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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL Campus Cachoeira do Sul/RS Curso de Psicologia Disciplina: Teorias Psicoterápicas II Data: 27/10/2019 Professora: Laura Machado Acadêmica: Hanna Kemel Brum RESUMO Capítulo 3: “Transtorno de Ansiedade Social” A terapia cognitivo-comportamental se mostrou bem melhor do que algumas outras intervenções psicológicas para o tratamento do transtorno de ansiedade social, ficando entre os melhores da nova geração de tratamentos psicológicos caracterizados por força e especificidade. Para indivíduos com ansiedade social debilitante, em algum momento da vida, o processo aparentemente simples de interagir com outras pessoas ou formar relacionamentos causa um terror avassalador, muitas vezes evitado. Os efeitos em termos de profissão e qualidade de vida podem ser devastadores. Visão geral da literatura sobre resultados do tratamento Os pesquisadores investigaram a eficácia de uma ampla gama de tratamentos para transtorno de ansiedade social, incluindo treinamento de habilidades sociais, terapia cognitiva, treinamento para relaxamento, exposição, psicoterapia interpessoal, psicoterapia de apoio de orientação dinâmica e várias farmacoterapias. A combinação de exposição e reestruturação cognitiva tem sido a forma mais estudada de intervenção psicossocial para transtorno de ansiedade social. Os pesquisadores têm tentado muitas vezes demonstrar que a eficácia da exposição é aumentada ao se acrescentar a reestruturação cognitiva. Os resultados dessas iniciativas são heterogêneos. Heimberg, Dodge e colaboradores (1990) realizaram o primeiro teste controlado de seu tratamento em grupo para transtorno de ansiedade social, que inclui exposição, reestruturação cognitiva e tarefas de casa. Esse tratamento foi comparado a um tratamento de controle de atenção que incluiu educação sobre transtorno de ansiedade social e terapia de apoio não diretiva em grupo. Os participantes da TCCG informaram sentir menor ansiedade durante um teste comportamental individualizado e tiveram maior probabilidade de ser classificados como melhores por um avaliador clínico do que os participantes do grupo-controle. Um estudo de seguimento de cinco anos de um subconjunto de participantes da amostra original indicou que os indivíduos que tinham recebido TCCG tinham maior probabilidade de manter seus ganhos do que os participantes da atenção controlada. Em uma análise de componentes da TCCG, Hope, Heimberg e Bruch (1995) relataram que esta e a exposição isolada foram ambas mais eficazes do que um controle de lista de espera. No pós-teste, havia evidências de que a condição de exposição isolada era mais eficaz do que TCCG, mas essas diferenças desapareceram depois de seis meses de seguimento. Dois estudos compararam a TCCG a tratamentos baseados em atenção e aceitação e mindfulness. Koszyski, Benger, Shilk e Bradwejn (2007) compararam a TCCG à redução do estresse baseada em mindfulness. Ambos os tratamentos produziram melhorias no humor, funcionamento e qualidade de vida; no entanto, a TCCG foi associada a reduções significativamente maiores na ansiedade social autoavaliada e avaliada por clínicos, bem como maiores taxas de resposta e remissão. Piet, Hougaard, Hecksher e Rosenberg (2010) compararam TCCG a terapia cognitiva baseada em mindfulness. A MBCT produziu efeitos moderados, que foram menores, mas não significativamente diferentes do que os produzidos por TCCG, e os participantes continuaram a melhorar durante os seis meses de seguimento. Os estudos controlados da terapia cognitiva (TC) de Clark para transtorno de ansiedade social também tiveram grandes tamanhos de efeito e parecem promissores. A TC inclui exposição e reestruturação cognitiva com ênfase na identificação e na eliminação de comportamentos de segurança. A TC demonstrou eficácia para indivíduos com transtorno de ansiedade social, bem como superioridade em relação à terapia interpessoal. Sendo assim, um pacote combinado de exposição e reestruturação cognitiva é uma intervenção eficaz para o transtorno de ansiedade social. Um modelo cognitivo-comportamento integrado para o transtorno de ansiedade social O modelo cognitivo-comportamental integrado desenvolvido por Rapee e Heimberg (1997), que descreve como os indivíduos com transtorno de ansiedade social processam a informação ao se deparar com uma situação com potencial para avaliação negativa foi atualizado recentemente por Heimberg, Brozovich e Rapee (2010). O processo começa quando a pessoa socialmente ansiosa está na presença de público. Pessoas socialmente ansiosas percebem esse público como inerentemente crítico e com padrões aos quais elas provavelmente não corresponderiam. Crenças de que são inaceitáveis aos outros, de que as outras pessoas são críticas e que a avaliação dos outros é extremamente importante motivam os indivíduos com transtorno de ansiedade social a estar hipervigilantes em busca de indicações precoces de desaprovação e aspectos de seu próprio comportamento e aparência que possam evocar avaliação negativa. A divisão dos recursos de atenção entre ameaças sociais externas, a representação mental de si aos olhos dos outros e as demandas da atual tarefa social podem resultar em déficits reais de desempenho. Com efeito, as pessoas socialmente ansiosas operam a partir do equivalente a um paradigma de múltiplas tarefas, que aumenta a probabilidade de desempenho social ruim. Uma recente mudança importante no modelo aborda o que se considera o medo central no transtorno de ansiedade social, geralmente caracterizado como medo de avaliação negativa. No entanto, pesquisas recentes sugerem que indivíduos socialmente ansiosos temem qualquer avaliação, seja ela negativa ou positiva. O modelo agora postula que as pessoas socialmente ansiosas temem e atendem a sinais de avaliação, independentemente da valência. Segue abaixo o modelo atualizado: Fundamentação do tratamento do ponto de vista cognitivo-comportamental O centro de nossa abordagem ao tratamento é a integração da exposição e da reestruturação cognitiva. Um dos aspectos mais importantes da exposição é a oportunidade de testar as crenças disfuncionais e gerar formas mais realistas de entender a si e aos outros. A exposição também permite que os pacientes vivenciem a redução natural da ansiedade ligada a permanecer em uma situação temida por um tempo longo em várias ocasiões, a exposição permite que os pacientes pratiquem habilidades há muito evitadas e desenvolver comportamentos coerentes com seus objetivos pessoais. A reestruturação cognitiva também é importante por várias razões que são informadas aos pacientes. Eles aprendem a tratar seus pensamentos e crenças que geram ansiedade como hipóteses e a explorar se essas são formas mais úteis ou realistas de ver a situação, a si mesmo e aos outros. tratar das cognições disfuncionais muitas vezes libera recursos de atenção que podem ser usados para aumentar o foco na tarefa social em questão e potencialmente melhorar o desempenho. A reestruturação cognitiva também pode ajudar os pacientes a receber o crédito pelos êxitos e enfrentar decepções após as exposições. Assim que as avaliações dos pacientes acerca do perigo inerente em situações sociais se tornam mais realistas, seus sintomas fisiológicos de ansiedade também costumam diminuir. As exposições em sessão, com a reestruturação cognitiva ocorrendo antes, durante e depois de cada exposição, são particularmente cruciais. Elas também dão ao terapeuta a oportunidade de ensinar ao paciente os princípios da exposição eficaz, como permanecer em uma situação temida por um tempo prolongado, sem evitação, mesmo se a ansiedade aumentar. Também permitem que o terapeuta observe em primeira mão algum comportamento evitativo sutil que o pacientepossa empregar para administrar a ansiedade, e dão a oportunidade para que os pacientes recebam avaliação direta sobre seu desempenho de uma forma que muitas vezes não é possível na vida real, além de dar a oportunidade ao terapeuta de ajudar os pacientes a aplicar habilidades de reestruturação cognitiva a uma situação real que provoque ansiedade. Variáveis relacionadas ao tratamento • Tratamento em grupo comparado a tratamento individual O tratamento do transtorno de ansiedade social tem sido realizado com mais frequência em formato de grupo no qual se identificou uma série de vantagens em relação ao formato individual. Ele dá oportunidades para a aprendizagem indireta, proporciona apoio de outras pessoas com problemas semelhantes, disponibilidade de múltiplos parceiros para dramatização, exposição informal gerada pela participação em grupo e várias pessoas para oferecer evidências que contrariem o pensamento distorcido. Não obstante, o formato de grupo também tem uma série de desvantagens potenciais. O tratamento não pode começar até que se reúna um grupo de aproximadamente seis pacientes, o que significa que os primeiros indivíduos a chegar ao grupo terão de esperar um bom período até começar o tratamento. Algumas dessas pessoas perdem a motivação e desistem antes que o grupo comece. O tratamento em grupo também dá menos flexibilidade para recuperar sessões perdidas. Embora possibilite a aprendizagem indireta, esse benefício pode ser prejudicado pelo reduzido tempo disponível para as necessidades idiossincráticas de cada paciente. alguns indivíduos nunca se habituam totalmente ao setting de grupo e sua ansiedade pode prejudicar a capacidade de processar a informação durante as sessões. Powers e colaboradores (2008) informaram que intervenções cognitivo- comportamentais em grupo e individuais para transtorno de ansiedade social tiveram tamanhos de efeito semelhantes, mas outra metanálise baseada em uma pequena amostra de estudos sugeriu uma vantagem modesta do tratamento individual. Pacientes adequados O profissional e o paciente precisam chegar a uma decisão conjunta de que a ansiedade social vai ser o foco do tratamento por um determinado tempo. É importante esclarecer a questão antes do início do tratamento, porque alguns pacientes podem expressar um desejo de redirecionar o tratamento a outro problema quando for o momento de iniciar as exposições. Em geral, a política é lembrar o paciente do contrato original do tratamento e seus objetivos, estimulando-o a “evitar a evitação”. Terapeutas adequados O terapeuta ideal tem uma sólida formação nas bases teóricas da TCC para os transtornos de ansiedade, experiência na condução de exposições, boas habilidades terapêuticas básicas e experiência específica com ansiedade social. Pouco se sabe da eficácia de tratamentos manualizados quando implementados por profissionais sem ampla formação nas bases teóricas e nos procedimentos do manual. Medicação e TCC para transtorno de ansiedade social Muitos pacientes já estão tomando medicamentos psicotrópicos quando procuram a terapia. Alguns tomam medicação para controlar sua ansiedade social, enquanto outros o fazem para problemas comórbidos. Não exigimos que os pacientes interrompam a medicação antes de dar início à TCC, mas pedimos que estabilizem suas doses antes de começar e não as alterem nem experimentem remédios novos durante o tratamento. A indivíduos que tomam medicação, se necessário pede-se que não o façam antes das sessões ou de tarefas de casa que envolvam exposição. A mesma solicitação é apresentada a indivíduos que usem medicamentos que não precisam de receita, álcool ou outras substâncias para controlar sua ansiedade. Avaliação prévia e preparação para o tratamento A avaliação deve fazer parte do diagnóstico, conceituação do caso, planejamento do tratamento e decisões sobre o término. Recomenda-se que se administre um subconjunto dos instrumentos de autoavaliação e de avaliação por parte dos profissionais e uma avaliação comportamental, se for possível. O paciente irá passar pela entrevista clínica; instrumentos de autoavaliação; entrevista de apresentação da avaliação e contrato de tratamento; e avaliação comportamental. TCC individual para transtorno de ansiedade social Para os estudos de tratamento individual do transtorno de ansiedade social, estabeleceram-se diretrizes que os terapeutas devem seguir. O tratamento compreende 16 sessões semanais de uma hora, em um período de 16 a 20 semanas. Embora seja ideal completar 16 sessões em 16 semanas, permite-se até 20 semanas para levar em consideração sessões perdidas em razão de questões de saúde, férias, feriados e assim por diante. Levar mais do que 20 semanas para completar as 16 sessões pode comprometer o ritmo da terapia. O tratamento individual requer que o paciente use um caderno de tarefas com o terapeuta, durante cada sessão e para as tarefas de casa. Esse caderno tem 13 capítulos. Pedimos que os pacientes leiam determinados capítulos antes de ir à sessão. Os pacientes devem levar seu caderno de tarefas a todas as sessões. O terapeuta também se certifica de que haja algo para escrever, para o qual ele e o paciente possam olhar juntos durante a sessão. Costuma-se usar um cavalete com papel-jornal ou um quadro branco na parede. Mas, às vezes, simplesmente colocam-se duas cadeiras lado a lado, para que terapeuta e paciente possam escrever e ler o mesmo pedaço de papel em uma prancheta. Cada sessão introduz conceitos fundamentais que são anotados. Anotar as coisas durante as sessões ajuda os pacientes a acompanhar e processar melhor a informação que está sendo tratada e é um componente necessário do tratamento. Segmentos abordados no caderno de tarefas: psicoeducação; reestruturação cognitiva; exposições; reestruturação cognitiva avançada; e por último, encerramento. REFERÊNCIA Barlow, D. H. (2009). Manual clínico dos transtornos psicológicos: Tratamento passo a passo. (4. ed.). Porto Alegre: Artes Médicas.
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