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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Compêndio de orientação profissional e de carreira, volume 1 : perspectivas históricas e enfoques teóricos clássicos e modernos / Marcelo Afonso Ribeiro, Lucy Leal Melo-Silva (organizadores). -- 1. ed. -- São Paulo : Vetor, 2011. Vários autores. Bibliografia 1. Comportamento - Análise 2. Escolha de profissão 3. Psicologia do trabalho 4. Orientação profissional I. Ribeiro, Marcelo Afonso. II. Melo-Silva, Lucy Leal. 11-00877 CDD – 158.6 Índices para catálogo sistemático: 1. Orientação profissional : Análise do comportamento : Psicologia aplicada 158.6 ISBN: 978-85-7585-811-0 Projeto gráfico: Adriano oliveira Capa: Enio Rodrigues Revisão: Mônica de Deus Martins © 2011 – Vetor Editora Psico-Pedagógica Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, por qualquer meio existente e para qualquer finalidade, sem autorização por escrito dos editores. Sumário Prefácio Maria do Céu Taveira Introdução Marcelo Afonso Ribeiro, Lucy Leal Melo-Silva Parte I – Introdução à Orientação Profissional 1. Breve histórico dos primórdios da Orientação Profissional Marcelo Afonso Ribeiro 2. Orientação Profissional: uma proposta de guia terminológico Marcelo Afonso Ribeiro 3. Enfoques teóricos em Orientação Profissional Marcelo Afonso Ribeiro PARTE II – Teorias de escolha e desenvolvimento de carreira: origens, evolução e conquistas atuais 4. Primeira demanda-chave para a Orientação Profissional: Como ajudar o indivíduo a realizar seu ajustamento vocacional/ocupacional? Enfoque traço- fator Marcelo Afonso Ribeiro, Maria da Conceição Coropos Uvaldo 5. Segunda demanda-chave para a Orientação Profissional: Como ajudar o indivíduo a entender os determinantes de sua escolha e poder escolher? Enfoque psicodinâmico Yvette Piha Lehman, Fabiano Fonseca da Silva, Marcelo Afonso Ribeiro, Maria da Conceição Coropos Uvaldo 6. Terceira demanda-chave para a Orientação Profissional: Como ajudar o indivíduo a desenvolver sua carreira? Enfoque desenvolvimentista e evolutivo Maria Célia Pacheco Lassance, Ângela Carina Paradiso, Cíntia Benso da Silva 7. Quarta demanda-chave para a Orientação Profissional: Como ajudar o indivíduo a compreender seu processo de tomada de decisões e desenvolver um método de escolha? Enfoque decisional e cognitivo Maria Odília Teixeira 8. Quinta demanda-chave para a Orientação Profissional: como ajudar o indivíduo a entender e enfrentar as múltiplas transições em sua carreira? Enfoque transicional Mauro de Oliveira Magalhães Sobre os autores Prefácio Em fevereiro de 2009, celebrou-se o centenário de um marco histórico da Orientação Profissional, a edição da obra Choosing a vocation, de autoria do norte-americano Frank Parsons. Nesse livro, é apresentado o primeiro modelo de aconselhamento no âmbito da Orientação, que guia, ainda, muito do pensamento e da ação dos profissionais de orientação pelo mundo fora e também a ideia que muitas pessoas da comunidade em geral ainda têm acerca dessa área de intervenção psicossocial. É relevante e inspirador que durante o ano de celebração de tal marco histórico, dois investigadores sul-americanos, Marcelo Afonso Ribeiro e Lucy Leal Melo- Silva, tenham iniciado a organização, no Brasil, do Compêndio de Orientação Profissional e de Carreira, vindo a lume neste ano. Trata-se de uma obra ímpar e também um marco, não só pelo tributo que presta a mais de um século de investigação sobre as escolhas e a evolução das pessoas em relação à sua vida de trabalho e restantes ocupações, como, sobretudo, por criar alicerces firmes para um novo enfoque teórico-técnico no domínio. Com efeito, em 1909, a orientação constituiu-se como uma abordagem deliberada, humanista e reformadora, dos processos de entrada e estadia de jovens e adultos no mundo profissional. Nessa época, vários acontecimentos sociopolíticos e do mundo educativo e econômico transformavam rapidamente a sociedade rural norte-americana numa sociedade industrial, com uso de novas tecnologias, criação de empregos e profissões e corrida das populações para a urbe. As novas mudanças na vida pessoal e social de muitos cidadãos trouxeram novos problemas, em boa parte, resolvidos pela ciência e ação inteligente e sistemática de diversos profissionais. A obra e o modelo de aconselhamento de Frank Parsons inserem-se nesse contexto. Entretanto, ao longo de mais de um século, centenas de investigadores trabalharam arduamente para compreender e explicar, de modo mais profundo, o papel do trabalho e das ocupações na vida das pessoas em diferentes grupos e culturas. Foram desenvolvidos diversos enfoques teóricos complementares sobre essas questões, bem como técnicas e estratégias novas de avaliação e intervenção vocacional, a maioria das quais baseadas na ciência psicológica. Dispomos, na atualidade, de um corpo de conhecimentos que em muito ultrapassa já os contributos de Frank Parsons, mas nem por isso é demais recordar o papel que desde essa época a Orientação passou a ter, entre outros aspectos, na liberdade e autodeterminação das pessoas e dos povos. Estamos numa nova era, com necessidade de novos arranjos da vida pessoal e social e, mais que nunca, a Orientação Profissional volta a ter um papel ímpar na solução dos novos problemas da sociedade global e do conhecimento. Internamente, o domínio da Orientação Profissional tem também necessidade de exercitar a integração do seu legado científico e partir para novos enfoques teórico-técnicos, respondendo uma vez mais às necessidades de novos tempos. É exatamente a essas funções que o presente compêndio cumpre: dar a conhecer de modo historicamente contextualizado uma visão integrada do legado científico e técnico da Orientação Profissional ao mesmo tempo em que oferece uma base para novos avanços e propostas nesse âmbito. Referimos um handbook organizado em dois volumes, cada um dos quais com duas partes principais. O volume I incide sobre as Perspectivas históricas e enfoques teóricos clássicos e modernos da orientação. O volume II aborda os Enfoques teóricos contemporâneos e modelos de intervenção no âmbito da orientação e da carreira. Mais especificamente, no volume I deste compêndio, a Primeira Parte é de Introdução à Orientação Profissional. Engloba três capítulos de Marcelo Afonso Ribeiro, da Universidade de São Paulo, que nos apresenta uma visão panorâmica da história da Orientação Profissional, um glossário dos seus conceitos principais e um método analítico para o desenvolvimento de um novo enfoque teórico-técnico da Orientação Profissional. Um enquadramento que explicita e critica as bases epistemológicas, teóricas e metodológicas dos modelos já produzidos no campo da Orientação e que, ao mesmo tempo, permite lançar novos contributos nesse campo. A Segunda Parte, mais alargada, incide sobre as Teorias da escolha e do desenvolvimento da carreira e inclui cinco capítulos, ao longo dos quais diferentes investigadores de renome, brasileiros e portugueses, seguem o modelo proposto por Marcelo Afonso Ribeiro e apresentam, por ordem cronológica, os diferentes enfoques da Orientação Profissional – desde o enfoque traço-fator e o psicodinâmico, passando pelo enfoque desenvolvimentista e evolutivo, e pelo decisional e cognitivo até ao enfoque transicional. O volume II da obra aborda os enfoques teóricos contemporâneos e modelos de intervenção no âmbito da orientação e da carreira a partir dos contributos de investigadores nacionais e internacionais. A Primeira Parte deste segundo volume, sob o título Teorias de escolha e desenvolvimento de carreira: enfoques contemporâneos, contém dois capítulos que apresentam uma interessante discussão integradora dos enfoques tratados, bem como uma proposta de enfoque construcionista social para a Orientação. A Segunda Parte, intitulada Métodos de intervenção e avaliação em Orientação Profissional, é composta por três capítulos, dois dos quais problematizam a avaliaçãopsicológica e de serviços da Orientação Profissional e as questões da sua integração nas intervenções de carreira. Um terceiro e último capítulo, de grande relevância também, sobre discussão das políticas públicas de Orientação, no âmbito internacional e no Brasil. Estamos desejosos que este compêndio enriqueça, do ponto de vista reflexivo, o domínio da Orientação Profissional e todos aqueles que se interessam, estudam e trabalham nesse domínio, pois seguramente que, ao lê-lo e discuti-lo com outros e para outros, contribuirão mais rápida e eficazmente para o desenvolvimento de teoria e práticas de Orientação Profissional, relevantes e cientificamente informadas e de qualidade. Maria do Céu Taveira (Escola de Psicologia da Universidade do Minho – Portugal) Introdução Marcelo Afonso Ribeiro Lucy Leal Melo-Silva A Orientação Profissional vem recebendo demandas cada vez mais diferenciadas em função do atual momento de instabilidade e profunda transformação a que o mundo está submetido, configurando-se numa era de transição que afeta a tudo e a todos, pois as antigas estruturas que organizavam esse mundo estão fragilizadas e novas estruturas ainda não se consolidaram. Diante disso, a Orientação Profissional também se encontra em momento de transição, tendo de repensar seus conceitos e suas estratégias para constatar o que pode ser utilizado na atual configuração mundial e o que não tem mais a validade que possuía em outros contextos históricos. A Orientação Profissional, então, deve realizar uma autorreflexão para vislumbrar as possibilidades presentes e os planos futuros, para começar a reconstrução de seu projeto, na qualidade de área de pesquisa e intervenção. Se pensarmos na definição clássica de projeto, ele se constitui num plano de ação presente, com base no passado para ser realizado no futuro, visando atender as novas demandas que irão surgir. Nesse sentido, para pensarmos o presente e o futuro, teremos de olhar para o passado; razão esta que justifica uma obra como a que aqui se apresenta, que visa reconstruir a história da Orientação Profissional por meio de um passeio pelos seus enfoques teórico-técnicos construídos, principalmente com base na Psicologia Vocacional, ao longo do século XX para verificarmos o que se mostra atual e o que já se transformou em passado não atualizável. Nossa tarefa será, portanto, fazer uma breve revisão histórica do campo da Orientação Profissional, na tentativa de levantar os fundamentos teóricos e técnicos, que embasaram e embasam essa área, por meio das demandas que foram surgindo ao longo dos tempos. O método empregado para tal tarefa será a utilização de um modelo de quadro de referência, que, aplicado a todos os enfoques teórico-técnicos apresentados, servirá para compararmos os avanços da Orientação Profissional. Esse quadro de referência, embasado nas sugestões de Bisquerra-Alzina (1998), Bohoslavsky (1977), Bujold e Gingras (2000), Crites (1974), Rivas (1988), Savickas e Walsh (1996) e Shertzer e Stone (1972), delimitará uma base teórica e uma estratégia de intervenção por meio de alguns pontos principais que todo enfoque teórico-técnico em Orientação Profissional deve ter: a) Bases epistemológicas e teóricas – Concepção de ser humano – Bases teóricas e epistemológicas – Logística: teoria vocacional/ocupacional subjacente – Princípios, objetivos e funções b) Bases metodológicas: estratégia, tática e técnica – Estratégia e tática (métodos empregados) – Técnica (instrumentos utilizados) Finalizaremos o livro tentando mostrar, a cada capítulo, o que a Orientação Profissional tem a oferecer ao mundo atual em termos de possibilidades e limites, levantando sugestões para serem concretizadas. O Compêndio de orientação profissional e de carreira está dividido em 2 volumes. O volume 1 apresenta um breve histórico da Orientação Profissional, propõe um guia terminológico, analisa as questões centrais da área, discute a concepção de teoria em Orientação Profissional e apresenta os enfoques teóricos clássicos e modernos (traço-fator, psicodinâmico, desenvolvimentista e evolutivo, decisional e cognitivo, transicional). O volume 2 apresenta os enfoques teóricos contemporâneos (caos, desenvolvimentista-contextual, contextualista e life design), duas contribuições brasileiras com base na Psicanálise e no Construcionismo Social e os principais modelos de intervenção (avaliação e testagem como estratégia de Orientação, avaliação do processo de Orientação e políticas públicas em Orientação Profissional). Referências BISQUERRA-ALZINA, R. Modelos de orientación e intervención psicopedagógica. Barcelona: Praxis, 1998. BOHOSLAVSKY, R. Orientação vocacional: a estratégia clínica. São Paulo: Martins Fontes, 1977. BUJOLD, C.; GINGRAS, M. Choix professionnel et développement de carrière. Montréal: Gaëtan Morin, 2000. CRITES, J. O. Psicología vocacional. Buenos Aires: Paidós, 1974. RIVAS, F. Psicología vocacional: enfoques del asesoramiento. Madrid: Morata, 1988. SAVICKAS, M. L.; WALSH, W. B. (Orgs.). Handbook of career counseling: theory and practice. Palo Alto: Davies-Black, 1996. SHERTZER, B.; STONE, S. Manual para el asesoramiento psicológico. Buenos Aires: Paidós, 1972. Parte I Introdução à Orientação Profissional Capítulo 1 Breve histórico dos primórdios da Orientação Profissional Marcelo Afonso Ribeiro É sempre complicado, senão impossível, estabelecer pontos de partida em história, pois isso pode negar as contribuições diretas e/ou indiretas do passado, por isso levantemos os primórdios da Orientação Profissional, entendidos como ideias e ações desenvolvidas no passado que geraram no século XX esse campo teórico-técnico – objeto central do presente livro. 1.1 A necessidade da orientação A ideia e a prática da orientação sempre foram preocupações muito presentes ao longo da história da humanidade, configurando geralmente um auxílio ou conselho de uma pessoa mais experiente na resolução de problemas ou na escolha de caminhos, pois sempre houve uma contínua busca do homem em relação à sua maneira de viver. Na Pré-História havia uma ajuda mútua para a sobrevivência e estabilidade. Na Grécia Antiga, os mestres acompanhavam o desenvolvimento dos seus discípulos, descobriam talentos e indicavam caminhos. Na Idade Média a Igreja guiava o rumo do mundo pelos ditames do cristianismo. Os sacerdotes orientaram os seguidores da dada religião por toda história. Assim como os pais orientaram seus filhos ao longo dos tempos, os mestres de ofício orientaram os jovens artesãos e assim por diante, numa infinidade de exemplos históricos inesgotáveis. A Orientação Profissional não foge à regra: a ideia de que nem todas as pessoas poderiam exercer todas as ocupações, fazeres, artes ou ofícios também percorre toda a história. Sócrates falava da importância do conhecimento de si mesmo. Platão em seu livro A república colocava a importância da determinação das aptidões individuais para a adaptação social. Aristóteles valorizava o desenvolvimento da razão para a escolha de atividades em consonância como os interesses do sujeito. Cícero guiava as pessoas durante o Império Romano (originando a expressão ciceronear como sinônimo de guiar). Santo Tomás de Aquino destacava a importância do desenvolvimento das potencialidades humanas. Muitos colocavam que existiam pessoas com dons especiais; alguns começavam a descrever as diversas ocupações que iam surgindo em guias e manuais e frisavam a importância da informação ocupacional. Palavras, como aptidão, habilidade, engenho, talento, tornavam-se cada vez mais frequentes, mas um pequeno detalhe ainda estava por se consolidar: a possibilidade de as pessoas realizarem escolhas. 1.2 A possibilidade de fazer escolhas A necessidade de tomar decisões sempre foi uma das principais tarefas na vida das pessoas desde a Pré-História, momento em que cada dia era vivido como único e as decisões acerca da sobrevivência determinavam a vida das pessoas: uma decisão mal refletida poderia significar sua morte.A história da humanidade intercalou momentos em que as pessoas tinham alguma possibilidade de escolher e tomar decisões com momentos nos quais estavam submetidas a uma ordem superior que guiava seus passos. Na Grécia Arcaica, os deuses determinavam o destino dos homens, que não tinham muita escolha a não ser cumprir seu destino programado. Na Grécia Clássica, os filósofos acreditavam poder dominar sua natureza pela reflexão e, dessa maneira, determinar seu futuro, mas isso era destinado apenas a poucos escolhidos, pois a maioria nascia com seu destino traçado: ou se era nobre, ou se era soldado, ou se era servo. Na Idade Média, a religião, como ordem superior suprema, volta a guiar os passos das pessoas, que tinham suas decisões norteadas pelos princípios da fé: ou se era abençoado por seguir os mandamentos de Deus ou se era condenado por cometer seguidos pecados. O Renascimento surge como possibilidade do resgate da experiência subjetiva, ou seja, de poder assumir sua vida e determinar para si o que é certo ou que é errado, trazendo a abertura da escolha e a insegurança da falta de uma referência segura a quem seguir. As artes, as ciências, as navegações, o comércio são frutos desse período de experimentações, que parece ter atravessado a vida de todos e, de maneiras diferenciadas, possibilitava a tomada de decisões mais autônomas: essa era a ilusão que se vivia na época. A escolha e a tomada de decisão guiavam a vida das pessoas, mas até esse momento da história, a questão da escolha profissional¹ não se colocava como uma das muitas tarefas da vida das pessoas, que se viam presas a determinantes hereditários, ou seja, o seu futuro como trabalhador estava marcado pela sua família de origem. Apesar disso, alguns poucos pensadores começaram a estudar e propor algumas ideias com ações isoladas e parciais, dentre eles: – Rodrigo Sanches Arévalo, em sua obra Speculum Vitae Humanae de 1498, dizia que o “exercício da profissão obedece a um impulso natural e pressupõe uma escolha” (SILVA, 1996, p. 19), ou seja, o que deveria ser levado em conta numa escolha seriam as inclinações naturais e as circunstâncias de vida oferecidas pelos diversos ofícios (CHABASSUS, 1981). – Antonio Pérsio, em seu Trattato dell ingegno dell’huomo de 1576, postulou que o engenho, causado pelo espírito, atribui a cada pessoa uma inclinação para diferentes ocupações (SILVA, 1996). – Juan Huarte de San Juan, em sua obra Examen de ingenios para las ciências, de 1575, apontava que as pessoas tinham diferenças individuais (engenhos²) e que os engenhos conduziriam a pessoa a uma atividade que melhor se adaptasse a eles (BOHOSLAVSKY, 1977). – Jourdain Guibelet que, em 1631, dizia que a escolha era fruto do poder da vontade, não do exercício de uma habilidade natural. – Campbell, em 1474, e Garzoni, em 1585, deram sua contribuição redigindo guias com a descrição dos ofícios de sua época (ZYTOWSKI, 1972). Todas essas ideias marcariam o desenvolvimento posterior da Orientação Profissional, mas, nesse contexto ainda, uma questão parecia claramente posta: para que orientar alguém que não tinha escolhas e já nascia com seu futuro ocupacional determinado? Até meados do século XV, em pleno Renascimento, as ocupações³ ainda eram determinadas hereditariamente, não havendo mobilidade social ou possibilidade de inserções diversas no mundo do trabalho que começava a se transformar. O Renascimento configura o reconhecimento da singularidade pelos indivíduos, possibilitando a emergência de uma nova mentalidade, que gradativamente vai operando uma troca no mundo ocupacional: a transmissão hereditária dos ofícios cede lugar à liberdade de escolha segundo as capacidades de cada um. As possibilidades de escolha profissional e de inserções diversas no mundo do trabalho só se tornaram uma realidade por conta de três fatores da história da humanidade, que começaram a ganhar corpo em meados do século XVIII (SILVA, 1996): – As mudanças no modo de produção: passagem de uma relação manual e mecânica com o trabalho para uma relação especializada e cada vez mais complexa, fruto do avanço tecnológico crescente da revolução industrial. – As doutrinas liberais: passagem de um modelo social no qual não havia possibilidade de mobilidade social para um modelo que valorizava o esforço pessoal como forma de ascensão social, iniciado com a revolução francesa. – Surgimento e desenvolvimento da Psicologia: possibilidade de identificar cientificamente as capacidades individuais e auxiliar no processo de inserção no mundo do trabalho. Segundo Bisquerra-Alzina (1998) e Brewer (1926), inúmeros autores deram sua contribuição ao longo do século XIX para o surgimento da Orientação Profissional por meio de: palestras sobre o mercado de trabalho, como Edward Hazen em 1836; propostas incipientes de orientação em escolas, como George Merril, em 1895; ou publicações como o guia de ocupações de John Sydney Stoddard em 1899 e o livro Vocophy, de Lysander S. Richards, em 1881, no qual desenvolvia um sistema capaz de ajudar a pessoa a refletir e a planejar seu futuro embasado na frenologia. Tudo o que nós pretendemos fazer é trazer ordem no lugar do oportunismo e do caos e instituir ou estabelecer um sistema para capacitar a pessoa a encontrar o mais adequado trabalho através do qual ela consiga obter o maior sucesso possível (RICHARDS, 1881 apud BREWER, 1926, p. 22). Estava, portanto, configurada a base para o surgimento da Orientação formal como uma nova área de atuação nas Ciências Humanas no início do século XX e coube a Frank Parsons cumprir esse papel na história. Beck (1977) nos aponta que, como toda novidade, a Orientação surge com vários problemas e com um dado importantíssimo: a emergência da prática impediu uma elaboração filosófica e teórica mais aprofundada, em virtude da carência de pesquisas e da falta de interesse e tempo dos profissionais que começaram a encampar essa área. Com a formalização e expansão da educação e com o crescimento desenfreado do mercado de trabalho, o problema da Orientação se colocava como: alguma coisa deve ser feita agora. Wrenn (apud BECK, 1977, p. 7) faz uma bela analogia do momento inaugural da Orientação com o súbito surgimento de um novo bairro: Numa área em que se fazem muitas construções e com muita rapidez haverá necessidade imperiosa de ruas. A pavimentação de rodovias pode ser feita com tanta pressa, que o nivelamento cuidadoso e a preparação das fundações são negligenciados. As ruas podem comportar o tráfego e livrar as pessoas da lama, mas logo vão apresentar buracos aqui e ali, ou não dar vazão à água em épocas de fortes chuvas. Além disso, tais ruas podem apresentar falta de consistência de material ou de estrutura – com um quarteirão de concreto e outro de asfalto, sarjetas aqui e não ali, placas de rua no meio-fio num quarteirão e em postes, em outro. Um observador ao ver tal sistema de ruas poderia protestar ser isso o resultado de “conveniência”, de “oportunismo” e até mesmo de “corrupção”, mas é provável que este observador não estivesse presente na hora do aperto. Esse fato é fundamental para entendermos o desenvolvimento do campo da Orientação: mudanças ocorreram no mundo criando a necessidade de orientação para as pessoas nas mais variadas esferas (educação, trabalho, ocupação), e profissionais assumiram essa tarefa como uma urgência prática, e não como uma descoberta teórica, o que ocasionou o grande desenvolvimento inicial de técnicas e a pouca produção teórica. Rascován (2004) afirma que a Orientação Vocacional surgiu como resposta às demandas socioeconômicas do começo do século XX e pode, dessa forma, estabelecer-se como uma disciplina e uma prática social, voltada à escolha e realização de um fazer humano relativo aos problemas genericamente chamados de vocacionais, basicamente educacionais e laborais. A Orientação Vocacional é um “invento” da modernidade para auxiliar pessoas que se perguntam por seu fazer presente e futuro. Como intervenção, tem diversas particulares em relação, tantoao marco conceitual com o qual se trabalha, quanto também ao contexto em que se exerce sua prática. (RASCOVÁN, 2004, p. 2). As áreas de saber que mais contribuíram para a Orientação foram a Psicologia e a Sociologia, tendo ainda a Filosofia, a Economia e a Pedagogia sua parcela de contribuição. Referências BECK, C. E. Fundamentos filosóficos da orientação educacional. São Paulo: EPU, 1977. BISQUERRA-ALZINA, R. Modelos de orientación e intervención psicopedagógica. Barcelona: Praxis, 1998. BOHOSLAVSKY, R. Orientação vocacional: a estratégia clínica. São Paulo: Martins Fontes, 1977. BREWER, J. M. The vocational guidance movement. New York: Macmillan Company, 1926. CHABASSUS, H. Para a história da orientação vocacional I - Rodrigo Sanches de Arévalo. Síntese, v. 9, n. 26, p. 71-86, 1981. RASCOVAN, S. Lo vocacional: una revisión crítica. Revista Brasileira de Orientação Profissional, v. 5, n. 2, p. 1-10, 2004. SILVA, L. B. C. A escolha da profissão: uma abordagem psicossocial. São Paulo: Unimarco, 1996. ZYTOWSKI, D. G. Four hundred years before Parsons. Personnel and Guidance Journal, v. 50, n. 6, p. 443-450, 1972. ¹ Escolha profissional, escolha vocacional e escolha de carreira são termos utilizados, em geral, de forma indiscriminada, o que pode se configurar num problema para a comunicação, por conta disso no capítulo 2 será realizada uma análise mais aprofundada acerca das terminologias em Orientação Profissional. ² O engenho é uma nomenclatura ancestral da ideia de aptidão, concepção que será definida no capítulo 2. ³ Ocupação também será um termo a ser definido no capítulo 2. Capítulo 2 Orientação Profissional: uma proposta de guia terminológico Marcelo Afonso Ribeiro 2.1 Nomeação: delimitação do conceito e evolução da Orientação Profissional A Orientação se dividiu basicamente em três grandes áreas no começo: a Orientação Educacional (OE), a Orientação Vocacional (OV) e a Orientação Profissional (OP). A OE atuaria no interior das instituições educacionais sendo responsável pelo auxílio ao indivíduo como um todo, ou seja, em todas as esferas do seu desenvolvimento (pessoal, profissional, comunitário, social, educacional, sexual, familiar); a OV se consolidaria como um auxílio ao jovem que desejava ingressar em um curso de nível superior; a OP seria o auxílio ao indivíduo para seu ingresso no mercado de trabalho. Temos ainda como área correlata a Seleção Profissional, que seria a escolha de indivíduos para atuarem em determinado lugar ou posto de trabalho. Frank Parsons é tido como o precursor da Orientação mundial, pois foi um dos primeiros a executar sistematicamente trabalhos de Orientação no Vocation Bureau dentro do Civic Service House, em Boston (EUA), a partir de 1908. Atuava em duas frentes: – Orientação Vocacional: auxílio a jovens oriundos do atual ensino médio, que desejavam orientação para o ingresso numa universidade; – Orientação Profissional: auxílio a pessoas que desejavam ingressar no mundo do trabalho. Utilizou pela primeira vez o termo Vocational Guidance (Orientação Vocacional) e lançou o livro Choosing a vocation, em 1909 (PARSONS, 2005), tido como marco inaugural das publicações na área de Orientação Vocacional, um ano após sua morte, não dando continuidade a seu trabalho pioneiro. Estava oficialmente fundada a área da Orientação. E nosso foco será a OP, ou será a OV? Ou ainda a Psicologia Vocacional? Bisquerra-Alzina (1998) faz uma breve retomada das terminologias utilizadas em OP e nos auxiliará nessa tarefa, assim como o glossário em quatro línguas (inglês, alemão, espanhol e francês) do Office national d’information sur les enseigments et les professions (ONISEP, 2001). Parsons (2005) utilizou o termo Vocational Guidance (Orientação Vocacional), batizando, assim, a área de auxílio a jovens que buscavam orientação para o ingresso em um curso superior. Surgiu na mesma época o termo Educational Guidance (Orientação Educacional), que determinaria o trabalho de orientação no interior das instituições de ensino e que visava ao desenvolvimento global do indivíduo, não apenas um aspecto das suas relações com o mundo, como no caso da Orientação Vocacional, que visava à orientação para as escolhas vocacionais (vide Quadro 1). Quadro 1. Orientação Vocacional (glossário em quatro línguas) Inglês Alemão Espanhol Francês Vocational Guidance Berufsorientierung Orientación Vocacional Orientation Vocationnelle A ideia que estava embutida nessa nomeação era a da vocação como algo a ser descoberto, portanto o trabalho de Orientação Vocacional seria o diagnóstico das características das pessoas e a escolha das ocupações que melhor se ajustassem a esse perfil na filosofia do the right man for the right place (o homem certo para o lugar certo) e a posterior orientação (base do enfoque traço-fator em Orientação Profissional). Essa forma de entender e trabalhar em Orientação sofreu uma modificação por volta dos anos 1940, com o advento das ideias do Counseling (Aconselhamento), que colocavam a Orientação não mais como um processo diagnóstico, mas sim um processo de construção das escolhas vocacionais, pelo Counseling, a Vocational Guidance se torna Vocational Counseling (Aconselhamento Vocacional), conforme pode se ver no Quadro 2. Quadro 2. Aconselhamento Vocacional (glossário em quatro línguas) Inglês Alemão Espanhol Francês Vocational Counseling Berufsberatung Asesoramiento Vocacional Conseil D’Orientation Nos anos 1950 surgem as ideias desenvolvimentistas que apresentam um novo paradigma para a Orientação: até esse momento a Orientação era focada nos momentos de escolha, a partir de então ela seria um auxílio a qualquer pessoa em qualquer período da vida, que necessitasse ajuda para o seu desenvolvimento vocacional, ou seja, o orientador atuaria no auxílio do desenvolvimento da vida profissional dos indivíduos, e não mais simplesmente no momento de escolha de um caminho profissional¹. A ideia de descoberta da vocação é trocada pela do desenvolvimento vocacional, ou seja, a vocação é substituída pelo desenvolvimento da carreira e, assim, Vocational Counseling se torna Career Counseling (Aconselhamento de Carreira) ou Career Guidance (Orientação de Carreira) ou Career Development (Desenvolvimento de Carreira), dando base para o enfoque desenvolvimentista em Orientação Profissional (vide Quadros 3-5). Quadro 3. Aconselhamento de Carreira (glossário em quatro línguas) Inglês Alemão Espanhol Francês Career Counseling Berufliche Beratung Asesoramiento Profesional Conseil D’Orientation Quadro 4. Orientação de Carreira (glossário em quatro línguas) Inglês Alemão Espanhol Francês Career Guidance berufliche Orientierung Orientación Profesional Orientation Professionnelle Quadro 5. Desenvolvimento de Carreira (glossário em quatro línguas) Inglês Alemão Espanhol Francês Career Development Laufbahnentwicklung Desarrollo de la Carrera Développement de Carrière Atualmente o termo Desenvolvimento de Carreira (Career Development) é o mais utilizado para designar o que estamos chamando de Orientação Profissional ao longo do texto e também a Educação para a Carreira (Career Education) quando realizado dentro do projeto pedagógico de uma instituição educacional (vide Quadro 6). No Brasil, o termo Orientação Profissional, e em alguns lugares sua ampliação para Orientação Profissional e de Carreira, é o mais utilizado para designar o que no contexto internacional tem sido denominado de Desenvolvimento de Carreira (Career Development). Quadro 6. Educação para a Carreira (glossário em quatro línguas) Inglês Alemão Espanhol Francês Career Education Berufswahlunterricht Educación para la Carrera Éducation à la Carrière É importante frisar que o termo guidance é traduzido em português por orientação e o termo counseling por aconselhamento, mas que isso pode levar a interpretações errôneas. O guidance traz a ideia de uma orientação mais diretiva e informativa, com o orientador trazendo informações, guiando caminhos, sendo uma tradução mais adequadaa ideia de assessoria ou aconselhamento (no sentido de dar conselhos). Enquanto o counseling, ao ser traduzido por aconselhamento, trouxe a ideia de alguém que dá conselhos, ou seja, que indica caminhos, e é justamente o oposto, pois o counseling surge com uma ideia de não diretividade, ou seja, seu papel de orientador seria auxiliar o jovem a construir seu caminho profissional, mas quem determina esse caminho é ele próprio, sendo a melhor tradução orientação. Rivas (1988) reforça essa ideia dizendo que o counseling traduzido por consejo (aconselhamento) traz uma ideia errônea do processo de Asesoramiento Vocacional (Orientação Vocacional), pois conselho qualquer pessoa é capaz de fornecer e a informação aí contida não é de responsabilidade de quem emite, enquanto a orientação requer uma qualificação e um preparo, pois você é um profissional responsável pelo que faz. Atualmente no Brasil, a utilização das nomenclaturas Orientação Vocacional ou Orientação Profissional é associada ao trabalho de psicólogos e pedagogos que auxiliam jovens nas escolhas que devem ser efetuadas para o ingresso no mundo da educação (cursos técnicos, cursos superiores, reescolha de cursos, pós- graduação) e, em geral, acontecem nas escolas, consultórios e universidades. Por sua vez, a Orientação, o Planejamento, a Gestão ou o Desenvolvimento de Carreira estariam mais associados ao trabalho de consultores (psicólogos, engenheiros, administradores, entre outros), que tenham conhecimento do mercado de trabalho, dominem algumas ferramentas de orientação e auxiliem jovens e adultos no ingresso, nas transições e na saída do mundo do trabalho, sendo realizados, em geral, em consultorias de recursos humanos, empresas e alguns consultórios, escritórios e universidades. Obviamente este é um quadro genérico que está mudando e se interpenetrando, o que possivelmente não permitirá mais essa divisão tão nítida. Como um dado para concluir a questão terminológica, a atual entidade que representa a Orientação Profissional no mundo é nomeada como Associação Internacional de Orientação Vocacional e Educacional: – IAEVG – International Association for Educational and Vocational Guidance; – IVSBB – Internationale Vereinigung für Schul- und Berufsberatung; – AIOEP – Asociación Internacional para la Orientación Educativa y Profesional; – AIOSP – Association Internationale d’Orientation Scolaire et Professionnelle. Temos, também, como instituição parceira a National Career Development Association (NCDA), Associação Nacional de Desenvolvimento de Carreira (EUA) e, no Brasil, a Associação Brasileira de Orientadores Profissionais (ABOP), o que mostra uma diversidade de nomenclaturas com a marca do seu tempo, ou seja: Orientação Vocacional e Educacional (IAEVG, cunhada em 1951), Desenvolvimento de Carreira (NCDA, cunhada em 1986) e Orientação Profissional (ABOP, cunhada em 1993). Mas qual será a nomeação que usaremos neste livro? Toda e qualquer escolha de uma nomenclatura carregará uma tradição, uma história e uma opção epistemológica, metodológica e sócio-histórica, que será sempre parcial e criticável, entretanto se faz necessária para marcar uma posição e operacionalizar a redação do presente livro. A expressão Orientação Profissional constituirá a nomeação aqui utilizada (como já está sendo anunciado desde os primeiros parágrafos do texto e no próprio título do livro), pois, no nosso entender, melhor representa a tradição brasileira na Orientação e sua tarefa para o século XXI, além de ser a representação social predominante da área no Brasil. Mas qual é a importância de uma terminologia? Uma nomeação não é simplesmente um título sem significado, mas carrega o pensamento das teorias dominantes em cada época e expressa a identidade e as representações sociais vigentes. A Orientação Profissional, por meio de suas bases epistemológicas e teóricas que são as áreas da Psicologia Vocacional/Ocupacional e da Sociologia Ocupacional, construiu e se utilizou de vários termos, ao longo de sua história, considerados centrais para sua teorização e intervenção prática, que nem sempre tiveram um consenso em sua definições, o que pode ocasionar problemas e usos inapropriados. Façamos uma tentativa de síntese das definições dos principais termos-chave utilizados em Orientação Profissional, conscientes de que as definições propostas têm mais um caráter de convite ao debate do que propriamente sua finalização. 2.2 Precisões terminológicas: proposta de definição de alguns dos principais termos-chave para Orientação Profissional Muitos conceitos são utilizados no campo da Orientação Profissional, mas nem sempre de forma homogênea ou consistente, o que levou vários autores e associações a desenvolverem glossários dos principais termos-chave empregados na área. As definições apresentadas a seguir representam uma tentativa de sistematizar esse conhecimento produzido e estão baseadas nas sugestões internacionais de Bisquerra-Alzina (1998), Bohoslavsky (1977), Bujold e Gingras (2000), Crites (1974), Dupont e Pereira (1996), Greenhaus e Callanan (2006), Rivas (1988; 2003), Sears (1982), Silva (1996), Super (1976; 1985); Super e Bohn Jr. (1972); nas sugestões nacionais de Mello (2000) e Melo-Silva (2001); e na própria tentativa do autor em realizar tal tarefa (Ribeiro, 2004, 2009a, 2009b). Além disso, serão acrescentados os correlativos em inglês, alemão, espanhol e francês, conforme propõe o glossário organizado em 2001 pela International Association for Educational and Vocational Guidance (IAEVG) e pela Office National d’Information sur les Enseigments et les Professions (ONISEP). Como forma de tentar garantir alguma uniformidade ou padrão nas definições, serão apresentadas² propostas que introduzam as principais dimensões, quando possível, de compreensão de cada noção com seus significados etimológicos, genéricos, socioeconômicos, sócio-históricos, psicológicos e psicossociais. Adaptabilidade de carreira – Career Adaptability (inglês); – Berufliche Anpassungsfähigkeit (alemão); – Adaptabilidad profesional (espanhol); – Adaptabilité professionnelle (francês). • Significado socioeconômico: adaptação constante da pessoa ao mundo do trabalho para responder às demandas que lhe são colocadas e poder, nele, permanecer inserido (DUPONT; PEREIRA, 1996). • Significado psicológico: prontidão para enfrentar as tarefas desenvolvimentais previsíveis e as transições ocupacionais e constantes crises não previsíveis que a pessoa passará durante toda a vida; adaptar-se às novas circunstâncias apresentadas pelo mundo do trabalho; e poder, nele, permanecer inserido (GREENHAUS; CALLANAN, 2006; SAVICKAS, 1997; SUPER, 1985). Adaptação vocacional – Vocational Adaptation (inglês); – Berufliche Bearbeitung (alemão); – Adaptación vocacional (espanhol); – Adaptation professionnel (francês). • Significado socioeconômico: adaptação constante entre pessoa e mercado de trabalho que deve gerar um pleno desenvolvimento da pessoa no trabalho e da economia de um país (DUPONT; PEREIRA, 1996). • Significado psicológico: conceito funcionalista dinâmico que preconiza que a interação entre as pessoas e a realidade profissional/ocupacional se dá a partir de respostas flexíveis e mutantes; interação, na qual pessoas e realidade se modificam para uma adaptação mútua e recíproca que deve resultar em satisfação e êxito na carreira – base do enfoque desenvolvimentista em Psicologia Vocacional (MELLO, 2000; SAVICKAS, 1997; SUPER; BOHN JR., 1972). Ajustamento vocacional – Vocational adjustment, vocational fitness (inglês); – Berufliche Anpassung (alemão); – Ajuste vocacional (espanhol); – Épanouissement professionnel (francês). • Significado socioeconômico: combinação do perfil pessoal com o da ocupação gerando um pleno desenvolvimento da pessoa no mundo do trabalho e da economia de um país (DUPONT; PEREIRA, 1996). • Significado psicológico: conceito mecanicista que pressupõe a combinação entre as características pessoais (perfil vocacional) com as característicasdas profissões/ocupações (perfil profissiográfico), vistas como realidades estáveis e definidas, para assumir uma ocupação/profissão no mundo do trabalho que resulta em satisfação e êxito na carreira. Base do enfoque traço-fator em Psicologia Vocacional (DAWIS; LOFQUIST, 1984; PARSONS, 2005). Aptidão – Aptitude (inglês); – Anlagen, Begabung, Fähigkeiten (alemão); – Aptitude (espanhol); – Aptitude (francês). • Significado genérico: aptidão é sinônimo de vocação, como a característica que definiria a escolha vocacional. • Significado psicológico: a aptidão teria relação com comportamentos específicos, estáveis no tempo e unitários indicativos da facilidade ou predisposição natural para aprender (SUPER; BOHN JR., 1972; SUPER; CRITES, 1962) ou da capacidade de obter eficiência ou executar uma tarefa com sucesso (SANTOS, 1978). Seria indicativa do provável nível de habilidade futura que um indivíduo terá para executar uma atividade (GREENHAUS; CALLANAN, 2006). O talento seria o superlativo de aptidão, sendo definido de forma semelhante a ela (VAN KOLCK, 1974). Capacidade – Capacity (inglês); – Leistungsfähigkeit (alemão); – Capacidad (espanhol); – Capacités (francês). • Significado socioeconômico: possibilidade individual de vinculação e realização de atividades em um dado trabalho. • Significado psicológico: potencialidade individual para o exercício de qualquer função definida em relação a quanto uma pessoa já possui de domínios aprendidos necessários para a realização de uma dada atividade (dimensão passada), englobando tanto a habilidade (dimensão presente) quanto a aptidão (dimensão futura), embora nem sempre fique clara a fronteira entre esses conceitos (CRITES, 1974; SUPER; CRITES, 1962). Carreira – Career (inglês); – Berufliche Laufbahn, Laufbahn (alemão); – Carrera (espanhol); – Carrière (francês). • Significado socioeconômico: a) estruturas de trabalho inseridas em organizações (BLAU; DUNCAN, 1967; DUPONT; PEREIRA, 1996; RIVAS, 1988); b) respostas às forças do mercado de trabalho (ARTHUR, HALL; LAWRENCE, 1989). • Significado social: a) desempenho de papéis sociais no trabalho (BERGER; LUCKMANN, 1980); b) mobilidade social (BOUDON; BOURRICAUD, 1994). • Significado sócio-histórico: percurso construído ao longo da vida pelo vínculo a uma série de ocupações e profissões, que constituem o histórico de vida no mundo do trabalho (SEARS, 1982; SUPER; BOHN JR., 1972). • Significado psicológico: a) realização vocacional no mundo (HOLLAND, 1985); b) sequência evolutiva das experiências de trabalho de uma pessoa em dado contexto ao longo do tempo, que se constitui em um veículo de autorrealização psicológica (SUPER, 1976); c) resposta individual mediada às requisições externas dos papéis sociais (SAVICKAS, 1997); d) “Desenvolvimento do comportamento vocacional ao longo do tempo.” (SAVICKAS, 2002, p. 151). • Significado psicossocial: a) síntese da relação dialética de construção psicossocial contínua entre indivíduo e mundo social e do trabalho (RIBEIRO, 2004; RIVAS, 2003); b) narrativa de vida no trabalho direcionada ao outro que é organizadora da experiência de si no trabalho e das possibilidades de construção de carreira no mundo, gerando, ao mesmo tempo, o reconhecimento social e a compreensão da trajetória de vida (RIBEIRO, 2009b; YOUNG; COLLIN, 2004). Comportamento vocacional – Vocational behavior (inglês); – Berufsverhalten (alemão); – Conducta vocacional (espanhol); – Comportement professionnel (francês). • Significado psicológico: a) respostas de uma pessoa ao escolher uma ocupação e adaptar-se a ela, com caráter processual e acompanhando o desenvolvimento da pessoa pela atualização de suas experiências (BISQUERRA-ALZINA, 1998; CRITES, 1974; SUPER, 1976); b) ações contínuas de escolha, adaptação e realização vocacional (MARTINS, 1978). • Significado psicossocial: a) “Manifestação da relação dialética entre a pessoa e o meio socioprofissional que marca a finalização do processo evolutivo de socialização do ser humano no seu meio produtivo.” (RIVAS, 1988, p. 13); b) conjunto de processos psicossociais que uma pessoa mobiliza em relação ao mundo profissional/ocupacional, no qual já está instalada ou pretende envolver- se ativamente, e que representam o tipo de vínculo que cada sujeito estabelece com o mundo naquele momento pela síntese da relação dialética entre as demandas sociais e pessoais (RIBEIRO, 2004; RIVAS, 2003). Construção da carreira – Career construction (inglês); – Laufbahn konstruktion (alemão); – Construcción de la carrera (espanhol); – Construction de carrière (francês). • Significado psicossocial: a) concepção de construção de carreira com base no construtivismo³: conceito funcionalista dinâmico que preconiza que a interação entre as pessoas e a realidade profissional/ocupacional se realiza por meio da construção da forma como as pessoas adaptam o trabalho em suas vidas (não como as pessoas se ajustam às ocupações) e da construção da trajetória do comportamento vocacional da pessoa (não da análise do comportamento vocacional em si), sendo esta a ideia da construção de carreira (SAVICKAS, 2002; DUARTE, 2009); b) concepção de construção de carreira com base no construcionismo: construção é a operação básica de relação entre pessoa e contexto, num processo de coevolução indissociável, pelo qual a pessoa constrói sua trajetória no mundo do trabalho, elaborando e realizando continuamente projetos de vida no trabalho que integrem as várias dimensões de sua vida pela transformação contínua dessas dimensões e constituam sua identidade profissional (RIBEIRO, 2004; YOUNG, VALACH; COLLIN, 2002). Desenvolvimento de carreira – Career development (inglês); – Laufbahnentwicklung (alemão); – Desarrollo de la carrera (espanhol); – Développement de carrière (francês). • Significado socioeconômico: progressão dos indivíduos em termos psicológicos, sociais e econômicos no mundo do trabalho pelo desenvolvimento contínuo da carreira (BUJOLD; GINGRAS, 2000; RIVAS, 1988; SEARS, 1982). • Significado psicossocial: percepção das relações entre autoconceito e trabalho, e dos passos necessários para a concretização do padrão de carreira (projeto de vida no trabalho) pela atualização da identidade profissional realizada pelo desempenho de papéis profissionais (SUPER, 1985). Desenvolvimento vocacional – Vocational development (inglês); – Berufliche Entwicklung (alemão); – Desarrollo profesional (espanhol); – Développement professionnel (francês). • Significado psicológico: atualização do autoconceito vocacional realizada pelo comportamento vocacional, que propicia a formação, clarificação e maturação das tendências vocacionais, bem como a realização desse autoconceito na realidade ocupacional/profissional pelas constantes sínteses geradas pelas experiências de relação com essa realidade (MELLO, 2000; SUPER; BOHN JR., 1972). Escolha vocacional, profissional ou de carreira – Vocational choice; career choice (inglês); – Berufswahlentscheidung; berufswahl (alemão); – Elección profesional; elección de carrera (espanhol); – Choix professionnel; choix de carrière (francês). • Significado socioeconômico: intenção de ingressar e ocupar um lugar no mundo do trabalho (CRITES, 1974). • Significado psicológico: a) resposta do ego diante de um objeto interno danificado que clama por reparação, sendo a escolha de uma maneira de ser, por meio de algo que a pessoa faz e é corporificado nas ocupações (BOHOSLAVSKY, 1977); b) atualização do autoconceito por meio das constantes experiências com a realidade ocupacional/profissional (SUPER; BOHN JR., 1972); c) expressão da intenção de ingressar numa área profissional/ocupacional que melhor represente suas preferências e aspirações numa predição acerca de sua adaptação profissional/ocupacional futura (CRITES, 1974); d) processo sociocognitivo de tomada de decisão no mundo do trabalho (LENT; BROWN; HACKETT, 1994; KRUMBOLTZ, 1981). • Significado psicossocial: a) síntese possível entre asdemandas do vocacional (desejo inconsciente) e do ocupacional (exigências do sistema produtivo em relação às expectativas de papel), num caminho dialético do psíquico ao social e vice-versa (BOHOSLAVSKY, 1983); b) estratégias que o sujeito utiliza para construir um lugar no mundo do trabalho pela síntese operada na relação dialética entre identidade vocacional e identidade profissional (RIBEIRO, 2004; RIVAS, 2003). Habilidades – Skills (inglês); – Fertigkeiten, Können, Fachkenntnis (alemão); – Habilidades, destrezas (espanhol); – Habiletés (francês). • Significado psicológico: capacidade de execução de uma dada atividade adquirida por experiência ou aprendizagem na dimensão do presente (CRITES, 1974; GREENHAUS; CALLANAN, 2006; SUPER; CRITES, 1962). Identidade ocupacional – Sem correlativos em outras línguas. • Significado psicológico: “autopercepção, ao longo do tempo, em termos de papéis ocupacionais” (BOHOSLAVASKY, 1977, p. 55), que permite a integração de suas diferentes identificações na relação com os sujeitos sociais, representantes de formas de ser e estar no mundo, sendo uma resposta ao o quê, ao de que modo que e ao em que contexto da escolha. • Significado psicossocial: veicula, expressa e articula as determinações subjetivas e objetivas da identidade, possibilitando estar no mundo do trabalho de forma transitória e temporária por meio de uma atividade de passagem que vai mediar essas determinações (RIBEIRO, 2004; SILVA, 1996). Identidade vocacional/profissional ⁴ – Vocational identity (inglês); – Berufsidentität (alemão); – Identidad vocacional (espanhol); – Identité professionnelle (francês). Identidade profissional • Significado socioeconômico: características semelhantes associadas a uma dada profissão, que congrega grupos específicos de trabalhadores reunidos como categoria profissional (DUPONT; PEREIRA, 1996). • Significado psicológico: resultado da síntese identificatória desenvolvida na contínua interação entre fatores internos e externos à pessoa (BOHOSLAVSKY, 1977; SUPER, 1976). • Significado psicossocial: “expressão das determinações objetivas da identidade que possibilita o vínculo ao social pelo fazer como possibilidade de subjetivação” (RIBEIRO, 2004, p. 104), ou seja, ser ao fazer. Identidade vocacional • Significado psicológico: a) expressão da personalidade e da subjetividade (dimensão subjetiva da condição humana), sendo uma resposta ao para que e ao por quê da escolha profissional (BOHOSLASKY, 1977); b) “Representações simbólicas que são pessoalmente construídas, intersubjetivamente determinadas e linguisticamente comunicadas” (SAVICKAS, 2002, p. 161), responsáveis por controlar, guiar e avaliar o comportamento vocacional (SAVICKAS, 1985; VONDRACEK, 1992); c) Guichard (2000, 2005, 2009) caracteriza a identidade vocacional como formas identitárias subjetivas e as define como um “conjunto de modos de ser, agir e interagir em relação a uma certa visão de si mesmo em dado contexto” (GUICHARD, 2009, p. 253), que permitirão a construção de si no mundo social e laboral. • Significado psicossocial: expressão das condições subjetivas da identidade que sobredetermina a construção da identidade profissional, mas também se modifica nessa relação pelo desempenho de papéis, ou seja, não é algo a ser descoberto, mas algo que se reconstrói a cada momento de integração identificatória (RIBEIRO, 2004; SUPER, 1985). Interesses – Interests (inglês); – Interesse (alemão); – Intereses (espanhol); – Intérêts (francês). • Significado socioeconômico: empenho a favor de alguém ou de alguma coisa. • Significado psicológico: o interesse é o aspecto que mais relação teve com o desenvolvimento da Orientação Profissional e foi definido por vários autores, podendo significar: a) “uma resposta a uma preferência; enquanto que a aversão é uma resposta a um desagrado” (STRONG, 1943, p. 6), sendo visto como um aspecto do comportamento humano, ligado às atitudes e à personalidade, não a uma instância em si mesma; b) “atividades ou objetos através dos quais se perseguem valores” (SUPER; BOHN JR., 1972, p. 105); c) “fator ou conjunto de fatores determinantes da atração ou repulsão que o indivíduo pode sentir em relação a pessoas, objetos e atividades do meio que o rodeia” (ANGELINI, 1984, p. 31-32), sendo o aspecto consciente da motivação. Maturidade adaptativa (maturidade de carreira) – Career maturity (inglês); – Berufs(wahl)reife (alemão); – Madurez profesional (espanhol); – Maturité professionnelle (francês). • Significado psicológico: possibilidade de transformação e adaptação contínua ao mundo do trabalho a cada crise da carreira, pela mobilização das competências e estratégias necessárias a esse processo (PATTON; LOKAN, 2001; RASKIN, 1998; SAVICKAS, 1997; SUPER, 1985; SUPER; SAVICKAS, 1996). Maturidade vocacional – Vocational maturity (inglês); – Berufswahlreife (alemão); – Madurez vocacional (espanhol); – Maturité vocationnelle (francês). • Significado psicológico: prontidão para enfrentar as tarefas desenvolvimentais apropriadas ao estágio de vida no mundo do trabalho (CRITES, 1974; SUPER; BOHN JR., 1972) ou “a similaridade entre seu comportamento vocacional e dos indivíduos mais velhos do estágio do desenvolvimento vocacional no qual se encontra” (SEARS, 1982, p. 141), sendo a maturidade vocacional constituída por um processo de maturação de estruturas internas e subjetivas (SAVICKAS, 2002). Mercado de trabalho – Labour market (inglês); – Arbeitsmarkt (alemão); – Mercado laboral (espanhol); – Marché du travail (francês). • Significado socioeconômico: conjunto de atividades ocupacionais e profissionais em dada sociedade em dada época, calcadas sobre as relações de oferta de trabalho (por parte dos empregadores) e procura de trabalho (por parte dos demandantes de trabalho ou trabalhadores). É constituído por todas as possibilidades de trabalho oferecidas pelo mercado formal, sendo parte integrante do mundo do trabalho (GREENHAUS; CALLANAN, 2006). Mundo do trabalho – World of work (inglês); – Welt der Arbeit (alemão); – El mundo del trabajo (espanhol); – Monde du travail (francês). • Significado socioeconômico: Conjunto de determinantes e processos sociais que definem, articulam e regulam tanto as atividades ocupacionais e profissionais, quanto toda e qualquer forma de trabalho (formal ou informal, produtivo ou reprodutivo) em dada sociedade em determinada época, dando- lhes forma, significado e legitimação social. É constituído por todas as possibilidades de trabalho oferecidas pelo mercado formal e informal, sendo o mercado de trabalho parte integrante do mundo do trabalho (GREENHAUS; CALLANAN, 2006). Ocupação – Occupation (inglês); – Beruf, Berufung (alemão); – Oficio, ocupación, profesión (espanhol); – Profession (francês). • Significado genérico: ato ou modo de estar ocupado, independentemente do status com que se realiza o trabalho (SEBASTIÁN-RAMOS, 2003). • Significado socioeconômico: atividade institucionalizada pela organização do trabalho, sem vinculação a uma formação prévia específica em uma área da ciência, o que inclui o exercício de qualquer forma de atividade de trabalho, que independe do nível de qualificação (SEBASTIÁN-RAMOS, 2003; RIVAS, 1988; SEARS, 1982). • Significado psicológico: nome com o qual se designa a síntese de expectativas do papel profissional a ser desempenhado pelos indivíduos (BOHOSLAVSKY, 1977). • Significado psicossocial: atividade desempenhada no mundo do trabalho de forma transitória e sem vinculação psicossocial, configurando algo que eu tenho ou faço (BUJOLD; GINGRAS, 2000; RIBEIRO, 2004). Papel profissional – Occupational role (inglês); – Rollenberuf (alemão); – Role ocupacional/profesional (espanhol); – Rôle professionnel (francês). • Significado socioeconômico: a) sistema organizado de funções (scripts sociais) realizado por meio de uma sequência estabelecida de ações apreendidas e executadas por uma pessoa em contexto de interação profissional e/ou ocupacional(RIVAS, 1988); b) conjunto de expectativas sociais atribuídas às posições ocupadas no mundo do trabalho (SUPER, 1980). • Significado psicológico: “sequência estabelecida de ações aprendidas, executadas por uma pessoa em situação de interação” (BOHOSLAVSKY, 1977, p. 56). Plano de ação – Action plan (inglês); – Aktion splan (alemão); – Plan de acción (espanhol); – Plan d’action (francês). • Significado genérico: um conjunto de ações para atingir um fim. • Significado psicológico: Enunciado relativo a uma representação antecipadora e finalizante de uma estrutura ordenada de operações susceptíveis de conduzirem ao estado-final da realidade-objecto do processo de transformação que constitui uma acção singular. É a imagem antecipadora de um processo de transformação do real. É uma representação de operações. (BARBIER, 1996, p. 71). Profissão ⁵ – Vocation; profession (inglês); – Gehobene beruf (alemão); – Profesión (espanhol); – Profession (francês). • Significado etimológico: associada etimologicamente à palavra latina proffessio, que sugere a ideia de declarar ou professar publicamente algo. • Significado socioeconômico: atividade institucionalizada pela organização do trabalho vinculada a uma formação específica prévia em uma área da ciência, claramente identificada com espaço, tarefas e funções próprias (SEBASTIÁN- RAMOS, 2003; RIVAS, 1988). • Significado psicossocial: uma atividade no trabalho centrada na pessoa, sendo um espaço institucionalizado de expressão da identidade, no qual eu professo o que eu sou, possibilitando ser ao fazer (RIBEIRO, 2004). Projeto de vida – Life project, life design (inglês); – Life projekt, life design (alemão); – Proyecto de vida (espanhol); – Projet de vie (francês). • Significado etimológico: palavra oriunda do latim proiectus (lançado) e do verbo projicere (lançar adiante). • Significado genérico: estado que se pretende atingir ou identidade que se pretende construir. • Significado filosófico: “direcionamento do ser para o futuro: o homem é apenas o que ele projeta ser pelas seguidas escolhas que faz [...] propósito de vida com horizonte no futuro, na relação com o passado e com a intenção de transformação do presente” (RIBEIRO, 2004, p. 89). • Significado psicológico: possibilitador da compreensão do sentido de vida dos indivíduos na articulação do seu passado, presente e futuro, pela “organização de meios e recursos concretizadores das aspirações e objetivos dos indivíduos, num campo concreto de possibilidades e limitações” (CATÃO, 2001, p. 24). • Significado psicossocial: Seria um ponto de ultrapassagem da oposição sujeito/sociedade aparecendo como uma variável intermediadora das relações de limitações recíprocas entre indivíduo e mundo social, permitindo, então, a articulação dos tempos de vida dos indivíduos, bem como a construção de representações sobre si e sobre o mundo (autonomia e práxis), pois todo projeto é construído intersubjetivamente e baseado em representações sociais, que orientam o agir e operam suas transformações. (RIBEIRO, 2004, p. 90). Saliência de carreira – Career salience (inglês); – Bedeutung, wichtigkeit der berufsrolle (alemão); – Importancia del trabajo (espanhol); – Prépondérance de la carrière (francês). • Significado etimológico: saliência é oriunda do latim salire, que significa sair ou se destacar do resto, ser proeminente (GREENHAUS; CALLANAN, 2006). • Significado psicológico: padrão organizado da totalidade de papéis que uma pessoa desempenha ao longo da vida, no qual há a hierarquização em termos de importância de cada papel a cada momento do ciclo vital, gerando a base estrutural para definição da identidade e da ação da pessoa no mundo (LASSANCE; SARRIERA, 2009; SAVICKAS, 2002; SUPER, 1985). Valores – Values (inglês); – Werte (alemão); – Valores (espanhol); – Valeurs (francês). • Significado psicológico: os valores são uma dimensão significativa para a escolha profissional, apesar de ser um conceito pouco estudado e nem sempre lembrado pelos orientadores. Podem ser compreendidos como qualidades ou objetivos abstratos considerados desejáveis e que são buscados pela ação nas atividades em que as pessoas se inserem, nas situações que vivem e nos objetos que produzem ou adquirem. Tem caráter abstrato e estabelecem-se mais tarde do que os interesses (SUPER, 1969; SUPER; BOHN JR., 1972). Vocação – Vocation, call (inglês); – Beruf, neigung, berufung (alemão); – Vocación (espanhol); – Vocation (francês). • Significado etimológico: associada etimologicamente à palavra latina vocatio, que significa chamamento interno, inclinação, disposição, tendência ou dom, ou seja, a descoberta de algo que está dentro de si e que emergirá por um estímulo externo ou mesmo interno. Na língua inglesa tem o duplo sentido de inclinação, mas também de tarefa, atividade, ocupação ou profissão, à qual se dedica uma pessoa (BUJOLD; GINGRAS, 2000; CRITES, 1974; SUPER; BOHN JR., 1972). • Significado filosófico: também tem duplo sentido, podendo ser definida como inclinação imperiosa para uma atividade laboral ou destinação individual de cada ser humano (LALANDE, 1999). • Significado psicológico: o que uma pessoa se sente atraída a fazer (pela mobilização de processos psicológicos em relação ao mundo do trabalho ou profissão exercida) por uma pessoa cujo engajamento se dá por sua significação psicológica (RIVAS, 1988; SEARS, 1982; SUPER, 1976). 2.3 Construção de uma definição: no caminho de uma concepção para a Orientação Profissional Ao longo da história, várias foram as definições e os enfoques teóricos construídos na tentativa de formar o corpo da Orientação Profissional, e não nos cabe aqui apresentar tudo já postulado, mas sim verificar algumas constâncias históricas e analisar dados necessários para uma definição. Vamos conferir apenas algumas definições. Parsons (2005, p. 13) primeiramente definiu a Orientação Profissional como o processo especializado de ajuda para: A questão fundamental, que supera em importância todas as outras, que é a questão do ajustamento – a questão de unir, tanto quanto possível, as melhores habilidades e interesses do homem com o cotidiano do trabalho que ele tem que realizar. O ajustamento seria realizado por meio de: (1) uma clara compreensão de si mesmo, de suas aptidões, capacidades, interesses, ambições, recursos, limites e de suas causas; (2) um conhecimento dos requisitos e condições de sucesso, vantagens e desvantagens, remuneração, oportunidades e das perspectivas nos diferentes tipos de trabalho; (3) uma resultante verdadeira das relações entre esses dois grupos de fatores. (PARSONS, 2005, p. 5). Brewer (1926, p. 11) diria que a Orientação Profissional é um processo para “ajudar as pessoas a escolher e se preparar para entrar e progredir nas ocupações”. Claparède (1922, p. 37-38) postulava a Orientação Profissional como um processo que “tem como fim guiar um indivíduo até a profissão que lhe ofereça mais probabilidades de êxito, pois esta corresponde mais às suas atitudes psíquicas e físicas”, assim como apontava, da mesma maneira, Myers (1941) e Mira y Lopez (1947), definindo a Orientação Profissional como o: Processo de auxiliar os indivíduos a escolher uma ocupação, preparar-se para isso, entrar e progredir nela. Ele está fundamentalmente interessado em ajudar os indivíduos a tomar decisões e fazer escolhas relativas ao planejamento do futuro e a construção de uma carreira. (MYERS, 1941, p. 19). Processo de auxílio a um indivíduo na escolha de uma profissão ou carreira; de prepará-lo para ela, de fazê-lo ingressar e progredir nela. Isto se refere, essencialmente, ao auxílio que se oferece a uma pessoa para que ela tome a decisão de escolha de uma carreira e planeje sua vida futura considerando, necessariamente, o mais satisfatório ajuste de cada indivíduo à vida profissional. (NVGA, 1945 apud MYERS, 1941, p. 13). Atuação científica completa e persistente, destinada a conseguir que cada sujeito se dedique ao tipo de trabalho profissionalno qual ele obtenha o maior rendimento, aproveitamento e satisfação para si e para a sociedade, com o menor esforço. (MIRA Y LÓPEZ, 1947, p. 1). Até então vemos, como princípios para a Orientação Profissional, uma relação especializada de ajuda, por meio de um método científico, visando à escolha profissional, pontual e permanente, pelo ajustamento vocacional e buscando o desenvolvimento pessoal e social. Jones (1930) amplia esses princípios, acrescentando que a autonomia e a aprendizagem de um processo de escolha são metas para a Orientação Profissional, que deve ser oferecida para todos, em todos os contextos e fases da vida. Orientação é a ajuda dada por uma pessoa para outra no sentido de fazer escolhas, ajustamentos e resoluções de problemas. A orientação objetiva auxiliar o orientando a crescer em independência e ter habilidade de ser responsável por si mesmo. É um serviço que é universal – não restrito a escola ou a família. É encontrado em todas as fases da vida – em casa, nos negócios e na indústria, no governo, na vida social, em hospitais, em prisões; de fato ele está presente onde existirem pessoas que necessitem ajuda e onde existirem pessoas que possam ajudar. (JONES, 1930, p. 5). Super (1951) e Ojer (1965) enfatizam o desenvolvimento pessoal e social como princípios para a Orientação Profissional, definindo-a como “a integração do homem na sociedade em que vive, através do ponto de vista de sua profissão ou campo de atividade” (OJER, 1965, p. 19) e: Processo mediante o qual se ajuda uma pessoa a desenvolver e aceitar uma imagem completa e adequada de si mesma e de seu papel no mundo laboral, pondo a prova este conceito diante da realidade cotidiana e a convertendo em uma realidade que traga satisfação pessoal e benefício social. (SUPER, 1951, p. 89). Podemos perceber, nessas definições já bem conhecidas, elementos centrais para uma definição atual da Orientação Profissional, a saber: • é um processo de ajuda realizado por uma pessoa com conhecimentos técnicos, que visa beneficiar outra pessoa ou grupo de pessoas que estejam necessitados; • objetiva trabalhar com o processo de escolha, as inserções ocupacionais e a elaboração e o acompanhamento de um projeto profissional/ocupacional; • deve ser realizado ao longo de toda vida, dirigido a todos os indivíduos e realizado nos mais variados espaços sociais; • visa ao auxílio à integração psicossocial dos indivíduos, via inserção ocupacional/profissional, objetivando o desenvolvimento pessoal e social. Para completar nossa definição de Orientação Profissional vamos recorrer a dois autores mais recentes: Rivas (1988) e Bisquerra-Alzina (1998). Os elementos centrais a serem adicionados seriam: • tem caráter mediador e com um sentido cooperativo, ou seja, a Orientação Profissional conta com um profissional que media o processo, mas conta principalmente como o orientando, que tem a responsabilidade exclusiva de colocar seus projetos em prática; • apresenta intervenção continuada, sistemática, técnica e profissional; • tem como princípios a prevenção, desenvolvimento e intervenção social; • requer a implicação da comunidade. Em 2001, durante as comemorações dos 50 anos da IAEVG (International Association for Educational and Vocational Guidance), foi elaborada uma carta de princípios para a Orientação Profissional que reforçava sua universalização e diversificação de objetivos e métodos, bem como a necessidade de padrões de qualidade para os orientadores. Segue um trecho desta carta: Uma Orientação Profissional e Educacional efetiva deve auxiliar indivíduos a compreender seus talentos, potencialidades e habilidades e possibilitá-los a planejar os passos necessários para o desenvolvimento das competências essenciais que guiarão para a evolução pessoal, educacional, econômica e social relativa aos indivíduos, às famílias, às comunidades e às nações. Uma Orientação Profissional e Educacional de qualidade é um processo contínuo e regular, não uma simples intervenção. Acompanha e melhora a aprendizagem continuada e ajuda indivíduos a evitar períodos de desemprego. A Orientação Profissional e Educacional contribui para a igualdade de oportunidades e não auxilia, somente, para o desenvolvimento pessoal e para a oportunidade de carreira para cada indivíduo, mas também contribui para o desenvolvimento social, econômico e sustentável como um todo (IAEVG, 2001; 2007). A Orientação Profissional teria quatro princípios básicos (BISQUERRA- ALZINA, 1998): – antropológico: concepção de ser humano como sujeito de escolhas; – prevenção primária: projeto profissional/ocupacional como agente de saúde; – desenvolvimento: agente ativador e facilitador do desenvolvimento; – intervenção social: agente de mudança social. O princípio de intervenção social remete a modelos ecológicos, que levam em conta o contexto no qual atuam e que propõe tanto a adaptação do sujeito ao ambiente quanto a adaptação do ambiente ao sujeito. (BISQUERRA-ALZINA, 1998, p. 46). Como síntese, temos que a Orientação Profissional é um processo de ajuda de caráter mediador e cooperativo entre um profissional preparado teórica e tecnicamente com as competências básicas exigidas e desenvolvidas para um orientador profissional e um sujeito ou grupo de sujeitos, que necessite auxílio quanto à elaboração e consecução do seu projeto de vida profissional/ocupacional com todos os aspectos envolvidos do seu comportamento vocacional (conhecimento de seu processo de escolha, autoconhecimento, conhecimento do mundo do trabalho e dos modelos de elaboração de projetos). Pode ser realizado durante toda a vida, em todas as idades, com todos os sujeitos (não somente os problemáticos) e em todos os espaços de organização social. Requer a implicação da comunidade, pois é uma responsabilidade individual e social. Não é uma intervenção focal, mas continuada, pois visa auxiliar o bom desenvolvimento ocupacional dos sujeitos, bem como o desenvolvimento socioeconômico de cada nação. Vejamos, então, quais são as competências básicas para um orientador profissional, segundo proposta da IAEVG (International Association for Educational and Vocational Guidance), após pesquisa realizada com amostra dos cinco continentes. 2.4 Competências básicas para o orientador profissional Segundo a IAEVG (2003/2007), o exercício pleno da Orientação Profissional exige onze competências centrais (core competencies), além das competências especializadas (specialized competencies) requisitadas para a atuação nas dez áreas de especialização do orientador profissional. Os Critérios Internacionais de Qualificação para o Orientador Educacional e Vocacional incorporam uma abordagem baseada em competências, focalizando os conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias ao provimento de serviços de qualidade. Elas estão divididas em duas categorias principais: (1) competências centrais que todos os profissionais precisam ter independentemente de seus ambientes de trabalho, e (2) competências especializadas que são habilidades, conhecimentos e atitudes adicionais que podem ser necessárias, dependendo do ambiente de trabalho e dos grupos de clientes que estão sendo atendidos. Alguns profissionais precisarão de uma ampla gama de competências especializadas, enquanto outros podem precisar de poucas, dependendo da natureza dos serviços que eles prestam. As competências especializadas são vistas como igualmente importantes, representando áreas diferentes de atendimento, que não são nem mais, nem menos importantes. (TALAVERA et al., 2004). As competências centrais são: 1) Demonstrar comportamento ético e conduta profissional apropriados na realização de seus papéis e responsabilidades. 2) Demonstrar defesa e liderança na evolução da aprendizagem, interesses pessoais e desenvolvimento de carreira dos clientes. 3) Demonstrar respeito e consideração às diferenças culturais dos clientes para interagir efetivamente com todos os públicos-alvo. 4) Integrar teoria e pesquisa na prática do aconselhamento, do desenvolvimentode carreira, da orientação e da supervisão. 5) Ter capacidade de elaborar, implementar e avaliar programas e intervenções de aconselhamento e orientação profissional. 6) Levar em consideração suas próprias capacidades e limitações. 7) Ter habilidade de se comunicar com colegas e clientes, utilizando nível de linguagem apropriada. 8) Obter informações atualizadas sobre questões educacionais, de formação, tendências de emprego, mercado de trabalho e sociedade em geral. 9) Ter sensibilidade social e transcultural. 10) Ter capacidade de cooperar efetivamente numa equipe profissional. 11) Demonstrar conhecimento dos processos de desenvolvimento de carreira ao longo da vida (IAEVG, 2003/2007). As competências especializadas, que não são pré-requisitos na íntegra para ser um orientador profissional, mas são demandadas de acordo com a especialidade da intervenção a ser realizada, são: 1) Diagnóstico: aplicar, avaliar, integrar e comunicar resultados de avaliação psicológica. 2) Orientação educacional: atender as necessidades de alunos em contextos educacionais e integrá-las com professores, família e comunidade. 3) Desenvolvimento de carreira: facilitar na elaboração, implementação, adaptação e transição de planos e projetos de carreira. 4) Orientação (counseling): auxiliar na promoção do autoconhecimento, nas tomadas de decisão e na resolução de dificuldades dos orientandos. 5) Gestão da informação: organizar e oferecer informações profissionais e educacionais atualizadas aos orientandos, bem como auxiliá-los no seu uso efetivo. 6) Supervisão e coordenação: orientar pais, professores, diretores de escola, empregadores e agentes comunitários a facilitar o progresso educacional e o desenvolvimento de carreira de pessoas que estes assistem. 7) Pesquisa e avaliação: pesquisa e avaliação teórica e técnica em Orientação Profissional. 8) Gestão de programas e serviços em Orientação Profissional. 9) Desenvolvimento da capacidade comunitária: fomentar a colaboração entre os membros das comunidades para o desenvolvimento social. 10) Colocação: auxiliar pessoas que buscam a inserção no mercado de trabalho. 2.5 Ensino, orientação (counseling) e psicoterapia O campo da Orientação Profissional, por conta de sua polissemia, diversidade e interdisciplinaridade, tem causado confusões conceituais e metodológicas, entre elas, a dimensão de atuação do orientador: ele ensinaria, orientaria ou faria psicoterapia? As delimitações entre esses campos de intervenção são tênues e alguns autores defendem que seria secundária a divisão, principalmente, entre aconselhamento (guidance), orientação (counseling) e psicoterapia (psychotherapy), pois ela não se daria a priori e, sim, em função da demanda ou pedido de ajuda do cliente (SCHMIDT, 1987). Stefflre (1976), Scheeffer (1976) e Hahn (1953) também indicam a dificuldade de delimitação desses campos de intervenção, embora afirmem ser necessária a realização dessa tarefa. Conheço poucos orientadores ou psicólogos que estejam completamente convencidos de que tenham sido feitas distinções claras [...] Talvez haja mais consenso quanto aos seguintes pontos: (1) não é possível distinguir claramente orientação de psicoterapia; (2) os orientadores praticam o que muitos psicoterapeutas chamam psicoterapia; (3) os psicoterapeutas praticam o que os orientadores consideram aconselhamento ou orientação; e (4) apesar de tudo que foi dito, psicoterapia, aconselhamento e orientação são diferentes. (HAHN, 1953, p. 232). Diante desse desafio difícil, mas necessário, façamos um esforço de realizar uma distinção (ao menos didática, pois muitas vezes na prática ela não é tão clara) entre ensino (teaching) ligado ao aconselhamento (guidance), orientação (counseling) e psicoterapia (psychotherapy), por meio de um quadro esquemático para fins didáticos contando com as reflexões de Scheeffer (1976), Schmidt, (1987), Stefflre (1976) e Williamson (1965). Na Tabela 1 podemos perceber, como indica a APA (American Psychological Association – Associação Americana de Psicologia), que ensino, orientação e psicoterapia são gradações de um mesmo processo que visa ao desenvolvimento integral da pessoa, sendo o ensino (teaching) de natureza mais desenvolvimental, a orientação (counseling) de natureza mais profilática e a psicoterapia (psychotherapy) de natureza mais curativa. Uma outra discussão importante diz respeito ao papel do orientador, que pode ser caracterizado como de um diagnosticador, facilitador, clarificador, orientador, educador, assessor e conscientizador. São papéis mais tradicionais e podem ser associados, respectivamente aos enfoques teóricos da Orientação Profissional, a saber: diagnosticador (enfoque traço-fator), clarificador e facilitador (enfoques psicodinâmicos), orientador (enfoques desenvolvimentistas e transicionais), educador e assessor (enfoques decisionais e cognitivos) e conscientizador (enfoque sócio-histórico). Um novo papel que vem sendo discutido seria o papel de intermediário, compreendido como um lugar que permitiria a construção de um espaço de transição, no qual o orientando pode recriar seu projeto ocupacional/profissional, papel necessário num mundo em constante transformação (KAËS, 1997; 2005). Tabela 1. Comparação entre ensino (teaching), orientação (counseling) e psicoterapia (psychotherapy). Ensino (Teaching) Alcance da intervenção Desenvolvimento cognitivo Objetivos e demandas - Desenvolvimento e aprendizagem (insight cognitivo); - Lidar com situações esperadas de desenvolvimento pessoal do ciclo de vida; - Propiciar o desenvolvimento pessoal. Clientes Qualquer pessoa Profissionais Educadores e orientadores Método Duração preestabelecida 1. Elaboração de um plano de ensino; 2. Execução (fornecimento de informações e facilitação da aprendizagem); 3. Avaliação do processo. Resultados esperados Aprendizagem por meio do desenvolvimento de competências (resultado em termos de produto esperado) e desenvolvimento da competência de aprender a aprender (resultado em termos de processo). 2.6 Código de ética e deontologia da Orientação Profissional É evidente a indispensabilidade de um código deontológico que estabeleça os deveres profissionais de cada categoria, fundamentados em princípios éticos, mesmo em áreas interdisciplinares como a Orientação Profissional, pois cumprem a função de orientar o comportamento e a atuação profissional. Cada categoria profissional possui seu próprio código de ética e as áreas que lidam diretamente com seres humanos têm, em geral, princípios fundamentais muito semelhantes e apontam que existem em função da dimensão ética do ser humano e não de uma ética do profissional ou da profissão específica e, nesse sentido, buscam princípios éticos para o próprio ser humano. O Código de Ética Profissional do Psicólogo, por exemplo, postula como Princípios Fundamentais que: I - O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. II - O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. III - O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural. IV - O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento profissional, contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo científico de conhecimento e de prática. V - O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão. VI - O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia esteja sendo aviltada. VIII - O psicólogo considerará
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