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CONDUTA NA HEMORRAGIA PÓS-PARTO

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CONDUTA NA HEMORRAGIA PÓS-PARTO (HPP)
É definida como a perda sanguínea cumulativa de 1.000 mL ou mais de sangue, acompanhada de sinais ou sintomas de hipovolemia, dentro de 24 horas após o nascimento. 
As principais etiologias de hemorragia pós-parto são a atonia uterina (mais comum), o trauma do trajeto, a retenção de material ovular e os distúrbios de coagulação (os quatro Ts: tônus, trauma, tecido e trombina).
· Fatores de risco
Dentre os vários fatores de risco, destacam-se a anemia e as síndromes hipertensivas. São fatores de alto risco: placenta prévia ou de inserção baixa, pré-eclâmpsia com sinais de gravidade, hematócrito < 30%, plaquetas < 100.000/mm³, sangramento ativo à admissão, coagulopatias, uso de anticoagulantes, descolamento prematuro da placenta e acretismo placentário.
· Prevenção
· Administração de ocitocina profilática: 10 UI, intramuscular, imediatamente após o nascimento. Se cesariana, pode-se optar pela profilaxia endovenosa, na qual três doses intervaladas de 3 UI são administradas a cada três minutos (“regra dos três”). Em seguida, deve-se administrar infusão endovenosa de manutenção (15 UI em 500 mL de soro fisiológico a 0,9%, a 100 mL/hora).
· Manejo ativo do terceiro período do trabalho de parto
· Clampeamento oportuno (entre um e três minutos) e tração controlada do cordão umbilical (manobra de Brandt-Andrews).
· Contato pele a pele.
· Vigilância e massagem uterina nas primeiras duas horas após a dequitação.
· Uso racional de ocitocina no trabalho de parto.
· Uso seletivo de episiotomia.
· Proscrição rigorosa da manobra de Kristeller.
· Diagnóstico
Embora a definição preconize perda cumulativa maior ou igual a 1000 mL como critério diagnóstico, se acompanhadas de fatores de risco, as perdas sanguíneas superiores a 500 mL após partos vaginais devem ser consideradas anormais. 
As estratégias para diagnosticar e estimar a perda volêmica incluem as estimativas visuais, a pesagem de compressas (1 grama = 1 mL de sangue), os dispositivos coletores (podem incluir o peso de anexos e líquido amniótico) e os parâmetros clínicos (mais tardios), incluindo o índice de choque.
· HPP grave
Perdas acima de 1.000 mL são classificadas como HPP grave.
· HPP maciça
Perdas superiores a 2.000 mL são classificadas como hemorragia maciça, habitualmente acompanhadas de queda da hemoglobina ≥ 4 g/dL, coagulopatia e necessidade de transfusão maciça.
· Índices hematimétricos
Os decréscimos dos níveis hematimétricos (hemoglobina, hematócrito) são tardios e não refletem o estado hematológico do momento. São representativos da perda sanguínea somente cerca de quatro horas após o início da hemorragia, sendo clinicamente limitados.
· Choque hipovolêmico
A hipervolemia gestacional retarda a manifestação dos primeiros sinais de choque hipovolêmico, principalmente entre as gestantes hígidas. Nestas, as alterações hemodinâmicas ocorrem somente após perdas superiores a 20%-30% da volemia (1.500 a 2.000 mL).
· Índice de choque
É um marcador precoce de instabilidade hemodinâmica, com valores que se correlacionam com a necessidade de hemotransfusão e transferência de cuidados, calculado pela divisão da frequência cardíaca pela pressão arterial sistólica.
· Medidas terapêuticas (manejadas por uma equipe multidisciplinar)	
· Hora de ouro
O controle precoce do sítio de sangramento é a estratégia mais eficaz para prevenir o choque hipovolêmico (hipotermia, acidose e coagulopatia). Nesse contexto, o controle do sítio hemorrágico deve ser feito dentro da primeira hora a partir do seu diagnóstico.
1. Chamar ajuda: 1 a 2 médicos obstetras, 1 enfermeiro obstetra e 2 técnicos de enfermagem.
2. Solicitação do kit hemorragia.
3. Com objetivo de reduzir o sangramento, inicia-se a compressão uterina bimanual por meio das manobras de Hamilton (pacientes anestesiadas ou com maior tolerabilidade) ou de Chantrapitak.
4. Dois auxiliares devem providenciar dois acessos venosos calibrosos (jelco 14 ou 16), que propiciarão a infusão de cristaloides e de medicamentos e a coleta de amostras sanguíneas. 
· Acesso venoso 1: 
· Coleta de exames: tipagem sanguínea/prova cruzada, hemograma, coagulograma fibrinogênio, ionograma, teste do coágulo e, nos casos graves, lactato e gasometria.
· Administração de ácido tranexâmico (1 g em 100 mL de SF 0,9% em 10 minutos).
· Infusão cristaloides (SF 0,9% ou ringer lactato), reavaliando a cada 500 mL e não excedendo 2000 mL. A infusão rápida e excessiva de cristaloides pode elevar a pressão arterial antes do controle cirúrgico do foco hemorrágico, aumentando paradoxalmente o sangramento (destruição de coágulos formados), favorecendo a hipotermia (líquidos não aquecidos) e diluindo os fatores de coagulação, o que aumenta o risco de coagulopatia dilucional e de evolução para a tríade letal. Pacientes hemodinamicamente instáveis após a infusão de 1.500 mL de cristaloides, especialmente na vigência de sangramento ativo, devem ser avaliadas para hemotransfusão imediata. Após a infusão de 2.000 mL de cristaloides, a ressuscitação deve continuar com hemocomponentes.
· Acesso venoso 2:
· Administração da dose inicial de ocitocina (5 UI EV lento, em 3 min., seguidas de 20 a 40 UI em 500 mL de SF 0,9% a 250 mL/h).
5. Administração dose de manutenção de ocitocina (20 a 40 UI em 500 mL de SF 0,9% a 125 mL/h por 4h). 
6. Oxigenação com máscara facial (O2 a 100%; fluxo de 8 a 10 litros por minuto).
7. Aquecimento com manta térmica ou cobertores.
8. Elevação dos membros inferiores.
9. Quantificação da perda sanguínea.
10. Avaliação rápida da etiologia (exclusão de outras causas que não a atonia uterina a que se dirige o sequenciamento medicamentoso!) com revisão do canal de parto e localização dos focos hemorrágicos (avaliação da necessidade antibioticoprofilaxia?). Essas etiologias exigem tratamentos específicos, tais como curetagem uterina (restos ovulares), suturas (lacerações de trajeto), manobra de reposicionamento uterino (inversão uterina), laparotomia para reparo ou histerectomia (rotura uterina) e transfusão de hemocomponentes (coagulopatias). 
11. Sondagem vesical de demora.
12. Quando disponível, um traje antichoque não pneumático (TAN) pode integrar essas medidas iniciais.
13. Reavaliação da perda volêmica e da repercussão hemodinâmica, na intenção de definir a necessidade de hemotransfusão.
14. Caso haja redução do sangramento e estabilidade hemodinâmica, avalia-se a manutenção de ocitocina em doses menores (20 UI a 67,5 mL/h) por 24 horas.
14.1 Caso não haja redução do sangramento e se mantenha a instabilidade hemodinâmica:
14.1.1 Progressão da terapia farmacológica (o intervalo para a tomada de decisão não deve ser maior do que 15 minutos): metilergometrina (0,2 mg, IM; exceto se hipertensão ou uso de inibidores de protease).
14.1.1.1 Após 20 minutos, reavalia-se a necessidade de uma segunda dose de metilergometrina.
14.1.1.2 O uterotônico de última linha é o misoprostol (800 a 1000 mcg, VR; 600 mcg SL).
14.1.1.3 Após 30 minutos, avalia-se a necessidade da segunda dose de ácido tranexâmico.
14.1.2 Solicitação de gasometria e lactato.
14.1.3 Ativação do protocolo de hemotransfusão (2 concentrados de hemácias); se houver choque grave (IC > 1,7), deve-se providenciar transfusão maciça com proporções 1 concentrado de hemácias/ 1 plasma fresco congelado/1 pool de plaquetas; se houver coagulopatia com hipofibrinogenemia < 200 mg/dL, deve-se transfundir 5 a 10 unidades de crioprecipitado. . As metas terapêuticas são Hb > 8 g/dL, fibrinogênio entre 150 e 200 mg/dL, plaquetas > 50.000/mm³ e RNI ≤ 1,5.
15. Caso haja redução do sangramento e estabilidade hemodinâmica após terapia farmacológica completa, avalia-se a manutenção de ocitocina em doses menores (20 UI a 67,5 mL/h) por 24 horas.
15.1 Se não houver redução do sangramento e estabilidade hemodinâmica após terapia farmacológica completa, adotam-se terapias invasivas capazes de preservar o útero e que são estabelecidas a depender da via de parto (balão intrauterino, ligaduras vasculares, suturas uterinas compressivas, embolização arterial, histerectomiae controle de danos).
16. Caso haja redução do sangramento e estabilidade hemodinâmica após técnicas invasivas com preservação do útero, avalia-se a manutenção de ocitocina em doses menores (20 UI a 67,5 mL/h) por 24 horas.
17. Se não houver redução do sangramento e estabilidade hemodinâmica após técnicas invasivas com preservação do útero, opta-se por: histerectomia subtotal (antes da instalação da tríade letal), cirurgia de controle de danos (se houver instalação da tríade letal), histerectomia total (se houver infecção), exérese segmentar uteroplacentária seguida de restauração uterina ou de histerectomia total (se houver placenta prévia central invasiva).

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