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1 2 Rodrigo Andolfato ASTROFOTOGRAFIA Prática O guia da Fotografia do Universo 1° Edição Brasília 2017 3 Copyright © Rodrigo Andolfato de Moura Este livro não pode ser reproduzido, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização prévia do autor, em conformidade com a lei brasileira de direitos autorais (Lei 9610 de 19 de fevereiro de 1996). Os nomes comerciais, marcas registradas de produtos e fotos dos mesmos, são usados nesta publicação apenas para fins editoriais, em benefício exclusivo do dono da marca registrada, sem nenhuma intenção de atingir seus direitos Direitos reservados por: Rodrigo Andolfato de Moura Produção: Rodrigo Andolfato de Moura E-mail do autor: Rodrigo Andolfato de Moura Site: www.andolfato.blogspot.com 4 Prefácio Quando John Willian Draper em 1839, um amador da Astronomia, apontou sua câmera, um instrumento rudimentar, para a Lua e disparou, foi feita a primeira Astrofotografia da história. Nesta época não havia filme e Draper usou um daguerreotipo, que era um antigo aparelho fotográfico inventado por Daguerre 1787-1851, físico e pintor francês, que fixava as imagens obtidas na câmara escura numa folha de prata sobre uma placa de cobre. Embora ainda muito imprecisa e tosca, a imagem de Draper causou espanto e logo vários outros amadores e profissionais saíram ao encalço para obter mais e melhores imagens, construindo câmeras cada vez melhores, desenvolvendo emulsões sensíveis e filmes especiais, aliando a isso técnicas cada vez mais apuradas. Registro da Lua obtido por John Draper em 1839 5 Esses tempos heroicos e desbravadores nos levaram ao que temos hoje. A chegada da Internet trazendo a rápida difusão da informação, a popularização das câmeras, novos e mais potentes softwares, a expansão da informática e o acesso ao instrumental deram o impulso que faltava para a disseminação da fotografia e com ela a Astrofotografia. O advento das câmeras digitais, principalmente as refrigeradas, que antes só eram disponíveis em grandes observatórios e que hoje fazem parte do arsenal do astrofotógrafo avançado, aceleraram esse gigantesco avanço. Hoje, qualquer amador tem acesso à informação no momento em que ela ocorre, pode ter equipamentos sofisticados que antes só eram usados pelos profissionais e está ligado, via Internet, a grupos mundo afora para discutir e partilhar os achados. A Astrofotografia é a Ciência/Arte que permite o registro, documentação e estudo dos fenômenos celestes. Através dela, registramos não só a beleza do Cosmos, mas avançamos na compreensão de sua criação. Com as imagens divulgamos a Astronomia e estimulamos a participação das pessoas neste processo de reflexão e procura do: Por quê? Como? Para que? Observar o céu é prazeroso, fotografar é mais do que isso. Uma vez iniciado nesta arte não há volta, vira mania, doença mesmo. Costumamos dizer que ela é um Vírus, uma vez contaminado não há cura! O interesse despertado por esta Ciência/Arte cresce cada vez mais em nosso meio. Organizam-se grupos para partilhar informação, encontros de astrofotógrafo vindos de todo o Brasil ajudam a compartilhar técnicas, informações e troca de experiências como ocorre no EBA (Encontro Brasileiro de Astrofotografia) que acontece anualmente no Centro Oeste. 6 A enorme quantidade de pessoas interessadas em se iniciar é maior do que os cursos e palestras oferecidos em Clubes e Associações. O iniciante se entusiasma, mas falta continuidade de informação para resolver suas dúvidas. Os livros são importados, trazendo dificuldade pela barreira da língua e as já tradicionais barreiras brasileiras à importação. Era preciso um livro que desmistificasse, simplificasse os passos. Orientasse o caminho a ser percorrido pelo astrofotógrafo iniciante de forma prática. O que preciso para iniciar? Que instrumento adquirir? Qual câmera escolher? Que software? Dúvidas e mais dúvidas cujas respostas às vezes não são simples. Esse é o escopo desse livro: Informar e orientar de forma objetiva para que o astrofotógrafo chegue de forma segura ao sucesso e não ocasione a frustração de que tem quem trilhar o caminho sem auxílio. Conheço Rodrigo Andolfato de longa data. Tive o privilégio de vê-lo iniciar na Arte. Recordo o olhar brilhante, fascinado com as astrofotos desde sempre. Sua curiosidade era imensa. Perguntava, conjecturava, propunha e discutia com ardor. Sua curiosidade levou-o a paixão e ela o moveu para voos mais altos. Premiado aqui e no exterior, seus trabalhos têm a marca da perfeição. Detalhista e prolífico, fotografa sempre que o céu permite até mesmo da varanda de sua residência! Frequentemente faz incursões a lugares com menor poluição luminosa para obter aquela foto há muito desejada. Essa vontade de compartilhar e fazer com que mais e mais pessoas se juntassem à grande festa da Astrofotografia o levou a fazer esse livro, onde sua vivencia, sua prática, seu vasto conhecimento e ensinamentos estão ali postos para serem fonte de inspiração a todos que quiserem trilhar o feliz caminho da Astrofotografia. Aos que já começaram o caminhar, será fonte de consulta rica e vasta. 7 Toda grande jornada começa com um primeiro passo. Se você está começando, boa jornada, se já está no caminho, terá um bom companheiro de viagem. Considero esse livro essencial. Ao Rodrigo meus profundos agradecimentos pela oportunidade e honra em redigir esse prefácio. Só posso lhe desejar mais e mais sucesso e que continue a nos inspirar. A você leitor tenha a certeza de que não se decepcionará. Sejam felizes! José Carlos Diniz 8 Agradecimentos Este livro só se tornou realidade devido aos insistentes pedidos daqueles que acompanham meu blog e minhas publicações em redes sociais. Foram estas pessoas que, mesmo nos momentos mais difíceis, me motivaram a seguir em frente nesta empreitada, que se revelou muito mais árdua do que imaginei quando iniciei esta obra. Eu gostaria de citar alguns nomes, mas se fizer isso, tenho receio de deixar alguém de lado. Aqueles que estão sempre acompanhando meu trabalho, mandando mensagens de apoio e incentivo, saberão que estou me referindo a eles. Peço imensas desculpas pela demora na conclusão do livro. A minha técnica como astrofotógrafo foi quase toda construída pela experimentação e muita conversa com outros astrofotógrafos. Colocar no papel todo o conhecimento adquirido em seis anos de Astrofotografia prática não foi fácil. E no fim, o trabalho de revisão mostrou-se ainda mais complexo do que a própria escrita inicial da obra. Agradeço em especial ao astrofotógrafo Maciel Bassani Sparrenberger, que leu a obra e me ajudou na revisão do conteúdo. Aos astrofotógrafos Sandro Rosa, Marcelo Domingues e Wilton, do Clube de Astronomia de Brasília, que junto com o Maciel foram os primeiros a me instruírem na atividade, e ao Gabriel Godoy, Marcelo Bassani e Fabrício Siqueira, que foram meus principais companheiros nos primeiros anos de Astrofotografia. Por fim, agradeço também a minha família. Meus pais, pelo incentivo à leitura e ao trabalho disciplinado, que tanto me ajudaram a chegar até aqui, e a minha esposa, que nunca me faltou com o apoio, me incentivando tanto com a prática da Astrofotografia como na escrita deste livro. Que este livro seja um incentivo a muitos que, como eu, um dia olharam para o céu com imensa curiosidade, sonharam em viajar pelo espaço, e encontraram na Astrofotografia uma forma de tornar este sonho possível. 9 Atenção! Os arquivos dos registros fotográficosutilizados nos tutorais deste livro, bem como dos softwares apresentados, podem ser baixados na página: https://andolfato.blogspot.com.br/p/arquivos-do.html Na página 434 deste livro há um extenso glossário. Caso encontre um termo mais técnico que tenha dificuldade para entender ou lembrar, procure a palavra no glossário. 10 Sumário PRÓLOGO, 14 Sobre este livro, 15 O que é Astrofotografia, 17 Por que astrofotografar, 18 Astrofotografia versus Astronomia Observacional, 20 Três coisas que você precisa saber antes de começar na Astrofotografia, 23 Tipos de Astrofotografia, 27 Astrofotografia de céu profundo, 27 Astrofotografia planetária, 42 Astrofotografia de cometas, 51 Astrofotografia lunar, 53 Astrofotografia solar, 58 Astrofotografia científica, 61 A ESCOLHA DE SOFIA (Aquisição de Equipamentos), 64 TELESCÓPIOS, 67 Componentes de um telescópio, 67 Características básicas de um telescópio, 72 Aberrações ópticas, 78 Modelos de Telescópios, 82 Refratores, 82 Refletores, 85 Refletores newtonianos, 86 Cassegrains, 91 Tabela 1 – Características dos telescópios mais populares, 94 Como saber a qualidade de um telescópio, 95 Astrofotografia com lentes fotográficas, 100 Tabela 2 – Comparação de abertura em telescópios e lentes, 106 MONTAGENS, 106 Montagens altazimutais, 108 Montagens equatoriais, 109 Componentes de uma montagem equatorial germânica, 111 Tamanhos de montagens equatoriais, 117 11 Tabela 3 – Comparação entre montagens equatoriais, 121 Trackers, 123 CÂMERAS, 124 Modelos de câmeras fotográficas, 125 Características básicas de uma câmera, 134 Sensores, 134 Sensores Coloridos e monocromáticos, 140 Sensores CMOS e CCD, 142 Funções básicas de uma câmera, 143 Tabela 4 – Câmeras mais populares e suas características, 148 Setup indicado para iniciar, 149 ACESSÓRIOS IMPORTANTES, 152 Sistema de autoguiagem, 152 Extensores e redutores focais, 154 Extensores, 157 Filtros para Astrofotografia, 157 Filtros Solares, 162 Buscadoras, 169 Fitas/Cintas térmicas, 170 Computador portátil, 171 Binóculos, 174 Lanternas, 175 Lonas, 175 Compatibilidade do diâmetro de acessórios e adaptadores, 177 Observatórios amadores, 178 Onde adquirir equipamentos para Astrofotografia, 179 Descobrindo se você comprou o equipamento certo, 182 Cuidando de seu equipamento, 183 SEM DOR, SEM GANHO (Captura), 192 O local de captura, 193 Viajando para astrofotografar, 197 A noite da captura, 202 Instalando seu setup, 204 Alinhando o setup com o Polo, 223 12 Escolhendo o objeto a ser fotografado, 232 Tabela 5 – Objetos de céu profundo mais populares e época ideal decaptura, 234 Encontrando e enquadrando o Objeto, 237 Preparando a autoguiagem, 243 Tipo de arquivo a ser gravado, 252 Tempo de exposição da captura, 254 Tabela 6 – Tempo total de exposição de captura, 254 Ajustando o nível de sensibilidade, 259 Abertura de lentes, 264 Configurando câmeras planetárias, 266 Temperatura do Tubo Óptico, 270 Capturando com câmeras monocromáticas, 272 Astrofotografia em banda estreita, 275 Cuidados durante a captação dos light frames, 276 Frames de calibração, 284 Dark frames, 284 Flat frames, 288 Offset/Bias, 291 Organizando os arquivos, 292 Encerrando a noite, 293 O JULGAMENTO FINAL (Processamento), 296 Integrando os frames, 300 Trabalhando com a imagem integrada no Deep Sky Stacker, 324 Guia Rápido do Deep Sky Stacker, 336 Integrando imagens planetárias, 338 Registax, 339 Uso de Wavelets para imagens de céu profundo, 344 AutoStakkert!, 345 Criando imagens coloridas a partir de capturas monocromáticas, 350 Outros recursos interessantes do Fitswork, 364 Fazer um mosaico, 365 Retirar gradiente automaticamente, 368 Normalização automática de nebulosas, 370 Comandos e filtros mais utilizados em Astrofotografia, 371 Contraste, 372 13 Brilho, 372 Trabalhando com a imagem sem ajustes do Deep Sky Stacker, 372 Ajuste de níveis no Fitswork, 374 Níveis no Adobe PhotosShop, 378 Saturação, 382 Realçando cores no modo Cores Lab, 383 Ferramentas de equilíbrio de cores, 384 Imagens com excesso de verde, 385 Cor Seletiva, 388 Cores seletivas em capturas de banda estreita, 390 Ferramentas de suavização e nitidez, 392 Reduzindo estrelas, 395 Astronomy Tools, 400 PixInsight, 400 EPÍLOGO, 403 Captura sem acompanhamento – Tripé Fixo, 404 Captura de Star Trails, 408 Astrofotografia com paisagens, 412 Fotografia de Raios, 418 Preparando sua imagem para publicação, 421 Onde publicar sua imagem, 424 Conclusão, 431 Glossário, 434 Guia de Referência, 447 Mais sobre o autor, 452 Astrofotógrafos Brasileiros, 454 Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 14 PRÓLOGO Rodrigo Andolfato 15 Sobre este livro O livro que você tem em mãos é voltado para quem está iniciando na Astrofotografia amadora ou está planejando iniciar nesta atividade. Nos últimos anos, apesar de todas as dificuldades e entraves a que nós brasileiros somos submetidos, a Astrofotografia amadora tem crescido muito em nosso país. A aquisição dos equipamentos necessários tornou-se possível para qualquer um que tenha uma condição financeira tida como média, e o acesso à informação, com a difusão da Internet, cresceu de forma exponencial. Além disso, vários clubes de Astronomia têm surgido e se fortalecido nas grandes capitais, e mesmo em cidades do interior. Estes clubes geralmente têm a Astrofotografia como um dos principais interesses de seus membros. Um problema ainda existente ao aspirante a astrofotógrafo no Brasil talvez seja a falta de material escrito na língua portuguesa, principalmente para orientar os iniciantes. Nos fóruns e redes sociais a informação está muito dispersa e sites da Internet geralmente levantam somente alguns tópicos específicos ou fazem resumos superficiais. Um livro, englobando de forma mais detalhada todas as fases da Astrofotografia amadora, era algo praticamente inexistente no país. É até possível encontrar alguns exemplares em português escritos por astrofotógrafos de Portugal, mas são antigos, da época em que a Astrofotografia era feita com rolos de filmes e não com câmeras digitais. E outros livros que encontramos são mais uma coletânea de imagens feitas por bons astrofotógrafos e não propriamente um guia para quem está iniciando. Este material que você tem em mãos talvez seja o primeiro guia de Astrofotografia amadora publicado em forma de livro no Brasil. Aqui, a Astrofotografia será vista em todas as suas fases: o que você deve saber antes mesmo de começar, escolha e aquisição de equipamentos, captura e integração dos frames, tratamento da imagem final e até como divulgar o seu trabalho. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 16 Antes de adquirir seu equipamento para Astrofotografia, você precisa entender o que quer fotografar, quais são os entraves logísticos, climáticos, o tempo disponível e até a sua real disposição para a prática da Astrofotografia. Somente depois desta análise você poderá adquirir o melhor equipamento que puder ou se dispuser a comprar. Este será com certeza o passo mais importante que você dará. Adquirir equipamentos inadequados é disparado a maior causa de frustração entre novos astrofotógrafos, muito mais do que as dificuldades de captura e processamento. Até porque, com o equipamento correto, tanto a captura como o processamento ficam muito mais fáceis, enquanto, pelo contrário, as noites sob o céu estrelado podem virar noites infernais se o instrumento não é o recomendado para o objetivo a que se prestará. Após a aquisição do equipamento correto, o astrofotógrafo agora está em condições de fazer suas primeiras capturas. Para isso, precisará entender os princípios sobre alinhamento da montagem, localização de objetos celestes, enquadramento, foco, temperatura do sensor, frames de calibraçãoe outros passos importantes, que são tomados antes, durante e depois do momento do registro. O astrofotógrafo também deve estar preparado para enfrentar frio, umidade, quedas de energia, entre outros desafios. Feito o registro, agora é hora de integrar e processar as imagens capturadas. Quando o trabalho de captação é feito com o equipamento recomendado e da forma correta, normalmente resulta num processamento rápido e pouco agressivo, com uma imagem final suave e elegante. Mas nem sempre as coisas ocorrem como queríamos e precisamos usar recursos para mostrar mais detalhes da imagem utilizando ferramentas que podem não agradar a todos e correndo o risco de ultrapassarmos a fronteira entre o que é fotografia e o que é desenho. Com a imagem pronta, você provavelmente vai querer publicar e divulgar o material que produziu. Hoje, certamente a maior ferramenta que temos para isso é a Internet. Por meio dela, mesmo sem fazer parte do corpo funcional de uma revista ou portal popular, qualquer bom astrofotógrafo pode ter seu trabalho visto por milhares de pessoas. Esse reconhecimento é algo de grande importância, mesmo que não seja financeiro. Rodrigo Andolfato 17 Afinal, uma das maiores motivações do astrofotógrafo contemporâneo é saber que, por meio da Internet, poderá ter o seu trabalho difundido, ajudar em pesquisas, divulgar a ciência como modo de pensar e incentivar ou mesmo despertar muitas pessoas para o caminho do conhecimento científico e da exploração do Universo. Apesar de serem criticadas por outras razões, as redes sociais têm tido papel fundamental na popularização da Astrofotografia amadora. No momento em que escrevo estas linhas, o maior grupo dedicado a Astrofotografia amadora brasileira no Facebook tem mais de quinze mil membros. Todos os dias, dezenas de fotos são publicadas neste grupo. É claro que a grande maioria são registros de iniciantes, geralmente da Lua ou imagens de grande campo com câmeras simples, mas cada vez mais vemos imagens de céu profundo de qualidade, feitas com o equipamento adequado, ou registros de planetas, apresentando detalhes cada vez mais impressionantes. O que é Astrofotografia? Se você perguntar a um astrônomo o que é Astrofotografia, ele provavelmente lhe dirá que Astrofotografia é uma área da Astronomia cuja finalidade é produzir registros das observações, com objetivo de estudar os objetos e fenômenos fotografados. Já um fotógrafo provavelmente lhe responderá que Astrofotografia é uma área da fotografia que envolve a produção de imagens dos objetos celestes e áreas do céu. Enfim, Astrofotografia é uma ciência com um pé na arte, e vice-versa. Depende muito do ponto de vista de quem está praticando. Geralmente, astrônomos estão mais interessados na informação que a foto transmite e a sua relevância para a ciência. Já fotógrafos estão preocupados com a técnica de captura. No geral, todo astrofotógrafo é um pouco astrônomo e um pouco fotógrafo. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 18 Por que astrofotografar? Existem astrofotógrafos amadores especializados em determinados tipos de Astrofotografia, como planetária, solar, céu profundo, ou até mesmo aqueles que procuram registrar todos os tipos de objetos. Na Astrofotografia amadora, o objetivo do praticante geralmente é o prazer que a atividade proporciona. Raramente ocorre benefício financeiro. Mas a Astrofotografia amadora pode proporcionar uma série de benefícios que não podem ser adquiridos com dinheiro. Alimentando a mente e o “espírito” como poucas atividades seriam capazes. Quando eu decidi começar na Astrofotografia, foi comum escutar a seguinte pergunta: “ - Qual o sentido disso, se o Hubble e os enormes telescópios de observatórios profissionais sempre vão tirar fotos melhores? ”. A resposta a esta pergunta é difícil num primeiro momento, mas após alguma experiência, torna-se fácil dizer porque você entrou nessa. Primeiro: o fato dos telescópios profissionais dos maiores observatórios do mundo serem enormes não quer dizer que eles sejam exatamente melhores do que telescópios amadores em tudo. A maior vantagem destes grandes telescópios é que eles possuem maior poder de definição, devido a seus enormes espelhos. Assim, eles conseguem ver mais detalhes do que qualquer telescópio amador. Entretanto, tamanho exagerado também incorre em aumento exagerado. Mesmo com câmeras com sensores maiores, conseguir imagens de grande campo com esses telescópios não é nada fácil. Um telescópio enorme de observatório profissional vê mais perto, mas tem dificuldades para mostrar áreas maiores do céu, até porque este não é o objetivo destes aparelhos. É até comum que estes observatórios também possuam telescópios menores em suas instalações, semelhantes aos telescópios usados por amadores mais avançados, para quando, por exemplo, é necessário visualizar uma área maior do céu, como a cauda de um cometa próximo à Terra. Rodrigo Andolfato 19 O Hubble, o mais famoso dos telescópios, tem um espelho primário com cerca de dois metros e quarenta centímetros de diâmetro e uma distância focal de mais de cinquenta metros. Mesmo com um sensor muito maior do que uma câmera normal e redutores focais, o Hubble não é capaz de fazer imagens de grande campo. Se você pesquisar por imagens de nebulosas feitas pelo Hubble na Internet verá que quase todas as imagens das nebulosas mais conhecidas não são das nebulosas por completo. As poucas imagens que têm um campo um pouco maior foram feitas através de complicados mosaicos. O Hubble ficou famoso pela imagem dos chamados Pilares da Criação, no centro da Nebulosa da Águia (M16), mas não há uma foto da nebulosa completa feita pelo Hubble. Recentemente, após anos da primeira foto, a equipe do Hubble publicou uma segunda imagem que mostrava um pouco mais dos pilares e só. As melhores fotos que mostram a Nebulosa da Águia por inteiro foram geralmente feitas por astrofotógrafos amadores avançados. Ilustração 1: À esquerda, os pilares da criação, registrados pelo Hubble em imagem mais recente. À direita, os mesmos pilares, registrados da varanda de meu apartamento, em Brasília, com telescópio refletor de 200mm de abertura, câmera monocromática e filtros de banda estreita. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 20 Alguém ainda pode dizer: “ – Mas centenas de astrofotógrafos amadores já fotografaram a Nebulosa da Lagoa (M8). De que serve mais uma foto dela? ”. Sim. Eu já vi centenas de fotos da Nebulosa da Lagoa, mas não lembro de uma ser exatamente igual à outra. Cada imagem tem as suas peculiaridades, suas qualidades e seus defeitos que a torna única, ou como um amigo já disse, são como uma impressão digital do astrofotógrafo que a registrou, uma combinação complexa da capacidade do equipamento utilizado, do talento e esmero do autor da imagem e das condições do céu no momento do registro. Toda nova imagem nos dá uma nova visão do objeto registrado. Mas hoje, se alguém me perguntar sobre a razão de eu gastar dinheiro e grande parte do meu tempo com Astrofotografia, a minha resposta é bastante simples: “Por que eu me apaixonei pelo Universo, e é na Astrofotografia que eu me sinto mais próximo das estrelas”. Astrofotografia versus Astronomia Observacional Muitos astrofotógrafos dizem que iniciaram na Astrofotografia porque estavam cansados de olharem por seus telescópios e verem a imensa maioria das nebulosas e galáxias somente como manchas pálidas, com poucos detalhes e quase sem cor. A experiência de ver planetas, nebulosas e galáxias mais brilhantes através de telescópios de grandes aberturas e num céu escuro é única e mesmo os astrofotógrafos mais focados não devem ignorá-la. Mas a Astrofotografia consegue levar você mais longe do que a Astronomia observacional, revelando, até com telescópios pequenos, detalhes que seriam invisíveis para seusolhos, mesmo através dos telescópios de maior abertura. Rodrigo Andolfato 21 O segredo da Astrofotografia é que as boas câmeras têm a capacidade de permanecer acumulando a luz recebida por muito mais tempo do que nossos olhos, que descartam a luz imediatamente após recebê-la. Essa característica de seus olhos de descartar a luz é o que permite a você dirigir, caminhar e até ler este texto, mas seus olhos não conseguem fazer imagens escuras ficarem muito mais brilhantes e com cores vivas. Para a visualização de objetos de pouco brilho, poder captar luz por muito tempo faz toda a diferença. Quanto mais tempo você capta a luz de uma galáxia, mais vibrantes serão suas cores e mais detalhes aparecerão. A Astrofotografia mostrou aos astrônomos do mundo detalhes do céu que eles jamais seriam capazes de ver com os olhos nas oculares de seus telescópios. Os grandes telescópios profissionais nem sequer possuem um local para se colocar ocular. Eles ficam com câmeras permanentemente acopladas. Para alguém com experiência em Astronomia observacional, a primeira diferença sentida quando se inicia na prática da Astrofotografia é o tempo que você ocupa com cada objeto. Nos encontros astronômicos que participei, enquanto a Ilustração 2: Duas imagens da Nebulosa de Orion (M42). Na primeira, temos uma simulação aproximada do que pode ser visto pelo olho humano através de um telescópio de 200mm. Na segunda, o resultado da integração de frames com grandes tempos de exposição, utilizando filtros de banda estreita. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 22 maioria dos que se dedicam a Astronomia observacional começava a se retirar a partir da meia-noite, quase todos os astrofotógrafos ficavam acordados até o Sol nascer. Muitos destes até eram vistos lamentando-se assim que percebiam o céu começando a ficar claro a leste. Há basicamente dois motivos para que a Astrofotografia ocupe mais tempo do que a Astronomia observacional, primeiro: a preparação do equipamento é mais complexa, tudo tem que estar mais bem alinhado e preciso; segundo: a busca por uma imagem melhor incorre na necessidade de muito tempo de exposição total, principalmente para objetos de céu profundo. Por tempo de exposição entende-se o tempo em que o sensor da câmera fica captando a luz recebida por seu telescópio ou lente fotográfica. Outra característica que atrai inúmeros astrônomos amadores para a Astrofotografia é a possibilidade de registrar e, principalmente, compartilhar o que estão observando. Recentemente, após quase um ano possuindo um refletor de 200mm, finalmente tirei por alguns minutos a câmera do telescópio e observei Júpiter com a ocular. Devo dizer, foi uma experiência de tirar o fôlego. A Grande Mancha Vermelha estava apontada para a Terra e era possível ver com clareza a sua tonalidade vermelha. Foi a primeira vez que vi cores realmente definidas através de uma ocular, o que não conseguia com refratores menores. Mas lamentei muito estar ali sozinho e não ter ninguém para compartilhar aquela experiência. Descrever para outras pessoas o que você viu é legal, mas não é a mesma coisa que mostrar a elas. Quando fotografo, pelo contrário, muitas vezes centenas de pessoas podem apreciar as imagens que compartilho, e descobrir o Universo junto comigo, o que enriquece muito a experiência astronômica. Além disso, você nunca sabe o que pode aparecer no céu enquanto o telescópio está apontado para um objeto. Recentemente um asteroide ou cometa não identificado chocou- se contra Júpiter, produzindo uma explosão que foi visível em telescópios amadores. Astrofotógrafos que estavam registrando o planeta no momento da explosão tiveram o privilégio de Rodrigo Andolfato 23 fotografar o evento e compartilhar com milhões de pessoas do mundo inteiro. Três coisas que você precisa saber antes de começar na Astrofotografia. Antes que você vá correndo comprar seus equipamentos de Astrofotografia amadora, eu me sinto na obrigação de dar os avisos abaixo. 1 – Astrofotografia não é fácil: Astrofotografia está longe de ser um hobby que exige pouco esforço mental. Muito pelo contrário, é uma atividade complexa e desafiadora, exigindo paciência e estudo do praticante para se atingir um desempenho de alto nível. Se você acha que é só colocar sua câmera num telescópio, sair apontando para galáxias e nebulosas e no fim da primeira noite ter dezenas de imagens como as dos astrofotógrafos mais destacados, corre sérios riscos de frustrar-se completamente com este hobby. Astrofotografia é uma atividade para quem tem força de vontade, paciência e, acima de tudo, muita disposição para aprender. Mas é importante dizer que existem vários níveis de dificuldade em Astrofotografia. Fotografar com lentes numa câmera do tipo DSLR é muito mais simples do que fazer registros com câmeras monocromáticas em grandes telescópios. Tudo depende de onde você quer chegar. A verdade é que quanto mais longe você quer ir, quanto mais detalhes e mais de perto quer registrar os objetos, mais difícil as coisas vão ficando. Exigindo mais acessórios e precisão. 2 – Astrofotografia não é barata: É perfeitamente possível ser um bom astrônomo amador mesmo sem equipamentos astronômicos, através da leitura de livros, análise de dados e pesquisa. Muitos astrônomos amadores destacam-se mesmo não possuindo qualquer instrumento além de seu conhecimento. Mas a Astrofotografia é totalmente dependente de equipamentos, e muitos deles não são baratos. Mas calma, os preços também não são absurdos. No Brasil, um bom setup Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 24 padrão, suficiente para o registro de quase todos os objetos celestes, custa cerca de dois a três mil dólares (dez a quinze mil reais em valores de 2017, com os impostos). Se você tiver condições e vontade de gastar, existem telescópios caríssimos e pesados, câmeras com preços maiores do que carros novos e montagens capazes de carregar o astrofotógrafo junto com o telescópio. A aquisição do conjunto destes equipamentos facilmente poderia falir a família de classe média de um astrofotógrafo mais inconsequente, mas existem formas mais econômicas de se fazer boas imagens. Com montagens de pouco mais de 100 dólares, câmeras DSLRs usadas e lentes, algumas vezes mais velhas do que o próprio astrofotógrafo, mas em boas condições, é possível fazer excelentes imagens por um custo muito menor. Com toda certeza o que mais tem causado decepção nos novos astrofotógrafos brasileiros é a aquisição de equipamentos errados. Praticamente todo astrofotógrafo que se frustrou com a atividade tem por trás compras equivocadas em seu setup astrofotográfico. Isso acontece porque muitas vezes a ansiedade bate mais forte e o astrofotógrafo prefere comprar um equipamento que não atenda às suas aspirações porque aquele equipamento está mais acessível do que o produto correto, seja por questões financeiras ou logísticas. Sim! Já vi pessoas comprando um equipamento errado até mais caro do que o correto, simplesmente porque o primeiro estava ali na sua frente, ou chegaria na sua casa em poucos dias, enquanto o produto adequado exigiria uma espera de alguns meses. 3 – O Local onde você mora pode afetar muito o seu desempenho como astrofotógrafo: Astrofotografia é muito dependente das condições do céu e elas variam muito de acordo com o local onde você mora. Certas regiões são bem melhores do que outras. Os fatores que podem influenciar se um local é bom ou ruim para Astrofotografia podem ser naturais ou artificiais. Os fatores naturais estão relacionados principalmente ao clima. Regiões que passam o ano todo chuvosas, que possuem grandes correntes de vento e forte umidade não são as melhores para Astrofotografia. Aqui no Brasil, eu conheço Rodrigo Andolfato 25 alguns amigos que chegaram a desistir da Astrofotografia devido ao fato deque, na região onde vivem, o céu passa a maior parte do ano coberto por nuvens. Entre os fatores artificiais, o mais importante é a poluição, seja ela luminosa ou química. Áreas com muita poluição química, como o centro de grandes capitais, tendem a apresentar baixos índices de transparência atmosférica o ano todo, com o céu sempre repleto de fumaça. Mas o maior obstáculo nestes lugares é mesmo a poluição luminosa, provocada pela iluminação pública e de edifícios residenciais ou comerciais. Geralmente, quanto mais perto ou dentro você estiver de uma cidade grande, mais poluição luminosa terá que enfrentar. Este tipo de poluição não afeta muito a fotografia planetária, lunar ou solar, mas prejudica com agressividade a fotografia de céu profundo. Se você mora no interior, de preferência na zona rural, numa região com estações secas bem definidas, está num local fantástico para Astrofotografia de céu profundo, mas se está no meio de uma cidade grande, poluída, onde chove muito e irregularmente o ano inteiro, pode estar num lugar bastante complicado para este tipo de fotografia. Mas o fato de você morar num lugar ruim não quer dizer que você deva desistir da Astrofotografia de céu profundo, muito pelo contrário, poucas coisas são tão legais do que viajar para regiões propícias à atividade. Eu diria que o local onde você mora influencia principalmente no tipo de setup que você deve adquirir para Astrofotografia de céu profundo. Se mora num local privilegiado, você tem toda a condição de adquirir um setup de grande porte e montar um observatório fixo em sua residência. Entretanto, se mora no centro de uma grande cidade e quer registrar galáxias ou cometas, o ideal é ter um setup portátil, que possa ler levado sem sacrifício numa viagem de avião ou carro. O Brasil é tido por grande parte dos astrônomos amadores como um local difícil para a prática da Astrofotografia. O acesso a equipamentos importados é difícil e caro; em grande Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 26 parte do país ocorrem muito mais noites fechadas do que abertas; há problemas de segurança em relação aos equipamentos; não há uma estrela polar brilhante para nos ajudar a alinhar montagens equatoriais, entre outras reclamações. Mas também há grandes vantagens em se praticar Astrofotografia em nosso país, a maior delas certamente está em relação a nossa latitude. Com grande parte do nosso território localizado entre a Linha do Equador e o Trópico de Capricórnio, astrofotógrafos brasileiros têm acesso a quase todos os objetos da esfera celeste. Quanto mais próximo do polo, menos do céu podemos ver, pois perdemos o que é visível do polo oposto. Quanto mais próximos do equador, mais objetos celestes estão disponíveis para observação e registro. Quando descemos um pouco para o sul, perdemos um pouco dos objetos no extremo norte. Realmente tem alguns objetos bonitos por lá, mas o que temos no sul compensa totalmente esta ausência. As Grandes Nuvens de Magalhães são duas espetaculares galáxias satélites que ocupam áreas maiores do que dezenas de luas, contendo objetos como a fabulosa Nebulosa da Tarântula. Também temos os dois maiores aglomerados globulares, algumas das mais belas galáxias do firmamento, a estrela mais próxima da Terra (depois do Sol, é claro) entre muitos objetos só visíveis para quem está no Hemisfério Sul. E, se o centro da Via Láctea é visível também no Hemisfério Norte, a verdade é que só de nossa latitude podemos ver as fabulosas nebulosas das constelações do Escorpião e de Sagitário bem no alto do céu, no zênite, onde há menos turbulência atmosférica e mais transparência. Um deleite que encanta astrônomos europeus que visitam nosso país. A eclíptica, região por onde os planetas passam, também é visível bem no alto do céu brasileiro, enquanto em países localizados próximo aos polos, como Inglaterra, Alemanha ou mesmo Estados Unidos, você teria que se conformar em ver os planetas próximos ao horizonte na maior parte do ano. Rodrigo Andolfato 27 Tipos de Astrofotografia Antes de começar na Astrofotografia, aconselho a qualquer um definir que tipo de Astrofotografia será o seu foco. Qualquer equipamento que fotografe bem planetas é capaz de registrar nebulosas e vice-versa, mas a qualidade das imagens sempre será superior para os objetos para o qual o equipamento é mais voltado. Existem diferenças importantes entre setups voltados para céu profundo e setups voltados para planetas. Mesmo dentro da categoria de céu profundo há equipamentos que são melhores para um tipo de objeto e piores para outros. E o problema não existe somente no campo dos equipamentos. Há muitos outros fatores que podem influenciar na sua escolha do tipo de Astrofotografia a qual você se dedicará. São eles: tempo disponível, clima de sua região, poluição luminosa, disponibilidade de transporte, entre outros. Antes de começar num tipo de Astrofotografia, você precisa colocar tudo da balança. Astrofotografia de céu profundo Por céu profundo, entende-se tudo aquilo que está além de nosso Sistema Solar, que não é iluminado ou esteja em órbita do Sol. Estes objetos estão muito mais distantes do que os planetas, cometas, asteroides e luas de nosso sistema solar. São geralmente muito débeis comparados aos planetas mais brilhantes, exigindo capturas com longos tempos de exposição por frame para serem registrados, mas também podem se apresentar no céu em tamanhos muito maiores do que os objetos mais próximos do sistema solar, podendo ser fotógrafos com telescópios menores ou mesmo pequenas lentes fotográficas. Há vários tipos de objetos de céu profundo, os mais populares na Astrofotografia são galáxias, nebulosas e aglomerados estelares. As galáxias se dividem principalmente entre espirais, irregulares e elípticas. As galáxias espirais são como a nossa Via Láctea, têm um formato semelhante ao de um redemoinho. Elas podem estar visíveis de várias maneiras: Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 28 • de frente, apresentando formato arredondado, evidenciando de forma nítida os chamados braços espirais. Exemplos: Galáxias do Rodamoinho (M51), do Cata-vento do Sul (M83) e do Cata-vento do Norte (M101); • meio de frente, apresentando uma forma oval, mais ainda com os braços espirais bastante nítidos. Exemplos: Galáxia do Triângulo (M33), do Bode (M81), do Girassol (M63). • meio de lado, apresentando um formato que lembra o de uma espiga de milho, com os braços espirais pouco visíveis. Exemplos: Galáxia de Andrômeda (M31), do Escultor (NGC253) e NGC 4945. • de lado, evidenciando a grande diferença entre o comprimento e a altura dos discos galáctico espirais, sem qualquer visualização dos braços espirais. Exemplos: Galáxia do Sobreiro (M104), da Agulha (NGC 4565) e NGC 891 Muitas galáxias espirais possuem o seu centro em forma de uma barra, que está geralmente ligada aos braços principais Ilustração 3: NGC 5128 – uma das galáxias mais brilhantes do céu do hemisfério sul. É um exemplo de galáxia lenticular. Imagem feita com refletor de 200mm de abertura e câmera monocromática. Rodrigo Andolfato 29 destas galáxias. Estas galáxias estão numa subcategoria, sendo denominadas galáxias espirais barradas. A galáxia do Cata- vento do Sul (M83) e a do Escultor (NGC 253) incluem-se nesta subcategoria. Galáxia Lenticular: São galáxias similares às galáxias espirais, possuem um bojo central e um disco, mas não apresentam os braços espirais – Ilustração 3. Galáxias Irregulares geralmente são galáxias menores que não chegaram a adquirir o formato espiral. Muitas delas são galáxias satélites de galáxias espirais. A Via Láctea tem duas galáxias satélites bastante visíveis a partir do Brasil, a Grande e a Pequena Nuvem de Magalhães. Fernão de Magalhães foi o primeiro europeu a oficialmente avistá-las, quando chegou aos maresdo Sul, em sua famosa viagem em volta ao mundo. Ilustração 4: A Galáxia de Cata-vento do Sul (M83), à esquerda, é um belo exemplo de galáxia espiral barrada. Já sua prima do Norte, a Galáxia de Cata-vento do Norte (M101), é uma galáxia espiral que não apresenta a barra. Imagens feitas com refrator de 102mm de abertura e câmera monocromática. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 30 Galáxias Elípticas são galáxias de formato esférico. Elas não têm quase nenhuma estrutura visível, como braços espirais, ou mesmo nebulosas. São muito uniformes, tendo como característica notável apenas o fato do núcleo ser mais brilhante que o resto de seu corpo. Há dois tipos de galáxias elípticas: as pequenas, que até parecem grandes aglomerados globulares soltos no espaço e as gigantes, que parecem ser fruto da colisão de grandes galáxias espirais muito antigas. Algumas galáxias estão muito mais próximas de nós em relação a outras. As mais notáveis são as que fazem parte do chamado Grupo Local. Estas galáxias estão gravitacionalmente ligadas à Via Láctea e formarão uma enorme galáxia daqui a bilhões de anos. As mais visíveis são as Nuvens de Magalhães, Andrômeda (M31) e Triângulo (M33). As nuvens de Magalhães são menores, mas são as mais próximas, enquanto Andrômeda e Triângulo são respectivamente a maior e a terceira maior galáxia do Grupo Local, sendo que a nossa Via Láctea é a segunda maior galáxia deste grupo. As Nuvens de Magalhães estão tão próximas de nós que um registro feito com telescópio geralmente mostra apenas parte destes fantásticos objetos, que são fotografados por inteiro somente quando trocamos o telescópio por uma lente entre 135 e 200mm. A Galáxia de Andrômeda ocupa uma área do céu com o diâmetro duas vezes maior do que a Lua, sendo recomendado o uso de telescópios menores para o seu registro na íntegra. Quase todas as galáxias fora do Grupo Local são melhores registradas com telescópios maiores, sendo mais comum o uso de lentes somente quando o objetivo é registrar grandes aglomerados de galáxias, como o Aglomerado de Virgem, que ocupa uma área extensa no céu. Rodrigo Andolfato 31 Como são objetos muito pálidos e que emitem luz branca, a fotografia das galáxias é muito prejudicada pela poluição luminosa. Alguns filtros específicos podem melhorar um pouco os registros destes objetos em áreas urbanas, mas para fotos realmente perfeitas, com o fundo destacado, você precisará se dirigir a áreas sem poluição luminosa e durante a Lua nova. A luz emitida pela Lua, mesmo durante as fases menos brilhantes, é tão prejudicial a Astrofotografia de galáxias quanto a luz emitida por áreas urbanas. Nebulosas são nuvens de gás e poeira presentes dentro das galáxias e que geralmente formarão novos sistemas solares, mas também podem ser nuvens de gás remanescentes da explosão de grandes estrelas. As nebulosas mais espetacularmente fotografáveis estão dentro de nossa galáxia ou de galáxias muito próximas no Grupo Local, como as Nuvens de Magalhães ou a Galáxia do Triângulo (M33), mas, com equipamentos de grande porte, é possível fazer registros interessantes das maiores nebulosas presentes em algumas galáxias fora do Grupo Local, como M83. Entre as nebulosas dentro de nossa galáxia a variedade de tamanho e formas que aparecem no céu é de perder a conta. Algumas podem ocupar o espaço de várias constelações, como a Nebulosa Barnard Looping ou aparecerem pouco maiores do que os planetas do Sistema Solar, como a Nebulosa do Anel (M57). Os tipos mais conhecidos de nebulosas são, nebulosas de emissão, de reflexão, escuras, planetárias e as remanescentes de supernova. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 32 As nebulosas de emissão têm como traço mais característico a cor vermelha, pouco visível em observações via ocular, mas de enorme destaque em fotografias de longa exposição. A cor vermelha é devido à presença de hidrogênio ionizado. Algumas das nebulosas de emissão mais famosas são a de Carina (NGC3372), Lagoa (M8), da Roseta (NGC2244), Águia (M16) e Cisne (M17). Com filtros de banda estreita, que deixam passar apenas uma pequena faixa de luz, é possível produzir as imagens mais espetaculares que se pode ver destas nebulosas, mesmo em áreas com grande poluição luminosa. O resultado são cores falsas, tendendo mais para o amarelo e o azul, mas que mostram detalhes destes objetos de fazer qualquer um arregalar os olhos, como a imagem da Ilustração 5, que também ilustra a capa deste livro. Ilustração 5: A espetacular Nebulosa Carina (NGC3372), aqui registrada com um telescópio refrator de 102mm de abertura e com filtros de banda estreita. Rodrigo Andolfato 33 Apesar da beleza das capturas feitas com filtros de banda estreita, nebulosas de emissão registradas em suas cores naturais, com câmeras coloridas, também rendem imagens de tirar o fôlego, principalmente as mais brilhantes, como as Nebulosas da Lagoa (M8), da Tarântula (NGC2070) e Carina (NGC3372). E o fato de podermos ver as nebulosas em suas cores verdadeiras enriquece a experiência. Mas sem o uso dos filtros de banda estreita, recomenda-se o deslocamento para uma região sem poluição luminosa. Já as nebulosas de reflexão são nuvens de gás, podendo conter poeira, que refletem a luz vindo de estrelas próximas e normalmente apresentam coloração azulada. As nebulosas de reflexão mais conhecidas são as nebulosas que rodeiam as Ilustração 6: Nebulosa Cabeça do Cavalo Azul (IC4592), capturada com câmera DSLR e lente de 135mm. Belo exemplo de nebulosa de reflexão. Para se conseguir este registro, foram necessárias quase três horas de exposição total num local com baixíssima poluição luminosa. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 34 Plêiades, em especial Merope, além de M78, Cabeça de Cavalo Azul (Ilustração 6) e Cabeça de Bruxa, entre outras. Para um bom registro das nebulosas de reflexão, o astrofotógrafo é obrigado a se deslocar para uma região sem poluição luminosa durante os períodos de Lua nova. A maioria destas nebulosas é bastante pálida. Nebulosas escuras são formadas por nuvens de poeira suficientemente densas para não deixarem a luz passar através delas, criando obstáculos que parecem verdadeiros buracos no céu. Estas nebulosas são mais facilmente observáveis quando estão entre grandes campos estelares, principalmente da Via Láctea e aparecem nas fotos como manchas escuras entre as estrelas. Também são bem visíveis quando estão à frente de Ilustração 7: A Nebulosa Escura do Cachimbo recebeu este nome devido a seu formato. Rodrigo Andolfato 35 nebulosas de emissão. As mais famosas são as Nebulosas Cabeça do Cavalo (Barnard 33), do Cachimbo (Ilustração 7), da Serpente e Saco de Carvão. Algumas nebulosas são formadas tanto por nuvens de hidrogênio como por nuvens de poeira, apresentando partes azuis e vermelhas e até outras variedades de cores. As mais famosas são a espetacular Nebulosa de Orion (M42) – Ilustração 2 e Trífida (M20). Outras nebulosas são tão complexas que são chamadas de complexos nebulares. O maior exemplo é a região de Rho Ophiuchi, que contem nebulosas escuras, de emissão, reflexão e aglomerados globulares. As nebulosas planetárias são nebulosas de emissão formadas por plasma e gás expelidos por uma estrela com tamanho próximo ao do Sol em sua fase final de vida. Normalmente ocupam uma área muito pequena do céu e somente as mais próximas do nosso sistema solar são Ilustração 8: Nebulosa Planetária do Halter (M27) fotografada com telescópio refletor de 200mm câmera CCD monocromática e filtros de banda estreita. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 36 fotografáveis com equipamentos amadores. Apesar do pequeno tamanho aparente, costumam ser bastante brilhantes e são alvos ideais para telescópiosde maior aumento. As mais famosas são a Nebulosa do Anel (M57), do Halter (M27) – Ilustração 8 – e da Hélice (NGC 7293). As remanescentes de supernovas são nebulosas de emissão formadas pelo choque entre o material liberado por uma estrela gigante que explodiu ao chegar no estágio final de sua vida e o material interestelar em volta. Supernovas ocorrem em estrelas muito maiores do que as que geraram as nebulosas planetárias e por isso os eventos que criam as remanescentes de supernovas são mais agressivos do que os que geraram as nebulosas planetárias. Isso faz com que as remanescentes de supernovas possam ocupar áreas muito maiores do céu. A remanescente de supernova mais conhecida e fotografada é a Nebulosa do Véu, que se divide em várias partes que só podem ser fotografadas juntas com menores aumentos (pequenos Ilustração 9: As pálidas Nebulosas do Véu do Oeste (esquerda) e do Leste (direita) fazem parte de um grande remanescente de supernova. Imagem capturada com câmera DSLR e lente de 135mm. Rodrigo Andolfato 37 refratores ou lentes fotográficas). Apesar de ocuparem áreas maiores do céu, ao contrário das Nebulosas Planetárias, as remanescentes de supernovas são geralmente muito pálidas, exigindo grandes tempos de exposição e filtros de banda estreita para serem captadas em todo o seu esplendor. Como são nebulosas de emissão, tanto nebulosas planetárias como remanescentes de supernovas podem ser capturadas com filtros de banda estreita. Aglomerados globulares são aglomerações densas formadas por centenas ou milhares de estrelas. Alguns chegam a ter mais de um milhão de estrelas, como Ômega Centauri (NGC 5139). São formados por estrelas muito antigas e geralmente se localizam fora do plano galáctico. Por serem bastante concentrados, precisam de aumentos maiores para serem capturados com detalhes. Os aglomerados globulares mais famosos são Ômega Centauri, Grande Aglomerado de Hércules (M13), M22 e 47 Tucanae (NGC 104). Alguns aglomerados globulares mais brilhantes foram catalogados Ilustração 10: M22, terceiro aglomerado mais brilhante do céu. Destaca-se na constelação de Sagitário durante o inverno brasileiro. Imagem registrada com telescópio refrator de 102mm e câmera DSLR. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 38 como estrelas até que a observação por telescópios mostrasse sua verdadeira natureza. Aglomerados abertos são formados por estrelas mais jovens, recém-formadas de uma nebulosa, e que tendem a afastar-se uma das outras. Muitas das estrelas destes aglomerados um dia formarão um sistema solar como o nosso. Há alguns aglomerados abertos bem próximos de nós, pedindo aumentos menores ao serem registrados, enquanto outros estão bem distantes e precisam de grandes ampliações. Muitos aglomerados abertos, principalmente os mais jovens, são vistos envoltos por nebulosas. Os aglomerados abertos mais famosos são as Plêiades (M45), Aglomerado de Ptolomeu (M7), Aglomerado de Borboleta (M6), Presépio (M44), entre muitos outros. A Via Láctea Quando se fala em Astrofotografia de céu profundo, nossa galáxia é um caso à parte. Nós estamos dentro dela e registrá-la Ilustração 11: Dois aglomerados abertos. Na primeira imagem, Aglomerado Pato Selvagem (M11). Exemplo de aglomerado aberto denso. Na segunda imagem, as Plêiades (M45). Aglomerado disperso associado a nebulosidade. A primeira imagem foi produzida com telescópio refrator de 102mm de abertura, enquanto a segunda, com lente de 135mm, ambas com câmera DSLR. Rodrigo Andolfato 39 completamente é algo muito difícil (embora possível, com grandes mosaicos capturados em épocas diferentes), mas podemos fazer registros que mostram grande parte dela. A região mais interessante certamente é o centro, onde estão os campos estelares mais brilhantes. O Centro da Via Láctea fica mais visível durante o inverno, o que é muito bom, já que muitas regiões do Brasil ficam completamente sem nuvens durante esta época do ano. Seu registro exige um céu muito limpo, sem poluição luminosa ou nuvens, mesmo que dispersas, pois a área do céu capturada é bastante extensa. Para capturar a maior extensão possível da Via Láctea, recomenda-se lentes do tipo grande angular, com baixa distância focal, entre 10 e 20mm. Para uma boa foto do centro, Ilustração 12: A Via Láctea, em todo o seu esplendor, registrada com lente de 11mm. Para imagens assim, é necessário estar longe de qualquer poluição luminosa e não podem haver nuvens no céu. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 40 lentes entre 30 e 50mm fazem um bom trabalho. Devido à baixa distância focal necessária, a Via Láctea pode ser capturada mesmo sem acompanhamento motorizado, com tripé de câmera fotográfica. A principal característica dos objetos de céu profundo é serem bastante pálidos. Alguns destes objetos apresentam tamanho aparente maiores do que a Lua, outros chegam até mesmo a ter o tamanho de constelações. Alguns são até visíveis a olho nu, mas a maioria apresenta um brilho fraco demais para ser percebida, mesmo em áreas sem poluição luminosa. O objetivo da Astrofotografia de céu profundo não é produzir grandes aumentos, mas o campo ideal para o objeto sendo fotografado. Conseguir o tempo de exposição ideal é sempre o principal desafio de um astrofotógrafo de céu profundo. Quanto maior o tempo de exposição total, mais detalhes aparecerão na foto. O problema é que a Terra é uma nave em constante movimento, dando uma volta em torno de si mesma a cada vinte e quatro horas. Os alvos do astrofotógrafo não permanecem parados durante a captação e o telescópio deve se manter em perfeito sincronismo com o objeto sendo registrado. O movimento da Terra em relação ao céu faz necessário que todo telescópio usado para fotografia de céu profundo esteja acompanhado de um tripé que possua uma montagem motorizada, capaz de sincronizar com o movimento da Terra em relação ao céu pelo maior tempo possível. Além de conseguir longos tempos de exposição, o astrofotógrafo de céu profundo tem outros desafios importantes: focalizar e enquadrar um objeto que muitas vezes ele nem sequer consegue ver pode parecer não ser fácil, mas com o equipamento certo e conhecimento torna-se possível e até mesmo sem grandes dificuldades. No capítulo sobre captura examinaremos melhor cada passo da Astrofotografia de céu profundo. Um dos maiores problemas que astrofotógrafos de céu profundo enfrentam é a poluição luminosa. Trata-se de um obstáculo nunca antes tão presente como hoje. Se o Rodrigo Andolfato 41 desenvolvimento humano no último século nos deu as câmeras digitais e montagens computadorizadas, por outro lado nos deu cidades cada vez maiores, cujos problemas de segurança e vida noturna demandam cada vez mais iluminação pública. Esta iluminação, construída sem um planejamento que levasse em conta a Astronomia, tornou o acesso ao céu noturno algo cada vez mais distante das populações urbanas e afeta até mesmo as regiões rurais próximas às maiores cidades. Hoje, é difícil encontrar um local acessível que seja totalmente livre da poluição luminosa. Há filtros que ajudam a diminuir a poluição luminosa. Os filtros de banda estreita chegam mesmo a quase acabar completamente com ela, mas somente para objetos específicos e sem a captação das cores reais do objeto. Por isso, se você planeja se tornar um astrofotógrafo de céu profundo, deve levar muito em consideração a poluição luminosa de seu local de captura. A Astrofotografia de céu profundo é feita basicamente da seguinte forma: utilizando-se uma montagem, de preferência com acompanhamento motorizado, um telescópio ou lente fotográfica e uma câmera adequados ao objeto que se quer registrar, são geralmente feitas não uma, mas várias capturas com longos tempos de exposição, chamadas “frames”. O tempo de exposição de cada frame varia deacordo com o objeto a ser registrado e equipamento utilizado, podendo ser de alguns segundos a até mesmo cerca de meia hora por frame, para objetos extremamente pálidos. Quanto maior o número de frames, melhor o resultado final. Quanto mais tempo o astrofotógrafo de céu profundo gasta com a captura de um objeto, melhor o resultado final. O astrofotógrafo, além dos frames de captura, chamados de light frames, também terá que produzir vários frames de calibração (darks, flats e Bias/offset), que aumentam o tempo e a complexidade do trabalho, mas ajudam a produzir resultados superiores. Tudo isso faz com que a Astrofotografia de céu profundo possa se tornar bastante demorada. Geralmente, gasta- se algumas horas com cada registro. Não é raro que Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 42 astrofotógrafos avançados dediquem várias noites numa única imagem. Depois de realizada a captura, o astrofotógrafo de céu profundo deverá selecionar todos os bons frames da captação realizada, mais os frames de calibração, e integrar todos num software de integração. Há várias opções de programas que fazem este trabalho. Alguns são gratuitos, outros são pagos. Eu gosto muito do Deep Sky Stacker. Ele é gratuito, simples e muito eficiente. Por isso ele será o integrador de imagens a ser estudado neste livro. Após a integração dos frames, o astrofotógrafo levará a sua imagem para um programa de tratamento de imagens, onde tentará melhorar o contraste, as cores e realçar os detalhes do objeto registrado, tomando o cuidado de não exagerar a ponto de descaracterizar o objeto alvo ou gerar muito ruído. Se estiver trabalhando com câmeras monocromáticas, o astrofotógrafo deve integrar separadamente cada canal de cor antes de levar ao software de tratamento. Astrofotografia planetária A Astrofotografia planetária é tão popular quanto a Astrofotografia de céu profundo. Ela envolve o registro dos outros sete planetas de nosso sistema solar e suas luas. Também envolve a fotografia dos planetas anões e asteroides. O número de objetos a serem fotografados na Astrofotografia planetária é muito inferior ao dos objetos de céu profundo. Se excluirmos os satélites dos planetas, mal passa de uma dezena, sendo que é possível capturar um número expressivo de detalhes somente de Júpiter, Saturno, Marte e alguma coisa de Vênus. A boa notícia é que estes objetos são incrivelmente dinâmicos, com detalhes mudando completamente de uma noite para outra ou mesmo após alguns minutos, fazendo valer a pena um acompanhamento constante destes astros. Enquanto na Astrofotografia de céu profundo não existe um aumento ideal, mas adequado para cada objeto, na Rodrigo Andolfato 43 Astrofotografia planetária, mais capacidade de ampliação é sempre melhor. Os planetas têm um tamanho aparente muito reduzido e mostrar mais detalhes exige vê-los mais de perto, sendo geralmente necessários extensores focais como barlows ou powermates para uma maior aproximação. Astrofotografia planetária é muito menos prejudicada pela poluição luminosa do que a de céu profundo. Os planetas são em geral muito brilhantes. Isto faz com que a Astrofotografia planetária seja ideal para aqueles que moram em cidades maiores e não gostam ou não têm como ir para locais afastados fazer seus registros. A Astrofotografia planetária também não é prejudicada pela presença da Lua no céu, permitindo registros durante a Lua cheia, mesmo que os planetas estejam bem próximos a ela. Alguns astrofotógrafos chegam a fazer registros de Vênus ou de Júpiter em plena luz do dia. Entretanto, a atmosfera da Terra dá aos astrofotógrafos planetários um outro desafio. Devido ao pequeno tamanho aparente dos planetas, movimentações atmosféricas podem prejudicar muito a captação planetária. O efeito que a turbulência provoca na imagem de um planeta ao telescópio faz parecer que estamos vendo através de uma piscina com suas águas agitadas, com o planeta dançando atrás dela. O nível de qualidade da atmosfera durante a captação planetária é chamado de seeing. Você pode morar numa região que sempre ou quase sempre tenha o seeing ruim, mas também pode morar num local onde o seeing quase sempre se apresente com boa qualidade. Se a sua região possui geralmente um seeing ruim, você corre o risco de se frustrar caso compre seu equipamento astrofotográfico com o objetivo de registrar os planetas. A qualidade do seeing também pode depender do horário. Geralmente, no início da noite o seeing não está bom, isso se deve devido à queda de temperatura a partir do momento que a atmosfera para de receber a luz solar. A tendência é que o seeing vá melhorando durante a noite, quando a atmosfera vai se estabilizando. A Astrofotografia planetária é feita de forma semelhante à Astrofotografia de céu profundo. A grande diferença é que aqui Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 44 geralmente o tempo de exposição dos frames é muito pequeno, de milésimos ou centésimos de segundo, e eles tendem a ser centenas ou mesmo milhares. Os planetas são geralmente muito brilhantes, por isso, não são necessários tempos de exposição maiores. O astrofotógrafo planetário encontra o tempo de exposição adequado testando alguns tempos de exposição por frame diferentes até que a imagem que aparece na tela tenha um brilho satisfatório sem que haja nenhuma área estourada (totalmente branca) ou muito escura. Após chegar ao tempo ideal por frame, tenta capturar o máximo de frames possível. O ideal é algo em torno de, pelo menos, mil frames. Alguns astrofotógrafos chegam a capturar mais de dez mil. Este número é possível porque em Astrofotografia planetária não se tiram fotos, mas gravam-se vídeos com o maior número de frames possível. O número de frames é limitado pela velocidade de captura, bem como pela velocidade de rotação dos planetas, que pode borrar a imagem integrada caso a captação seja muito prolongada. Este tempo de rotação depende de cada planeta, podendo ser corrigido com softwares específicos, dentro de um limite, é claro. Geralmente gastam-se dois a dez minutos num registro planetário. Astrofotógrafos planetários costumam fazer cerca de uma dezena de capturas de cada planeta durante uma sessão fotográfica, pois a atmosfera pode variar muito de um registro para o outro, produzindo imagens com qualidade bastante variada. Uma sessão de uma hora já é suficiente para uma boa coletânea de registros planetários, o que torna a Astrofotografia planetária mais dinâmica e rápida do que a captura de céu profundo. Os grandes aumentos usados na Astrofotografia planetária geram algumas dificuldades com as quais o astrofotógrafo planetário terá que lidar. A buscadora precisa estar perfeitamente alinhada ao telescópio principal, caso contrário será muito difícil enquadrar o planeta. Além disso, qualquer esbarrão no telescópio fará o planeta pular como uma bola de pingue pongue no campo da câmera, correndo o risco até de sair do campo de visão. Os controles do telescópio devem ser Rodrigo Andolfato 45 precisos o suficiente para pequenas correções durante a captura, que não tirem o planeta do estreito campo de visão. Os planetas Vênus regularmente é o terceiro objeto mais brilhando do céu, atrás somente do Sol e da Lua. É tão brilhante que em alguns momentos chega a ser possível vê-lo a olho nu mesmo durante o dia. Isto ocorre devido à grande proximidade com o Sol e a sua atmosfera densa e reflexiva, que dá a Vênus o maior albedo do Sistema Solar, cerca de 75 por cento. O albedo de Marte, por exemplo, não passa de 30 por cento. Vênus está mais próximo do Sol do que a Terra, estando no que chamamos de órbita interna. O mais alto que você verá Vênus no céu será algo próximo de cinquenta graus, ou pouco mais de metade do caminho até o Zênite. A distância que Vênus está no céu em relação ao Sol chama-se elongação. Um aspectointeressante sobre Vênus é que ele apresenta fases bem definidas, como a Lua. O complicado é que devido à posição de sua órbita, quanto mais próximo ele está da Terra, menos da parte iluminada é visível, e quanto maior a área iluminada, mais distante o planeta está, tornando a fotografia de Vênus um grande desafio. A grande maioria das fotos amadoras de Vênus mostram somente suas fases, mas com telescópios maiores e filtros específicos, astrofotógrafos mais avançados conseguem registros de detalhes de sua densa atmosfera, mas que não permitem ver nenhum detalhe da superfície do planeta. Mercúrio, o planeta mais próximo do Sol, é visível de forma muito parecida com Vênus, mas tudo em menor escala. A sua elongação máxima é a metade de Vênus e o planeta é quase sempre visto somente no fim da madrugada, com o dia já clareando, ou desaparece no início da noite, quando ainda não escureceu completamente. Sempre com muita atmosfera entre o planeta e o observador. O tamanho aparente de Mercúrio é quatro vezes menor do que o de Vênus e seu brilho é várias Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 46 vezes mais fraco. Ao contrário de Vênus, Mercúrio não tem atmosfera, tendo uma superfície muito parecida com a Lua, mas é pequeno e distante demais para que se possam captar detalhes com telescópios amadores menores. Detalhes que vão além de suas fases necessitam de telescópios de mais de 12 polegadadas de abertura. Marte é o primeiro planeta depois da Terra. Como sua órbita está muito próxima da nossa, o planeta fica muito visível e brilhante quando está no ponto mais próximo da Terra, mas pouco visível no resto do tempo. Terra e Marte levam aproximadamente dois anos para passarem perto um do outro e o mês em que isso acontece costuma ser a época de ouro para a observação e fotografia “marciana”. Este momento é chamado oposição. É quando a Terra se encontra alinhada entre um astro e o Sol. No resto do tempo, poucos detalhes são captados por telescópios amadores. Além disso, a órbita dos dois planetas não é perfeitamente circular, fazendo com que estes encontros apresentem grandes diferenças entre si. O ponto orbital onde a Terra está em sua distância máxima do Sol (afélio) e Marte em sua distância mínima (periélio) são bastante próximos, e quando Ilustração 13: Marte, registrado com telescópio refletor de 200mm de abertura e câmera planetária monocromática, próximo à oposição de 2016. O planeta estava com tamanho aparente de cerca de 18 segundos de arco. Rodrigo Andolfato 47 os dois planetas se encontram nessa região, os registros podem ser espetaculares, mas podem decepcionar quando acontece o contrário, quando o encontro ocorre com a Terra estando próxima do Sol, enquanto Marte está no ponto mais distante. De qualquer forma, na época de sua aproximação com a Terra, Marte geralmente domina as atenções dos astrofotógrafos planetários. Em 2018, a oposição de Marte será a mais espetacular dos últimos 15 anos, com 24 segundos de arco de tamanho aparente. Depois retrocederá até cerca de 14 segundos de arco, em 2027, voltando a tornar-se espetacular em 2035, com mais de 24 segundos de arco novamente. Não perca o evento de 2018. Marte é o único planeta em que você conseguirá registrar tanto características da superfície como atividades da atmosfera. Muitos detalhes de sua geologia são visíveis, com algumas áreas parecendo mais escuras e outras mais claras. Na atmosfera, é comum a visualização de nuvens brancas e, até mesmo, enormes tempestades de areia, capazes de cobrir todo o planeta. Um dos detalhes mais destacados da superfície de Marte é o branco de suas calotas polares formado pelo CO2 congelado. Os quatro outros planetas do Sistema Solar são os chamados gigantes gasosos, cuja atmosfera é densa demais para que se possa ver algum detalhe de suas superfícies. Na verdade, nem se pode dizer que estes planetas tenham uma superfície. Suas atmosferas são tão espessas que quanto mais se desce nestes planetas, mais a pressão vai aumentando, a níveis tão elevados que a partir de certa profundidade a matéria atinge o estado líquido e depois sólido, sem uma fronteira definida onde seja possível pousar com uma nave, por exemplo. Devido a estarem mais distantes, ao contrário dos planetas rochosos, o tamanho aparente dos gigantes gasosos varia pouco durante o ano. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 48 Júpiter está oito vezes mais distante da Terra do que Marte, mas seu enorme tamanho o torna o planeta de melhor visibilidade entre todos. É provavelmente o planeta mais fotografado por amadores. Também pudera, nenhum planeta apresenta tantos detalhes visíveis para telescópios amadores, nem tanta atividade. Sua atmosfera complexa e contrastante sempre apresenta uma enormidade de formações interessantes. Todos os dias surgem novas formações. Na verdade, a cada hora, devido à rápida rotação do planeta, já temos uma imagem bastante diferente de Júpiter. As quatro maiores luas de Júpiter: Europa, Io, Calisto e Ganímedes, só apresentarão detalhes em fotografias com telescópios maiores, mas a sua movimentação é um dos objetos de maior interesse entre todos os astrofotógrafos, pois podem ser registradas até com telescópios pequenos. Com modelos de 90mm de abertura já é possível registrar a sombra destas luas quando passam sobre o disco de Júpiter, propiciando flagrantes espetaculares da interação entre estes astros. Com um telescópio Ilustração 14: Júpiter, registrado com o mesmo equipamento da imagem anterior de Marte. A grande Marcha Vermelha, na parte inferior esquerda do planeta, é uma das formações mais misteriosas e fascinantes do Sistema Solar. Rodrigo Andolfato 49 de oito polegadas ou mais, uma boa câmera planetária e boas condições atmosféricas, é possível até capturar alguns detalhes sutis da superfície destas luas. Saturno é o segundo maior planeta do sistema solar e está duas vezes mais distante do que Júpiter. Destaca-se principalmente por seus fabulosos anéis. Estes anéis fazem de Saturno um objeto único no céu. Não existe nada comparável a eles no firmamento. Outros planetas possuem anéis. Recentemente descobriu-se até mesmo um asteroide que possui anéis, mas nenhum deles é visível aqui da Terra como os de Saturno, perceptíveis até mesmo através de um pequeno telescópio. Telescópios menores mostrarão os anéis de saturno como um único componente. Com um refrator de 90mm e uma boa câmera, a Divisão de Cassini, a mais evidente de todas, já fica bem definida. Através de telescópios grandes, é possível identificar um maior número de divisões. Ilustração 15: Saturno. Os magníficos anéis fazem do gigante gasoso um planeta único. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 50 O ângulo de Saturno varia muito em relação à Terra, fazendo com que os anéis cheguem a envolver completamente o planeta na inclinação máxima, que é de vinte e seis graus e ocorre a cada 29,5 anos. Os anéis também podem ficar totalmente de lado, praticamente desaparecendo, pois são muito finos em relação à sua extensão. Atualmente os anéis estão bastante abertos, mas também estão ficando cada vez menos visíveis. No ano de 2025 eles praticamente desaparecerão e voltarão a ficar visíveis com o passar dos anos. A atmosfera de Saturno possui bem menos contraste que a atmosfera de Júpiter, sendo difícil destacar detalhes. Geralmente somente com grandes telescópios, de 150mm ou mais de abertura, é possível captar maiores detalhes, sendo possível distinguir várias zonas horizontais na atmosfera do planeta. Raramente é possível ver nuvens isoladas, como vemos em Júpiter, mas algumas vezes surgem enormes tempestades, que podem ser visíveis em telescópios maiores. O traço permanente mais encantador da atmosfera de Saturno com certeza é o seu polo norte em forma de hexágono, que há muito tempointriga os astrônomos amadores. Somente telescópios amadores maiores são capazes de mostrar o hexágono com nitidez. Como os enormes anéis, este hexágono também é único no sistema solar e estará em sua visibilidade máxima em 2017. A partir daí, começará a se deslocar para trás, até desaparecer completamente e ficará invisível por décadas, oculto no lado escuro do planeta, num longo inverno. No polo sul de Saturno, fotos da sonda espacial Cassini mostraram que não ocorre formação hexagonal. Saturno tem várias luas registráveis com telescópios amadores, mas por estarem mais distantes do que as maiores Luas de Júpiter e, com exceção de Titan, serem bem menores, não é possível captar nenhum detalhe delas. Mesmo Titan não apresentará qualquer detalhe, pois é totalmente coberta por uma atmosfera densa e homogênea. A sombra das maiores Luas, passando pelo disco do planeta, pode ser captada, embora seja mais raro e mais difícil de registrar do que em Júpiter. Como são objetos muito pouco brilhantes, imagens de Saturno com suas luas exigem capturas separadas, com as luas sendo Rodrigo Andolfato 51 captadas com frames muito longos, de quase um segundo de exposição, e depois integradas à imagem do planeta, registrado separadamente. Urano e Netuno, os outros dois planetas gasosos do Sistema Solar, aparecem num telescópio amador como pequenos discos azulados esverdeados, com algum detalhe podendo ser captados somente com o uso de telescópios acima de dez polegadas e condições atmosféricas totalmente favoráveis. Plutão e os outros planetas anões aparecem ao telescópio amador como pequenos pontos de luz. Plutão tem alguns satélites bem próximos, mas está longe demais da Terra para que se consiga separá-los sem um telescópio de observatório profissional. Devido a serem muito pálidos, a captura de planetas anões deve ser feita com frames longos, de forma semelhante à captura de objetos de céu profundo, destacando a movimentação destes astros em relação às estrelas. Astrofotografia de cometas Dentro de nosso Sistema Solar, poucas coisas podem ser tão empolgantes quanto a fotografia de cometas. Estes astros tão singulares vêm encantando a humanidade há séculos, ou mesmo milênios. Uma das coisas mais legais sobre cometas é que você nunca sabe quando o próximo cometa espetacular vai aparecer. Cometas costumam ter órbitas regulares, mas geralmente elas são muito extensas e testemunhar um mesmo cometa duas vezes durante a sua vida é algo que exige muita saúde e sorte no calendário. O mais famoso de todos os cometas, o Halley, cruza a órbita de nosso planeta a cada setenta e seis anos. Eu tinha nove anos na última vez que ele passou, em 1986. Vou estar com cerca de 84 anos na próxima passagem. O Hale-Bopp, o Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 52 cometa mais espetacular que testemunhei até hoje, vai levar mais de quatro mil anos para passar de novo. Felizmente, novos cometas são descobertos o tempo todo. Milhares de astrônomos amadores dedicam noites e mais noites procurando estes objetos no Sistema Solar. Um dos motivos para isso é que os cometas levam o nome de seu descobridor e ter o seu nome num cometa de destaque, que fique meses visível a olho nu é uma das maiores glórias de um astrônomo. Cometas que atingem grande brilho atraem enorme atenção do público geral e da mídia. Boas fotos publicadas nesta época podem ganhar enorme destaque. Em média, pelo menos um cometa visível a olho nu aparece por ano. Eles movem-se rapidamente em relação aos outros objetos celestes e podem mudar de objetos pálidos para objetos espetacularmente brilhantes em questões de dias, quando se aproximam do Sol. Muitos cometas apresentam Ilustração 16: Cometa Pansstarts 2013 X1, passando perto da Nebulosa NGC 6188, durante o nono Encontro Brasileiro de Astrofotografia. Imagem registrada com lente de 200mm e câmera DSLR, com 7 frames de um minuto de exposição. Rodrigo Andolfato 53 caudas tão extensas que somente com lentes de grande campo podem ser capturadas na íntegra. Já os núcleos dos cometas são pequenos demais para serem registrados com detalhes. O registro de cometas é muito semelhante à captura de objetos de céu profundo. A maior diferença é que os cometas se deslocam muito rápido em relação às estrelas de fundo. Isso faz com que existam limites do tempo de exposição de captura quando o cometa está muito próximo à Terra. Astrofotografia lunar A Lua não é considerada pelos astrofotógrafos de céu profundo como uma aliada. Para quem quer fotografar galáxias ou nebulosas, ela é vista como um farol no céu, inundando os sensores com a luz que reflete do Sol e fazendo a maioria dos astrofotógrafos de céu profundo recolherem-se para a cama após o seu aparecimento. Os encontros de Astrofotografia de céu profundo são sempre marcados durante a Lua nova. Entretanto, há um velho ditado na Astrofotografia que diz: se a Lua não te deixa fotografar, fotografe a Lua. Com um tamanho aparente centenas de vezes maior do que qualquer um dos planetas, a Lua é um dos objetos celestes mais interessantes de se fotografar. Em telescópios maiores, o número de crateras, canais e montanhas visíveis parece ser infinito. Registrar cada detalhe possível de nosso satélite é um trabalho que pode render anos de estudo e diversão ao dedicado astrofotógrafo lunar. Uma coisa que pode chatear um pouco quem começa na Astrofotografia da Lua é o fato de nosso satélite natural estar preso à gravidade da Terra, ou seja, a rotação da Lua dura o mesmo tempo que o movimento de revolução, que ela faz ao girar em torno do nosso planeta. Isto faz com que o satélite esteja sempre com a mesma face voltada para nós. Certamente seria mais interessante se a Lua tivesse uma rotação diferente e a gente pudesse ver toda a sua superfície durante o mês e não somente parte dela. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 54 Mas a boa notícia é que, ao contrário do que muita gente pensa, a Lua apresenta significativas diferenças nos ângulos que sua face aponta para a Terra. Ela dá uma leve virada para os lados durante sua órbita. Este movimento é chamado de libração e permite com que cinquenta e nove por cento do satélite seja visível para nós, ao contrário de 50 por cento que seria visível caso a libração não existisse. Esta diferença de nove por cento representa cerca de três milhões e quatrocentos mil quilômetros quadrados a mais de superfície visível e mudanças muito interessantes na posição de crateras e montanhas localizadas no chamado limbo lunar, as bordas da área visível. As crateras da Lua são milhares, e podem parecer repetitivas à primeira vista, mas não é só no tamanho que elas variam. Muitas estão isoladas, outras fazem partes de grupos complexos, outras estão enfileiradas, revelando que o asteroide que as formou despedaçou-se antes de atingir nosso satélite Ilustração 17: Cratera Copernicus, uma das mais espetaculares da Lua. Imagem feita com refletor de 200mm. Rodrigo Andolfato 55 natural. Algumas crateras apresentam muros altos e picos proeminentes, mostrando o quanto são recentes (para os padrões astronômicos), enquanto outras foram encobertas por novos impactos, quase desaparecendo por debaixo deles. Grandes crateras recentes, como a da Ilustração 17, espalharam material em volta quando criadas. Além disso, quando as crateras vão entrando e saindo da parte iluminada pelo Sol, a forma como os raios solares as iluminam gera imagens diferentes da mesma cratera a cada registro. A área da Lua que se encontra entre a parte iluminada e a parte escurecida chama-se Terminator. Ela muda todos os dias e as crateras próximas a esta região estão no melhor ponto para serem registradas. Mas a Lua não é feita somente de crateras. Ela possui planícies, cadeias de montanha, antigos canais secos e até grandes desfiladeiros visíveisda Terra. Todos, é claro, ficam muito melhores para serem registrados quando próximos do Terminator. Registros das bordas lunares podem revelar interessantes picos montanhosos. Com um enquadramento horizontal, criamos a ilusão de estarmos voando sobre o satélite. O registro da Lua não é afetado pela poluição luminosa. Nosso satélite natural pode ser fotografado praticamente de qualquer região, mesmo de centros urbanos densos. Entretanto, tal como a fotografia planetária, a fotografia Lunar também é afetada por turbulência atmosférica, principalmente em grandes aumentos. Felizmente, fotografar a Lua não quer dizer que você precise propriamente de aumentos elevados. O aumento depende mais do objeto ou área que você quer fotografar ou da forma como quer apresentá-los. Uma imagem destacando uma grande área da Lua, feita com um pequeno refrator pode ser tão interessante quanto o close de uma cratera com um grande telescópio. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 56 O processo de fotografia Lunar é muito parecido com a captura planetária, com duas diferenças básicas: primeiro, praticamente não é necessário se preocupar com as cores, já que elas são tão pálidas na Lua que raramente são percebidas; segundo, é interessante capturar com maior resolução, o que torna a captação mais lenta, já que os frames demoram mais para serem transferidos da câmera para o computador. Felizmente, como a Lua quase não possui movimento na superfície, a captação de imagens lunares pode ser feita por mais tempo do que quando se está filmando um planeta com rápida rotação. Apesar de não exibir cores aparentes, a superfície da Lua é bastante colorida. Acontece que nossos olhos não conseguem perceber cores tão suaves, que nos parecem todas brancas ou cinzas. Imagens feitas com câmeras coloridas, ou composições Ilustração 18: A Lua, nascendo no horizonte de Brasília. Imagem feita com lente fotográfica de 200mm de distância focal. Rodrigo Andolfato 57 monocromáticas com filtros, podem ter suas cores realçadas, mostrando as diferenças de tonalidade entre as regiões da Lua. Estas imagens, além de bonitas, nos ajudam a entender a composição mineral da superfície lunar. A superfície da Lua não tem mais atividade geológica. O astro está praticamente morto. Não tem ventos, nem chuva. Por isso, as pegadas que Neil Armstrong e Buzz Aldrin deixaram ao serem os primeiros seres humanos a caminharem na Lua ainda devem estar por lá. Apesar dessa falta de atividade, a Lua ainda tem seus eventos. Às vezes, alguns pequenos asteroides se chocam com a superfície lunar, criando novos pontos de impacto ou mesmo pequenos brilhos repentinos. São eventos raros, mas possíveis de serem fotografados por astrofotógrafos muito dedicados. Se a superfície da Lua não se move muito, o satélite natural em si é com certeza o astro de maior movimento regular visto da Terra. Todos os dias, a Lua desloca-se por algo em torno de 13 graus no céu, ou seja, 26 vezes o seu tamanho aparente. A cada noite, a Lua nasce cerca de 50 minutos mais tarde no horizonte, e faz um caminho muito próximo ao percorrido pelos planetas. Não é raro que a Lua passe bem próxima, ou até mesmo na frente dos planetas, gerando eventos que são chamados respectivamente de conjunção e ocultação. Além disso, a Lua também pode passar pela sombra da Terra, quando esta se interpõe entre o satélite natural e o Sol, gerando os chamados eclipses lunares. Tal como acontece com a passagem de cometas, eclipses lunares são acontecimentos que chamam a atenção do público geral. Mesmo os leigos em Astronomia e a imprensa geral costumam dar atenção ao evento. Mesmo num dia qualquer, em que não esteja cruzando com algum astro ou com a sombra da Terra, a Lua pode render grandes espetáculos quando está próxima ao horizonte, nascendo ou se pondo, ao ser combinada com elementos de paisagem, como na Ilustração 18. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 58 Astrofotografia solar Acredito que nenhum objeto celeste consiga sozinho ser mais interessante e dinâmico do que o Sol. O fato de haverem vários modelos de telescópios caríssimos, equipados com filtros cuja única função é a Astrofotografia solar, reforça esta tese. Também não há dúvidas de que nenhum outro objeto celeste exige tanta atenção com segurança ao ser observado ou fotografado quanto o Sol. A energia que chega a Terra transmitida pelo Sol é milhares de vezes maior do que a energia recebida de todos os outros objetos celestes juntos, principalmente na forma de calor. É quatrocentos mil vezes maior do que a energia emitida pela Lua em sua fase cheia. O perigo é maior porque apontar uma lente fotográfica ou telescópio para o Sol sempre incorre em convergir a energia solar recebida pela objetiva num ponto muito pequeno, Ilustração 19: O Sol, registrado com o uso de filtro H-alpha solar, mostrando sua cromosfera e manchas solares. Rodrigo Andolfato 59 multiplicando a incidência de calor neste local, onde vão a ocular ou o sensor da câmera. Colocar o olho numa ocular num telescópio apontado para o Sol, sem um filtro especial para isto, poderá causar cegueira imediata. Se no local da ocular estiver um sensor de câmera, poucos segundos de exposição aos raios solares inutilizarão sua câmera. Sem filtros especiais, apontar um telescópio para o Sol deve ser evitado mesmo quando o astro estiver muito próximo ao horizonte. A observação e fotografia solar com telescópios deve ser feita somente com filtros adequados e sempre localizados à frente da objetiva, nunca no caminho da transmissão de luz, perto da ocular ou do sensor. É necessária muita atenção, pois mesmo quem possui os filtros corretos pode esquecer de instalar a proteção antes de olhar pela ocular ou acoplar sua câmera. Se você é do tipo distraído, pense duas vezes antes de iniciar na Astrofotografia solar. As características mais marcantes do Sol são as manchas solares, visíveis como pontos negros na superfície solar. São áreas mais frias, relacionadas à atividade magnética do Sol. As manchas na verdade brilham mais do que a Lua cheia, mas o contraste com o brilho imenso do resto da superfície torna o seu aspecto escuro. Normalmente o que vemos do Sol é a sua Fotosfera, a sua camada mais brilhante. Na Fotosfera, podemos ver as manchas e os grânulos solares. Mas o Sol possui uma camada acima da fotosfera que é particularmente espetacular: a Cromosfera. Nela que são visíveis, além das manchas, erupções, proeminências e as chamadas espículas. O problema é que esta camada é muito menos brilhante do que a Fotosfera e é transparente, ficando praticamente invisível diante do brilho da Fotosfera. Mas há filtros e telescópios solares especiais que praticamente apagam a fotosfera, deixando passar somente a frequência de luz emitida pela Cromosfera, e que tornam a Astrofotografia solar muito mais interessante. O Sol, como a Lua e os planetas, também caminha rápido pela esfera celeste, proporcionando alguns eventos interessantes, que, como tudo relacionado ao Sol, são Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 60 espetaculares. Certamente o mais celebrado deles, talvez o mais celebrado entre todos os eventos celestes visto da Terra, é o eclipse solar, que ocorre quando a Lua se alinha entre o Sol e a Terra, com sua sombra cobrindo completamente o disco solar e transformando o dia em noite em algumas regiões do globo terrestre, permitindo, a quem estiver sob a sombra da Lua, registrar a Coroa Solar e até erupções da cromosfera mesmo sem filtros dedicados. O eclipse solar é um evento raro e localizado. É comum muitos astrofotógrafos gastarem milhares de dólares para viajarem a países distantes, onde o eclipse será visível. Mas lembre-se, como qualquer evento astronômico, o acompanhamento de um eclipse solar está sujeito aos humores do clima local.Viajar para ver um eclipse incorre sempre no risco de você se deparar com um dia nublado bem na hora do evento. Segue um conselho para quem quer embarcar neste tipo de aventura. Já que está indo conhecer outro país, faça também uma programação turística para a região. Isso diminuirá a “dor” caso o céu esteja nublado bem no dia do eclipse. As posições do Sol e da Lua podem produzir diferentes eclipses solares. Caso a Lua não cubra totalmente o Sol, irá gerar o eclipse solar parcial, onde é possível ver uma parte da Lua passando sobre o Sol. O eclipse também pode ocorrer num momento em que a Lua esteja num ponto mais distante de sua órbita em relação à Terra e o Sol mais próximo, fazendo com que o tamanho aparente da Lua esteja menor do que o do Sol, não permitindo que nosso satélite cubra o Sol totalmente. Este Ilustração 20: diferentes tipos de eclipse solar Rodrigo Andolfato 61 evento é chamado eclipse anular, em que o Sol se torna um anel de fogo (Ilustração 20) Outros dois eventos muito empolgantes que ocorrem com o Sol são os trânsitos dos planetas Vênus e Mercúrio, que como estão mais próximos da nossa estrela do que a Terra, às vezes passam em frente ao Sol. Como Vênus é maior, mais próximo da Terra e possui atmosfera, sua passagem em frente ao Sol é um evento mais espetacular do que a passagem de Mercúrio. Infelizmente, Vênus só vai passar na frente do Sol novamente em 2117. Por isso, se você perdeu o último trânsito de Vênus, desconsidere este evento de seu calendário astronômico. O Trânsito de Mercúrio vai exigir um telescópio um pouco melhor para que você consiga registrar o pequeno ponto gerado pelo planeta à frente do Sol, mas, pelo menos, ocorrerá novamente já em 2019. Se você está lendo este livro depois de 2019, calma, você não precisa se preocupar em como viver mais cem anos para ver o próximo trânsito de Mercúrio. Em 2032 e 2039 eles voltam a ocorrer. Ao menos você terá muito tempo para se planejar. Astrofotografia científica Este é um tipo de Astrofotografia muito valorizado, e com toda razão. Tecnicamente toda Astrofotografia de céu profundo ou planetária pode ser usada como científica, mas consideramos como Astrofotografia científica aquela que é feita não com o intuito de se produzir uma imagem esteticamente bela, mas analisar pedaços do céu ou objetos específicos, com o objetivo de adquirirmos uma melhor compreensão do universo. Uma das coisas mais fascinantes da Astrofotografia é que mesmo o registro mais simples pode conter algo espetacular. Um pequeno ponto luminoso desconhecido surgindo numa captura rápida e com equipamento simples pode revelar algo fantástico. Ele pode ser uma supernova, um cometa, um asteroide, ou uma estrela variável de comportamento Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 62 misterioso. O grande diferencial para a prática da Astrofotografia científica é a exigência de grande conhecimento de Astronomia para análise dos dados da imagem. Muitas vezes, uma astrofoto feita com fins estéticos por um astrofotógrafo amador pode se tornar uma imagem científica nas mãos de um astrônomo que nada entende de Astrofotografia, mas tem grande conhecimento em Astronomia científica. Outras vezes, a diferença pode estar não no conhecimento, mas na atenção dada à imagem. Mesmo astrônomos amadores iniciantes sabem que um novo ponto brilhante que aparece na imagem de uma galáxia pode ser uma supernova, mas muitas vezes simplesmente não nos atentamos à presença dele. Devido à minha falta de tempo, a astrofotografia científica é muito difícil para mim. Eu praticamente não fotografo com este objetivo. Mas tenho razões para acreditar que poucas coisas devem ser mais emocionantes do que descobrir uma supernova ou cometa. Agora que você sabe um pouco sobre os tipos de Astrofotografia que existem, deve pensar bem sobre que tipo de astrofotógrafo você quer ser. Nada o impede de tentar todas as áreas da Astrofotografia, mas você terá que ter um grande número de equipamentos, habilidades e principalmente, tempo para isso. Fotografar e processar imagens do Sol durante o dia poderá esgotar sua energia guardada para a sessão astrofotográfica noturna e vice-versa. A fotografia planetária poderá consumir tempo que você poderia usar para maiores tempos de exposição em DSOs. Essas coisas podem parecer bobas, mas conheço astrofotógrafos de céu profundo que há anos dizem querer começar a fotografar planetas, mas nunca encontram tempo entre suas capturas além do Sistema Solar. Rodrigo Andolfato 63 Galeria 1 A Belíssima galáxia de Andrômeda (M33). A principal galáxia do Grupo Local está a cerca de 2 milhões de anos luz da Terra e aproxima-se da Via Láctea. Em alguns bilhões de anos as duas galáxias se juntarão. Imagem feita num céu muito escuro, com lente de 200mm Canon EF 2.8L USM II em F4, Câmera Canon T2i modificada e Tracker da Ioptron. Foram 82 lighframes de 60 segundos em ISO 800, integrados no Deep Sky Stacker Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 64 A ESCOLHA DE SOFIA (Aquisição de equipamentos) Rodrigo Andolfato 65 A Astrofotografia depende de três equipamentos básicos para ser realizada: tubo óptico, câmera e montagem. O tubo óptico é um telescópio ou lente. Caberá a este instrumento receber a luz e convergir os raios luminosos para o sensor, de preferência sem desvios significativos que alterem a qualidade da imagem. A câmera vai acoplada ao tubo óptico. O sensor da câmera recebe a luz, converte em informação digital e envia esta informação para o computador. A montagem é responsável por carregar o tubo óptico e a câmera, fazendo com que acompanhem o movimento dos astros celestes, corrigindo os efeitos da rotação da Terra. A aquisição do seu equipamento, ou como muitos astrofotógrafos chamam “setup astrofotográfico”, é um estágio que de forma alguma pode ser subestimado pelo iniciante. Posso até dizer que é o momento mais decisivo que um novo astrofotógrafo enfrentará. Alguns astrofotógrafos azarados (ou afobados), depois que compram o setup errado, passam anos insistindo nele. Muitas vezes porque têm enorme dificuldade de aceitar que cometeram um erro na hora da compra. Já vi astrofotógrafos “surtando” em fóruns astronômicos, após anos de frustrações em suas tentativas astrofotográficas, bravejando contra a Astrofotografia, afirmando que é uma atividade impossível. Quem estivesse acompanhando a discussão que vinha a seguir, logo percebia que o desafortunado colega havia comprado um setup errado e insistido com ele por muito mais tempo do que deveria. Há muitas formas de errar na hora de adquirir o seu setup astrofotográfico. Pode ser adquirindo equipamentos de baixa qualidade, com telescópios de óptica pobre, montagens frágeis e imprecisas ou câmeras que não servem para Astrofotografia. Você pode, por exemplo, morar num apartamento e precisar se deslocar para tirar fotos. Neste caso, deve se preocupar com a portabilidade do equipamento. Mesmo usado em casa, um setup muito demorado e complicado de preparar pode desencorajar sessões fotográficas frequentes, sendo mais adequado para quem tem um observatório amador fixo e não precisa montar Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 66 tudo a cada sessão astrofotográfica. Setups complicados de montar podem gerar bons resultados, mas normalmente se tornam sinônimos de cansaço durante a captura. Adquirir um telescópio pesado, de grande distância focal, que produz grandes aumentos e uma câmera com sensor muito pequeno, com a intenção de se capturar céu profundo também acarretará em mais dificuldades. Enquanto câmeras com sensores muito grandes são pouco tolerantes a telescópios com deficiências ópticas nas bordas, exigindo a aquisição de bons modelos e corretores. O capítulo sobre equipamentosé longo, não apenas pela importância do assunto, mas também pela enorme variedade de modelos de telescópios, câmeras e montagens existentes, além da enorme gama de acessórios que existem visando a Astrofotografia. E esta variedade tende apenas a aumentar, pois o mercado de equipamentos astrofotográficos está bastante aquecido, com a atividade se popularizando cada vez mais entre os amantes da Astronomia no mundo. Ilustração 21: Telescópio, câmera e montagem. Os instrumentos básicos da Astrofotografia. Rodrigo Andolfato 67 TELESCÓPIOS Telescópio é o instrumento óptico astronômico responsável pela captação da luz. Há uma certa falta de consenso em relação ao termo telescópio. Alguns chamam de telescópio somente os telescópios refletores, enquanto denominam os refratores de lunetas. Outros chamam de telescópio somente se o tubo óptico já estiver acompanhado da montagem, chamando o tubo óptico de OTA (Optical Tube Assembly), enquanto para outros, somente o tubo óptico é o telescópio. Neste livro, chamo tanto refratores como refletores de telescópio e uso o termo tubo óptico somente quando for relevante separar este da montagem. Quem já pesquisou sobre os modelos e marcas de telescópios existentes percebeu que não se trata de uma compra simples. No mercado para Astronomia amadora existem desde mini refratores, com 50mm de abertura, até enormes cassegrains, com objetivas de quase um metro de diâmetro. E os preços podem ir do equivalente a uma bicicleta ao que seria suficiente para a aquisição de um apartamento. Mas não é apenas o tamanho da objetiva que gera esta variação. O tipo da óptica e a qualidade da fabricação fazem com que existam telescópios com a mesma abertura e preços com diferenças de dezenas de vezes. Componentes de um telescópio (somente tubo óptico) Objetiva: é o principal elemento de um telescópio. Ela é responsável pela captação e convergência da luz para o sensor da câmera. A objetiva pode ser um espelho ou uma lente. Quando for uma lente, o telescópio é chamado de refrator, quando for um espelho, o telescópio é um refletor. Existem telescópios que combinam lentes com espelhos, como os cassegrains, mas nestes casos a função das lentes não é convergir a luz, mas fazer correções, por isso os cassegrains também são considerados refletores. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 68 As objetivas podem ser feitas dos mais diversos tipos de material. As lentes dos refratores mais caros são feitas com produtos que dispersam o mínimo possível a luz, para diminuir a aberração cromática provocada pela refração da luz. Já telescópios refletores possuem uma camada refletiva sobre uma superfície de cristal ou metal. Duas décadas atrás, era comum que esta camada se desgastasse após alguns anos, exigindo que fosse renovada, mas hoje, as técnicas modernas de fabricação de espelhos permitem que você use refletores por muitos anos sem necessidade de repor a camada reflexiva. O diâmetro e a curvatura da objetiva são responsáveis pelas características mais importantes de um telescópio: abertura e distância focal, que estudaremos com mais detalhes logo adiante. Tubo: É a estrutura que carrega a objetiva. Ela geralmente é construída numa peça única em metal, com diâmetro um Ilustração 22: Esquema com os principais componentes do tubo óptico de um telescópio refrator e de um refletor newtoniano. Rodrigo Andolfato 69 pouco superior ao da objetiva. Mas, em telescópios muito grandes, o tubo pode ser composto por barras modulares, mais leves e finas. Também existem modelos feitos de fibra de carbono, que são mais leves, embora mais caros que os modelos em aço ou alumínio. Tubos de telescópios refratores possuem “blaffles” em seu interior, que são obstruções que bloqueiam luzes parasitas que possam atrapalhar a imagem, principalmente reflexos internos. Focalizador: é geralmente a única parte móvel de um tubo óptico. Sua função é aproximar ou afastar o porta ocular, para que a ocular, ou, em nosso caso, o sensor, fique exatamente no ponto focal da luz convergida. Trata-se de uma peça chave na Astrofotografia, pois um foco exato é um dos procedimentos mais críticos para uma boa imagem. Um focalizador ruim pode transformar a experiência de focalizar num martírio para qualquer astrofotógrafo. O focalizador precisa ser bem construído mecanicamente, com metal de qualidade e boa durabilidade. Se ao ler qualquer opinião negativa sobre um focalizador vinda de uma publicação especializada ou do dono de um telescópio ao qual você pretende comprar, aconselho seriamente a repensar sobre a aquisição ou já ter em mente um focalizador substituto. Prefira sempre telescópios com focalizadores com duas velocidades, como os crayfords. É muito vantajoso ter uma opção rápida no início do processo, para quando você está procurando a posição aproximada do foco, e uma opção lenta, mais precisa, para um ajuste final mais fino. Em telescópios com razões focais curtas, um focalizador de duas velocidades é obrigatório, pois quanto menor a razão focal de um telescópio, maior o ângulo de convergência da luz, tornando mais difícil conseguir um foco mais exato. O focalizador deve ter um parafuso para travamento, para que o foco seja mantido firme durante a captura, sem risco que o peso da câmera desloque o porta ocular para cima ou para baixo. A própria rodagem do foco deve ser firme, para que o focalizador não faça nenhum movimento quando você o soltar. Este movimento é chamado backlash e pode acontecer também quando você fecha o parafuso de trava. Telescópios baratos Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 70 costumam ter focalizadores que apresentam graves problemas de backlash, tornando um foco perfeito muito difícil. Porta ocular: está localizado preso ao focalizador, sendo também um componente deste. É onde será colocado a câmera usada na Astrofotografia. Trata-se de um orifício para o encaixe de oculares, com um ou dois parafusos para firmar a ocular por pressão. Para ser utilizado com câmeras, esta precisa ter um adaptador, para que se encaixe no porta ocular como se fosse uma ocular. Apesar de ser uma peça simples, é importante avaliar algumas características do porta ocular. O primeiro ponto que você deve prestar atenção é no tamanho da saída do porta ocular. No mercado existem dois padrões, 1,25” e duas polegadas. Alguns telescópios mais baratos podem possuir saídas menores. Fuja deles. Se puder, adquira um telescópio com a saída de duas polegadas, afinal, para se encaixar acessórios de 1,25” em saídas de duas polegadas basta usar um adaptador simples que geralmente já acompanha todos os telescópios que tenham saída de duas polegadas. Já um adaptador para encaixar acessórios de duas polegadas numa saída de 1,25 é algo bem raro, até porque, dependendo do setup utilizado, nem vale a pena se o porta ocular obstruir parte da luz que chegaria ao sensor da câmera, prejudicando a imagem e gerando vinhetagem. Outra questão bastante importante em Astrofotografia é a forma como o porta ocular encaixa a câmera e os acessórios. Em muitos telescópios, mesmo bons modelos, isto é feito com um ou dois parafusos por pressão. O problema é que muitos fatores podem fazer com que a pressão que esses parafusos exercem sobre o adaptador da câmera seja reduzida durante a noite, o que pode fazer com que o sensor da câmera saia do ponto focal, ou pior, causar a queda de todo o conjunto fotográfico. Os fatores que mais podem influenciar nesta perda de pressão dos parafusos do porta ocular são mudanças de temperatura, com o porta ocular dilatando-se em relação ao adaptador de encaixe, ou umidade, com água acumulando nas peças e agindo como um lubrificante. Esse risco é muito mais Rodrigo Andolfato 71 elevado se você estiver usando uma câmera grande, rodas de filtros e outros acessórios como barlows e redutoresfocais, formando um conjunto fotográfico de peso. Quando fotografando num refletor do tipo newtoniano, com o focalizador apontado para cima, não há chance que o conjunto despenque, apenas abaixe. Mas em refratores ou cassegrains o risco de queda é bastante elevado, pois nestes telescópios o focalizador aponta para baixo durante a Astrofotografia. Alguns telescópios permitem que você encaixe a câmera e os acessórios fotográficos no porta ocular através de uma rosca, que pode ser do tipo M42 ou maior, garantindo total segurança e permitindo usar câmeras maiores, com rodas de filtros e outros acessórios, inclusive motorização na roda de filtros, sem medo que a noite termine em tragédia. Se possível, prefira um telescópio com porta ocular que possua a opção de encaixe do tipo rosca. Vale lembrar que em bons telescópios, os parafusos de pressão do porta ocular não entram em contato diretamente com o adaptador da câmera ou oculares. Há um anel de metal dentro do porta ocular que é empurrado pelos parafusos de pressão, abraçando o acessório encaixado no porta ocular de forma mais firme e sem permitir que o parafuso de pressão arranhe o acessório. Em telescópios muitos baratos há somente o parafuso de pressão pressionando o acessório. Evite este tipo de porta ocular. Dew shield: trata-se de uma peça que funciona como uma extensão do tubo do telescópio, ficando à frente da objetiva. Sua função é proteger a objetiva de impactos e evitar a entrada de luzes parasitas durante a captura. É muito útil quando há alguma lâmpada próxima que o astrofotógrafo não tem acesso e não pode desligar, como postes de iluminação pública. Também ajuda a diminuir a condensação na objetiva, problema comum quando se fotografa em regiões rurais. Como em telescópios refratores a lente está bem à frente do tubo óptico, eles são sempre vendidos com dew shields. Alguns modelos permitem retrair o dew shield na hora de guardar o telescópio, para torná-los menores e mais portáteis. Telescópios refletores newtonianos não costumam acompanhar Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 72 este acessório, já que a objetiva está no fundo do tubo, mais protegido de luzes parasitas e da umidade. Mas em alguns casos, quando se está em áreas muito úmidas, pode ser interessante o uso de dew shield nesse tipo de telescópio, já que o espelho secundário, ao contrário do primário, está muito próximo da saída do tubo, sendo afetado pela umidade com mais facilidade. Refletores do tipo cassegrain podem ou não já serem adquiridos com dew shield, mas este é um acessório muito interessante para este tipo de telescópio, já que as lentes corretoras estão na saída do telescópio e podem embaçar facilmente. Anéis de fixação e dovetail: A função destes componentes é firmar o tubo óptico na montagem. Os anéis de fixação são braçadeiras de metal que fixam o tubo óptico ao dovetail, enquanto este é a peça que encaixa na montagem. Enquanto os dovetails são peças genéricas, geralmente vendidas em dois padrões, Vixen (mais estreito) ou Losmandy (mais largo), os anéis de fixação devem ter exatamente a espessura de seu telescópio. Também é recomendado que os dovetails não sejam muito curtos, caso o telescópio seja mais comprido. Características básicas de um telescópio Todo telescópio, não importa se for a lunetinha exposta na loja de presentes do Shopping ou o maior telescópio de observatório existente, possui três características fundamentais: abertura, distância focal e razão focal. Estas três características são determinadas pela objetiva do telescópio, sendo que os outros componentes do tubo óptico são construídos a partir dela. Abertura: é o diâmetro da objetiva, medido em milímetros ou polegadas, e determina o nível de brilho e a definição de um telescópio. Quanto maior for o diâmetro da objetiva, mais luz será captada e mais definição teremos. Para observação visual, os telescópios que produzem as melhores Rodrigo Andolfato 73 imagens são sempre os que têm a maior abertura, desde que tenham exatamente a mesma qualidade óptica, é claro. Quanto maior for a abertura, maior será a clareza com que os detalhes dos objetos celestes aparecerão na imagem, principalmente quando utilizados grandes aumentos. Em Astrofotografia, além de maior definição, mantendo- se a distância focal, mais abertura também significa que o telescópio transmitirá mais luz para o sensor, encurtando o tempo de exposição necessário para uma captura. A diferença de velocidade de captação de luz entre dois telescópios com aberturas diferentes e mesma distância focal é a diferença de abertura elevada ao quadrado. Um telescópio com o dobro de abertura transmitirá luz quatro vezes mais rápido que o seu equivalente com a metade da abertura. Afinal, quando você dobra o diâmetro da objetiva, multiplica a área de absorção de luz em quatro vezes, assim por diante. A conclusão é que, mantendo-se as outras características, o telescópio de maior abertura produzirá em um minuto de exposição a mesma imagem que o menor produz em quatro minutos. Distância focal: É a distância entre a objetiva e o ponto focal produzido por ela (Ilustração 24). Quanto maior for a Ilustração 23: Dois telescópios refratores de mesma distância focal, mas o segundo com o dobro da abertura do primeiro. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 74 distância focal, maior será o aumento do telescópio. Um telescópio de 100mm de abertura, com uma distância focal de 400mm, entrega um aumento de 40 vezes quando com uma ocular de 10mm. Já um telescópio com distância focal de 800mm, entrega 80 vezes de aumento com a mesma ocular. Dobrar a distância focal implica dobrar o aumento. Entretanto, se um telescópio com mais distância focal entrega uma imagem maior, significa também dizer que está projetando um campo menor da imagem na mesma área de captação, o que também significa que menos da luz captada está sendo enviada para o sensor. Logo, chegamos à conclusão de que, quanto maior for a distância focal, mais lenta será a captura de luz e escura será a imagem. A diferença de velocidade entre dois telescópios com distâncias focais diferentes é o quadrado da diferença das distâncias focais. Duas vezes mais distância focal para um telescópio de mesma abertura equivalem a quatro vezes menos luz sendo absorvida num mesmo período. Três vezes, equivalem a nove vezes menos luz, e assim por diante. Se o aumento da distância focal de um telescópio for acompanhado de um aumento equivalente da abertura (Ilustração 25), a velocidade de captação será mantida, mas o novo telescópio apresentará um aumento proporcional à elevação da distância focal, acompanhado também de mais definição dos objetos fotografados. Mas lembre-se: se o sensor da câmera utilizada for do mesmo tamanho, mais aumento também equivale a uma área menor do céu a ser capturada. E, dependendo do objeto, ele pode não caber inteiro no campo da câmera, mostrando apenas um pedaço da galáxia ou nebulosa que está sendo fotografada. Sem contar que este novo telescópio também deverá ser muito maior e seu peso será superior numa proporção elevada ao cubo em relação à diferença de abertura. Não existe telescópio com distância focal adequada para todos os tipos de objetos de céu profundo. Sempre haverá nebulosas e campos estelares grandes demais ou galáxias e Rodrigo Andolfato 75 nebulosas planetárias pequenas demais. Mas, no geral, um telescópio com distância focal entre 600mm e 1000mm é capaz de fotografar a grande maioria dos objetos conhecidos com uma câmera com um sensor de tamanho equivalente ao das DSLRs mais acessíveis. Muitos astrofotógrafos têm mais de um telescópio, com distâncias focais diferentes, sendo um pequeno refrator para nebulosas próximas e um grande refletor para galáxias distantes. É comum também que astrofotógrafos especializados em céu profundopossuam lentes fotográficas, com distâncias focais variadas para objetos de grande campo. A abertura de um telescópio é geralmente percebida pela espessura do tubo óptico, mas a distância focal tem bem mais possibilidades de ser bem diferente daquela indicada pelo comprimento do tubo. Existem duas ocasiões em que isso ocorre. Uma delas é quando um telescópio contenha uma lente em seu interior, chamada de relay. Trata-se de um corretor óptico interno com a função de aumentar a distância focal. Esse tipo de adaptação é encontrado em telescópios refletores newto- nianos muito baratos e em nenhum caso é recomendado Ilustração 24: Dois telescópios refratores de mesma abertura, sendo que o segundo tem o dobro da distância focal do primeiro Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 76 comprar um equipamento com este artifício, pois apresentam baixa qualidade de imagem e dificuldades enormes para serem ajustados. Se você ver um refletor newtoniano cuja especificação informe que ele tem, por exemplo, 900mm de distância focal, mas o tubo não parece ter mais do que 45 centímetros de comprimento, evite. Mas existe um tipo de telescópio cuja distância focal é muito maior do que indica o seu tubo óptico e que, ao contrário do caso anterior, é celebrado pela sua qualidade óptica: o telescópio do tipo cassegrain. Isso acontece porque este designe de telescópio deixa a luz passar por uma lente corretora, atingir o espelho primário no fim do tubo, voltar para um espelho secundário côncavo no início do tubo, para só então ir mais uma vez para o fim do tubo, passar através de uma pequena obstrução no espelho primário, e chegar até o sensor da câmera. Ou seja, a luz dá muitas voltas dentro do tubo óptico antes de ser projetada no sensor, permitindo um telescópio de grande distância focal, mas também de grande portabilidade. Mais para frente falaremos mais sobre os telescópios cassegrains. Razão focal: é a relação entre distância focal e a abertura de um telescópio, calculada dividindo-se a distância focal pela abertura. Por exemplo, um telescópio de 800mm de distância focal e 200mm de abertura terá uma razão focal F4, pois 800 dividido por 200 é igual a 4. Mas se um espelho de 200mm de abertura tem uma distância focal de 1600, dizemos que é um telescópio com razão focal F8, já que 1600 dividido por 200 é igual a 8. Para uma mesma abertura, a razão focal sobe na mesma proporção do aumento da distância focal. Duas vezes mais distância focal equivalem a uma razão focal duas vezes maior. Rodrigo Andolfato 77 A razão focal está ligada diretamente com a velocidade de captura. Quanto menor a razão focal, mais rapidamente o telescópio captura luz. A diferença de velocidade entre dois telescópios é o quadrado da diferença de razão focal. Um telescópio com razão focal F2 será quatro vezes mais rápido do que outro com razão focal F4 e dezesseis vezes mais rápido do que um telescópio F8. Em astrofotografia, um telescópio mais rápido será sempre melhor do que um telescópio mais lento. O grande problema é que, quanto menor a razão focal de uma objetiva, mais difícil é a sua construção. Um telescópio de menor razão focal necessita de um processo de produção muito mais aprimorado do que telescópios de razão focal maiores e por isso são muito mais caros ou terão uma qualidade de imagem muito inferior a seus irmãos com razões focais maiores, apresentando níveis de aberração óptica capazes de destruir sua captura. Ilustração 25: Dois telescópios com a mesma razão focal, com o segundo possuindo o dobro da abertura e distância focal do primeiro. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 78 Aberrações ópticas Produzir um espelho ou lente com óptica perfeita não é nada fácil. Na verdade, pouquíssimos telescópios e lentes fotográficas conseguem fornecer uma imagem sem qualquer distorção, principalmente quando são usados com câmeras com sensores grandes, pois isso exige uma óptica perfeita numa área maior de captura, o que é ainda mais difícil de produzir. Até telescópios caros podem apresentar distorções na transmissão de luz, visíveis principalmente nas bordas das imagens. As distorções provocadas pelos telescópios são chamadas de aberrações. Um telescópio ruim produzirá imagens com muitas aberrações, de forma intensa e perceptível por qualquer pessoa, mesmo no centro da imagem. Um bom telescópio produzirá aberrações de forma bastante sutil, geralmente perceptíveis somente por astrofotógrafos mais experientes. Um telescópio excelente não produzirá nenhuma aberração. Mas vale dizer que até muitos dos melhores telescópios podem precisar de acessórios ópticos para atingir uma imagem totalmente livre de aberrações ópticas. Ilustração 26: Imagem capturada com lente de 135mm. Detalhe do centro da imagem (1) revela a presença de halos em volta das estrelas, causado por aberração cromática. No canto da captura (2), além da aberração cromática, percebemos a presença de coma, com as estrelas parecendo estarem correndo para o centro. Rodrigo Andolfato 79 As aberrações mais comuns que os telescópios apresentam são: − Aberração cromática: É um tipo de aberração óptica presente em lentes fotográficas e telescópios refratores. É visível principalmente nos modelos mais baratos. A luz branca, quando passa através do vidro das lentes, tende a se dispersar, fazendo com que o ponto focal não seja o mesmo para todas as faixas de cores, com a luz azul separando-se da luz vermelha. Isso faz com que a imagem chegue ao sensor apresentando halos azuis ou vermelhos (Ilustração 26, ao centro). Em telescópios muito ruins, estrelas nas bordas podem até mesmo chegar ao sensor triplicadas. A aberração cromática não pode acontecer em telescópios com componentes ópticos feitos por espelhos, como os refletores newtonianos, pois, neste tipo de telescópio, a luz não atravessa nenhum material ao ser refletida. Mas se o telescópio estiver com algum acessório óptico de qualidade ruim, pode surgir aberração cromática na imagem. Imagens planetárias ou mesmo lunares feitas com câmeras coloridas também podem ser bastante afetadas por aberrações cromáticas, com franjas azuis ou vermelhas em volta dos astros fotografados. Ilustração 27: Exemplo de curvatura de campo. Nesta imagem, com lente de 135mm, as estrelas estão pontuais no centro da imagem (1), mas próximo às bordas (2), as estrelas estão maiores (gordas) indicando curvatura de campo no conjunto óptico. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 80 − Coma: Trata-se de uma distorção na formação da imagem, que a estica do centro para fora, principalmente nas bordas, fazendo parecer que as estrelas estão correndo para longe do centro (Ilustração 26, à direita). − Aberração esférica: ocorre em lentes e espelhos em que parte dos raios que emergem da borda do espelho ou lente não atingem o ponto focal, enquanto os raios que emergem do centro da objetiva atingem o ponto focal em maior proporção. Como resultado, ocorre a diminuição do contraste e da nitidez mais próximo das bordas da imagem, além de criar halos em volta das estrelas nesta região, como se as estrelas estivessem borradas. A aberração esférica tem este nome por ser característica de espelhos e lentes com a curvatura esférica, geralmente mais baratos, não ocorrendo em componentes ópticos com curvatura parabólica, mais difíceis de fazer. − Curvatura de campo: Ocorre porque a luz emitida pela objetiva converge em planos diferentes, fazendo que a imagem esteja focada no centro, mas fora de foco nas bordas. O resultado são estrelas mais gordas nesta região da imagem (Ilustração 27). − Spikes (Ilustração 28): tratam-se de pontas brilhantes que surgem em torno das estrelas mais destacadas numa imagem de céu profundo. São um tipo de aberração muito comum com telescópios refletores cujo espelho secundárioé preso por hastes de metal, como refletores newtonianos e Ritchey-Chrétiens. Também ocorrem em lentes fotográficas, quando estão parcialmente fechadas, devido às lâminas do diafragma. Em fotos com estrelas muito brilhantes, as pontas de uma estrela podem chegar a cruzar toda a imagem. Em telescópios refletores, o número de pontas depende do número de hastes do suporte do espelho secundário (geralmente três ou quatro) chamado de aranha. Alguns telescópios refletores chegam a ter as hastes curvas para diminuírem a formação de spikes. Em lentes, o número de pontas dos spikes costuma ser maior, de acordo com a quantidade de lâminas do diafragma. Rodrigo Andolfato 81 Algo muito interessante sobre os spikes em relação aos outros tipos de aberrações é que na verdade muitos astrofotógrafos gostam do efeito causado por essas distorções. A coisa chega a tal ponto que não é raro vermos donos de telescópios refratores, que não produzem spikes, colocando cordões alinhados em forma de cruz na frente de seus telescópios para simularem a aranha de um refletor. Outros astrofotógrafos inserem spikes digitalmente na imagem na hora do processamento final. Inclusive alguns softwares respeitados de processamento de Astrofotografia têm um comando para inserir spikes automaticamente em estrelas mais brilhantes. Esse tipo de recurso costuma fazer a alegria do público leigo em Astrofotografia, que se encantam com o aspecto de “cartão de natal” que estas fotos adquirem, mas não é bem-visto pelos astrofotógrafos mais experientes. Ainda assim, tenho que admitir que uma imagem de um aglomerado aberto com spikes naturais, e não desenhados por um software, tem o seu charme. Ilustração 28: NGC6960 - Nebulosa do Véu do Oeste, capturada com telescópio refletor newtoniano de 200mm. Os spikes da brilhante estrela 52 Cyg foram provocados pelas hastes da aranha do espelho secundário. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 82 Modelos de Telescópios Além das características básicas dos tubos ópticos, é muito importante entender os modelos mais populares que existem. Os telescópios se dividem em basicamente dois “reinos”, são eles, os refratores e os refletores. Refratores Telescópios refratores também são chamados de lunetas. Suas objetivas são compostas por lentes de vidro ou cristal transparentes. A curvatura em sua superfície faz com que a luz que atravessa as lentes seja direcionada até o ponto focal, onde será captada pelo sensor (Ilustração 29). Este processo da luz atravessando um material chama-se refração. Como dito no tópico sobre aberração cromática, telescópios refratores tendem a gerar este tipo de aberração. E as desvantagens dos refratores não param por aí. O material utilizado para a fabricação de boas lentes é mais caro do que o usado para a fabricação dos espelhos usados por refletores. Além disso, para se produzir uma imagem com qualidade aceitável, é necessário no mínimo duas lentes, muitas vezes de grande espessura. Tudo isso torna telescópios refratores normalmente bem mais caros e pesados do que os refletores de mesma abertura. Um bom telescópio refrator de 200mm custará várias vezes o preço de um refletor de mesma abertura e será muito mais pesado. Mas os refratores têm suas vantagens. Como toda a luz recebida vai da objetiva até o ponto focal sem ser obstruída, a imagem final apresenta mais contraste do que um refletor de mesma abertura, além disso, o espelho secundário, necessário aos refletores, dificulta que bons refletores de baixa distância focal sejam construídos. Por isso, bons refratores são os telescópios preferidos quando se quer uma imagem com menor distância focal, que gere maior campo. Rodrigo Andolfato 83 Os refratores não são bons telescópios grandes, por serem mais caros e difíceis de construir, mas são ótimos telescópios menores, por não terem a obstrução do espelho secundário. Até aberturas de 120mm, o mercado de telescópios astrofotográficos é dominado por refratores. A partir daí os refletores passam a dominar o pedaço. Mesmo nos dias de hoje, você vai encontrar textos na Internet dizendo que, para reduzir a aberração cromática, telescópios refratores necessariamente devem ter razão focal elevada, de F/10 ou mais. Mas isso vem de quando só existiam os chamados refratores acromáticos, que eram constituídos de duas lentes simples. Aqueles refratores de 50mm ou 60mm de abertura, vendidos em lojas de presentes de shoppings, com anúncios de aumentos de até 675 vezes, são todos acromáticos. Refratores compridos de 70mm a 90mm, vendidos por 100 a 300 dólares também são acromáticos. Há ainda os chamados “shortubes”, telescópios refratores acromáticos de 70mm a 150mm de abertura com razão focal entre F/4 e F/5. São telescópios refratores rápidos vendidos a preços tentadores, interessantes para observação casual, mas que causam horror mesmo em astrofotógrafos pouco exigentes. Devido à enorme aberração cromática que apresentam, praticamente impossibilitam que você veja um planeta com nitidez. Ilustração 29: Esquema de um telescópio refrator. A linha com seta indica o caminho da luz. Repare que os raios chegam paralelos à objetiva e são convergidos ao ponto focal, logo após o porta ocular. É neste ponto que deve estar o sensor da câmera. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 84 Mas tudo mudou para os refratores nas últimas duas décadas. Surgiram novos refratores que, com a construção de lentes especiais, eliminam quase toda a aberração cromática e apresentam imagens incríveis mesmo tendo baixas razões focais. São os refratores apocromáticos, produzidos com lentes que diminuem consideravelmente a aberração cromática, ou mesmo chegam a eliminá-la por completo nos modelos mais avançados. Há vários tipos de refratores apocromáticos, mas o que todos têm em comum é a presença de pelo menos uma das objetivas feita com material de baixa dispersão. Essas lentes normalmente são chamadas de ED, sigla derivada do termo Extra Low Dispersion Glass. Existem modelos com apenas duas lentes, como nos acromáticos. Eles são chamados dupletos e são muito superiores aos refratores acromáticos. Geralmente possuem razões focais entre F7 e F10, podendo apresentar imagens bastante interessantes a um preço razoável, sendo possível encontrar bons telescópios deste tipo com até 80mm de abertura por preços abaixo de mil dólares. São uma boa opção para quem está começando na Astrofotografia de céu profundo e não quer gastar muito. Já os refratores apocromáticos com três elementos, chamados tripletos, geram uma imagem ainda superior, são razoavelmente mais caros e apresentam modelos com razões focais menores, entre F5 e F7. Se você tem condições de pagar e pretende ser um astrofotógrafo de céu profundo exigente com suas imagens, estes são os seus refratores. Existem refratores apocromáticos com até cinco elementos. São na verdade telescópios que já possuem em sua óptica corretores internos de coma, aberração ainda visível levemente em apocromáticos de três elementos. O maior defeito dos refratores apocromáticos certamente é o preço elevado, principalmente quando comparados a outros modelos de telescópios. Refratores apocromáticos são os Rodrigo Andolfato 85 telescópios mais caros por centímetro de abertura, podendo chegar a serem escandalosamente caros no caso de algumas marcas de primeira linha. Você certamente vai escutar de alguém que não vale a pena comprar um apocromático para observação devido ao custo-benefício baixo. Isto está correto. Para observação, o diâmetro da objetiva sempre fará toda a diferença. Os refratores apocromáticos são voltados para o mercado astrofotográfico. Para observação visual, não há como concorrerem com o baixo custo dos refletores newtonianos de maior abertura ou mesmo os portáteis cassegrains. Um refrator apocromático de 200mmde abertura é extremamente difícil de se achar e pode custar o mesmo que um pequeno apartamento ou um carro de luxo. Isso, só o tubo óptico. Enquanto um refletor de 200mm custa o mesmo que um bom console de videogame. Mas quando se quer uma distância focal baixa, entre 300mm e 800mm, com boa razão focal, é muito difícil bater um refrator apocromático. Pequenos e leves, eles casam muito bem com as montagens mais acessíveis. São também mais robustos, não precisando colimar mesmo após anos de uso e apresentam incrível qualidade óptica para imagens de maior campo. São muito recomendados para aqueles que querem fotografar céu profundo e precisam se deslocar para uma área com baixa poluição luminosa sempre que querem astrofotografar, ou mesmo aqueles que querem manter um pequeno observatório numa área de baixa poluição luminosa. Refletores Telescópios refletores possuem uma natureza bastante diferente dos refratores. Em vez de uma lente, em que a luz atravessa antes de atingir o sensor da câmera, os refletores trabalham com reflexão, ou seja, a luz bate num espelho curvo no fundo do telescópio, chamado de espelho primário, e de lá é direcionada para um espelho menor, próximo à boca do tubo óptico, chamado espelho secundário, para então ser desviada para o sensor da câmera. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 86 A maior vantagem de um telescópio refletor é o fato de que a luz não precisa atravessar um meio diferente para chegar ao sensor, como ocorre com telescópios refratores. Sendo assim, não há diferença no desvio das ondas de luz e um telescópio refletor não possui aberração cromática. Até existem refletores que possuem lentes corretoras, como os cassegrains, e estas podem produzir aberração cromática, mas é praticamente insignificante, até por que são designes ópticos de maior razão focal, geralmente F/10 ou mais. Em refletores, como a luz não atravessa o espelho primário, o espelho secundário precisa estar localizado à frente do espelho primário, obstruindo a passagem de parte da luz. Esta obstrução faz com que o telescópio refletor na verdade não capte toda a luz que o seu espelho primário seria capaz de refletir e também diminui um pouco o contraste da imagem de um refletor em relação a um refrator. Telescópios refletores com razão focal menor tendem a ter um espelho secundário maior, enquanto aqueles com maior razão focal possuem espelhos secundários menores, fazendo com que esta obstrução cause menos impacto. Refletores newtonianos Trata-se do tipo mais básico de telescópio refletor. Muitas vezes são tratados simplesmente por refletores, mas na verdade são mais um dos diversos modelos de refletores disponíveis. Um refletor newtoniano é composto somente de espelhos, sem lentes corretoras. O que define um refletor como newtoniano é o formato do espelho secundário. Ele deve ser plano, estar inclinado quarenta e cinco graus em relação ao espelho primário e desviar a luz noventa graus, para a lateral do tubo óptico (Ilustração 30). Rodrigo Andolfato 87 O primeiro telescópio refletor construído foi um newtoniano. Ele tem esse nome justamente por ter sido projetado pelo celebre físico inglês Isaac Newton, em 1672. Newton estava insatisfeito com a aberração cromática apresentada pelos telescópios refratores daquela época e buscou um telescópio em que a luz não precisasse atravessar meios com densidades diferentes. Ele percebeu que a solução estava nos espelhos. A grande vantagem dos telescópios newtonianos em relação a todos os concorrentes é o custo-benefício, principal- mente em aberturas maiores. Estes telescópios normalmente têm um preço por polegada de abertura muito inferior a qualquer outro tipo de telescópio e são muito populares. Por algumas centenas de dólares, você pode ter um telescópio refletor newtoniano de oito polegadas de abertura. Em Astrofotografia, uma outra vantagem interessante dos Ilustração 30: Esquema de um telescópio refletor do tipo newtoniano Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 88 refletores newtonianos é o fato da saída do porta ocular poder ficar apontada para cima. Isso facilita muito o manuseio da câmera e proporciona mais segurança se ela estiver presa somente por parafusos por pressão. O conjunto da câmera só poderá deslizar para dentro do porta ocular, não correndo o risco de despencar. Operar uma DSLR nestes telescópios sem o uso de um computador também é muito mais confortável, principalmente se a DSLR não tiver um LCD móvel, pois a tela da câmera fica apontada para cima ou para o lado, não para baixo, como ocorre na maioria dos outros modelos de telescópio. Entre os refletores newtonianos é fácil encontrar modelos bastante rápidos, com razões focais entre F4 e F5 com razoável qualidade óptica, que pode ser aperfeiçoada com o uso de redutores de coma, aberração comum nestes telescópios. Em relação a outros tipos de refletores, a maior desvantagem do refletor newtoniano é o fato de que o tamanho de seu tubo óptico deve ser compatível com a distância focal do espelho. Um refletor newtoniano de oito polegadas e uma razão focal F6 pesa quase dez quilos e mede um metro e vinte de comprimento, enquanto os outros tipos de refletores podem pesar até cinco quilos com a mesma abertura e terem um comprimento de menos de meio metro. Um tubo óptico mais longo é mais difícil de transportar e operar, além de exigir mais espaço para se trabalhar. Para quem pretende construir um pequeno observatório, o refletor newtoniano pode não ser o modelo mais indicado. É por isso que, acima de 300mm de abertura, refletores newtonianos passam a ser mais raros na Astrofotografia, dando espaço aos refletores do tipo cassegrain, que veremos adiante. Uma outra desvantagem importante dos refletores newtonianos é que eles têm uma grande facilidade para descolimar, ou seja, ter os seus espelhos desalinhados. Para obter-se uma imagem perfeita com estes telescópios, o espelho primário e o secundário precisam estar perfeitamente alinhados entre si e também com o sensor da câmera, mas de todos os telescópios, os refletores newtonianos são os que desalinham mais facilmente. A colimação de um newtoniano deve ser Rodrigo Andolfato 89 verificada constantemente, principalmente após movê-lo de um lugar para outro, ou mesmo após desmontá-lo e remontá-lo no mesmo lugar. Subtraindo-se vantagens por desvantagens, o resultado é que telescópios refletores newtonianos acima de 150mm de abertura são muito apreciados para Astrofotografia, principalmente entre 200 e 300mm de abertura. Um refletor com 200mm de abertura é o mínimo que recomendo para quem quer fazer Astrofotografia planetária de alta resolução e os newtonianos são, com certeza, os mais em conta. Em distâncias focais de 800mm ou mais, refletores newtonianos conseguem resoluções incríveis e grande velocidade de captação de luz por uma fração do preço de um bom refrator apocromático com a mesma abertura. O problema do foco em newtonianos Um cuidado que você deve tomar com telescópios refletores newtonianos é em relação ao foco com sua câmera. A maioria dos telescópios são projetados primeiramente para observação, com o uso de oculares, e não para fotografia. E geralmente as câmeras conseguem foco a uma distância menor do que as oculares. Você não percebe este problema com telescópios em que a saída do porta ocular fica apontada para baixo, como refratores, porque estes telescópios acompanham uma diagonal de 90 graus, feita para garantir maior conforto nas observações. Devido a isso, estes telescópios já têm a saída do porta ocular projetada para ser mais para dentro, considerando o caminho que a luz fará pela diagonal até chegar à ocular. Então, quando você elimina esta diagonal e liga a câmera diretamente ao porta ocular, ela consegue foco sem problemas. Mas um refletor newtoniano não tem diagonal,eles são projetados para que você conecte a ocular diretamente no porta ocular. Por isso, quando você conecta a câmera ao porta ocular de um newtoniano, pode não conseguir o foco necessário, que estará dentro do tubo. Este problema ocorre principalmente com câmeras com sensores maiores, de céu profundo, como DSLRs, e refletores newtonianos menores. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 90 Comprar um telescópio e uma câmera, para depois juntar os dois e descobrir que eles “não conversam” é uma das experiências mais frustrantes que se pode ter na Astrofotografia. E isso acontece com mais frequência do que você imagina. Existem algumas soluções possíveis. Uma delas é o uso de um extensor focal, como uma barlow, para trazer o foco mais para fora. A maior vantagem desta solução é que ela é rápida e fácil, mas repleta de desvantagens. Extensores focais são acessórios obrigatórios para Astrofotografia planetária, mas em Astrofotografia de céu profundo uma barlow eleva muito a razão focal, tornando a captura de luz muito mais lenta. Uma barlow de 2x deixa a captação de luz quatro vezes mais lenta, e assim por diante (A velocidade fica mais lenta elevando-se ao quadrado a diferença entre a distância focal). Além disso, com o aumento da ampliação, a necessidade de um acompanhamento preciso torna-se muito mais elevada. Por fim, você também tem a diminuição de campo de captura. Uma opção mais complexa, mas muito mais interessante para se conseguir foco quando ele está para dentro do telescópio é aproximar o espelho primário do secundário. Existem modelos de newtonianos que permitem a você deslocar o espelho primário para frente sem grandes dificuldades até um determinado limite, é claro. Se você avançar demais o espelho primário pode ser que o cone de luz gerado pela objetiva fique maior do que o tamanho do espelho secundário, causando perda de luz e vinhetagem na imagem. Ainda existem modelos em que você pode precisar cortar o tubo para conseguir aproximar o espelho, sendo aconselhável levar o telescópio a um profissional habilitado para o trabalho. O ideal é evitar o problema, já adquirindo um telescópio em que seja possível fotografar com sua câmera sem ter que fazer qualquer modificação. Antes de adquirir um refletor, pesquise na Internet sobre o modelo escolhido, para ver se outros astrofotógrafos tiveram problemas em conseguir foco com ele, ou pergunte ao fabricante do telescópio se ele serve para determinada câmera. Felizmente, isto ocorre com poucos refletores newtonianos, sendo muito mais comum nos de menor porte. Rodrigo Andolfato 91 Existem newtonianos que são vendidos como “astrofotográficos”. Isso quer dizer que eles já foram projetados se pensando em Astrofotografia de céu profundo, com o espelho secundário mais próximo do primário, garantindo que sua câmera conseguirá foco sem a necessidade de adaptações. Cassegrains Telescópios refletores do tipo cassegrain são refletores em que o espelho secundário em vez de direcionar a luz para a lateral do telescópio, desvia a luz para o fundo do telescópio. Em cassegrains, o espelho primário deve ter um furo no centro para deixar a luz refletida pelo espelho secundário passar e chegar ao porta ocular (Ilustração 31). Aqui, o caminho que a luz percorre dentro do tubo óptico é maior, pois após refletir no espelho secundário ela tem que refazer todo o trajeto até o espelho primário, mais o suficiente para chegar ao sensor. Além disso, muitos telescópios com este desenho possuem espelhos secundários curvos e não planos, como ocorre nos newtonianos, Ilustração 31: Esquema de um telescópio do tipo Schmidt-cassegrain Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 92 cuja função não é somente desviar a direção da luz, mas também alterar o ângulo de convergência. O resultado final é que, apesar de serem muito mais curtos, refletores cassegrains costumam ter uma distância focal maior do que newtonianos de mesma abertura. Hoje em dia, é muito difícil encontrar um cassegrain clássico. O modelo evoluiu para vários tipos de telescópios, geralmente todos são muito aclamados pela sua qualidade óptica. Schmidt-cassegrain Este telescópio possui um espelho esférico, mais um disco de vidro, chamado de lente corretora, no início do tubo. Esta lente elimina as aberrações que o espelho poderia provocar. Normalmente possui razão focal F10. É considerado um telescópio escuro, muito usado na captura planetária, mas é usado também para Astrofotografia de céu profundo, principalmente com o uso de redutores focais, que deixam o telescópio mais rápido. Maksutov-cassegrain É fácil perceber a diferença de um maksutov-cassegrain para um schmidt-cassegrain, o maksutov tem a lente corretora côncava para o lado de fora, afundada para dentro do telescópio, enquanto o schmidt tem a lente completamente plana do lado de fora. Os maksutovs são aclamados por terem uma imagem ligeiramente superior aos schmidts, mas também são ainda mais escuros, com distâncias focais por volta de F12. São razoavelmente mais pesados e possuem um campo menor, apresentando mais vinhetagem nas bordas. São usados principalmente para observação e Astrofotografia planetária com modelos ultraportáveis, principalmente de 90mm, 102mm Rodrigo Andolfato 93 e 127mm, que conseguem imagens planetárias incrivelmente nítidas para o seu pequeno porte. No mercado há poucos modelos de maksutov-cassegrains acima de 150mm de abertura. Normalmente, em aberturas de oito polegadas ou mais, os schmidt-cassegrains são muito mais populares. Ritchey-Chrétien Este tipo de telescópio cassegrain é o mais aclamado para Astrofotografia de céu profundo. Os grandes telescópios dos principais observatórios modernos são todos Ritchey-Chrétien. O Hubble foi construído com este designe óptico. O Ritchey-Chrétien, ou simplesmente RC, é um cassegrain muito próximo ao que seria o cassegrain clássico. O RC não tem nenhuma placa corretora no início do tubo. Nele, a luz chega ao espelho primário e vai para o secundário, atingindo o sensor da câmera sem passar por lentes. Não há aberração cromática. A diferença para o que seria o cassegrain clássico está nos espelhos. Enquanto no cassegrain clássico o espelho primário é parabólico e o secundário hiperbólico, no Ritchey- Chretien eles são, respectivamente, semi-hiperbólico e super- hiperbólico. Você não precisa saber o que são essas formas, o importante é saber que os espelhos de um telescópio RC garantem excelente correção para aberrações esféricas e coma, além disso, sua distância focal é normalmente inferior aos Schmidt ou Masutov-cassegrains. Os RC costumam ter razão focal F8, contra F10 dos Schmidt e aproximadamente F12 dos Maksutovs, e ainda se adaptam melhor a bons redutores focais. O único problema dos telescópios Ritchey-Chretien é que eles possuem espelhos secundários maiores, obstruindo mais luz. Mas sua óptica impecável, em termos de ausência de aberrações e deformidades, faz destes telescópios os preferidos para Astrofotografia avançada, sendo extremamente recomendados principalmente se você estiver usando câmeras com sensores maiores. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 94 Características dos telescópios mais populares Modelo Razão Focal Média Recomendad o para Astrofotograf ia Vantagens mais importantes Desvantagens mais importantes Refrator Acromático Curto (Shortube) F4 a F6 Não recomendado Por serem leves e baratos, modelos menores podem ser utilizados como telescópio de guiagem. Imagem ruim, com muitas aberrações Refrator Acromático Longo F10 a F15 Planetária e Lunar Uso simples para iniciantes Ainda apresentam aberrações cromáticas, embora em menor escala; Comprimento do tubo. Refrator Apocromático F4 a F9 De céu profundo Qualidade da imagem, Portabilidade,Maiores campos. Preço elevado por centímetro de abertura – custo pode ser impraticável acima de 150mm. Refletor newtoniano F4 a F8 Planetária, Lunar, céu profundo Custo benefício, Versatilidade, fotografando bem tanto céu profundo como planetas. Diminuição do risco de queda do equipamento preso ao porta ocular. Tamanho e peso, Para fotografia com sensores maiores, são necessários corretores de coma em quase todos os modelos; Descolima com mais facilidade. Possibilidade de não conseguir foco em câmeras de sensor maior em alguns modelos, principalmente os menores. Refletor Maksutov cassegrain F12 a F14 Planetária e Lunar Qualidade óptica, Tubos menores. Razões focais muito elevadas para céu profundo. Refletor Schmidt cassegrain F10 Planetária e Céu profundo Versatilidade, fotografando bem tanto céu profundo como planetas. Tubos menores e mais leves. Razão focal elevada para céu profundo, podendo ser compensada com o uso de redutores focais. Ritchety Chretien F8 Céu profundo Qualidade óptica. Grande obstrução do espelho secundário reduz em 25% captação de luz. Tabela 1: Características dos telescópios mais populares. Rodrigo Andolfato 95 Como saber a qualidade de um telescópio? Eis aí uma questão interessante. Você decidiu por um modelo de telescópio que tem as características que você precisa (ou deseja), tanto em abertura, distância focal e também em termos de peso e volume, mas como você pode saber que aquele produto lhe trará imagens satisfatórias, que os frames não virão com aberrações evidentes? Alguns desenhos, como o Ritchey Chretien e os Maksutov-cassegrain possuem bastante uniformidade na qualidade óptica, mas os newtonianos e refratores, mesmo os apocromáticos apresentam enormes variações de um modelo para o outro. É muito importante, antes de adquirir um telescópio, ter a plena consciência da qualidade óptica do modelo que está comprando. Eu já vi muitos astrofotógrafos publicarem as primeiras imagens feitas com seu telescópio novo com um certo ar de decepção, com frases do tipo: “Eu esperava mais”. Não é só por ser um refrator ED ou apocromático que um telescópio apresentará uma imagem perfeita. Sempre que você decidir por um modelo, pesquise bem antes de efetuar a compra. Há diversos fóruns na Internet em que os usuários discutem a qualidade dos telescópios e, principalmente, postam fotos feitas com seus equipamentos. Mas cuidado ao avaliar a opinião de donos de telescópio, muitos deles podem estar presos a sentimentos “afetivos” pelo produto, principalmente quando gastaram muito na compra. Além disso, pode faltar a donos de telescópios simplesmente conhecimento sobre o produto. Muitos podem mesmo nunca terem usado outros aparelhos e considerarão a qualidade do que têm em mãos como ótima, até terem a oportunidade de trabalharem com equipamentos realmente superiores. Isso tudo não invalida as opiniões dos donos de telescópio, apenas as tornam merecedoras de cuidado. Geralmente é bom analisar de forma mais crítica quando o dono está há pouco tempo com o equipamento e não teve contato com outros modelos. Quem já tem o telescópio há mais de um Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 96 ano e o usou muitas vezes, normalmente tem uma opinião muito mais realista sobre o produto. Meu primeiro telescópio astrofotográfico foi um refrator ED de 102mm. No começo eu achava ele perfeito, mas hoje percebo várias deficiências ópticas no aparelho, como aberração cromática, e o focalizador apresentou vários problemas, que depois descobri serem comuns no modelo. Se eu tivesse feito um review no primeiro mês, diria que, com este telescópio, tudo eram flores. Outro ponto importante: também não adianta avaliar a qualidade dos equipamentos somente por meio de fotos feitas com o instrumento. Você pode pesquisar na Internet e encontrar muitas imagens com o telescópio que está interessado, mas isso não quer dizer que aquelas imagens retratem o verdadeiro potencial do equipamento. A qualidade das imagens feitas com um mesmo aparelho podem variar de forma extrema de acordo com a experiência do astrofotógrafo, condições do céu na hora do registro, qualidade da câmera, filtros utilizados, capacidade da montagem, calibragem e eficiência da autoguiagem e até mesmo a habilidade ou gosto do astrofotógrafo no processamento das imagens. Os melhores lugares para se obter uma boa opinião sobre telescópios são revistas ou sites especializados em equipamentos astronômicos. Geralmente, os autores destes meios de comunicação já tiveram contato com muitos modelos diferentes, entendem da óptica utilizada e conseguem nos trazer comparações muito mais objetivas, inclusive com testes e medições da qualidade óptica do equipamento. Marcas de telescópios Comprar um telescópio pela marca não é garantia de qualidade, mas é importante que você já saiba um pouco sobre a reputação da marca do produto que está adquirindo. De uma forma um pouco subjetiva, existem três níveis de marcas de telescópios que valem a pena destacar. Rodrigo Andolfato 97 Marcas Ruins Estas marcas têm como público-alvo os totalmente leigos em Astronomia, que compram seu telescópio ao se depararem com o equipamento num shopping center, lojas de departamento ou num banner publicitário na Internet. São adquiridos no calor do momento, sem nenhum tipo de pesquisa prévia. Normalmente, possuem imagens astronômicas feitas por sondas espaciais ou grandes observatórios estampando suas caixas. As principais características dos telescópios de uma marca ruim são: - Vendidos em lojas não especializadas, como grandes lojas de departamento, sites de compras que vendem de tudo ou lojas de presentes. - Em sua publicidade, informam que o telescópio aumenta tantas vezes, geralmente em torno de 300 a 600 vezes, mesmo que tenham aberturas de 50mm. De fato, com a combinação das lentes que acompanham, podem até conseguir tal ampliação, mas sem resolução ou luminosidade, fornecendo uma imagem totalmente borrada e escura. Geralmente, esses telescópios já apresentam degradação da imagem antes de usarmos o aumento de 100 vezes. - Incompatibilidade de seus acessórios com os das marcas sérias. As peças não seguem o padrão do mercado de equipamentos astronômicos amadores. Geralmente são menores, tornando o trabalho de encontrar um acessório para esses telescópios uma tarefa ingrata. - Acompanham montagens instáveis e imprecisas, com pernas finas de alumínio, provocando grande trepidação a cada vez que se movimenta o telescópio. - Modelos com enorme razão focal ou muita aberração. São geralmente telescópios refratores muito compridos. Quando são mais curtos, com menor razão focal, apresentam grande aberração, sendo impraticáveis para Astrofotografia. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 98 - Mesmo oferecendo resultados inferiores, esses produtos podem custar muito mais caros do que os das marcas populares, pois, como já foi dito, visam o público leigo. Marcas populares Neste nível estão as marcas mais conhecidas entre os astrônomos amadores, como Orion, Celestron, Ioptron, Explore Scientific, Meade, Guan Sheng Optical (GSO) e Sky-Watcher. Essas marcas se destacam pelas seguintes características: - Qualidade compatível com o preço que cobram. Seus produtos geralmente têm um preço bastante equivalente aos resultados que entregam. - Enorme gama de produtos. Podem oferecer instrumentos que rivalizam com as melhores marcas, na parte de cima, e equipamentos bem inferiores, na parte de baixo. Seus produtos feitos para concorrer com as melhores marcas são geralmente um pouco inferiores em qualidade, mas apresentam melhores preços. Já seus telescópios inferiores concorrem com aqueles das marcas ruins, mas são melhores e podem, em muitos casos, apresentar preços mais convidativos.- Além de uma grande variedade de telescópios, também produzem enorme variedade de acessórios. - Grande padronização entre acessórios e equipamentos. Quase todos os equipamentos dessas marcas são compatíveis entre si. Você pode adquirir o telescópio de um, a montagem de outro e os acessórios de uma terceira, que dificilmente terá problemas de incompatibilidade entre eles. - Seus telescópios são quase todos feitos na China. Não podemos falar que isso resulta numa qualidade ruim, na verdade é o maior responsável pela compatibilidade entre essas marcas. A impressão que temos é que as marcas populares compram seus produtos de um mesmo fabricante na China e pintam com suas cores ou instalam alguns diferenciais em relação aos concorrentes. - Maior documentação on-line. Os produtos dessas marcas estão geralmente entre os mais vendidos, por isso é sempre mais Rodrigo Andolfato 99 fácil encontrar tutoriais sobre uso ou manutenção desses equipamentos na Internet. Marcas “top” Aqui se encontram os sonhos de consumo dos astrofotógrafos amadores. Estas marcas produzem os melhores telescópios que se pode comprar para Astrofotografia, mas cobram um preço caro por isso. As principais características das marcas top são: - Qualidade praticamente garantida. É muito difícil se decepcionar com essas marcas em termos de qualidade. Se isso acontecer, é muito mais provável que você tenha comprado o telescópio inadequado para suas intenções, não um produto ruim. Colegas astrofotógrafos que trabalharam com essas marcas e tiveram algum problema relataram um excelente atendimento por parte do serviço de garantia desses fabricantes. - Muitas fabricam seus produtos em países desenvolvidos, como Japão, Itália, Reino Unido e Estados Unidos. - Podem ser menos amigáveis do que as marcas populares quando se quer conectar com equipamentos de outras marcas, podendo fazer você depender de acessórios proprietários, como buscadores, telescópios de guiagem ou montagens próprias. Esses acessórios geralmente são bem mais caros do que os das marcas populares. As marcas top de telescópio mais famosas são a Officina Stellare, Willian Optics, Vixen, Stellarvue, Tele Vue e Takahashi. Entre elas, Vixen é a que mais se arrisca com produtos mais econômicos, concorrendo com as marcas populares em alguns segmentos. Para iniciantes em Astrofotografia, o mais recomendado é a compra de um telescópio das marcas populares. Elas têm o melhor custo-benefício e enorme gama de acessórios, além de boa compatibilidade entre os produtos. Deve-se evitar as marcas ruins, elas vivem do desconhecimento dos leigos e em quase todos os casos provocam decepção. Já as marcas top são recomendadas para astrofotógrafos mais experientes, com Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 100 dinheiro sobrando na conta bancária, que já estejam estabelecidos na Astrofotografia e tenham atingido elevado nível de exigência com seu equipamento. Prefira adquirir seu tubo óptico pelo menos com os anéis de fixação. Melhor ainda se já vier com o dovetail no padrão de sua montagem. Muitos tubos ópticos são vendidos com esses acessórios. Assim, não há risco de problemas de compatibilidade entre eles. Se o tubo óptico não acompanhar os anéis de fixação, adquira-os do mesmo fabricante de seu telescópio. Verifique nas especificações do anel de fixação se ele é compatível com o modelo de seu telescópio. Se essa informação não estiver na especificação, mande um e-mail para o fabricante, perguntando se o acessório é compatível com o seu tubo óptico. Não deixe de informar ao fabricante o diâmetro exato do tubo de seu telescópio. O diâmetro do tubo não é o mesmo da objetiva e pode variar entre modelos com uma mesma abertura. Astrofotografia com lentes fotográficas Quando se pensa em Astrofotografia, a primeira coisa que passa pela cabeça de quem está começando na atividade é colocar uma câmera acoplada a um telescópio para se conseguir imagens de galáxias e nebulosas. Mas, na verdade, há muitas nebulosas e até mesmo algumas galáxias que só são fotografadas por inteiro se o campo de visão for muito maior do que o fornecido por um telescópio típico. Algumas nebulosas têm um tamanho aparente várias vezes maior do que o da Lua. Num telescópio, mesmo uma câmera com sensor full frame só captará um pedaço delas, ainda que esteja em refratores apocromáticos menores. A Nebulosa do Cachimbo (Ilustração 8), por exemplo, é grande até mesmo para uma distância focal de 135mm numa DSLR de entrada. Se você fizer uma análise rápida, logo perceberá que todo telescópio é também uma lente fotográfica e toda lente é Rodrigo Andolfato 101 também um telescópio. A diferença é que telescópio foi feito para se conectar a uma ocular e uma lente foi feita para se conectar a uma câmera. Normalmente recomendo o uso de lentes para Astrofotografia em distâncias focais até 300mm. Acima disso, um telescópio apresenta um custo-benefício melhor e será também mais leve. Mas além de maiores campos, usar lentes fotográficas para Astrofotografia, no lugar de telescópios, pode trazer uma série de vantagens. - Lentes fotográficas já são feitas para as câmeras DSLR, dispensando o uso de adaptadores. - As melhores lentes possuem razões focais baixas, por isso são bastante rápidas na captação de luz. - O menor aumento das lentes permite exposições mais longas sem que as estrelas deixem rastros, facilitando o alinhamento com o polo e possibilitando fotografar com tempos de exposição por frame de até cinco minutos, mesmo sem o uso de autoguiagem. - São muito mais portáteis e leves do que a grande maioria dos telescópios, permitindo construir um setup excelente para viagens ou sessões rápidas. Alguns desses setups podem ser levantados com uma única mão e serem energizados por pilhas comuns, permitindo o deslocamento para áreas isoladas. - Permitem tipos de Astrofotografia que podem ser mais difíceis ou mesmo impossíveis com telescópios, como chuvas de meteoros, composições com paisagens, conjunções mais separadas e star trails. - Permitem que você altere a razão focal, ao se fechar um mecanismo chamado diafragma, que bloqueia parte da luz recebida pela lente a partir das bordas. Isto deixa a lente mais lenta na captação de luz, exigindo tempos de exposição maiores, mas também melhora a óptica da lente, reduzindo as aberrações, em alguns casos até chegando a atingir uma óptica comparável aos melhores telescópios. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 102 É possível usar lentes em outras câmeras além das DSLRs, como as CCDs feitas para Astrofotografia, mas é necessário um adaptador especial para isto. E, com a grande maioria dos adaptadores, não será possível controlar o diafragma de uma moderna lente eletrônica, sendo até preferível o uso com lentes antigas, que possuam o controle do diafragma manual. Uma possibilidade para se fechar o diafragma em capturas com outras câmeras é ajustar a abertura da lente com ela conectada à DSLR, mas alguns modelos, como os da Canon, abrem completamente o diafragma quando retiradas da câmera. A única chance de se retirar as lentes parcialmente fechadas das DSLRs é tirar uma foto de longa exposição e retirar a lente ainda com a foto sendo disparada. É uma operação que tem um certo risco de causar um curto na câmera, causando danos ao sensor ou ao sistema elétrico do aparelho. Em lentes antigas, o Ilustração 32: Centro da Via Láctea, registrado com lente Canon de 50mm F1.8 em câmera DSLR com sensor APS-C. Esta lente, que custa pouco mais de cem dólares, é provavelmente a forma mais barata de se produzir imagens fantásticas do Universo com uma câmera DSLR. Rodrigo Andolfato 103 controle do diafragma é totalmente manual e independente da câmera, dispensando essa arriscada operação. A grande desvantagem que existe no uso das lentes, obviamente,é quando precisamos de mais aumento. Lentes basicamente não são adequadas para nebulosas planetárias, galáxias mais distantes e para capturar detalhes de planetas. São recomendadas para grandes nebulosas, como a Nebulosa América do Norte, Complexo Rho-ophiuchi, a já citada Nebulosa do Cachimbo, da Califórnia, da Roseta, entre muitas outras. A Galáxia de Andrômeda fica ótima numa lente de 200mm ou 300mm. O Grande Aglomerado de Galáxias em Virgem mostra centenas de galáxias com lentes desse porte. As Nuvens de Magalhães praticamente são impossíveis de se fotografar por inteiro sem o uso de uma boa lente de até 200mm e o Centro da Via láctea, num céu adequado, fica um espetáculo sob uma pequena e absurdamente barata lente de 50mm. As lentes mais recomendadas para Astrofotografia são as fixas, que não têm o recurso de zoom. Poucas lentes com zoom são boas para Astrofotografia. Essas lentes possuem componentes ópticos feitos para variar a distância focal e que podem provocar grandes distorções na imagem, principalmente nos modelos mais baratos A lente mais indicada para se iniciar em Astrofotografia é a de 50mm, particularmente os modelos F1.8 vendidos pela Canon e Nikon. Essas lentes apresentam um custo-benefício incrível. O modelo da Canon custa pouco mais de 120 dólares nos Estados Unidos. Sendo que numa DSLR sobre uma montagem motorizada pequena, é fácil conseguir tempos de exposição entre dois a quatro minutos com essa lente, que garantem imagens de tirar o folego de muitas regiões do céu, principalmente da Via Láctea. Outra lente muito recomendada é o modelo de 200mm F2.8 da Canon. Essa é, em minha opinião, uma das melhores opções para quem quer usar uma lente que seja quase um telescópio, podendo registrar um enorme número de grandes nebulosas e até algumas galáxias. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 104 Existem muitas outras lentes boas para Astrofotografia. Algumas extremamente caras e outras muito mais em conta. Uma opção interessante é adquirir lentes antigas. Como o mercado de lentes fotográficas usadas é até muito maior do que o mercado de telescópios, não é raro encontrar boas barganhas. Não é difícil encontrar lentes antigas em bom estado na Internet, mesmo que elas sejam mais velhas do que você. Mas tome muito cuidado com a questão da compatibilidade. Muitas lentes antigas foram produzidas na época em que se fotografava com filmes e podem não se adaptar à sua câmera digital, mesmo com o uso de adaptadores, porque não conseguem foco no infinito quando ele está numa distância menor do que o mínimo que se consegue entre a lente e o sensor. Até existem adaptadores ópticos vendidos por cerca de 150 reais na Internet, que prometem atingir esse foco, mas recomendo que evite estes adaptadores. Eles não têm a mesma qualidade da lente fotográfica original, prejudicando muito o resultado final. Antes de adquirir uma lente antiga, tenha certeza que conseguirá foco no infinito com sua câmera e não somente de perto, caso contrário, a lente não servirá para fotos astronômicas. Nunca compre uma lente achando que ela é boa para Astrofotografia, você tem que ter certeza. Caso contrário é um grande risco. Mesmo modelos muito próximos de lentes do mesmo fabricante podem ter grandes variações na qualidade da captura astrofotográfica. Tenha em mente que são produtos que não foram feitos para atender a necessidade do astrofotógrafo, ao contrário dos telescópios, e modelos que têm desempenho superior em fotografias diurnas, podendo até ser celebrados por fotógrafos profissionais, podem causar grande decepção ao astrofotógrafo. É sempre possível melhorar a qualidade da imagem de uma lente fechando o diafragma e aumentando a razão focal da lente, mas equipamentos inferiores só conseguem uma imagem astrofotográfica aceitável em razões focais muito altas, tornando necessários frames exageradamente longos. Falar das muitas centenas de lentes fotográficas que existem é impossível. O conselho que dou é: primeiro, pense na Rodrigo Andolfato 105 distância focal que deseja que a sua lente tenha; segundo, veja quais modelos de lente têm a distância focal desejada; terceiro, procure saber, por outros astrofotógrafos, em sites ou fóruns, em qual razão focal (abertura) a lente trabalha bem em Astrofotografia e dê preferência para as que trabalham bem em razões focais menores; quarto, procure fotos feitas com estas lentes; por fim, avalie as lentes que atendam a sua demanda e veja qual delas têm a melhor razão custo-benefício, de acordo com seus objetivos. Antes de adquirir uma câmera DSLR de uma determinada marca, leve em consideração a diversidade de lentes oferecida para o seu modelo de câmera. Este é o principal motivo pelo qual as câmeras da Canon e Nikon são as preferidas. Além de fabricarem cerca de uma centena de modelos próprios, os fabricantes de boas lentes alternativas, como Sigma, Tamron e Rokinon geralmente focam seus produtos nas câmeras destas marcas. Ao se adquirir uma câmera de um fabricante menos popular, você terá bem menos lentes disponíveis de pronto funcionamento para o seu equipamento e terá que recorrer a adaptadores que raramente permitem o controle do diafragma da lente ou foco automático (Observação: no caso do foco automático, preocupe-se somente se você pretende usar a lente para outros tipos de fotografia, já que foco automático é inútil na Astrofotografia). Algo que pode confundir muito quem está acostumado com telescópios e começa a usar lentes, ou vice-versa, é a forma como abertura é denominada nestes dois equipamentos. Usuários de telescópios e os fabricantes destes equipamentos definem abertura como sendo o diâmetro da objetiva, mas fotógrafos profissionais e fabricantes de lentes definem abertura como sendo a relação entre a distância focal da lente e o diâmetro da objetiva, o que astrônomos amadores chamariam de razão focal. Por isso, quando pensamos numa lente de 200mm F2.8 como sendo um pequeno telescópio para Astrofotografia, temos que ter consciência de que, vista como um telescópio, ela equivale a um modelo de pouco mais de 70mm de abertura. Pois o diâmetro de sua objetiva é conhecido através de sua distância focal de 200mm, dividida pela sua razão focal de 2.8, cujo resultado é 72mm. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 106 Por outro lado, se quisermos ver um telescópio refletor de 200mm F4.5 como uma lente, devemos multiplicar o diâmetro de sua objetiva, de 200mm, pela sua razão focal de 4.5. Veremos que o telescópio equivale a uma lente de 900mm e abertura F4.5. Vale lembrar que uma lente fotográfica moderna com estas características custaria dezenas de milhares de dólares, enquanto este telescópio custa menos de mil dólares. Quando fechamos o diafragma, diminuímos ainda mais a abertura de uma lente como telescópio. Uma Canon de 200mm F2.8, por exemplo, tem seu melhor desempenho para Astrofotografia com o diafragma fechado na abertura F4. Nesta abertura, a lente de 200mm equivale a um telescópio com 50mm de abertura. Já uma lente 50mm F1.8, que também tem seu melhor desempenho astrofotográfico em F4, equivale nesta abertura a um telescópio de 12.5mm. Tornando-se um telescópio com uma objetiva do tamanho de uma pequena moeda. MONTAGENS Montagens são um componente chave na Astrofotografia. São elas que carregam o seu telescópio. Mais do que isso, são elas que têm a missão importantíssima de fazer a câmera e o Equipamento Abertura, vista como Telescópio Abertura, vista como lente Telescópio 200mm F4.5 200mm F4.5 Telescópio 102mm F7 102mm F7 Lente 200mm F2.8 200mm/2.8=72mm F2.8 Lente 200mm F2.8 em F4 200mm/4=50mm F4 Lente 50mm F1.8 50/1.8 = 28mm F1.8 Lente 50mm F1.8 em F4 50/4 = 12,5mm F4 Tabela 2: Comparação de abertura em telescópios e lentes. Rodrigo Andolfato 107 tubo óptico acompanharem o movimento dos objetos celestes durantea noite. Não são somente a Lua e o Sol e os planetas que se movem no céu, mas praticamente tudo o que podemos ver daqui da Terra, pelo simples fato de que quase toda a movimentação dos astros é consequência da movimentação da superfície da Terra. Devido ao movimento de rotação, a Terra dá uma volta em torno de si mesma a cada 24 horas, fazendo com que toda a esfera celeste pareça girar em torno dela. Esse movimento é tão rápido que a cada dois minutos a Lua percorre completamente a própria extensão no céu. O resultado disso é que, quando você olha pela primeira vez por um telescópio sem uma montagem motorizada, é surpreendente perceber a velocidade como os astros deslocam- se, principalmente com grandes aumentos. Uma estrela leva menos de um minuto para cruzar todo o campo de visão de uma ocular num telescópio com grande aumento. Felizmente, a movimentação da esfera celeste em relação a Terra não é aleatória, pelo contrário, é absolutamente regular. Ilustração 33: Nebulosas da Trífida e Lagoa. No primeiro frame, uma captura feita com o acompanhamento motorizado ligado, usando lente. No segundo, vemos como as estrelas e as nebulosas se movimentaram no espaço de dois minutos, quando o acompanhamento é desligado. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 108 As estrelas, nebulosas, galáxias e até planetas movem-se no céu como as engrenagens de um relógio. E uma boa montagem com motorização pode acompanhar o movimento dos astros celestes a ponto de permitir frames com alguns minutos de exposição. Mas fazer uma montagem que acompanhe com perfeição o movimento dos astros, sem cometer falhas, é algo muito difícil. A maioria das montagens para Astrofotografia permitem, no máximo, dois ou três minutos de exposição por frame, e mesmo com esses tempos, raramente garantem resultados satisfatórios em todas as capturas. As montagens mais avançadas, recomendadas para Astrofotografia, possuem um recurso opcional chamado porta para autoguiagem. Esta porta permite conectar uma segunda câmera à montagem, que, por meio de um segundo telescópio, ou aproveitando as bordas do campo do telescópio principal (off-axis), filma uma estrela e diz para a montagem as correções que ela deve fazer para um acompanhamento perfeito. É somente com o uso de autoguiagem que as montagens astrofotográficas mais populares conseguem tempos de exposição por frame de dez minutos ou mais, necessários para a captação de objetos mais escuros. Existem basicamente dois grupos de montagens motorizadas para telescópios, as equatoriais e as altazimutais. Montagens altazimutais: ficam alinhadas com a superfície da Terra, por isso, precisam movimentar-se nos dois eixos, leste-oeste e norte-sul, fazendo constantes correções durante o acompanhamento. O movimento do céu também provoca uma variação na orientação da imagem, o que pode fazer com que as estrelas da borda fiquem ovaladas após longas exposições. Até existe um acessório que teoricamente permite transformar boa parte das montagens altazimutais em equatoriais. Chama-se cunha equatorial ou wedge. Trata-se de uma base que permite à montagem altazimutal inclinar-se na direção do eixo de rotação da Terra, tranformando a montagem numa equatorial do tipo forquilha. Mas este sistema não é perfeito, pois a montagem não fica perfeitamente balanceada, Rodrigo Andolfato 109 não utiliza contrapesos, e muitas altazimutais nem permitem deslocar o tubo para frente ou para trás. Esta falta de balanceamento acaba forçando os motores. No Brasil ainda teríamos o problema de estarmos em baixas latitudes, o que nos obrigaria a inclinar as montagens altazimutais demasiadamente para alinharmos com o polo, sendo que muitas cunhas equatoriais sequer conseguem atingir a inclinação necessária para regiões mais ao norte do Brasil. Montagens Altazimutais são excelentes para observação visual dos astros. São mais leves e portáteis e não há necessidade de alinhamento com o polo. Entretanto, por não conseguirem acompanhar com a mesma precisão que montagens equatoriais, não são recomendadas para Astrofotografia de céu profundo. Já para Astrofotografia planetária, lunar e solar, que não necessitam de frames com longos tempos de exposição, as montagens altazimutais atendem muito bem. Montagens equatoriais (Ilustração 34): são as preferidas dos astrofotógrafos de céu profundo. Permitem alinhar o seu eixo de rotação com o eixo de rotação da Terra, também chamado de ascensão reta. Montagens equatoriais permitem tempos de exposição muito maiores por frames do que as montagens altazimutais, com menos erros de acompanhamento. Isso acontece porque essas montagens, ao contrário das altazimutais, só precisam movimentar um eixo durante a captura. O outro eixo, de declinação, pode ficar parado durante o registro, sendo necessários correções somente se a montagem estiver mal alinhada. A maioria das montagens equatoriais, principalmente as mais avançadas para Astrofotografia, possuem motorização tanto para o eixo de ascensão reta como para o de declinação. Mas somente o primeiro é imprescindível para Astrofotografia. O motor de declinação tem mais a função de movimentar o telescópio durante o processo de busca e enquadramento do objeto, sendo mais importante em capturas com maior aumento, quando se precisa de muita precisão para encontrar e colocar o alvo na posição desejada. Em capturas com menor distância Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 110 focal, isso pode ser feito manualmente. É por isso que montagens equatoriais menores podem nem apresentar motorização no eixo de declinação e ainda assim continuam adequadas para Astrofotografia, com lentes ou pequenos refratores. As montagens equatoriais mais populares na Astrofotografia são as chamadas montagens equatoriais germânicas. Elas se caracterizam pela presença de uma barra de contrapesos, que fica oposta à base do telescópio e perpendicular ao eixo de rotação (Ilustração 34). De acordo com o peso do setup fotográfico devem ser inseridos contrapesos nesta barra, que servem para deixar o setup perfeitamente balanceado no eixo de ascensão reta da montagem, diminuindo muito a força necessária para movimentar o telescópio. Ilustração 34: Montagem equatorial germânica sobre tripé, destacando os seus eixos de rotação. Contrapesos se contra posicionam em relação ao telescópio para balancear a montagem. Rodrigo Andolfato 111 Para fotografia de céu profundo com telescópios, é recomendado uma montagem equatorial germânica motorizada com porta para autoguiagem. Adquira uma montagem altazimutal somente se tiver certeza que não tem interesse neste tipo de Astrofotografia. Por ser muito popular, a montagem equatorial germânica é comumente denominada simplesmente de “montagem equatorial” em muitas paginas de equipamentos astronômicos na Internet, que na maioria das vezes omitem o termo “germânico”. Os outros tipos de montagem equatorial são mais usados em observatórios profissionais. Componentes de uma montagem equatorial germânica Cabeça da montagem (Ilustração 35): é o componente motorizado que executa o movimento da montagem. Para muitos, esse componente é a montagem propriamente dita, ou a montagem sem o tripé. Seus componentes são listados abaixo: Eixo de ascensão reta (Ilustração 34): movimenta o telescópio de leste para oeste. É o principal componente de uma montagem equatorial e deve ser motorizado em toda montagem equatorial cuja pretensão seja usá-la em Astrofotografia. É a movimentação deste eixo que produz o acompanhamento dos astros. Seu motor pode vir integrado à montagem ou comprado separadamente. Para um perfeito acompanhamento do movimento dos astros, o eixo de ascensão reta deve ficar perfeitamente alinhado com o eixo de rotação da Terra, ou seja, apontando perfeitamente para o polo celestial do hemisfério em que estiver localizado.Eixo de declinação (Ilustração 34): movimenta o telescópio do norte para o sul. Apesar de ser muito importante, principalmente em montagens maiores, é menos relevante do que o eixo de ascensão reta, podendo até ser usado sem motorização mesmo em Astrofotografia de céu profundo. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 112 Embreagens (Ilustração 35): têm a função de travar e destravar os eixos da montagem. Quando travadas, não é possível movimentar o telescópio com as mãos, somente com o uso da motorização ou controles manuais. Quando destravadas, permitem a movimentação do telescópio com as mãos, mas a montagem não responde aos comandos dos controles. É o mesmo princípio da embreagem de um automóvel. Quando você pisa na embreagem de um veículo com câmbio manual, o carro não responde ao acelerador. As embreagens são muito importantes na hora de instalar o setup astrofotográfico, principalmente no processo de balanceamento do conjunto. Telescópio Polar (Ilustração 35): fica inserido dentro do eixo de ascensão reta, estando perfeitamente alinhado a ele. Sua função é ajudar no alinhamento da montagem com a rotação da Terra. No hemisfério norte, o seu uso é muito simples, pois lá eles têm uma estrela bastante brilhante muito próxima ao polo celeste norte, que aparece nitidamente no telescópio polar. Isso permite um rápido ajuste da montagem se o polo celeste estiver à vista. No Hemisfério Sul, não há nenhuma estrela brilhante nas proximidades do polo celeste que possa indicar como alinhar a montagem por meio do telescópio polar. Apesar disso, o telescópio polar pode ser utilizado com a criação de uma falsa estrela polar, com o uso de um laser verde ou através da localização de algumas estrelas mais pálidas próximas do polo, num céu muito escuro. Encaixe do dovetail (Ilustração 35): a montagem conecta-se ao tubo óptico através deste componente. Ele não existe nas montagens mais simples, EQ1 e EQ2, que somente têm um encaixe para você colocar as braçadeiras do telescópio diretamente na montagem. O encaixe segura o dovetail por parafusos de pressão e normalmente vem em dois padrões, Vixen e Losmandy, sendo o Vixen mais estreito e o Losmandy mais largo. Algumas montagens podem ter capacidade de encaixar os dois tipos ou podem ser usados adaptadores para isso. Portas para controle de mão e guiagem (Ilustração 35): as boas montagens para Astrofotografia costumam ter estas duas portas. Na porta para controle de mão você conecta o Rodrigo Andolfato 113 controle que acompanha a montagem. Ele pode ser simples, capaz apenas de movimentar a montagem, necessitando que você encontre o alvo a ser registrado por meio da buscadora do telescópio, ou pode ter um sistema chamado GoTo, que permite selecionar um objeto no controle e a montagem automaticamente apontará para ele. Para que o GoTo funcione bem, você deve primeiro alinhar a montagem com o eixo polar e depois o próprio GoTo. Você também pode usar esta porta para controlar a montagem com um computador, dispensando ter que segurar o controle de mão. A porta para guiagem serve para você ligar a câmera para autoguiagem. Ajuste de latitude (Ilustração 35): são parafusos que ajustam a inclinação do eixo de ascensão reta, permitindo que o seu ângulo fique exatamente de acordo com a latitude onde o telescópio se encontra (daí o seu nome). Uma observação importante para quem fotografa em regiões mais ao norte do Brasil é que as montagens equatoriais possuem este parafuso de ajuste na frente e atrás, mas, em baixas latitudes, a barra fica muito próxima da cabeça da montagem. Com setups Ilustração 35: Esquema com principais componentes da cabeça de uma montagem equatorial Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 114 astrofotográficos leves, os contrapesos ficam mais altos na barra de contrapeso e podem bater no parafuso de ajuste dianteiro durante a movimentação. Felizmente, como em baixas latitudes todo o peso fica concentrado no parafuso traseiro, o dianteiro pode ser removido. Já em altas latitudes é recomendável não retirar este parafuso, ou a cabeça da montagem pode cair para trás. Ajuste fino de azimute (Ilustração 35): são dois parafusos, que, conectados a um pino no tripé, permitem que você desloque a cabeça da montagem levemente para a direita ou para a esquerda, permitindo ajustar o eixo de ascensão reta à longitude do polo celeste. Serve para que você não tenha que arrastar os pés do tripé depois que monta o setup, caso perceba que o eixo de ascensão reta não está perfeitamente alinhado com o polo. Barra de Contrapesos (Ilustração 34): carrega os contrapesos e está perfeitamente alinhada com o eixo de declinação. Ela geralmente pode ser retirada ou embutida na cabeça da montagem para transporte. Algumas podem ser aumentadas, com uma barra extensora, para afastar ainda mais os contrapesos quando com setups mais pesados, como uma opção a adição de mais contrapesos. Contrapesos: instalados na barra de contrapesos, contrabalanceiam o peso do setup astrofotográfico, permitindo à motorização do eixo de ascensão reta realizar o mínimo de esforço durante a movimentação do telescópio. Os contrapesos possuem um parafuso de pressão que permite ajustar a sua posição na barra de contrapesos. Quando mais pesado estiver o setup astrofotográfico, mais afastados os contrapesos devem estar ou mais contrapesos devem ser instalados na barra. Eles costumam vir acompanhando as montagens equatoriais, mas também podem ser adquiridos à parte. Rodrigo Andolfato 115 Tripés: carregam a montagem e todo o setup. Acompanham a maioria das montagens e sua qualidade e robustez é de fundamental importância para a Astrofotografia. Avalie bem o tripé de uma montagem antes de adquiri-la. Se eles forem feitos de material frágil (em especial alumínio) ou forem muito finos, podem tornar a Astrofotografia impossível. Prefira as montagens que acompanham tripés mais robustos, de preferência feitos de aço ou madeira. Os feitos de alumínio podem ser mais frágeis e instáveis, embora sejam mais leves. O problema dos Tripés em Montagens Equatoriais: em regiões localizadas próximo à linha do equador, donos de montagens equatoriais podem enfrentar um problema. Essas montagens normalmente são projetadas pensando principalmente em astrônomos amadores das regiões temperadas do planeta, acima do Trópico de Câncer, onde estão concentrados cerca de noventa por cento ou mais do público consumidor deste equipamento. Nestes locais, ao se ajustar o eixo de ascensão reta em mais de vinte graus de latitude, a barra de contrapesos fica afastada o suficiente para que o eixo possa girar sem que os contrapesos batam no tripé. Mas em locais em baixas latitudes, a barra fica demasiadamente próxima de um dos pés do tripé, a ponto do contrapeso esbarrar no pé do tripé que esteja na mesma direção do eixo de ascensão reta. Muitas montagens, entre elas algumas das mais caras disponíveis, costumam ter um dos pés do tripé direcionados para a frente da montagem, justamente onde está a barra de contrapesos. Isso é feito porque a maior parte do peso de um setup sobre uma montagem equatorial acaba se concentrado à frente da montagem, não importa em que posição o telescópio esteja. Algumas montagens permitem que você inverta o tripé (Ilustração 36), colocando o pé que está alinhado com o eixo de ascensão reta para trás, enquanto os outros dois, que se posicionam mais para o lado, podem ficar à frente sem que a barra de contrapesos esbarre no tripé quando você movimenta o setup no eixo de ascensão reta. Essa mudança requer um pouco Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 116 de atenção. Se houver demasiado peso à frente da montagem, com os pés mais para trás, o telescópio pode cair para frente. E é justamente em baixas latitudes que o peso tende a se concentrar mais àfrente do telescópio. Muitos astrofotógrafos avançados não gostam de tripés. Além de atrapalharem o movimento dos contrapesos, podem não ser estáveis o suficiente. É comum serem substituídos por pilares fixos ou móveis, considerados menos sujeitos a vibrações. As montagens mais robustas nem são vendidas com tripés, pois são pensadas para serem usadas em observatórios, instaladas sobre um pilar. Mesmo para montagens menores, pilares são interessantes por ocuparem menos espaço que os tripés. Todo astrofotógrafo um dia acaba acidentalmente chutando o tripé do telescópio Pé Alinhado com o eixo de acensão reta Pé Alinhado com o eixo de acensão reta Barra de contra- pesos Ilustração 36: Em baixas latitudes, a barra de contrapesos fica muito próxima à montagem, obrigando muitos astrofotógrafos a colocarem o tripé invertido, com o pé de apoio para trás. Mas nem toda montagem tem esta opção. Rodrigo Andolfato 117 durante uma sessão de captura. Quando totalmente aberto, a ponta de cada pé de um tripé chega a ficar quase dois metros distantes uma da outra. Trabalhando no escuro, torna-se muito complicado andar em volta do telescópio sem esbarrar nos pés de um tripé. Alguns astrofotógrafos chegam até a colocarem luzes de LED ou adesivos luminosos na ponta dos pés dos tripés durante sessões de captura. Chutar um tripé dificilmente derrubará seu telescópio, mas vai desalinhá-lo em relação ao polo e, se o setup estiver fotografando, você também vai perder o enquadramento da imagem e ter que arrumar tudo de novo. Com um pilar móvel, o espaço ocupado pelo seu equipamento se reduz a aproximadamente a metade. Se o pilar for fixado no chão, num observatório, este espaço se reduzirá ainda mais. Com um pilar, não importa o quanto o eixo de ascensão reta de seu telescópio esteja horizontal, o telescópio poderá se movimentar sem que os contrapesos batam no pilar. Uma solução híbrida é o uso de um pilar extensor entre a cabeça da montagem e o tripé. Este pilar tem a função de distanciar a barra de contrapesos das pernas do tripé, acrescentando algo em torno de trinta a quarenta centímetros de altura em sua montagem. Você mesmo pode fazer esse extensor ou pode adquiri-lo no mercado. Se for comprar, procure saber se é totalmente compatível com sua montagem. Tamanhos de montagens equatoriais Em Astrofotografia de céu profundo, o trabalho da montagem deve ser feito com 100% de precisão, para não prejudicar a captação dos frames de longa exposição. Para que isso seja possível, o conselho é que o peso do telescópio, mais todos os acessórios, não ultrapasse 60% do peso definido pelo fabricante da montagem como sendo a sua capacidade máxima (payload). Caso o peso do setup fotográfico esteja próximo ao limite da montagem, o número de frames com problemas de acompanhamento pode ficar bastante elevado. Alguns astrofotógrafos incorporam um número tão grande de acessórios ao seu setup astrofotográfico, que o peso pode ficar desproporcional mesmo que um telescópio pequeno esteja Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 118 sendo usado para a captura. Um Sistema de autoguiagem pode ser um dos acessórios que mais acrescenta peso ao setup do astrofotógrafo. Um CCD monocromático com sensor grande, com uma roda de filtros de duas polegadas motorizada, também será uma carga considerável. Muitos astrofotógrafos ainda gostam de colocar uma câmera com lente de carona no setup, numa técnica chamada de Piggy Back, em que aproveitam para fazer imagens de grande campo, enquanto o telescópio captura os astros mais de perto. As montagens equatoriais mais populares são fabricadas em determinados padrões de tamanho e capacidade de carga, designados pelo termo EQ (Equatorial Mount). As menores são as montagens tipo EQ1. Depois vêm as EQ2, que são muito parecidas, mas um pouco mais robustas e com eixos um pouco mais longos, que facilitam a movimentação dos telescópios, principalmente quando as montagens estão motorizadas. Estas duas montagens são mais facilmente encontradas sendo vendidas juntas com telescópios mais baratos. Com esses Ilustração 37: Montagem equatorial EQ1 motorizada, sendo usada com câmera DSLR e lente 18-55mm. Rodrigo Andolfato 119 telescópios nessas montagens, é possível fotografar objetos mais brilhantes do sistema solar, utilizando câmeras planetárias, mas o conjunto fica instável demais para Astrofotografia de céu profundo, sendo essas montagens mais adequadas a esse tipo de fotografia quando o telescópio é substituído por uma lente fotográfica, de preferência das mais leves, como na Ilustração 37. Existem dois tipos de motorização comercializadas para montagens EQ1 e EQ2. Um deles utiliza uma bateria de 9 volts e possui um corpo único, encaixado na montagem, onde ficam os controles e a bateria. Um outro tipo de motorização, chamado motor de passo, utiliza 4 pilhas grandes e é dividido em três partes: uma caixa onde vão as pilhas, o drive do motor, que é encaixado na montagem, e um controle de mão. Este segundo tipo de motor, que aparece na Ilustração 37, é muito melhor do que o primeiro. O motor que usa bateria de 9 volts é até mais bonito e também portátil, mas nele é necessário ajustar a velocidade do acompanhamento num controle pequeno e sem qualquer tipo de marcação. Já o modelo com motor de passo tem a velocidade pré-definida fixa, não sendo necessário qualquer ajuste, apenas alinhar corretamente a montagem. Falando honestamente, fotografar com montagens do tipo EQ1 ou EQ2 só é recomendável se não houver outra opção melhor. De todas as formas de acompanhamento motorizado em Astrofotografia, certamente essas duas montagens terão o pior desempenho entre as equatoriais. Além de terem um acompanhamento precário, a colocação do motor impede que a montagem aponte para todas as direções, obrigando o astrofotógrafo a recorrer a extensões ou adaptadores para o suporte da câmera. Já a diferença da EQ2 para a EQ3 é bastante visível. Uma montagem EQ3 é muito mais robusta e a partir da EQ3 as montagens aceitam o uso de dovetails, o que ajuda a adaptar diferentes telescópios e câmeras fotográficas à montagem. Da EQ3 as montagens equatoriais pulam direto para a EQ5 – a EQ4 não é mais fabricada. A fabricante Celestron até Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 120 tem uma montagem chamada CG4, mas não se engane, é um artifício de Marketing. Ela é exatamente como uma EQ3. Para Astrofotografia séria com telescópio, uma EQ5 motorizada é a montagem recomendada para se começar. Ela é robusta o suficiente para carregar, com razoável competência, um refrator apocromático de até 100mm de abertura e um setup leve de autoguiagem (com um guider de no máximo 50mm). É muito comum que as EQ5 sejam vendidas já com um conjunto chamado de GoTo, que permite ao usuário digitar o número de um objeto celeste em um controle remoto e a montagem movimenta o telescópio automaticamente até apontar para o objeto selecionado. Imediatamente acima da EQ5 está a EQ6. Uma EQ6 aguenta até vinte quilos de carga, segurando bem para Astrofotografia de céu profundo até refratores apocromáticos de 150mm, refletores newtonianos de até 200mm ou cassegrains de 280mm. Mas já vi boas fotos de céu profundo feitas em EQ6 Ilustração 38: Montagens da marca Sky-Watcher (fonte: http://Sky-Watcher.com) Rodrigo Andolfato 121 até com refletores de 250mm, se o resto dos equipamentos for bem leve. Ao contrário das montagens anteriores, a EQ6 é sempre vendida motorizada, com GoTo e entrada para guiagem, enquanto uma EQ5 pode ser encontrada sem motorização ou GoTo. As EQ6 mais populares são a NEQ6 da Sky-Watcher, a Orion Atlas, da Orion e a CGEM, da Celestron. A Sky-Watcher Caraterí sticas EQ1 EQ2 EQ3 EQ5 EQ6 EQ8 Capacida de de Carga* 3,2 quilos 4,1 quilos 5,5 quilos 10-14 quilos¹ 18-20 quilos¹ 50 quilos Peso (sem contrapesos)* 3,3 quilos 6 quilos 10,2 quilos 15 quilos 23,5 quilos 55 quilos Motoriza ção Mais comum vendida Separadam en-te Mais comum vendida Separadamen- te Mais comum vendida Separadamen-te Mais comum vendida em conjunto Sim Sim GoTo Não Não Vendido Separadamen-te ou em conjunto Mais comum vendida em conjunto Sim Sim Entrada Para autoguiag em Não Não Vendida Separadamen-te ou em conjunto Mais comum vendida em conjunto Sim Sim Recomen dada para... Astrofotog ra-fia de Céu profundo com câmeras DSLR e lentes pequenas de até 300g. Astrofotogra- fia de Céu profundo com câmeras DSLR e lentes de até 600g. Astrofotogra-fia de Céu profundo com uso de lentes de até 1 quilo ou telescópios pequenos. Astrofotogra-fia planetária com o uso de refletores de até 150mm. Astrofotogra -fia de Céu profundo com uso de telescópios médios (refratores apocromáti- cos de até 100mm ou refletores de até 150mm). Astrofotogra fia planetária com o uso de refletores de até 200mm. Astrofotogra-fia de Céu profundo com uso de telescópios médios (refratores apocromáti-cos de até 150mm e refletores de até 200mm) astrofotogra-fia planetária com refletores de até 300mm. Astrofotogra- fia de Céu profundo e planetária com telescópios refratores apocromático s de até 150mm² e refletores de até 400mm. Tabela 3: Comparação entre montagens equatoriais, pelo padrão mais comum. * Os pesos são aproximados ¹ – Pesos variam de acordo com o modelo. ² – Acima de 150mm, devido ao altíssimo custo, não é vantagem a Astrofotografia com refratores apocromáticos sendo sempre preferível refletores. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 122 ainda tem uma versão híbrida da EQ5 e outra da EQ6, conversíveis para altazimutal, podendo até carregar dois telescópios lado-a-lado. Acima da EQ6 também temos uma ausência na classificação e vamos diretamente para a EQ8, um monstro capaz de carregar um telescópio de até 50 quilos. O único defeito da EQ8 é que ela é bastante pesada e o seu transporte, junto com o telescópio que ela carregará, não está ao alcance de todos. É um telescópio mais adequado para quem tem um observatório fixo. A EQ8 é fabricada pela Sky-Watcher. A Celestron tem uma montagem concorrente da EQ8, chamada de CGE Pro. Ela se parece muito com a EQ8 em robustez, embora tenha uma capacidade máxima de 40 quilos. Acima temos uma tabela com as principais características das montagens equatoriais mais populares: Entre as marcas consideradas TOP, as montagens equatoriais podem ter desenhos bastante diferentes e raramente possuem algo que as identifiquem ser uma EQ5 ou EQ6. Geralmente você só pode comparar com as marcas populares a partir da capacidade de carga. Entre estas marcas, algumas montagens são bastante populares entre os astrofotógrafos mais avançados. Podemos citar como destaque: Losmandy G11: Essa robusta montagem é uma das mais populares entre astrofotógrafos avançados que não têm observatórios. Pelo seu porte e capacidade de carga, é concorrente direta das EQ6. A Losmandy também tem um modelo ainda mais portátil, chamado GM-8, para telescópios apocromáticos pequenos, concorrente das EQ5, e ainda um modelo gigante, chamado, não sem razão, de Losmandy HGM Titan, concorrente das EQ8. Todas as montagens da Losmandy, bem como de todas as marcas top, são geralmente consideradas superiores a seus equivalentes populares, mas também são bem mais caras. Astro-physics: Esta marca é muito respeitada mesmo entre os astrofotógrafos avançados e sonho de consumo de Rodrigo Andolfato 123 muitos. É uma das fabricantes de montagens mais celebradas. O modelo mais barato suporta cerca de vinte quilos, segundo suas especificações. É praticamente o mesmo peso suportado por uma EQ6, mas custa quatro vezes mais caro. Essa montagem é até bem mais cara do que uma EQ8 da Sky-watcher. E esse preço é só a montagem em si, sem o tripé. A montagem top de linha da Astro-Physics é a 3600GTO. Ela é para telescópios como os Ritchey de 24 polegas da Fabricante Officina Stellare, conseguindo suportar mais de 130 quilos tranquilamente. Trackers Os trackers são como minimontagens que podem ser colocadas sobre tripés fixos de máquinas fotográficas, permitindo uma câmera com uma lente de até um quilo, ou um telescópio bem pequeno, acompanhar o movimento do céu, proporcionando frames com tempos de exposição muito maiores do que se a câmera apenas estivesse sobre um tripé comum de máquina fotográfica. Basta colocar uma ball head na base do tracker (Ilustração 39) e apontar sua câmera para o alvo escolhido. Estes trackers costumam ser equipamentos Ilustração 39: tracker da Ioptron, chamado SkyTracker. Este aparelho acrescenta pouco mais de um quilo a um setup do tipo "Tripé Fixo", dando à câmera poder de acompanhar o movimento da esfera celeste por alguns minutos. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 124 bastante precisos. Bem alinhados, podem conseguir frames de até dois minutos com lentes de 135mm em DSLRs. O que é mais do que suficiente para muitas imagens do céu profundo. O acompanhamento dos tracker é bastante superior ao que se consegue com montagens EQ1 ou EQ2, mas eles também costumam ser mais caros do que as montagens equatoriais mais baratas. Trackers só possuem motorização no eixo de ascensão reta, por isso, podem ser um pouco complicados de trabalhar em distâncias focais maiores. Alguns possuem porta para guiagem, e bem alinhados, podem conseguir tempos de exposição maiores. Recomendo trackers principalmente para quem mora em locais com grande poluição luminosa, mas pode viajar para céus mais escuros e não quer (ou não pode) levar um equipamento muito pesado. Se portabilidade é algo determinante e você vai usar principalmente lentes, considere a aquisição de um tracker. Os mais populares são o Skytracker (Ilustração 39), da Ioptron e o Star Adventurer, da Sky-Watcher. CÂMERAS Câmeras são, para mim, o elemento mais importante na Astrofotografia. Não que montagem e telescópios sejam menos importantes. Mas principalmente esse último é muitas vezes supervalorizado em prejuízo da câmera. Sempre repito que nunca vi uma foto boa feita com uma câmera ruim num telescópio bom, mas já vi muitas fotos boas feitas em telescópios ruins, mas com boas câmeras. É muito comum novos astrofotógrafos investirem muito num telescópio e negligenciarem na hora de comprar a câmera, adquirindo modelos baratos, muitas vezes totalmente inadequados ao tipo de Astrofotografia que planejam realizar. Uma coisa que noto é que os saltos espetaculares de qualidade que os astrofotógrafos conseguem ocorrem quando desistem de uma câmera deficitária e adquirem um modelo superior. Um astrofotógrafo de céu profundo verá uma boa Rodrigo Andolfato 125 melhora ao trocar um telescópio de 100mm por um 200mm, mas a troca de uma DSLR antiga por uma CCD monocromática de alta resolução irá impressionar muito mais, bem como um astrofotógrafo planetário que troque sua Webcam adaptada por uma moderna câmera planetária dedicada. Modelos de câmeras astrofotográficas Basicamente, podemos dizer que toda câmera serve para Astrofotografia, da mesma forma que toda lente ou telescópio também se presta para o trabalho. Entretanto tanto aqui como lá, existem modelos muito mais adequados ao serviço do que outros. Câmeras Astronômicas resfriadas para Astrofotografia de céu profundo: São as câmeras mais desejadas pelos astrofotógrafos de céu profundo. Possuem grande sensibilidade, pouco ruído e apresentam resultados superiores. Parecem aparelhos bem simples ao se olhar por fora, podendo não despertar muito interesse de um leigo em Ilustração 40: Modelos de câmeras utilizadas em Astrofotografia Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 126Astrofotografia. São basicamente caixas metálicas geralmente sem nenhum botão, nem de liga/desliga, pois todas devem ser totalmente controladas através de um computador. Alguns modelos monocromáticos mais complexos possuem rodas de filtros internas que também serão controladas por computador e permitem ao astrofotógrafo automatizar todo o processo. Algumas das marcas mais respeitadas são Atik, SBIG, Apogee, QHY, QSI, Starlight e ZWO. São geralmente empresas bastante especializadas, que fabricam poucos produtos além de suas câmeras. − DSLRs: são as câmeras digitais com lentes intercambiáveis usadas por fotógrafos profissionais ou amadores avançados. As melhores DSLRs estão entre as mais eficientes câmeras fotográficas que existem e mesmo os modelos mais baratos, chamados de modelos de entrada, são capazes de produzir imagens com qualidade, na mão de um fotógrafo com alguma prática. As DSLRs não foram fabricadas pensando em Astrofotografia, mas se tornaram populares nesta atividade pelos seguintes motivos: − Versatilidade: são repletas de configurações, permitindo ao astrofotógrafo controlar tempo de exposição, balanço de branco, nível de sensibilidade (ISO) e até mesmo a abertura de sua lente, podendo diminuir a abertura, para imagens ainda mais esmeradas, ou aumentar, caso precise de mais velocidade de captação. − Fácil adaptação ao telescópio: com adaptadores baratos, encontrados em qualquer boa loja de equipamentos astronômicos, você facilmente conecta o corpo de sua DSLR a um telescópio, transformando o tubo óptico numa lente de enorme distância focal. Muitas vezes por um uma fração do preço que você pagaria por uma lente de distância focal equivalente. − Preço: uma DSLR de entrada pode custar muito menos do que uma câmera astronômica com sensor similar. Rodrigo Andolfato 127 − Recurso de Live View: em DSLRs é possível ver na tela do LCD ou em seu computador o que a câmera está captando em tempo real. Esse recurso ajuda muito a ajustar o foco da câmera ou a enquadrar a imagem se houverem estrelas brilhantes no campo da câmera. Em câmeras astronômicas esses ajustes devem ser feitos foto por foto. Mas, em relação as câmeras feitas para Astronomia, as DSLRs têm basicamente duas desvantagens: não são resfriadas e precisam de uma modificação delicada, com a retirada de um filtro à frente do sensor. Este filtro bloqueia grande parte da luz vermelha emitida pelas nebulosas de emissão. Mas os dois problemas podem ser contornados. O resfriamento pode ser compensado com intervalos razoáveis entre os frames, para manter a temperatura do sensor em níveis aceitáveis. Já o filtro que bloqueia a luz vermelha pode ser retirado e trocado por outro, adquirido em lojas de equipamentos astronômicos, permitindo a Astrofotografia de nebulosas de emissão e também de fotos normais do dia-a-dia. Como são voltadas para muitos outros tipos de fotografia, câmeras do tipo DSLRs, bem como as lentes usadas por elas, podem apresentar recursos que não tem utilidade em Astrofotografia, como foco automático, estabilizador de imagem, flash. Cabe a você analisar esses recursos para outros usos que pretende dar à sua câmera, que não a Astrofotografia. As marcas de DSLRs mais populares em Astrofotografia são Canon e Nikon. Isso não é nenhuma surpresa. São também as marcas preferidas de muitos dos melhores fotógrafos jornalísticos e artísticos do mundo. Há outras marcas de DSLRs que certamente produzem fotos tão boas quanto as câmeras Canon ou Nikon, como Sony, Panasonic e Olympus. Mas como as primeiras são mais populares na Astrofotografia, adquirir uma DSLR que não seja Canon ou Nikon, tornará a procura de acessórios e programas compatíveis uma atividade um pouco ingrata. A Canon é tão popular entre os astrofotógrafos, que durante anos foi a única marca de câmeras a oficialmente reconhecer este mercado, ao fabricar a Canon 20Da (o “D” é de Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 128 digital e o “a” é de “Astronomy”) e depois a 60Da, câmeras já modificadas para Astronomia. A Nikon recentemente contra- atacou, jogando pesado. Lançou a D810a, câmera full frame com grande sensibilidade à luz das nebulosas de emissão. Essas câmeras são mais caras do que se você comprar um modelo normal mais a troca do filtro, mas têm a vantagem de terem sido adaptadas pela própria fabricante, com garantia e sem os riscos da complicada operação de troca de filtro. Modificação de DSLRs O que acontece com as DSLRs é que, como acontece com qualquer câmera, o sensor absorve uma faixa da luz infravermelha e ultravioleta que nossos olhos não são capazes de captar. O resultado disso é que, sem um filtro UV/IR Cut que acompanha todas as DSLRs e fica exatamente à frente do sensor, as imagens registradas por estas câmeras ficariam com cores de aspecto diferente do que nossos olhos percebem. Além disso, a captura de luz infravermelha tira um pouco da nitidez das imagens, já que estes raios de luz têm ondas de comprimento maior. O problema é que esse filtro também bloqueia 80% da luz emitida por nebulosas de emissão e muitas das nebulosas mais belas são de emissão, como as nebulosas da Lagoa, Carina, Águia e mais uma centena de exemplos. Como o filtro das câmeras bloqueia somente luz de nebulosas de emissão, você pode até pensar que a fotografia de galáxias não será afetada pela presença do filtro UV/IR Cut, mas muitas galáxias possuem nebulosas destacadas, que podem ser registradas por equipamentos amadores e a ausência delas nas fotografias pode tirar um pouco da beleza de alguns destes objetos, como a Galáxia do Triângulo (M33), M83, entre outras. Alguns astrofotógrafos optam por somente retirar o filtro original das DSLRs. Isto transforma estas câmeras em exemplares chamados de Full Espectrum, pois absorvem toda a faixa de luz que o sensor é capaz de detectar. Esta modificação tem a vantagem de ser mais barata e mais simples, já que você não precisa instalar nem comprar um filtro substituto, que é muito difícil de encontrar no Brasil. Mas a modificação Full Rodrigo Andolfato 129 Espectrum tem algumas desvantagens que tornam somente a retirada do filtro original não muito recomendada. A câmera torna-se inadequada para fotos normais durante o dia e, mesmo na Astrofotografia, a imagem fica menos nítida, com estrelas gordas, principalmente quando o registro é feito com lentes fotográficas ou telescópios refratores. Outros astrofotógrafos preferem modificar suas DSLRs adquirindo um filtro que deixa passar, além da luz visível, somente a luz vermelha emitida pelas nebulosas de emissão, bloqueando outros espectros que prejudicariam a fotografia diurna e o uso da câmera em refratores. Existem filtros modernos, como o Baader BCF #235 9213, que permitirão continuar usando a sua DSLR para fotos de pessoas, paisagens e outros interesses na fotografia normal, bastando apenas uma regulagem no balanço de branco. Mas a troca do filtro UV/IR cut de uma DSLR não é uma tarefa simples. Muito pelo contrário, exige uma série de operações bastante complexas. Há guias na Internet que ensinam como fazer esta modificação, mas só é recomendável que seja feita por quem já tem experiência em lidar com equipamentos eletrônicos delicados. Caso contrário, o ideal é procurar um especialista que possa fazer o serviço para você. Eu mesmo nunca tentaria fazer este trabalho, mas adquiri um filtro Baader num site de equipamentos astronômicos europeu e enviei o equipamento a uma autorizada da Canon em Brasília, que realizou a modificação da minha DSLR. Outras modificações que se podem fazer em DSLRs são a inclusão de resfriamento do sensor e a retirada dos microfiltros que tornam a câmera colorida, para torná-la monocromática. São modificações complexas, embora seja possível encontrar profissionais que realizem o trabalho, principalmente no exterior. Mas se estiver pensando em fazer tantasmodificações em sua DSLR, talvez seja o caso de se pensar se não vale a pena logo adquirir uma câmera específica para Astronomia, até por que sempre existe o risco de danos às câmeras durante estes trabalhos, mesmo quando realizado por pessoas preparadas. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 130 Conectando sua DSLR no Telescópio. Câmeras DSLRs não foram projetadas para se conectarem a telescópios, mas a adaptação é bastante simples. Estas câmeras se conectam a maioria dos telescópios através de um adaptador T2 de 1,25 ou duas polegadas (Ilustração 41), que permite encaixar a DSLR no telescópio como uma ocular normal. Se possível, evite usar o modelo de 1,25 polegadas com DSLRs, mesmo que seja uma DSLR com sensor cropado, pois o adaptador pode bloquear parte da luz recebida pela objetiva, causando vinhetagem. Se sua câmera for do tipo full frame, o adaptador de duas polegadas é obrigatório. O Adaptador T2 não se conecta diretamente em sua DSLR. Para isso, você precisa de um Anel T2 para o seu modelo de câmera, que conectará sua DSLR ao adaptador T2 Anel T2 Adaptador T2 Porta Ocular Câmera DSLR sem lente Ilustração 41: Esquema mostrando a ordem das peças para adaptação de uma câmera DSLR ao telescópio em foco primário. O anel T2, específico para a marca da câmera encaixa no adaptador T2, universal, que vai ao porta ocular do telescópio Rodrigo Andolfato 131 (veja a Ilustração 41). Alguns telescópios já possuem uma rosca T2 na saída da ocular, dispensando o adaptador T2, sendo necessário que você adquira somente o Anel-T. Os anéis e os adaptadores encaixam-se através de roscas M42 ou M48. Se um deles tem rosca M42 o outro obrigatoriamente deverá ter rosca M42 e o mesmo para M48. Caso a sua câmera seja do tipo full frame, prefira o Adaptador e o Anel com rosca M48, enquanto o M42 atende bem câmeras com sensores cropados. O M42 também atende câmeras com sensores full frame, mas causando um pouco de vinhetagem. O método mostrado na Ilustração 41 é chamado de foco primário, onde a luz da objetiva é transmitida diretamente para o sensor da câmera, sem sofrer mudanças na forma de convergência através de barlows, redutores ou oculares. Este método é o mais popular na Astrofotografia de céu profundo, mas existem outros métodos que merecem ser mencionados: − Método Afocal (câmera + lente fotográfica + ocular): nesse método, uma câmera com lente é conectada ao telescópio apontada para uma ocular no porta ocular. Aqui, a câmera com lente funciona como o seu olho, captando o que é transmitido através da ocular. Pode ser feito com o astrofotógrafo segurando a câmera com a mão, ou com um suporte, fixando a câmera na ocular, permitindo tempos maiores de exposição. É um método usado principalmente por iniciantes, em seus primeiros experimentos astrofotográficos, com fotos planetárias ou lunares mais simples. Para fotos mais avançadas é considerado um método difícil de produzir bons resultados, principalmente para fotografia de céu profundo. − Projeção positiva (câmera + ocular): a diferença deste método para o afocal é que a câmera é usada sem lente, com o sensor captando diretamente a luz da ocular. É usado com um adaptador, que conecta a câmera ao telescópio, possuindo um barril onde a ocular fica presa à frente do sensor. É um método muito valorizado por astrofotógrafos planetários, principalmente por ser mais barato do que a aquisição de barlows de qualidade, mas capaz de produzir resultados semelhantes. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 132 − Projeção negativa (câmera + barlow): neste método, uma câmera sem lente é conectada ao telescópio (sem ocular) através de uma barlow, que também pode ser um extensor focal ou powermate. A barlow aumentará a distância focal do telescópio, permitindo aumentos mais elevados. É um método muito usado em Astrofotografia planetária e para detalhes da superfície lunar e solar. Para Astrofotografia de céu profundo, como o uso de barlows torna a captura mais lenta, a projeção negativa é pouco comum. − Compressão (câmera + redutor focal): aqui, ao contrário de uma Barlow, usa-se um redutor focal, que diminuirá a ampliação do sistema óptico, mas tornará a captação de luz mais rápida, com a diminuição da razão focal. É muito apreciado por astrofotógrafos de céu profundo, por acelerar a captura de objetos mais pálidos, mas exige muita atenção na qualidade e na compatibilidade entre o redutor focal e o telescópio. Câmeras para Astrofotografia planetária. As câmeras para Astrofotografia planetária na verdade são câmeras de vídeo. Elas podem até gerar arquivos TIFF ou JPG, mas a sua maior funcionalidade para o registro de planetas é a capacidade de gerar arquivos de vídeo, com centenas ou milhares de frames, que serão integrados numa única imagem por softwares como o Registax ou AutoStackkert!. As câmeras planetárias geralmente possuem sensores pequenos, com resolução máxima próxima de um megapixel. O sensor é pequeno porque planetas normalmente ocupam um campo muito reduzido. Sendo assim, não há necessidade de grandes sensores. Estas câmeras permitem até que você selecione apenas uma área específica do sensor, onde o planeta está aparecendo, para poder captar ainda mais frames em menos tempo, e produzir uma imagem melhor. Fisicamente, as câmeras planetárias são bem parecidas com as dedicadas a Astrofotografia de céu profundo. São caixas metálicas com uma entrada para ligar ao computador. Geralmente menores do que as câmeras para céu profundo, muitas câmeras planetárias possuem uma porta ST-4, que Rodrigo Andolfato 133 permite a você ligá-la na montagem e usar como câmera de guiagem para céu profundo. É bastante recomendável que você adquira uma câmera planetária com porta ST-4, a não ser que você tenha certeza de que nunca irá se interessar por Astrofotografia de céu profundo. Atualmente existem câmeras com sensor do tipo CMOS com características híbridas. Elas possuem resfriamento e sensores maiores do que as câmeras planetárias tradicionais, mas também são capazes de transmitir vídeo a grande velocidade, permitindo ao astrofotógrafo registrar bem tantos objetos de céu profundo quanto planetas. Destaque principalmente para os modelos da fabricante ZWO. Já as câmeras astronômicas resfriadas com sensor do tipo CCD, geralmente são mais adequadas para céu profundo. A seguir, vamos falar sobre sensores. Ilustração 42: Sensor de câmera CCD astronômica Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 134 Características Básicas de uma câmera Sensores O principal componente de uma câmera digital certamente é o sensor. É essa peça que tem a função primordial de receber e ler a luz que é convergida pela objetiva e transformá-la na informação que chegará a seu computador. Trata-se de um chip que contem milhares ou mesmo milhões de transistores capazes de converter a luz em sinais elétricos. Cada transistor será responsável por um pixel na imagem. Até uns vinte anos atrás, a Astrofotografia era feita com câmeras que usavam rolos de filmes, mas o surgimento de sensores digitais, que evoluíram numa velocidade incrível em cerca de duas décadas, aposentou completamente a Astrofotografia com filme, que hoje só é praticada como atividade nostálgica. Os sensores de hoje possuem uma sensibilidade inimaginável se comparado aos melhores rolos de filme que existiram e, se hoje em dia, astrofotógrafos amadores com equipamentos portáteis, que podem ser levados num carro compacto, conseguem imagens superiores àquelas que observatórios profissionais produziam algumas poucas décadas atrás, certamente isso ocorreu graças ao avanço da tecnologia digital. O sensor é uma peça quadrada, plana, de coloração muito escura que fica localizado no ponto onde a câmera receberá a luz convergida (Ilustração 42). Ele pode ter o tamanhode um grão de arroz até o tamanho de um cartão de crédito. Maior do que isso você só encontrará em observatórios profissionais. Esta peça é feita com tecnologia de ponta e seu preço muitas vezes representa a maior parte do custo da câmera. As principais características do sensor de uma câmera são a área do sensor, o tamanho de seus pixels e a sua resolução. Essas três características se inter-relacionam. Rodrigo Andolfato 135 Área do sensor Quanto maior a área do sensor de uma câmera, maior será a área de captura da luz, ou seja, maior será o campo da imagem. É importante apontar que somente um sensor maior não resultará em maior qualidade da imagem. A única diferença que o tamanho do sensor provoca é no campo do céu a ser capturado. A qualidade da imagem, como resolução, ruído e sensibilidade, na verdade, será definida por outras características do sensor. Mas o que acontece é que, quando você aumenta o tamanho do sensor, tem que aumentar o número de pixels, o que aumenta a resolução da câmera, ou o tamanho dos pixels, o que aumenta a absorção de luz e a sensibilidade da câmera. Por isso, as câmeras com sensores maiores são as melhores para a fotografia de céu profundo (e também bem mais caras). Um sensor grande, que mostre mais campo, facilita encontrar e enquadrar um objeto, tornando o trabalho muito mais simples. Já sensores pequenos podem tornar a tarefa de apontar o telescópio para o objeto e conseguir o enquadramento Ilustração 43: Nebulosa da Tarântula (NGC2070). Na primeira imagem, capturada com um sensor de maior área e na segunda, com um sensor cuja a área é a metade. O sensor de maior área capta uma região maior do céu. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 136 perfeito bem mais difíceis, principalmente em telescópios com maior distância focal. Além disso, quando fotografando com câmeras monocromáticas, a captação do conjunto de cores pode gerar perda de campo na imagem se o enquadramento não for exatamente o mesmo entre as captações. Se você já tem pouco campo, com um sensor pequeno, perder ainda mais campo pode ser um grande problema. Um sensor com maior área de captação também exige uma óptica mais apurada de seu telescópio. Quanto mais você expande a área de captura, mais visíveis ficam as aberrações e deformações provocadas por deficiências da óptica do telescópio. E estes problemas poderão ser evidentes até mesmo em telescópios de maior qualidade. Tamanho dos pixels O tamanho dos pixels de um sensor é algo muito importante em Astrofotografia. Pixels maiores podem significar menor definição na imagem, mas também significam mais sensibilidade, ou seja, absorção mais rápida da informação luminosa, permitindo frames mais curtos para uma mesma imagem, ou uma imagem mais luminosa para um mesmo tempo de exposição. Além disso, pixels mais sensíveis tendem a registrar a luz com mais uniformidade, o que se traduz em menos ruído. Pixels maiores são muito bem-vindos em fotografia de céu profundo, onde a sensibilidade da câmera é fator primordial. Já em Astrofotografia planetária pixels menores podem apresentar melhores resultados, pois o mais importante no registro de planetas é a capacidade de definição. Os pixels dos sensores fotográficos são muito pequenos e seu tamanho é especificado em micrômetros. Os pixels de um sensor KAF 11000, celebrado entre os astrofotógrafos de céu profundo mais avançados, têm uma dimensão de nove micrômetros, enquanto os pixels de um sensor MT9M034, excelente sensor planetário usado pelas câmeras ZWO ASI120, tem apenas 3,75 micrômetros. Essa diferença de tamanho permite que as câmeras planetárias sejam capazes de mostrar detalhes de um objeto que é somente um ponto no céu Rodrigo Andolfato 137 (planetas), enquanto as câmeras de céu profundo, com seus pixels maiores, revelam objetos que são maiores, mas muito pálidos. Resolução O número de pixels de um sensor define a sua resolução. Quanto maior for a resolução de um sensor, maior será o tamanho da imagem digital gerada pela câmera. Uma boa resolução não define a qualidade da imagem do objeto registrado, mas aumenta a qualidade da imagem como um todo. Se tivermos duas imagens capturadas com sensores de resoluções diferentes impressas no mesmo tamanho, aquela do sensor com maior resolução parecerá muito mais nítida. Uma interessante vantagem de se ter uma câmera de grande resolução mesmo com pixels menores é que existe um recurso chamado binning, que permite compensar pixels pequenos, juntando a informação captada por pixels contínuos. Um binning 2x2 junta cada quatro pixels num único, já um binning 3x3 junta cada nove pixels de um sensor e assim por diante. Quando não ocorre essa junção, dizemos que a imagem foi fotografada com um binning de 1x1. Um belo exemplo de câmera com pixels pequenos, mas de grande resolução são as câmeras com sensor Kodak KAF8300. Estas câmeras têm sensores com 5,4 micrômetros, mas como possuem oito milhões deles, podem usar o binning 2x2, aumentando seus pixels para 10,8 micrômetros, ganhando muito mais sensibilidade e ainda mantendo uma boa resolução de dois megapixels. Outras características importantes: Profundidade de Bits Define qual a escala de tons que uma câmera trabalha, em bits. Basicamente aponta o número de níveis de brilho que cada pixel do sensor consegue reconhecer do preto ao branco absoluto. Quanto maior esse número, melhor será o resultado final da captação. Cada bit a mais quer dizer que um sensor trabalha com um número de níveis igual a dois elevado ao número de bits. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 138 Uma câmera astronômica com sensor CCD dedicada a Astrofotografia de céu profundo normalmente trabalha com 16 bits. Isso quer dizer que consegue reconhecer um número de cores igual a 2 elevado a 16, o que equivale a mais de sessenta e cinco mil tons. Já uma DSLR de entrada trabalha geralmente com 14 bits, o que diz que ela consegue captar um quarto dos tons que uma CCD consegue, cerca de 16 mil. As câmeras planetárias têm evoluído muito e os melhores modelos conseguem 12 ou 14 bits. Evite modelos que trabalhem somente com 8 bits, ainda disponíveis no mercado. Eles não conseguem reconhecer mais do que 256 tons. Dynamic Range (ou faixa dinâmica) Trata-se da faixa que uma câmera consegue captar entre os brilhos máximo e mínimo, sem deixar estourar a imagem. Quanto maior for essa faixa, maior é o dynamic range de uma câmera. É uma característica muito importante. O problema é que não é fácil achar essa informação nas especificações das câmeras nem um comparativo entre elas, mas há alguns sites especializados em análises de câmeras que podem trazer esta informação, um deles é o http://www.sensorgen.info/ Em Astrofotografia, um dynamic range elevado é fundamental quando se está fotografando objetos que tenham regiões com brilhos diferentes, e eles não são poucos. Muitas nebulosas importantes têm núcleos brilhantes em comparação com o resto de seu corpo. Certamente o objeto que mais se destaca neste aspecto é a Nebulosa de Orion (M42). Extremamente brilhante, fácil de achar e acessível dos dois hemisférios, M42 é uma das nebulosas mais fotografadas, mas essa nebulosa apresenta ao astrofotógrafo um grande desafio, por ter um núcleo muito mais brilhante do que o resto de sua estrutura, e este núcleo apresenta traços belíssimos, como o conjunto de quatro estrelas chamado Trapézio, que não devem ficar de fora da imagem. Em DSLRs, bastam tempos de exposição de 10 segundos em ISO 800 para que o núcleo de M42 estoure. Quando uma imagem estoura, que dizer que seus pixels atingiram o nível máximo de brilho e todos têm o mesmo valor de intensidade, que é o máximo da faixa dinâmica. Como Rodrigo Andolfato 139 todos os pixels têm o mesmo valor, não importa o quanto você ajuste o contraste ou o brilho que tudo na regiãoestourada permanecerá branco, ou seja, tornou-se uma região morta de sua foto. Além de muitas nebulosas, um dynamic range elevado é fundamental para a fotografia de quase todas as galáxias. Estes objetos tendem a ter um núcleo muito mais brilhante que o resto de seu corpo. Cometas e aglomerados globulares também possuem núcleos muito brilhantes em relação ao todo. Em câmeras com maior dynamic range você pode aumentar o tempo de exposição que os pixels não vão estourar facilmente. Em minha CCD Atik 314L+, por exemplo, já cheguei a conseguir registros de noventa segundos da Nebulosa de Orion sem que o núcleo estourasse, algo impensável com minha DSLR Canon T2i. Se você estiver trabalhando com uma câmera com pouco dynamic range, terá que fazer muitas imagens com tempos de exposição diferentes e integrá-las numa técnica chamada HDR, que é trabalhosa e muitas vezes não apresenta os resultados esperados, ou mesmo termina em desastre em mãos menos preparadas. Mesmo em Astrofotografia planetária, um elevado dynamic range é muito útil, principalmente quando se quer fazer o registro de planetas com muitas luas ao redor, como Júpiter e Saturno. Quem já tentou fotografar um desses planetas com uma câmera de baixo dynamic range sabe que se aumentar o tempo de exposição dos frames, para que as luas apareçam, o planeta vira uma bola branca, e se você abaixa o tempo de exposição, para mostrar o planeta, as luas somem. Um elevado dynamic range também é muito interessante nos raros momentos em que se pode registrar a conjunção de planetas com brilhos muito diferentes, passando muito perto um do outro a partir do nosso ponto de vista. Você pode aumentar o brilho do planeta menos brilhante sem estourar o mais destacado (por exemplo, Saturno, que é bem mais pálido, próximo à Júpiter, mais brilhante). Outro caso bastante interessante é a ocultação de planetas pela Lua, já que o brilho de nosso satélite natural é muito mais intenso do que o dos planetas. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 140 Eficiência Quântica Trata-se da quantidade de fótons que um sensor recebe e consegue transformar em informação digital. Um sensor com eficiência quântica de 50% é capaz de identificar 50% dos fótons recebidos, enquanto o resto ele simplesmente não enxerga. Quanto maior a eficiência quântica, mais sensível é um sensor. Mas os sensores das câmeras têm a característica de apresentarem também diferentes eficiências quânticas de acordo com a faixa de cor. Isso quer dizer que uma câmera pode captar muito mais os fótons de uma determinada faixa de cor do que de outra. A Atik 314L+, por exemplo, capta muito mais azul e verde do que vermelho. O resultado disso é que fotos de galáxia com essa câmera tendem a ser mais azuladas. O sensor Sony ICX285 desta câmera, tem eficiência quântica de 65% na faixa próxima ao azul e verde e 45% na faixa próxima ao vermelho. Câmeras com sensor KAF8300 têm um balanço mais equilibrado, uma eficiência quântica de 45% no vermelho e no azul com uma pequena elevação para 50% no verde. Sensores Coloridos e Monocromáticos Para um recém-chegado na Astrofotografia é estranho pensar que câmeras monocromáticas, que são capazes de fotos somente em preto e branco, sejam melhores do que as coloridas, mas isso geralmente acontece. Entre os astrofotógrafos avançados as câmeras monocromáticas são muito queridas. Na verdade, todo pixel de um sensor de câmera, mesmo os de câmeras coloridas, é monocromático, pois os circuitos do sensor só conseguem entender a intensidade da luz e não de que cor ela é. Mas nas câmeras coloridas, há um microfiltro à frente de cada pixel do sensor. Na maioria das câmeras, a cada quatro pixels, um tem um filtro vermelho, outro tem um filtro azul e dois têm um filtro verde. Essa maior quantidade de pixels com filtros verdes é para compensar nossa maior sensibilidade Rodrigo Andolfato 141 ao verde do que o sensor da câmera. A combinação destes microfiltros chama-se matriz de Bayer. Na matriz de Bayer, os pixels verdes, azuis e vermelhos ficam arranjados em blocos. Cada bloco é misturado para identificar a cor da imagem real e o resultado final é interpolado para formar a imagem colorida. O problema é que essa interpolação gera ruído, com muitos pixels ficando demasiadamente vermelhos ou azuis. Este ruído não aparece em imagens do dia-a-dia, mas fica evidente em imagens escuras e com longa exposição. Além disso, essa interpolação também quer dizer que câmeras coloridas precisam de quatro pixels do sensor para entender o que é um pixel de imagem. A resolução real de uma câmera colorida acaba ficando quatro vezes menor do que o número de pixels do sensor, perdendo em capacidade de definição. Uma câmera monocromática é mais simples do que a colorida. Nela simplesmente não há microfiltros à frente do sensor. Para se produzir uma foto colorida com uma câmera monocromática, o astrofotógrafo deve fazer duas ou mais imagens utilizando filtros coloridos, que ficam entre a objetiva e o sensor. Depois, no computador, o astrofotógrafo define para cada imagem a cor do filtro utilizado, ou mesmo uma cor que ele considere mais adequada ao trabalho, e junta os resultados numa única foto. A mistura destas cores resultará numa imagem colorida com cores reais ou falsas. Fotografando com filtros verde, vermelho e azul, você cria uma imagem com cores reais. Mas ao compor uma imagem em Hubble Palette, por exemplo, os canais selecionados pouco têm a ver com as cores naturais. O H-alpha é uma cor vermelha, mas na composição Hubble Palette ele é verde. A escolha entre uma câmera com sensor colorido e uma com sensor monocromático não é nada fácil. A maioria dos astrofotógrafos iniciantes começa com um sensor colorido. Afinal, é muito mais simples de usar e os resultados aparecem mais rapidamente. Conheço alguns astrofotógrafos bastante experientes que, ao adquirirem sua primeira câmera monocromática, consideraram que o maior esforço para se conseguir boas imagens tornou a prática da Astrofotografia Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 142 enfadonha, e que haviam perdido a sensação de diversão durante as sessões de captura. Alguns até venderam suas câmeras monocromáticas, voltando para as coloridas. Mas a tendência é o astrofotógrafo que deseja atingir resultados superiores buscar uma câmera monocromática. Falando por mim, eu acho que a Astrofotografia com câmera monocromática é até mais divertida. Tudo depende da forma como você vê o trabalho a mais que essas câmeras exigem. Há basicamente três tipos de Astrofotografia em que o uso de câmeras monocromáticas é tão superior que seu uso é recomendando desde o início, evitando-se câmeras coloridas: nebulosas de emissão com filtros de banda estreita, Astrofotografia solar (principalmente com filtros H-alpha solares) e lunar. Os tipos de Astrofotografia onde as duas câmeras podem ser usadas com ótimos resultados, embora com alguma vantagem para as câmeras monocromáticas, são fotografia de galáxias, de nebulosas escuras ou de reflexão, aglomerados globulares e abertos e fotografia planetária. Para startrails, fotos de paisagens com objetos celestes ao fundo e fenômenos meteorológicos, como raios, uma câmera colorida é uma ferramenta muito mais prática. Sensores CMOS e CCD Existem basicamente duas tecnologias aclamadas para os sensores de câmeras usadas em Astrofotografia, CMOS e CCD. Os sensores CMOS são celebrados por serem mais versáteis e mais baratos. Até pouco tempo atrás, eram considerados inferiores, mas esta tecnologia recebeu enormes investimentos, principalmente por estar presente em DSLRs, câmeras portáteis, de segurança e também em aparelhos celulares. Ainda recentemente, as melhores câmeras planetárias possuíam sensores do tipo CCD, mas nos últimos anos, elas têm sido batidas por uma nova geração de câmeras planetárias comexcelentes sensores CMOS. Rodrigo Andolfato 143 O sensor do tipo CCD apresenta um custo de produção maior do que o CMOS, por isso ele nunca foi viável para uso em celulares e câmeras de bolso. Seu uso ficou mais restrito em áreas de pesquisa e em câmeras de segurança de alta sensibilidade. Este tipo de sensor sempre se destacou por gerar menos ruído, sendo o preferido em Astrofotografia por muito tempo e ainda é dominante na Astrofotografia de céu profundo, tanto como hobby como em pesquisas. Mas novas câmeras com sensor CMOS têm aparecido no mercado de céu profundo. Estas novas câmeras têm um custo mais baixo do que as câmeras com sensor CCD. Talvez no momento em que você esteja lendo este livro, as câmeras com sensor CMOS já tenham dominado a Astrofotografia de céu profundo, tal como já fizeram com a Astrofotografia planetária. Funções básicas de uma câmera As características físicas do sensor de uma câmera são provavelmente a parte mais importante deste equipamento, mas não é somente o sensor que você deve levar em consideração na compra de uma câmera. Há outras funções que devem ser levadas em consideração que farão enorme diferença no resultado final de sua imagem. Tempo de Exposição: É controlado por um componente chamado obturador, que pode ser mecânico, com uma cortina à frente do sensor, que abre para que os componentes eletrônicos do sensor recebam a luz, ou eletrônico, com o sensor sendo ativado por pulso elétrico. Quanto mais tempo o obturador estiver aberto, maior o tempo de exposição de um disparo fotográfico. Em Astrofotografia, o mais importante é que a câmera permita que o tempo de exposição possa ser configurado manualmente. Sem essa opção, Astrofotografia é praticamente impossível. Todas as boas câmeras lhe darão a possibilidade de configurar o tempo de exposição. As que não trazem esta opção são câmeras de celulares ou compactas mais baratas, não recomendadas para Astrofotografia. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 144 O tempo de exposição mínimo e máximo que uma câmera suporta depende muito do modelo escolhido. DSLRs geralmente permitem configurar tempos de exposição de uma fração de milésimo a 30 segundos, mas possuem um modo bulb, que mantêm o sensor aberto enquanto segurando o botão de disparo. No modo bulb, são possíveis tempos de exposição de até 15 minutos. Ligando a câmera ao computador ou com um software como o Magic Lantern instalado na câmera, é possível conseguir tempos de exposição de até 15 minutos por foto sem precisar ficar segurando o botão de disparo, permitindo configurar além do tempo de exposição, o número de fotos que vai tirar e o intervalo entre elas. Você dificilmente fará frames com mais de 15 minutos utilizando DSLRs. No geral, frames de 5 minutos são mais do que suficientes para a imensa maioria dos objetos. Tempos de exposição maiores do que dez minutos podem gerar grande quantidade de ruído na imagem final, devido alta temperatura que o sensor sem resfriamento das DSLRs atinge, principalmente em noites mais quentes. Câmeras específicas para Astrofotografia de céu profundo, por serem resfriadas, permitem tempos de exposição bastante elevados. Não é difícil encontrar imagens com frames de mais de 15 minutos entre os astrofotógrafos mais avançados, principalmente aqueles que usam filtros de banda estreita. No geral, frames longos assim são usados para a captura de nebulosas realmente muito pálidas por astrofotógrafos bastante dedicados, dispostos a gastar várias noites numa única captura. Para fotografia planetária, como são gravados vídeos e não realizadas fotos, não é necessário que sua câmera permita tempos de exposição elevados por frame. Mas se você pretende usar sua câmera planetária também para autoguiagem, em vez de adquirir outra câmera somente para esta função, é recomendado que sua câmera planetária seja capaz de tempos de exposição de pelo menos 1 segundo (o ideal é que consiga no mínimo 4 segundos). Muitas webcams não conseguem frames com mais de 2 décimos de segundo de exposição, sendo pouco recomendadas para autoguiagem. Rodrigo Andolfato 145 Além de conseguir tempos de exposição elevados, a sua câmera deve também ser bastante flexível nos intervalos de tempo que permite. Câmeras dedicadas a Astrofotografia de céu profundo e planetárias podem ser configuradas no nível de milésimos de segundo de diferença. DSLRs podem não ter uma configuração tão precisa, mesmo conectadas a bons softwares, mas geralmente os intervalos que permitem atendem muito bem. Níveis de Sensibilidade: trata-se da capacidade de uma câmera de configurar diferentes níveis de sensibilidade sem gerar muito ruído em níveis mais altos. Um nível de sensibilidade duas vezes mais elevado permite que você consiga imagens com o mesmo nível de luminosidade na metade do tempo. Parece maravilhoso, mas, na prática, é um perigo cair na tentação do alto nível de sensibilidade. Quanto mais elevado você configurar a sensibilidade de sua câmera, mais ruído ela irá gerar. Com poucas exceções, a grande maioria das câmeras apresenta seu melhor desempenho com o nível de sensibilidade no mínimo. As câmeras com sensor tipo CCDs dedicadas a Astrofotografia de céu profundo normalmente nem possuem uma configuração de sensibilidade, obrigando o astrofotógrafo a trabalhar sempre com a sensibilidade no mínimo. Já câmeras CMOS planetárias (ou as mais novas, que também registram bem céu profundo), geralmente apresentam um controle de nível de sensibilidade em seu software de captura, chamado de “ganho”. Em muitos modelos, essa opção deve estar sempre no mínimo, pois gera muito ruído, mas hoje existem câmeras que permitem que você aumente o ganho e consiga resultados até superiores do que se tivesse registrado com a sensibilidade no mínimo. Isso ocorre devido à alta velocidade que estas câmeras conseguem registrar frames e também ao baixo nível de ruído que os modelos mais recentes apresentam. Se o ruído aumenta cinquenta por cento, mas a câmera gera duas vezes mais frames por segundo, o resultado final pode ser uma imagem superior. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 146 O ganho geralmente é expresso em decibéis. O decibel não é das medidas mais fáceis de se entender, pois na verdade, é uma ordem de grandeza. Ele indica a intensidade do aumento da sensibilidade da câmera em relação ao ganho mínimo. Algo muito importante sobre câmeras astronômicas é saber o nível de ruído que elas apresentam para um determinado nível de sensibilidade. Esse valor pode variar muito de câmera para câmera. A nova ASI224, por exemplo, câmera planetária com enorme sensibilidade, chega a ter seu ruído diminuindo até o ganho de 30 decibéis, quando finalmente começa a elevar-se. Já câmeras fotográficas normais, em especial as DSLRs, têm ajuste de sensibilidade chamado de ISO. Esses valores partem de algo entre 50 e 100 e podem ir a até dezenas de milhares. Com DSLRs de entrada, com sensores do tipo APS-C, teoricamente você pode fotografar com o valor máximo que a câmera permite, mas o mais comum é que as imagens sejam registradas com ISOs entre 400 e 1600. Se o acompanhamento de sua montagem não permite tempos de exposição elevados, ou seu tubo óptico tem razão focal alta e é muito lento na captura de luz, ISOs de 1600 ou mais são permitidos, mas você deve compensar o ruído destes frames produzindo muitos deles. Até com ISOs de 6400 é possível resultados aceitáveis, se você fizer muitos frames para serem integrados. DSLRs com sensores do tipo Full Frame fotografam em sensibilidades maiores com muito menos ruído do que DSLRs de entrada. Com essas câmeras, você pode usar ISOs de 3200 com frames de até mais qualidade do que uma DSLR de entrada consegue em ISO 800. Câmeras full frame são mais caras e, quando conectadas ao telescópio, exigem filtros e acessórios de duas polegadas, queem média custam o dobro do preço dos acessórios de 1,25 polegadas. Além disso, exigem uma óptica muito mais apurada, capaz de cobrir todo o sensor sem produzir aberrações na borda, mas a qualidade que conseguem paga bem este preço. Existem sites que fazem comparações do nível de ruído em ISO alto das DSLRs mais conhecidas. Um bem conhecido é o “Snapsort.com”. Nestes sites você pode ver quais câmeras apresentam melhores níveis de ruído em ISO alto. Você verá Rodrigo Andolfato 147 que existem diferenças significativas entre câmeras de marcas diferentes, mesmo com sensores de tamanho bastante parecido. O nível de ruído em ISO alto é um dos fatores que influenciarão na qualidade de suas Astrofotografias com DSLRs. Resfriamento dos Sensores Em Astrofotografia de céu profundo, o maior problema dos sensores das câmeras é que, enquanto estão capturando, sensores tendem a esquentar. Em fotos com tempo de exposição muito curto, tiradas durante o dia, praticamente não há motivo para preocupação. Uma imagem com um centésimo de segundo de exposição não causa alteração significativa na temperatura de um sensor, mas em Astrofotografia de céu profundo não são raros tempos de exposição de até dez minutos ou mais para cada frame. Isso provoca uma elevação na temperatura do sensor, que certamente afetará no resultado final do registro, gerando ruído e hot pixels – pontos claros que aparecem nas imagens quando se tira fotos com longos tempos de exposição e são um dos maiores problemas na Astrofotografia digital. Felizmente, existem formas de manter a temperatura de um sensor durante captações de longa duração. Mais ainda, muitos sensores podem ser resfriados a temperaturas muito baixas, até mais de 40 graus abaixo da temperatura ambiente nas câmeras astronômicas mais avançadas. Normalmente, câmeras feitas para o mercado fotográfico geral, como as DSLRs, não apresentam resfriamento do sensor, mas câmeras feitas para Astrofotografia de céu profundo, sim. Em muitas delas, você pode até selecionar a temperatura que considera mais adequada para a captação, que a câmera manterá o sensor naquela temperatura durante toda a captação, não importa quanto tempo de exposição que cada registro tenha. O resfriamento do sensor produz uma diferença de resultado dramático na fotografia de longa exposição. Por isso, todas as boas câmeras feitas para este tipo de Astrofotografia apresentam esta função. Imagens com dez minutos ou mais de exposição esquentam muito os sensores fotográficos. Tanto que Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 148 DSLRs tendem a nativamente não permitir tempos de exposição acima de 15 minutos. Além disso, nas captações com câmeras sem resfriamento é necessário deixar intervalos entre um frame e outro para que o sensor esfrie até a próxima captação. Numa câmera com resfriamento, você pode começar um frame imediatamente após o anterior, aproveitando melhor o tempo dedicado à captura. Velocidade de Carregamento Ter uma câmera que faça a transferência dos arquivos rapidamente para o seu computador é algo interessante em Astrofotografia de céu profundo e fundamental na fotografia planetária, caso contrário, o carregamento dos frames pode demorar muito. Hoje, as câmeras de céu profundo geralmente vêm com entrada USB 2.0, que fornece uma velocidade Câmera Read Noise (e- rms) a 30db1 SNR1s Value2 Resolução (pixels) Tamanh o do Pixel (micróm e-tros) Tamanho do sensor (Diagonal/ Milíme-tros) Tipo de sensor Boa para ASI224 0.75e 0,13lx 1304x976 3,75um 6,09mm CMOS Planetas ASI290 1.0e 0,23lx 1936x1096 2,9um 6,46mm CMOS Planetas, Lua e Sol ASI1600 1.2e - 4656x3520 3,8um 21,9mm CMOS Céu profundo ASI120mm - - 1280x960 3,5um 6mm CMOS Planetas, Lua e Sol Atik 314L+ 3.7e 0,24lx 1392x1040 6,45um 11mm CCD Céu profundo Atik 383+ 7e - 3362X2504 5,45um 22,2mm CCD Céu profundo Canon 800D (t7i) - - 5196x3464 4,29um 26,8mm CMOS Céu profundo Canon 6D - 5505x3670 6.5um 43,04mm CMOS Céu profundo Tabela 4: Câmeras mais populares no Brasil e suas características 1 - Quanto menor o valor, menos ruído a câmera apresenta com o ganho em 30db 2 -Este valor representa o nível de luz necessário para uma câmera produzir uma imagem aceitável, segundo critérios da fabricante Sony. Quanto menor este valor, mais sensível é a câmera. Rodrigo Andolfato 149 aceitável mesmo para os frames de maior resolução. Tome cuidado principalmente se for adquirir uma câmera astronômica usada antiga, pois ela pode ainda trabalhar com USB 1.0, tornando os downloads dos frames muito demorados. As câmeras para Astrofotografia planetária já estão migrando para o USB 3.0, muito mais rápido e que permite uma taxa de frames por segundo maior. É importante saber que não adianta a câmera planetária ser rápida se ele não sensibilidade suficiente para produzir uma boa imagem em baixos tempo de exposição. Se uma câmera consegue transmitir 100 frames por segundo em resolução VGA, é também necessário que ela consiga uma boa imagem do planeta desejado com um tempo de exposição de um centésimo de segundo. Se você aumentar o tempo de exposição para cinco centésimos de segundo, a câmera automaticamente transmitirá a 20 frames por segundo e não cem, pois a câmera não inicia o próximo frame enquanto o atual não for registrado, mesmo que tenha condições de transmitir a uma taxa mais alta. Isso será sentido principalmente com objetos mais pálidos ou em razões focais muito elevadas, caso o telescópio não tenha abertura suficiente para atingir uma elevada distância focal, sem ficar demasiadamente escuro. Antes de adquirir uma câmera planetária, leve bem em consideração se ela consegue imagens com curtos tempo de exposição dos planetas que deseja fotografar. Por exemplo, conforme a Tabela 4, a câmera ASI224 da ZWO tem uma sensibilidade muito maior do que modelos como ASI174 ou ASI178, da mesma fabricante. Isso significa que com a ASI224 você consegue capturar a mesma quantidade de luz com menos tempo de exposição, permitindo uma taxa maior de frames por segundo, sem prejudicar a qualidade da captura. Setup indicado para iniciar Agora que você já sabe um pouco sobre telescópios, montagens e câmeras. Chegou a hora de escolher qual combinação de equipamentos é melhor para você. Aqui vão algumas dicas: Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 150 Para Astrofotografia de céu profundo, um setup muito adequado para se iniciar é composto por uma montagem do tipo EQ5 com GoTo e autoguiagem. Sobre ela um pequeno refrator apocromático de 70mm a 90mm de abertura fará maravilhas se usado com uma DSLR de entrada, como a Canon T7i ou equivalente, que tenha sido modificada para Astrofotografia. Uma câmera astronômica resfriada, como a ASI 1600 ou a Atik 383+, com um sensor monocromático proporcionará resultados ainda melhores, mas é mais complexa de usar e mais cara. É possível fotografar até com refratores de 100mm sobre uma EQ5 motorizada, mas quando você colocar todos os acessórios necessários pode ficar meio complicado de se trabalhar com esse setup. Aconselho a não passar muito de 80mm. Com uma distância focal entre 400mm e 600mm, telescópios dessa abertura conseguem capturar quase todas as nebulosas com uma DSLR, mostrando um nível de detalhes excelente. Se estiver pensando muito em usar um refletor sobre uma HEQ5, um newtoniano de 150mm com baixa distância focal é um equipamento bastante interessante. Já para Astrofotografia planetária, abertura faz toda a diferença. Um refletor de 200mm sobre uma EQ5 é um setup interessante e, para fotos de planetas, mesmos refletores de 250mm de abertura (de distâncias focais menores) navegam razoavelmente bem nestas montagens. Câmeras planetárias são leves, e não há necessidade de autoguiagem e nem longas exposições. Um astrofotógrafo pode muito bem ter uma EQ5, um refrator apocromáticode até 100mm de abertura para fotografia de céu profundo e um refletor de 200mm para quando quiser fazer imagens planetárias e lunares. Não posso dizer que seja impossível colocar um refletor de 200mm sobre uma EQ5 e fazer imagens de céu profundo. Eu mesmo já usei muito um setup desses, mas, após algum tempo, percebi que a dor de cabeça que era operar este conjunto estava tirando o prazer da prática astrofotográfica. O número de frames com problemas era muito elevado e quase sempre eu tinha que fazer gambiarras no processamento da imagem final, para compensar o acompanhamento deficiente das estrelas. Rodrigo Andolfato 151 Caso seja possível adquirir uma EQ6, ela trabalhará muito bem com refratores apocromáticos de até 120mm e refletores de 200mm para céu profundo ou 254mm para fotografia planetária, podendo, com o devido cuidado, suportar até um refletor de 254mm para céu profundo e um de 300mm para imagens planetárias. Refletores do tipo cassegrain são ligeiramente mais leves do que os newtonianos e teoricamente você poderia colocar aberturas maiores sobre uma EQ5 ou EQ6, mas como estes telescópios também possuem distâncias focais mais longas, necessitam de tempos de exposição por frame maiores e estão mais suscetíveis a vibrações. A abertura recomendável destes telescópios sobre uma montagem acaba sendo a mesma do que de um refletor newtoniano. Para quem quer versatilidade, fotografando todos os tipos de objeto, os Schmidt-Cassegrain são os mais indicados. Se o foco é céu profundo com a melhor qualidade possível, tente adquirir um Ritchey-Chrétien de seis ou oito polegadas para uma EQ5 ou EQ6 com Goto. Cuidado ao comprar o telescópio junto com a montagem. A maioria das montagens vendidas em conjunto com tubos ópticos são dimensionadas não para Astrofotografia, mas para Astronomia observacional, sendo muito pesados para que as montagens consigam registros de longa exposição sem erros de acompanhamento. Esses setups são recomendados no máximo para Astrofotografia planetária. A grande maioria dos tubos ópticos dedicados a Astrofotografia de céu profundo são vendidos separadamente, só com o tubo óptico, chamados de OTA (Optical Tube Assembly) e são ofertados dessa forma porque os fabricantes sabem que os astrofotógrafos geralmente preferem escolher a montagem e os acessórios de sua preferência separadamente do que comprar o conjunto completo. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 152 ACESSÓRIOS IMPORTANTES O setup astrofotográfico é formado pela trinca montagem, câmera e telescópio, mas a verdade é que existe uma série de acessórios que vão ser fundamentais para uma boa captura e cuja falta, em determinados casos, pode até impossibilitar completamente o trabalho. Sistema de autoguiagem O princípio da autoguiagem é bastante simples. Trata-se de uma segunda câmera que terá o objetivo de filmar uma estrela durante a captura, para orientar a montagem sobre quais correções ela deve fazer para garantir um acompanhamento perfeito. As montagens mais populares geralmente apresentam erros no acompanhamento que passam a ser bastante perceptíveis em tempos maiores de exposição, principalmente Telescópio de guiagem Câmera de guiagem Câmera principal/de captura Telescópio principal/de captura Ilustração 44: Exemplo de sistema de autoguiagem bastante leve, usado sobre um refletor de 200mm. Aqui, a guiagem é uma pequena luneta de 50mm com uma câmera planetária. Este é um dos setups de guiagem com segundo telescópio mais leves que podemos usar. Rodrigo Andolfato 153 acima de dois minutos, sendo muito difícil conseguir frames mais longos do que isso com um telescópio em montagens do tipo EQ5 ou EQ6. Esta segunda câmera pode estar conectada diretamente ao telescópio de captura, pegando uma sobra do campo gerado para ocular. Como a saída para oculares é redonda e os sensores são quadrados e menores do que a saída do porta ocular, geralmente sobra campo em volta do sensor de captura para se colocar um pequeno espelho que direcionará a luz periférica da objetiva para uma câmera com sensor menor. Este tipo de autoguiagem é feito com um acessório chamado off-axis ou OAG, um adaptador que permite conectar as duas câmeras ao mesmo porta ocular. A vantagem de uma guiagem por off-axis é o alinhamento perfeito com a imagem da câmera principal, normalmente resultando num acompanhamento mais apurado e menos frames com erros de guiagem. Como desvantagem podemos citar o reduzido campo disponível, pois se a distância focal é a mesma usada na captura, pode ser que seja difícil encontrar uma estrela adequada à guiagem num campo muito pequeno. Além disso, o trabalho de focar as duas câmeras quando estão no mesmo conector é geralmente considerado complicado. A óptica do telescópio de captura também deve ser muito boa, pois como a câmera de autoguiagem capturará luz na borda do campo da imagem, estará num ponto mais suscetível a aberrações ópticas, podendo fazer com que o software usado para autoguiagem não reconheça as estrelas. A segunda forma de autoguiagem é conectar a câmera de guiagem num segundo telescópio, preso ao primeiro, como na Ilustração 44. Normalmente é um telescópio menor, mais leve e mais barato, mas nem sempre é o caso. Quando estou fotografando com lentes, por exemplo, não é raro que use um refrator ED para autoguiagem. Com o uso de um segundo telescópio, o astrofotógrafo deve tomar alguns cuidados. A ligação entre o telescópio de guiagem e o telescópio principal deve estar totalmente firme. Qualquer flexão entre os dois poderá destruir completamente a guiagem. Além disso, a autoguiagem com um telescópio de Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 154 menor distância focal pode ser um pouco menos eficiente, mas tem a vantagem de resultar em muito mais estrelas aparecendo no campo de visão da câmera. Dando muito mais opções do que numa guiagem off-axis. Você também pode fazer pequenos ajustes no direcionamento do telescópio de guiagem, deixando a estrela mais próxima do centro, onde a qualidade da imagem é melhor. O ideal é que sua câmera de guiagem tenha porta ST-4, pois assim você pode conectá-la diretamente na montagem. Se a câmera não tiver está porta, você vai precisar de um cabo para ligar o computador à montagem, como um cabo GPUSB. Mas eles são difíceis de achar (principalmente no Brasil) e acrescentam custo e complexidade ao setup. No capítulo sobre captura falarei sobre o software de guiagem e como preparar o telescópio para este procedimento. Extensores e redutores focais: A função destes acessórios ópticos é alterar a distância focal nativa do telescópio, adequando aos interesses do astrofotógrafo. Extensores focais (Ilustração 45) são também chamados de barlows ou powermates (com algumas variações ópticas Ilustração 45: Extensores focais Rodrigo Andolfato 155 entre eles). Estes acessórios multiplicam a distância focal do telescópio, produzindo aumentos elevados. São muito usados em Astrofotografia planetária, pois é uma área da Astrofotografia que exige mais ampliação e não necessita de longas captações de luz. Normalmente, astrofotógrafos planetários munidos de refletores newtonianos usam extensores focais entre 4 e 5 vezes. Já aqueles com cassegrains, que possuem uma grande distância focal nativa, usam extensores entre 2 e 3 vezes. Não vale a pena tentar usar uma distância focal exagerada, numa razão focal acima de F25, pois, a partir disso, a imagem começa a ficar escura demais para uma taxa de frames por segundo adequada e não há melhora da definição. O aumento da distância focal deve ser acompanhado do aumento da abertura. O uso de extensores focais também é apreciado na captação de detalhes de crateras da Lua ou de manchas e erupções solares. Já o seu uso na Astrofotografia de céu profundo é mais raro, podendo existir na captaçãode detalhes de algumas nebulosas muito brilhantes e que sejam interessantes, como dos Pilares da Criação, na nebulosa da Águia (M16) ou do chamado Buraco da Fechadura, na Nebulosa da Carina (NGC3372). Seu uso nem sempre consegue realmente mostrar mais detalhes se a abertura do telescópio não for elevada. Além disso, um aumento na distância focal em 2 vezes torna o telescópio 4 vezes mais lento, o enquadramento torna-se mais difícil e o acompanhamento precisa ser muito mais exato, tornando a captura um desafio muito mais complexo. Os redutores focais, ao contrário dos extensores, são muito populares na Astrofotografia de céu profundo. Eles aumentam o campo da imagem, algo muito útil quando se quer capturar nebulosas maiores do que a distância focal nativa de seu telescópio. Mas o que é realmente apreciado pelos astrofotógrafos de céu profundo é que os redutores deixam a captação mais rápida. Um redutor focal de 0,5 vezes deixará o telescópio 4 vezes mais rápido, algo que pode ser fundamental na captação de nebulosas mais pálidas. É claro que sempre existirão objetos que serão captados de forma mais adequada com o campo nativo do telescópio, mas a aquisição de um bom Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 156 redutor focal torna o seu setup de céu profundo muito mais versátil. Alguns redutores, além de diminuírem a distância focal, também diminuem aberrações dos telescópios, principalmente o coma, tornando a imagem uniforme em todo o campo da fotografia. Existem inclusive acessórios ópticos que cumprem somente a função de eliminar o coma, sem alterar a distância focal. São os chamados aplanadores ou corretores de coma. Vale dizer que os melhores redutores focais ou redutores de coma podem custar quase tão caros quanto o seu telescópio, principalmente em relação aos baratos refletores newtonianos. Ainda assim, a qualidade da imagem que os bons corretores produzem faz o investimento valer a pena. A aquisição de um redutor focal ou de coma deve ser feita com muito cuidado, lendo-se atentamente as especificações do produto, para ver se ele é compatível com o seu telescópio. E mesmo que as especificações digam serem compatíveis com o seu tipo de telescópio, pode ser que haja alguma particularidade na óptica de seu instrumento que impeça esta compatibilidade. O ideal mesmo é saber se o redutor focal é compatível com o seu modelo de telescópio. Se essa informação não estiver disponível, contate o fabricante do acessório ou procure em fóruns ou redes sociais por alguém que tenha o mesmo telescópio que o seu e tenha adquirido o redutor. É muito importante ter a certeza da compatibilidade antes da aquisição. Até caríssimos telescópios apocromáticos das melhores marcas podem precisar de aplanadores para conseguir uma imagem perfeita em toda a área da imagem. No mercado, existem hoje alguns telescópios refratores apocromáticos anunciados como sendo de cinco elementos (cinco lentes). Eles nada mais são do que apocromáticos de três elementos com corretores de dois elementos instalados dentro do tubo ópticos. Em alguns, o corretor pode até ser destacado. Rodrigo Andolfato 157 Extensores (Ilustração 46): são peças muito mais simples do que os extensores focais, sendo simplesmente cilindros metálicos que encaixam no porta ocular. Não possuem nenhuma peça óptica e são usados quando, por mais que você afaste o foco, o focalizador chega ao fim sem que a câmera esteja distante o suficiente para que o sensor atinja o ponto focal. Extensores são peças baratas. Afinal, são só pequenos cilindros de metal rosqueáveis. Mas é importante lembrar que eles só são úteis se o foco estiver para fora do limite do focalizador de seu telescópio e não para dentro. Filtros para Astrofotografia Filtros são simplesmente pequenos pedaços de vidro que selecionam qual faixa de luz vai ou não passar. Filtros podem fazem uma enorme diferença em Astrofotografia (por isso, alguns podem ser bem caros). Com câmeras monocromáticas, filtros são obrigatórios caso você queira fazer imagens coloridas, mas mesmo com câmeras coloridas eles podem ajudar a melhorar o contraste, mostrar mais detalhes e barrar muito da poluição luminosa que chegaria ao sensor. Ilustração 46: Extensores Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 158 O conjunto de filtros coloridos necessário para se produzir imagens com cores realistas em câmeras monocromáticas chama-se filtros RGB (Red, Green, Blue). Alguns conjuntos de filtros RGB também acompanham um filtro de luminância. Por isso, são chamados de filtros LRGB. Numa captura LRGB (Ilustração 48), o filtro que vai ser usado como luminância é o mais importante. Ele tem a função de registrar as formas e os detalhes do objeto a ser capturado. Por isso, qualquer erro na captura com este filtro, inevitavelmente estará presente na imagem após a integração dos frames. Os filtros coloridos serão usados somente para preencher as cores da imagem e mesmo que tenham defeitos ou sejam capturados em menor resolução, somente problemas mais sérios afetarão a imagem de forma significativa. A captura separada da luminância é uma forma de trabalho que pode render imagens muito boas e com menos tempo de captação, pois em vez de fazer três grandes capturas para os três canais de cor, você faz uma captura tão longa quanto possível para a luminância e três capturas mais curtas somente para ilustrar as cores. Ilustração 47: Filtros e roda de filtros Rodrigo Andolfato 159 Para céu profundo, existem filtros feitos para aumentar o contraste das imagens e que funcionam bem tanto com câmeras monocromáticas como coloridas. Esses filtros bloqueiam algumas faixas de luz, muitas que estão na poluição luminosa, permitindo melhores captações mesmo em áreas urbanas. Os mais populares são o CLS, o UHC (Ultra Hight Contrast) e o Sky Glow. Ambos deixam passar as emissões mais comuns dos objetos celestes e tentam bloquear o resto das emissões. O filtro CLS é mais focado em eliminar luzes na faixa das lâmpadas de sódio, muito usadas na iluminação pública. Infelizmente, nos últimos anos, temos visto um grande avanço do uso de lâmpadas de LED na iluminação pública. Mais econômicas e eficientes do que as lâmpadas de sódio, não há muitos argumentos que impeçam a proliferação das lâmpadas do tipo LED. O problema destas lâmpadas é que elas normalmente espalham luz branca, que atinge todas as faixas do espectro, fazendo com que os filtros CLS e mesmo o UHC e o Sky Glow percam a sua eficácia. Vale lembrar que filtros voltados para Astrofotografia têm suas bandas de passagem definidas se pensando em câmeras que não possuem o filtro que bloqueia parte da luz das nebulosas, ou seja, CCDs e DSLRs modificadas para Astrofotografia. Se a sua câmera for uma DSLR não modificada, uma faixa importante que esses filtros deixam passar não chegará ao sensor de sua câmera. Neste caso, o ideal é utilizar filtros que tenham sido fabricados principalmente para observação, pois a faixa de luz que seus olhos deixam passar é muito semelhante a uma DSLR não modificada. Ilustração 48: Captura de Júpiter feita com câmera monocromática. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 160 Os filtros IR e IV CUT são muito usados em Astrofotografia planetária. Sem o uso de um filtro destes, a imagem dos planetas perde nitidez devido à absorção de luz infravermelha, de ondas maiores, e a cor destes objetos fica meio rosada, diferente da cor que conhecemos. Esse efeito ocorre de forma mais evidente em Júpiter. O planeta tem uma cor amarronzada, mas, sem usar um filtro IR/IV CUT em sua captura, o que vemos é um planeta rosado. Existe uma enorme quantidade de modelos de filtros RGB e de luminância. É muito difícil saber qual deles é o melhor para o seu telescópio. É claro que filtros mais caros de marcasconsagradas serão melhores, mas muitas vezes podem ser feitos para um objetivo diferente do pretendido. Recomendo uma boa pesquisa antes de se adquirir filtros de luminância, RGB ou de realce dos astros. Prefira filtros das marcas Astronomik, Baader, Orion, ou outras semelhantes ou melhores. Filtros de Banda Estreita: estes filtros captam faixas de cor específicas das nebulosas de emissão. Os mais conhecidos são os que capturam a emissão do Hidrogênio (H-alpha), do Oxigênio (OIII) e do Enxofre (SII). A junção de captações com estes três filtros pode produzir uma imagem conhecida como Hubble Palette. Este nome vem das celebradas imagens do Telescópio Hubble, com nebulosas azuis e douradas apresentando enorme contraste e profundidade. Estas imagens, que encantam amantes da Astronomia no mundo inteiro, são feitas com esses filtros. Com filtros de banda estreita e uma boa câmera monocromática é possível fazer imagens tão belas quanto as do telescópio Hubble com um equipamento acessível para qualquer um disposto a se esforçar para adquirir um bom setup de Astrofotografia. É claro que você não vai conseguir o mesmo aumento e o nível de detalhes do espelho de mais de 2 metros de diâmetro do Hubble, mas conseguirá cores bem parecidas e até a vantagem de registrar um campo maior. Filtros de banda estreita podem ser usados também com câmeras coloridas, mas é fortemente recomendado que se tenha Rodrigo Andolfato 161 uma câmera monocromática à mão, ou os frames terão bastante ruído. Filtros de banda estreita são classificados pela largura da faixa de comprimento de onda da luz que deixam passar, medidas em nanômetros(nm). Quanto menor este valor, mas estreita é a faixa de luz que os filtros permitem passar. O resultado disso é que quanto menor o número de nanômetros um filtro deixar passar, mais detalhes revelará, entretanto, maior deverá ser o tempo de exposição e mais caro será o filtro. Os filtros de banda estreita mais populares estão entre 6 e 12 nanômetros, sendo que alguns astrofotógrafos chegam a usar até filtros de 3 nanômetros. Caríssimos, mas com resultados incríveis. Dos três filtros de banda estreita, certamente o mais importante é o H-alpha. É ele que produz os detalhes da imagem, ou luminância. Os outros dois, OIII e SII, são basicamente para se conseguir as cores do Hubble Palette. O H- alpha também pode ser usado em composições com filtros RGB, mesmo em imagens captadas com câmeras coloridas, gerando registros com cores naturais, mas com muito mais detalhes das nebulosas de emissão do que uma imagem produzida somente com os filtros RGB. Vale lembrar que os filtros de banda estreita só são aconselháveis na captura de nebulosas de emissão, que são as nebulosas vermelhas, como Lagoa (M8), Carina (NGC 3372), América do Norte (NGC7000), entre outras. Para captura de nebulosas escuras ou de reflexão, a captura com filtros RGB é mais aconselhável. Os filtros astrofotográficos, principalmente quando usados em câmeras monocromáticas, são utilizados de forma mais prática com uma roda de filtros (Ilustração 47). Trata-se de um mecanismo que permite a você não ter que retirar a câmera do telescópio cada vez que precisar trocar de filtro. Algumas rodas de filtros são motorizadas, podendo até mesmo serem conectadas ao computador e trabalhar em conjunto com a câmera, sendo programadas para trocarem os filtros após uma quantidade de frames pré-definida pelo astrofotógrafo. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 162 Um detalhe muito importante sobre os filtros para Astrofotografia com câmeras monocromáticas é que alguns destes filtros fazem o ponto focal da imagem mudar, obrigando o astrofotógrafo a ter que ajustar o foco após trocar o filtro usado. Isso impossibilita a automação da captura com uma roda motorizada e mesmo que o astrofotógrafo esteja disposto a fazer este ajuste a cada troca de filtro, aumenta o risco de ocorrerem erros no foco. Filtros que apresentam exatamente o mesmo ponto de foco são chamados de parafocais. Os filtros dos melhores fabricantes geralmente são parafocais, mas se você estiver, por exemplo, usando filtros RGB de um fabricante e luminância de outro, há chances de que eles não sejam parafocais. Por isso, recomenda-se usar filtros parafocais de um mesmo fabricante. Para fotografia planetária, que exige trocas rápidas entre os filtros, utilizar filtros que tenham focos diferentes é praticamente inviável. Mas saiba: não adianta os filtros serem parafocais se o seu telescópio não coloca todas as cores no mesmo ponto focal. Em refratores de menor qualidade, como acromáticos ou até mesmo muitos apocromáticos de apenas duas lentes (dupletos), a cor azul pode estar num ponto focal diferente da cor vermelha, fazendo com que o foco esteja diferente para cada filtro, ainda que sejam parafocais. Filtros Solares Os filtros para Astrofotografia solar são bastante específicos e nunca devem ser confundidos com os de céu profundo. Esses filtros funcionam somente para a fotografia do Sol. Se você tentar fotografar nossa estrela com qualquer filtro que não tenha sido desenvolvido especificamente para este tipo de fotografia, corre risco de ter sérios problemas com a sua câmera. Pior ainda será se você tentar olhar pela ocular e ferir o seu olho de forma irreversível. Os três filtros mais usados em Astrofotografia solar são os seguintes: Rodrigo Andolfato 163 Filtro de Luz Branca: são os filtros mais populares em Astrofotografia Solar. Eles mostram o Sol da mesma forma que nossos olhos veem, barrando 99,99% da luz da nossa estrela, para que a câmera consiga fotografá-la sem que o sensor derreta e sem estourar a imagem. Esses filtros mostram principalmente as manchas solares (Ilustração 49). Com muito aumento e uma excelente câmera captam também os grânulos solares, zonas de convecção que num telescópio amador lembram grãos de arroz na superfície solar. Os filtros de Luz branca devem ser sempre colocados à frente da objetiva, nunca após ela, pois a condensação da luz solar pode esquentar muito o filtro e derretê-lo se ele ficar imediatamente à frente do sensor da câmera. E depois que o filtro derrete, o próximo é o sensor da câmera. Em complemento a um bom filtro de luz branca, você pode utilizar um filtro chamado Continuum, cuja função é realçar os grânulos solares. O filtro Continuum pode ser usado logo à frente do sensor, mas nunca sem o filtro de luz branca. Este filtro também pede telescópios de maior abertura e câmeras de ponta para realmente destacar os grânulos. Ilustração 49: Imagem solar feita com o uso de filtro de luz branca. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 164 Filtros H-alpha solares: se os filtros de luz branca são os mais populares em Astrofotografia solar, os filtros H-alpha são os mais desejados. Eles mostram não apenas as manchas solares, mas também espículas, filamentos, erupções (Ilustração 50) e proeminências. Esses filtros conseguem esse feito porque literalmente conseguem apagar a fotosfera solar, que é mostrada pelos filtros de luz branca, e deixar somente a cromosfera à vista, que é onde ocorrem estes eventos. É curioso o fato de que a cromosfera está acima da fotosfera, mas ela é transparente e o brilho muito superior da fotosfera, logo abaixo, faz com que a cromosfera fique invisível para filtros com luz branca. Se você quer entender este fenômeno, repare na televisão da sua casa. Os LEDs que iluminam a televisão quando ela está ligada são a fotosfera e a placa de vidro sobre eles é a cromosfera. Quando a televisão está ligada, você não vê nada da placa de vidro, mas quando você desliga a televisão é possível reparar na poeira ou mesmo marcas de dedo sobre o vidro. É isto que um filtro H-alpha faz com o Sol, apaga o brilho da fotosfera para você ver o que há Ilustração 50: Borda do Sol com a presença de grande erupção escapandoda cromosfera. Esse tipo de imagem só é possível com a utilização de filtros H-alpha solares. Rodrigo Andolfato 165 acima dela, a cromosfera. É importantíssimo dizer que filtros H-alpha solares não têm absolutamente nada a ver com filtros H-alpha para Astrofotografia de céu profundo. Os filtros H-alpha solares bloqueiam uma quantidade imensa da luz solar branca, que um filtro de Astrofotografia para céu profundo deixaria passar. Eu já vi muita gente com um filtro de luz branca falar em adquirir um filtro H-alpha de céu profundo para tentar ver as erupções solares. Isso não funciona. Antes da luz chegar ao filtro H-alpha de céu profundo, o filtro de luz branca já eliminou quase toda a luz da cromosfera também, impedindo qualquer visualização que seria possível com os filtros H-alpha solares normais. Algo legal sobre os filtros H-alpha solares é que, ao contrário dos filtros H-alpha para céu profundo, eles também permitem excelentes observações visuais ao telescópio e não se prestam apenas a Astrofotografia. E observar o Sol através de um filtro H-alpha solar é uma das experiências mais incríveis que você vai ter, aliado ao enorme prazer de compartilhar isso com outras pessoas, muitas vezes amigos e familiares que jamais imaginariam poder ter uma visão dessas do quintal de suas casas. A grande desvantagem dos filtros H-alpha em relação aos filtros de luz branca está no preço. Eles são dezenas, até centenas de vezes mais caros do que os filtros de luz branca. Filtros de luz branca podem ser encontrados até em folhas que são vendidas por poucas dezenas de dólares cada folha de 25x25cm. Um filtro H-alpha solar deste tamanho custaria o preço de um automóvel. A grande maioria dos astrofotógrafos que fazem imagens com filtros H-alpha solares usam modelos pequenos, com até 90mm de abertura. Dentro do mercado de filtros H-alpha você pode adquirir somente o filtro H-alpha, para colocar na frente da objetiva do telescópio, ou adquirir um telescópio solar H-alpha propriamente dito. Estes telescópios já possuem o filtro Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 166 integrado a seu corpo, e geralmente acompanham buscadoras solares, apropriadas ao trabalho de apontar para o Sol. Os fabricantes de telescópios e filtros solares mais populares são Lunt, Meade (com a marca Coronado), Daystar e Solarscope. Os filtros H-alpha possuem duas especificações que você deve ficar atento na hora da compra: Bandpass – é medido em angstrons. Indica a faixa de luz que o filtro deixa passar. Quanto menor, mais detalhes da cromosfera o filtro irá mostrar. Os telescópios H-alpha solares mais baratos possuem geralmente 1 angstron de band pass. Os mais caros podem chegar a 0,3 angstron. Blocking Filter – indica a distância focal que o telescópio em que você usará o filtro deve possuir. Ela pode vir de duas formas, com a sigla BF (Coronado) ou B (Lunt). O número que vier depois indica a distância focal máxima dividido por 100 no Coronado ou somente a distância focal num Lunt. Exemplificando: um filtro Coronado BF5 deve ser usado com um telescópio de no máximo 500mm de distância focal, enquanto o equivalente da Lunt seria um B500. O blocking filter ser BF5 ou BF10 não afeta a qualidade da imagem, apenas diz que o primeiro filtro tem um limite de 500mm na distância focal do telescópio onde ele será usado, enquanto o segundo pode ser usado num telescópio com distância focal de até 1000mm. Ao se adquirir telescópios solares e não somente o filtro, você não tem que se preocupar com o Blocking Filter, pois ele já vem dimensionado para o telescópio, mas é importante saber está especificação quando você compra somente o filtro para adaptar num telescópio normal. Os filtros H-alpha solares podem possuir módulos de double-stacking, que permitem tornar a faixa de captação ainda mais estreita. Por exemplo: um double-stacking reduz a faixa de um filtro H-alpha de 0,7 angstrons para 0,5 angstron, Rodrigo Andolfato 167 aumentando os detalhes da cromosfera. Mas é importante saber que os módulos de double-stacking nunca podem ser usados sozinhos. Eles são um complemento, não um filtro em si. Apesar de caros, os filtros H-alpha têm se popularizado nos últimos anos, tornando-se os preferidos dos astrofotógrafos solares mais avançados. Estes filtros mostram detalhes únicos do Sol, fora do alcance dos filtros de luz branca. A forma mais barata de se ter um filtro H-alpha é adquirir os modelos mais populares de telescópios solares H-alpha da Lunt e Coronado. A Coronado oferece o Coronado PST (Personal Solar telescope), modelo de 40mm de abertura com um filtro H-alpha um pouco menor inserido no meio do caminho entre a objetiva e o porta ocular (primeira imagem da Ilustração 51). O Lunt tem menos abertura, 35mm, mas o filtro H-alpha está à frente do telescópio. Esses dois modelos parecem pequenos, mas são mais do que o suficiente para Ilustração 51: Na primeira imagem, vemos um telescópio solar H-alpha Coronado PST de 40mm sobre uma montagem EQ5. Na segunda imagem, este mesmo telescópio foi anexado a um refrator de 102mm com um filtro C-ERF acoplado à objetiva, transformando-se num telescópio H-alpha de 102mm. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 168 excelentes fotos e observações solares. Eles custam entre 600 e 700 dólares. Existe uma forma de se usar filtros solares H-alpha logo à frente do sensor da câmera, sem prejudicar seu equipamento, tornando possível usar um telescópio de 200mm para se fazer imagens espetaculares mesmo com um filtro H-alpha de 40mm, ou mesmo o do Coronado PST. O segredo está num filtro chamado C-ERF, cuja função é barrar somente o calor gerado pela luz solar. O filtro C-ERF é utilizado para que você possa colocar um outro filtro, logo à frente do sensor e ter a certeza de que este filtro não irá ser danificado devido ao calor dos raios solares. Assim, é possível utilizar filtros H-alpha menores em telescópios maiores sem o risco de derreter o filtro e conseguir resoluções incríveis. Um procedimento que astrofotógrafos realizam é adaptar um Coronado PST a um telescópio maior e colocar um filtro C-ERF à frente da objetiva (Ilustração 51), Ilustração 52: Imagem do Sol feita com filtro Calcium-K Rodrigo Andolfato 169 sendo possível produzir imagens espetaculares com uma fração do custo de um filtro H-alpha maior. Filtro Calcium-K: em relação aos filtros solares anteriores, é de longe o menos conhecido e tem um mercado muito mais restrito. Filtros Calcium-K são tão caros quanto os filtros H-alpha. Eles mostram detalhes até interessantes do Sol, ao tornar visíveis diferenças entre os grânulos solares invisíveis para os filtros de luz branca e H-alpha. Também são capazes, com algum esforço, de mostrar erupções ou proeminências solares mais brilhantes que estejam na borda do disco solar, mas não conseguem mostrar proeminências que estejam à frente do Sol. Para quem quer registrar proeminências e erupções solares, um filtro H-alpha é muito mais indicado. Normalmente, astrofotógrafos que adquirem filtros Calcium-k são aqueles mais apaixonados por fotografia solar, já possuem os outros dois filtros e desejam incrementar seus trabalhos ainda mais. Enquanto um filtro H-alpha ou de luz branca funciona perfeitamente para observação visual, é extremamente difícil conseguir ver algo com um filtro Calcium-K, o que o torna um filtro exclusivamente para Astrofotografia. Buscadoras: são pequenas lunetas que são acopladas ao telescópio, com a função de ajudar a encontrar o objeto que se pretende fotografar ou observar. Isso é possível porque, como as buscadoras têm bem menos aumento do que o telescópio principal, também têm muito mais campo, facilitando colocar o objeto em seu campo de visão. Geralmente, também possuem um retículo, que forma uma mira, indicando o centro do campode visão. Alguns podem até pensar que um telescópio com GoTo dispensa o uso de uma buscadora. Eu lhe digo que o GoTo diminui significativamente a dependência da buscadora e, é claro, facilita o trabalho de encontrar objetos. Mas depender do GoTo pode acabar numa dor de cabeça imensa, quando você manda a montagem encontrar um objeto e ele não aparece no Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 170 campo do sensor. Isso pode acontecer principalmente se o telescópio for de grande distância focal. A minha buscadora preferida é a de 50mm de abertura com um espelho ou prisma que desvia a luz em noventa graus. Acho o prisma fundamental. Quando você está procurando algo no Zênite, usar uma buscadora sem prisma te obriga a ficar em posições desconfortáveis ao tentar olhar pela buscadora. Já a abertura de 50mm permite que você veja muito mais estrelas de referência e até objetos celestes que são invisíveis a olho nu. Além de pequenas lunetas, existem outros tipos de buscadora, como as red dots, que projetam uma mira numa janela de vidro. Estas buscadoras têm seus fãs, mas são mais aconselháveis para fotografia planetária ou de outros objetos muito brilhantes. Para objetos pálidos, escondidos no meio de estrelas pouco luminosas, uma luneta de 50mm de baixa distância focal é muito mais eficiente. Além disso, as red dots precisam de bateria para funcionar e podem te deixar na mão numa noite importante, porque é particularmente fácil esquecer esta buscadora ligada na hora de guardar as coisas. Fitas/Cintas térmicas: um astrofotógrafo que já tenha feito registros em áreas de zona rural sabe que uma noite de Astrofotografia pode ser arruinada pela umidade da madrugada. Quando a umidade atinge o ponto de orvalho, ela pode embaçar lentes ou espelhos dos telescópios. Para quem não estiver preparado contra isto, é o fim da noite. Não é raro vermos astrofotógrafos usando um secador de cabelo ou papel higiênico para enxugar a óptica de setups astrofotográficos. Nenhum desses procedimentos é totalmente aconselhável, principalmente o papel higiênico. Mesmo que o papel seja do tipo extra macio, uma partícula de poeira feita de quartzo ou coisa parecida pode estar sobre a lente e quando você passar o papel, corre o risco de esfregar esse pedaço de vidro em sua óptica. Uma cinta térmica nada mais é do que uma tira de tecido com seu interior preenchido por fios metálicos, que aquecem ao serem ligados à energia elétrica. Esta cinta envolve o telescópio, sendo colocada perto de onde está a óptica, mantendo a Rodrigo Andolfato 171 temperatura do tubo mais alta que a do ambiente. Isto impede que a umidade condense sobre a óptica, garantindo ao astrofotógrafo uma noite muito mais tranquila, sem lentes ou espelhos embaçados. É aconselhável que você coloque uma cinta térmica em volta do telescópio de captura e também do telescópio de guiagem, se estiver usando autoguiagem. Cintas térmicas são vendidas em muito tamanhos, podendo ser usadas com telescópios de 50mm, pequenas lentes ou até mesmo com grandes refletores. As cintas mais comuns são modelos que se conectam a dispositivos controladores, que permitem usar duas ou quatro cintas térmicas numa única tomada, mas algumas cintas podem ser ligadas diretamente na energia elétrica. A vantagem do uso dos controladores é que você só precisa de um ponto de energia para todas as cintas. A desvantagem é que você tem que adquirir os controladores à parte, que no Brasil são difíceis de achar. Além disso, quando os controladores estragam, comprometem todo o sistema. Eu estou enfatizando isto porque já tive um controlador que estragou, me deixando com lentes embaçadas bem no meio de uma viagem astrofotográfica. Para quem tem um pouco de familiaridade em trabalhar com equipamentos elétricos, uma cinta térmica é bastante fácil de fazer, mas não tente confeccionar uma se não tiver certeza que sabe o que está fazendo. Afinal, você está mexendo com eletricidade e calor. Computador portátil: um notebook é um acessório fundamental para Astrofotografia digital. Seu uso é obrigatório com CCDs dedicadas para céu profundo ou câmeras planetárias, pois elas só funcionam conectadas a um computador rodando um software de captura. Este software pode ser um programa proprietário, desenvolvido pelo fabricante da câmera, ou um programa de terceiros. Será através desses softwares que você controlará estas câmeras, definindo o tempo de exposição, número de frames e sensibilidade. Além disso, será através do computador que você verá o que a câmera captura, ajustando enquadramento, foco e orientação da imagem. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 172 Com uma DSLR é possível até dispensar o notebook durante a captura, pois essa câmera possui um visor LCD em seu corpo. Além disso, é possível controlar os tempos de exposição, número e intervalos entre os frames através de um intervalômetro ou mesmo com um software instalado na câmera, que pode ser o nativo ou um feito por terceiros. Um muito popular é o Magic Lantern, software gratuito feito para DSLRs da Canon, que acrescenta vários recursos a estas câmeras, inclusive o intervalômetro. Mas mesmo com uma DSLR, ter um notebook traz várias vantagens. Você terá à disposição uma tela muito maior do que a das DLSRs, podendo ver as imagens prévias com muito mais detalhes para ajustar o foco, o enquadramento e como está o acompanhamento com muito mais precisão. Além disso, muitos softwares trazem recursos interessantes que ajudam na captura, como análise do foco e alinhamento. E você vai precisar de um notebook para um bom sistema de guiagem. O uso de uma DSLR para Astrofotografia sem computador só vale a pena se você está interessado num setup ultra portátil. Um cuidado que se deve ter com computadores portáteis é em relação à luz que estes dispositivos emitem. Essa luz pode ser captada pela objetiva de seu tubo óptico e chegar ao sensor de sua câmera, ou mesmo nos equipamentos de outros astrofotógrafos que estejam próximos. Num encontro com muitos astrofotógrafos, pode haver uma aglomeração de computadores, atrapalhando uns aos outros. Por isso, não deixe de adquirir uma placa de acrílico da cor vermelha para seu notebook. A luz vermelha é a que menos agride a visão humana e a placa também reduzirá o brilho de seu monitor. Você também pode usar papel-celofane, mas este material prejudica muito a visualização da tela. Se você for usar um notebook durante as sessões de captura, dois acessórios que farão muita falta serão uma mesa e uma cadeira. Astrofotografar com o notebook no chão não é nada recomendado, muito menos se o chão for de terra ou grama e, mesmo que você tenha uma mesa, passar a noite toda em pé ao lado do telescópio também não é das melhores Rodrigo Andolfato 173 experiências. Nessas horas, nada substitui uma boa mesa e uma cadeira. É claro que se você vai precisar se deslocar de carro para um local distante, o ideal será que ambas sejam do tipo dobrável. Devido à umidade em zonas rurais também é aconselhável que a mesa e a cadeira sejam totalmente produzidas em material impermeável. Evite cadeiras acolchoadas, revestidas de tecido que possa absorver água. Uma cadeira de praia também é um acessório bem interessante quando fotografando longe de casa ou mesmo de seu quintal, principalmente para as astrofotógrafos de céu profundo. Durante o tempo em que o setup está capturando, que pode levar horas, ter um lugar aconchegante para relaxar pode ser algo muito interessante. Mas lembre-se que a cadeira de praia geralmente é indicada para momentos de descanso, não sendo adequada para o uso quando se está trabalhando no computador. Um computador não será útil somente na captura. Este equipamento é fundamental na hora de integrar e processar suas imagens. Sendo recomendável para esta fase, que o hardware tenha um poder razoável de processamento.Não precisa ser um desktop com dezesseis núcleos e duas placas de vídeo dedicadas, mas que seja no mínimo um notebook atual, capaz de rodar os softwares de processamento sem travar, se possível com duas vezes a memória RAM média do mercado. Se você começar a ter problemas na hora de integrar ou aplicar ações em suas imagens durante o tratamento final, pode ser que esteja na hora de trocar de computador. Algo que vai te dar um certo trabalho quando você começar a ter uma grande produção em Astrofotografia é o armazenamento de seus arquivos. Astrofotografia consome muit espaço em disco, seja ela de céu profundo ou planetária. Você tem que tirar muitas fotos, fazer frames de calibração. Esses arquivos são salvos sem compressão, e ocupam muito mais espaço do que imagens JPEG. E quando você começa a tratar a imagem final, não raro constrói uma coleção de arquivos enormes, no formato Tiff ou Fits até encontrar o ajuste ideal. O recomendado hoje é que você tenha pelo menos um Terabyte disponível de espaço em disco. Se o disco rígido de seu Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 174 computador não tiver muito espaço, adquira um disco externo de grande capacidade. Este acessório é interessante mesmo para quem possui mais espaço no computador, pois permite também o backup de suas imagens. A quase totalidade dos softwares de Astrofotografia é feita para o sistema operacional Windows®. Por isso, mesmo que você odeie o sistema operacional da Microsoft (o que, em minha opinião, é totalmente compreensível), praticar Astrofotografia em outro sistema operacional poderá revelar-se uma tarefa ingrata. Não abra mão de ter o Windows® em seu computador, mesmo que seja como segundo sistema operacional em alguma partição extra. Binóculos: um bom par de binóculos pode ser um companheiro muito interessante para o astrofotógrafo, principalmente para aqueles que não usam ou não têm GoTo em suas montagens. Binóculos ajudam você a localizar galáxias ou nebulosas mais pálidas que pretende fotografar. Muitos objetos celestes imperceptíveis a olho nu são visíveis num bom binóculo que tenha uma abertura de 50mm e um aumento de 7 ou 10 vezes. E mesmo que os objetos não sejam visíveis ao binóculo, eles mostram muito mais estrelas, permitindo localizar com mais precisão o alvo. Por fim, mesmo que você tenha o sistema de GoTo perfeitamente alinhado em sua montagem, um bom binóculo pode ser uma forma interessante de passar o tempo enquanto está esperando o fim das exposições. Binóculos normalmente são classificados através de dois números separados por um sinal de vezes. O primeiro número se refere à capacidade de aumento do binóculo e o segundo à abertura das lentes objetivas. Por isso, um binóculo 10x50 é um binóculo que aumenta dez vezes e tem objetivas com 50mm de diâmetro. Evite binóculos cujos diâmetros das objetivas, em milímetros, seja menos do que cinco vezes maior do que o aumento, pois serão binóculos escuros para observação celeste. Talvez sejam bons para serem utilizados durante o dia, mas não para varrer o céu a procura de objetos pálidos. Rodrigo Andolfato 175 Evite também binóculos que tenham zoom. O recurso de zoom traz uma série de problemas, diminui o campo de visão, escurece a imagem e, geralmente, quando o recurso é aplicado, o binóculo fica vesgo, além da imagem tremer muito se não estiver num tripé, causando tontura e dor de cabeça. Lanternas são acessórios cuja importância não deve ser subestimada. Afinal, a sessão astrofotográfica, principalmente de céu profundo, deve ser feita com o mínimo de luz possível e você precisa conseguir enxergar os instrumentos para poder manuseá-los. O ideal é usar lanternas fracas e com luz vermelha. Se a luz de sua lanterna não for vermelha, papel- celofane vermelho e fita adesiva resolvem. Se você estiver na companhia de outros astrofotógrafos, o ideal é que a luz de sua lanterna seja bastante suave e ilumine somente o suficiente para que você consiga enxergar os equipamentos que estiver operando. Lanternas de cabeça são acessórios bastante interessantes, pois deixam as mãos livres para que você possa manusear todo o equipamento, mas estas lanternas têm o seu uso restrito em sessões com outros astrofotógrafos presentes. Lanternas de cabeça ficam numa altura muito próxima da entrada de luz dos telescópios ou mesmo lentes de fotografia. Se você estiver usando uma lanterna de cabeça, evite ficar andando próximo a telescópios com ela ligada, isso pode destruir frames de seus colegas e eles não costumam ficar felizes com isso. Lonas: usar uma lona ou outro tipo de tecido sobre o chão em que será montado o seu equipamento astrofotográfico é algo importante quando você estiver fotografando sobre a grama ou terra batida. Nestes casos, cobrir o chão onde você vai instalar seu setup tem algumas funções interessantes. Diminui a umidade que poderá atingir o seu equipamento e embaçar a óptica (principalmente ao se fotografar sobre grama). Também reduz a sujeira que seu equipamento acumulará, principalmente caso alguma peça caia no chão, além de tornar mais fácil encontrar essas mesmas peças quando elas caem, principalmente parafusos pequenos. Por fim, a instalação de Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 176 uma lona no chão ajuda a delimitar a sua área de trabalho, diminuindo a possibilidade de que algum desavisado passeando pela área de fotografia esbarre em seu telescópio. É importante que o material da lona seja resistente e aguente o peso dos pés do tripé ou pilar de seu setup sem rasgar, caso contrário, a lona aguentará poucas noites de Astrofotografia. É interessante também que o tecido seja ou possa ser atravessado por ganchos, que serão enterrados no chão, para evitar que o vento noturno levante a lona, atrapalhando a sessão astrofotográfica. Como montar, desmontar e alinhar um setup astrofotográfico avançado em campo é algo muito trabalhoso, ao fim de sessões astrofotográficas, você pode querer manter os componentes mais pesados no local para continuar fotografando na próxima noite sem ter que montar e alinhar tudo de novo. Neste caso é importante também que você tenha uma capa para colocar sobre o equipamento durante o tempo em que ele estará parado. Pois você precisa proteger o conjunto da poeira e do Sol durante o dia. Deixar um telescópio e montagem o dia todo debaixo do sol, ainda mais no Brasil, pode até mesmo derreter ou empenar componentes de seu equipamento. E a poeira diminuirá a vida útil de sua montagem. Para esta função, a capa não precisa ser de um tecido resistente como a lona que ficou sob o tripé durante a noite, afinal, ninguém vai pisar em seu telescópio durante o dia. Mas é importante que o tecido seja impermeável, principalmente se houver a mínima possibilidade de chuva no local e que também seja reflexivo, para não deixar que os raios solares esquentem o equipamento. Algo muito ruim que pode acontecer é essa capa absorver energia solar e acabar derretendo sob o seu telescópio. Se for de um plástico muito ruim e num dia de muito calor, isso não é impossível de acontecer. Afinal, ela ficará por horas absorvendo calor. Também é importante que essa capa possa ficar bem presa ao telescópio. De nada adianta ela ser de um tecido resistente, impermeável e reflexivo se durante o dia ela for levada pelo vento. Pior ainda se ela se soltar parcialmente e com um forte vento ficar puxando seu equipamento como um paraquedas. Rodrigo Andolfato 177 Pode até acontecer de a capa fazer todo o seu equipamento despencar. Procure uma capa que possa ser bem amarrada e leve algum tipo de cordão junto, para prendê-la sobre o tripé ao fim da sessão astrofotográfica. Se a capa tiver um elástico para esta função, também é interessante. Compatibilidade do diâmetro de acessórios e adaptadores Uma característica dos acessórios que ficam entre o portaocular de seu telescópio e o sensor da câmera é que estes equipamentos, bem como o próprio porta ocular, costumam ter dois tamanhos padrão em seu encaixe: 1,25 ou 2 polegadas. Muitos telescópios vêm com porta oculares de 1,25 polegadas, enquanto outros possuem porta oculares com diâmetro de 2 polegadas. Se o seu telescópio veio com um porta ocular de 2 polegadas, não haverá muita dificuldade em usar filtros, rodas de filtros ou extensores e redutores focais tanto de 2 como de 1,25 polegadas. Mas se o seu porta ocular é de 1,25 polegadas, usar acessórios de duas polegadas é bastante complicado e pode causar grande vinhetagem na captura, pois parte da luz pode ser bloqueada. A vantagem de se usar acessórios de 2 polegadas está diretamente ligada ao tamanho do sensor de sua câmera. Se ele possui mais de 1 polegada de diagonal, acessórios de duas polegadas são obrigatórios, caso contrário, a imagem gerada por sua câmera terá vinhetagem. Mas se o sensor de sua câmera for pequeno, como em câmeras planetárias, o uso de acessórios de 1,25 polegadas é permitido. Existem basicamente duas vantagens de se usar acessórios e adaptadores de 1,25 polegadas. Eles são bem mais baratos – filtros de 2 polegadas custam em média duas vezes mais caros do que seus correspondentes de 1,25 polegadas – e também são mais leves. São duas vantagens consideráveis. Mas se você fotografa céu profundo, mesmo que tenha uma câmera com sensor pequeno, pense bem se no futuro não existe a chance de você trocar sua câmera por uma com sensor maior. Essa é uma evolução natural de todo astrofotógrafo de céu profundo. Adquirir acessórios de duas polegadas evitará que você tenha Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 178 que trocar considerável parte de seu equipamento quando substituir sua câmera por uma que precise de acessórios de duas polegadas. Observatórios amadores A construção ou mesmo aquisição de um observatório amador traz uma série de vantagens para o astrofotógrafo. Uma delas é a possibilidade de manter a montagem sempre na mesma posição, sem ter que se preocupar em alinhar com o polo a cada sessão. Ter tudo pronto antes de começar a fotografar vai economizar muito do seu tempo antes de cada sessão. Poder também simplesmente fechar o teto do observatório na hora de encerrar as atividades é muito melhor do que ter que guardar tudo. Ainda mais se você já estiver caindo de sono. Um observatório amador também trará mais segurança e conforto principalmente na época das chuvas. Poucas coisas são tão chatas quanto montar todo o seu setup e o céu nublar assim que você está pronto para começar os registros. E se você começa a sentir pingos quando o seu setup está todo montado, as coisas podem ficar um pouco mais preocupantes. Poder fechar imediatamente o seu observatório e esperar por melhores céus, ou poder começar a fotografar rapidamente numa noite que o céu começa nublado, mas abre após algumas horas, é uma vantagem enorme. Um observatório amador pode consistir simplesmente de um espaço fechado, com um teto móvel que permita uma abertura suficiente para que você possa fazer registros fotográficos ou observações com seu telescópio. Esta abertura pode ser parcial ou total, mas, caso seja parcial, é necessário que o teto tenha mobilidade para permitir apontar o telescópio para todas as direções, como nos observatórios com cúpulas. Um observatório amador deve ter espaço tanto para seu telescópio quanto para o astrofotógrafo. O conforto deve ser levado em conta, porque praticar Astrofotografia sem conforto pode levar você até a abandonar a atividade. Você precisa de Rodrigo Andolfato 179 espaço também para uma pequena mesa ou local onde possa operar seu computador. É claro que no caso de um observatório controlado remotamente, não é necessário espaço para a mesa, mas é importante que o astrofotógrafo possa entrar para fazer ajustes e manutenção no equipamento. Alguns astrônomos amadores ou astrofotógrafos constroem observatórios bastante compactos em que cabe somente o telescópio. Estes observatórios possuem rodas, colocadas ou não sobre trilhos, que permitem retirar a cobertura sobre o telescópio, trabalhando ao ar livre, e recolocá-la ao fim da sessão, enquanto o telescópio permanece fixo. Num observatório amador é bastante recomendado que você troque o tripé de sua montagem por um pilar. Os tripés ocupam muito espaço e ficam numa posição em que é muito fácil chutar um deles durante um momento de distração. Um pilar deixará muito mais espaço para você e seu computador. A construção de um pilar fixo, chumbado no chão, é ainda melhor do que um pilar móvel, pois um pilar móvel pode precisar de pés laterais, que podem se estender por até um metro de diâmetro, para manter o conjunto em equilíbrio. A construção de um observatório amador vai depender das condições e também das necessidades do astrofotógrafo. Ele pode ser de madeira, concreto ou de fibra. Algumas empresas vendem observatórios em forma de cúpulas moduláveis, que você pode montar em seu quintal. Eles são feitos de fibra e podem ser uma solução interessante se você não quer ter as dores de cabeça típicas de uma construção em alvenaria. Até por que não é fácil encontrar profissionais da construção que entendam as necessidades de um astrofotógrafo amador. Onde adquirir equipamentos para Astrofotografia Por ser onde você encontrará mais opções, o mais recomendado na hora de adquirir equipamentos astrofotográficos é comprar pela Internet, ou pelo menos decidir qual telescópio e câmera comprar após muita pesquisa e só adquirir numa loja física, se for realmente aquilo que você Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 180 escolheu após ter analisado todas as opções. Isso acontece porque existem pouquíssimas lojas físicas no mundo (ou talvez nem existam) que são capazes de atender de pronto todas as demandas de um astrofotógrafo. Evite com todas as forças comprar telescópios, montagens e acessórios em lojas não especializadas em equipamentos astronômicos, principalmente lojas de departamentos, livrarias ou lojas de presentes em shoppings. Quase sempre nada do que essas lojas vendem atenderá as necessidades do astrofotógrafo sério. Os telescópios e montagens oferecidos nestas lojas estão lá com o objetivo de capturarem aquele público que tem um interesse grande por Astronomia, mas que não fizeram pesquisa alguma antes de entrarem na loja. Muitas vezes, são telescópios até bonitos, feitos para atrair a atenção das pessoas. Algumas vezes nem isso. No geral, são equipamentos frágeis, de marcas ruins, incompatíveis com o padrão dos acessórios das empresas sérias, e com óptica simplória. Mas, em compensação, hoje existem excelentes sites de equipamentos astronômicos no mundo, com todo tipo de telescópio, montagem e câmera que você possa imaginar. Esses sites vendem de pequenos refratores acromáticos, que custam algumas dezenas de dólares e podem ser usados como telescópio de guiagem, até enormes refletores ou apocromáticos, vendidos por algumas dezenas de milhares de dólares. A globalização foi, junto com a informática, um dos acontecimentos que mais trouxe benefícios à Astrofotografia amadora, permitindo a um astrofotógrafo brasileiro receber seu equipamento adquirido num site alemão em poucos dias. É claro que em nosso país nós pagamos um preço alto quando queremos que as coisas cheguem rápido. Os modos mais acelerados de envio geralmente mais do que dobram o preço dos equipamentos. Além disso, temos limites nos valores de importação. Fazendo encomendas acima de 500 dólares em sites estrangeiros, já é necessário uma empresa para desembaraçar o produto na alfândega e não se surpreenda se o exército confundir seu telescópio com algum tipo de arma e apreendê-lo, sem qualquer tipo de ressarcimento. Rodrigo Andolfato 181 Abaixo, alguns sites no exterior que entregamno Brasil. http://www.teleskop-express.de/ http://www.optcorp.com/ http://www.astroshop.eu/ http://www.bhphoto.com Em alguns países desenvolvidos, como Estados Unidos e Alemanha, existem boas lojas de equipamentos astronômicos. Nestas lojas é possível comprar bons telescópios, montagens e até mesmo câmeras dedicadas a Astrofotografia, mas mesmo nesses estabelecimentos, você pode estar limitado a algumas poucas opções se quiser sair da loja com o equipamento que deseja, sendo necessário encomendar o equipamento. O problema é que se você for um brasileiro em trânsito no país, pode ser que o tempo para o produto chegar seja maior do que o tempo que você vai permanecer na cidade onde está a loja. O segredo é você adquirir o equipamento no site da loja antes da viagem e mandar entregar na loja ou mesmo no hotel aonde vai se hospedar. A maioria dos bons hotéis no exterior recebe encomendas para o hóspede antes da chegada, mas é sempre bom entrar em contato com o hotel e consultar os procedimentos antes de fazer a encomenda. A UPS, popular serviço de entrega, tem um serviço em que o cliente pode pegar a encomenda numa agência escolhida durante sua viagem. O Brasil possui pouquíssimos sites de venda de equipamentos astronômicos. Para piorar, esses sites, geralmente, não têm muitas opções e levam meses para repor estoques. Mas a boa notícia é que, hoje, esses sites conseguem importar diretamente da Ásia, permitindo preços bem inferiores aos que cobrariam caso tivessem que trazer esses produtos através dos Estados Unidos ou Europa, como acontecia há alguns anos. Em muitos casos, quando é possível encontrar o produto desejado em sites nacionais, vale mais a pena comprar no Brasil do que encomendar de um site estrangeiro, embora ainda seja mais caro do que quando você consegue comprar lá fora, durante uma viagem. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 182 Uma opção muito interessante às lojas são fóruns e grupos de Astronomia em redes sociais. O mercado de produtos usados em Astronomia é bastante ativo, sendo possível adquirir montagens, telescópios e até câmeras CCD usadas por preços bem inferiores aos encontrados nas lojas, muitas vezes em estado de novo. Descobrindo se você comprou o equipamento certo A grande maioria dos novos astrofotógrafos vai descobrir se comprou o equipamento certo na hora da captura. Existem dois indicadores para mensurar o sucesso de suas aquisições de equipamentos astrofotográficos: o resultado de suas fotos e o nível de stress que você está sendo submetido na hora da captura. É claro que os resultados tendem a melhorar com a prática, bem como quanto maior o domínio que você tiver sobre o equipamento, menos estressante e mais agradável serão suas noites astrofotográficas. Entretanto, se após vários meses e muitas sessões de captura com o seu equipamento, você perceber que nem os resultados estão evoluindo e nem o stress está diminuindo, alguma coisa pode estar errada com o seu conjunto astrofotográfico. Não é raro vermos astrofotógrafos amadores insistindo por anos em equipamentos ruins. Os motivos são os mais variados: teimosia, vontade de justificar o gasto, ou de provar que aqueles que criticaram sua compra estavam errados. O maior problema nessa história é que, após anos de frustração, não é raro que desistam da Astrofotografia, alegando que a atividade é impossível, sendo que, com o equipamento certo, é um dos trabalhos mais agradáveis que existe. Um outro erro muito comum, mas num sentido contrário, é correr para fazer upgrades sem usar o equipamento em todo o seu potencial. Muitos astrofotógrafos, ansiosos por fotos melhores, se desfazem de bons equipamentos sem terem realmente produzido o que o material é capaz, gastando muito dinheiro e muitas vezes de forma errada. A dica é: uma vez que Rodrigo Andolfato 183 você adquiriu seu equipamento astrofotográfico, tire o máximo dele antes de pensar em adquirir outro telescópio ou câmera. A não ser que tenha identificado ter feito uma compra errada. Cuidando de seu equipamento Agora que você gastou uma boa grana com seu equipamento astrofotográfico, algo importantíssimo a se pensar é n conservação do mesmo. Tratam-se de instrumentos de precisão, geralmente caros e delicados, que você pretende usufruir por anos ou revendê-los por um preço próximo ao que pagou por eles. Por isso, vale a pena tratá-los com carinho. O cuidado com os equipamentos deve ser realizado sempre, seja durante o armazenamento, transporte ou manuseio. Armazenamento: Na maior parte do tempo, seu equipamento astrofotográfico ficará guardado. Há duas formas de se guardar equipamentos astrofotográficos: − Guardar em caixas, retirando somente quando for utilizar. − Manter montados todo o tempo, próximos de onde serão usados ou em observatórios fixos, que permitam abrir o teto para a utilização do setup. No caso do armazenamento em caixas, o maior inimigo geralmente é a umidade e possíveis fungos. Sempre procure armazenar seus equipamentos astrofotográficos em lugares secos. Caso a sua região seja naturalmente úmida, deixe sacos de sílica gel ou algum outro produto que retire umidade junto aos equipamentos, dentro da embalagem. Cuidado também para não guardar as caixas dos equipamentos em locais onde eles possam sofrer quedas quando retirados, como no alto de guarda-roupas ou estantes. Quando o setup astrofotográfico permanece montado o tempo todo, além da umidade, temos também o problema da poeira. É recomendado colocar uma capa sobre o setup astrofotográfico, mesmo que esteja num espaço reduzido. Procure também não deixar que os raios solares atinjam diretamente seu equipamento. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 184 Transporte: é um assunto ainda mais sério. Poucas coisas são tão destrutivas para equipamentos astrofotográficos quanto um transporte inadequado. Muitos encontros astronômicos são realizados em áreas rurais acessíveis somente por estradas de terra, o que significa que o equipamento será submetido a forte vibração ou mesmo pancadas e quedas. Mesmo em viagens aéreas, você não tem como saber se o seu telescópio despachado está sendo tratado da forma adequada. Por isso, quanto mais você puder proteger seu equipamento, melhor. Acredito que nada protegerá seu equipamento melhor do que uma case/maleta rígida feita em metal (geralmente alumínio) com o seu interior em espuma, cujo formato envolva por completo o equipamento. Alguns telescópios e montagens, geralmente mais avançados, são vendidos ou têm a opção de já virem acompanhados de cases específicas para eles, mas você também pode mandar fazer uma case personalizada para seu equipamento. Em grandes cidades brasileiras, não é difícil encontrar quem faça esse trabalho. Você pode pedir para o profissional fazer a espuma interna na forma de seu equipamento ou usar o isopor ou espuma que veio na caixa do instrumento. No mercado fotográfico existem maletas que podem muito bem receber suas câmeras ou telescópios menores, mas quando se trata de grandes refletores ou montagens, é muito difícil encontrar numa loja uma maleta rígida que os comporte de forma adequada, sendo necessário encomendar a sua fabricação. O único defeito das cases de metal é que elas geralmente ocupam muito espaço e adicionam bastante peso ao conjunto. Um tubo óptico refletor newtoniano de 200mm numa case ocupará quase todo o espaço de um porta-malas de um bom sedã. Tudo depende de suas condições e necessidades. Eu geralmente transporto um refletor de 200mm no banco de trás do carro, enrolado por um edredom e me parece bastante seguro, mas se tivesse que transportar no bagageiro de um ônibus, o edredom certamente não seria a melhor proteção e provavelmente eu nem conseguiria despachar o tubo óptico assim. Rodrigo Andolfato 185 Manuseio: Se transportar de forma inadequada pode prejudicarou até destruir o equipamento, manuseá-lo de forma equivocada também pode trazer grandes prejuízos. Diga-se de passagem, se há algo que estou acostumado a ver é equipamento de Astrofotografia sendo avariado durante o manuseio. Eu mesmo já derrubei uma lente e uma câmera; já esqueci de travar a embreagem da montagem com o telescópio sem contrapeso, fazendo o tubo bater no tripé; também já vi amigos queimarem montagens por problemas com a fiação elétrica e outros apontarem telescópios para o Sol com a câmera acoplada ao porta ocular, mas esquecendo-se de colocar o filtro solar, quase perdendo a câmera se não agissem rápido. Os acidentes durante a captação têm vários motivos. É uma atividade feita no escuro e em horários avançados. Quando você está com outras pessoas que também estão astrofotografando, elas não querem que você acenda luzes na hora de guardar o seu setup. Muitos astrofotógrafos chegam atrasados a noites de Astrofotografia e também precisam montar todo o seu setup no escuro. É muito fácil, nestas condições, não perceber que algo está solto ou encaixar um equipamento de forma equivocada. Poeira e umidade são outro grande problema durante a captura. Em áreas urbanas, geralmente não há umidade, mas em locais afastados da cidade, com vegetação abundante, ela pode ser um grande problema. Cintas térmicas protegerão o interior do tubo óptico e câmeras tendem a esquentar por fora durante a captura, o que ajuda a proteger esses equipamentos da umidade. Mas montagens motorizadas geralmente estão vulneráveis. Também não é raro ver monitores de computador pingando água durante noites mais úmidas. Uma caixa envolvendo o computador durante a captura pode prolongar, e muito, a vida de seu computador. Um dos pontos críticos do manuseio de equipamentos astrofotográficos é a energia elétrica. Acredito que quando estão em casa os astrofotógrafos amadores são mais zelosos com isso. Na varanda onde eu astrofotografo, em meu apartamento, há Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 186 três tomadas disponíveis. Mas em encontros astrofotográficos não é raro vermos até mais de vinte setups astrofotográficos conectados a uma única tomada. Entre câmeras, montagens motorizadas e notebooks, podemos chegar fácil a mais de meia centena de equipamentos utilizando um único ponto de energia. Geralmente a tomada aguenta, o problema é quando ela está muito distante do local de captura e a fiação utilizada é fina ou repleta de remendos. Uma extensão que seja capaz de transmitir com segurança energia elétrica da tomada até o local de captura é um acessório fundamental para grupos de astrofotógrafos. Um componente que sempre exige uma atenção enorme do astrofotógrafo é o sensor da câmera. Quando você conecta uma câmera a seu telescópio tem que expor o sensor da câmera, principalmente DSLRs. O recomendado é que esse tempo sempre seja o mínimo possível e que o sensor sempre fique apontado para baixo quando estiver trabalhando com ele exposto. Limpeza de sensores e peças ópticas. Todos os sensores de câmeras costumam ter um vidro à frente dele, com a finalidade de proteger o equipamento. Algumas câmeras têm até um segundo vidro, um pouco mais à frente, com a finalidade de proteger o vidro primário e também de ajudar câmeras com resfriamento a manterem a temperatura do sensor mais baixa, vedando a câmera. Ter esse segundo vidro é muito interessante. Ele é mais fácil de ser reposto em caso de quebra ou se arranhar, além de fazer com que as partículas sobre ele sejam muito mais transparentes do que se estivessem sobre aquele imediatamente à frente do sensor. A limpeza desses vidros à frente do sensor deve ser feita sempre com muito cuidado. Caso você decida usar algum produto de limpeza sem antes pesquisar sobre seu uso neste tipo de equipamento, há sempre a possibilidade destas peças possuírem revestimentos que podem reagir com produtos químicos inadequados. Rodrigo Andolfato 187 O equipamento de limpeza de lentes e sensores mais importante que você deve ter à mão é um soprador de ar manual. Um muito popular em fotografia é o soprador blower. Trata-se de um acessório facilmente encontrado em lojas de fotografia, por preços na casa de vinte a cinquenta reais. Muitas vezes eles são vendidos em kits que possuem flanelas e pinceis para limpeza. Esses dois últimos podem ajudar a limpar lentes, mas sempre apresentam o risco de encontrarem com algum grão de poeira cristalizada e provocarem arranhões no equipamento. Já o soprador é uma forma bastante segura de limpar sensores e lentes. E lembre-se, jamais assopre ar com a boca em lentes e, principalmente, em sensores. O ar do sopro humano sempre é acompanhado de saliva, produto viscoso e extremamente complexo que, inclusive, possui funções solventes. O soprador é capaz de tirar quase que qualquer sujeira que esteja num sensor, lente ou filtro. Ele deve ser aplicado sempre com o sensor virado para baixo e o soprador apontado para cima, para que a gravidade não faça com que novos grãos de poeira caiam sobre o equipamento. Somente caso haja uma mancha que claramente necessite ser retirada por contato físico ou usando meios úmidos é que você deve recorrer a outro método de limpeza. De preferência, use produtos que sejam Ilustração 53: Soprador Blower (ou pera), a forma mais indicada para retirar partículas de sensores de câmeras. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 188 fabricados especificamente para a limpeza do equipamento em questão. Se há a suspeita de que o equipamento esteja contaminado por fungos, recomenda-se levar para alguma assistência técnica especializada. Tome muito cuidado se estiver pensando em improvisar um soprador. Este equipamento, além de ter a capacidade de exalar ar por uma ponta, também tem um filtro na outra extremidade, por onde o ar entra. Se você tentar fazer um soprador, mas ele não tiver este filtro para o ar que entra no equipamento, pode acabar jogando mais poeira no seu sensor ou lente. Algo que você deve aceitar é que praticamente não há como deixar um sensor, filtro ou lente totalmente limpos. Por mais que você se esforce para limpar uma lente, continuarão caindo partículas de poeira sobre ela. E mesmo que você feche rapidamente um sensor depois de limpá-lo, dificilmente ele ficará totalmente livre de algum tipo de sujeira. Se você jogar uma luz vermelha sobre qualquer lente ou sensor, poderá ficar bastante triste com o que vai perceber de sujeira em seu equipamento, mas não se preocupe, é totalmente normal que haja alguma partícula na lente ou sensor. Sujeiras em objetivas não aparecem em fotografias. Já detritos em filtros próximos a sensores podem começar a atrapalhar a sua imagem. É possível identificar nas imagens da câmera se uma sujeira está diretamente sobre o sensor ou mais à frente. Repare na Ilustração 54. Vemos um flat frame feito com a câmera usando roda de filtros. É possível perceber várias manchas pequenas em toda a imagem. Estas manchas são consequência de pequenas partículas exatamente sobre o vidro que cobre o sensor. Mas também há algumas manchas maiores. Elas são formadas por partículas presentes num filtro cerca de dois centímetros, à frente do sensor. Por isso elas são maiores. Manchas mais distantes também ficam mais transparentes, mas no caso desta imagem, a sujeira sobre os filtros era realmente grave, tanto que tive que limpá-los com um soprador após os primeiros testes. Rodrigo Andolfato 189 Na parte deste livro sobre captura haverá mais discussão sobre cuidados durante o manuseio dos instrumentos de Astrofotografia. Montagens são provavelmente o equipamento mais crítico quando o assunto é manutenção. O grande problema das montagens é que são a parte de seu setup que precisa de movimentação mecânica, através de motores e engrenagens, peças que tendem a dar muito mais problemascom o uso constante do que lentes ou componentes eletrônicos de câmeras. É sempre recomendado fazer uma manutenção periódica em sua montagem, lubrificando as engrenagens com graxa sintética ou ajustando folgas. Folgas em montagens ocorrem devido ao uso com carga desbalanceada ou transportes longos com a ocorrência de vibração constante. Os motores costumam apresentar parafusos que permitem o ajuste desta folga, bastando apertá-los um pouco. É sempre recomendado ler com atenção o manual de sua montagem antes de realizar qualquer manutenção. Se não Ilustração 54: Duas imagens feitas por uma câmera monocromática. Na imagem à esquerda, um flat frame foi feito com o filtro sujo. Na imagem à direita, o filtro usado na captura foi limpo. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 190 houver nada sobre ajuste de folga, lubrificação ou outros ajustes no manual, é sempre possível encontrar tutoriais na Internet sobre como realizar estes procedimentos. Rodrigo Andolfato 191 Galeria 2 A Nebulosa da Roseta (Caldwell 49) é facilmente encontrada no céu pelo aglomerado aberto NGC2244, bem ao centro da Nebulosa. É um dos melhores objetos para ser registrado seja por câmeras coloridas ou monocromáticas, com filtros de cores naturais (RGB) ou de banda estreita, como no caso desta imagem, totalmente feita da varanda de meu apartamento, em Brasília. Imagem feita com lente de 200mm Canon EF 2.8L USM II em F4, Câmera astronômica Atik 314L+ e filtros de banda estreita, sobre uma montagem Sky- Watcher HEQ5 Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 192 SEM DOR, SEM GANHO (Captura) Rodrigo Andolfato 193 Agora que você comprou o seu equipamento, chegou o grande momento da Astrofotografia: a captura, onde você colocará a teste não somente a eficiência do setup escolhido, mas também suas habilidades como fotógrafo espacial. Talvez você esteja um pouco tenso sobre isso, mas saiba que, enquanto eu comprava meu primeiro setup astrofotográfico, muitas vezes me perguntei se daria conta de fazer ao menos uma única foto com aquele equipamento. Não vou dizer que foi fácil, porque se tivesse sido fácil, não teria sido divertido, mas com um bom senso de direção e atenção a detalhes não é necessário fazer qualquer conta matemática. Não é uma atividade exclusiva de engenheiros, estando perfeitamente ao alcance de qualquer pessoa. Vou falar a seguir sobre os passos e detalhes mais importantes numa noite de captura astrofotográfica. Você vai notar que eu dou certa ênfase à captura em grupo, em eventos e encontros de Astrofotografia, por considerar esta forma a mais enriquecedora e estimulante para o astrofotógrafo, principalmente de céu profundo. O local de captura O primeiro passo para uma boa captura envolve definir onde ela será realizada. Se os alvos forem objetos de céu profundo, principalmente galáxias, nebulosas escuras, de reflexão e cometas, será muito importante encontrar um local com pouca poluição luminosa. A forma mais simples de identificar o nível de poluição luminosa em sua região é olhar para o céu sem qualquer instrumento e tentar identificar uma estrela que esteja no limite da sua capacidade de observá-la. Tente reparar em alguma estrela que só seja possível enxergar de canto de olho. Se ela desaparecer quando você olhar diretamente para ela, é por que está na magnitude limite do céu disponível. Identifique a estrela e veja num software planetário, como o Stellarium, qual é a magnitude dessa estrela. Este valor é a magnitude limite do céu neste local. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 194 Uma magnitude limite de 6,2 a 6,5 indica um céu excelente. Se essa é a condição no local onde você fotografa, você está num lugar maravilhoso para a captura de qualquer objeto de céu profundo. Você provavelmente também está num local isolado, a uma boa distância de qualquer cidade. Uma magnitude limite entre 5.5 e 6 é resultado de um bom céu, provavelmente uma fazenda ou chácara a algumas dezenas de quilômetros de uma cidade grande (com cerca de um milhão de habitantes). Esse tipo de céu normalmente apresenta algumas irregularidades, com algumas manchas de poluição luminosa no horizonte, na direção onde estão cidades próximas. Dependendo do tamanho e da distância para estas cidades, as manchas de poluição serão maiores. Se você está se deslocando para um local assim, procure identificar com antecedência quais são os locais do céu mais afetados pela poluição luminosa e planeje a captura de objetos que estão fora deles. Se a magnitude limite do céu onde você vai fotografar estiver entre 5 e 5,5, você está num céu razoável, provavelmente um pouco além dos limites entre a zona rural e urbana de uma cidade grande. Poderá fotografar todas os objetos de brilho destacado, como, por exemplo, qualquer objeto do Catálogo Messier que esteja visível. Mas objetos um pouco mais pálidos, como a Nebulosa Cabeça do Cavalo, podem já se tornar complicados de serem capturados. Um céu considerado medíocre tem magnitude visível entre 4 e 5. Se você está bem na periferia de uma cidade grande, tem grandes chances de estar sob um céu assim. Poderá fotografar as nebulosas de emissão mais brilhantes, como Lagoa e Orion, mas terá dificuldades com nebulosas escuras e mesmo as galáxias mais brilhantes aparecerão de forma pálida em seus frames. Uma magnitude limite abaixo de 4 é típica de áreas urbanas. Você ainda conseguirá fotografar aglomerados abertos e globulares e, com um bom processamento, registrar as nebulosas de emissão mais brilhantes, mas o uso de filtros de banda estreita é recomendado. Na ausência destes filtros e de uma CCD monocromática, a fotografia lunar, solar e planetária Rodrigo Andolfato 195 já deve ser considerada como única opção mesmo para os mais motivados pela fotografia de céu profundo. Outro fator importante a se considerar é a perturbação causada por turbulências na atmosfera, que faz com que os objetos apresentem variações na visualização, como que se estivéssemos os observando através do reflexo de uma piscina. Os objetos podem parecer estarem dançando ou simplesmente estarem se distorcendo enquanto os observamos. Esses efeitos são percebidos principalmente com grandes ampliações, sendo prejudiciais principalmente na Astrofotografia planetária e outros registros de grande aumento, como de estrelas múltiplas ou detalhes da superfície lunar e solar. As condições atmosféricas variam muito de um dia para o outro, ou mesmo em poucos minutos, mas existem lugares que tendem a ter sempre muita turbulência enquanto outros apresentam boas condições na maior parte do tempo. Um tipo de turbulência particular faz com que os objetos pareçam estar o tempo todo entrando e saindo do foco (Ilustração 55). Este fenômeno é chamado “seeing”. É o terror dos astrofotógrafos planetários, pois um frame fora de foco é um frame perdido, mas um seeing ruim também pode prejudicar a Astrofotografia de céu profundo, fazendo as estrelas ficarem mais “gordas”. Em regiões com grandes campos estelares, um seeing ruim pode destruir uma imagem de céu profundo. Em áreas urbanas, a variação maior da temperatura e o calor emergindo do concreto podem aumentar a turbulência atmosférica, principalmente no começo da noite, mas a situação tende a melhorar no avançar da madrugada. Longe das cidades e perto de lagos, é mais fácil encontrar boas condições de seeing. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 196 O seeing vária muito de região para região, durante épocas do ano, ou mesmo durante alguns minutos. Mas existem regiões que frequentemente estão com seeing ruim, enquanto outras estão quase sempre com o seeing bom. Os melhores astrofotógrafos planetários moram, ou possuem telescópios remotos instalados, em regiões onde o seeing ésempre muito bom. Um site excelente para verificar a quantas anda o seeing de sua região é o MeteoBlue, que classifica o seeing de 1 a 5, sendo 5 o melhor seeing possível. A transparência da atmosfera é um dos fatores que mais afeta os astrofotógrafos brasileiros. Enquanto a poluição luminosa é um problema para astrofotógrafos de céu profundo e a turbulência atmosférica é mais agressiva com Astrofotografias planetárias, uma atmosfera bloqueada por nuvens é um problema para qualquer tipo de Astrofotografia. Em nosso país, temos regiões bastante chuvosas, onde durante quase o ano inteiro os céus estão fechados, encoberto por nuvens. Outras regiões são mais secas, podendo passar meses sem uma única nuvem no céu. É claro que regiões mais secas são melhores para Astrofotografia. Por esta razão há tantos observatórios no Ilustração 55: Dois frames de Júpiter separados por poucos segundos. No primeiro, a imagem está nítida, já no segundo, parece que a câmera saiu do foco. A sombra de uma das Luas do planeta, projetada no disco, praticamente desaparece. A oscilação permanece em todo o vídeo. Característica de um seeing ruim. Rodrigo Andolfato 197 deserto do Atacama. Já regiões com estações chuvosas e secas bem definidas, como o cerrado, podem ser problemáticas durante o verão, mas permitem que você agende sua temporada astrofotográfica para o inverno. O Clube de Astronomia de Brasília, por exemplo, concentra seus encontros de observação e Astrofotografia entre os meses de maio e setembro. Vale lembrar que as maiores cidades, como São Paulo ou Rio de Janeiro, podem ter baixa transparência devido também à poluição química do ar, provocada por indústrias e veículos automotores. Já em regiões com boa vegetação, mas estações muito secas, sua sessão astrofotográfica de inverno corre o risco de ter o céu bloqueado pela fumaça de queimadas próximas ao local de captura. Viajando para astrofotografar É claro que se o local onde você mora não é o ideal, sempre existirá a possibilidade de se deslocar para uma região com menor poluição luminosa, melhores condições atmosféricas ou céus mais limpos. Mas não basta ter pouca poluição luminosa e céus abertos e estáveis. Um bom local para Astrofotografia precisa ter outras características importantes: − Permitir o seu acesso: não se aventure em nenhum lugar sem saber que você pode entrar lá, sem correr risco de levar um tiro ou ser atacado por um cão de guarda. O dono do local precisa sempre saber que você está lá. − Estradas acessíveis: você provávelmente vai precisar de um carro para chegar ao local com seu equipamento. Atravessar um rio ou pular cercas com um telescópio nas costas, pode ser arriscado para o seu setup e até para sua vida. O ideal é que no local de observação você consiga deixar seu veículo o mais próximo possível de onde fará seus registros. − Pouco acesso de pessoas leigas em Astronomia: a presença de telescópios em pousadas ou hotéis tende a atrair a Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 198 curiosidade do público leigo, mas poucas coisas podem ser piores para a Astrofotografia do que o trânsito de pessoas não envolvidas com a atividade no local de captura, principalmente se elas não têm compreensão das peculiaridades da tarefa que estamos realizando. Procure sempre propriedades onde os responsáveis tenham consciência das necessidades de um astrofotógrafo. Luzes são praticamente proibidas próximo aos telescópios, e se outros hóspedes estiverem curiosos para visitarem o local, eles devem seguir normas de conduta em relação a lanternas e, acima de tudo, faróis de automóveis. Deve-se tomar muitíssimo cuidado ao se escolher um hotel ou pousada de grande porte como sítio astrofotográfico. Prefira sempre uma pousada que tenha uma capacidade semelhante ao número de pessoas que participarão do evento astrofotográfico. Você poderá até conseguir reservar todos os quartos para o evento, evitando qualquer contratempo com outros visitantes. Ilustração 56: O autor deste livro, fazendo pose num dos encontros de astrofotógrafos realizados pelo Clube de Astronomia de Brasília - CASB Rodrigo Andolfato 199 − A propriedade deve ter uma área ampla e afastada de qualquer luz ao redor: não adianta ir para uma região no meio do deserto e ter que deixar seu telescópio ao lado de um poste de luz, ou mesmo de uma varanda iluminada. Se você for ficar num local que não seja de sua propriedade, corre o risco de ter que negociar com os donos sobre luzes próximas. Isso pode tornar-se muito complicado em hotéis ou pousadas maiores, ainda mais se o estabelecimento tem trânsito de hóspedes durante a noite. Se estas luzes forem da iluminação pública, não cometa a idiotice de tentar quebrá-las. Procure ficar o mais afastado possível ou simplesmente escolha outro lugar para fotografar. − Prefira locais que garantam eletricidade: essa dica vale principalmente para aqueles que vão fotografar com câmeras astronômicas resfriadas e notebooks. Com um setup portátil, formado por uma pequena montagem e DSLR com lentes, é possível passar uma noite às custas de baterias pequenas. Mas se o seu setup for mais complexo e o grupo de astrofotógrafos for maior, será um desafio alimentar tudo isso. Se o local não tiver uma tomada disponível, alguém vai ter que levar um gerador a diesel ou alguma outra forma de energia semelhante. − Tenha certeza da segurança do local: ainda não tive notícias de algum astrofotógrafo que tenha sido atacado por lobos, mas você não vai querer ser o primeiro. Sempre obtenha informações sobre a fauna do local antes de preparar seu setup, principalmente se o grupo for muito pequeno ou, ainda pior, se você estiver sozinho. Lembre-se que muitos predadores possuem hábitos noturnos e, em certas regiões, a atividade animal noturna pode até mesmo ser maior do que a diurna. Insetos venenosos, como aranhas ou escorpiões, podem ser tão perigosos quanto animais maiores. Antes de se instalar no local, verifique também a presença de formigueiros e ninhos de abelhas ou vespas nas proximidades. A presença de tocas suspeitas também deve ser vista com atenção. Outra coisa que pode causar sérios problemas é a presença de uma cerca elétrica, algo comum em zonas rurais. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 200 Procure sempre examinar o sítio astrofotográfico durante o dia. Chegar de noite e começar a montar tudo num terreno que você não conhece é brincar com o perigo. Animais domésticos também podem causar grandes problemas numa sessão astrofotográfica, principalmente os de grande porte, como cavalos e vacas. Problemas com este tipo de animais são, na verdade, bem mais frequentes do que com animais selvagens. É comum astrofotógrafos procurarem fazendas para a prática do hobby e não se atentarem que estão num local de trânsito de animais domésticos, terminando a noite brigando com bois ou cavalos que querem entrar ou apenas passar pela área dos telescópios. Uma experiência que pode ser realmente das mais desagradáveis seriam bandidos. Em regiões de alta criminalidade, passar a noite numa área isolada pode acabar muito mal. Quando estiver numa propriedade com a presença de pessoas estranhas, tenham elas ou não aparência suspeita, sempre evite ficar ostentando câmeras fotográficas e notebooks perto de desconhecidos. Esses são os acessórios que mais podem atrair a cobiça de pessoas mal-intencionadas. Se for manter seu setup instalado durante o dia, procure deixar somente os telescópios e as montagens no local. Evite deixar acessórios menores e, principalmente, câmeras e computadores na área, sempre os guardando num local seguro e privativo após cada sessão astrofotográfica. − Fique atento às condições meteorológicas do local: essa análise deve ser feita duas vezes. Se você estiver analisando o calendário para verificar como será a sua programação anual deviagens astrofotográficas, você deve consultar o clima do local, para definir quais são as melhores épocas para a sua viagem. Muitas regiões do Brasil possuem estações chuvosas e secas bem definidas, o que pode lhe ajudar neste planejamento. E mesmo que você tenha tomado o cuidado de marcar sua viagem para o mês cuja a média de chuvas era a menor do ano, dias antes de se deslocar, procure saber como anda a previsão do tempo para a região. Infelizmente o clima tem se mostrado muito irregular nos últimos anos. Isso ocorre devido a vários fatores, entre eles, o aquecimento do planeta Terra. Em muitos Rodrigo Andolfato 201 lugares, meses que antes eram marcados por céus completamente limpos, podem presenciar até mesmo fortes chuvas. − Verifique a topografia da região: muitas vezes um local inadequado pode parecer perfeito ao se olhar em mapas quando não podemos visualizar as variações do terreno. O sítio de captura pode ser demasiadamente acidentado e uma montanha pode estar bem ao lado de onde você pretende ficar, cobrindo grande parte do céu. Antes de definir a sua viagem, é extremamente recomendado sempre visitar a propriedade onde pretende astrofotografar. Se possível, durante a visita de reconhecimento, fique até anoitecer completamente para ver as condições reais do céu. Não é necessário que todos que vão participar da noite de captura façam esta visita, mas é interessante que pelo menos dois dos participantes mais experientes se desloquem para o sítio, conheçam o ponto onde os telescópios serão instalados e façam um parecer sobre o local. Levar uma câmera com lentes de grande campo e fazer imagens de todas as direções é algo que vai ajudar muito aqueles que não participaram da visita a entender as condições do local e também a comparação com outros lugares. A distância entre a sua casa e o local de captura poderá influenciar na complexidade do setup que você pode se dispor a levar. Quando for possível fazer o trajeto de automóvel, você estará limitado somente pelo modelo do veículo usado e quantidade de pessoas que o acompanharão. Caso você tenha que viajar de avião, um setup portátil, baseado na fotografia com lentes ou no máximo um pequeno refrator apocromático, pode ser o mais sensato. Mas não fique surpreso de ver alguém tentando despachar um telescópio de doze polegadas de abertura nessas viagens. Dependendo do local para onde está indo, você também terá que levar muita bagagem além de seu setup astrofotográfico, como roupas para frio, mantimentos, extensões elétricas, lanternas, mesa, cadeira e até mesmo uma barraca. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 202 Sempre que for viajar para astrofotografar em locais mais isolados, recomendo que faça em grupo. Quem assistiu ao filme “127 Horas” sabe dos riscos de sofrer um acidente e não ter ninguém por perto para ajudar ou chamar socorro. Mais do que isso, sessões astrofotográficas com outros colegas, são muito mais interessantes. Dá para conversar muito enquanto o setup está capturando e sempre há alguém para te salvar quando você descobre que esqueceu aquele parafuso ou cabo de energia importantíssimo para seu setup funcionar. Nestas horas, nada como ter um colega com acessórios sobressalentes ao lado. A noite da captura Antes de começar, prepare seu corpo para uma longa sessão de Astrofotografia. Se está planejando uma noite inteira de captura, tenha consciência que você precisa estar preparado fisicamente para isto. Ficar acordado até o nascer do Sol não é nada fácil. Pode exigir muito de seu corpo, principalmente de quem não está tão acostumado a ficar acordado até muito tarde. Além disso, ao final da sessão você precisa ainda ter energia para guardar suas coisas com o devido cuidado. A dica é simples: descanse bem antes de uma sessão astrofotográfica longa. Trabalhar com equipamentos de precisão, com operações que são complexas e exigem muita atenção, é algo muito mais complicado se você estiver cansado. E a chance de erros, ou mesmo acidentes, como, derrubar uma câmera é muito maior. Nos dias que antecedem uma noite astrofotográfica, se a intenção é aproveitar todo o período escuro, procure dormir o máximo que puder. Em áreas mais isoladas, longe das grandes cidades, a temperatura pode variar muito do dia para a noite. Estações secas são ótimas para Astrofotografia, mas também são o período onde ocorrem maiores variações térmicas entre o dia e a noite, fazendo um astrofotógrafo que estava vestindo camiseta cavada, bermudas e chinelos durante a hora do almoço, ter que se proteger durante a noite como se estivesse numa expedição Rodrigo Andolfato 203 para o Polo Sul. Nos encontros astrofotográficos em que participo, costumo levar no carro um casaco que comprei para andar na neve. No meio da madrugada sempre acabo colocando ele, com mais duas blusas por baixo. Dois agravantes ao frio são o fato de que Astrofotografia é uma atividade de pouco movimento e que é praticada em locais bem abertos, onde normalmente há incidência de vento. Se você não quer que a tremedeira o impeça de operar os equipamentos, agasalhe-se muito bem, com meias grossas, calçados robustos, blusas forradas e, principalmente, touca de lã e cachecol. Para quem não conhece o frio é impressionante perceber como um cachecol faz falta. Luvas exigem uma atenção maior do astrofotógrafo na hora de adquirir um par. De nada adianta colocar luvas de lã se não puder nem segurar uma lanterna pequena quando está com elas. Ficar toda hora tirando as luvas quando precisa fazer alguma coisa é complicado e pode fazer você desistir de usá-las no meio da noite. O ideal é usar luvas leves e impermeáveis, de preferência de borracha ou um tecido muito fino. Nunca subestime o frio de uma noite de Astrofotografia fora da cidade. Praticamente todos os amigos que levei para participar de um evento astronômico em áreas rurais me disseram em algum momento da noite que não imaginavam que ficaria tão frio. Já vi muitos colegas indo para a cama antes do que gostariam porque não suportaram as baixas temperaturas. Mesmo eu, algumas vezes, desisti de uma noite porque não estava aguentando o frio e estava tremendo demais. E isso foi ao norte de Brasília, não no Sul do Brasil. Se você ficar em dúvida sobre levar ou não uma roupa de frio, leve. É sempre melhor sobrar do que faltar. Diga-se de passagem, o frio que testemunhei nas noites astrofotográficas no Brasil me fez entender porque nos países Europeus a Astrofotografia remota é muito popular. Em muitas regiões desses países deve ser impossível ficar do lado de fora durante a noite. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 204 Instalando seu setup Numa viagem astrofotográfica, ao chegar na propriedade onde serão realizadas as fotos, sua primeira preocupação deve ser analisar em qual posição você instalará seu equipamento. Há muitos fatores que você precisa levar em consideração: − Condições do piso: procure por um ponto com o piso mais plano possível, com poucas pedras e irregularidades. Evite áreas com grama ou mato. Além de dificultarem os trabalhos, quanto mais vegetação em volta, mais umidade você terá que enfrentar durante a noite. − Obstáculos à visão do céu: se vai alinhar sua montagem usando o polo celeste como referência, o principal aqui é procurar uma posição em que o polo não seja bloqueado por árvores ou construções. Se você estiver em baixas latitudes, onde o polo fica mais próximo do horizonte, a possibilidade de o polo celeste ser bloqueado é muito maior. Também reveja quais objetos você pretende fotografar durante a noite e procure uma posição em que não exista nada bloqueando o céu na direção onde estes objetos estarão posicionados. − Posicionamento de outros telescópios: se você não for fotografar sozinho, deve analisar onde ficarão os telescópios de seus colegas. Evite ficar perto demaisde outros setups. Vocês podem acabar atrapalhando uns aos outros, jogar luz e até causar vibrações no chão que afetem o vizinho. Em encontros com outros astrofotógrafos, gosto de manter uma distância de pelo menos uns dez metros do telescópio mais próximo. Preocupe-se também com a luz de notebooks. Quase todos os astrofotógrafos usam este equipamento. Por isso, é importante posicionar a mesa ao lado do telescópio de forma que a tela do seu computador não fique iluminando outros astrofotógrafos. Nestes eventos, é comum que os telescópios fiquem posicionados em círculos, com todos os computadores com sua tela apontando para fora deste círculo. − Acesso à energia elétrica: certifique-se de que as extensões elétricas que alimentarão os equipamentos são Rodrigo Andolfato 205 suficientemente longas para alimentar todos os setups. Se estiver pensando em se isolar dos outros astrofotógrafos, tenha uma extensão para ligar seu setup até o ponto de energia mais próximo. O local onde você posicionará seu setup estará limitado ao comprimento desses acessórios. − Posicionamento de seu veículo: Eis aqui uma questão muitas vezes ignorada pelos astrofotógrafos mas que faz enorme diferença. Ter o carro por perto durante a noite traz muitas vantagens. Você não precisa retirar do veículo todo equipamento que levar, protegendo da umidade. Se fizer frio você pode entrar no carro e tirar um cochilo, enquanto o setup estiver fotografando, ou simplesmente proteger-se um pouco do frio. Mas é importante que você pense sobre se vai ter que sair do local com o veículo durante a madrugada, se vai ficar até o dia clarear, ou se pode deixar o carro ali caso decida sair no meio da noite. Na maioria dos encontros astrofotográficos, se o seu carro estiver próximo a outros telescópios, você não será lembrado como o herói do evento se decidir sair dirigindo no meio da madrugada, ligando faróis e levantando poeira. Se pretende sair com o carro no meio da noite, deixe ele em local mais afastado do sítio de fotografia, de preferência onde as luzes do veículo não atinjam os telescópios caso você precise acender os faróis. Escolhido onde você vai posicionar seu equipamento, o passo agora é tirar tudo da caixa e montar da forma correta. É uma atividade que leva entre 20 e 40 minutos. Dependendo da experiência do astrofotógrafo e da complexidade do setup, pode demorar menos ou mais. Se você pretende colocar uma lona sob o setup, obviamente a instalação dela será a sua primeira tarefa. Antes, analise o terreno aonde você vai realizar a instalação. Evite colocar a lona sobre um piso muito irregular, principalmente onde houver pedras e, pior ainda, se elas forem pontiagudas. Caso o terreno inteiro esteja infestado por pedras ou irregularidades, tente aplanar o chão e remover as pedras com uma enxada. Caso não haja como remover as regularidades ou Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 206 você não tenha ferramentas ou condições de fazer este trabalho, avalie os riscos de se cobrir o chão com a lona. Quais são as chances de o tecido rasgar ou mesmo provocar um acidente? Num piso muito irregular o ideal talvez seja deixar a lona guardada. Se houver opção, procure um local melhor. Outro fator que pode atrapalhar ao se instalar uma lona é o vento. Não é necessário um vento muito forte para levantar uma lona mesmo sendo de material mais pesado. O ar entra por baixo do tecido, acumula e levanta a lona facilmente, podendo causar transtornos durante a noite. Tome o cuidado de prender o tecido ao chão, principalmente os cantos, que são os pontos mais suscetíveis a serem levantados pelo vento. Usar ganchos de barraca é uma solução interessante, mas se o tecido for fraco e os furos não forem protegidos por anéis de plástico ou metal, a lona não apenas vai levantar como poderá rasgar. Uma estratégia muito comum usada por astrofotógrafos é colocar os cases de equipamentos, ou acessórios pesados que não estão sendo usados, nos cantos da lona. Posicionando o tripé. O primeiro equipamento de seu setup astrofotográfico propriamente dito a ser instalado será o tripé. Aqui o importante é tomar o cuidado de deixá-lo posicionado de acordo com a orientação polar. Provavelmente, neste momento você não sabe exatamente onde está o polo celeste, mas é aconselhável que tenha ao menos uma noção. Se já estiver escuro, procure pelas constelações que servem de referência. No Sul, é o Cruzeiro do Sul. Ele aponta para onde está o Polo Sul como uma seta (Ilustração 68). O Polo está aproximadamente cerca de cinco vezes a extensão da cruz a partir da estrela mais brilhante (Acrux). Se ainda estiver dia, se oriente pelo Sol. Se já estiver próximo do pôr do sol, o que é bem provável, o polo sul estará na extrema esquerda de onde o Sol está se pondo. Caso esteja num encontro de Astrofotografia ou observação, talvez já existam no local telescópios com montagens equatoriais alinhadas para o polo. Use elas como referência. Rodrigo Andolfato 207 Sua montagem deve ficar com o eixo de ascensão reta (Ilustração 34) apontado exatamente para o polo. Então, o lado de seu tripé que vai ficar alinhado ao eixo de ascensão reta deve ficar apontado para o polo. Na base do seu tripé, talvez exista um parafuso de posicionamento para encaixe da cabeça da montagem (Ilustração 58). Este parafuso deve ficar posicionado para a direção do polo. Se o pé do tripé alinhado com o eixo de ascensão reta (pé de apoio) for colocado à frente da montagem, este pé deve estar voltado o máximo possível para o polo, se este pé for colocado atrás da montagem, como a primeira imagem da Ilustração 57, este pé deve ficar exatamente na direção contrária ao polo. Em áreas de baixa latitude é muito comum o uso do tripé com o pé de apoio para trás, para evitar bater na barra de contrapesos da montagem. Em alguns tripés de montagens, o parafuso de posicionamento está soldado ao tripé. Essas montagens não permitem inverter a posição do pé de apoio. A solução, em alguns casos, pode ser serrar este parafuso Parafuso que prende a cabeça da montagemDireção do pólo celeste Pé de apoio Base do tripé Ilustração 57: primeiro posicione o tripé de acordo com a posição do polo celeste, depois instale o parafuso que prende a cabeça da montagem. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 208 e soldá-lo no outro lado da base do tripé ou usar um pilar extensor sobre a base da montagem, afastando a cabeça da montagem do tripé. É importante que a base do tripé esteja perfeitamente nivelada com o solo, principalmente se você deixou o pé de apoio para trás. Se a base do tripé estiver inclinada para frente, corre-se o risco de todo o conjunto cair para frente. O nivelamento se faz simplesmente deixando um pé um pouco mais alto do que o outro, com um nível ou inclinômetro sobre a base você consegue saber se está perfeita nivelado. Algumas montagens ou tripés já possuem níveis instalados em seu corpo. Se estiver fotografando com um setup mais pesado, como um refletor de 200mm sobre uma EQ5, sempre deixe os pés do tripé estendidos o mínimo possível. Isso reduz muito a vibração que vai chegar ao telescópio. Se o setup for mais leve, estenda os pés para uma altura que seja mais confortável para você trabalhar. Em refratores, por exemplo, a câmera ficará para baixo e deixar os pés do tripé totalmente retraídos pode lhe causar dor nas costas durante a operação. Já em refletores newtonianos, a câmera fica na ponta do telescópio, sendo geralmente recomendado deixar os pés do tripé mais retraídos possível quando estiver fotografando com newtonianos. Instalando a cabeça da Montagem A cabeça da montagem vai exatamente em cima do tripé, mas é comum que ela seja presa por um longo parafuso que encaixa por baixo da base do tripé, como na segunda imagem da Ilustração 57. A ponta deste parafuso, que se encaixa nabase, tem dois níveis. No primeiro nível, ele encaixa somente na base do tripé, então você pode posicioná-lo ali antes de instalar a cabeça da montagem. Rodrigo Andolfato 209 Para colocar a cabeça da montagem, observe a parte inferior deste componente. Há dois parafusos de pressão instalados em sentidos opostos (segunda imagem da Ilustração 58). Eles são chamados de parafusos de ajuste fino de azimute. Abra um pouco de espaço entre eles e coloque a cabeça da montagem de forma que o parafuso de posicionamento fique exatamente entre estes dois parafusos. Após colocar a cabeça da montagem, aperte o parafuso que prende a cabeça da montagem e os parafusos de ajuste de azimute. Não precisa apertar com muita força, você ainda vai trabalhar com esses parafusos na hora de fazer o ajuste fino do alinhamento polar. Parafuso para posicionamento da cabeça da montagem Encaixe dos parafusos de ajuste fino de azimute Ilustração 58: Com o parafuso de posicionamento da cabeça da montagem (imagem à esquerda) instalado entre os parafusos de ajuste fino de azimute (imagem à direita), encaixe a cabeça da montagem. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 210 Você agora está com a cabeça da montagem instalada sobre o tripé. O próximo passo é fazer o ajuste de latitude, ou seja, colocar o eixo de ascensão reta de sua montagem na mesma inclinação da latitude do local onde vai fotografar. As montagens equatoriais costumam ter um parafuso na parte de trás da cabeça da montagem que permite este ajuste (primeira imagem da Ilustração 59). As montagens também costumam ter um marcador de latitude do lado, mas ele nem sempre é muito preciso, principalmente se o tripé não estiver perfeitamente nivelado. Se você tiver em mãos um inclinômetro, conseguirá um ajuste muito mais preciso. Observação: muitas montagens também possuem um parafuso de ajuste de latitude na frente da cabeça da montagem, mas em baixas latitudes, como é comum no Brasil, a montagem pode bater neste parafuso quando estiver se movimentando. A solução é retirá-lo, pois esse parafuso só tem função quando usado em altas latitudes. Ele impede que a montagem com inclinação bastante elevada caia para trás. Em baixas latitudes isso é impossível de acontecer, pois com a baixa inclinação, todo o peso da montagem se concentra no parafuso de trás. Ajuste de latitude Barra de contra pesos contra peso Eixo de ascensão reta Ilustração 59: à esquerda, parafuso de ajuste de latitude. À direita, a montagem já com um contrapeso para receber o tubo óptico. Repare na inclinação do eixo de ascensão reta Rodrigo Andolfato 211 O passo seguinte é instalar os contrapesos na montagem. Antes de instalar os contrapesos, tome o cuidado de deixar a barra de contrapesos apontada totalmente para baixo, para não forçar a trava do eixo de ascensão reta. Há quem prefira instalar o telescópio primeiro, mas é grande o risco de o conjunto girar e bater no telescópio. Nas ilustrações, estou instalando um setup que precisa de dois contrapesos, mas antes de colocar o telescópio coloco somente um, o mais baixo possível. É o suficiente para não deixar o telescópio descer com velocidade após ser instalado. Depois de instalar o telescópio, coloco o segundo contrapeso. Instalando o tubo óptico O tubo óptico é instalado sobre a base da cabeça da montagem, também chamada de berço para telescópio. O dovetail é feito para encaixar nesta base, onde haverá um ou mais parafusos de pressão com a função de fixar o dovetail. Berço para telescópio Parafusos de pressão Dovetail Ilustração 60: Encaixe o dovetail no berço do telescópio através de parafusos de pressão. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 212 (Ilustração 60). Montagens do tipo EQ1 ou EQ2, mais simples, podem não ter berço de dovetail, encaixando as braçadeiras do tubo óptico diretamente na base. Balanceando o setup Com o tubo óptico instalado na montagem, você deve balancear o setup. Este é um procedimento obrigatório em montagens equatoriais. Um setup mal balanceado forçará os motores da montagem, diminuindo o seu tempo de vida, além de prejudicar o acompanhamento e a guiagem. Antes de fazer o balanceamento, lembre-se de instalar todos os acessórios que irá utilizar, como câmeras, rodas de filtro, autoguiagem, buscadora. Não adianta fazer o balanceamento somente com o tubo óptico se depois você vai colocar mais alguns quilos de acessórios. Isso alteraria totalmente o equilíbrio do setup. Para fazer o balanceamento do eixo de ascensão reta, desaperte a embreagem deste eixo (primeira imagem da Ilustração 61). Faça isso segurando o telescópio com a outra Ilustração 61: Nas duas primeiras imagens: embreagens dos eixos de ascensão reta e declinação. Na imagem à direita, a montagem com as embreagens destravadas. Nesta situação, quando perfeitamente balanceados, a barra de contrapesos e o tubo óptico ficam na posição horizontal. Rodrigo Andolfato 213 mão, pois se a montagem estiver muito desbalanceada, o eixo pode girar com velocidade, fazendo o telescópio ou contrapesos baterem no tripé. Desça o telescópio até a barra dos contrapesos ficar horizontal e deixe o telescópio mover-se com o próprio peso. Se o telescópio começar a descer, afaste os contrapesos da montagem; se o telescópio subir, aproxime os contrapesos até que o eixo fique em equilíbrio. Ao terminar, aperte bem o parafuso dos contrapesos e também a embreagem do eixo de ascensão reta, mantendo este eixo de forma que a barra de contrapesos permaneça na posição horizontal (terceira imagem da Ilustração 61). Para fazer o balanceamento do eixo de declinação, mantenha o eixo de ascensão reta travado e desaperte a embreagem do eixo de declinação (segunda imagem da Ilustração 61). Se a parte da frente do tubo óptico descer, é porque o tubo está demasiado para frente; se subir é porque o tubo está muito para trás. Você deve corrigir a posição do tubo afrouxando os anéis de fixação ou os parafusos de pressão do berço do dovetail. Lembre-se que para isso você deve movimentar o eixo de ascensão reta de forma que a barra dos contrapesos fique novamente na vertical, apontando para baixo, para não correr risco de o telescópio sair do berço quando você afrouxar os parafusos de pressão. Também segure bem o telescópio neste momento. Você não vai querer derrubá-lo. Para finalizar, coloque tudo na posição horizontal, como na terceira imagem da Ilustração 61, solte as duas embreagens e veja se o setup mantém-se totalmente na posição horizontal. Se o telescópio nem a barra de contrapesos se movimentarem, o setup está bem balanceado nos dois eixos. Mas além dos eixos de ascensão reta e declinação, há um terceiro balanceamento em seu setup que, diga-se de passagem, pode ser ignorado por quem está começando na Astrofotografia. É o balanceamento lateral em relação ao tubo óptico. Você não deve colocar peso demais de um lado do telescópio em relação ao lado oposto. Olhe a primeira imagem da Ilustração 62. Repare que meu econômico setup é formado por um Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 214 pequeno sistema de autoguiagem, composto de uma buscadora de 50mm com uma câmera planetária, enquanto no telescópio principal temos uma pequena CCD astronômica com roda de filtros de 1,25 polegadas saindo do porta ocular. O normal, para alguns, seria que o porta ocular saísse mais lateralmente, mas se eu fizesse isso, ficaria muito peso deste lado do telescópio. Quando você está balanceando os eixos de declinação e ascensão reta e deixa tudo na horizontal, não dá para perceber se há mais peso de um lado do telescópio, mas movimente o eixo de ascensão reta de forma que a barra de contrapesos fique apontada uns 45 graus para baixo e trave esse eixo, gire o eixo de declinação em 90 graus de forma que o setup fique como na segunda imagem da Ilustração62 e solte a embreagem deste eixo. Se houver muito mais peso de um dos lados do telescópio, assim que você soltar a embreagem, o telescópio irá se movimentar na direção onde há mais peso. Se você, segurando a frente do telescópio com as mãos, tentar colocar ele de volta na posição, vai notar que ele força para um dos lados. Se estiver movimentando o telescópio para este lado usando o motor de declinação de sua montagem, ele também terá que fazer uma força extra, prejudicial ao equipamento. Embreagem do eixo de declinação Ilustração 62: O balanço lateral é feito distribuindo-se o peso dos acessórios de forma que um dos lados do telescópio não tenha mais peso que o outro. Rodrigo Andolfato 215 Alinhando a Buscadora Toda buscadora possui parafusos de ajuste em volta do anel de suporte, com a função de regular a posição para onde a buscadora aponta (primeira imagem da Ilustração 63). Antes de fazer esta regulagem, verifique se a buscadora está bem presa ao anel de suporte. Se estiver frágil, o alinhamento irá se perder facilmente quando você movimentar o setup. Em buscadoras que possuem somente um anel de suporte, normalmente há um fino anel de borracha em volta da buscadora que deve estar entre ela e o anel, para mantê-la firme. Se este for o caso da sua, faça um teste: segurando na ponta da buscadora com o polegar e indicador, tente movimentar ela com a mão. Se estiver se movimentando com facilidade, a buscadora está solta e isto vai lhe causar dor de cabeça durante a noite. Retire a buscadora e verifique se o anel de borracha está na posição correta. Deve haver um pequeno sulco no tubo da buscadora onde você deve encaixar o anel de borracha. Coloque a buscadora de volta e veja se agora está firme. Parafusos de ajuste da buscadora Ponto de referência Ilustração 63: Buscadora instalada sobre refletor de 200mm. Repare nos parafusos de ajuste (imagem à esquerda) e no ponto de referência usado: o canto de uma árvore como aparece ao centro da buscadora (imagem ao centro) e no telescópio principal (imagem à direita). Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 216 A forma mais fácil de alinhar a buscadora com o telescópio principal é apontar o telescópio para uma região distante na paisagem em que seja fácil distinguir os objetos e comparar o que está vendo em seu telescópio principal com o que mostra a buscadora. Se você apontar para um local repleto de árvores muito parecidas, por exemplo, pode ter dificuldades para entender o que a buscadora e o telescópio estão mostrando. Detalhes urbanos na paisagem, como casas, prédios ou torres podem ser muito interessantes para este trabalho. Na Ilustração 63 eu usei uma árvore localizada entre prédios como referência. Mas nem todo local de observação tem uma boa vista urbana. Muitas vezes o astrofotógrafo está dentro de um observatório fechado ou qualquer outro tipo de espaço apertado e não há nada na paisagem para onde ele possa apontar. Nesse caso, a única solução é apontar o telescópio para uma referência no céu, com o acompanhamento celeste ligado. O problema é que alinhar a buscadora usando as estrelas como referência pode ser um pouco confuso. Pode até mesmo acontecer de você achar que uma estrela que está vendo no telescópio principal está centralizada na buscadora, mas no fim não são as mesmas estrelas. Caso tenha que apontar para o céu para alinhar sua buscadora, prefira um objeto brilhante e extenso. A Lua é o mais fácil de todos, você pode encontrá-la seguindo a intensidade de seu brilho. Mas nem sempre a Lua estará no céu, até por que astrofotógrafos de céu profundo preferem fotografar justamente quando a Lua está escondida abaixo do horizonte. Nebulosas extensas e brilhantes como a da Lagoa e de Orion costumam ajudar muito neste trabalho. Aglomerados abertos também podem ser muito interessantes. Quanto mais extenso for o objeto, maiores as chances de um pedaço dele aparecer no telescópio principal. Mas muitas vezes centralizamos um objeto no campo de visão da buscadora e quando olhamos pela ocular ou tiramos uma foto com a câmera, nada do objeto aparece. Neste caso, é necessário fazer uma varredura na área, movimentando o telescópio suavemente para os lados ou para cima e para baixo até identificarmos algo no campo de visão do telescópio que Rodrigo Andolfato 217 também apareça no campo de visão da buscadora. Para esse trabalho, quanto menor for o aumento do telescópio, mais fácil será encontrar um alvo de referência. Por isso, prefira começar com sua ocular de menor aumento, pois a chance de encontrar o objeto é muito maior. Conectando a câmera ao Telescópio Colocar a câmera no telescópio é uma tarefa simples, mas que exige uma certa atenção. A câmera tem que estar bem presa ao porta ocular, para evitar que saia do foco durante a captura ou, ainda pior, que caia do telescópio. Algo que me desagrada um pouco é que os porta oculares dos telescópios geralmente prendem os adaptadores das câmeras por meio de um ou dois parafusos de pressão. Para não deixar marcas nos adaptadores, muitos modelos têm anéis que ficam por baixo destes parafusos e distribuem melhor a força. O problema é que, mesmo parecendo bem firme, esta pressão pode ficar mais fraca durante a noite e fazer sua câmera deslizar pelo porta ocular. A umidade e a variação de temperatura são os principais ingredientes para isso acontecer. E quanto maior for a soma do peso de sua câmera e acessórios, maiores as chances de ela escorregar quando, no meio da madrugada, seu refrator ou cassegrain estiver apontado para cima e o porta ocular virado para baixo. E existem câmeras realmente pesadas. Entre as DSLRs, as que mais chamam a atenção pelo peso são as fullframes, mas algumas câmeras dedicadas a Astrofotografia de céu profundo, acompanhadas de rodas de filtros motorizadas de duas polegadas em seu corpo, podem pesar vários quilos. E as câmeras mais pesadas geralmente também são as mais caras. Confiar elas a um pequeno parafuso de pressão, pode ser um grande risco. Tente prender a câmera ao porta ocular de uma forma que você não dependa somente do parafuso de pressão. Alguns telescópios, principalmente voltados para Astrofotografia, permitem que você rosqueie o adaptador de sua câmera ao porta ocular. Esta é uma solução muito mais segura. Se o equipamento que você adquiriu não permite isto, o conjunto Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 218 câmera/roda de filtros de seu setup é pesado e você vai fotografar com um refrator ou cassegrain durante uma noite em área úmida, aconselho muita atenção à conexão de sua câmera com o porta ocular. Se puder, tente reforçar a conexão com o que tiver em mãos. Eu já usei fitas do tipo silver tape ou isolante para prender melhor a câmera ao porta ocular. Quando fotografo com DSLR no refrator, deixo a alça da DSLR presa ao suporte da buscadora. Em caso de queda serve como cinto de segurança. Praticamente todas as câmeras feitas para Astrofotografia possuem adaptadores para conectar ao porta ocular do telescópio. Se estiver usando DSLR você precisa adquirir o anel T ou M42 específico para sua câmera, bem como o adaptador para o porta ocular (volte à Ilustração 41). Se o porta ocular de seu telescópio possui rosca T ou M42, conecte a câmera diretamente a ele, sem o adaptador. Se estiver usando roda de filtros, conecte a câmera a ela de forma que o sensor da câmera fique o mais próximo possível dos filtros, principalmente se estiver usando refratores de distâncias focais curtas e cuja óptica não seja perfeita. Muitas rodas de filtros têm um porta ocular para conectar a câmera, mas também possuem roscas T ou M42. Prefira sempre conexões por rosqueamento. Coloque os filtros antes de instalar a roda de filtros no setup e anote ou memorize em que sessão cada filtro está. Em câmeras conectadas a rodas de filtros automáticas, você podeinformar ao software de captura em que posição está cada filtro. Ajuste do foco Após você conectar sua câmera no telescópio ou lente, o sensor dificilmente estará no ponto focal, ou seja, no ponto onde a imagem é melhor definida. A câmera provavelmente estará um pouco antes ou depois da posição correta. Você precisa então colocar a câmera exatamente na distância certa em que ela obtenha a melhor imagem possível, fazendo o ajuste de foco. Rodrigo Andolfato 219 Um dos erros mais comuns que astrofotógrafos cometem, principalmente os de céu profundo, é não focalizar com a precisão necessária. Devido à ansiedade, descuido, ou mesmo cansaço, é muito comum um astrofotógrafo, mesmo experiente, não dar a esta etapa o tempo nem o esforço necessário, o que quase sempre gera um grande arrependimento na hora de processar aquela imagem que você passou a noite inteira capturando. Na maioria das vezes, não há tratamento que conserte um foco errado, dando um gosto amargo de que todo o trabalho e o tempo gasto foi desperdiçado. Em Astrofotografia planetária o foco é mais fácil, pois você vê o planeta ao vivo na tela do computador. Mas em Astrofotografia de céu profundo, você tem que focar sem ver o que quer fotografar, o que pode deixar as coisas mais difíceis. Nesse tipo de Astrofotografia o foco é feito tendo como referência as estrelas. São elas que vão dizer se o seu ajuste está bom ou ruim. O objetivo é deixá-las do menor tamanho possível e sem a presença de halos em volta. Antes de fazer o ajuste fino do foco, você terá que fazer o chamado ajuste primário. Esse procedimento é tão necessário que a maioria dos telescópios usados para Astrofotografia Ajuste fino do foco Ajuste rápido do foco Ilustração 64: À esquerda, focalizador de duas velocidades do meu telescópio refletor. À direita, o mesmo focalizador com a câmera e roda de filtros já instalados. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 220 possui dois ajustes em seus focalizadores. Um mais rápido justamente para este ajuste primário e um mais lento, para o ajuste fino (Ilustração 64). Telescópios mais baratos podem não ter o ajuste fino, tornando a tarefa de se conseguir um foco preciso um pouco mais difícil, principalmente em telescópios de menor razão focal. O ajuste primário pode ser mais fácil com o telescópio apontado para um ponto da paisagem. Se o ponto de referência usado para alinhar a buscadora estiver realmente distante (acima de pelo menos 200 metros) ele já será adequado para o ajuste primário do foco. Feito o ajuste primário, aponte o telescópio para o céu e faça o ajuste fino, até que as estrelas fiquem no menor tamanho possível. Algo que ajuda muito no ajuste final do foco é o recurso de liveview, onde você pode ver ao vivo na tela da câmera ou do computador o que o telescópio está apontando. Com o liveview ligado, aponte para uma estrela das mais brilhantes do céu e vá ajustando o foco até que a estrela fique no menor tamanho possível. Você percebe que chegou no ponto certo quando a estrela para de diminuir e começa a perder definição, volte com cuidado até o ponto com a melhor imagem, sempre usando o ajuste fino de seu focalizador. Se a sua câmera não possuir liveview, a tarefa de focagem será um pouco mais lenta. Você terá que tirar uma foto de cada vez, analisando a evolução do foco entre as imagens. Normalmente, toda câmera fotográfica digital que possuí recurso de vídeo, como as DSLRs mais modernas e câmeras planetárias, possuem o liveview, mas as CCDs dedicadas a fotografia de céu profundo raramente possuem este recurso. Softwares de captura mais avançados, como o Backyard EOS ou o MaxIm DL fazem a análise do foco, indicando pelo tamanho das estrelas o quanto o foco está refinado, mas não impedem que o ajuste tenha que ser feito foto a foto. Rodrigo Andolfato 221 Máscaras para foco Existem máscaras que você pode colocar na frente da objetiva, que lhe ajudam a encontrar o foco mais preciso. Essas máscaras são basicamente tampas com orifícios, que causam mudanças no comportamento da luz e orientam o astrofotógrafo a atingirem um foco mais preciso. Uma das máscaras para foco mais simples que existem é a Máscara de Hartmann. Ela consiste numa tampa para o tubo óptico com três grandes furos distribuídos de forma uniforme em sua área. Esses furos podem ser circulares, triangulares ou mesmo quadrados, o importante é que tenham a mesma forma. Quando se aponta um telescópio com uma Máscara de Hartmann para uma estrela brilhante, se a câmera estiver fora de foco, onde houver uma estrela, aparecerão três estrelas. Quanto mais se ajusta o foco, mais próxima estas três estrelas ficam uma da outra, até que, quando se obtém o melhor foco, elas se juntam. Dica: quanto mais preciso estiver o foco, procure examinar estrelas cada vez menores, até que nenhuma estrela no campo de sua imagem esteja triplicada. Ilustração 65: Máscara de Bahtinov Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 222 A Máscara de Bahtinov (Ilustração 65) é um pouco mais complexa de fazer, mas também é mais precisa. Ela consiste em várias perfurações longas paralelas dispostas em formato triangular, o resultado é que, ao se apontar o telescópio com uma máscara de Bahtinov para uma estrela brilhante, quando o foco estiver próximo do ideal, aparecerão três linhas, ou spikes, cruzando a estrela. Estas linhas devem se cruzar perfeitamente para que o foco esteja perfeito, caso contrário, o foco ainda estará impreciso. Veja a Ilustração 66 A câmera não deu foco!! Quando você estiver ajustando o foco de uma câmera em um telescópio pela primeira vez, pode ser que seus equipamentos não se entendam. Existem duas formas de uma câmera não atingir o foco num telescópio: o foco ideal pode estar para fora ou para dentro do curso do focalizador. Se a definição da imagem vai melhorando enquanto você vai afastando a câmera, até que chega no fim do curso do focalizador, o foco está para fora. É de longe a menos grave das situações, sendo facilmente resolvida aumentando a extensão do focalizador com o uso de extensores (Ilustração 46) Agora, se a imagem for melhorando quando você aproxima a câmera, até que o focalizador para, então você tem um problema bem mais sério, pois o foco está para dentro, abaixo do curso do focalizador. Neste caso, você vai ter que dar um jeito de diminuir a distância entre a objetiva e o focalizador, isso normalmente é feito com medidas mais agressivas, cortando-se o tubo óptico de um refrator ou avançando o Ilustração 66: Linhas que cruzam uma estrela vista através de uma máscara de Bahtinov. Rodrigo Andolfato 223 espelho primário de um refletor, entre outras formas, que exigem um trabalho manual mais complexo do astrofotógrafo. Dependendo de sua condição é até mais recomendado que você procure um serralheiro ou outro profissional mais apto ao trabalho. Se mesmo depois de ver que o foco ficou para dentro do telescópio, você não quiser desistir da noite astrofotográfica, ainda existe a possibilidade de você conseguir que o ponto focal se afaste um pouco da objetiva com o uso de adaptadores ópticos. Barlows tendem a afastar o ponto focal um pouco. O problema é que, se esses acessórios são quase obrigatórios para fotografia planetária, são um problema para fotografia de céu profundo. Pois uma Barlow 2x, por exemplo, torna a captura de luz quatro vezes mais lenta, além de exigir muito mais do enquadramento e do acompanhamento da montagem, correndo o risco de tornar o que seria uma noite agradável num tormento. Já redutores focais, no geral tendem a aproximar ainda mais o ponto focal da objetiva, algo que você não quer. Alinhando o setup com o Polo Alinhar a sua montagem com perfeição em relação ao eixo polar da Terra é fundamental para se conseguir longos tempos de exposição por frame em imagens de céu profundo.Se o objetivo for Astrofotografia planetária, não há necessidade de um alinhamento perfeito, já que as capturas planetárias são curtas, com frames de centésimos de segundo, e mesmo que o planeta comece a sair do campo de visão durante a gravação dos frames, você pode, inclusive, movimentar o telescópio sem prejudicar o resultado final. Mas com céu profundo, onde os frames precisam ser de alguns minutos, não há nenhuma liberdade para erros ou correções enquanto a câmera está capturando. É permitido um leve deslocamento entre um frame e outro, mas para que as estrelas permaneçam redondas e pontuais, este deslocamento deve ser mínimo. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 224 O uso de um setup de autoguiagem pode fazer parecer que um bom alinhamento não é assim tão necessário, mas mesmo com autoguiagem, se o objetivo são frames longos, com três minutos ou mais de duração, as estrelas apresentarão rastros num setup mal alinhado. A autoguiagem até trabalha com o eixo de declinação, mas ela é feita principalmente para corrigir o erro periódico do eixo de ascensão reta. Se a montagem estiver muito fora da posição certa, a autoguiagem pode até melhorar um pouco o resultado final, mas não vai salvar suas estrelas de aparecerem com rastros. Alinhando sua montagem equatorial Estrela Polar Existem várias formas de se alinhar uma montagem equatorial com o polo celeste. Se você estiver no hemisfério norte, a forma mais simples é apontar o eixo de ascensão reta para a estrela mais brilhante da constelação de Ursa Menor. Esta estrela é conhecida como Polar, ou estrela Alpha da constelação de Ursa Menor (UMI). De uma EQ3 para cima, quase todas as montagens equatoriais possuem uma pequena luneta interna (em algumas é um acessório opcional), alinhada com o eixo de ascensão reta da montagem, chamada buscadora polar (Ilustração 67). Para alinhar sua montagem equatorial, o polo celeste deve estar exatamente no centro da buscadora polar, geralmente marcado por um retículo. Algumas montagens não possuem buscadora polar, mas permitem inserir um laser verde no eixo de ascensão reta. A Estrela Polar de Ursa Menor não está exatamente no Polo Celeste Norte, mas está perto o suficiente para permitir alinhar a montagem com relativa precisão. Muitas buscadoras polares possuem desenhos internos das estrelas mais próximas ao polo que servem como referência para alinhar a montagem. Na Ilustração 67, vemos o desenho que aparece na buscadora polar da montagem HEQ5. Ela destaca principalmente estrelas do hemisfério Norte, em especial as constelações de Cassiopéia e Ursa maior (Big Dipper). Do Hemisfério Sul, aparece somente a formação da “Panelinha” onde está a estrela T Octans, usada Rodrigo Andolfato 225 para identificarmos o Polo Celeste Sul. Esta formação é muito pálida, sendo vista somente com binóculos, tornando alinhar uma montagem equatorial no Hemisfério Sul muito mais desafiador do que seria no Hemisfério Norte. Na Ilustração 67, note que algumas estrelas desenhadas na buscadora polar estão marcadas com pontos vazios, enquanto outras estão marcadas com pontos cheios (pretos). As estrelas marcadas como pontos vazios são a polar e as estrelas da panelinha. Estas estrelas estão na escala real em relação aos polos Sul e Norte e se você encaixar as estrelas nesses pontos de sua buscadora conforme o desenho, conseguirá alinhar sua montagem. A montagem permite girar o telescópio polar para corrigirmos a posição de acordo com o horário. Já as constelações de Cassiopeia e Ursa Maior, são na verdade muito maiores em relação à panelinha do que neste desenho. Estas duas constelações provavelmente não aparecerão em sua luneta polar. Elas estão ali para que você possa acertar a posição da Estrela Polar do Hemisfério Norte de acordo com a posição que estas constelações estiverem no céu. No Hemisfério Sul, basta encaixar a panelinha, ou trapézio, com a estrela T Octans no local certo, para se ter o alinhamento. Em locais com baixíssima Ilustração 67: buscadora polar da montagem HEQ5 e imagem que ele apresenta, mostrando as estrelas de referência. Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 226 poluição luminosa é possível ver estas estrelas em boas buscadoras polares. Falsa Estrela Polar (Hemisfério Sul) Achar o Polo Celeste Sul não é das tarefas mais fáceis. É recomendável um binóculo e a ajuda de um software planetário, como o Stellarium, para encontrar a estrela T Octans e a formação da “panelinha”. Em encontros de Astronomia, geralmente um dos astrofotógrafos se dispõe a produzir uma falsa estrela polar para ajudar os outros participantes, apontando um laser verde para o Ilustração 68: Laser verde, indicando aos astrofotógrafos onde está localizado o polo celeste Sul. Rodrigo Andolfato 227 local onde está o Polo Sul (Ilustração 68). Isto deve ser feito com o laser sobre um tripé, para manter-se fixo apontando para o polo. Lembre-se: quanto mais distante você estiver do laser utilizado para a falsa estrela polar, mas difícil será a visualização da luz emitida pelo aparelho. Se seu setup ficar muito distante do laser, você pode ter problemas para alinhar sua montagem através deste recurso e será necessário providenciar sua própria falsa estrela polar, mais próximo de seu equipamento. Pode parecer besteira, mas o responsável pela falsa estrela polar deve ficar sempre atento à bateria do laser utilizado, que pode acabar bem rápido no frio. O aparelho somente deve ser ligado por poucos minutos, sempre que alguém solicitar. O astrofotógrafo que pediu para o laser ser ligado deve se lembrar de avisar quando terminar de alinhar sua montagem e não precisar mais da luz emitida. Não é raro, em encontros de astrofotógrafos, o laser ser esquecido aceso por muito tempo sem ninguém utilizando a falsa estrela polar. Quando finalmente alguém precisa, a bateria já era. Ajustando o alinhamento da montagem Para ajustar a sua montagem com o polo, você vai usar o parafuso de ajuste de latitude (Ilustração 59), localizado na parte de trás da cabeça de sua montagem e também os parafusos de ajuste fino de azimute (Ilustração 58). O parafuso de ajuste de latitude é muito simples de usar; girando no sentido horário o eixo de ascensão reta sobe; no sentido anti-horário o eixo desce. Esse parafuso costuma ter uma pequena alavanca, que permite fazer a movimentação sem o uso de ferramentas. A movimentação do eixo de azimute depende dos dois parafusos de ajuste fino de azimute. Seu uso é um pouco mais complicado. Para movimentar a montagem para o lado que deseja, você deve soltar o parafuso posicionado na direção que você quer seguir e apertar o parafuso que está na direção contrária. Antes de fazer isso desaperte um pouco o parafuso Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 228 que prende a cabeça da montagem (Ilustração 57), caso contrário, a cabeça da montagem não irá se movimentar. Movimente os dois eixos até o polo celeste estar no centro do campo de visão de seu telescópio polar. Caso o eixo de azimute esteja demasiado longe do polo, talvez valha mais a pena movimentar os pés do tripé, deixando o movimento dos parafusos de ajuste fino do azimute somente quando o eixo estiver bem próximo do correto alinhamento. Afinal, como o próprio nome diz, eles estão ali somente para o ajuste fino. Se a diferença para o polo estiver muito elevada, o ajuste com esses parafusos pode ser cansativo para o astrofotógrafo, principalmente se o setup sobre a montagem estiver muito pesado. Alinhar o telescópio antes ou depois de colocar o telescópio sobre a montagem? Como os parafusos de ajuste fino de azimute podem ficar bastante duros se houver muito peso sobre a montagem, alguns astrofotógrafos podem preferir fazer o alinhamento da montagem ainda sem o telescópio. É claro que, sem o peso do telescópio e acessórios,você tem a vantagem de poder girar os parafusos de ajuste fino de azimute de forma muito mais suave. Mas esta estratégia tem um problema: como você precisará esperar escurecer para alinhar a montagem, corre o risco de ter que montar o resto do setup no escuro. Se você estiver num encontro de astrofotógrafos, o uso de luz será ainda mais restritivo e montar todo o equipamento nestas condições não vai ser nada fácil. A imensa maioria dos astrofotógrafos prefere montar seus telescópios antes do sol se pôr, para aproveitar o fim da luz do dia. Alinhar a montagem antes de colocar o telescópio e os acessórios só é recomendado se, após o alinhamento, você puder iluminar o local de captura. Além disso, montar o setup depois de alinhar a montagem traz enorme risco de que o alinhamento seja alterado pelo peso e movimento dos componentes. Rodrigo Andolfato 229 Alinhando sem polo Muitas vezes, simplesmente não é possível enxergar o polo celeste de onde se está astrofotografando. Isso acontece quando há uma barreira física entre o telescópio e o polo, como uma montanha ou construções. Quanto mais próximo o astrofotógrafo estiver da linha do equador, maior será a possibilidade de que isto aconteça. Quanto menor for a latitude, mais baixo o polo celeste estará no céu, aumentando as chances de barreiras simples, como morros, árvores ou até mesmo sua própria residência bloquearem a vista. Quando não se consegue ver o polo celeste, o alinhamento polar é mais complicado e exige algumas técnicas para ser aperfeiçoado. Você vai precisar de uso de instrumentos. Dois deles serão fundamentais para isso: uma bússola e um inclinômetro. Esses equipamentos possuem versões manuais (ou analógicas) e digitais. As versões manuais têm duas vantagens: custam muito menos e não necessitam de baterias, eliminando o risco de você ficar na mão numa hora importante. Já as versões digitais podem custar várias vezes mais e você pode ser surpreendido por uma bateria descarregada na hora errada, sem possibilidade de reposição. Entretanto, equipamentos digitais são muito mais precisos do que suas versões analógicas. Os modernos celulares podem trazer Ilustração 69: Inclinômetro digital Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 230 recursos de inclinômetro e bússola digital. Para que o aplicativo da bússola do celular funcione, o aparelho precisa ter uma bússola interna instalada. Este recurso é geralmente encontrado em modelos mais avançados. O inclinômetro serve principalmente para o ajuste da latitude. Seu uso é muito simples, basta colocar sobre uma superfície na direção que você quer saber a inclinação que ele mostrará o valor. É claro que esta superfície tem que ser reta e regular, com alguns poucos centímetros de comprimento para uma medição mais precisa. E também deve estar perfeitamente alinhada com o eixo de ascensão reta. Um bom lugar para se medir a inclinação de sua montagem é sobre o berço do telescópio (Ilustração 60), que geralmente está nivelado com o eixo de ascensão reta. Muitas montagens possuem um indicador de latitude, o que poderia dispensar o inclinômetro. Essas indicações podem ser precisas ou não. Mas um bom inclinômetro à mão, de preferência digital, ajuda no alinhamento de qualquer montagem. Com ele você já ajusta a latitude de forma precisa e o ajuste da longitude torna-se muito mais simples. Lembre-se de que você precisa saber a latitude do local aonde se encontra. A maioria dos celulares modernos possui um GPS que vai lhe dar essa informação. Mas para não ser pego de surpresa por um smartphone sem bateria quando se deslocar para áreas isoladas, procure sempre anotar num papel a latitude e também a longitude de onde está indo. Em algum momento pode ser muito útil. A bússola vai ajudar no ajuste do azimute, mas é importante saber que o polo indicado por sua bússola não é o polo da rotação da Terra, e sim o polo magnético, que não é coincidente com o de rotação. Essa diferença entre o polo geográfico e o polo magnético chama-se desvio ou declinação magnética e ela varia de local para local, sendo de pouca utilidade colocar aqui uma tabela com esses dados, até por que eles também variam com o passar do tempo. O melhor a fazer é procurar um software ou site que faça esse cálculo para você, como o http://magnetic-declination.com/, que lhe dirá a Rodrigo Andolfato 231 declinação magnética de qualquer lugar do mundo. Para Brasília, onde eu vivo, este site indica que, no momento em que escrevo este texto, a declinação magnética é de vinte e um graus e dezesseis minutos a oeste. O que quer dizer que, em Brasília, minha montagem deve estar apontada para um ponto a mais de 20 graus de onde a bússola indica. Não é pouca coisa. Uma vantagem enorme das bússolas digitais é que elas são programadas para corrigir automaticamente a declinação magnética, de acordo com a sua localização, mostrando exatamente onde está o polo. Alinhando polo com a câmera ao telescópio Uma possibilidade para alinhar sua montagem com o eixo de ascensão reta sem visualizar o polo é utilizar a sua câmera instalada no telescópio. Esse, na verdade, é o recurso que sempre gostei mais de usar quando não tenho acesso ao polo. Com o acompanhamento da montagem ligado, posicione o eixo de declinação virado noventa graus em relação ao eixo de ascensão reta e aponte para uma região no céu. Tire uma foto de alguns segundos de exposição e veja se as estrelas apresentaram rastros. Caso apareçam redondas, bom sinal, então aumente o tempo de exposição até que as estrelas apresentem rastros. Quando as estrelas apresentam rastros na imagem, movimente um pouco o eixo de azimute numa direção. Se o rastro diminui, movimente mais um pouco o eixo na mesma direção e tire outra imagem, para ver como se comportou. Se o rastro aumenta, movimente o eixo na direção contrária e vá seguindo nesta direção da mesma forma. Faça isso até notar que o rastro voltou a aumentar. Quando isso acontecer, volte para a posição em que o rastro estava menor e comece a ajustar o eixo de latitude, até atingir os menores rastros possíveis ou que as estrelas fiquem redondas. Dica: como montagens possuem erros periódicos, sempre que fizer ajustes no eixo das montagens, faça pelo menos duas fotos, se a movimentação das estrelas variar entre elas, faça uma terceira imagem. Vale lembrar que se você já tiver ajustado o eixo de latitude com um inclinômetro, basta fazer o ajuste do eixo de Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 232 azimute, o trabalho então vai ser muito parecido com o de focalizar, com você movimentando a montagem para os lados até que as estrelas atinjam o menor tamanho possível. Mesmo perfeitamente alinhadas com o polo, as montagens mais populares, como a EQ5 e a EQ6 têm um limite no tempo que conseguem acompanhar sem cometer erros, geralmente entre dois a três minutos com telescópios de até um metro de distância focal. Conseguir estrelas redondas com tempos de exposição de um minuto por frame já é um bom resultado nestas montagens. Para tempos de exposição maior, a autoguiagem é necessária. Escolhendo o objeto a ser fotografado Com o setup perfeitamente alinhado (ou com o melhor alinhamento possível), você pode apontar o telescópio para o objeto alvo. A escolha do objeto que será fotografado envolve algumas variáveis. Entre elas, saber qual é o campo que você vai conseguir capturar com o seu setup. Por exemplo, se você estiver com um pequeno refrator de até 700mm de distância focal com uma câmera DSLR, seu setup captura um campo com o comprimento de cerca de dois graus. Algo como o diâmetro aparente de 3 a 4 luas. Este setup é bom para as galáxias mais próximas, como Andrômeda (M31), Triângulo (M33) e as Nuvens de Magalhães e é aceitável para outras não tão distantes, como Escultor (NGC 253), do Sombreiro (M104), NGC55, NGC 300 e mais algumas. Paramuitas outras galáxias, o pouco aumento mostrará poucos detalhes do objeto, mas este setup ainda pode ser bem interessante se você quiser fotografar aglomerados galácticos, como o de Virgem ou Fornax. Este setup também pode produzir boas imagens dos aglomerados globulares mais destacados e das nebulosas planetárias mais próximas, mas o forte de um pequeno refrator com DSLR são mesmo as grandes nebulosas e os campos estelares. No geral, setups com menos aumento rendem mais quando apontados para regiões mais ricas do céu, onde os braços da Via Láctea estão presentes. Rodrigo Andolfato 233 Já um setup com maior aumento, como um grande refletor newtoniano ou cassegrain, vai poder capturar um sem número de objetos em detalhes. Com um maior aumento, você pode explorar áreas mais isoladas do céu, em busca de galáxias mais distantes, aglomerados globulares menores ou nebulosas planetárias. Nada o impede de apontar este setup para objetos maiores, como nebulosas e campos estelares, mas nesse caso será comum você ter que escolher uma região do objeto a ser fotografado. A escolha do objeto alvo exige que você conheça o céu, saiba quais são as galáxias mais interessantes, as nebulosas mais brilhantes, os campos mais ricos. Não há como ser astrofotógrafo sem conhecer o firmamento. Na verdade, mesmo que você seja excelente fotógrafo, tenha um ótimo equipamento e seja um perito em tratamento de imagens, se você não tem um amor genuíno pelo céu, sua “carreira” na Astrofotografia vai durar muito pouco. Você vai fazer umas fotos legais dos objetos mais famosos, causar uma certa repercussão entre os amigos, e ser reconhecido entre os astrofotógrafos e astrônomos amadores, mais logo vai se desinteressar e colocar seu equipamento à venda. Como ávido acompanhante da Astrofotografia brasileira, eu já vi isso acontecer mais de uma vez. Somente os astrofotógrafos que amam Astronomia, que querem realmente explorar o céu através da Astrofotografia, ficam anos nesta atividade. Para quem está começando, o ideal é sempre ir nos objetos mais brilhantes. Você precisará de menos tempo de exposição para registrar estes objetos, não há necessidade do setup estar tão bem alinhado e você os encontrará mais facilmente, pois num céu escuro, muitos são visíveis a olho nu. Na tabela 5, deixo uma lista com os objetos recomendados para se iniciar em Astrofotografia de céu profundo, de acordo com a estação em que estão visíveis por mais tempo durante a noite. Note que alguns períodos parecem mais ricos em objetos brilhantes do que outros. Mas não se preocupe, os objetos que estão na mesma linha da estação, podem ser fotografados Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 234 durante toda a noite durante a estação relacionada a eles na tabela, mas os objetos da estação anterior, podem ser fotografados no início da noite enquanto os que estão na estação seguinte podem ser fotografados mais para o fim da noite. Somente os que estão na estação oposta ficam invisíveis durante quase toda a noite e devem ser desconsiderados durante sua sessão astrofotográfica. A lista da Tabela 5 representa uma porcentagem muito pequena da totalidade de objetos interessantes visíveis em cada época, mas são os melhores objetos para começar. Aqueles marcados em negrito são minha sugestão pessoal para começar em cada estação. Algo que você deve levar muito em conta na hora de escolher seu alvo para fotografar é o tempo de pretende dedicar à captura. Se você decide começar a fotografar um objeto que já está muito a leste, não terá muito tempo para capturá-lo e ainda deve descontar o tempo que você vai demorar para apontar para ele, encontrar o melhor enquadramento, calibrar a autoguiagem Estação (Hemisfério Sul) Objetos de céu profundo mais visíveis Inverno Nebulosa da Lagoa (M8), da Águia (M16), do Cisne (M17) e Trífida (M20). América do Norte (NGC7000), do Véu (NGC 6960 e 6992) Aglomerados aberto da Borboleta (M6) e Ptolomeu (M7) Aglomerado Globular M22 Nebulosa Planetária do Anel (M57) e do Haltere (M27) Primavera Nebulosa da Tarântula (NGC 2070) e da Califórnia (NGC 1499) Nebulosa Planetária da Hélice (NGC 7293) Aglomerado Globular 47 Tucanae (NGC 104) Aglomerado Aberto Plêiades (M45) Galáxia de Andrômeda (M31), do Triângulo (M33), do Escultor (NGC 253), NGC 55 e NGC 300 Verão Nebulosa de Orion (M42), da Roseta (NGC 2244), do Caranguejo (M1) e Cabeça do Cavalo (Barnard 33). Outono Nebulosa Carina (NGC 3373) e da Galinha Fugitiva (IC2944) Aglomerado Globular Ômega Centauri (NGC 5128) e Grande Aglomerado de Hércules (M13). Galáxia Centaurus A (NGC 5128), NGC 4549, do Sombreiro (M104), do Redemoinho (M51), do Cata Vento do Sul (M83) e do Cata Vento do Norte (M101). Aglomerado aberto Caixa de Joias (NGC 4755), Plêiades do Sul (IC 2602) e Presépio (M44). Tabela 5: Objetos de céu profundo mais populares e época ideal de captura. Rodrigo Andolfato 235 e fazer alguns frames de teste. Pode até acontecer de, quando finalmente estiver tudo pronto para a captura dos light frames, o objeto já esteja baixo demais, próximo do horizonte. Há dois momentos ideais para apontar o seu setup para um objeto: primeiro, quando ele está nascendo; segundo, quando acaba de passar pelo ponto mais alto possível no céu, a linha azimutal que separa o leste do oeste, chamada de Meridiano Local. Partindo do princípio que você está com o horizonte completamente livre, o momento em que um objeto acaba de nascer ainda não é o ideal para começar a capturar os light frames devido à enorme extensão de atmosfera que existe entre você e o objeto neste momento. Mas se a qualidade da imagem é insuficiente para os primeiros light frames, é o bastante para você encontrar o objeto, enquadrá-lo da forma apropriada e fazer alguns frames de teste, para ver qual o melhor tempo de exposição e ajuste de sensibilidade para sua imagem. Quando você terminar este trabalho, o objeto já terá subido alguns graus no céu. Num céu bem escuro, pouco mais de dez graus de altitude já são o suficiente. A partir daí a imagem vai ficar cada vez melhor e tendo começado cedo, você pode fazer uma grande quantidade de frames. Levará cerca de cinco horas até que sua montagem equatorial cruze o Meridiano Local. A partir deste momento, o telescópio passa a ficar abaixo da barra de contrapesos e é necessária muita atenção para o risco do telescópio bater nos pés do tripé. Você ainda pode continuar fotografando o mesmo objeto depois que ele cruza o Meridiano Local, basta inverter o telescópio na montagem. Mas lembre-se que isso exigirá algum trabalho, obrigando a refazer um enquadramento com bastante precisão, girar a câmera 180 graus, o que pode fazer o sensor sair do ponto focal, além de você ter que fazer novos frames de calibração, que podem não conversar bem com os anteriores. Eu geralmente prefiro continuar no objeto na noite seguinte e prosseguir a noite atual em outro alvo. O momento em que o objeto está cruzando o ponto mais alto no céu também é interessante para começar uma captura. A Astrofotografia Prática – O Guia da Fotografia do Universo 236 partir deste momento o setup vai apontar cada vez mais para baixo sem que você precise inverter a câmera. É claro que se o seu objetivo não for muito tempo de exposição por objeto, você pode começar quando os objetos estivem no meio do caminho para o ponto mais alto do céu ou dali para o horizonte. Mas lembre-se: problemas podem ocorrer. Muitas vezes achei que em meia hora estaria fotografando, mas me atrapalhei com o equipamento e quando finalmente pude fotografar, já era tarde. Por isso, sempre prefira aqueles objetos que te garantirão mais tempo de exposição, mesmo que pareça desnecessário. Deve-se ficar atento no início e no fim da noite à Luz Zodiacal (Ilustração 70). Este fenômeno não é perceptível de áreas urbanas e quem não está acostumado a observar