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DOENÇAS DESMIELINIZANTES DO SNC - são caracterizadas por perda de mielina com perda variável de axônios. - As doenças desmielinizantes devem ser diferenciadas das leucodistrofias, que são distúrbios metabólicos hereditários dos lipídios e proteínas da mielina. - A principal doença desmielinizante do SNC é a esclerose múltipla (EM) e suas variantes. - Sua contraparte no sistema nervoso periférico é a polirradiculoneuropatia desmielinizante inflamatória (síndrome de Guillain-Barré-GBS) e suas variantes crônicas. Doenças degenerativas e desmielinizantes do SNC e periférico ● Esclerose múltiplas: Doença desmielinizante mais frequente ↳ Sem causa específica, mas acredita-se que possa ser autoimune ↳ Mais comum no sexo feminino ↳ Sintomas, em geral, a partir dos 30 anos de idade ↳ Perda de visão (diminuição da acuidade), paralisia, perda sensorial, ataxia, distúrbios psiquiátricos e demência ↳ Períodos de remissão e exacerbação ↳ Perda da mielina com graus variados de perda axonal ↳ Lesão fundamental: Placa de desmielinização ↳ Fase aguda: Destruição da mielina e em graus variados os oligodendrócitos por células mononucleares ativadas (apoptose/necrose)⇒ Linfocitos, microglia, macrófagos (placa ativa) → Restos de mielina são fagocitados pelos macrófagos e degradados ↳ Fase crônica: Desenvolvimento de gliose, perda axonal e atrofia → Gliose/Astrocitose fibrilar reacional: Aumento do corpo celular dos astrócitos, que apresentam também núcleo irregular e excêntrico e o citoplasma é abundante, homogêneo e eosinofílico, com prolongamentos grosseiros, denominados de astrócitos gemistocíticos ↳ A placa de desmielinização aparece preferencialmente na substância branca periventricular, nervo óptico e medula espinal → Possui limites nítidos, levemente escavada e mais firme do que a substância branca adjacente → A redução da acuidade visual é resultado da neurite óptica ⇒ Primeiro sinal → Lesões na medula espinhal levam a paralisia e perda sensitiva ⇒ Apresenta quadro semelhante a mielite transversa → A desmielinização inicia-se com tumefação, vacuolização, fragmentação e separação da mielina do axônio, grande afluxo de micróglia e macrógafos e apoptose de oligodendrócitos ↳ Padrão ouro para diagnóstico: RM do SNC → As placas ativas mostram impregnação pelo gadolínio → Sinal de Dawson fingers ⇒ Indicativo de EM ↳ Variantes clínicas e radiológicas da EM → EM tumefativa: caracterizada por uma lesão tumoral grande e aguda com edema cerebral e efeito de massa → EM do tipo Marburg: uma forma fulminante de EM semelhante à EM tumefativa → Esclerose concêntrica de Balo: outra forma grave de EM, com padrão incomum de anéis concêntricos de desmielinização e preservação parcial da mielina, que pode ser detectado por RM. → Doença de Schilder: é uma forma aguda implacavelmente progressiva de EM vista mais comumente em crianças e adultos jovens. Causa desmielinização confluente extensa em vez de múltiplas lesões focais. ↳ Doença de provável origem autoimune cujo gatilho pode ser uma infecção viral → Susceptibilidade genética e fatores ambientais também podem participar do desenvolvimento da doença ↳ O déficit neurológico é devido a perda da mielina e dos axônios → A desmielinização causa a perda da condução saltatório → Capacidade limitada dos oligodendrócitos remanescentes e/ou neoformados de regenerar a mielina → Diminuição do número de axônios ↳ Há 4 formas: → Remitente-recorrente (EM-RR) ⇒ Mais comum ↪ Surtos seguidos de recuperação completa ou quase completa, espontaneamente ou após o tratamento → Primariamente progressiva (EM-PP) ↪ Gradualmente progressiva, sem período de recuperação e sem surtos → Primariamente progressiva, com surtos (EM-PP com surto) ↪ Doença progressiva associada a surtos → Secundariamente progressiva (EM-SP) ↪ Progressão contínua de déficits, com ou sem surtos sobrepostos ↪ Evolução natural da forma EM-RR em 50% dos casos após 10 anos do diagnóstico ↳ Macroscopia: Áreas deprimidas, foscas e de consistência aumentada periventriculares ↳ Microscopia: → Placa ativa: Células granulogordurosas, infiltrado linfocitário perivascular (imagem) e apoptose e redução do número de oligodendrócitos ↪ A maioria dos axônios se mantém preservadas, embora haja alteração no fluxo axonal → Placa inativa: Infiltrado inflamatório escasso, gliose, perda axonal, redução do calibre de axônios e desaparecimento de oligodendrócitos. - placa sombra: Se o processo inflamatório é interrompido em uma fase inicial, as placas são parcialmente remielinizadas - placa fumegante: Algumas lesões se expandem em sua periferia enquanto a atividade em seu centro diminui ● Encefalopatia de Wernicke: ↳ É mais comum nos alcoolistas crônicos → Pode aparecer também nos desnutridos, nos pacientes com câncer gástrico, após cirurgia bariátrica, gastrectomizados, hiperemese gravídica e anorexia nervosa. ↳ Relacionada à deficiência de tiamina (B1) ⇒ Reduz a utilização da glicose e ATP ⇒ Produção excessiva de ácido lático ⇒ Acidose lática ↳ No alcoolismo crônico, a deficiência pode surgir em consequência de dieta inadequada, redução do transporte de tiamina pela mucosa duodenal, diminuição da capacidade hepática de armazenamento, redução do transporte ativo de tiamina pela BHE e menor conversão de tiamina para o composto ativo pirofosfato de tiamina ↳ Pirofosfato de tiamina é coenzima de enzimas-chave no metabolismo da glicose no ciclo de Krebs (piruvato desidrogenase e α-cetoglutarato) e no ciclo das pentoses (transcetolase) ↳ Possui 2 componentes: → Encefalopatia de Wernicke → Amnésia de Korsakoff ↳ Manifestação clínica: → Encefalopatia de Wernicke: Confusão mental e coma nos casos agudos ↪ Nistagmo ⇒ Movimento involuntário e repetitivo dos olhos ↪ Oftalmoplegia ⇒ Paralisia do nervo oculomotor ↪ Ataxia ⇒ Acometimento dos núcleos vestibulares e distúrbios mentais ↪ Geralmente subclínica, produzindo lesão anatomicamente permanente ⇒ Tiamina deve ser reposta → Amnésia de Korsakoff: Amnésia anterógrada e retrógrada → Neuropatia periférica axonal afetando extremidades distais em até 80% dos casos ↳ As lesões têm distribuição anatômica característica → Corpo mamilar → Hipotálamo → Tálamo → Substância cinzenta periaquedutal → Assoalho do quarto ventrículo ⇒ Por isso muitas vezes está dilatado ↳ Corpo mamilar é comumente lesado na encefalopatia de Wernicke → Petéquias na fase aguda → Atrofia completa, dilatação ventricular na fase crônica ↳ Microscopia: → Aguda: Espongiose, hemorragia perivascular, tumefação das células endoteliais, proliferação capilar e reação macrofágica e astrocitária → Crônica: Espongiose, redução das fibras mielínicas, reação macrofágica, astrocitose fibrilar e deposição de hemossiderina. DOENÇAS DEGENERATIVAS DO SNC - são caracterizadas clinicamente pela perda da função neurológica (demência, perda do controle do movimento, paralisia) e patologicamente pela perda de neurônios. - As doenças degenerativas são inexoravelmente progressivas. - A doença degenerativa mais comum é a doença de Alzheimer e a segunda mais frequente é a doença de Parkinson. ● Doença de Alzheimer: Causa mais comum de demência ⇒ Esporádica ou familiar ↳ Perda de memória, incapacidade por aprender novas habilidades, perda da linguagem, dificuldade de percepção do espaço, não consegue realizar cálculos, indiferença, depressão e entre outras manifestações ↳ Depósito extracelular β amilóide-Aβ e acúmulo intracelular de proteína tau ⇒ Desestabilização de microtúbulos e formação de filamentos anormais → Degeneração hialina ↳ β-amiloide: Origina-se da proteína precursora de amilóide (PPA) → Desequilíbrio entre produção e degradação do β-amiloide → PPA é uma proteína transmembrana produzida pelos neurônios e outras células nervosas ↪ É encontrada em outros tecidos, sendo especialmente abundantes nas plaquetas ↪ Sua função é desconhecida → Defeito no clareamento da β-amilóide ou clivagem excessiva da PPA,além de outros mecanismos (genéticos) resulta no acúmulo de amilóide → Forma inicialmente compostossolúveis para então haver a formação de compostos maiores insolúveis com a Aβ42, que se precipita como fibrila amilóide ↪ A enzima β-secretase cliva a PPA formando um fragmento solúvel ⇒ A enzima γ-secretase cliva novamente a mesma PPA, formando, dessa vez, um fragmento insolúvel que forma os agregados β-amiloides → β-amilóide é tóxica para os neurônios (mostra neurotoxicidade seletiva para o hipocampo e córtex entorrinal (áreas que são severamente afetadas na DA) enquanto poupa neurônios cerebelares) ↳ Macroscopia: → Atrofia cerebral: Perda de massa Estreitamento dos giros e alargamento dos sulcos ↪ Pode resultar em hidrocefalia ex-vacuum ⇒ O parênquima atrofia e o ventrículo cresce ↳ Microscopia: → Perda de neurônios neocorticais nos lobos frontal e temporal, na amígdala, no núcleo basal de Meynert, locus ceruleus e núcleo perifornical do hipotálamo ↪ Perdas no sulco temporal superior estão associadas com a gravidade da disfunção cognitiva ↪ Perdas no núcleo basal de Meynert reduzem a síntese de acetilcolina, contribuindo para disfunção cognitiva ↪ Perdas no locus ceruleus e núcleo perifornical do hipotálamo afetam a produção de noradrenalina e orexina, gerando alterações no ciclo do sono, no humor e no nível de atenção → Redução da ramificação dendrítica, de terminais pré-sinápticos, do número de sinapses e da imunorreatividade para sinaptofisina ↪ Relacionado a disfunção cognitiva → Acúmulo de proteínas anormais forma as placas amiloides e os emaranhados neurofibrilares ↪ As placas podem ser visualizadas pela impregnação por prata, coloração para amiloide (vermelho-Congo) ou imunohistoquímica para o peptídeo β-amiloide. ↪ Imunohistoquímica mostrando acúmulo de proteína tau ⇒ Coloração acastanhada ↪ OBS: Para corar amilóide usa-se vermelho-Congo ⇒ Luz convencional é alaranjado e na polarização é verde ● Doença de Parkinson: Segunda doença degenerativa mais comum e a doença degenerativa subcortical mais frequente. Começa geralmente na sexta década. A grande maioria dos casos de DP são esporádicos e provavelmente são causados pela interação de fatores ambientais e genéticos. ↳ Sinais motores: Rigidez, tremor em repouso, movimentos voluntários lentificados, alteração do equilíbrio, dificuldade para manter o tronco ereto ↳ Outros sinais/sintomas: Face inexpressiva, perda olfatória, distúrbios do humor, demência, constipação, arritmia e hipotensão ↳ Alteração patológica: Acúmulo de α-sinucleína → Função na célula desconhecida ⇒ Costuma estar localizado nos terminais pré-sinápticos em configuração monomérica desdobrada → Agregados grandes de α-sinucleína formam inclusões citoplasmáticas redondas, lameladas e eosinofílicas ⇒ Corpos de Lewy → Tóxico ⇒ Leva à disfunção de organelas e interfere no transporte de microtúbulos, levando a disfunção neuronal corpo de Lewy ↳ Afeta principalmente os neurônios produtores de dopamina da substância negra NEUROPATIAS PERIFÉRICAS ● Neuropatias periféricas: ↳ Principais causas: → Doenças sistêmicas: Diabetes, uremia, sarcoidose, hipotireodismo → Autoimunidade: Polineuromiopatia desmielinizante inflamatória ⇒ Síndrome de Guilláin Barre → Câncer: Neuropatia paraneoplásica → Infecção: Hanseníase, AIDS, herpes zóster → Deficiências nutricionais e alcoolismo → Compressão e trauma ↳ Neuropatia diabética: → É a causa mais comum de neuropatia periférica na prática médica → A mais comum é a polineuropatia sensitivo-motora distal simétrica - clássica neuropatia em “luva e bota” (perda sensitiva em luva e bota) → aumento da produção de radicais livres e dano axonal, que causa a diminuição da sensibilidade → Causa dor, parestesia, redução dos reflexos tendíneos e em menor grau fraqueza → Os achados patológicos nesta polineuropatia diabética são perda axonal, regeneração axonal e, em alguns pacientes, desmielinização → Axônios pequenos são afetados mais severamente. → Um achado proeminente é o espessamento da íntima de arteríolas endoneurais devido a produção aumentada de membrana basal, semelhante ao que ocorre nos capilares glomerulares e arteríolas cerebrais ↳ Síndrome de Guillain-Barré: → É uma polineuropatia aguda imuno-mediada - várias formas diferentes de apresentação → A forma mais comum é a de poliradiculoneuropatia desmielinizante inflamatória aguda → É rara mas representa uma emergência médica (se chega no tórax o paciente pode ter paralisia muscular, insuficiência respiratória e o paciente pode ir à óbito) → Cerca de 20% a 30% dos casos são precedidos por infecção por Campylobacter jejuni → Pode ser precedido também por infecção por citomegalovirus (CMV), HIV, Epstein-Barr e Zika vírus, covid, vacina e etc. → A parede da bactéria C. jejuni contém um antígeno semelhante a um gangliosídio - GM1 → Ac anti-gangliosídio, gerado durante a infecção, faz reação cruzada com GM1 presente na membrana do axônio nos nódulos de Ranvier e na mielina paranodal → A interação antígeno-ac inicia a reação inflamatória que danifica estas estruturas → AC anti-GM1 é encontrado no soro dos pacientes com GB → Características clínicas da forma mais comum: fraqueza muscular simétrica progressiva acompanhada de redução ou abolição dos reflexos tendíneos → A fraqueza varia de discreta dificuldade para deambular até completa paralisia das extremidades, paralisia da musculatura respiratória e facial → As duas principais anormalidades laboratoriais no GBS são a diminuição da velocidade de condução nervosa ou o bloqueio da condução e a elevação da proteína do LCR com relativamente poucas células (dissociação albuminocitológica). → LCR: dissociação albumino-citológica: albumina aumentada com contagem normal de leucócitos Infiltrado inflamatório linfocitário no músculo (miosite → lesão neuronal)
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