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CONCEITO a morte de um homem ocasionada por outro homem com um comportamento doloso ou culposo e sem o concurso de causas de justificação. No Código Penal, o homicídio simples, tipo básico, fundamental, é previsto no art. 121, caput, com a seguinte redação: “Matar alguém: Pena – reclusão, de seis a vinte anos”. Nem todo homicídio é crime hediondo É hediondo quando praticado em atividade típica de grupos de extermínio e/ou qualificado OBJETO JURÍDICO Tutela-se com o dispositivo o mais importante bem jurídico. A vida humana, cuja proteção é um imperativo jurídico de ordem constitucional (art. 5º, caput, da CF). Acrescenta-se que se protege também a vida humana extrauterina, considerada esta como a que passa a existir a partir do início do parto, na eliminação da vida intrauterina, há aborto. SUJEITO ATIVO ( AUTOR DO CRIME) O homicídio, como crime comum que é, pode ser praticado por qualquer pessoa. O ser humano, só ou associado a outros, empregando ou não armas, é o sujeito ativo do crime. São excluídos os que atentam contra própria vida, uma vez que nem a tentativa de suicídio é fato punível. Importante frisar que a mãe que mata o filho, durante o parto ou logo após, sob a influência do estado puerperal, pratica infanticídio (art. 123) e não homicídio. SUJEITO PASSIVO Figura como sujeito passivo do crime alguém, ou seja, qualquer ser humano, sem distinção de idade, sexo, raça, condição social etc. O início da existência da pessoa humana, a partir da qual pode ser vítima de homicídio, é estabelecido a partir da definição do infanticídio, que nada mais seria do que um homicídio privilegiado especial. Variável, porém, é o que se entende por início do parto: fala-se em rompimento do saco amniótico, em dores da dilatação, às quais normalmente se segue o rompimento do saco amniótico, dilatação do colo do útero e desprendimento de feto no álveo materno. A destruição do feto antes do início do parto não configura homicídio ou infanticídio, e sim aborto. Existirá homicídio ainda que se comprove não ter havido possibilidade de sobrevivência do neonato, bastando à prova de que ele nasceu vivo. Por outro lado, se a ação tendente a matar alguém atingir um cadáver, não há que se falar em homicídio consumado ou tentado, mas em crime impossível. TIPO OBJETIVO Meio e forma do ato, modo de execução A conduta típica é matar alguém, ou seja, eliminar a vida de uma pessoa humana. Tratando-se de crime de ação livre, pode o homicídio ser praticado através de qualquer meio, direto ou indireto, idôneo a extinguir a vida. ➔ meios diretos os utilizados pelo agente ao atingir a vítima de imediato (disparo de arma de fogo, golpe de arma branca, etc.). ➔ Meios indiretos os que operam através de outra causa provocado pelo ato inicial do agente, por exemplo, coagir alguém ao suicídio, para salvar a vida de sua família. ➢ Físicos: disparos de revólver, golpes de punhal etc. ➢ Químicos: uso de veneno ou de açúcar contra diabéticos etc. ➢ Patogênicos ou patológicos: transmissão de moléstia por meio de vírus ou bactérias etc. Homicídio Homicídio ➢ psíquicos ou morais, consistente na provocação de emoção violente a um cardíaco. O homicídio pode ser praticado por ação de Comissão: disparos, golpes com barra de ferro, etc. omissão: mãe que não alimenta o filho de tenra idade, médico que não ministra o antídoto ao envenenado etc. Nesses casos, é indispensável que exista o dever jurídico do agente em impedir o resultado morte. TIPO SUBJETIVO Relacionado ao autor do ato e tudo relacionado a ele O dolo do homicídio é a vontade consciente de eliminar a vida humana, ou seja, de matar (animus necandi ou occidendi = vontade de matar), não se exigindo nenhum fim especial. A finalidade ou motivo determinante do crime pode, eventualmente, constituir uma qualificadora (motivo fútil ou torpe etc.) ou uma causa de diminuição de pena (relevante valor moral ou social, etc). Admite-se perfeitamente homicídio com dolo eventual, reconhecido pela jurisprudência, como por exemplo no caso da roleta russa e dos rachas. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA O homicídio é um crime material e se consuma com a morte da vítima. Fala-se em morte clínica (paralisação da função cardíaca e respiratória), em morte cerebral (registrada pela linha reta no eletroencefalograma por ausência de impulsos elétricos cerebrais) e em morte biológica (deterioração celular). Pode-se afirmar que a morte é diagnosticada após a cessação do funcionamento cerebral, circulatório e respiratório. É admissível a tentativa quando iniciada a execução com o ataque ao bem jurídico vida, não se verifica a ocorrência morte por circunstâncias alheias à vontade do agente. A distinção entre a tentativa de homicídio e o delito de lesões corporais é dada apenas pelo elemento subjetivo, ou seja, pela existência ou não do animus necandi, embora este possa ser deduzido por circunstâncias objetivas (violência dos golpes, profundidade das lesões etc.). Ocorre a tentativa branca ou incruenta quando o agente dispara contra a vítima, mas não a atinge tratando-se de conatus, a gravidade ou não das lesões são irrelevantes para a caracterização do fato, não sendo pertinente às disposições referentes ao crime de lesão corporal (art. 129 e seus parágrafos do CP). HOMICÍDIO PRIVILEGIADO Está previsto no art. 121, § 1º , do CP e dá direito a uma redução de pena variável entre 1/6 a 1/3. Na jurisprudência, tem prevalecido a decisão que considera a redução obrigatória, mas há decisões em sentido contrário. Hipóteses: a) motivo de relevante valor moral; b) motivo de relevante valor social c) domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. Motivos de relevante valor moral Diz respeito a interesse particular (compaixão ante o irremediável sofrimento da vítima, nos casos de eutanásia). Para que se reconheça o motivo de relevante valor moral é preciso que a prova patenteie ter o agente agido por sentimento nobre, altruístico, de piedade ou compaixão. É necessário que o motivo seja realmente relevante, isto é, notável, importante, especialmente digno de apreço ❖ Também estão previstos como circunstâncias atenuantes (CP, art. 65, III, a) Motivos de relevante valor social Se refere à causa que tem por fundamento interesse coletivo (indignação contra um traidor da pátria). Domínio de violente emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima - distingue-se da atenuante genérica "influência de violente emoção" do art. 65, III, c, in fine. Nesta última, o agente não se encontra dominado pela emoção, nem tampouco há necessidade de se verificar o requisito temporal "logo em seguida" a injusta provocação da vítima. Requisitos para ser uma circunstância privilegiadora: a) emoção violenta: a emoção deve ser violenta, intensa, absorvente, atuando o homicida em verdadeiro choque emocional, pois quem reage quase com frieza não pode avocar o privilégio. Existindo apenas a influência da emoção ocorre somente a atenuante prevista no art. 65, III, c, do CP. b) injusta provocação do ofendido: a provocação consiste em qualquer conduta injusta capaz de causar a violenta emoção. Provocação injusta, segundo o consenso geral, é aquela capaz de justificar a cólera, a indignação e a repulsa do agente; c) reação imediata: exige-se também que o crime deve ser cometido logo em seguida a provocação, embora não seja possível determinar o tempo de sua determinação. Não existe a causa de diminuição da pena, porém, se o agente, após a provocação se dedica a outros afazeres, só posteriormente executando o homicídio. Persiste a causa de diminuiçãode pena, porém, quando o fato já está tanto distanciado do tempo, mas só foi levado ao conhecimento do agente momentos antes do crime; d) situação de domínio pela emoção: Fala-se em homicídio passional para conceituar-se o crime praticado por amor, mas a paixão somente torna um homicídio privilegiado quando este for praticado por relevante valor social ou moral ou sob a influência de violenta emoção. HOMICÍDIO QUALIFICADO Está previsto no art. 121, § 2º , do CP. Respeitando os motivos determinantes do crime (reveladores de uma maior lesividade social do agente) e os meios e modo de execução (especialmente perversos e antissociais), certas circunstâncias genéricas de agravação vieram incorporadas para constituir elementares do homicídio, nas suas formas qualificadas. Hipóteses: → Mediante paga ou promessa de recompensa ou outro motivo torpe. São qualificadoras subjetivas. Estas são espécies de motivos torpes. Ambas se diferenciam, pois, na paga o recebimento do dinheiro antecede a prática do homicídio, o que não se dá na promessa de recompensa. Trata-se do chamado homicídio mercenário Motivo torpe é aquele moralmente reprovável, abjeto, desprezível, vil, que demonstra a depravação espiritual do sujeito e suscita a aversão ou repugnância geral. O motivo torpe não se confunde com o motivo fútil que é a causa insignificante, desproporcional para a prática da conduta delituosa. Há entendimento no sentindo de que tanto o mandante quanto o mandado, respondem pala forma qualificada, isto porque, apesar de ser pessoal, é elementar do tipo qualificado, havendo, portanto, extensão da qualificadora ao mandante. Não é necessária a efetiva entrega da recompensa, bastando apenas a sua promessa. Também se configura a qualificadora se o agente também recebe parte do pagamento. → Motivo fútil. É uma qualificadora subjetiva. É aquele insignificante, frívolo, havendo desproporção entre o crime praticado e sua causa moral, incapaz de dar ao ato uma explicação razoável. É o motivo que, pela sua mínima importância não é causa suficiente para o cometimento do homicídio. Exemplos: um simples incidente de trânsito, término de namoro, desentendimento corriqueiro entre marido e mulher. → Emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum. São qualificadoras objetivas. Temos uma fórmula genérica logo após o emprego de um casuísmo. Os meios que qualificam o crime devem ter a mesma natureza do conteúdo da parte exemplificativa. Meio insidioso (escondido) é aquele dissimulado na sua eficiência maléfica. Existe no homicídio cometido por meio de astúcia, estratagema, perfídia. Um exemplo seria misturar em alimentos fragmentos de vidro. Meio cruel é o que causa sofrimento desnecessário à vítima ou revela uma brutalidade incomum, em contraste com o mais elementar sentimento de piedade humana. A crueldade consiste na reiteração que agrava o sofrimento da vítima. Não incide se empregado quando a vítima já estava morta. Não haverá qualificação se com o primeiro golpe a vítima perdeu os sentidos e, com isso, já não padeceu suplício algum até a sua morte. Meio que possa resultar perigo comum é o que pode expor a perigo um número indeterminado de pessoas, fazendo periclitar a incolumidade social. Todos estes meios, mencionados genericamente, devem seguir a mesma linha do que consta na parte exemplificativa. Obs.: Haverá concurso formal na hipótese de ocorrer crime contra a incolumidade pública (explosão, incêndio e outros). Venefício é o homicídio praticado com o emprego de veneno, substância mineral, vegetal ou animal que, introduzida no organismo, é capaz de causar perigo à vida ou a saúde através de ação química, bioquímica ou mecânica. Fogo ou explosivo conforme as circunstâncias, pode ser meio cruel ou que resulta perigo comum. Convém não confundir o homicídio por meio do fogo com o que vem para causar incêndio. Asfixia consiste na supressão da função respiratória, seja estrangulando, enforcando, afogando ou sufocando a vítima, causando a falta de oxigênio no sangue (anoxemia). Pode ser tóxica ou mecânica. Tortura é o suplício ou tormento que obriga a vítima a sofrer inutilmente antes da morte. É meio cruel por excelência. Crime de homicídio qualificado pela tortura Se a tortura é empregada como meio de provocar a morte, que o agente quer ou assume o risco de produzir, o crime será de homicídio qualificado pela tortura, cuja pena é de reclusão de doze a trinta anos Crime de tortura qualificado pela morte Se a tortura é empregada com a finalidade de alcançar um dos objetivos previstos na Lei de Tortura (informação, confissão, prática de ação ou omissão criminosa, em razão de preconceito racial ou religioso, para impor castigo), sem dolo de produzir a morte, que é provocada de forma culposa: o crime será de tortura qualificado pela morte. Na realidade esse crime é exclusivamente preterdoloso. Crime de tortura: art. 1º , § 3º , da Lei nº 9.455/97). Ressalta-se que é possível a existência autônoma do crime de tortura simples em concurso material com o crime de homicídio. • Suponha-se que os torturadores empreguem a violência ou grave ameaça para obterem uma informação da vítima e, após conseguirem a informação visada, provoquem sua morte com disparos de arma de fogo. Temos, portanto, um crime de tortura simples em concurso material com o delito de homicídio (qualificado por visar, com a morte, assegurar a ocultação ou impunidade de crime anterior). → Traição, emboscada, ou mediante dissimulação ou outro meio recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido Também são qualificadoras objetivas. Logo após um casuísmo (traição, emboscada, e dissimulação), encontra-se designação genérica, a qual deverá se pautar por aquele. A surpresa qualifica o crime desde que tenha impossibilitado a defesa da vítima. Não é suficiente que o ato agressivo não seja esperado. Ex: agressão à noite; matar a vítima dormindo etc Traição é o ataque súbito e sorrateiro que poderá se dar tanto no plano físico, como matar pelas costas, quanto no plano moral, em que existe quebra de confiança entre os sujeitos, como no caso do agente que atrai a vítima a local onde existe um poço. Emboscada é a tocaia, que pressupõe premeditação. O sujeito passivo não percebe o ataque do ofensor, pois este se encontra escondido. Dissimulação é a ocultação do próprio desígnio, o disfarce que esconde o propósito delituoso. Aqui há a ocultação da intenção hostil, para acometer a vítima de surpresa. Quando por exemplo, a vítima fornece mostras falsas da sua amizade e angaria a confiança da vítima para melhor executar o fato. • trata do modo como é executado, tendo ambas em comum a perfídia dos homicidas que assim agem Meio insidioso: refere-se ao meio utilizado para a execução do delito → Assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime. São qualificadoras subjetivas. Conexão é o liame objetivo ou subjetivo que liga dois ou mais crimes. É irrelevante que o crime-fim tenha sido consumado ou tentado, pois é suficienteque esteja presente a intenção de assegurar a execução, ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime. 1ª Conexão teleológica: ocorre quando o homicídio é cometido a fim de assegurar a execução de outro crime. No exemplo do agente que mata o marido para estuprar a mulher, haverá a qualificação mesmo que venha a desistir do estupro. 2ª Conexão consequencial: ocorre quando é praticado para ocultar a prática de outro delito, ou para assegurar a impunidade dele, ou para fugir a prisão em flagrante, ou para garantir a vantagem do produto (quando a vantagem está diretamente ligada ao crime), preço (é a paga ou promessa de recompensa) ou proveito do crime (é toda e qualquer vantagem material ou moral que não seja nem produto nem preço do delito). Ocorre quando o homicídio é praticado com a finalidade de “assegurar a ocultação” → Feminicídio Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015. Trata-se de uma qualificadora subjetiva. “VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. § 2º -A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I - violência doméstica e familiar; II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.” violência doméstica e familiar Art. 5º da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha.) Art. 5º - Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Já a segunda situação - menosprezo ou discriminação à condição de mulher - representa a diminuição da condição feminina. → contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: CONSTITUIÇÃO FEDERAL Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. Art. 144 A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido. COEXISTÊNCIA DE HOMICÍDIO QUALIFICADO COM PRIVILEGIADO Questiona-se sobre a possibilidade de poderem concorrer ou não as circunstâncias privilegiadoras (§ 1º) e o tipo qualificado (§ 2º) do homicídio. Há duas correntes: 1ª corrente: não podem coexistir, pois não se pode reconhecer, ao mesmo tempo, situações que agravem e amenizem a sanção penal; 2ª corrente (majoritária): poderão coexistir, desde que as qualificadoras sejam da natureza objetiva, vez que todas as privilegiadoras são de natureza subjetiva. PLURALIDADE DE QUALIFICADORAS É impróprio falar-se em crime duplamente ou triplamente qualificado. Basta uma única circunstância qualificadora para se deslocar a conduta do caput para § 2º do art. 121. Conforme entendimento do STJ, na hipótese de homicídio, com pluralidade de qualificadoras, uma poderá qualificar o delito, enquanto as demais poderão caracterizar circunstância agravante, se forem previstas como tal ou, residualmente, circunstância judicial. DISTINÇÃO DE HOMICÍDIO E ABORTO O homicídio diferencia-se do aborto porque este só pode ocorrer quando a conduta é exercida antes do início do parto, e do infanticídio, pela circunstância de que neste o sujeito passivo é o que está nascendo ou o recém-nascido e a agente é a mãe, que atua sob a influência do estado puerperal. CONCURSO O Supremo Tribunal Federal não admitia a continuação nos crimes contra a vida, por ser este um bem personalíssimo (súmula 605), embora tribunais estaduais e mesmo o STJ reconhecessem essa possibilidade. Com a reforma penal de 1984, através da Lei n. 7.209, admitindo a continuidade delitiva nos crimes com violência grave ameaça contra a pessoa, referida Súmula encontra-se revogada. HOMICÍDIO CULPOSO Trata-se de tipo aberto em que se faz a indicação pura e simples da modalidade culposa, sem se fazer menção à conduta típica (embora ela exista) ou ao núcleo do tipo (cf. art. 18, II do CP). Modalidade de culpa: a) Imprudência: consiste na violação das regras de conduta ensinadas pela experiência. É o atuar sem precaução, precipitado, imponderado. Há culpa in faciendo. Ex.: manifesta é a imprudência de quem, não sabendo lidar com arma, provoca disparo da mesma e mata pessoa que se achava próxima; b) Negligência: consiste na ausência de cautela ou revela indiferença em relação ao comportamento realizado. Ex.: age negligentemente a mãe que não retira da mesa, ao redor da qual brincam crianças, veneno em dose letal, vindo uma delas a ingeri-lo e falecer; c) Imperícia: consiste na falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. É a prática de certa atividade, de modo omisso (negligente) ou insensato (imprudente), por alguém incapacitado a tanto, quer pela ausência de conhecimento, quer pela falta de prática. Ex.: engenheiro que constrói uma casa sem alicerces suficientes e o desabamento provoca morte de morador. HOMICÍDIO CULPOSO QUALIFICADO Está previsto no art. 121, § 4º , do CP. A pena do homicídio culposo é aumentada de 1/3 nas seguintes hipóteses: a) inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício: a inobservância de regra técnica ocorre quando o sujeito tem conhecimento da regra técnica, pois é um profissional, mas a desconsidera. Não se confunde inobservância de regra técnica com imperícia. No caso do aumento de pena, o agente conhece a regra técnica, porém deixa de observá-la, enquanto na imperícia, que pressupõe inabilidade ou insuficiência profissional, ele não conhece, não domina conhecimentos técnicos; b) se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima: a omissão de socorro, como causa de aumento de pena, distingue-se daquela prevista no art. 135 do CP. Para que haja a causa de aumento, a mesma pessoa que criou a situação é obrigada a prestar socorro. Todavia, se não houve homicídio culposo, não há que se falar em aumento de pena. É impossível ocorrer esse aumento de pena se a vítima falece no momento do fato no caso de delito de trânsito ou se há lesões sem necessidade de assistência. Se a vítima for socorrida por outras pessoas, há duas posições:a) não subsiste a qualificadora; b) subsiste a qualificadora. c) o agente não procura diminuir as consequências do seu ato: trata-se de dispositivo redundante, pois a causa de aumento de pena anterior (omissão de socorro) já engloba essa hipótese. Quem omite socorro, logicamente não diminui as consequências do seu ato. Ex.: não transportar a vítima para um hospital constitui omissão de socorro e, ao mesmo tempo, atitude de quem não procura diminuir as consequências do ato cometido; d) se o agente foge para evitar prisão em flagrante: com esta medida o legislador visa impedir que o agente deixe o local da infração, dificultando o trabalho da Justiça e buscando a impunidade. Estas causas incidem na terceira fase de aplicação da pena. Não se constituem em qualificadoras, pois não alteram os limites abstratos da pena. PERDÃO JUDICIAL Prevista está no homicídio culposo a possibilidade de concessão do perdão judicial. Se as consequências da infração atingiram o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária (art. 121, § 5º , do CP). Cabe ressaltar que se tem reconhecido como causa para a não aplicação da pena o grave sofrimento físico ou moral. Exemplos são a ocorrência de ferimento grave no próprio agente, a morte da esposa, a morte do filho, etc. A aplicação do perdão judicial deve ser feita com prudência e cuidado para que não se transforme, contra o seu espírito, em instrumento de impunidade e, portanto, de injustiça. No concurso formal de infrações o perdão judicial quando cabível, não pode ser concedido parcialmente, mas deve ser estendido à totalidade do resultado alcançado com aquela ação única do agente. Assim se num mesmo contexto o agente mata culposamente o seu filho e um estranho, o perdão judicial se estenderá a ambos os delitos. (art. 107, IX, do CP) O STJ através da súmula nº 18, contrariando a pacífica posição do STF, acabou por sufragar a tese de que a sentença concessiva do perdão judicial tem natureza declaratória, afastando todos os efeitos da condenação, principais e secundários. A sentença que concede o perdão judicial, de acordo com a regra do art. 120 do CP, não se considera para o efeito da reincidência. AÇÃO PENAL Em razão de se tratar de crime contra a vida, cabe quanto ao homicídio ação penal pública incondicionada com processo pelo rito especial estabelecido para os crimes de competência do júri, conforme disposto no artigo 406 e seguintes do CPP. Cabe ressaltar que é permitida também no caso de domicílio doloso, a prisão temporária quando preenchidos os pressupostos legais (Lei nº 7.960 de 21/12/89).
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