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Prévia do material em texto

1 
 
 
 
 
Teoria Geral do Processo 
 
 
 
Ilustra Folha rosto 
 
 
1ª versão: Aline Martins Coelho 
Ângela Issa Haonat 
Rosa Maria Silva Leite 
2ª versão revisada e ampliada: Paulo Benincá 
Ubirajara Coelho Neto 
 
 
 
 
 
1° período 
2 
 
 
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO TOCANTINS 
 
Reitor 
Humberto Luiz Falcão Coelho 
 
Vice-Reitor 
Lívio William Reis de Carvalho 
 
Pró-Reitor de Graduação 
 Galileu Marcos Guarenghi 
 
Pró-Reitor de Pós-Graduação e Extensão 
 Claudemir Andreaci 
 
Pró-Reitora de Pesquisa 
 Antônia Custódia Pedreira 
 
Pró-Reitora de Administração e Finanças 
 Maria Valdênia Rodrigues Noleto 
 
Diretor de EaD e Tecnologias Educacionais 
 Marcelo Liberato 
 
Coordenador Pedagógico 
 Geraldo da Silva Gomes 
 
Coordenador do Curso 
José Kasuo Otsuka 
 
 
EDUCON – EMPRESA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA LTDA 
 
Diretor Presidente 
 Luiz Carlos Borges da Silveira 
 
Diretor Executivo 
 Luiz Carlos Borges da Silveira Filho 
 
Diretor de Desenvolvimento de Produto 
 Márcio Yamawaki 
 
Diretor Administrativo e Financeiro 
 Júlio César Algeri 
 
 
MATERIAL DIDÁTICO 
 
Organização de Conteúdos Acadêmicos 
1ª versão: Aline Martins Coelho 
Ângela Issa Haonat 
Rosa Maria Silva Leite 
2ª versão revisada e ampliada: Paulo Benincá 
Ubirajara Coelho Neto 
 
Coordenação Editorial 
 Maria Lourdes F. G. Aires 
 
Assessoria Editorial 
 Darlene Teixeira Castro 
 
Assessoria Produção Gráfica 
Katia Gomes da Silva 
 
 
Revisão Didático-Pedagógica 
Marilda Piccolo 
 
Revisão Lingüístico-Textual 
Kyldes Batista Vicente 
 
Revisão Digital 
Douglas Donizeti Soares 
 
Projeto Gráfico 
 Douglas Donizeti Soares 
Irenides Teixeira 
 Katia Gomes da Silva 
 
Ilustração 
 Geuvar S. de Oliveira 
 
Capa 
Edglei Dias Rodrigues 
 
3 
 
Apresentação 
Caro aluno, 
É necessário afirmar a importância da Teoria Geral do Processo, para 
o estudo de direito, seja em seu aspecto formal ou material. Não basta apenas 
conhecer o direito material, é preciso saber como aplicá-lo. A Teoria Geral do 
Processo abrangerá as disciplinas de direito processual, no âmbito civil e 
penal, estudadas à luz da Constituição Federal. 
Na aula 1, apresentaremos um panorama sobre a evolução do homem, 
do direito dos conflitos e as formas de resolução desses conflitos. Faremos um 
paralelo entre o direito material e o direito processual. 
Na aula 2, estudaremos os princípios que darão sustentáculo ao direito 
processual. Na aula 3, estudaremos a definição, características, fins, 
princípios, espécies e o exercício da jurisdição e da competência. 
Na aula 4, abordaremos o Poder Judiciário, para conhecer seus órgãos 
e suas funções, bem como sua Organização Judiciária. 
Na aula 5, conheceremos como se dá a atuação desempenhada pelo 
Ministério Público, pelo advogado e pelos auxiliares da justiça. 
Na aula 6, abordaremos as teorias da ação, suas condições, 
elementos, classificação e a carência da ação. 
Na aula 7, faremos o estudo dos sujeitos e a classificação dos 
processos. Por fim, estudaremos a dinâmica processual, com o objetivo de 
conhecer a forma como é realizado o processamento das ações no Judiciário. 
Desenvolvemos nossos conteúdos de acordo com os objetivos 
propostos. Lembramos que, nesta modalidade de ensino, você tem um papel 
fundamental: participar ativamente das aulas, interagir por meio do portal, 
fazendo perguntas, e consultar as leis referentes aos assuntos abordados. 
Bons estudos. 
 
Paulo Benincá 
Ubirajara Coelho Neto 
4 
 
PLANO DE ENSINO 
CURSO: Fundamentos e Práticas Judiciárias 
PERÍODO: 1º 
DISCIPLINA: Teoria Geral do Processo 
 
EMENTA 
O Estado-Juiz. Categorias jurisdicionais. Da norma processual. Da jurisdição e da 
competência. Do Poder Judiciário. Da organização judiciária do Estado do 
Tocantins. Do Ministério Público. Do Advogado. Da ação. Do processo. Do juiz. Das 
partes. Dos atos processuais. Do processo civil, do processo, dos procedimentos e 
das fases processuais. Do processo penal, do processo e dos procedimentos. 
 
OBJETIVOS 
• Reconhecer os conceitos básicos do Direito Processual. 
• Reconhecer os princípios que dão forma ao Direito Processual, a partir 
da doutrina e da Constituição Federal. 
• Definir o que é jurisdição e suas características. 
• Conhecer o Poder Judiciário, indicando os órgãos, as funções, a 
independência e as garantias dos magistrados do Poder Judiciário. 
• Conhecer o papel fundamental do Ministério Público. 
• Conhecer o direito que surge para o indivíduo acionar e fazer agir o 
Poder Judiciário. 
 
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 
• Solução de conflitos 
• Princípios do Direito Processual 
• Jurisdição e competência 
• Poder judiciário; Ministério Público; Advogado; Auxiliares da justiça; 
Escrivão; Oficial de justiça; Perito; Depositário; Administrador e 
Intérprete 
• Da ação e Do processo 
 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
5 
 
CINTRA, Antonio Carlos Araújo; DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, 
Ada Pellegrini. Teoria Geral do Processo. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. 
ALVIM, José Eduardo Carreira. Teoria Geral do Processo. 10. ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 2005. 
SILVA, José Milton da. Teoria Geral do Processo. 2. ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2003. 
 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
BITTAR, Eduardo Carlos Bianca. Linguagem Jurídica. 2. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2003. 
BRASIL. Decreto-Lei n.º 3.689, de 03.10.1941. Código de Processo Penal. 
Brasília: DOU, 13 de outubro de 1941. 
BRASIL. Lei n.º 5.869, de 11.01.1973. Institui o Código de Processo Civil. 
Brasília: DOU, 17 de janeiro de 1973. 
BRASIL. Lei n.º 8.906, de 04.07.1994. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e 
a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Brasília: DOU, 5 de julho de 1994. 
BRASIL. Lei n.º 10.406, de 10.01.2002. Institui o Código Civil. Brasília: DOU, 
11 de janeiro de 2002. 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05.10.1988. 
Brasília: DOU, 05 de outubro de 1988. 
COELHO, Fábio Alexandre. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Juarez de 
Oliveira, 2004. 
DIDIER JUNIOR, Fredie. Direito Processual Civil. 3. ed. São Paulo: Salvador, 
2003. 
DONIZETTI, Elpidio. Curso Didático de Direito Processual Civil. Belo 
Horizonte: Del Rey, 2005. 
GRECCO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 16. ed. São 
Paulo: Saraiva, 2000, v 1. 
MARCATO, Antônio Carlos. Procedimentos Especiais. 10. ed. São Paulo: 
Atlas, 2004. 
ROCHA, José de Albuquerque. Teoria Geral do Processo. 8. ed. São Paulo: 
Atlas, 2005. 
6 
 
SUMÁRIO 
Aula 1: A solução dos conflitos 
Aula 2: Princípios do Direito Processual 
Aula 3: Jurisdição e Competência 
Aula 4: Do Poder Judiciário: organização 
Aula 5: Das funções essenciais à Justiça 
Aula 6: Da Ação 
Aula 7: Do Processo 
 
7 
 
AULA 1 – A solução de conflitos 
 
Objetivos 
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: 
• reconhecer os conceitos básicos ao Direito Processual e as formas 
de resolução dos conflitos jurídicos; 
• distinguir o Direito Material do Direito Processual. 
 
Pré-requisitos 
Para que você atinja os objetivos propostos, é interessante que faça 
uma leitura prévia a respeito dos conceitos básicos do Direito Processual e as 
normas de resolução dos conflitos jurídicos, distinguindo o Direito Material do 
Direito Processual. 
 
Introdução 
A solução dos conflitos entre os homens nem sempre se deu da forma 
como conhecemos hoje, seja na via judicial ou extrajudicial. Antes de o Estado 
chamar para si a tarefa de dizer o Direito, o que assistíamos era a solução dos 
conflitos via vingança privada, os mais fortes sempre vencendo os mais fracos. 
Com o passar dos tempos, o Direito aparece como uma das formas de controle 
social, com o fim de solucionar os conflitos de maneira mais justa. 
 
1.1 O homem e o direito 
Desde a Antiguidade, o homem vê no Direito uma forma de 
instrumento de controle social, embora, naquele tempo, o homem já sofresse 
igualmente a influência de outros instrumentos de controle social, como amoral 
e a religião. Daí a razão do brocardo jurídico: ubi societas ibi ius. 
A relação entre a sociedade e o direito encontra-se fundada na função 
de controle que o direito exerce na sociedade por meio de sua força coativa. 
Assim, o direito representa a via de compatibilização entre as necessidades e 
os interesses que surgem em decorrência da vida em sociedade. 
8 
 
Para compreender necessidades e interesses na forma que 
interessam ao direito, são envolvidos na análise alguns conceitos básicos, tais 
como: necessidade, bem, utilidade, interesse, conflito de interesses, 
pretensão, resistência e lide. 
a) Necessidade 
A palavra necessidade, segundo o dicionário Houaiss (2004), pode 
ser entendida como: “As exigências mínimas para satisfazer condições 
materiais e morais de vida”. Podemos citar como exemplo as carências 
naturais(necessidades) do organismo humano, como beber, comer, dormir etc. 
Segundo Alvim (2005, p. 2), as necessidades são satisfeitas, levando-se em 
conta determinados elementos: 
 
O homem experimenta necessidades as mais diversas, sob variados 
aspectos, e tende a proceder de forma a que sejam satisfeitas; que 
desapareça a carência ou se restabeleça o equilíbrio perdido. A 
necessidade decorre do fato de que o homem depende de certos 
elementos, não só para sobreviver, como para aperfeiçoar-se social, 
política e culturalmente, pelo que não seria errôneo dizer que o 
homem é um ser dependente. 
 
b) Bem 
Carnelutti citado por Alvim (2005, p. 3) lecionava que bem é o ente capaz 
de satisfazer uma necessidade. Assim, para o direito, bem deve ser entendido de 
forma ampla, abrangendo tanto os bens materiais como os imateriais. 
BENS 
MATERIAIS IMATERIAIS 
Água Paz 
Alimento Liberdade 
Vestuário Honra 
Transporte Amor 
 
c) Utilidade 
Para Carnelutti citado por Alvim (2005, p. 3), “utilidade é a capacidade 
ou a aptidão de uma coisa (bem) para satisfazer uma necessidade”. 
Alvim (2005, p. 3), porém, faz uma ressalva: nem “sempre que haja 
utilidade num bem, ocorra um interesse relativamente a ele”. 
Para ilustrar, usamos o exemplo de Carnelutti citado por Alvim, para 
quem o pão sempre será um bem e sempre terá uma utilidade, mas não haverá 
interesse (no pão) para quem não tem fome ou não prevê que possa vir a tê-la 
9 
 
(ALVIM, 2005, p. 4). 
SAIBA MAIS 
Carnelutti foi considerado um dos maiores juristas italiano do século XX, 
nascido em 1879 e falecido em 1965. Professor da Universidade de Milão. 
 
d) Interesse 
Este tópico é que efetivamente assume relevância para o Direito, quer 
pela importância, quer pela discussão doutrinária sobre o tema. Porém, há 
divergência doutrinária sobre o melhor significado do termo interesse. 
Segundo o entendimento de Carnelutti citado por Alvim (2005, p. 4) o 
interesse é a posição favorável do homem em relação à satisfação de uma 
necessidade. É a relação entre o ente (homem) que experimenta a 
necessidade e o ente (bem) apto a satisfazê-la. 
Segundo o entendimento de Ugo Rocco citado por Alvim (2005, p. 4), 
o interesse pode ser compreendido como sendo: 
“Juízo formulado por um sujeito acerca de uma necessidade, 
sobre a utilidade ou sobre o valor de um bem, enquanto meio 
para a satisfação dessa necessidade. Ato da inteligência, que é 
dado pela representação de um objeto (bem), pela 
representação de uma necessidade e pela representação da 
aptidão do objeto (bem) para satisfazer a própria necessidade.” 
 
Por outro lado, temos que considerar que, de acordo com esse raciocínio, 
nem sempre o homem estará numa posição de interesse. Pode-se citar como 
exemplo o fato de que, se o homem está com fome e possui o alimento à sua 
disposição, estará em uma posição de interesse, o que não ocorrerá na hipótese 
do homem que tem fome e não tem o alimento à sua disposição. 
O interesse, no que toca à sua relação com o Direito, pode ser classificado, 
em um primeiro momento, como: Interesse imediato e Interesse mediato. 
• Interesse imediato: quando a situação se presta diretamente à 
satisfação de uma necessidade. Ex: quem possui o alimento presta-se 
diretamente à satisfação da necessidade de alimentar-se. 
• Interesse mediato: quando a situação apenas indiretamente presta-se a 
satisfação de uma necessidade, enquanto dela possa derivar uma outra 
10 
 
situação (intermediária), que consegue a satisfação da necessidade. Ex: 
quem possui dinheiro para adquirir alimento, apenas indiretamente 
(mediatamente) se presta à satisfação da necessidade de alimentar-se. 
Outra questão importante é a definição das espécies de interesses. 
Alvim (2005, p. 5) menciona que o interesse se classifica em: interesse 
individual e interesse coletivo. 
• Interesse individual: caracteriza-se quando existe uma situação 
favorável à satisfação de uma necessidade, pode determinar-se em 
relação a um só indivíduo, de forma isolada. 
• Interesse coletivo: caracteriza-se por uma situação favorável à satisfação 
de uma necessidade não pode determinar-se senão em relação a vários 
indivíduos. 
 
1.2 Conflito de Interesses, Pretensão, Resistência e Lide 
Vistos os significados de necessidade, bem, utilidade e interesse, faz-se 
necessário tratar dos conceitos de conflito de interesses, pretensão, resistência e lide. 
Alvim (2005, p. 6) ensina que existe conflito de interesses quando ”a 
situação favorável à satisfação de uma necessidade exclui, ou limita, a situação 
favorável à satisfação de outra necessidade.” 
O conflito de necessidade que envolve dois interesses e uma só 
pessoa pode ser chamado de conflito subjetivo. Ocorre quando o indivíduo tem 
mais de uma necessidade e tem que se decidir por uma delas em específico. Em 
geral, não ultrapassa as pessoas do próprio sujeito nele envolvido. 
Há, também, o que se pode chamar de conflito intersubjetivo, como 
chamou Carnelutti citado por Alvim (2005, p. 6, grifo nosso), que “é o conflito 
de interesse que envolve duas ou mais pessoas”. Tem importância para o 
Estado pelo fato do perigo que representa de uma solução violenta, quando 
ambos os interessados recorrem à força, para fazer valer o seu direito. 
Os conflitos de interesses ocorrem, por assim dizer, quando estiver 
caracterizada a disputa pelos bens considerados limitados ou, ainda, sobre o 
exercício de direitos sobre esses bens, exigindo-se, assim, o controle e a 
regulação por parte do Estado, por meio do Poder Judiciário. Instalado o 
11 
 
conflito de interesses entre as partes, chega-se ao que a doutrina tradicional 
denominou de lide. Passamos, então, ao conceito de lide. Carnelutti citado por 
Alvim (2005, p. 10), ao tratar de lide, leciona que “lide é o conflito de 
interesses, qualificado pela pretensão de um dos interessados e pela 
resistência do outro". 
A lide compõe-se de um elemento material e um elemento formal. 
Como elemento material da lide, temos o próprio conflito de interesses e, 
como elemento formal, a pretensão e a resistência, também chamada de 
oposição (ALVIM, 2005, p. 10-11). 
Assim, a lide é o próprio conflito de interesses, que pode ser 
representado, de um lado, por uma pessoa que formula uma pretensão contra 
outra pessoa, que irá a esta opor uma resistência. 
 
1.3 Das formas de solução dos conflitos 
Desde que o homem passou a viver em sociedade, passaram a existir 
conflitos e havia a necessidade de regular a forma de solução. Num primeiro 
momento, não existia a figura do Estado a regular os conflitos existentes na 
sociedade. Nesse tempo, imperava a vingança privada. Com o passar do 
tempo, o Estado chama para si a tarefa de dizer o Direito, ou seja, o Estado 
passou a controlar os conflitos que aconteciam na sociedade. 
Assim, em um primeiro momento, o que regulou os conflitos do homem 
foi a autotutela também chamada de autodefesa. 
 
a) Autotutela 
Conforme Ada Pellegrini Grinover e outros (2005, p. 23), a autotutela 
possui dois traços característicos: “a) ausência de juiz distinto das partes; b) 
imposição da decisãopor uma das partes à outra”. 
Alvim (2005, p.13), ao falar sobre a autodefesa, leciona que 
 
Esta forma de resolução dos conflitos é apontada como a mais 
primitiva, quando ainda não existia, acima dos indivíduos, uma 
autoridade capaz de decidir e impor sua decisão aos contendores, 
pelo que o único meio de defesa do indivíduo (ou do grupo) era o 
emprego da força material ou força bruta contra o adversário para 
12 
 
vencer sua resistência. 
 
Os Estados modernos reconhecem que, em determinados casos, não 
há como evitar lesões de Direito. Por isso, o próprio Estado criou mecanismos 
que permitem ao próprio indivíduo defender seu interesse, mesmo que seja 
necessário usar de força, desde que respeitados os limites impostos pelo 
próprio direito (ALVIM, 2005, p. 14). 
Alvim (2005, p. 14) menciona os seguintes exemplos de autodefesa no 
Estado moderno: (a) Legítima defesa (art. 25 do Código Penal); (b) Desforço 
incontinenti (art. 1.210 do Código Civil); (c) Penhor legal (art. 1.467 do 
Código Civil); e (d) Direito de greve (previsto no art. 9º da Constituição Federal 
e na Lei nº 7.783/89). 
SAIBA MAIS: 
Desforço Incontinenti: é a resistência ou a reação promovida por iniciativa 
própria do possuidor, por própria força dele. 
 
b) Autocomposição 
Com a evolução do homem, mas ainda em tempos remotos, surgem 
outras formas de solução de conflitos, como a autocomposição, que pode ser 
considerada como um passo adiante na solução dos conflitos que se 
estabeleciam na sociedade. 
O termo autocomposição, de acordo com Alvim (2005, p.15), deve ser 
creditado a Carnelutti, que, ao tratar dos equivalentes jurisdicionais, ali a 
incluiu. Assim auto (próprio) e o substantivo composição, na linguagem do 
renomado mestre, equivalem a solução, resolução ou decisão do litígio por 
obra dos próprios litigantes. 
A autocomposição continua a existir no ordenamento jurídico, nas 
seguintes formas: a desistência, a submissão e a transação. Grinover e 
outros (2005, p, 23) traz a definição de cada uma delas: 
• desistência (renúncia à pretensão); 
• submissão (renúncia à resistência oferecida à pretensão); 
• transação (concessões recíprocas). 
Essas formas de autocomposição só podem acontecer em razão dos 
13 
 
direitos disponíveis. 
 
Direitos 
Disponíveis Indisponíveis 
Pode ser transacionado Não pode ser transacionado 
Pode haver renúncia Não pode haver renúncia 
Transigíveis Intransigíveis 
Dessa forma, com o decorrer dos tempos, com a evolução do homem e 
do próprio Direito, passou-se a preferir, conforme leciona Grinover e outros (2005, 
p, 23), a figura do árbitro, que atribuía ao caso concreto uma solução imparcial. 
Surge assim, conforme Alvim (2005, p. 16), a arbitragem facultativa, 
como forma bem mais evoluída de solução dos conflitos. 
SAIBA MAIS: 
A arbitragem é matéria a ser estudada no 5º período do curso. 
Normalmente, a figura do árbitro na Antiguidade era representada por 
um sacerdote: acreditava-se que, por estar intimamente ligado às divindades, 
isso, por si só, garantiria uma solução mais acertada. Outra figura que 
normalmente se utilizava como árbitro eram os anciãos, pois eram dotados de 
sabedoria e conheciam os costumes do grupo social da época. 
Segundo Alvim (2005, p. 17), a arbitragem facultativa, por seu turno, 
favoreceu o aparecimento do Processo, que pode ser considerado como a 
última etapa na evolução dos métodos compositivos do litígio. 
SAIBA MAIS: 
Processo - Latim Processu. Proceder: avançar, seguir caminhando. 
De acordo com o que ensina Alvim (2005, p. 17), o processo se apresenta 
como um instrumento pronto à viabilização de maior número de soluções justas e 
pacíficas dos conflitos porque, quando se fala em processo, a contenda é 
solucionada por um terceiro sujeito, alheio às questões que estão sendo debatidas. 
Esclarece, ainda, Alvim (2005, p. 18) que, 
 
Para que o processo produza resultados é preciso que esse terceiro 
imparcial que decide o conflito seja mais forte do que as partes 
litigantes, para que possa impor sua vontade, coativamente, frente a 
qualquer intuito de desobediência ou descumprimento por parte dos 
contendores. Compreende-se, pois, que este terceiro seja o Estado. 
 
Vários doutrinadores preocuparam-se em definir o processo. Alvim 
traz-nos alguns conceitos cunhados na doutrina. 
14 
 
Para Niceto Alcalá-Zamora y Castillo citado por Alvim (2005, p.18), 
 
Processo é o instrumento de que se serve o Estado para, no exercício da 
função jurisdicional, resolver os conflitos de interesses, solucionando-os. 
O instrumento previsto como normal pelo Estado para a solução de toda 
classe de conflitos jurídicos. 
 
Carnelutti citado por Alvim (2005, p.19), define processo como sendo 
O conjunto de atos destinados à formação ou à atuação de comandos 
jurídicos, cujo caráter consiste na colaboração, para tal fim, de pessoas 
interessadas (partes), com uma ou mais pessoas desinteressadas 
(juízes). O processo não se compõe de um único ato, mas de um 
conjunto de atos coordenados e ligados pelo fim perseguido, que é o 
de obter a justa composição da lide. Operação mediante a qual se 
obtém a composição da lide. 
 
Para Eduardo Couture citado por Alvim (2005, p. 19), o processo é “o 
meio idôneo para dirimir imparcialmente, por ato de juízo da autoridade, um 
conflito de interesses com relevância jurídica”. 
 
1.4 O Direito Processual 
Depois de estudar as formas de solução dos conflitos de interesses em 
sociedade, a par de toda a evolução do homem, e as mudanças que ocorreram 
ao longo do tempo, passamos ao estudo do direito processual propriamente 
dito, traçando um paralelo entre este e o direito material. 
Acompanhe o raciocínio de José de Albuquerque Rocha (2005, p. 31), 
segundo o qual 
Com o advento do Estado, principalmente do Estado burguês, as 
normas de conduta passaram a ser criadas, em sua quase totalidade, 
por órgãos específicos do Estado, através das leis e outros atos 
semelhantes, e também garantidas, em última instância, pelo próprio 
Estado, e não mais criadas e garantidas diretamente pela sociedade, 
como acontecia antes. 
 
Como visto anteriormente, no início o homem resolvia os seus conflitos 
de interesses por meio da autotutela, que era marcada pela falta de 
intervenção do Estado. Este apenas passou a intervir nos conflitos de 
interesses já bem mais adiante. 
Na clássica subdivisão do Direito em Direito Público e Direito Privado, o 
Direito Processual está colocado como ramo do Direito Público. Essa divisão 
deve ser entendida apenas do ponto de vista doutrinário. Isso se deve ao fato de 
15 
 
que, em nossa disciplina, o direito será melhor compreendido quando classificado 
em direito material e direito processual. 
Passemos então a uma breve análise sobre o direito material e o 
direito processual, de acordo com o que leciona Rocha (2005, p. 32-34), que 
assim ilustra a diferença entre ambos. 
DIREITO 
MATERIAL PROCESSUAL 
Conjunto de normas de valoração das
condutas sociais, visando à proteção dos
interesses considerados essenciais à
manutenção de uma dada formação social
cuja aplicação é garantida, pelo aparelho
coativo do Estado. 
Conjunto de normas jurídicas que dispõem
sobre a constituição dos órgãos jurisdicionais e
sua competência, disciplinando essa realidade
que chamamos processo. 
O direito material disciplina as condutas
materiais, isto é, condutas cuja realização não
cria novas normas jurídicas, mas situações
materiais. 
O direito processual é um conjunto de normas
que tem por objetivo disciplinar os atos de
vontade dos órgãos jurisdicionais e partes, para
a criação da norma do caso concreto (decisão
do conflito) e sua eventual execução. 
O Direito Material consiste no conjunto de princípios e normas que 
regulam os fatos e relações sociais, ou seja, são as normas que disciplinam as 
condutas humanas e pode ser subdividido em: Direito Civil, Administrativo, 
Comercial, Tributário, Trabalhista, Constitucional, Penal etc.O Direito Processual pode ser compreendido como o complexo de 
normas e princípios que regem o exercício da jurisdição. É, assim, um 
instrumento para a concretização do Direito Material. 
 
1.5 A Norma Processual 
A norma jurídica, em sentido amplo, tem por objeto a regulação da 
conduta humana, criando direitos e estabelecendo obrigações. As normas 
processuais, ao contrário, disciplinam os meios de defesa dos direitos 
estabelecidos pela norma material. 
a) Objeto da norma processual 
Conforme leciona Coelho (2004, p. 151-152), o objeto maior das normas 
processuais é “disciplinar a atividade do Estado e dos litigantes, bem como o 
desenvolvimento do processo”. A finalidade da norma processual é estabelecer a 
forma de solução dos conflitos, por meio do processo. 
PENSANDO SOBRE O ASSUNTO: 
E como pode a lei processual ser aplicada na solução dos conflitos por meio do 
16 
 
processo? Quem a aplica? 
Aqui nos reportamos à clássica tripartição de poderes de Montesquieu, 
pela qual a atividade jurisdicional é reconhecida como uma das funções do 
poder estatal, ao lado das funções administrativas e legislativas. 
Assim, para exercer a atividade jurisdicional no âmbito do sistema jurídico, 
faz-se necessário a verificação do disposto no princípio da investidura, pelo qual o juiz 
necessita estar investido do Poder delegado pelo Estado, para exercer a atividade 
judicante e aplicar a norma material e a norma processual ao caso concreto. 
b) Divisão da norma processual na doutrina 
A doutrina classifica a norma processual em três grandes grupos: 
• normas processuais em sentido estrito: são as que cuidam do 
processo como tal, atribuindo poderes e deveres processuais; 
• normas de organização judiciária: tratam primordialmente da criação e 
da estrutura dos órgãos judiciários e seus auxiliares; 
• normas procedimentais: dizem respeito apenas ao modus procedendi, 
inclusive à estrutura e coordenação dos atos processuais que compõem o 
processo. 
Essa divisão é acatada pela própria Constituição Federal nos arts. 22, 
inciso I e 24, inciso XI. Vejamos cada uma delas. 
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: 
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, 
aeronáutico, espacial e do trabalho; [...]. 
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar 
concorrentemente sobre: 
XI - procedimentos em matéria processual; [...]. 
 
c) Natureza da norma processual 
A norma processual é parte integrante do Direito Público, uma vez que 
é por meio da mesma que se desenvolve a atividade jurisdicional. Assim, 
quando falamos em norma processual, não é propriamente uma relação de 
coordenação, mas, como nos ensinam Grinover e outros (2001, p. 90), é uma 
relação de “poder e sujeição, predominando sobre o interesse público na 
17 
 
resolução (processual e, pois, pacífica) dos conflitos e controvérsias”. 
Para melhor ilustrar a classificação das normas jurídicas processuais 
quanto à sua natureza, traçamos o quadro abaixo, distinguindo as normas 
processuais cogentes das normas processuais dispositivas. 
NORMAS PROCESSUAIS 
COGENTES DISPOSITIVAS 
• Devem ser cumpridas 
independentemente da vontade de quem é 
obrigado a cumpri-la. 
• Regras inderrogáveis pela vontade das 
partes. 
• Também devem ser obedecidas, mas podem 
ser afastadas, nos limites fixados pela própria lei e 
pela vontade das partes. 
• Ex: regime de casamento do Código Civil. 
 
d) Eficácia da lei processual no tempo e no espaço 
• Eficácia da lei processual no espaço 
A norma jurídica, seja ela material ou processual, tem eficácia no tempo e 
no espaço: aplica-se em determinado período e território. 
Grinover e outros (2001, p. 96) explicam que o princípio que regula a 
eficácia espacial da norma processual é o da territorialidade. Assim, a esta se 
impõe sempre à aplicação da lex fori. 
SAIBA MAIS: 
Lex fori - lei do foro onde se resolve o litígio, proferindo decisão, sendo 
competente, portanto, para reger a forma do processo (DINIZ, Maria Helena. 
Dicionário Jurídico. São Paulo: Saraiva, 1998, v. 03, p. 113). 
A territorialidade da aplicação da lei processual encontra-se expressa 
no art. 1º do Código de Processo Civil: “A jurisdição civil, contenciosa e 
voluntária, é exercida pelos juízes em todo território nacional, conforme as 
disposições que este código estabelece”. 
Contudo, devemos observar que o princípio da territorialidade não 
significa, como lecionam Grinover e outros (2001, p. 97), que o juiz deva 
ignorar a regra processual estrangeira, pois, no caso do art. 231 do CPC, esta 
constitui pressuposto para a aplicação da lei nacional. Os autores, contudo, 
alertam para o fato de que não se pode confundir a aplicação da norma 
processual estrangeira com a aplicação da norma material estrangeira, referida 
pelo direito processual nacional, especialmente no art. 7º do CPC. 
• Da lei processual no tempo 
18 
 
Como as demais normas jurídicas, a norma processual também é 
limitada no tempo, considerado o disposto no direito intertemporal. Dois 
aspectos devem ser levados em consideração. Vamos a eles: 
• as leis processuais brasileiras submetem-se ao disposto na Lei de 
Introdução do Código Civil - LICC, no tocante à observância da eficácia 
temporal das leis. Em regra, quando não se dispuser de forma contrária, 
ou no silêncio da lei, a mesma entra em vigor, em todo o país, quarenta 
e cinco dias após sua publicação; 
• problema maior ocorre quando a lei incidir sobre situações idênticas, 
para se estabelecer qual das leis - se a anterior ou a posterior - deve ser 
aplicada ao caso concreto. Como nos ensina Grinover e outros (2001, p. 
98), o processo se constitui por uma série de atos que se desenvolvem e 
se praticam sucessivamente no tempo (atos processuais integrantes de 
uma cadeia unitária, que é o procedimento), torna-se particularmente 
difícil e delicada a solução do conflito temporal de leis processuais. 
Ocorrendo o conflito de normas processuais no tempo, devemos 
analisar os sistemas propostos por Grinover e outros (2001, p. 98), que 
poderiam ser em tese levados em consideração, realçando o sistema do 
isolamento dos atos processuais que é o sistema consagrado na doutrina 
brasileira, além de estar expresso no CPP e no CPC. São eles: 
• Sistema da unidade processual: apesar de se desdobrar em vários atos, 
o processo apresenta uma unidade que somente poderia ser regulado por 
uma única norma, seja nova ou velha, devendo a velha se impor para não 
ocorrer a retroação da nova, com prejuízo dos atos praticados até a sua 
vigência; 
• Sistema das fases processuais: sistema no qual distinguir-se-iam 
fases processuais autônomas (postulatória, ordinatória, instrutória, 
decisória e recursal), cada uma delas capaz de ser disciplinada por uma 
lei diferente; 
• Sistema do isolamento dos atos processuais: pelo qual a lei nova 
não atinge os atos processuais já praticados, nem seus efeitos, mas se 
aplica aos atos processuais a praticar, sem limitações relativas às 
19 
 
chamadas fases processuais. 
e) Interpretação da lei processual 
Não podemos deixar de levar em consideração que a interpretação e a 
aplicação das normas processuais estão subordinadas às mesmas regras das 
normas materiais. “As normas processuais seguem as disposições contidas 
nos arts. 4º e 5º da Lei de Introdução do Código Civil Brasileiro” (GRINOVER e 
outros, 2001, p. 102). 
SAIBA MAIS: 
Art. 4º. LICC: Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a 
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
Art. 5º. LICC: Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se 
dirige e às exigências do bem comum. 
Esclarecem, ainda, os autores acima mencionados, que, para não 
deixar dúvidas quanto à aplicação daquelas regras, o Código de Processo 
Penal dispõe de forma expressa no seu art. 3º “a lei processual penal admitirá 
interpretação extensivae a aplicação analógica, bem como o suplemento dos 
princípios gerais de direito”. 
As normas processuais, tais como as normas materiais, necessitam, 
por vezes, de que se preencham as lacunas da lei. Dessa forma, para se 
preencher as lacunas verificadas na lei, poderão se fazer uso da integração, 
conforme se extrai da leitura do art. 126 do CPC: “O juiz não se exime de 
sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei”. 
O preenchimento das lacunas da lei, de acordo com Grinover e outros 
(2001, p. 102), será feito por meio da analogia e pelos princípios gerais do direito. 
Após o estudo da presente aula, podemos concluir que, a solução dos 
conflitos entre os homens sofreu uma grande transformação durante a sua 
evolução histórica, passando da vingança privada, onde os mais fortes sempre 
venciam os mais fracos, até chegar ao modelo atual em que o Estado chama para 
si a tarefa de dizer o Direito, com o fim de solucionar os conflitos da maneira 
menos injusta possível. 
 
Síntese da aula 
20 
 
Esta aula foi planejada com o intuito de transmitir aos alunos 
conhecimentos básicos sobre a solução dos conflitos de interesses entre os 
homens, a lide e os elementos que a compõem. Vimos as formas de solução 
dos conflitos e as diferenças entre Direito Processual e Direito Material. 
Estudamos a diferenciação entre as normas materiais e as normas 
processuais; bem como apresentamos as particularidades destas, como seu 
objeto, sua natureza, suas características, a eficácia da lei processual no 
tempo e no espaço e sua interpretação. 
Atividades 
1. É correto afirmar, em relação às normas, que: 
a) as normas materiais disciplinam os meios de defesa dos direitos; 
b) as normas processuais visam a assegurar o cumprimento das normas 
materiais, estabelecendo a forma de possíveis conflitos, por meio da 
aplicação das normas substanciais; 
c) o objeto da norma processual é disciplinar somente a atividade do 
Estado e dos litigantes; 
d) a natureza jurídica da norma processual é de direito privado. 
 
2. Em relação à lide, é correto afirmar, que: 
a) os elementos formais da lide são a pretensão e o conflito de interesses; 
b) a lide pode ser definida como o conflito de interesses, qualificado por 
uma pretensão resistida ou insatisfeita; 
c) os elementos da lide são o material e o conflito de interesses. 
 
3. Qual o marco distintivo entre as normas cogentes e as normas dispositivas? 
 
4. Disserte, em 20 linhas, sobre a eficácia da lei processual no tempo e no espaço. 
 
Comentário das atividades 
Se você compreendeu os conteúdos ministrados nesta aula, verificou que 
há diferenças substanciais entre as normas processuais e as normas materiais. 
Assim, você verificou que, na questão 1, a alternativa (b) está correta, uma vez 
21 
 
que as normas processuais asseguram o cumprimento do direito previsto na 
norma material, estabelecendo a maneira da norma material ser aplicada. A 
alternativa exposta na letra (a) está errada, uma vez que são as normas 
processuais que definem os meios de defesa dos direitos. A alternativa (c) está 
errada, uma vez que a norma processual não disciplina a atividade do Estado e 
dos envolvidos na lide. Por fim, a alternativa exposta na letra (d), também não está 
correta, uma vez que a norma jurídica processual é de direito público. 
Em relação à questão 2, você pode observou que ela é definida como 
o conflito de interesses, qualificado por uma pretensão resistida ou não 
satisfeita. Assim, a alternativa (b) é a correta. A Alternativa (a) está errada, uma 
vez que a pretensão e o conflito de interesses são elementos materiais da lide. 
A alternativa (c) também está errada, uma vez que os elementos da lide são: o 
forma e o material. O conflito de interesse é o elemento material da lide. 
Em relação à questão 3, em sua resposta você deve ter levado em 
consideração que as normas cogentes são obrigatórias e não podem sofrer 
alteração pelos particulares e as facultativas, diferentemente das cogentes, 
são permissivas. 
Você que se propôs a estudar nestes conteúdos a aplicação das 
normas jurídicas no espaço e no tempo, precisou reconhecer as formas de 
solução dos conflitos com a aplicação das normas aos casos concretos. Você 
atingiu esse objetivo respondendo à questão 4, se a resposta foi delineada, 
levando em conta o território em que ela pode ser aplicada (eficácia no espaço) 
e por quanto tempo (eficácia no tempo), levando em consideração questões 
sobre o vigência no tempo e soluções de direito intertemporal. 
As atividades lhe conferiram a oportunidade de reconhecer os conceitos 
básicos ao Direito Processual e as formas de resolução dos conflitos jurídicos e 
de distinguir o Direito Material do Direito Processual. 
 
Referências 
ALVIM, J. E. C. Teoria Geral do Processo. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. 
CINTRA, A. C. A.; DINAMARCO, C. R.; GRINOVER, A. P. Teoria Geral do 
Processo. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. 
ROCHA, J. de A. Teoria Geral do Processo. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2005. 
22 
 
 
Na próxima aula 
Estudaremos os princípios do direito processual tendo por base os aspectos 
constitucionais ligados ao tema e as funções dos princípios gerais.
23 
 
AULA 2 – Princípios do direito processual 
 
Objetivos 
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: 
• reconhecer os princípios que dão forma ao Direito Processual, a 
partir da doutrina e da Constituição Federal; 
• identificar as funções desses princípios. 
 
Pré-requisitos 
Para você alcançar os objetivos propostos, é interessante que leia a 
respeito do assunto nas obras indicadas na bibliografia básica, bem como as 
fontes do Direito, estudados na disciplina Introdução ao Estudo do Direito, pois 
darão a você embasamento teórico para a compreensão da presente aula. 
 
Introdução 
O estudo dos princípios no âmbito da ciência jurídica é fator de grande 
relevância. Isso porque os princípios são como leitores de uma realidade, 
considerados como sobre-normas que informam os fundamentos do Direito. 
Sinalizam, também, uma varredura dos caminhos a serem percorridos pelo 
intérprete do Direito, que faz uso dos mesmos ao interpretar as normas, em 
harmonia com os valores consagrados na Constituição Federal. 
Neste tema, a ênfase será dada aos princípios que se aplicam de 
forma geral à Teoria Geral do Processo e, à medida que aprofundarmos no 
estudo do Direito Processual Penal e do Direito Processual Civil, realçaremos 
os princípios inerentes a cada uma dessas disciplinas. 
 
2.1 Princípios gerais do direito processual 
Ao tomar como ponto de partida o fato de que nós vivemos em um 
Estado Democrático de Direito, não poderíamos deixar de iniciar o estudo 
sobre princípios relacionando-os à nossa ordem constitucional. 
Dinamarco (2001, p. 191) leciona que: 
24 
 
A tutela constitucional do processo é feita mediante os princípios e 
garantias que, vindos da Constituição, ditam padrões políticos para a vida 
daquele. Trata-se de imperativos cuja observância é penhor da fidelidade do 
sistema processual à ordem político-constitucional do país. 
Tomando por base as noções de direito vistas na disciplina Introdução ao 
Estudo do Direito, é necessário visualizar as fontes do Direito, uma vez que os 
princípios gerais do direito encontra-se entre elas. Aliás, a própria Lei de 
Introdução ao Código Civil - LICC reporta-se aos princípios como fonte de direito, 
no seu art. 4º, que dispõe o seguinte: “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o 
caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.” 
O quadro a seguir demonstra quais são as fontes do direito. 
FONTES DO DIREITO 
MATERIAIS FORMAIS 
• Valores sociais 
• Elementos culturais 
• Vontade do povo etc.
ESTATAIS NÃO ESTATAIS 
• Lei 
• Jurisprudência 
• Convenção Internacional
• Costumes 
• Doutrina 
• Princípios Gerais do Direito 
 
Para ilustrar a importância do estudo dos princípios, énecessário 
mencionar, inicialmente, as funções dos mesmos. Rocha (2005, p. 42-43) 
enumera três funções dos princípios no Direito Processual. São elas: 
 
Função 
Fundamentadora 
Função 
Orientadora da Interpretação 
Função 
De Fonte Subsidiária 
Os princípios constituem a raiz
de onde deriva a validez
intrínseca do conteúdo das
normas jurídicas. 
Quando o legislador se dispõe
a normatizar a realidade
social, o faz sempre, a partir
de algum princípio. 
Os princípios são idéias
básicas que servem de 
fundamento ao Direito
Positivo. 
A função orientadora decorre da
função fundamentadora do direito.
Se as leis são informadas ou
fundamentadas nos princípios,
então devem ser interpretadas de
acordo com os mesmos, porque
são eles que dão sentido às
normas. 
Os princípios servem, pois, de
guia e orientação na busca do
sentido e alcance das normas. 
 
Nos casos de lacunas da lei os 
princípios atuam como 
elemento integrador do direito. 
Como a lei funda-se nos 
princípios, estes servem, seja 
como guia para a compreensão 
do seu sentido (interpretação), 
seja como guia para o juiz 
suprir a lacuna da lei, isto é, 
como critério para o juiz 
formular a norma do caso 
concreto. 
 
Uma discussão que se coloca presente quando falamos de princípios, 
já nos remetendo à matéria processual, é o que a doutrina tende a nomear de 
25 
 
princípios formativos do processo. Esta discussão se faz presente, como 
leciona Dinamarco (2001, p. 195-196): 
 
A técnica processual inclui também um número extenso de regras de 
grande importância, desenvolvidas ao longo dos séculos e da 
experiência acumulada, sendo responsáveis pela boa ordem do 
processo e correto encaminhamento de suas soluções. 
Rigorosamente, contudo, não se qualificam como princípios porque 
têm lugar no interior do sistema e não atuam como pilares sobre os 
quais este se apóia. 
 
Dentre esses princípios técnicos, destacam-se, quase que de forma 
unânime, segundo a doutrina: 
I - princípio econômico: voltado às questões de economia processual; 
II - princípio lógico: seleção de meios eficazes à descoberta da verdade e das 
soluções corretas, evitando erros; 
III - princípio jurídico: postula a igualdade no processo e a fidelidade dos 
julgamentos ao Direito Substancial; 
IV - princípio político: direcionado ao binômio representado pelo máximo 
possível de garantia social com o mínimo de sacrifício pessoal. 
Estudados os princípios informativos do processo, passamos ao estudo 
dos princípios de índole político-constitucional ou, ainda, dos princípios 
sustentáculos da Teoria Geral do Processo. Elegemos para nosso estudo os 
elencados por Rocha (2005, p. 45/49), que passamos a expor de forma sintetizada. 
a) princípio da independência: o Princípio da independência pode ser visto 
sob duas óticas. Pode ser entendido sob a ótica da instituição judiciária (art. 2º 
da CF) ou do juiz, pessoa física (art. 95 da CF). Dessa forma, por 
independência pode-se entender tanto a ausência de sujeição a ordens de 
outros poderes, bem como as garantias de imparcialidade que garantem ao juiz 
certa estabilidade, especialmente nas causas em que o Estado é parte. 
b) princípio da imparcialidade: significa em resumo, a eqüidistância do juiz das 
partes e seus interesses nos processos em que atua. A imparcialidade pode ser 
subjetiva (quando disser respeito às partes) e objetiva (quando disser respeito aos 
interesses). Vale lembrar, porém, que as idéias políticas do juiz não comprometem 
a sua imparcialidade, que só pode ser exigida sob a égide do caso concreto; 
26 
 
c) princípio do juiz natural: estabelece um tríplice entendimento. Num 
primeiro momento significa que a instituição dos juízos e tribunais devem ser 
anteriores ao fato ensejador de sua atuação. Num segundo momento, que a 
competência dos órgãos deve ser estabelecida por regra geral. E, por último, 
requer que a designação dos juízes seja feita com base em critérios gerais, 
estabelecidos por lei ou procedimentos fixados em lei. 
d) princípio da exclusividade da jurisdição pelo Judiciário: em síntese, o 
princípio quer dizer que nenhum conflito pode ser excluído da apreciação do 
judiciário. Art. 5º, XXXV: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário 
lesão ou ameaça a direito”. 
SAIBA MAIS: 
Art. 5º, XXXV. A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou 
ameaça a direito. 
 O princípio, porém, comporta temperamentos, uma vez que a própria 
Constituição estabelece a exceção do art. 52, incisos I e II, que dita regra de 
competência privativa ao Senado Federal, para processar e julgar o Presidente 
e o Vice-Presidente da República, nos crimes de responsabilidade, bem como 
os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da 
Aeronáutica, nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles e, ainda, os 
Ministros do Supremo Tribunal Federal, o Procurador Geral da República e o 
Advogado Geral da União, nos crimes de responsabilidade. No âmbito 
infraconstitucional, ressalta-se, também, a título de exceção do princípio da 
exclusividade da jurisdição pelo judiciário, os conflitos dirimidos por árbitros à 
luz da Lei nº 9.307/1996: 
e) princípio da inércia: o processo não pode principiar por iniciativa do juiz. 
Pode-se dizer que deriva do princípio da independência (visa a resguardar a 
imparcialidade do juiz) e do acesso à justiça; 
f) princípio do acesso à justiça: é a possibilidade garantida pela Constituição 
Federal, no seu art. 5º, XXXV, para que todos possam pleitear a proteção 
jurisdicional do Estado; 
g) princípio do devido processo legal: princípio expresso no art. 5º, LIV, da 
Constituição Federal que estabelece “ninguém será privado da liberdade ou 
27 
 
de seus bens sem o devido processo legal”. Assim, cabe ao Judiciário 
observar o processo estabelecido em lei, a fim de que este assegure o respeito 
às garantias e direitos fundamentais aos que a ele se submetem; 
h) princípio da igualdade: derivado do princípio do devido processo legal. 
Expresso na Constituição Federal no art. 5º caput. Atualmente, temos que 
enxergar o princípio da igualdade não só sob a ótica da igualdade formal, mas 
também do aspecto da igualdade substancial; 
i) princípio do contraditório: decorre da própria estrutura dialética do 
processo. Pressupõe que a verdade só pode ser evidenciada pelas teses 
contrapostas das partes. Por este princípio, o órgão judicante não pode decidir 
uma demanda, sem ouvir a parte contra qual ela foi proposta; 
j) princípio da ampla defesa: previsto no art. 5º, inciso LV da Constituição 
Federal. Por este princípio, entende-se que as partes podem produzir provas 
de maneira ampla, quando observados os meios lícitos conhecidos e 
permitidos pelo direito. A ampla defesa, em sentido amplo, significa a 
observância de dois ângulos: a defesa técnica, que é a defesa por advogado, e 
a defesa não técnica, que consiste no direito de presença; 
l) princípio da liberdade da prova: expresso na Constituição Federal, no seu 
art. 5º, LVI “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meio ilícito”. 
Assim, serão admitidos todos os meios de prova em direito, admitidas desde 
que não sejam obtidas por meio ilícito; 
m) princípio da publicidade: o princípio da publicidade destina-se: (a) às 
partes; e (b) ao público em geral. Possui grande relevância e também está 
expresso na Constituição Federal no seu art. 93, IX; 
n) princípio dos recursos: no Brasil, o recurso constitui-se garantia fundamental 
inerente à ampla defesa. A própria estrutura dos órgãos judicantes induz à 
aceitação do princípio dos recursos, facultando a parte sucumbente a possibilidade 
de outro órgão jurisdicional reexaminar a decisão que lhe foi desfavorável; 
o) princípio da motivação: a motivação das decisões encontra-se expressa no 
art. 93, IX; portanto, o juiz, como intérprete e aplicador da lei, deverá motivar 
suas decisões, sob pena de cometer ato contrário ao direito; 
28p) princípio da coisa julgada: visa a assegurar a efetividade das decisões 
judiciais. Expresso na Constituição Federal no art. 5º, XXXVI: “a lei não 
prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”; 
q) princípio da justiça gratuita: pode ser considerado como a manifestação do 
princípio da igualdade material no processo. É princípio expresso na Constituição 
Federal no art. 5º LXXIV: “o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita 
aos que comprovarem insuficiência de recursos.”, bem como no art. 134, também 
da Constituição Federal: “A Defensoria Pública é instituição essencial à função 
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos 
os graus, dos necessitados na forma do art. 5º, LXXIV”. 
 
Síntese da aula 
Nesta aula, tivemos a oportunidade de estudar as fontes do direito, as 
funções dos princípios gerais do direito e os princípios informativos do 
processo, à luz da Constituição federal, que dão sustentabilidade à Teoria 
Geral do Processo. Estudamos, de forma específica, os princípios da 
independência, da imparcialidade, do juiz natural, da exclusividade da 
jurisdição pelo judiciário, da inércia, do acesso à justiça, do devido processo 
legal, da igualdade, do contraditório, da ampla defesa, da liberdade da prova, 
da publicidade, dos recursos, da motivação, da coisa julgada e da justiça 
gratuita. 
 
Atividades 
1. Em relação aos princípios, é correto afirmar que: 
a) as funções dos princípios no Direito Processual são a função 
fundamentadora e a função de fonte subsidiária; 
b) a função fundamentadora dos princípios atua nos casos de lacunas da lei; 
c) a função de fonte subsidiária consiste em que os princípios constituem a 
raiz de onde deriva a validez intrínseca do conteúdo das normas 
jurídicas; 
d) são funções dos princípios no Direito Processual: a fundamentadora, a 
orientadora da interpretação e a fonte subsidiária; 
29 
 
e) pelo princípio da inércia, o juiz pode iniciar o processo. 
 
2. Das alternativas a seguir apresentadas, uma não representa o princípio da 
imparcialidade do juiz. Marque-a. 
a) O princípio determina a imparcialidade em relação às partes envolvidas 
na demanda. 
b) O princípio determina a imparcialidade em relação aos interesses 
envolvidos na demanda. 
c) O princípio representa a eqüidistância do juiz em relação às partes e aos 
interesses envolvidos nos processos em que atua. 
d) Exterioriza a imparcialidade que o juiz deve ter perante as partes e 
perante os interesses, ressalvados os casos em que as posições 
políticas, morais e religiosas do magistrado estejam em choque com o 
processo. 
 
3. Em que consiste o princípio do devido processo legal? 
 
4. É correto afirmar que os princípios do Direito Processual servem para suprir 
lacunas normativas? 
 
Comentário das atividades 
Se você compreendeu os tópicos trabalhados nesta aula, verificou que, 
para a questão 1, a resposta correta é a descrita na letra (d), uma vez que são 
três as funções dos princípios no Direito Processual: a função fundamentadora; a 
função orientadora da interpretação e a função de ser fonte subsidiária do direito. 
Por estarem incompletas, as alternativas (a) e (b) estão erradas. A alternativa “c” 
está errada, uma vez que os princípios, como fonte subsidiária do direito, têm por 
finalidade auxiliar na interpretação das leis. Por fim, a letra “d” está errada, uma 
vez que, pelo princípio da inércia, a atuação do juiz deve ser provocada. 
Em relação à questão 2, você estudou que o princípio da imparcialidade 
se dirige ao juiz ao conduzir um processo. Neste sentido, ele não pode sofrer 
influências externas. Reconhecendo, assim, o princípio da imparcialidade, você 
30 
 
acertou se marcou a alternativa (d), uma vez que as concepções morais, 
religiosas ou políticas do magistrado não podem ser o fator determinante de 
sua decisão. Todas as demais alternativas representam o princípio da 
imparcialidade do juiz, quer seja em relação às partes, quer em relação ao 
interesses envolvidos na lide. 
Para responder à questão 3, sua resposta deve ter contemplado, os 
ditames do art. 5º, LIV, da Constituição Federal. Você viu que o princípio 
constitucional do devido processo legal, estabelece que, em respeito aos 
direitos e garantias individuais, “ninguém será privado de sua liberdade ou de 
seus bens, sem o devido processo legal”. Você precisou reconhecer que por 
este princípio, a existência e validade do processo é questão indispensável 
para alguém ser preso ou perder seus bens. 
Na questão 4, você identificou dentre as funções dos princípios 
processuais, a chamada função de ser “fonte subsidiária”. Assim, se você 
respondeu que se a norma for incompleta ou se assunto não é regulado pela lei, 
os princípios servem para suprir esta omissão ou esta lacuna da norma, a 
resposta está correta. 
As atividades propostas lhe deram a oportunidade de alcançar os 
objetivos da aula de reconhecer os princípios que dão forma ao Direito 
Processual, a partir da doutrina e da Constituição Federal e de identificar as 
funções desses princípios. 
 
Referências 
CINTRA, A. C. A.; DINAMARCO, C. R.; GRINOVER, A. P. Teoria Geral do 
Processo. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. 
COELHO, F. A. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004. 
 
Na próxima aula 
Estudaremos tópicos relativos à Jurisdição, às espécies de jurisdição e 
conhecerem como se dá o exercício da jurisdição por meio da Competência. 
31 
 
AULA 3 – Jurisdição e competência 
 
Objetivos 
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: 
• definir o que é jurisdição e apontar suas características; 
• conhecer os princípios, os fins e as espécies da jurisdição. 
 
Pré-requisitos 
Para você alcançar os objetivos propostos, é interessante que leia a 
respeito do assunto nas obras indicadas na bibliografia básica, bem como as 
aulas 1 e 2 deste caderno de conteúdos e atividades, pois darão a você 
embasamento teórico para a compreensão da presente aula. 
 
Introdução 
Para o Estado desempenhar sua função jurídica, necessita de se ater 
a duas ordens de atividades: a legislação e a jurisdição. A primeira ordem 
estabelece as normas que regulam a vida em sociedade, ditando o que é lícito 
e o que é ilícito, atribuindo direitos e obrigações. Já a segunda ordem se 
caracteriza pela atuação do Estado, com o intuito de solucionar os conflitos de 
interesses, declarando qual é o preceito que se aplica ao caso concreto. Dada 
a forma com que o Estado brasileiro é organizado, especialmente em relação 
ao Poder Judiciário, é necessário definir quem tem competência legal para 
aplicar a norma vigente ao caso concreto. 
 
3.1 Definição de jurisdição 
Juris + dictio = dizer o direito 
Muitos autores, para definir o que é jurisdição, levam em conta apenas 
o significado literal da palavra, assim, para defini-la, apoiamos-nos em Coelho 
(2004, p. 180). Pode-se considerar, num primeiro momento, que é a função do 
Estado, concretizada pelo Poder Judiciário, de dizer o direito. 
Boa parte da doutrina prefere conceituar a jurisdição da seguinte 
32 
 
forma: função do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos 
interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito 
que os envolve com justiça (GRINOVER e outros, 2001, p. 131). 
 
3.2 Jurisdição enquanto poder 
A jurisdição, enquanto manifestação do poder estatal, pode ser 
conceituada, segundo Grinover e outros (2001, p. 131), como “a capacidade de 
decidir imperativamente e impor decisões”. Assim, a jurisdição gera um poder 
de império, no qual as decisões, quando não acolhidas espontaneamente, são 
impostas, a fim de gerar eficácia atingindo sua finalidade. 
 
3.3 Jurisdição enquanto função 
A jurisdição é uma função estatal, visto que, salvo em casos especiais, 
não se permite a autotutela, como visto nas unidades anteriores. Ela 
representao poder de julgar, que decorre do imperium pertencente ao Estado. 
A jurisdição, como função do Estado, representa, de acordo com 
Coelho (2004, p. 181): 
a) poder: manifestação do imperium (autoridade, domínio) do Estado, por meio 
do qual impõe e determina o cumprimento coativo (através da força se 
necessário) de suas decisões; 
b) função: atribuição própria dos órgãos jurisdicionais de prestarem a tutela 
jurisdicional, para que ocorra a pacificação social; 
c) atividade: complexo de atos praticados no processo pelos juízes e auxiliares 
como representantes do Estado. 
 
3.4 Características da jurisdição 
Várias são as características da jurisdição. Dentre elas, Coelho (2004, 
p 181 e182) destaca as seguintes: 
a) imparcialidade do juiz: o juiz, como agente ou representante do Estado, 
age de forma imparcial no processo; 
b) inércia: como decorrência da adoção do princípio da ação ou da demanda, 
é preciso acionar, movimentar o Poder Judiciário, pois seus órgãos são inertes, 
33 
 
de acordo com os brocardos jurídicos que ilustramos a seguir: 
Nemo judex sine actore = não há juiz sem autor 
Ne procedat judex ex officio = o juiz não deve proceder de ofício 
c) observância do contraditório: no exercício da atividade jurisdicional do 
Estado, está presente a possibilidade de contrariar, contradizer, contestar o 
que foi alegado pela parte contrária. O contraditório aqui se perfaz por dois 
elementos: (i) informação e (ii) reação; 
d) coisa julgada e irrevogabilidade dos atos jurisdicionais pelos outros 
poderes: a coisa julgada é definida em nosso direito como sendo a eficácia 
que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso; 
e) atividade substitutiva: conforme Chiovenda citado por (Coelho, 2004, p. 
182), a jurisdição é 
 
[...] a função do Estado que tem por escopo a atuação da vontade 
concreta da lei por meio da substituição, pela atividade dos órgãos 
públicos, da atividade de particulares ou de outros órgãos públicos, já 
no afirmar a existência da vontade da lei [processo de conhecimento], 
já no torná-la, praticamente efetiva, [processo de execução]. 
 
f) atividade voltada para a solução de uma lide: a existência de uma lide ou 
litígio corresponde ao conflito de interesses caracterizado por uma pretensão 
resistida, é o fator que, para Carnelutti, identifica a jurisdição e serve para 
diferenciá-la das demais funções estatais; 
g) caráter público: essa característica decorre do fato, de a jurisdição estar 
relacionada ao Estado e ser voltada para a satisfação dos interesses públicos; 
h) instrumental: a jurisdição é o instrumento para a realização do direito 
material. Sua existência liga-se à suposta existência de uma relação jurídica 
material, servindo para tornar efetivo os comandos normativos que regulam os 
relacionamentos disciplinados pelo direito; 
i) inafastabilidade ou indeclinabilidade: O art. 5º, XXXV da CF dispõe que “a 
lei não poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de 
direito”. Assim, não há como afastar o controle jurisdicional e os juízes; por 
outro lado, não podem declinar de suas atribuições, já que atuam em nome do 
Estado e não para a satisfação de interesses pessoais; 
j) presença do juiz natural: o juiz natural é aquele que se liga ao litígio antes 
34 
 
mesmo de sua ocorrência. Sua competência para solucionar determinados 
tipos de conflitos é previamente estabelecida em lei; 
l) territorialidade: a atividade de dizer o direito adere a determinado território, 
consoante a idéias de soberania. 
 
3.5 Fins da Jurisdição 
Fredie Didier Junior (2003, p. 39) apresenta-nos os fins da jurisdição. 
Segundo o autor, a jurisdição encontra-se arrimada em três fins. São eles: 
I - O escopo jurídico: atuação da vontade concreta da lei. A 
jurisdição tem por fim primeiro, portanto, fazer com que se atinjam, 
em cada caso concreto, os objetivos das normas de direito objetivo 
substancial. A aplicação ou a realização do Direito objetivo não é uma 
atividade privativa ou específica da jurisdição. Os particulares, 
quando cumprem a lei, realizam o direito objetivo; 
II - O escopo social: Promover o bem-comum, com a pacificação 
com justiça, pela eliminação dos conflitos além da consciência dos 
direitos próprios e respeito aos alheios. Como forma de expressão de 
poder do estado, deve-se canalizar fins do Estado. Perceba que, 
aqui, o fim é jurisdição em si mesma, não das partes, pois ninguém 
seria ingênuo de afirmar que alguém entra com uma ação 
condenatória contra outrem por interesses altruístas; 
III - O escopo político: O Estado busca a afirmação de seu poder, 
além da participação democrática (ação popular, ações coletivas, 
presença de leigos nos juizados etc.) e a preservação do valor 
liberdade, com a tutela das liberdades políticas por meio dos 
remédios constitucionais (tutela constitucional da liberdade). 
 
Desta forma, a atuação da vontade concreta da lei, a promoção do 
bem-comum, e a busca da afirmação do poder estatal, são os pilares do 
instituto jurídico da jurisdição. 
 
3.6 Princípios da Jurisdição 
O instituto jurídico da jurisdição é fundado em diversos princípios, tais 
como: 
a) Princípio da investidura: o Estado atua por meio de seus órgãos. E, assim 
sendo, somente os agentes políticos investidos do poder estatal de aplicar o 
direito ao caso concreto é que podem exercer a jurisdição. 
A investidura se dá, em regra, por aprovação em concursos públicos de títulos 
e conhecimento jurídico. Além desta via, a investidura poderá ocorrer, também, 
pela nomeação direta, por ato do chefe do Poder Executivo, nos casos 
35 
 
previstos em lei, de pessoas com prévia experiência e notável saber jurídico, 
por exemplo, o ingresso na magistratura pelo quinto constitucional, ou 
nomeação dos ministros dos tribunais superiores. 
b) Princípio da aderência ao território: o exercício da jurisdição, por força do 
princípio da territorialidade da lei processual, está atrelado a uma prévia delimitação 
territorial. Grinover e outros (2001, p. 138) leciona que, por existirem muitos juízes 
no mesmo país, distribuídos em comarcas, pode-se daí inferir que “cada juiz só 
exerce sua autoridade nos limites do território sujeito por lei à sua jurisdição”; 
c) Princípio da indelegabilidade: como a jurisdição é investida após 
preenchimento de rigorosos critérios técnicos, como nos concursos públicos, 
por exemplo, não podem os investidos na função delegar o ônus que a própria 
Constituição lhe atribuiu com exclusividade. 
d) Princípio da inevitabilidade: a situação das partes (autor e réu) será a de 
sujeição quanto ao decidido pelo órgão jurisdicional, independentemente da 
vontade das partes ser contrária à decisão proferida pelo Estado-juiz. 
e) Princípio do juiz natural: apregoa que todos têm direito de ser julgados por 
um juízo independente e imparcial, previsto como órgão legalmente criado e 
instalado anteriormente ao surgimento da lide. É diametralmente oposto aos 
Tribunais de Exceção. Ex.: Tribunal de Nuremberg, criado após a Segunda 
Guerra, para julgamento dos delitos praticados pelos nazistas. 
 
3.7 Unidade da jurisdição 
Rocha (2005, p. 92) afirma que 
 
[...] quando falamos em espécies de jurisdição, temos em vista não 
uma pluralidade de funções jurisdicionais, mas a diversidade das 
matérias sobre as quais se exerce a jurisdição, ou outras 
particularidades, que impõem a repartição das atribuições jurisdicionais 
entre diferentes órgãos, o que, contudo, não informa a tese de sua 
unidade, vez que em todas essas situações a jurisdição é, sempre, a 
mesma função soberana do Estado de dizer ou executar coativamente 
o direito no caso concreto, em última instância, e de modo definitivo e 
irrevogável. 
 
Reforçando a idéia de unidade da jurisdição, resultado do fato de ser 
esta uma atribuição fundamental do Estado exercida por ele em regime de 
exclusividade significa, Rocha (2005, p. 91) afirma “que só o Estado a exerce, 
36através dos órgãos por ele instituídos, e que só esses órgãos podem prestar o 
serviço público da justiça, com aquelas características de criatividade, 
definitividade e irrevogabilidade”. 
No nosso sistema jurídico, o princípio da unidade da jurisdição 
encontra-se expresso no art. 5º, incisos XXXV e XXXVII, e no art. 93 da 
Constituição Federal. No ordenamento infraconstitucional, este princípio está 
insculpido no art. 345 do Código Penal. 
3.8 Jurisdição comum e jurisdição especial 
A jurisdição comum, como leciona Rocha (2005, p. 92), “é aquela que 
tem caráter geral; portanto, diz respeito à generalidade dos interesses por 
tutelar”. Ensina, ainda, o autor que 
 
À jurisdição comum cabe conhecer de todas as controvérsias, 
excluídas apenas aquelas que a lei reserva às jurisdições especiais. 
A jurisdição comum só está limitada no sentido negativo, pois 
conhecem todas as causas, menos as que são cometidas a outras 
jurisdições. 
 
A jurisdição especial, ao contrário, é aquela que só conhece as 
matérias que a lei expressamente assim reconhece. De acordo com Rocha 
(2005, p.92), “só opera em relação a certos interesses, tendo em vista sua 
natureza, a qualidade de seus titulares, etc.” 
A própria Constituição Federal dispõe sobre as justiças que exercem a 
jurisdição especial e as justiças que exercem a jurisdição comum. Entre as que 
exercem jurisdição especial estão: a Justiça Militar (arts. 122 a 124); a Justiça 
Eleitoral (arts. 118 a 121); a Justiça do Trabalho (arts. 111 a 117); e a Justiça 
Militar Estadual (art. 125, § 3.º). No âmbito da jurisdição comum, estão: a Justiça 
Federal (art. 106 a 110); e a Justiça Estadual Ordinária (art. 125 e 126). 
 
3.9 Jurisdição penal e jurisdição civil 
Rocha (2005, p. 93) esclarece que a jurisdição penal 
“cuida dos conflitos disciplinados pelo Direito Penal comum e 
especial. É, pois, preposta à atuação das normas penais, que se 
caracterizam por definirem os fatos puníveis (crimes e 
contravenções) e lhes cominarem penas, que são as mais graves 
das sanções“. 
 
37 
 
A jurisdição civil, por seu turno, define-se, segundo Rocha (2005, p. 
93), “por exclusão da jurisdição penal. Tudo quanto não cabe na jurisdição 
penal, por exclusão, é jurisdição civil. Tem, pois, por objeto, todas as matérias 
que a lei não confia à jurisdição penal”. 
 
3.10 Jurisdição superior e inferior 
Grinover e outros (2005, p. 155) mencionam que é próprio da natureza 
humana o inconformismo, perante as decisões desfavoráveis do judiciário. Na 
maioria das vezes, a parte vencida quer nova oportunidade, para demonstrar 
suas razões e reivindicar novamente os seus direitos. 
A classificação da jurisdição em superior e inferior se dá por conta da 
posição verticalizada dos órgãos judiciários na estrutura organizacional do 
Poder Judiciário (ROCHA, 2005, p. 93). 
Grinover e outros (2005, p. 155) resumem em breves linhas essa 
estrutura organizacional do Poder Judiciário. Ensinam eles que 
 
Chama-se jurisdição inferior àquela exercida pelos juízes que 
ordinariamente conhecem do processo desde o seu início 
(competência originária): trata-se na Justiça Estadual, dos juízes de 
direito das comarcas distribuídas por todo o Estado, inclusive 
comarca da Capital. E chama-se jurisdição superior a exercida pelos 
órgãos a que cabem os recursos contra as decisões proferidas pelos 
juízes inferiores. O órgão máximo, na organização judiciária 
brasileira, e que exerce a jurisdição em nível superior ao de todos os 
outros juízes e tribunais, é o Supremo Tribunal Federal. 
 
Essa divisão não possui conotação hierárquica, mas apenas 
distribuição de trabalho, conforme a competência de cada um desses órgãos. E 
se dá por conta da observação do princípio do duplo grau de jurisdição. 
 
3.11 Jurisdição voluntária e jurisdição contenciosa 
Didier (2003, p. 50) conceitua a jurisdição voluntária como “a 
atividade jurisdicional que integra a vontade das partes; sem a participação do 
Estado-juiz, tal interesse não poderia ser tutelado. Aqui, o órgão judicial atua 
como fiscalizador da produção de vontade”. 
Assim a jurisdição voluntária se dá, no dizer do autor, como uma 
atividade integrativa e fiscalizadora, uma vez que há determinados atos 
38 
 
jurídicos dos particulares que se revestem de tal importância, que os mesmos 
não poderiam se dar sem a participação do Estado-juiz. 
Didier (2003, p. 50-52) fornece argumentos para os que entendem a 
jurisdição voluntária como administração pública de interesses privados e para 
os que entendem a jurisdição voluntária como atividade jurisdicional. A seguir, 
apresentamos os argumentos presentes na defesa da jurisdição voluntária 
como administração pública dos interesses privados. 
 
JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA COMO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DE INTERESSES
PRIVADOS 
a) insuficiência de critério orgânico: não é por se tratar de atividades desenvolvidas pelo juiz
que poderiam ser consideradas jurisdicionais; 
b) não atuação do direito: não se visa à atuação do direito ao caso concreto, mas sim à
constituição de situações jurídicas novas; 
c) não haveria substitutividade: o magistrado se insere entre os participantes do negócio
jurídico, não os substituindo; 
d) não existência de lide: não há lide e sim concurso de vontades; 
e) interessados: como não há conflito, não haveria partes e sim interessados; 
f) não haveria ação: pois esta consiste no poder de exercitar o judiciário; 
g) não há processo: não havendo ação, também não haveria processo e sim procedimento; 
h) não haveria produção de coisa julgada material: os atos em jurisdição voluntária só produzem
coisa julgada formal. O juiz nada declara com eficácia para fazer coisa julgada material. 
Na defesa da jurisdição voluntária como atividade jurisdicional, pesam 
os argumentos listados a seguir. 
JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA COMO ATIVIDADE JURISDICIONAL 
a) redação legal: o art. 1º do CPC fala em jurisdição voluntária: Art. 1º do CPC: “A jurisdição
civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo território nacional, conforme as
disposições que este Código estabelece”; 
b) outros escopos: a jurisdição possui outros escopos que não a simples atuação do direito
(que não lhe é característica exclusiva); 
c) preventividade: a lide jamais poderia ser da essência da jurisdição, pois, se assim o fosse,
apenas as hipóteses de tutelas repressivas teriam esta qualidade. A jurisdição voluntária possui
certa natureza preventiva; 
d) processo: a jurisdição voluntária se exerce por meio das formas processuais (petição inicial;
sentença etc.), além do que, não seria razoável defender-se a inexistência de relação jurídica
entre os interessados e o juiz; 
e) coisa julgada: não se trata de critério diferenciador do ato jurisdicional, pois há hipóteses de
jurisdição contenciosa que não fazem coisa julgada material; 
f) conceito processual de parte: não há parte em sentido substancial, porquanto não haja
conflito de interesse material. Mas parte é aquele que postula, daí ser inadmissível não ser
parte nesta situação; 
g) substitutividade: o juiz intervém para assegurar a tutela de um interesse a que ele se
mantém estranho, como terceiro imparcial mantendo sua independência. 
A jurisdição contenciosa, na lição de Coelho (2004, p. 191), “é a 
exercida em função de um conflito, litígio, ou, nas palavras de FRANCESCO 
CARNELUTTI, de um conflito de interesses qualificado por uma pretensão 
resistida”. A doutrina costuma traçar um paralelo realçando as diferenças entre 
39 
 
a jurisdição voluntária e a jurisdição contenciosa, que transcrevemos a seguir: 
JURISDIÇÃO CONTENCIOSA JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA 
Atividade jurisdicional Atividade administrativa 
Composição de litígios Administração pública do direito privado 
Bilateralidade da causa Unilateralidade da causa 
Questionam-se os direitos ou obrigações de
outrem 
Não se questionam obrigações ou direitos de 
outrem 
Envolve partes Envolve apenas interessados 
Há contraditório ou possibilidade de
contraditórioNão há contraditório 
Há jurisdição Não há jurisdição 
Há ação Não há ação 
Há processo Não há processo, mas apenas uma medida administrativa 
Legalidade estrita Não há obrigatoriedade de legalidade estrita 
Inter nolentes Inter volentes 
Há coisa julgada Não há coisa julgada 
Há revelia Não há revelia 
Em regra, não há provas determinadas de
ofício Qualquer prova pode ser determinada de ofício 
Fonte: Maximilianus Cláudio Américo Fuhrer (2002, p. 48) 
 
3.12 Jurisdição de direito ou de eqüidade 
Coelho (2004, p. 192) leciona que a jurisdição por eqüidade encontra 
arrimo no disposto no art. 127 do CPC, que ora transcrevemos: “o juiz só 
decidirá por eqüidade nos casos previstos em lei”. Explica o autor que decidir 
por eqüidade significa decidir sem as limitações impostas pela precisa 
regulamentação legal; é que, às vezes, o legislador renuncia a traçar, desde 
logo, na lei, a exata disciplina de determinados institutos, fato que deixa uma 
grande margem para a individualização da norma pelos órgãos jurisdicionais. 
Como exemplo, o próprio autor trabalha três possibilidades: (i) a fixação de 
alimentos – art. 1.694 do CC; (ii) a decisão na arbitragem – art. 11 da Lei n. 
9.307/96; e a jurisdição voluntária – art. 1.109 do CPC. 
 
3.13 Da Competência 
Segundo Liebman citado por Menna (2005, p. 42), “a competência é a 
quantidade de jurisdição cujo exercício é atribuído a cada órgão ou grupo de 
órgãos”. Assim podemos considerar a competência como a repartição do poder 
estatal entre os órgãos e seus respectivos agentes. 
Contudo, para se estabelecer a competência de determinado juízo, 
40 
 
para julgar determinada causa, alguns critérios devem ser observados. Assim 
Grecco Filho (2002, p. 170), leciona que: “A competência, portanto, é o poder 
que tem um órgão jurisdicional de fazer atuar a jurisdição diante de um caso 
concreto”. 
 
3.14 Critérios de determinação de competência 
Vários critérios de determinação de competência terão que ser 
examinados, a fim de que esta possa ser determinada. Comecemos pela 
Competência Internacional. 
a) Da competência internacional 
Grecco Filho (2002, p. 171) explica que, por ser necessário a análise 
de múltiplas etapas, para se apontar a competência de determinado órgão, a 
primeira etapa é a própria definição da competência internacional, segundo as 
normas dos arts. 88 a 90 do CPC, pois, se a lide não guarda nenhum elemento 
de conexão com o Brasil, nenhum órgão jurisdicional brasileiro será 
competente para julgá-la. 
Assim o art. 88 trata da competência concorrente, ou seja, nos casos 
em que a autoridade judiciária brasileira é competente para julgar, sem prejuízo 
da competência de outra jurisdição estrangeira. 
O art. 89 do CPC, por seu turno, trata da competência exclusiva. Nesta 
hipótese, a autoridade judiciária brasileira se diz a única competente para 
conhecer dos conflitos, negando, assim, qualquer solução que venha a ser 
proferida em outro país. 
E, por último, o art. 90 do CPC impede que haja litispendência e 
conexão quando se tratar da matéria tratada no artigo antecedente, ou seja, 
impede a litispendência e a conexão de demandas interpostas no Brasil e 
perante tribunal estrangeiro. 
b) Da competência interna 
Vista a primeira etapa, para saber se a autoridade brasileira é 
competente para julgar determinada demanda, passamos a tratar da 
competência interna, observando os critérios que devem ser adotados para 
esta determinação. 
41 
 
A primeira divisão que se deve observar é quanto à atribuição da 
Justiça Federal E Da Justiça Estadual. A Justiça Federal tem sua competência 
fixada em âmbito constitucional (art. 109 da CF). Deste artigo podemos extrair, 
de acordo com o que ensina Carlos Eduardo Ferraz de Mattos Barroso (2000, 
p. 40-41), que dois critérios devem ser observados, o primeiro em relação à 
pessoa envolvida na demanda, e o segundo em relação a matéria objeto de 
análise. Assim, a competência da justiça estadual se dará por exclusão, ou 
seja, será a competência residual, segundo a qual, esta será competente para 
julgar as causas que não sejam de competência de qualquer outra justiça - 
federal, militar, do trabalho e eleitoral. 
CRITÉRIOS OBSERVADOS QUANTO À COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL 
Em relação à pessoa Em relação à matéria 
• Causas em que são partes a União,
entidade autárquica ou empresa pública
federal 
• Causas fundadas em tratado ou contrato da 
União com Estado estrangeiro ou organismo 
internacional 
• Causas entre Estado estrangeiro ou
organismo internacional e Município ou
pessoa domiciliada ou residente no País. 
• Demandas sobre direitos indígenas 
• Os mandados de segurança e os habeas
data contra ato de autoridade federal. 
• Causas relativas à nacionalidade e a 
naturalização 
 
- x- 
• Execução de sentenças estrangeiras 
homologadas pelo Supremo Tribunal Federal. 
 
c) Competência territorial ou de foro “ratione loci” 
O critério territorial determina o local que deverá ser ajuizada a ação. Assim 
a competência territorial indicará a comarca onde a demanda deverá ser proposta. 
SAIBA MAIS: 
Foro significa a delimitação territorial onde o juiz exerce a sua atividade. 
Como regra, o foro comum para a propositura da ação será sempre o 
do domicílio do réu (CPC, art. 94), porém esta é uma regra que comporta 
temperamentos, uma vez que o próprio CPC prevê esses temperamentos (arts. 
95 a 101), quanto: à natureza do direito versado nos autos; a qualidade 
especial da parte; a situação da coisa e ao local de cumprimento da obrigação 
ou da prática do ato ilícito, como leciona Barroso (2000, p. 42). 
A competência fixada em razão do território é relativa: ou seja, poderá 
ser derrogada por vontade das partes. A exceção quanto à competência 
territorial relativa dá-se por conta do art. 95 do CPC, que trata de ações 
42 
 
fundadas em direito real sobre imóveis, tornando, assim, a competência 
absoluta, significando que não poderá ser modificada pela vontade das partes. 
d) Competência material “ratione materiae” 
A competência fixada em razão da matéria será sempre de caráter absoluto. 
Em razão do interesse público, não poderá ser modificada. A forma como será 
distribuída será determinada pelas normas de organização judiciária de cada estado 
da Federação, conforme leciona Grecco Filho (2002, p. 205). 
Dessa forma, se a demanda versar sobre direito de família, deverá ser 
proposta perante a Vara de Família. 
e) Competência em razão da pessoa “ratione personae” 
Tal qual a competência em razão da matéria, a competência em razão 
da pessoa é absoluta, não pode ser mudada pela convenção das partes. A 
competência em razão da pessoa decorre do fato de que determinadas 
pessoas, em razão do interesse público que representam, serem julgadas por 
juízes especializados. 
f) Competência fixada pelo valor da causa 
O valor da causa também é um dos critérios determinantes da 
competência. Só que, de acordo com o art. 111 do CPC, tanto a competência em 
razão do território quanto a competência fixada em razão do valor da causa são 
consideradas como competências relativas: ou seja, podem ser modificadas em 
razão de convenção entre as partes. O exemplo mais ilustrativo da competência 
fixada pelo valor da causa é o do Juizado Especial Civil da justiça estadual, que 
fixa em 40 salários mínimos o teto máximo para as ações ali interpostas. 
QUADRO COMPARATIVO DAS COMPETÊNCIAS 
Competência absoluta Competência relativa 
Interesse público Interesse privado 
Nulidade absoluta Nulidade relativa (sanável) 
Reconhecível de ofício Depende de argüição da parte 
A qualquer tempo e grau de jurisdição Alegável no prazo da resposta do réu, sob 
pena de prorrogação 
Não tem forma prescrita em lei Forma prescrita em lei (exceção) 
 
3.15 Prorrogação de competência 
A prorrogação da competência se dá pelo fenômeno, pelo qual o juiz, a 
princípio incompetente, torna-se competente para apreciar determinada

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