém-nascido apresenta manifestações subclínicas; 3º trimestre: 65% – com manifestações subclínicas e mais raramente um quadro grave de parasitemia. O risco aproxima-se de 100% se a infecção da genitora ocorrer no último mês da gestação. Quadro clínico: 70% das crianças acometidas são assintomáticas ao nascimento. A forma subclínica é a mais comum, com história materna, sorologia positiva no RN, alterações leves do liquor e, posteriormente, surgimento de sequelas oculares e neurológicas. A ocorrência de sequelas tardias é frequente em todas as formas clínicas da toxoplasmose não tratada (infecção assintomática). Diagnóstico: Padrão-Ouro: teste do corante (dye test) → realizado em poucos laboratórios. Gestante: Confirmado quando há soroconversão. A infecção materna é classificada como PROVÁVEL em qualquer idade gestacional na presença de: ● IgM anti-T. gondii (IgM+) em mulher sintomática; Vic tor i� K av� ur� Pa sch oal ett� ● IgG anti-T. gondii (IgG+) e baixo índice de avidez ou; ● Aumento progressivo de títulos IgG e IgM. A infecção materna é classificada como POSSÍVEL: ● IgG+ e IgM+ com alto índice de avidez após 12 semanas do início da gestação; ● IgG+ e IgM+ em qualquer momento com avidez desconhecida. A infecção materna é classificada como IMPROVÁVEL: ● IgG+, IgM+ ou – com índice de avidez alto antes de 12 semanas do início da gestação. EXCLUI a possibilidade de infestação na gestação: ● IgG+ antes da gestação ou IgM+ sem aparecimento de IgG+. Tratamento: As drogas → trofozoítos circulantes, mas não atingem os cistos que permanecem nos tecidos (imunodepressão → adolescência ou a própria gestação). A espiramicina → reduzir a transmissão da mãe para o feto em até 60%. Infecção fetal comprovada → sulfadiazina e pirimetamina, que reduzem a transmissão para o feto e a possibilidade de comprometimento grave do recém-nascido. 1º ano de vida → impedir que as formas trofozoíticas ainda circulantes se encistem. Seguimento: Títulos de IgG devem ser solicitados a cada 2 ou 3 meses. Avaliações oftalmológicas → a cada 3 meses, como também após o término do tratamento, mantendo avaliações anuais no período escolar. A avaliação auditiva deve sempre ser realizada. Prognóstico: Os déficits de aprendizagem são mais descritos em crianças com microcefalia, e não na presença de calcificações. A coriorretinite resolve-se com tratamento e raramente recidiva. Prevenção: ● Não comer carne crua ou mal passada; ● Ingerir frutas, legumes e verduras bem lavados e descascados; ● Evitar contato com fezes de gato; ● Evitar manipular areia e terra ou utilizar luvas; ● Lavar as mãos após manipular carne ou vegetais crus; ● Evitar insetos na cozinha; ● Consumir água filtrada ou fervida e leite pasteurizado. Vic tor i� K av� ur� Pa sch oal ett� O - Sífili� congênit� Transplacentária: Treponema pallidum (bactéria). Não transmissível pelo leite materno, exceto se lesão mamária. A taxa de transmissão de gestantes não tratadas para o feto é de 10% e pode ocorrer em qualquer período da gestação. Destas: 25% → aborto e 25% RN PIG ou com infecção neonatal grave. Quadro Clínico da Sífilis Congênita Precoce: Até os 2 anos de vida. ● Megaplacenta; ● Hidropsia fetal não imune; ● Hepatoesplenomegalia: 30-100%; ○ ● Prematuridade: 10-40%; ● Periostite, osteíte ou osteocondrite: 75-100%; ● Restrição do crescimento intrauterino; ● Pênfigo, rash cutâneo, coriza e obstrução nasal: 15-60%; ○ ● Lesões pulmonares (pneumonia alba): 34%; ● Hiperbilirrubinemia (direta e indireta): 33%; ● Linfadenomegalia generalizada: 50%; ● Anemia grave, trombocitopenia; ● Paralisia dos membros (Pseudoparalisia de Parrot); ○ Pseudoparalisia de Parrot: Decorrente da metafisite e não de uma alteração neurológica ou muscular; ○ Sinal de Wimberger: Característico da sífilis congênita e é evidenciado pela destruição medial da metáfise proximal da tíbia; ○ Ossos mais acometidos: tíbia, o úmero e o fêmur. ● Pancreatite; ● Anormalidades do SNC (meningoencefalite): 60%; ● Lesões renais (gromerulonefrite) aos 2-3 meses. Quadro Clínico da Sífilis Congênita Tardia: Após o 2º ano de vida. ● Tíbia em “lâmina de sabre”; ● Articulações de Clutton; ● Fronte “olímpica”; ● Nariz “em sela”; ● Dentes incisivos medianos superiores deformados (dentes de hutchinson); Vic tor i� K av� ur� Pa sch oal ett� ○ ● Molares em “amora”;] ○ ● Rágades periorais; ● Mandíbula curta; ● Arco palatino elevado; ● Ceratite intersticial; ● Surdez (lesão do 8º nervo) e; ● Dificuldade no aprendizado. Teste não treponêmico: Detectam anticorpos não específicos anticardiolipina, material lipídico liberado pelas células danificadas em decorrência da sífilis e possivelmente contra a cardiolipina liberada pelos treponemas. ● VDRL; ● RPR; ● TRUST. Teste treponêmico: Testes qualitativos para detecção de anticorpos antitreponêmicos, altamente específicos e pouco sensíveis. Em crianças maiores de 18 meses, um resultado reagente de teste treponêmico confirma a infecção, pois os anticorpos maternos transferidos passivamente já terão desaparecido da circulação sanguínea da criança. ● FTA-Abs; ● ELISA/EQL; ● TPHA/TPPA/MHA-TP; ● Teste rápido. Diagnóstico: ● Sífilis congênita confirmada: quando isolado o T. pallidum em material de lesão. ● Sífilis congênita provável: ○ Recém-nascido, mesmo sem evidência clínica e laboratorial, cuja mãe é soropositiva para sífilis (teste não treponêmico positivo em qualquer titulação) e inadequadamente tratada; ○ RN com teste não treponêmico positivo e uma ou mais alterações. ● Neurossífilis. ○ Confirmada: VDRL no líquor é positiva. ○ Tratamento Materno: Penicilina benzatina, 2.400.000 UI, IM, semanalmente, por 3 semanas seguidas → parceiro também. Inicia o tratamento com um resultado positivo, não aguarda um 2º teste. Vic tor i� K av� ur� Pa sch oal ett� Neonatal: A penicilina cristalina (EV) e a procaína (IM). Seguimento: Prevenção: Pré-natal. R - Rubéol� congênit� Infecção congênita da rubéola: engloba todos os eventos associados à infecção intrauterina pelo vírus da rubéola (abortos, natimortos, combinação de defeitos e também a infecção as‑ sintomática); Síndrome da rubéola congênita (SRC): refere-se à variedade de defeitos presentes em neonatos filhos de mães que apresentaram infecção pelo vírus da rubéola durante a gestação (deficiência auditiva, catarata, defeitos cardíacos, etc.). Agente etiológico: Vírus RNA do gênero Rubivirus e família Togaviridae. Transmissão: Infecção materna ocorre no 1º trimestre → 50%, mas é < 1% após 12 semanas gestacionais. Quadro clínico: As manifestações clínicas da infecção congênita da rubéola dependem do período em que ocorreu a infecção materna. Manifestações precoces: ● Perda auditiva: aproximadamente ⅔ dos neonatos apresentam algum grau de perda auditiva bilateral; ● Cardiopatias congênitas: cerca de 50% apresentam algum tipo de defeito cardíaco estrutural, sendo mais comuns a persistência do canal arterial e a estenose de ramos da artéria pulmonar; ● Catarata: ocorre em 25% dos casos; ● Microcefalia: ocorre em 27% dos casos. Diagnóstico: O diagnóstico da infecção materna deve ser feito por testes de detecção de anticorposespecíficos das classes IgG e IgM. O diagnóstico de infecção fetal inclui a detecção de IgM fetal após 22-24 semanas de gestação ou cultura viral do líquido amniótico: Vic tor i� K av� ur� Pa sch oal ett� ● Antes de um ano de vida. Tratamento: Não existe tratamento específico para a infecção congênita pelo vírus da rubéola. Prognóstico: Estima-se o risco de mortalidade em portadores de SRC em 20%. Prevenção: Vacinação: única forma de prevenir a rubéola. Recomenda-se que todas as mulheres em idade fértil ou que pretendam engravidar façam uso da vacina; Isolamento: gestantes devem ser afastadas de pessoas com suspeita de rubéola. Na ocorrência de contato com caso confirmado, devem ser avaliadas sorologicamente e acompanhadas. C - Citomegalovíru� (CMV) Causa mais comum de infecção congênita em todo o mundo. Transmissão: A transmissão fetal pode ocorrer tanto de mulheres com infecção primária quanto de mulheres com infecção pregressa, por meio da reativação de infecção latente ou reinfecção com nova cepa viral (infecção não primária). Quadro clínico: Os 85-90% restantes serão assintomáticos e não reconhecidos no período neonatal. As sequelas, principalmente a perda auditiva neurossensorial, poderão ocorrer em 6-23% dos RN assintomáticos e em 22-95% dos sintomáticos, podendo ser detectáveis ao nascer ou nos primeiros 24 meses de vida. Calcificações periventriculares subependimárias. Diagnóstico: O diagnóstico definitivo é feito exclusivamente pela detecção do vírus ou de seu DNA por meio do teste de PCR em urina ou saliva até 3 semanas de idade. Vic tor i� K av� ur� Pa sch oal ett� Como a infecção pelo CMV é frequentemente transmitida no período peri e pós-natal (secreções vaginais e aleitamento materno), a detecção do DNA-CMV após 3 semanas poderá refletir a infecção perinatal e não a congênita. Tratamento: O tratamento é atualmente preconizado para crianças com doença moderada a grave (multissistêmica e/ou alteração SNC). ● Valganciclovir - Oral ● Gangiclovir - EV Prevenção: Evitar compartilhar objetos que vão na boca. A prevenção deve ser praticada por todas as grávidas, independentemente de sua soropositividade anterior. Especial atenção deve ser dada aos contatos com crianças pequenas, mesmo que sejam seus filhos. H - Herpe� simple� víru� (HSV) O HSV é vírus DNA membro da família Herpesviridae. Infecta → inoculação oral, genital, mucosa conjuntival ou pele com solução de continuidade. Daí infecta os nervos terminais de onde é transportado, via axônios, até as raízes ganglionares dorsais, onde permanece latente durante toda a vida do hospedeiro. No estado de latência, esses vírus não são suscetíveis às drogas antivirais. ● O VHS-1 → lesões orofaciais, sendo encontrado nos gânglios trigêmeos; ● O VHS-2 → gânglios lombossacrais. Quadro clínico: Intrauterino: morte do feto. Perinatal: Doença localizada na pele, olhos e boca (1ª duas semanas de vida: 7-12 dias de vida) Vesículas agrupadas sob uma base eritematosa → localizadas ou disseminadas. Hiperemia conjuntival, associada a lacrimejamento intenso. O acometimento da orofaringe caracteriza-se pela presença de úlceras na boca, palato e língua. Doença de SNC: 2ª - 3ª semana de vida. Cerca de 60 a 70% dos RN com lesões na pele apresentam envolvimento do SNC (encefalite). Doença disseminada: ocorre em 25% dos casos. Diagnóstico: Detecção do HSV DNA pela PCR → alta sensibilidade. Vic tor i� K av� ur� Pa sch oal ett� Tratamento: Aciclovir, EV, na dose de 60 mg/kg/dia, dividido em 3 doses diárias, a cada 8 horas. 14 - 21 dias de tratamento. Prognóstico: ● Doença disseminada: 1 ano: 29% de mortalidade e 80% exame neurológico normal. ● Doença do SNC: 1 ano: 4% de mortalidade e 30% exame neurológico normal. ● Doença da pele, olhos e boca: mortalidade é rara. Prevenção: Identificação das gestantes de alto risco, indicação de cesariana e terapia antiviral materna. A amamentação só deve ser evitada caso haja lesões nas mamas. Se houver herpes labial, a puérpera deverá usar máscara. �tr� - Hepatit� B (VHB) A infecção pelo VHB também ocorre com muita frequência na primeira infância, após exposição à mãe portadora de infecção ativa. Transmissão: Infecção aguda pelo VHB no 1º trimestre da gestação: risco de transmissão <10% 2º ou 3º trimestres: pode atingir >60% dos casos Exposição ao sangue e secreções maternas no momento do parto: modo mais eficiente de transmissão, responsável por 95% dos casos. Vírus circulante: HBeAg/DNA. Prevenção: Gestante → Triagem. Recentemente tem sido recomendada a profilaxia com tenofovir para gestantes com altas cargas virais ou HBeAg positivo ou cirrose. RN: todos os RN de mães HBsAg e HBeAg+ ou apenas HBsAg+ devem receber imunização passiva e ativa com imunoglobulina específica contra VHB (IgVHB: 0,5 mL IM preferencialmente nas primeiras 12 horas até no máximo 48 horas) e a vacina contra VHB (em grupo muscular diferente da IgVHB) dentro das primeiras 12 horas após o parto. ● Uso combinado de IgVHB e vacina: Eficácia protetora de 85-95%; ● Uso isolado de vacina: 70-85%. A amamentação não é contraindicada. Extra - Hebatite C Transmissão vertical pouco compreendida. Durante o trabalho de parto, a ruptura prolongada de membranas deve ser evitada, bem como procedimentos obstétricos invasivos. Vic tor i� K av� ur� Pa sch oal ett� Coinfecção com HIV: aumenta o risco de transmissão. Aleitamento: evitar amamentar caso haja fissura mamária. �tr� - Víru� Linfotrópic� Par� Célula� T Humana� �p� I (HTLV-1) Transmissão: Leite materno. Ao nascer, a criança é assintomática, podendo manifestar nos primeiros anos de vida eczemas e alterações neurológicas variadas (parestesias, hiperreflexias, disfunção vesical, obstipação, fraqueza e dor nos membros inferiores, entre outros) Prognóstico: na idade adulta (geralmente > 50 anos), quadros neurológicos e hematológicos mais graves podem advir. Diagnóstico: Detecção do RNA viral por PCR aos 2 e 6 meses de idade e persistência da detecção de anticorpos (Elisa e Western Blot) até 18 meses de idade. �tr� - Arbovir�e� Vírus Chikungunya Risco de transmissão: 50% quando mães apresentam viremia na semana que antecede o parto. Não existem relatos de transmissão vertical pelo leite materno. Diagnóstico: PCR no sangue e sorologia do binômio. Virus ZIKA Anomalias congênitas → 15% das crianças cujas mães foram expostas ao vírus no 1º trimestre. ● RNA viral foi detectado no líquido amniótico, produtos de abortos e em cérebros fetais. Não há evidência de transmissão pelo aleitamento materno. Síndrome congênita: Microcefalia, desproporção craniofacial, colapso do crânio (depressão biparietal com protrusão occipital), couro cabeludo enrugado e graves alterações neurológicas, tais como irritabilidade excessiva, convulsões, clônus exacerbado, sintomas piramidais e extrapiramidais, disfagia, persistência de reflexos primitivos, artrogripose. Achados de neuroimagem: Calcificações cranianas, corticais e subcorticais, ventriculomegalia, hipoplasia cerebelar, hipoplasia do corpo caloso, atrofia cortical e subcortical e retardo na mielinização. Diagnóstico sorológico Progenitora infectada próximo ao parto: PCR.
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